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Caderno de Estudo parte 3

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UNIDADE 5
A CONSTRUÇÃO DA PESSOA: abordagem Walloniana e implicações 
educacionais .......................................................... 133
Ideias Básicas de Henry Wallon ............................... 135
EMOÇÃO E AFETO: o papel do outro no desenvolvimento .. 139
As fases do desenvolvimento ................................. 145
Implicações educacionais .................................... 149
SUMÁRIO
UNIDADE 6
A INCLUSÃO NAS ESCOLAS E O PAPEL DA PSICOLOGIA DA 
EDUCAÇÃO ........................................................... 153
O que é inclusão? .............................................. 155
DIFERENÇAS: o desafio nas escolas ......................... 159
As ideias de Piaget e de Vygotsky a respeito das pessoas com 
necessidades especiais ....................................... 165
UNIDADE 7
ADOLESCÊNCIA: desenvolvimento Biopsicossocial e Cultural .... 175
Siginficado evolutivo da adolescência e seu caráter 
Biopsicossocial e Cultural .................................... 177
A adolescência sob a perspectiva de diversos teóricos ..... 183
Característica do desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo 
e social e as questões relativas à sexualidade, à escolha 
profissional e às drogas ....................................... 191
PALAVRAS FINAIS ..................................................... 223
REFERÊNCIAS ......................................................... 225
NOTAS SOBRE AS AUTORAS ......................................... 235
UNIDADE
OBJETIVOS DESTA UNIDADE:
Estabelecer as relações 
entre os conceitos e as 
implicações pedagógicas 
na abordagem 
walloniana;
Analisar o papel da 
emoção, do afeto e do 
outro no processo de 
desenvolvimento da 
pessoa;
Caracterizar o processo 
de desenvolvimento 
e aprendizagem sob a 
perspectiva de Wallon.
5
ROTEIRO DE ESTUDOS
• Ideias básicas de Henri Wallon.
• Emoção e afeto: o papel do outro no desenvolvimento.
• As fases do desenvolvimento.
• Implicações educacionais.
A CONSTRUÇÃO DA PESSOA: abordagem 
Walloniana e Implicações Educacionais
FILOSOFIA134
PARA INíCIO DE CONVERSA
Nesta unidade, focalizamos a concepção dialética de Henri Wallon 
sobre o desenvolvimento, a qual pressupõe a determinação 
recíproca entre fatores orgânicos e fatores sociais, constituindo, 
assim, a pessoa humana.
A teoria walloniana é conhecida como a teoria da “pessoa 
completa”, uma vez que, em seus estudos, ele levou em conta 
a multidimensionalidade do ser, dado que integrou os campos da 
inteligência, da motricidade e da afetividade.
Para que você estude esta importante contribuição, dividimos a 
presente unidade em quatro seções.
Na primeira buscamos esclarecer as ideias básicas da visão dialética 
de Wallon, e o seu olhar para o desenvolvimento da pessoa. Na 
segunda seção temos como foco a compreensão do papel da 
emoção no desenvolvimento, o desenvolvimento da afetividade e 
a análise do papel do outro no desenvolvimento humano. A terceira 
aborda a visão de Wallon sobre o desenvolvimento, apresentando 
seus princípios e as características de cada estágio. A quarta seção 
é dedicada à apresentação de algumas implicações educacionais 
da teoria walloniana.
Estudar Wallon e refletir sobre suas contribuições à educação 
é o desafio que propomos a você, caro estudante. Que suas 
leituras e reflexões sejam profícuas, e que você tenha um bom 
aproveitamento.
Vamos a Wallon, então?
135PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
IDEIAS BÁSICAS DE hENRI WALLON
Henri Wallon (1879-1962) foi um grande humanista. Viveu 
em Paris, França, onde construiu uma fecunda produção 
intelectual e engajou-se ativamente nos acontecimentos 
sociais e políticos de sua época. Formado em Filosofia na Escola 
Normal Superior, atuou como professor e mais tarde formou-
se médico psiquiatra até envolver-se com a Psicologia e com a 
Educação novamente. De sua biografia constam os encontros com 
a I e a II Guerras, a sua participação na resistência francesa, a 
perseguição dos nazistas, a vida clandestina, a sua atuação como 
militante político de esquerda e como professor universitário capaz 
de uma ampla produção científica, mesmo em meio às inúmeras 
adversidades (LAROCCA, 2002).
Em seus estudos, ao invés de separar, integrou os campos da 
inteligência, da afetividade e da motricidade, considerando 
a criança e sua atividade a partir das suas reais condições de 
existência (TRANGTHONG, 1983; GALVÃO, 1995).
Wallon adotou uma visão 
de desenvolvimento 
que se destaca pela 
abordagem concreta e 
multidimensional do ser 
humano.
N
FILOSOFIA136
Segundo Galvão (1995), buscando compreender o psiquismo 
humano, Wallon volta sua atenção para a criança, pois através 
dela é possível ter acesso à gênese dos processos psíquicos. De uma 
perspectiva abrangente e global, investiga a criança nos vários 
campos de sua atividade e nos diversos momentos de sua evolução 
psíquica. Enfoca o desenvolvimento em seus domínios afetivo, 
cognitivo e motor, procurando mostrar quais são, nas diferentes 
etapas, os vínculos entre cada campo e suas implicações com o 
todo, representado pela personalidade.
PSICOGÊNESE DA PESSOA COMPLETA 
CAMPOS FUNCIONAIS
CORPO 
DIMENSÃO 
MOTORA
INTELIGÊNCIA 
DIMENSÃO 
COGNITIVA
AFETIVIDADE 
DIMENSÃO 
EMOTIVA/
RELACIONAL
A perspectiva walloniana em Psicologia contou com a contribuição 
de sua formação e atuação em Medicina Psiquiátrica. Para a 
sua tese de doutoramento (publicada com o nome de L’Enfant 
Turbulent, em 1925), Wallon coletou cerca de 200 casos clínicos 
de retardos e anomalias, referentes ao desenvolvimento mental 
e motor de crianças. Além disso, as experiências com feridos 
de guerra, que tinham sofrido lesões cerebrais, fortaleceram, 
em Wallon, a crença de que havia uma estreita relação entre 
as manifestações orgânicas e psíquicas, particularmente entre 
o dinamismo motor e a atividade mental, ambos associados aos 
desequilíbrios emocionais (DANTAS, 1983).
Como método de análise, Wallon adotou a perspectiva filosófica 
dialética, fundada no Materialismo Histórico de Marx. Por 
conseguinte, concebeu um movimento dialético, de determinação 
recíproca, entre fatores orgânicos e fatores sociais.
137PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
 FATORES ORGÂNICOS FATORES SOCIAIS
Para Wallon, nosso psiquismo é uma síntese dialética entre o 
orgânico e o social, em que os equipamentos orgânicos são condição 
para as funções mentais, enquanto os objetos das ações mentais 
provêm do meio exterior, ou seja, do grupo social do indivíduo.
No processo de desenvolvimento da pessoa, Wallon explica 
que os fatores orgânicos são mais determinantes no início do 
desenvolvimento infantil, cedendo lugar aos fatores sociais, à 
medida que o ser humano cresce e é por eles afetado. Os fatores 
sociais dependem das condições oferecidas pelo meio e do grau 
de apropriação de cada sujeito. São fatores sociais: a cultura, 
a linguagem e o conhecimento. Tais fatores são decisivos na 
aquisição das condutas psicológicas superiores, as quais podem 
progredir sempre, num processo permanente de especialização e 
sofisticação.
Galvão (1995, p.29) 
descreve a relação entre 
o orgânico e o social, 
na teoria de Wallon, da 
seguinte maneira:
Entre os fatores de 
natureza orgânica e os 
de natureza social as 
fronteiras são tênues, é 
uma complexa relação de 
determinação recíproca. 
O homem é determinado 
fisiológica e socialmente, 
sujeito, portanto, a uma 
dupla história, a de suas 
disposições internas e a das 
situações exteriores que 
encontra ao longo de sua 
existência.
139PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO| UNIDADE 5
EMOÇÃO E AFETO: o papel do outro no 
desenvolvimento
ara Wallon, a emoção é um instrumento de sobrevivência 
típico de nossa espécie, acionado, desde o nascimento, 
para suprir a incapacidade de o bebê alcançar sozinho o 
atendimento de suas necessidades mais primárias. Você pode 
verificar, por exemplo, que outros animais quando nascem são 
muito mais independentes do que o filhote humano: buscam o 
alimento, locomovem-se com mais desenvoltura. Assim, em face 
de sua dependência, é através da emoção (choro, gritinhos, risos) 
que o bebê mobiliza as pessoas do seu ambiente para atender às 
suas necessidades (fome, sede, temperatura, conforto etc.).
São as emoções que exprimem e fixam na sensibilidade do sujeito 
algumas disposições, atitudes que irão garantir o aparecimento 
de reações sensório-motrizes. Essas reações introduzem o bebê 
no ambiente físico que o rodeia, permitindo que o explore e atue 
sobre ele. A emoção fornece, portanto, os primeiros e mais fortes 
P
FILOSOFIA140
vínculos que irão suprir a imperícia do ser humano no início de seu 
desenvolvimento.
A discussão sobre o valor da emoção é uma das maiores contribuições 
de Wallon (1998). Para ele, as estruturas da consciência e da 
personalidade vão surgir das oposições provocadas pela emoção, 
recurso inicial do bebê para agir. Segundo Wallon, será pela 
emoção que a criança passará a usar, de forma adequada, os 
instrumentos que a atividade cognitiva lhe propicia. É graças ao 
vínculo estabelecido com o meio social, através da emoção, que 
o ser em desenvolvimento terá acesso à cultura e ao universo 
simbólico elaborado ao longo da história da humanidade. A emoção 
permite, então, que nos apropriemos dos instrumentos da atividade 
cognitiva, estando, portanto, na sua origem, na sua gênese.
Para Wallon, a razão nasce da emoção e viverá da sua morte 
(DANTAS, 1992).
