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Data da aula: ____/____/______ MACROECONOMIA II AULA 3 – CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA ABERTA 3. CONDIÇÃO DE MARSHALL-LERNER Se a quantidade exportada aumenta com , e a quantidade importada diminui, tenderíamos a concluir que o saldo da balança comercial seria uma função positiva de . Contudo, esta é uma conclusão precipitada, porque na análise anterior não levamos em consideração as receitas e despesas das importações e das exportações, mas apenas os efeitos da taxa de câmbio sobre as quantidades dos produtos exportados e importados. Definições (Qx = quantidade exportada, Qm = quantidade importada): Receita de exportações: a) em dólares: P*Qx; b) em reais: eP*Qx; Despesas com importações: a) em dólares: P*Qm; em reais: eP*Qm; SBC+SBS: a) em dólares: P*Qx – P*Qm; b) em reais: eP*Qx – eP*Qm É absolutamente fundamental para que os resultados convencionais (ortodoxos) sejam obtidos que o SBC medido tanto em dólares quanto em reais seja uma função positiva da taxa de câmbio real. Quando isso ocorre, diz-se que a condição de Marshall-Lerner foi obedecida; em caso contrário, que foi violada. A própria teoria convencional reconhece que nem sempre isto ocorre. Vamos imaginar uma situação em que este ajuste é complicado: Um “pequeno” importador de trigo – Brasil – sofre uma desvalorização da taxa de câmbio. 1) Não muda o preço em dólar do trigo no mercado internacional, mas o seu preço em reais aumenta no Brasil; 2) Diminui a demanda por doméstica por trigo, mas pouco – a demanda por trigo é pouco elástica a preços, é relativamente difícil substituí-lo por outros insumos, especialmente no curto prazo; 3) Consequentemente, o aumento de eP* pode ser maior que a queda de Qm, de modo que a despesa com importações medida em reais, ao invés de diminuir, possa aumentar; 4) Quanto menos sensível a demanda de trigo ao preço, mais provável que isto ocorra. Concluindo, existem situações em que o mecanismo convencional de equilíbrio pode não funcionar. A condição de Marshall-Lerner é mais provavelmente atendida: Quanto maior a elasticidade-preço da demanda de exportações; Quanto maior a elasticidade-preço da demanda de importações. A teoria ortodoxa então diz que no LP a condição é válida (pois as duas condições tenderiam, em tese, a se verificar neste prazo). Reação desfavorável no CP (violação da condição de Marshall-Lerner) corrige-se automaticamente no LP (condição de Marshall-Lerner válida porque as elasticidades-preço da demanda tendem a aumentar com o decorrer do tempo). No curto prazo (violação de Marshall-Lerner), uma desvalorização dá o resultado inverso do esperado: as exportações caem e as importações aumentam → o saldo da balança comercial piora; no longo prazo, com a obediência da condição de Marshall-Lerner, a reação à desvalorização normaliza-se: as exportações aumentam, as importações diminuem e portanto o saldo comercial passa a melhorar. Este comportamento pode ser representado graficamente pela chamada “curva em J”: Curva em J Resposta do saldo da balança comercial a uma desvalorização real em t=0 supondo inicialmente equilíbrio (SBC = 0 em t=0) Nos modelos que veremos, porém, despreza-se este efeito de curto prazo e adota-se a hipótese simplificadora de que a resposta é sempre positiva porque supõe-se que a condição de Marshall-Lerner seria sempre atendida. 4. HIPÓTESE DE PARIDADE DE PODER DE COMPRA PPC ou, em inglês, PPP: diz respeito ao comportamento da taxa de câmbio em um muito longo prazo. No longo prazo, há evidências de que a taxa de variação da taxa de câmbio real ˆ = 0, qualquer que seja o regime cambial. Ou seja, de que, no longo prazo, ê + * - 0 ou = ê + * A hipótese de paridade do poder de compra é resultante da hipótese de arbitragem no preço das mercadorias. Saldo da balança comercial Tempo Quando estudamos a relação entre a taxa de câmbio real, exportações e importações, vimos como a taxa de câmbio determinava o que um país exportava