Buscar

compromisso Ana Bock

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008 
 
1
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008 
_____Psicologia &m foco 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O tema proposto para a reflexão carrega 
duas questões importantes: Primeiro a idéia do 
compromisso social da Psicologia. Segundo a 
proposição de que a Psicologia Sócio-Histórica 
tem contribuições para o desenvolvimento do 
compromisso com a sociedade brasileira. Neste 
sentido, a proposição carrega duas questões: do 
que estamos falando quando falamos de 
compromisso social da Psicologia? E por que a 
Psicologia Sócio-Histórica se apresenta neste 
debate? 
 Buscando responder à primeira questão, 
buscaremos retomar algumas questões históricas 
sobre a Psicologia no Brasil para podermos rever 
seus compromissos assumidos com a sociedade 
brasileira ao longo de seu desenvolvimento. 
Uma profissão não é um fazer pronto que 
recebemos. Uma profissão se constrói na história 
de uma sociedade em um tempo histórico que 
permita seu surgimento, ou seja, necessite dela. 
No Brasil, este processo esteve colado ao 
projeto de modernização da sociedade. A 
Psicologia se apresentou como um saber técnico 
capaz de oferecer instrumental para que a 
produção de riqueza no país fosse pensada e 
instalada de forma “moderna”. É o projeto de 
modernização da sociedade brasileira que vai 
exigir saberes técnicos para todas as práticas 
sociais. O pensamento moderno se associa 
intimamente à tecnologia; à absorção de tecnologia 
para a gestão da vida e da sociedade. Assim, nos 
 
 
 
 
idos dos anos 50/60, o Brasil, ao sonhar ser uma 
sociedade moderna, precisou de práticas e saberes 
que lhe dessem este status. E a Psicologia esteve 
entre estes conhecimentos. Importamos Psicologia 
da Europa e dos Estados Unidos para aplicá-la nas 
escolas visando obter maior rendimento e nas 
indústrias para maior produtividade. Os testes 
psicológicos permitiam uma apresentação da 
Psicologia a partir da visão moderna de tecnologia 
objetiva. 
Entramos no Brasil e nos desenvolvemos a 
partir do projeto da elite de modernização da 
sociedade brasileira. Estivemos à disposição deste 
projeto, atendendo aos interesses das camadas 
dominantes, que eram as que possuíam a 
possibilidade de reconhecer e introduzir a 
profissão. 
Depois disto, estivemos ligados à elite de 
forma íntima. Éramos da elite e pudemos por esta 
intimidade conquistar um lugar social de profissão 
regulamentada por Lei. Fomos o primeiro país no 
mundo a regulamentar, por meio de Lei que 
estabelece a profissão e a formação, a Psicologia. 
 Pode-se afirmar que a Psicologia recebeu 
uma certidão de nascimento (a Lei 4119) antes 
mesmo que a criança tivesse nascido. A relação 
íntima mantida por uma pequena quantidade de 
pessoas envolvidas com a Psicologia (não 
chegávamos a mil) com a elite brasileira e a 
credibilidade de que a Psicologia pudesse 
colaborar no projeto de modernização da sociedade 
 
 
 
 
O compromisso social da Psicologia: contribuições da perspectiva 
Sócio-Histórica1 
__________________________________________________________ 
 
 
 
Ana Mercês Bahia Bock2 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – São Paulo/Brasil 
 
_________________________ 
 
1 Palestra proferida na Semana de Psicologia da Faculdade Pio Décimo, Aracaju, SE, em 28 de agosto de 2008. 
2Ana Mercês Bahia Bock é professora titular do departamento de Psicologia Social da Faculdade de Psicologia da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo. Foi presidente do Conselho federal de Psicologia de 97 a 2001 e 2004 a 2007. É autora de 
livros em Psicologia Sócio-Histórica. Endereço eletrônico: anabock@terra.com.br 
 