Tais palavras mostram que, se a emoção está na origem da 
inteligência ou razão, há um antagonismo que a emoção guarda 
em relação à atividade cognitiva, pois, à medida que esta se 
desenvolve, a ação da emoção tende a reduzir-se, tornando os 
comportamentos mais lúcidos. Nesse sentido, podemos dizer que 
a emoção faz a transição entre o orgânico e o cognitivo, por meio 
da mediação cultural.
Vejamos como Wallon classificou dois tipos de emoções:
Quanto ao efeito que produzem no corpo: a) Hipotônicas 
são aquelas que produzem redução do tônus muscular, como o 
amolecimento corporal que existe em sustos e depressões. b) 
Hipertônicas são as emoções que geram tônus muscular, como o 
endurecimento corporal que observamos ou sentimos na cólera, 
raiva e ansiedade. O ideal para o ser humano é que se estabeleça 
um fluxo tônico que leve a emoção a se produzir e se escoar 
imediatamente através de movimentos expressivos, como é o caso 
da alegria, razão pela qual ela nos é prazerosa.
Quanto à origem e natureza das alterações emocionais: a) Emoções 
produzidas por agentes químicos (ex: efeitos de drogas, como 
Imperícia = condição 
de quem não é 
perito, ou seja, não 
sabe fazer alguma 
coisa.
141PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
o álcool); b) Emoções produzidas por componentes mecânico-
musculares (ex: atividades rítmicas intensas); c) Emoções de 
natureza abstratorepresentacional (ex: diante de reflexões 
suscitadas por um poema, uma música) (DANTAS, 1992).
Estudando as características da vida emocional, Wallon 
concluiu que a emoção se origina de sensibilidades orgânicas e 
primitivas: sensibilidade visceral que permite sentir seus órgãos 
e proprioceptiva que permite à criança sentir o estado de 
seus músculos. Segundo Dantas (1992, p. 87) “A toda alteração 
emocional corresponde uma flutuação tônica”, de modo que a 
emoção provoca manifestações corporais visíveis para as outras 
pessoas. Wallon chamou tais manifestações de “atividade 
proprioplástica”, uma vez que a emoção imprime certas formas ao 
corpo. Essas manifestações podem ser percebidas, ainda que de 
forma inconsciente, pelas pessoas que estão ao redor do sujeito. 
Tal aspecto mostra, também, o caráter contagioso ou epidêmico 
da emoção, pois ela tende a transmitir-se para os outros por meio 
de uma espécie de diálogo tônico, uma forma de comunicação 
primitiva, permitida pelas alterações da tonicidade muscular das 
pessoas. Vejamos, agora, características do comportamento 
emocional, para que você possa reconhecê-lo:
• possui um caráter contagioso, isto é, passa para outras pessoas;
• nutre-se da presença de pessoas, pois a existência de uma 
plateia tende a fazer aumentar a emoção;
• tende a reduzir o funcionamento cognitivo, pois emoção e 
razão são dimensões antagônicas;
• o grau de emoção será tanto mais forte quanto maior for a 
inaptidão ou a imperícia da pessoa perante dada necessidade;
• provoca uma revolução orgânica, capaz de concentrar no corpo 
toda a sensibilidade do sujeito e diminuir sua capacidade de 
perceber o que realmente se passa no mundo exterior;
• manifesta-se corporalmente e é visível para as outras pessoas;
• passa para os outros através de um diálogo tônico postural.
FILOSOFIA142
Wallon (1968) distinguiu sentimento de emoção. Os sentimentos 
resultam de representações e conhecimentos que agem sobre as 
emoções de maneira a reduzir o caráter instantâneo das mesmas. 
Em geral são mais duradouros. As emoções são acompanhadas 
de componentes orgânicos/corporais (alterações nos batimentos 
cardíacos, sudorese, respiração, alterações tônicas visíveis na 
postura do corpo, gestos, expressão facial).
As emoções concentram a sensibilidade do sujeito no corpo, de 
modo que diminuem a percepção do sujeito sobre o mundo exterior 
(WALLON, 1979).
Entre os comportamentos afetivos, as emoções procedem do mais 
baixo nível de funcionamento cerebral – o nível subcortical. Apesar 
de constituírem a primeira forma de o ser humano estabelecer 
seus vínculos com o meio social, as emoções também aparecem 
em todas as idades, diante do problema da imperícia. No entanto, 
são as emoções que permitirão as relações que afinarão a 
expressividade do sujeito, transformando-a em um instrumento 
cada vez mais especializado da sociabilidade humana (LAROCCA, 
2002). Dessa maneira, há uma transformação funcional que 
implica, ao longo do processo de desenvolvimento, a evolução de 
formas emocionais, que a princípio são puramente tônicas, para 
formas simbólicas de expressão emocional e, posteriormente, 
categoriais de afetividade.
Observe no quadro os três momentos da relação entre afetividade 
e inteligência, ao longo do nosso desenvolvimento:
EVOLUÇÃO DAS FORMAS DE 
AFETIVIDADE EM FACE DA 
RELAÇÃO COM A INTELIGÊNCIA
CARACTERÍSTICAS
1ª FASE
AFETIVIDADE EMOCIONAL-TÔNICA
- a afetividade reduz-se às 
manifestações somáticas; é pura 
emoção;
- as trocas afetivas dependem 
inteiramente da presença concreta 
de outras pessoas através do contato 
tônico- epidérmico;
2ª FASE
AFETIVIDADE SIMBÓLICA
- incorpora a linguagem (primeiro 
oral, depois escrita);
- a nutrição afetiva acrescenta o 
toque e a entonação da voz;
143PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
3ª FASE
AFETIVIDADE CATEGORIAL
- as relações afetivas passam a se 
submeter a exigências racionais, 
através de categorias como respeito, 
justiça, igualdade.
Ao explicar a dimensão afetiva da constituição da pessoa, conforme 
Wallon, Dér (2004, p.61-62) diz o seguinte:
A afetividade é um conceito amplo que, além de envolver um 
componente orgânico, corporal, motor e plástico, que é a emoção, 
apresenta também um componente cognitivo, representacional, 
que são os sentimentos e a paixão. O primeiro componente a se 
diferenciar é a emoção, que assume o comando dodesenvolvimento 
logo nos primeiros meses de vida; posteriormente, diferenciam-se 
os sentimentos e, logo a seguir, a paixão.
A afetividade é o conjunto funcional que responde pelos estados de 
bem-estar e mal-estar, quando o homem é atingido e afeta o mundo 
que o rodeia. Ela se origina nas sensibilidades orgânicas e primitivas, 
denominadas sensibilidades interoceptivas e proprioceptivas que, 
juntamente com os automatismos, são vistas por Wallon como os 
recursos que a criança tem para se comunicar e sobreviver.
A sensibilidade interoceptiva é uma sensibilidade visceral 
que permite à criança sentir como estão os seus órgãos, como 
estômago, intestino etc.; e a sensibilidade proprioceptiva é 
uma sensibilidade tônica ou postural que está relacionada às 
sensações ligadas ao equilíbrio, às atitudes e aos movimentos, e 
possibilita à criança sentir como está o estado de seus músculos. 
Ambas as sensibilidades provêm do próprio corpo, mas, enquanto 
a sensibilidade interoceptiva se reporta aos órgãos internos, a 
proprioceptiva se distingue dela, pois os seus estimulantes, em vez 
de se situar nas vísceras, se localizam nos tendões, articulações e 
nos próprios músculos.
A abordagem walloniana do desenvolvimento dá especial destaque 
ao lugar do outro na constituição do eu. Gulassa (2004) explica que 
o par dialético “eu-outro” passará gradativamente a constituir o 
mundo psíquico de cada pessoa de modo que um não pode viver 
sem o outro e ambos dialogam e debatem.
FILOSOFIA144
Para Gulassa (2004, p.96):
A relação eu-outro vivida cotidianamente é uma 
relação ao mesmo tempo de acolhimento e de 
oposição, que no processo de desenvolvimento é 
incorporada e internalizada, sendo constitutiva do 
mundo psíquico.
O outro que é interiorizado, também chamado por 
Wallon de socius, contém e sintetiza o contexto 
cultural e simbólico presente no meio, trazendo 
deste, por um lado, as referências, alimento cultural 
fundamental, e por outro as regras e imposições 
sociais, que vêm a ser contraponto da singularidade 
e da autonomia do eu (ênfases na fonte).
Mediante o exposto, podemos compreender que há uma tensão 
constante do par dialético eu-outro no nosso mundo psíquico, em 
que o eu necessita do outro para sobreviver e para evoluir, no entanto 
somente se constituirá como eu construindo sua própria identidade 
pela oposição ao outro, libertando-se dele.
• O grupo é o espaço das relações interpessoais.
• É no grupo que a criança vive efetivamente a construção da sua 
personalidade, desde a sua consciência simbiótica inicial, até a 
construção do seu eu diferenciado.
• É no grupo que ela adquire consciência de si e dos outros.
• É no grupo que ela aprende a desempenhar as práticas sociais e 
os papéis que estão definidos pela sua cultura.
• É no grupo que ela aprende a cooperar ou competir.
• O grupo é o espaço privilegiado de aprendizagem.
• O grupo é o espaço de humanização.
Nesse sentido, os grupos de que o sujeito participa terão importante 
papel na constituição do eu, pois a vivência grupal permite, desde 
cedo, que a criança aprenda sobre suas regras e normas, bem como 
tome consciência de sua própria capacidade e de seus sentimentos.
Galassa (2004) destaca os seguintes aspectos a respeito da importância 
do grupo para a constituição da pessoa. A seguir, veremos como Wallon 
explica as fases do desenvolvimento.
145PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
AS FASES DO DESENVOLVIMENTO
desenvolvimento, para Wallon, é um processo descontínuo, 
pois apresenta oscilações tais como rupturas, conflitos, 
reviravoltas, antecipação de funções, regressões.