e importava. Exemplo: Suponha que inicialmente a taxa de câmbio nominal bilateral entre real e dólar seja de R$ 3/US$; que o preço internacional do quilo do camarão seja de US$ 3 e que o preço do quilo do camarão nacional equivalente em termos de qualidade seja R$ 6. A esta taxa de câmbio, o camarão nacional custaria US$ 2 e, portanto, sendo mais barato que o preço internacional, tenderia a ser exportado. Contudo, havíamos parado o raciocínio por aí e não havíamos levado em conta impactos que surgiriam sobre os preços nacional e internacional do camarão em decorrência dessas exportações. Quando os estrangeiros começam a adquirir o camarão nacional, a demanda pelo produto no mercado doméstico aumenta; consequentemente, seu preço tende a subir; Por outro lado, conforme o produto é exportado para outros mercados nos quais ele é mais caro, a oferta de camarão nestes mercados aumenta e, se ela for significativa, seu preço internacional tende a baixar. Continuará sendo vantagem exportar o produto enquanto seu preço for menor que o internacional, mas há uma tendência DE LONGO PRAZO à igualação de ambos em algum preço entre US$ 2 e 3. Desprezando custos de transporte, tarifas de importação, e outros similares, esta tendência operará nos preços do camarão no mundo inteiro, de modo que o preço nacional do camarão será regulado pelo seu preço internacional, de acordo com a fórmula P = eP*. O mesmo acontecerá com todos os produtos produzidos, de modo que a mesma fórmula será válida para o índice de preços do país e o do resto do mundo. Esta é a hipótese PPC. A versão dinâmica da PPC estabelece uma relação não entre o nível das três variáveis apontadas, mas entre suas taxas de crescimento, de modo que: = ê + o que implica ê + * - 0 e, portanto, ˆ = 0. A implicação teórica mais importante da hipótese PPC é de que, no longo prazo, variações da taxa de câmbio são completa e exatamente compensadas por variações nos níveis de preços. Portanto, os efeitos de ganhos e perdas de competitividade decorrentes de valorizações e desvalorizações da taxa de câmbio são meramente TEMPORÁRIOS. No longo prazo, a taxa real de câmbio tende a permanecer constante. Testes estatísticos estimam que a PPC só é válida no prazo de 60 anos em diante. 5. REGIMES CAMBIAIS 5.1 Regime de câmbio fixo: 5.1.1 Câmbio fixo puro Banco Central (ou outro órgão governamental) FIXA o valor da taxa de câmbio em relação à moeda estrangeira de certo país (a taxa de câmbio NOMINAL); Obriga-se a comprar e vender moeda estrangeira à taxa pré-fixada para ou de quaisquer pessoas físicas ou jurídicas legalmente habilitadas que queiram fazê-lo, no momento em que desejarem; Para tanto, o Governo precisa possuir moeda estrangeira (reservas internacionais) em quantidade suficiente para poder vender em caso de déficit no BP; ou seja, o governo precisa limitar a emissão de reais à quantidade de reservas internacionais existentes (a moeda nacional fica “lastreada” à moeda estrangeira). Governo perde controle da quantidade de moeda doméstica em circulação se não fizer políticas de esterilização (veremos depois em mais detalhe). CUIDADO: Regime de câmbio fixo, apesar do nome, não quer dizer que o câmbio efetivamente fique fixo; A PARIDADE FIXADA PELO GOVERNO PODE MUDAR DE VEZ EM QUANDO! 5.1.2 Padrão-ouro Diferença em relação ao câmbio fixo puro: ao invés de fixar a taxa de câmbioem relação a uma moeda estrangeira, o Banco Central (ou outro órgão governamental correspondente) FIXA O PREÇO DO OURO (cada real vale x miligramas de ouro, por exemplo); As reservas internacionais são mantidas em ouro (lastro-ouro), e não em moedas estrangeiras; o governo deve manter uma quantidade de ouro suficiente para vender sempre que o mercado de ouro demandar mais ouro que o disponível pelos ofertantes privados; o governo deve limitar a emissão de moeda para evitar ser incapaz de honrar seu compromisso; Se vários países fixarem preços para o ouro, implicitamente estarão fixando suas taxas de câmbio; O governo pode