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008 
 
2
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008 
_____Psicologia &m foco 
brasileira vão levar a aprovação de uma lei que 
nem havia sido reivindicada, até porque não havia 
corporação interessada e mobilizada para essa 
reivindicação. A sociedade brasileira desconhecia 
este saber e suas possibilidades práticas. Somente à 
elite interessava instalar e desenvolver a Psicologia 
no Brasil, pois ela prometia com sua tecnologia –
os testes psicológicos- contribuir para a previsão e 
o controle dos comportamentos, tarefas necessárias 
naquele momento de instalação de um novo 
projeto de sociedade. A Psicologia permitia 
colocar o homem certo no lugar certo; prometia 
facilitar a aprendizagem; adaptar as pessoas; 
facilitar a percepção de cada um sobre si mesmo e 
diferenciar os sujeitos (alunos ou trabalhadores). 
Eram muitos os interesses da elite que a Psicologia 
podia ajudar a resolver e não fazia isso de modo 
espontâneo; possuía tecnologia apropriada para 
esta tarefa. Esse conjunto de fatores colocou a 
Psicologia em um lugar privilegiado na sociedade 
do início da segunda metade do século XX. 
Mas as condições para sermos efetivamente 
uma profissão não estavam dadas: não tínhamos a 
corporação para dar forma à profissão; não 
tínhamos o discurso ideológico que caracteriza 
uma profissão; não tínhamos modelos e nem 
lastro. Não tínhamos uma categoria profissional e 
nem organizações fortes que oferecessem esta 
possibilidade ou refletissem a existência da 
categoria. 
 Estavam colocadas condições para o 
surgimento e desenvolvimento da Psicologia; mas 
estavam também colocadas tarefas importantes. 
Era preciso construir a profissão que havia sido 
regulamentada; era preciso construir um projeto 
para esta profissão e uma corporação, identificada 
em torno do projeto para sustentar a profissão e 
seu lugar social. A categoria tinha a tarefa de se 
por como profissionais em uma sociedade que não 
conhecia esta profissão; não a reivindicou. Era 
preciso “inventar” a profissão. 
Os psicólogos passaram os anos 70, 80 e 90 
nos perguntando quem somos, que psicólogos 
queremos ser. Isto expressava, claramente, a falta 
de um projeto para a profissão e a necessidade de 
construí-lo. 
E a profissão foi sendo construída, ou 
melhor, inventada pelos psicólogos. Em vários 
espaços foram sendo inauguradas práticas e novos 
campos, tornando a Psicologia uma profissão de 
interesse social. 
Este caminho não foi sem disputa e sem 
projetos distintos. Muitos projetos de Psicologia 
estiveram em jogo. 
Assim, retomando superficialmente esta 
história, podemos então afirmar que a Psicologia, 
desde sua introdução como conhecimento no 
Brasil e depois como profissão, manteve algum 
tipo de compromisso com a sociedade brasileira. A 
Psicologia foi utilizada, inicialmente, como 
conhecimento e como prática para responder aos 
interesses de controle, de categorização, de 
selecionar, que eram da elite. 
 Talvez as condições sociais sob as quais 
surgiu a Psicologia (a Lei foi aprovada em 1962, 
tendo logo depois ocorrido o golpe militar e teve 
início um longo período de ditadura militar), onde 
a falta de democracia social, as lutas ocultas nos 
partidos, nas várias formas de arte, nas academias 
estavam postas como condição, ao lado das duras 
medidas autoritárias, tenham formado um bom 
terreno para escaparmos de um projeto 
corporativista, mesquinho, que nos mantivesse 
aliados às elites, sem contradições. 
 Algumas universidades neste período 
receberam professores que haviam sido cassados 
pelas Leis de exceção. Os próprios partidos 
políticos de esquerda, sob a mira da ditadura 
recuaram e uma parte da militância esteve então 
nas Universidades, ensinando e construindo um 
espaço de debate progressista. Muitas questões 
éticas e políticas fermentaram nos espaços 
universitários e a Psicologia não escapou. O 
compromisso com as elites se tornava aos poucos 
um incômodo. 
 Sem duvida, a abertura de novos cursos e 
todo país, colocou na Universidade as camadas 
médias e possibilitou uma composiçãode categoria 
profissional para além dos filhos das elites. A 
situação era propicia para o desenvolvimento de 
um projeto de compromisso social. 
 E a Psicologia, que até então se colocava de 
costas para a realidade social, acreditando possível 
explicar o humano sem considerar sua realidade 
econômica, cultural e social, se voltou para a 
sociedade. O surgimento da Psicologia 
Comunitária e a inserção e desenvolvimento da 
prática dos psicólogos na saúde pública podem ser 
considerados aspectos importantes do projeto de 
compromisso que iria surgir. 
 A Psicologia começa, neste século XXI, a 
se voltar para as políticas públicas, para um 
compromisso com a maioria da população e suas 
 