Tais conflitos ou crises podem ser desencadeados por dois tipos 
de fontes: as endógenas (que estão no organismo do sujeito) e as 
exógenas (que estão no meio que o sujeito vive). Exemplo de fonte 
endógena é a ausência de certas possibilidades sensoriais e motoras 
que dependem da maturação nervosa. As fontes exógenas derivam 
sempre da ação do sujeito no meio exterior (WALLON, 1968, 1995).
Apesar de funcionarem como molas propulsoras do desenvolvimento, 
se os conflitos permanecerem na forma de emoção pura, terão um 
efeito desintegrador. Para que isso não aconteça, é necessária a 
participação da inteligência na resolução deles.
Podemos dizer que há três grandes princípios do desenvolvimento, 
segundo o teórico (1968): a predominância funcional; a alternância 
funcional; a integração funcional.
Nesse momento, é 
bom lembrar que o 
comportamento emocional 
do ser humano surge diante 
da imperícia, ou seja, da 
incapacidade de solucionar 
de forma independente 
os seus problemas e 
necessidades.
O
FILOSOFIA146
O princípio da predominância funcional implica momentos ou 
estágios predominantemente afetivos e outros predominantemente 
cognitivos. Isso significa que as fases de domínio afetivo 
caracterizam-se pela construção da subjetividade, através da 
interação com o outro, sendo centrípetas – ou seja, orientadas 
do mundo exterior para o eu e permitindo o acúmulo de energia 
psíquica. As fases de domínio cognitivo caracterizam-se pela 
construção do objeto (realidade externa) e pelo dispêndio ou 
gasto da energia psíquica anteriormente acumulada. Por isso, 
foram chamadas de fases centrífugas – isto é, orientadas do eu 
para o mundo.
O princípio da alternância funcional supõe que há formas de 
atividade que são predominantes em cada fase, as quais se 
alternam. Desse modo, cada fase do desenvolvimento porta 
nuanças nas atividades preferenciais do sujeito, que estão 
relacionadas aos recursos de que ele dispõe para interagir com 
o mundo exterior. Graças à alternância funcional, podemos dizer 
que ocorrem mudanças na orientação do “eu para o mundo” e 
“das pessoas para as coisas”.
O princípio da integração funcional supõe que as funções 
mais evoluídas, adquiridas recentemente, não implicam o 
desaparecimento de funções anteriores, mas as controlam. Isso 
quer dizer que as funções elementares vão perdendo autonomia 
conforme são integradas às funções mais aptas. A integração 
funcional, contudo, não é definitiva. Seu processo é impulsionado 
por crises ou conflitos que são inerentes ao processo de 
desenvolvimento.
FASE IDADE CARACTERÍSTICAS
IMPULSIVO-EMOCIONAL
até um ano de 
idade
Predomínio da emoção, que dá 
um colorido especial às trocas que 
a criança realiza com seu meio, 
orientando suas relações com as 
outras pessoas e com sua ajuda, 
com o mundo. A criança depende 
totalmente das outras pessoas para 
sobreviver, estado esse que Wallon 
chama de imperícia (nada saber 
fazer por si). Ela está conhecendo 
seu próprio corpo e explorando 
seus movimentos. Cada movimento 
representa algo para ela.
Você agora vai observar 
no quadro que se segue 
os estágios propostos 
por Wallon e que foram 
reorganizados por Galvão 
(1995, p.43-46). A autora 
coloca que, para Wallon, 
a pessoa se desenvolve 
progressivamente, 
através de fases onde há 
predominância ora afetiva, 
ora cognitiva, mas esses 
aspectos ocorrem sempre 
inter-relacionados.
147PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
SENSÓRIO-MOTOR E 
PROJETIVO
até o terceiro 
ano
A criança explora o mundo físico, 
manipulando objetos e explorando 
o espaço, tendo mais autonomia. É 
projetivo porque ela usa os gestos 
para expressar seus pensamentos 
e se comunicar (o ato mental 
projeta-se em ato motor). Aí 
existe o predomínio da cognição 
(inteligência prática e simbólica). 
Utilizando a linguagem, a criança 
faz descobertas; através da 
denominação dos objetos, tenta 
localizá-los e identificá-los.
PERSONALISMO
dos três aos seis 
anos
Acontece a formação da 
personalidade e a consciência de si, 
que resulta das trocas que faz com 
outras pessoas,na diferenciação 
do eu outro. “[...] é pela expulsão 
do que há de alheio dentro de si 
que se fabrica o Eu”. (DANTAS, 
1990, p.94). Aí aparece primeiro 
a oposição ao outro, quando 
busca se firmar contradizendo e 
confrontando as outras pessoas; 
surge então a sedução ou idade 
da graça, como chama Wallon. 
A criança quer ser admirada, 
apreciada pelos outros. Depois 
surge a imitação, pela qual ela cria 
personagens representando pessoas 
que admira, representando papéis 
para realizar isso. Nessa fase há o 
predomínio da afetividade sobre a 
cognição.
CATEGORIAL
dos seis aos 
onze anos
Dá-se a consolidação da função 
simbólica e diferenciação da 
personalidade, iniciada no estágio 
anterior. A criança volta-se para o 
mundo, tentando conquistá-lo. Isso 
acontece junto com o processo de 
escolarização, quando as exigências 
da família e da escola fazem 
com que a criança desempenhe 
papéis variados. Nessa fase há 
o predomínio da cognição, e o 
desenvolvimento da inteligência 
infantil é enorme.
PUBERDADE E 
ADOLESCÊNCIA
dos onze aos 
dezesseis anos
Ocorrem as modificações 
fisiológicas provocadas pelo 
amadurecimento sexual, bem como 
mudanças psicológicas, trazendo 
à tona questões pessoais, morais 
e existenciais. As transformações 
do corpo acentuam as diferenças 
entre os dois sexos, e é necessário 
que o esquema corporal seja 
reorganizado pelos jovens. Passa 
a ser afetivo o predomínio 
dessa fase. No processo de 
desenvolvimento a pessoa deverá, 
por meio de seu potencial 
intelectual, reconhecer um eu 
diferenciado e, ao mesmo tempo, 
integrado.
FILOSOFIA148
Para Wallon (1975), em sua relação com o ambiente, a pessoa 
assume determinadas ações considerando os recursos funcionais 
que já construiu (suas competências motoras, cognitivas, 
sociais, linguísticas) como condições para a realização de seus 
objetivos. Cada estágio de desenvolvimento representa um 
sistema de comportamentos, realizando uma maneira específica 
e ótima de trocas com o meio, integrando, a cada momento, os 
comportamentos do indivíduo em um sistema unitário, dentro 
de um processo de equilíbrio funcional, no qual em cada estágio 
prepondera uma forma particular de comportamento sobre as 
demais.
Wallon coloca ainda que:
De etapa em etapa, a psicogênese da criança mostra, através da 
complexidade dos fatores e das funções, através da diversidade e 
da oposição das crises que a assinalam, uma espécie de unidade 
solidária, tanto em cada uma como entre todas elas. Em cada idade 
ela constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de 
idades, ela é um único e mesmo ser em curso de metamorfoses. 
Feita de contradições e de conflitos, a sua unidade será por isso 
ainda mais suscetível de desenvolvimento e de novidades (WALLON, 
1998, p. 214).
149PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
ocê pode constatar que Wallon (1975) vê o processo 
de socialização como o desenvolvimento progressivo 
da consciência do eu para a consciência social, pelas 
interações que existem entre as pessoas. Sua preocupação com a 
formação dos professores é evidente.
Podemos dizer que foi muito marcante a estreita ligação que Wallon 
procurou manter entre Psicologia e Pedagogia, envolvendo-se com 
formação de professores e escolas, vindo a ter, inclusive, uma 
efetiva participação na política educacional francesa (DANTAS, 
1983; WEREBE; NADEL-BRULFERT, 1986).
Apresentamos a você uma síntese de tópicos que trazem 
implicações para a sua prática pedagógica, como professor. Preste 
atenção nestas contribuições de Wallon.
A meta máxima da educação não é apenas o desenvolvimento 
intelectual, mas o desenvolvimento da pessoa total (afeto, 
inteligência e motricidade).
• Compreensão dos significados das condutas dos alunos através 
da fala, ações, posturas, jeito de caminhar, gestos, expressões 
faciais.
V
FILOSOFIA150
• Valorização dos conteúdos de ensino para que os alunos tenham 
maior domínio e diferenciação dos sistemas de significação.
• Valorização da aprendizagem linguística como auxiliar no 
progresso do pensamento.
• Valorização da dimensão estética e da expressividade do 
sujeito em termos de estados internos e vivências subjetivas.
• Compreensão de que é importante que a escola ofereça 
oportunidades de os alunos se expressarem e valorize currículos 
que integram ciência e arte.
• Compreensão de que há necessidade de planejar o ambiente 
escolar, não só em termos de conteúdos e temas de ensino, 
mas também no que diz respeito ao espaço escolar, mobiliário, 
objetos, organização do tempo, interações sociais que a 
escola oferece, bem como a participação do aluno em grupos 
variados.
• Reflexões e análises sobre situações de conflitos na prática 
pedagógica como, por exemplo, as dinâmicas envolvendo 
professor e alunos (irritação, raiva, antagonismos, medos).
• Necessidade de o professor avaliar e compreender suas próprias 
motivações e reações, aprendendo a analisar intelectualmente 
a atmosfera emocional das classes.
Finalmente, podemos dizer que Wallon propõe que cada educador 
procure conhecer seus alunos, tente saber em que etapas do 
desenvolvimento se encontram para, a partir daí, auxiliá-los 
a se desenvolver, adequando as atividades escolares às suas 
necessidades e possibilidades.
O processo de 
mediação através de 
signos possibilitou ao 
homem controlar e 
dominar o seu próprio 
comportamento, 
tornando a atividade 
psicológica muito 
mais sofisticada, pois 
os sinais exteriores 
forneceram um 
suporte concreto 
para sua relação com 
o mundo. 
151PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 5
DANTAS, Heloysa. A infância da razão: uma introdução à psicologia 
da inteligência de Henri Wallon. São Paulo: Manole, 1990.
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do 
desenvolvimento. ALMEIDA, Laurinda Ramalho. Ser professor: 
um diálogo com Henri Wallon. In: MAHONEY, Abigail A. e ALMEIDA, 
Laurinda Ramalho. A constituição da pessoa na proposta de Henri 
Wallon. São Paulo: Loyola, 2004. p.119-140.
SíNTESE
Nesta unidade, você estudou as ideias de Wallon a respeito do 
desenvolvimento humano. Constatou que ele fez sua análise 
adotando a perspectiva filosófica dialética, fundada no materialismo 
histórico de Marx.
Para Wallon, cada atividade da criança resulta da integração do 
cognitivo com o afetivo e o motor. No processo de desenvolvimento 
da pessoa, ele considera que os fatores orgânicos são mais 
determinantes no início do desenvolvimento, cedendo, depois, 
lugar aos fatores sociais.
São estágios propostos por ele: Impulsivo-emocional; o Sensório-
motor e Projetivo; Personalismo; Categorial; o da Puberdade e Ado-
lescência. Wallon apresenta como princípios do desenvolvimento: 
a predominância funcional, a alternância funcional e a integração 
funcional. Ainda propõe que cada educador procure considerar a 
pessoa do aluno, para auxiliá-lo a se desenvolver, adequando as 
atividades escolares às suas necessidades e possibilidades.
Destaque duas ideias de Wallon que possam ajudar sua 
prática pedagógica.
FILOSOFIA152
Lembre-se do que Wallon afirmava e coloque V para as 
alternativas verdadeiras e F para as falsas:
( ) A personalidade da pessoa e a sua consciência 
surgem e se desenvolvem dentro de um contexto 
social, pela e na vida social.
( ) Considera Wallon que a cultura, a linguagem e o 
conhecimento não são decisivos na aquisição de 
condutas psicológicas superiores.
( ) Para Wallon, a pessoa sofre influências do aspecto 
biológico e de seu contexto histórico e social.
( ) Wallon propõe que cada educador procure 
conhecer a criança, procure saber em que etapa 
do desenvolvimento ela seencontra, para, assim, 
auxiliá-la a se desenvolver.
Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, 
identificando o que acontece em cada fase:
(1) Impulsivo-emocional 
(2) Sensório-motor e projetivo
(3) Categorial
(4) Puberdade e Adolescência
( ) A criança explora o mundo 
físico, manipulando objetos e 
explorando espaço
( ) A criança depende 
totalmente das outras 
pessoas para sobreviver
( ) Nela ocorrem as 
modificações fisiológicas 
provocadas pelo 
amadurecimento sexual.
( ) A criança volta-se para o 
mundo tentando conquistá-lo.
UNIDADE
OBJETIVOS DESTA UNIDADE:
Reconhecer que 
todas as pessoas têm 
condições de aprender e 
de se desenvolver, e que 
são as diferenças entre 
elas que possibilitam 
que isso aconteça;
Analisar as ideias de 
Piaget e Vygotsky 
acerca da inclusão;
Refletir sobre seu 
papel como educador 
frente ao aluno com 
necessidades especiais.
6
ROTEIRO DE ESTUDOS
• O que é inclusão?
• Diferenças: o desafio nas escolas.
• As ideias de Piaget e de Vygotsky a respeito das pessoas 
com necessidades especiais.
A INCLUSÃO NAS ESCOLAS E O PAPEL 
DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
FILOSOFIA154
PARA INíCIO DE CONVERSA
Nas unidades anteriores, estudamos os principais quadros teóricos 
sobre o desenvolvimento e a aprendizagem, e procuramos 
estabelecer relações entre as teorias e a prática pedagógica.
No entanto, sempre que discutimos o desenvolvimento e a 
aprendizagem humana, é necessário que procuremos entender 
que as pessoas que apresentam necessidades especiais se 
desenvolvem biológica, psicológica e socialmente como qualquer 
outra pessoa. Devemos compreender que elas têm sentimentos, 
que podem estar alegres ou tristes, que agem sobre os objetos 
porque são ativas, que pensam, imaginam e podem se expressar. 
Sabemos também que inúmeros documentos asseguram a todo 
cidadão o direito legítimo de poder se desenvolver e aprender. 
Nesta unidade, que se subdivide em três seções, trataremos do 
tema Inclusão.
Na Seção 1, estabelecemos algumas discussões preliminares 
sobre o tema da inclusão, trazendo seu conceito e um pouco da 
história dos movimentos da sociedade em relação às pessoas com 
necessidades especiais.
Na Seção 2, procuramos mostrar o papel da escola e da comunidade 
neste processo de educação voltado para auxiliar essas pessoas a 
construirem seu conhecimento, apesar de suas limitações.
A Seção 3 traz as ideias de Piaget e de Vygotsky sobre as diferenças, 
no que diz respeito às possibilidades de todas as pessoas, 
inclusive as com necessidades especiais, de serem educadas, se 
desenvolverem e participarem da vida da comunidade.
Mais uma vez, esperamos que você, que será um professor, faça 
sua leitura ser proveitosa e que seus estudos feitos até aqui 
iluminem as suas reflexões e as suas ações pedagógicas. Esperamos 
que você acredite que todas as pessoas podem se desenvolver e 
mudar, desde que sejam respeitadas e estimuladas.
155PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
O qUE é INCLUSÃO?
Conceitua-se inclusão social como processo pelo 
qual a sociedade se adapta para poder incluir, 
em seus sistemas sociais gerais, pessoas com 
necessidades especiais e, simultaneamente, estas 
se preparam para assumir seus papéis na sociedade 
(SASSAKI, 1997, p.41).
omeçamos explicando o que é inclusão, como surgiu essa 
ideia e o que se pretende alcançar através dela. A semente 
da inclusão foi plantada em 1981, em Singapura, de acordo 
com Sassaki (1997), por meio de uma organização não-governamental 
de pessoas deficientes físicas, que elaborou uma declaração de 
princípios, em que definiu a ideia de equiparação de oportunidades. 
Seu nome é “Disabled People’s International” (DPI).
Esta organização proclamava, também, a necessidade de que 
todos os sistemas gerais da vida na sociedade, tais como: 
habitação, transporte, serviços sociais e de saúde, meio físico, 
as oportunidades de educação e trabalho, as esportivas e de 
Incluir não é favor, mas 
troca. Quem sai ganhando 
nessa troca? Todos em 
igual medida. Conviver 
com as diferenças humanas 
é direito do pequeno 
cidadão, deficiente ou não. 
Juntos construirão um país 
diferente (WERNECK, 1997, 
p.65).
C
FILOSOFIA156
recreação, devessem ser acessíveis a todos. Almejando uma 
qualidade de vida semelhante para todas as pessoas, explicava-
se que deveriam ser removidas as barreiras que impossibilitavam 
a plena participação das pessoas com necessidades especiais em 
todas essas áreas.
Sendo assim, vemos que a ideia de inclusão exige que a sociedade 
se modifique para dar conta de todas as pessoas que nela existem, 
de forma adequada, possibilitando seu desenvolvimento. 
Pupo Filho (2003, p.3) explica que:
Atualmente uma nova forma de relacionamento da 
sociedade com as pessoas deficientes está ganhando 
força. É a inclusão, uma verdadeira revolução 
pacífica que transforma o deficiente em cidadão. 
A partir dela, cabe à sociedade abrir espaços, 
criar alternativas para que qualquer pessoa, com 
qualquer deficiência, possa conviver com os demais 
nos mesmos locais e atividades das pessoas de sua 
idade, respeitada em suas limitações.
Em abril de 1993, essa instituição organizou uma constituição 
reafirmando as ideias e princípios que foram estabelecidos em 
1981, e em seu Art.1, Inciso 2, dispõe que: 
A finalidade da Disabled People’s International é 
obter a justiça com a igualação das oportunidades 
para todos os povos com inabilidades através 
do desenvolvimento da sustentação de suas 
organizações (DPI, 1993, p. 2).
Tomando conhecimento desses princípios, não podemos ficar 
indiferentes, pois eles são fundamentais na construção de uma 
sociedade democrática, na qual devem existir cooperação e 
fraternidade, um lugar para todas as pessoas, em que sejam dadas 
oportunidades de conviver e de viver em igualdade de condições 
com os demais.
Em 1990, aconteceu a Conferência Mundial sobre Educação para 
todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, 
realizada de 05 a 09 de março, na cidade de Jontiem, na Tailândia, 
iniciando um amplo movimento mundial para a concretização 
desse direito.
O movimento de 
inclusão social começou 
incipiente na segunda 
metade dos anos 
80 nos países mais 
desenvolvidos, tomou 
impulso na década de 
90 também em países 
em desenvolvimento 
e vai se desenvolver 
fortemente nos 
primeiros dez anos do 
século 21 envolvendo 
todos os países.
Este movimento 
tem por objetivo a 
construção de uma 
sociedade realmente 
para todas as pessoas, 
sob a inspiração dos 
seguintes princípios, 
dentre os quais se 
destacam: celebração 
das diferenças; 
direito de pertencer; 
valorização da 
diversidade humana; 
solidariedade 
humanitária; igual 
importância das 
minorias; cidadania 
com qualidade de vida 
(SASSAKI, 1997, p.17).
157PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
Relembrando que a educação é um direito fundamental de todos, 
mulheres, homens, de todas as idades, no mundo inteiro;
Entendendo que a educação pode contribuir para conquistar um 
mundo mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente 
mais puro, que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, 
econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional;
Sabendo que a educação, embora não seja suficiente, é de 
importância fundamental para o progresso pessoal e social;
Reconhecendo que o conhecimento tradicional e o patrimônio 
cultural têm utilidade e valor próprios, assim como a capacidade 
de definir e promover o desenvolvimento; 
Admitindo que, em termos gerais, a educação que hoje é 
ministrada apresenta graves deficiências, que se faz necessário 
torná-la mais relevantee melhorar sua qualidade, e que ela deve 
estar universalmente disponível;
Reconhecendo que uma educação básica adequada é fundamental 
para fortalecer os níveis superiores de educação e de ensino, a 
formação científica e tecnológica e, por conseguinte, para alcançar 
um desenvolvimento autônomo; 
Reconhecendo a necessidade de proporcionar às gerações 
presentes e futuras uma visão abrangente de educação básica e um 
renovado compromisso, a favor dela, para enfrentar a amplitude 
e a complexidade do desafio, proclamamos a seguinte: Declaração 
Mundial sobre Educação para todos: satisfação das necessidades 
básicas de aprendizagem (DECLARAÇÃO MUNDIAL, 1990, p.1-2).
Desta declaração podemos retirar inúmeras ideias sobre como 
todas as pessoas devem ter acesso a uma educação de qualidade, 
que lhes permita usufruir de todos os direitos como pessoa e 
cidadão.
Mais tarde, na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas 
Especiais: Acesso e Qualidade, que aconteceu de 7 a 10 de junho 
de 1994, na cidade de Salamanca, na Espanha, com o patrocínio 
da UNESCO e do governo espanhol, foi elaborado um documento 
FILOSOFIA158
onde estão colocadas as bases da inclusão. Neste evento, estavam 
presentes mais de 300 participantes que representavam 92 países 
e 25 organizações internacionais (CORDE, 1994).
Este documento, cujo título completo é Declaração de Salamanca 
e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais, reafirma 
o compromisso das nações com a “Educação para todos” e 
reconhece a urgência de se garantir uma educação de qualidade 
para as pessoas com necessidades especiais, não importando se são 
crianças, jovens ou adultos. Dele resultaram normas que deverão 
ser cumpridas pelos estabelecimentos de ensino para que esses 
direitos sejam garantidos a todos.
As ideias que nele constam o tornaram um dos textos mais 
completos sobre a inclusão no sistema educacional e se referem 
não somente às pessoas deficientes, mas a todos que tenham 
necessidades educativas especiais, em caráter temporário ou 
permanente. Esse documento mostra a urgência de ações que 
venham transformar em realidade uma educação que seja capaz de 
reconhecer as diferenças, de promover a aprendizagem e atender 
às necessidades individualmente e de conclamar as escolas para 
se ajustarem às necessidades dos alunos, quaisquer que sejam 
(CORDE, 1994).Leia e conheça na 
íntegra a Declaração de 
Salamanca:
http://www.dhnet.org.
br/direitos/sip/onu/
deficiente/lex63.htm
Esse documento 
reafirma o compromisso 
de “Educação para 
todos”. Aborda os 
princípios, a política 
e a prática que 
devem nortear a 
inclusão de crianças, 
jovens e adultos com 
necessidades especiais, 
no sistema regular de 
ensino.
159PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
DIFERENÇAS: o desafio nas escolas
e acordo com a Declaração de Salamanca:
[...] as escolas devem acolher todas as crianças 
com suas condições físicas, intelectuais, sociais, 
emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher 
crianças com deficiências e crianças bem dotadas, 
crianças que vivem nas ruas e que trabalham, 
crianças de populações distantes ou nômades, 
crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais 
e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas 
ou marginalizadas (CORDE, 1994, p.17-18).
Compreendemos que a sociedade precisa estabelecer políticas 
escolares, tanto públicas como particulares, que reconheçam e 
considerem a diversidade. É preciso que subsidiem a elaboração 
de propostas pedagógicas inclusivas e, também, que cuidem da 
organização e implementação de programas de formação continuada 
para professores e educadores, nos quais exista um espaço para 
a reflexão sobre a prática educativa inclusiva. Entendemos que 
é dessa maneira que se dará a efetivação do processo de ensino 
D
FILOSOFIA160
e aprendizagem dentro do contexto escolar, e que poderão ser 
atendidas as especificidades e as necessidades de todos os alunos.
A Declaração de Salamanca explicita, também, a flexibilidade que 
deve existir nos programas de estudos e nas opções curriculares 
das escolas, para se adaptarem às necessidades da criança, suas 
capacidades e interesses.
A aquisição de conhecimentos não é apenas uma simples questão 
de instrução formal e retórica. O conteúdo do ensino deve atender 
às necessidades dos indivíduos a fim de poderem participar 
plenamente no desenvolvimento. A instrução deve ser relacionada 
com a própria experiência dos alunos e com seus interesses 
concretos, para que assim se sintam mais motivados (CORDE, 
1994, p.34) .
Compreendemos que as escolas devem adequar o currículo para 
atenderem as necessidades de toda sua clientela, bem como a 
preparação dos professores deve ser levada em conta.
Sendo assim, acreditamos que o processo inclusivo traz em seu 
bojo a ideia de que, para que se concretize a inclusão, devemos 
possibilitar ao professor uma preparação apropriada para isso, bem 
como garantir que seu desenvolvimento profissional seja contínuo, 
isto é, abranja toda sua vida (MITTLER, 2003).
Acreditamos que essa mudança deve ser iniciada na vida familiar, 
mas que a escola não pode deixar de lado essa incumbência, 
cumprindo seu papel, que é o de educar todas as pessoas. 
Concordamos com Gomez (1998, p.26) quando afirma:
É preciso transformar a vida da aula e da escola, 
de modo que se possam vivenciar práticas sociais 
e intercâmbios acadêmicos que induzam à 
solidariedade, à colaboração, à experimentação 
compartilhada, assim como a outro tipo de relações 
com o conhecimento e a cultura que estimulem a 
busca, a comparação, a crítica, a iniciativa e a 
criação.
Podemos até afirmar que a inclusão exige de toda comunidade 
escolar uma tomada de consciência de seu papel no processo 
[...] uma coisa é 
clara: as escolas e o 
sistema educacional 
não funcionam de 
modo isolado. O que 
acontece na escola é 
reflexo da sociedade 
em que elas funcionam. 
Os valores, as crenças 
e as prioridades da 
sociedade permearão 
a vida e o trabalho nas 
escolas [...]” MITTLER, 
2003, p.24).
161PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
de inclusão. Pois será exigida uma reorganização radical nas 
escolas, tanto com a adequação do espaço escolar às diversas 
especificidades de cada pessoa com necessidades especiais que 
deverá acolher, como em termos de elaboração e organização 
curricular, com a promoção de novas formas de agrupamentos dos 
alunos e a dinamização de práticas educativas.
Mantoan (2008, p.61) explica:
[...] que uma escola se distingue por um ensino de 
qualidade, capaz de formar pessoas nos padrões 
requeridos por uma sociedade mais evoluída 
e humanitária, quando consegue aproximar os 
alunos entre si, tratar as disciplinas como meios 
de conhecer melhor o mundo e as pessoas que 
nos rodeiam e ter como parceiras as famílias e 
a comunidade na elaboração e cumprimento do 
projeto escolar.
Ainda, no que diz respeito às modificações que devem 
acontecer no processo educacional, encontramos em Mittler 
(2003, p.25), que:
No campo da educação, a inclusão envolve um 
processo de reforma e de reestruturação das 
escolas como um todo, com o objetivo de assegurar 
que todos os alunos possam ter acesso a todas as 
gamas de oportunidades educacionais e sociais 
oferecidas pela escola. Isto inclui o currículo 
corrente, a avaliação, os registros e os relatórios 
e aquisições acadêmicas dos alunos, as decisões 
que estão sendo tomadas sobre o agrupamento 
dos alunos nas escolas ou nas salas de aula, a 
pedagogia, e as práticas de sala de aula, bem como 
as oportunidades de esporte, lazer, recreação.
Verificamos que, para atender a esta proposta, a escola 
inclusiva deverá implementar um estilo diferente de ensino,bem como desenvolver ações educativas próprias que tenham 
como objetivo central garantir a todas as pessoas o acesso a 
uma educação de qualidade. O objetivo é comum, promover 
a transformação da realidade servindo-se do conhecimento 
disponível, e através dele garantir as mudanças necessárias 
para que isso seja concretizado. 
FILOSOFIA162
Entendemos que educar é uma via de duas mãos, ou seja, ela 
acontece na interação do sujeito com o objeto do conhecimento, 
com outros sujeitos e com o meio. Portanto, as influências das 
transformações e modificações devem acontecer em todas estas 
instâncias. Assim, quando deparamos com um sistema educacional 
cristalizado, inflexível às mudanças, percebemos visivelmente que 
as possibilidades de fracasso e exclusão do aluno na escola são 
maiores. É preciso ressaltar que não cabe à escola apenas ensinar, 
é necessário que ela viabilize novas estratégias, procedimentos e, 
sobretudo, práticas pedagógicas que possibilitem a aprendizagem 
de todos os seus alunos (MENDONÇA e MORO, 2006, p. 23).
Ainda, em relação às mudanças que devem ocorrer no campo 
educacional e nas políticas das nações para que isto aconteça, 
alguns teóricos posicionam-se de maneira não muito otimista 
explicando que isso é muito difícil de ser realizado.
Mantoan (2003, apud Mittler, 2003, p.xi), referindo-se à questão, 
diz:
Sem entender toda a extensão e a profundidade das 
transformações dos contextos educacionais e sociais, 
as políticas educacionais e os sistemas de ensino não 
conseguirão enfrentar os problemas criados pela 
adoção da inclusão escolar em suas interconexões, 
nem darão conta das soluções a serem criadas para 
atender às exigências dessa inovação na nossa 
escola brasileira e em escolas de outros países, as 
quais têm o mesmo objetivo a alcançar.
Constatamos que a adequação das ideias inclusivas no contexto da 
educação comum é um trabalho que ainda não se concretizou. O 
que se pretende fazer está posto, mas sua concretização é que está 
demorando a ocorrer.