alterar a paridade cambial indiretamente, alterando o preço do ouro; em termos históricos, porém, tais mudanças eram raras, e o regime de padrão-ouro acabava por ter uma paridade quase sempre fixa, só mudada em circunstâncias excepcionais (guerras, grandes catástrofes, crises econômicas muito violentas, etc.) 5.1.3 Comitê da Moeda (currency board ou caixa de conversão) Também é um regime de câmbio fixo puro; contudo, mais rigor na manutenção da taxa de câmbio pré-fixada (às vezes cotação fixada por lei); Comum em colônias e ex-colônias; 5.1.4 Indexação da taxa de câmbio nominal (crawling peg) Desvalorizações periódicas visando evitar que a diferença entre a inflação interna e externa corroa a competitividade dos produtos nacionais; Comum e virtualmente inevitável em países com inflação persistentemente alta. Ex.: minidesvalorizações diárias no Brasil na época da inflação alta; 5.1.5 Taxas de câmbio múltiplas Também parecido com o regime de câmbio fixo puro; contudo, o governo segmenta o mercado de câmbio e estabelece taxas de câmbio distintas conforme o tipo de bens, dando autorizações específicas para operações nos diversos mercados; Funciona como se incidissem tarifas alfandegárias distintas sobre os diferentes produtos e serviços; Comum em época de guerra e racionamento cambial; Exemplos: Europa no imediato pós-2a guerra; Brasil até Jânio Quadros, mas com resíduos até recentemente (Câmbio Turismo); 5.2 Regime de câmbio flutuante (ou flexível) 5.2.1 Regime de câmbio flexível puro Taxa nominal de câmbio ajusta-se livremente para equilibrar oferta e demanda de divisas, sem que o governo compre ou venda moeda estrangeira visando afetar a taxa de câmbio; Excesso de demanda por moeda estrangeira depreciação nominal do câmbio; Excesso de oferta de moeda estrangeira apreciação nominal do câmbio; Mercado de divisas opera em concorrência perfeita e sem intervenção do governo; Eliminação automática dos desequilíbrios BP em equilíbrio permanente; Manutenção da liberdade da política monetária (veremos depois porque). 5.2.2 Câmbio flexível administrado ou com “flutuação suja”: Parecido com o flutuante, mas o governo intervém comprando e vendendo, sem, porém, estabelecer uma taxa única para compra e venda; atua se e quando achar necessário; Se o governo interferir com muita frequência, vendendo e comprando divisas em larga escala e sempre que a taxa de câmbio flutue um pouco, acaba ficando parecido com o câmbio fixo; se as flutuações forem espaçadas, fica parecido com o câmbio flutuante puro; 5.3 Regime misto: bandas cambiais O governo estabelece uma meta para a taxa de câmbio nominal e, ao redor dessa, normalmente um teto e um piso (banda simétrica) explicitamente; Enquanto a taxa de câmbio estiver em qualquer valor entre esse teto e esse piso, o governo permite (em tese) que a taxa de câmbio flutue livremente, como no regime flexível; Sempre, porém, que a taxa de câmbio ameaçar romper o teto, o governo obriga-se a vender moeda estrangeira, e sempre que ameaçar romper o piso, a comprar moeda estrangeira e, assim, impedir que esses valores sejam ultrapassados; Para tanto, deve manter reservas suficientes e impor-se regras que limitem emissões desproporcionais às reservas internacionais; Se a banda for larga – isto é, se a diferença entre teto e piso for grande – tal regime ficará mais parecido com o de câmbio flutuante; se for estrita – diferença relativamente pequena entre teto e piso – tal regime assemelhar-se-á mais ao de câmbio fixo; Tal como no regime de câmbio fixo, não há necessidade de que as paridades sejam fixas; a meta, o teto e o piso podem ser alterados conforme considerado conveniente pelo governo; Na prática, nem sempre o governo se dispõe a intervir no mercado cambial apenas quando teto ou piso estão sendo ameaçados de ultrapassagem; por vezes, ele julga conveniente intervir, mediante compra e venda de moeda estrangeira, mesmo quando a cotação desta está entre ambas;
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