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008 
 
3
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008 
_____Psicologia &m foco 
urgências, para a ética e seus desafios na sociedade 
moderna e para os Direitos Humanos. Busca-se 
fortalecer e ampliar sua inserção social, mas a 
partir de um novo projeto de profissão que 
represente um novo compromisso com a sociedade 
brasileira. Estavam dadas as condições e os 
primeiros passos para esta empreitada. 
 Portanto, gostaríamos de colocar aqui uma 
conclusão parcial de nossa reflexão: compromisso 
com a sociedade a Psicologia sempre manteve, 
mas seu compromisso foi, na maior parte do 
tempo, um compromisso com as elites e seus 
interesses. O novo projeto de profissão significa 
um rompimento com esta tradição e a construção 
de um novo lugar para a Psicologia; a construção 
de uma nova relação da Psicologia com a 
sociedade. Queremos uma Psicologia a serviço dos 
interesses da maioria da sociedade; uma psicologia 
acessível a todos. Este novo compromisso que 
queremos manter com a sociedade exige que 
enfrentemos alguns desafios teóricos e práticos, de 
velhas concepções que ainda não foram superadas. 
 Nossa segunda questão se referia à 
Psicologia Sócio-Histórica. Por que ela se 
apresenta para esse debate? 
Em meu estudo de doutorado, sobre a 
concepção de fenômeno psicológico entre os 
psicólogos, encontrei entre a maioria dos 
psicólogos uma noção que equipara o fenômeno 
psicológico com um “verdadeiro eu”, ou seja, é 
mais verdadeiro que o eu que aparece nas relações 
sociais, sendo este, em geral, resultado da 
negociação feita pelo sujeito com o mundo social, 
para dar conta dos interesses e desejos do “eu 
verdadeiro”. Como o mundo psicológico tem 
destino traçado, porque está visto sob uma 
perspectiva naturalizante, a prática profissional dos 
psicólogos surge como algo que dá suporte a este 
desenvolvimento, reencaminhando para o “seu 
trilho” quando algo provoca um desvio. Nossa 
missão é sublime! Temos uma missão que conserta 
o que a natureza planejou e o que a sociedade 
desviou. 
 A sociedade não tem tido papel algum na 
perspectiva psicológica e por isto não temos tido 
necessidade de discutir qual o papel da Psicologia 
na sociedade. A realidade social está vista como 
algo externo ao sujeito que nada tem a ver com seu 
desenvolvimento. O homem se desenvolve pela 
sua natureza. A sociedade ajuda ou atrapalha, mas 
nunca é vista como algo do humano, construção do 
próprio homem, objetivação do humano que 
permite transmitir de geração para geração a 
humanidade criada pelo homem. Não. A sociedade 
é vista muitas vezes como algo que impede; algo 
que deve ser driblado, controlado, para que não 
impeça o desenvolvimento das potencialidades que 
já estão no homem, a priori. 
 Assim, os psicólogos se puseram de costas 
para a realidade social, acreditando poder entender 
o fenômeno psicológico a partir dele mesmo. As 
crianças não aprendem na escola porque não se 
esforçam ou porque têm pais que bebem e mães 
ausentes; as mães pobres não tratam 
adequadamente seus filhos porque não conhecem 
os saberes da Psicologia; as pessoas não melhoram 
de vida porque não querem; os trabalhadores 
perdem suas mãos nas máquinas devido a pulsões 
de morte ou coisa que o valha. Os jovens matam 
crianças com tiros porque têm natureza violenta ou 
porque seus pais. E assim vamos explicando todas 
as questões sociais a partir de mecanismos naturais 
do mundo psicológico. 
Não é este o projeto que defendemos. 
Temos nos oposto a ele e procurado a Psicologia 
do Compromisso Social. Uma psicologia que 
responda às reais necessidades de nossa população 
e de nossa realidade. Que realidade? Que mundo é 
este para o qual construímos um saber e um fazer? 
E aqui, como falamos de psicologia no Brasil, 
vamos falar um pouco deste mundo brasileiro. 
Vivemos em um país de Terceiro Mundo, 
situado em um continente de Terceiro Mundo. O 
capitalismo é nosso modo de produzir 
sobrevivências e de produzirmos nossas relações 
sociais. As características são perversas: 
desigualdade social como decorrência estrutural do 
modo de produção. O capitalismo gera, por sua 
natureza, a desigualdade. 
 Nossas relações sociais de convivência 
foram atingidas e hoje percebemos estes efeitos: 
sentimentos de hostilidade, desconfiança, irritação 
e medo caracterizam nossas relações e as camadas 
dominantes ao se aperceberem destes sentimentos 
criam aparatos repressivos e de segurança. O 
espaço público se esvaziou e a segregação nos 
atinge. Alguns espaços urbanos passam a ser 
ocupados exclusivamente por determinados grupos 
sociais. Há uma verdadeira ruptura dos vínculos 
sociais que não nos permite nos percebermos em 
um mesmo país. Religiões e culturas distintas vão 
se construindo. 
 Cidadãos? Apenas alguns. A maioria é 
excluída desta condição. Isso significa que alguns 
 