Além disso, precisamos lembrar que o ensino e a educação estão 
interligados, e que a pessoa necessita tanto de um quanto do 
outro, para poder se desenvolver plenamente. Ao construirmos uma 
sociedade inclusiva, estaremos realizando a vinculação da educação 
ao ensino e possibilitando o desenvolvimento de todas as pessoas.
[...] as escolas 
de qualidade são 
espaços educativos 
de construção de 
personalidades 
humanas, autônomas, 
críticas, nos quais as 
crianças aprendem a 
ser pessoas. Nesses 
ambientes educativos 
ensina-se os alunos a 
valorizar a diferença, 
pela convivência 
com seus pares, 
pelo exemplo dos 
professores, pelo 
ensino ministrado nas 
salas de aula, pelo 
clima socioafetivo das 
relações estabelecidas 
em comunidade 
escolar – sem tensões, 
competição de 
forma solidária e 
participativa. Escolas 
assim concebidas não 
excluem nenhum aluno 
de suas classes, de seus 
programas, de suas 
aulas, das atividades 
e do convívio escolar 
mais amplo. São 
contextos educacionais 
em que todos os alunos 
têm possibilidade de 
aprender, frequentando 
uma mesma e única 
turma (MANTOAN, 
2008, p. 61).
Procure ler: MANTOAN, 
Maria Teresa Égler 
(Org.). O desafio das 
diferenças nas escolas. 
Petrópolis: Vozes, 2008.
163PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
De acordo com O’Brien e O’ Brien (1999, p.64):
A educação afasta as crianças e os adultos das 
rotinas confortáveis levando-os em direção 
aos prazeres de extrair lições da experiência 
humana no enfrentamento da realidade da vida. 
A educação acontece no contato com os outros, e 
as potencialidades e as falibilidades das pessoas 
moldam a extensão e a textura de cada um de nós. 
O ensino oferece mais recursos para a educação 
na medida em que adultos e alunos colaboram 
para construir uma comunidade consciente, que 
sustente o trabalho da escola [...] Os alunos com 
deficiências importantes e seus pais podem liberar 
a criatividade de uma comunidade escolar. Para 
isso é necessário coragem para renegociar limites, 
relacionamentos e estruturas familiares [...].
No Brasil, o conceito e a prática da inclusão são recentes, e essa 
tendência está se tornando a maior preocupação relacionada à 
formação dos profissionais da educação, tanto dos que exercem 
suas funções no ensino regular comum como daqueles que atuam 
no ensino especial. Segundo Godofredo (1999), estamos vivendo 
um momento crucial, pois precisamos formar professores para 
atuar com as pessoas que serão inclusas.
Inclusão, numa sociedade de excluídos, passa a ser palavra-
chave para se alcançar a verdadeira democracia. A cidadania 
se estabelece pela igualdade dos direitos e deveres e pela 
oportunidade de poder exercê-los plenamente. Vamos discutir a 
inclusão do ponto de vista educacional, embora este movimento 
seja muito mais amplo, norteando, também, todas as ações que 
emanam dos direitos sociais, políticos e civis.
Nossa preocupação é com relação aos portadores de deficiência, 
porque fazem parte das chamadas minorias excluídas, como 
os negros, pobres e miseráveis, analfabetos e desempregados. 
Precisamos, então, atender à premente necessidade de uma 
“educação para todos”. Diante do paradigma da inclusão precisamos 
pensar na educação dos portadores de deficiência, desde a educação 
infantil até a superior (GODOFREDO, 1999, p. 67).
FILOSOFIA164
Você já pensou a esse respeito?
Ao mesmo tempo que se propõe essa interação entre as pessoas, 
proporcionando que cada uma desenvolva ao máximo suas 
potencialidades, estaremos admitindo que todas devem ter direitos 
iguais e, como Sassaki (1997) explica, a inclusão é o início da 
construção de uma sociedade para todos, onde as pessoas possam 
usufruir, no convívio com as outras, o direito a uma vida de qualidade 
e a aspiração à felicidade.
O deficiente é uma pessoa com direitos. Existe, 
sente, pensa e cria. Tem uma limitação corporal ou 
mental que pode afetar aspectos do comportamento, 
aspectos esses muitas vezes atípicos, uns fortes e 
adaptativos, outros fracos e poucos funcionais, que 
lhe dão um “perfil intraindividual” peculiar. Possui 
igualmente discrepâncias no desenvolvimento 
biopsicossocial, ao mesmo tempo que aspira a uma 
relação de verdade e de autenticidade e não a uma 
relação de coexistência conformista e irresponsável 
(FONSECA, 1987, p.11, grifo do autor).
Como você pode ver, para o autor, a pessoa, mesmo possuindo 
alguma limitação, espera ser tratada de forma igual aos demais 
membros da sociedade, de maneira justa, tendo um relacionamento 
autêntico com os outros, sendo tratada como alguém que é capaz. 
Esse reconhecimento é um direito que, muitas vezes, lhe é negado. 
A sociedade precisa mudar seus conceitos para que isso aconteça, 
e essa mudança só acontecerá quando o valor de cada pessoa for 
reconhecido pelo grupo social.
165PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
AS IDEIAS DE PIAGET E DE VyGOTSky 
A RESPEITO DAS PESSOAS COM 
NECESSIDADES ESPECIAIS
s autores interacionistas que estudamos nas seções 
anteriores – Piaget e Vygotsky - reconhecem esse direito 
e acreditam que todas as pessoas, inclusive aquelas que 
têm necessidades especiais, podem ser educadas, desenvolver suas 
potencialidades e conviver em igualdade de condições na sociedade, 
desde que lhes seja dada essa oportunidade.
A seguir, estudaremos as ideias desses dois teóricos, para ver como 
se posicionam a respeito da educação e do desenvolvimento das 
pessoas com necessidades especiais.
A contribuição piagetiana está relacionada à área das pessoas 
com déficit mental; para o autor, se lhes forem dadas condições 
favoráveis, se elas forem estimuladas a se adequarem à realidade, 
corresponderão ao que delas se espera.
SegundoMantoan (1997, 
p.34-35, grifo da autora):
O impacto das novas 
concepções de apoio 
a pessoas com déficit 
mental tem propiciado a 
concretização de projetos 
que condizem com a 
interpretação de Piaget, 
em 1943, ao prefaciar um 
estudo de Inhelder sobre 
o raciocínio dos débeis 
mentais, e, segundo 
a qual, a deficiência 
intelectual seria análoga 
a uma “construção mental 
inacabada”.
O
FILOSOFIA166
Pesquisas piagetianas na área da deficiência mental confirmam a 
identidade estrutural do desenvolvimento intelectual de normais e 
deficientes mentais e sugerem o estudo de condições mais favoráveis 
de se estimular os deficientes a aplicarem seus conhecimentos, 
com vista a uma adaptação crescente à realidade. Referindo-se à 
utilidade do diagnóstico, Piaget (1971 apud AJURIAGUERRA, 1987, 
p.135) explica que:
[...] não se limita à constatação do êxito ou do 
fracasso em uma determinada prova, mas também 
possibilita analisar a atividade manifestada pelo 
sujeito e que está em relação com suas aquisições 
anteriores, com sua capacidade de integrar o novo 
ao já adquirido.
O autor ainda enfatiza que “[...] Dessa maneira é possível obter-
se um quadro que não evidencia o déficit, mas também um 
quadro positivo do funcionamento, de suas possibilidades de 
adaptação e de utilização de ajudas externas”. (PIAGET, 1971 
apud AJURIAGUERRA, 1987, p.135).
A autora, ainda, explica que os estudos piagetianos fundamentaram 
propostas inovadoras e arrojadas para o ensino das pessoas com 
déficit mental. A ideia que difundem é a seguinte:
A questão não é mais saber se os alunos deficientes 
mentais necessitam de programas e serviços 
educacionais especiais, diferentes, mas se a 
classificação e destinação dessas pessoas a um 
sistema escolar específico trazem benefícios ao 
desenvolvimento de sua escolarização (MANTOAN, 
1997, p.35).
Isto significa que, para Piaget, são as escolas que devem se adequar 
aos alunos inclusos, oferecendo reais oportunidades para que essas 
pessoas possam se desenvolver e viver bem.
Veja o que Mantoan diz:
O fim último da educação inclusiva é a conquista 
da autonomia moral e intelectual das pessoas com 
deficiência. [..] a valorização dos papéis sociais 
foi acrescentada a esse fim, mas pressupondo a 
igualdade de valor entre as pessoas e não apenas a 
mera oportunidade de participação desses sujeitos 
no meio produtivo geral. Em consequência dos 
fins educacionais propostos, o desenvolvimento 
das habilidades, talentos pessoais, papéis 
sociais, conforme a cultura, a idade, o gênero 
dos deficientes mentais, passou a ser enfatizado 
em todos os serviços de apoio mais atualizados, 
inclusive os escolares (1997, p.35).
167PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
Como vemos, é competência das escolas e do processo educativo 
propiciar condições para que essas pessoas possam, no convívio com 
as demais, conquistar sua autonomia, tanto intelectual, como social 
e moral.
Vygotsky é o outro autor que estudamos e que, também, se 
preocupava com a educação e o desenvolvimento das pessoas com 
necessidades especiais. Em sua biografia, apresentada por Oliveira 
(1993), como um capítulo de seu livro chamado “História pessoal 
e história intelectual”, e no de Rego (1995) como “A vida breve 
e intensa de Vygotsky”, encontramos várias referências de seus 
trabalhos publicados sobre as pessoas surdas, cegas, com deficiências 
múltiplas, entre outras, que evidenciam sua preocupação com essas 
pessoas.
Ainda, em sua biografia, consta que Vygotsky em 1925 fundou 
um Laboratório de Psicologia para crianças com necessidades 
especiais (para ele, deficientes). Esse laboratório é que deu origem 
ao Instituto Experimental de Defectologia, do qual Vygotsky foi 
diretor de 1931 a 1934. Nesse Instituto, ele fez pesquisas, ensinou e 
organizou programas para as crianças com necessidades especiais. 
Trabalhou com crianças que tinham déficit mental, com as cegas, 
surdas, cegas-surdas, crianças difíceis.
Percebemos que as ideias de Vygotsky eram bem avançadas para sua 
época, visto que ele morreu em 1934. Acreditava que os professores, 
pais e psicólogos deveriam procurar trabalhar com os pontos fortes 
e com as potencialidades das pessoas, estimulando-as para que seu 
desenvolvimento se processasse.
Para ele, quem fosse estudar ou trabalhar com essas crianças 
deveria levar em conta os seguintes pontos: o grau de dificuldade 
apresentado pela criança, a maneira como utiliza os instrumentos 
culturais e psicológicos e o modo de uso de suas funções psicológicas. 
Isto porque os educadores precisam ter em mente que devem 
estar sempre buscando caminhos alternativos para possibilitar 
o desenvolvimento dessas pessoas. Quando acontecer que, ao 
executarem as atividades, não consigam alcançar os objetivos, elas 
devem ser estimuladas e motivadas para tentar de outra forma o 
alcance dos objetivos que foram propostos (Vygotski, 1989).
A palavra Defectologia 
foi utilizada por Vygotsky 
para denominar a ciência 
que trata do estudo 
qualitativo do processo 
de desenvolvimento das 
crianças com necessidades 
especiais, bem como 
dos objetivos, métodos 
e teorias que norteiam 
os trabalhos realizados 
nas escolas especiais 
soviéticas.
FILOSOFIA168
O autor entende que a pessoa deficiente tem possibilidade de 
se desenvolver, desde que esteja dentro de um contexto social, 
e por isso é que afirma que cabe ao grupo social descobrir suas 
potencialidades, enxergar o que essa pessoa poderá vir a ser, 
oferecer os estímulos adequados para ela desenvolver suas 
funções psicológicas e, ao mesmo tempo, propiciar que lhe sejam 
dadas condições para que isso aconteça. “A sociedade é a fonte do 
desenvolvimento dessas funções e, em particular, da criança com 
atraso mental” (VYGOTSKI, 1989, p.109, tradução nossa).
Vygotsky visualizou o desenvolvimento das pessoas com 
necessidades especiais procurando enxergar apenas os aspectos 
qualitativos de suas diversidades, das potencialidades, de seu 
relacionamento social. Ele tenta ver os aspectos favoráveis de seu 
desenvolvimento, acreditando que podem se desenvolver de outra 
maneira.
Ele explica que todas as crianças podem atingir a plenitude de seu 
desenvolvimento, e que aquelas que têm necessidades especiais 
farão isso através do que chama de “rotas alternativas”, que 
lhes darão energia para realizar isso. Ele explica também que os 
princípios do desenvolvimento são os mesmos para todas as pessoas, 
e que são as limitações que servem de impulso, de motivação, para 
a busca desses caminhos alternativos (VYGOTSKI, 1989).
Podemos entender que, para ele, a pessoa com necessidades 
especiais, ao encontrar situações que a estimulem, pode interagir, 
relacionar-se e, até mesmo, competir com as outras pessoas 
utilizando outros recursos que sua capacidade de adaptação e 
reorganização lhe proporcionam, quando lhe são dadas condições 
de igualdade.
[...] Luria ressalta que, diferentemente de muitos pesquisadores 
que estudavam a criança deficiente, Vygotsky concentrou sua 
atenção nas habilidades que tais crianças possuíam, habilidades 
que poderiam formar a base para o desenvolvimento de suas 
capacidades integrais. Assim, interessava-se mais por suas forças 
169PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
do que por suas faltas, e rejeitava as descrições simplesmente 
qualitativas, em termos de traços psicológicos, refletidos nos 
testes psicológicos, porque estes instrumentos apenas indicavam 
uma visão incompleta ou unidimensional sobre a criança. Preferia, 
então, confiar nas descrições qualitativas da organização de seus 
comportamentos (MONTEIRO, 1998, p.74).
As práticas educativas que estavam sendo utilizadas para o 
ensino nas instituições que atendiam crianças com necessidadesespeciais eram motivo de preocupação e de pesquisa para 
Vygotsky. Ele acreditava que a aprendizagem tinha um papel 
relevante no processo de desenvolvimento das pessoas e, por 
essa razão, dedicou-se ao estudo e à pesquisa dessa área com 
grande entusiasmo, procurando dar subsídios para os educadores, 
psicólogos e qualquer pessoa que quisesse trabalhar e conviver 
com as pessoas portadoras de necessidades especiais.
Compreendemos que, para ele, os educadores precisavam sempre 
estar preocupados com o que esses alunos poderiam realizar, com 
as suas conquistas futuras, seu processo de desenvolvimento, com 
o desabrochar de suas potencialidades, com aquilo que poderiam 
vir a realizar. Assim, como se pode ver, ele dava um valor muito 
grande às relações entre as pessoas e ao papel da sociedade no 
desenvolvimento de todas elas.
O papel da escola e da aprendizagem no desenvolvimento 
da criança é para Vygotsky fundamental, pois afirma que é o 
aprendizado que irá possibilitar o despertar dos processos internos 
do desenvolvimento, e que é competência dos grupos sociais 
providenciar para que isso aconteça.
Aprendizado ou aprendizagem – é o processo pelo qual o indivíduo 
adquire informações, habilidades, atitudes, valores etc., a partir 
de seu contato com a realidade, o meio ambiente e as outras 
pessoas. 
[...] em Vygotsky, justamente por sua ênfase nos 
processos sócio-históricos, a ideia de aprendizado 
inclui a interdependência dos indivíduos envolvidos 
no processo (OLIVEIRA, 1993, p. 57).
FILOSOFIA170
O aprendizado é uma das principais fontes de 
conceitos da criança em idade escolar, e é 
também uma poderosa força que direciona o seu 
desenvolvimento, determinando o destino de seu 
desenvolvimento mental (VYGOTSKY, 1987, p.74).
As ideias de Vygotsky, para o trabalho educativo, que era realizado 
com as pessoas com necessidades especiais, são consideradas 
revolucionárias, pois para ele não é o defeito que irá decidir a 
vida da pessoa, o que pode determinar isso, mas sim como ele é 
visto pela sociedade. Diz:
[...] o defeito por si só não decide o destino 
da pessoa, mas as consequências sociais e sua 
realização sociopsicológica. [...] para o psicólogo 
se faz indispensável a compreensão de cada ato 
psicológico, não só em relação ao passado, mas 
também com o futuro da pessoa (Vygotski, 1989, 
p.29, tradução nossa).
Uma das grandes preocupações de Vygotsky foi a da segregação 
das crianças com necessidades especiais dentro de instituições e 
separadas do mundo real. Ele questionou: “Como pode progredir 
o desenvolvimento se a criança é segregada do mundo?” (Frase 
retirada do vídeo: As borboletas de Zagorski). Vemos então que 
Vygotsky era favorável ao processo de inclusão, supondo que 
todas as pessoas, não importando as diferenças, devem conviver 
realizando trocas, uma possibilitando o desenvolvimento da outra.
Por intermédio de suas ideias podemos, portanto, alimentar 
a esperança da participação de todas as pessoas num mesmo 
contexto social, com as escolas sendo organizadas e estruturadas 
para esse fim. É um grande desafio, mas devemos nos mobilizar 
para isso, pois assim essa realidade poderá se concretizar.
veJa o docuMentário intitulado “As borboletAs de ZAgorski”, série 
“os transforMadores”, da tv cultura de são paulo.
171PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
MANTOAN, Maria Teresa Égler. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? 
Como fazer? São Paulo: Moderna, 2006.
MANTOAN, Maria Teresa Égler (Org.). O desafio das diferenças nas 
escolas. Petrópolis: Vozes, 2008.
MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos et al. (Orgs.). INCLUSÃO: 
compartilhando saberes. Petrópolis: Vozes, 2006.
STAINBACK, Susan e STAINBACK, William. INCLUSÃO: um guia para 
educadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
Caro cursista, agora que você já leu esta unidade, releia-a com 
atenção e faça as atividades propostas:
Posicione-se quanto ao que você entendeu sobre o 
processo de inclusão social.
Todas as pessoas devem ser sujeitos e promotores de 
seu desenvolvimento porque todas têm valor. Como 
você, futuro educador, poderá auxiliar a concretizar 
isso?
Destaque três ideias de cada um dos seguintes 
documentos: Declaração Mundial e Declaração de 
Salamanca, e diga por que escolheu estas ideias.
FILOSOFIA172
Explique o que entendeu das ideias defendidas por 
Piaget sobre pessoas deficientes.
Explique qual deve ser o papel da escola no processo 
de desenvolvimento das pessoas com necessidades 
especiais, segundo Vygotsky.
SíNTESE
Você estudou nesta unidade que a inclusão é um processo pelo qual 
a sociedade se adapta para inserir, dentro de seus sistemas, as pes-
soas com necessidades especiais. 
Todos os sistemas sociais, de habitação, transporte, serviços, saúde, 
recreação, educação, entre outros, devem trabalhar intensamente 
para que sejam removidas as barreiras que impedem as pessoas 
com necessidades especiais de participarem plenamente da vida 
cidadã. Em 1990, aconteceu a Conferência Mundial sobre Educação 
para todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, 
realizada de 05 a 09 de março, na cidade de Jontiem, na Tailândia, 
iniciando um amplo movimento mundial para concretização desse 
direito.
A Declaração de Salamanca (1994) enfatiza que todas as crianças 
devem ser acolhidas pela escola, independentemente de suas 
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou linguísticas.
Como no Brasil, a ideia e a prática da educação inclusiva é recente, 
é importante que a formação dos professores abrace este desafio, 
preparando-se para realizá-lo com qualidade. As contribuições 
de Piaget e de Vygotsky sobre as possibilidades das pessoas com 
necessidades especiais vêm ao encontro da inclusão. A pesquisa 
4
5
173PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 6
piagetiana vem mostrando que a deficiência mental é semelhante 
a uma construção inacabada, sendo importante que as escolas 
ofereçam condições estimuladoras, que levem a criança com 
déficit mental à conquista da autonomia.