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008 
 
4
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008 
_____Psicologia &m foco 
não farão parte da construção e das decisões 
políticas do país. Não construirão as condições de 
vida a que estarão submetidas; não construirão 
soluções para as suas necessidades; serão usuários 
dos serviços, das decisões, dos restos... 
 Muitas pessoas nesta sociedade estão 
abaixo da linha da pobreza; muitos são muito 
pobres e quase todos são pobres. As estatísticas da 
desigualdade são assustadoras: segundo o “Atlas 
da Exclusão” organizado por Marcio Pochmann e 
Ricardo Amorim, 75,4% da riqueza total brasileira 
está na mão de 10% da população. O pior talvez 
seja imaginarmos pelo inverso: 24,6% da riqueza 
brasileira estão distribuídas entre 90% da 
população. 
 Os direitos obviamente não estão 
adequadamente e nem igualmente distribuídos. Os 
espaços estão desigualmente divididos; o poder 
político está concentrado na mão de grupos 
dominantes da elite. O direito à vida é 
desigualmente dividido, a ponto de termos vidas 
que valem muito e outras que nada valem. 
 Bem essa realidade é conhecida de todos. 
Vemos todo dia isto na rua; vemos na TV, enfim, é 
uma realidade familiar a todos nós. 
 Queremos outra relação com a sociedade. 
Queremos uma relação onde possamos contribuir 
para a compreensão de que o tipo de vida que 
oferecemos como conjunto social aos nossos 
humanos será responsável pela forma subjetiva que 
vamos tomar. A matéria prima de nossa 
subjetividade está na vida vivida, nesta vida que 
nós mesmos construímos. Se continuarmos 
mantendo e reconstruindo cotidianamente uma 
sociedade desigual como a nossa, vamos ser 
cúmplices de um projeto de humano onde as 
subjetividades “desiguais” (notem que não estou 
dizendo diferentes, estou dizendo desiguais) se 
instalarão e teremos um mundo uns são 
dominantes e outros dominados, uns humilhados e 
subalternos; outros arrogantes e proprietários. 
Estas formas sociais produzem correspondentes 
subjetivos que produzem sofrimento e 
distanciamento social. Estamos empobrecendo a 
humanidade quando concordamos com isto. Não 
podemos admitir que a humanidade criada por 
todos não esteja disponível para todos.Queremos construir uma Psicologia que 
seja capaz de contribuir para que esta realidade 
desigual se evidencie e possamos também com 
nosso conhecimento contribuir para sua superação. 
Mas para isto é preciso abandonar concepções 
naturalizantes e universalizantes de fenômeno 
psicológico; é preciso adotar perspectivas 
históricas que permitam compreender que o 
humano não está pronto e que nem tem um destino 
próprio a perseguir, mas que vai se constituindo 
conforme vamos, coletivamente, dando conta de 
produzir nossa sobrevivência e nossa vida social. 
Produzimos bens materiais necessários a nossa 
vida e produzimos subjetividades humanizadas que 
carregam aspectos fundamentais destas formas de 
vida. 
E aí chegamos à Psicologia Sócio-
Histórica: uma perspectiva em Psicologia que faz 
da crítica às concepções naturalizantes sua 
principal tarefa. O ser humano precisa ser pensado 
a partir de outra perspectiva que tenha a 
historicidade como uma de suas principais 
características. É preciso pensar o sujeito como em 
construção permanente; como alguém que ao atuar 
no mundo o modifica e se modifica a si próprio. 
Nossos conceitos precisam dar conta disto. Não 
podemos trabalhar com conceitos que paralisam o 
mundo; que tomam o sujeito como um a priori, 
como alguém que nasce dotado de capacidades. 
Precisamos de perspectivas que pensem a 
construção do psiquismo como algo que se dá ao 
mesmo tempo em que se constrói o mundo. 
 A Psicologia que ensinamos ainda é aquela 
que se fundamenta em perspectivas 
universalizantes e naturalizantes da subjetividade. 
Idéias que pensavam o homem como um ser 
natural, dotado de capacidades e características da 
espécie e que, inserido em um meio adequado, 
poderia ter seu desenvolvimento. O 
desenvolvimento das capacidades do homem 
depende das condições externas e do esforço 
realizado por cada um, no sentido do 
aproveitamento das condições. 
 Necessitamos rever nossos conhecimentos 
e práticas a partir de noções que entendam o 
homem como um ser constituído ao longo de sua 
própria vida, ao longo de sua ação sobre o mundo, 
na interação com os outros homens, inseridos em 
uma cultura que acumula e contém o 
desenvolvimento de gerações anteriores. Estas 
perspectivas fortalecem nosso vinculo com a 
sociedade onde inserimos nosso trabalho. 
 A dimensão subjetiva da realidade está aí, 
em todos os espaços e em todos os coletivos. É 
preciso trazer a Psicologia para fazer a leitura desta 
dimensão e contribuir com isto para a 
 
Psicologia &m foco, Aracaju, Faculdade Pio Décimo, v. 1, n. 1, jul./dez. 2008 
 
5
Vol. 1 (1). Jul./Dez 2008 
_____Psicologia &m foco 
transformação da dura realidade desigual de nosso 
país. 
 Alguns exemplos para terminar: 
Não temos uma psicologia que considere a 
realidade étnica de nosso país; os sujeitos estão 
pensados a partir de uma Psicologia branca de 
camada média. Como se a experiência psicológica 
dessas pessoas fosse idêntica. O preconceito, a 
segregação, a desigualdade social têm ficado 
ocultadas na nossa psicologia. A Psicologia Sócio-
Histórica é uma perspectiva que quer produzir uma 
Psicologia que fale dessa realidade; que ao falar do 
mundo psicológico seja capaz de dar conta de toda 
essa realidade desigual que nos cerca e que, 
portanto, ao falar do mundo psicológico o tome 
como realidade e seja capaz de falar do mundo 
desigual, denunciando-o e incentivando os 
psicólogos a trabalharem na construção de um 
mundo melhor.

Outros materiais