Vygotsky, em sua época, já trabalhava com crianças com 
necessidades especiais, entendendo que todas elas tinham 
possibilidades de aprender e se desenvolver, desde que não 
ficassem isoladas do convívio social.
Quem aceita o processo de inclusão também acredita que todas 
as pessoas com deficiência têm possibilidade de se desenvolver 
no convívio com as outras pessoas. A escola inclusiva deve não 
só acolher todas essas pessoas, mas dar-lhes oportunidade de ter 
uma educação verdadeiramente de qualidade.
Destaque quais são as pessoas consideradas portadoras 
de necessidades especiais.
Explique o que entendeu a respeito das escolas de 
qualidade propostas por Mantoan.
Nesta atividade de verdadeiro (V) ou falso (F), você pode 
avaliar a sua compreensão sobre as ideias de Piaget e de 
Vygotsky acerca do desenvolvimento das pessoas com 
necessidades especiais:
( ) A contribuição de Piaget está relacionada à área das 
pessoas com déficit mental: acredita que se forem 
dadas condições favoráveis a tais pessoas, se elas 
forem estimuladas a se adequarem à realidade, 
corresponderão ao que delas se espera.
( ) Para Piaget, são as escolas que devem se adequar 
aos alunos inclusos, oferecendo reais oportunidades 
para que eles possam se desenvolver e viver bem. 
FILOSOFIA174
( ) A questão, segundo Piaget, é saber se os alunos 
deficientes mentais necessitam de programas e 
serviços educacionais especiais, diferentes.
( ) Vygotsky concluiu que os princípios fundamentais 
do desenvolvimento são idênticos para as crianças 
com e sem deficiências.
( ) Vygosky acreditou que o defeito, ou a diferença, 
não pode limitar o desenvolvimento, ao contrário,deve mostrar possibilidades, ser motivo de força de 
vontade, perseverança, busca, sempre tendo uma 
conotação positiva.
( ) As ideias de Vygotsky para o trabalho educativo 
com as pessoas com necessidades especiais não 
foram consideradas suficientes.
Parabéns!
Você completou o estudo da sexta unidade. Na próxima unidade 
você será introduzido no estudo da adolescência para vir a 
compreender melhor seu futuro aluno dos anos finais do ensino 
fundamental e do ensino médio.
UNIDADE
OBJETIVOS DESTA UNIDADE:
Compreender o 
significado evolutivo 
da adolescência e seu 
caráter biopsicossocial e 
cultural;
Diferenciar puberdade e 
adolescência;
Compreender 
o fenômeno da 
adolescência sob a 
perspectiva de diversos 
teóricos;
Caracterizar as 
mudanças físicas, 
cognitivas, afetivas e 
sociais que ocorrem 
nessa fase da vida;
Refletir sobre seu 
papel de educador 
junto ao adolescente, 
em questões sobre 
sexualidade, escolha 
profissional, violência 
intrafamiliar e as 
drogas.
7
ROTEIRO DE ESTUDOS
• Significado evolutivo da adolescência e seu caráter 
biopsicossocial e cultural.
• A adolescência sob a perspectiva de diversos teóricos.
• Características do desenvolvimento físico, cognitivo, 
afetivo e social e as questões relativas à sexualidade, 
escolha profissional e as drogas.
ADOLESCêNCIA: desenvolvimento 
biopsicossocial e cultural
FILOSOFIA176
PARA INíCIO DE CONVERSA
Na unidade anterior, você pôde compreender o significado da inclusão nas 
escolas e as ideias de Piaget e Vygotsky a respeito dessa questão. Nesta 
unidade, seus estudos em psicologia vão se voltar para a compreensão 
da fase evolutiva humana chamada Puberdade e Adolescência, uma 
vez que os alunos dos anos finais do ensino Fundamental encontram-
se nessa fase. Como educar o adolescente? Quais os interesses que 
predominam nessa fase? Que aspectos diferenciam a fase da Puberdade 
e a fase da Adolescência? A adolescência é um fenômeno psicossocial 
e cultural ou tem características universais? Qual a visão dos teóricos 
da Psicologia sobre a Adolescência? Quais as mudanças evolutivas que 
ocorrem no aspecto físico, cognitivo, afetivo e social do adolescente? 
O que pensam os jovens? Quais são seus sonhos? Quais os desafios da 
tarefa de educar a juventude do século XXI? Sem dúvida, são questões 
que nos preocupam e diante das quais muitas vezes não sabemos que 
caminho tomar.
Para auxiliá-lo na condução do trabalho educativo com os adolescentes 
organizamos os conteúdos desta unidade! Iniciamos com o significado 
evolutivo da adolescência e uma breve retrospectiva histórica, mostrando 
a adolescência como fenômeno recente tal como a conhecemos 
no ocidente em princípios do século XXI. Na sequência, revisamos as 
mais significativas teorias sobre a adolescência. Dando continuidade, 
procedemos à caracterização e análise das profundas mudanças evolutivas 
que ocorrem no aspecto físico, cognitivo, afetivo e social e que marcam 
a passagem da infância para a idade adulta. Por fim, abordamos algumas 
das questões importantes relacionadas à afetividade e sexualidade, à 
escolha profissional e ao problema das drogas.
Até algum tempo atrás, a adolescência era considerada meramente 
uma etapa de transição entre a infância e a idade adulta. Nas últimas 
décadas, contudo, a adolescência vem sendo concebida como uma 
fase crucial do desenvolvimento humano, porque nela culmina todo 
o processo de maturação biológica, psicológica, sociocultural do 
indivíduo e marca não só a aquisição da imagem corporal definitiva 
como também a estruturação final da personalidade.
Portanto, torna-se importante compreender os adolescentes para 
ajudá-los a enfrentar as tarefas evolutivas que lhes cabem nessa 
etapa da vida e assumir posturas educacionais conscientes e claras, 
que facilitem o convívio harmônico das gerações, ou seja, entre você, 
futuro professor, e seus alunos adolescentes.
177PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 7
SIGNIFICADO EVOLUTIVO DA 
ADOLESCêNCIA E SEU CARÁTER 
BIOPSICOSSOCIAL E CULTURAL
as sociedades tribais primitivas, a passagem do mundo 
infantil para o adulto era muito breve e seguia normas 
rígidas. Seu início e seu fim eram claramente definidos por 
rituais. Em poucas semanas ou meses, o adolescente era instruído 
nas artes necessárias para obter alimento e defender seu povo; 
casava-se e assumia de modo pleno a condição de guerreiro, ou 
seja, de adulto.
Até o final do século XIX, segundo Palácios e Oliva (2004, p.310), 
a adolescência não era compreendida como um estágio particular 
de desenvolvimento. Nessa época começava a se esboçar a 
diferenciação entre infância / adolescência / idade adulta. Nas 
sociedades urbano–industriais modernas, a incorporação ao mundo 
do trabalho e a atribuição das responsabilidades adultas costumam 
ser mais precoces no meio rural e nos níveis socioeconômicos 
mais baixos do que nos níveis normais altos e nas zonas urbanas 
mais desenvolvidas. Atualmente constata-se uma tendência para 
N
FILOSOFIA178
o prolongamento da adolescência nos níveis sociais mais altos e 
zonas urbanas mais desenvolvidas.
Por que isso vem acontecendo? A extensão dos estudos universitários, 
exigência de maior capacitação via estudos de pós-graduação e 
estágios, para que o jovem possa inserir-se no mercado de trabalho 
com possibilidades de êxito, dificulta a emancipação psicológica 
e econômica em relação à família e não favorece a aceitação 
plena do papel e da responsabilidade do adulto. Diferentemente 
de sociedades precedentes, nas quais o fim da adolescência era 
claramente definido, hoje ocorre uma passagem lenta e difusa 
para a maturidade.
Pode-se afirmar que a adolescência é um fenômeno universal para 
todos os membros da espécie humana?
Para responder a essa questão é necessário estabelecer a distinção 
entre dois termos que têm significado e alcance diferentes: 
puberdade e adolescência.
Embora alguns considerem a puberdade – do latim pubertate, 
sinal de pêlos, barba, penugem – como uma primeira fase da 
adolescência – do latim adolescere, crescer - chama-se puberdade 
ao conjunto de modificações biológicas dessa faixa etária em que 
há transformação do corpo infantil em um corpo adulto, capacitado 
para a reprodução, e adolescência às transformações psicossociais 
que as acompanham.
A adolescência, embora seja também um fenômeno universal, é 
um fato psicossocial e tem características peculiares conforme o 
ambiente sociocultural do indivíduo.
Considera-se concluída a puberdade e com ela o crescimento físico 
e o amadurecimento gonadal em torno dos 18 anos, coincidindo 
com a soltura das cartilagens de conjugação das epífises dos ossos 
longos, o que determina o fim do crescimento esquelético. O 
término da adolescência, assim como o seu início, é bem mais 
difícil de determinar porque obedece a uma série de fatores 
socioculturais. 
A puberdade é um 
fenômeno biológico 
universal para todos 
os membros de nossa 
espécie, e seu início 
cronológico coincide 
em todos os povos 
e latitudes, com 
raríssimas exceções, 
como no caso dos 
pigmeus.
179PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 7
Numa tentativa de discriminar os elementos mais universais, na 
atualidade, que possibilitariam assinalar o término da adolescência, 
Osório (1992, p.12) relaciona as seguintes condições:
• estabelecimento de uma identidade sexual e possibilidade de 
estabelecer relações afetivas estáveis;
• capacidade de assumir compromissos profissionais e ter 
independência econômica;
• relação de reciprocidade com a geração precedente, sobretudo 
os pais;
• aquisição de um sistema de valores pessoais, “moral própria”.
Em termos etários, isso ocorre por volta dos 25 anos

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