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Linguística I - Estudos e História

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Prévia do material em texto

LINGUÍSTICA I
Professor Me. Adriano Steffler
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Fabiane Carniel
Design Educacional
Camila Zaguini Silva, Fernando Henrique 
Mendes, Rossana Costa Giani
Iconografia
Isabela Soares Silva
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
André Morais de Freitas
Editoração
André Morais de Freitas
Qualidade Textual
Hellyery Agda, Ana Paula da Silva, Flaviana 
Bersan Santos, Jaquelina Kutsunugi, Keren 
Pardini, Maria Fernanda Canova Vasconcelos, 
Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci Correa e 
Viviane Favaro Notari
Ilustração
Robson Yuiti Saito
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; STEFFLER, Adriano. 
 
 Linguística I. Adriano Steffler. 
 (Reimpressão revista e atualizada)
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. 
 144 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. Linguística. 2. Estudos. 3. História. 4. Gramática. 
 5. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-8084-620-1
CDD - 22 ed. 411
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Diretoria Operacional 
de Ensino
Diretoria de 
Planejamento de Ensino
A
U
TO
R
Professor Me. Adriano Steffler
Mestrado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá, Brasil (2013). Tem 
experiência na área de Letras, com ênfase em Línguas Estrangeiras Modernas 
e Tradução. Graduação em Letras pela Universidade Estadual do Oeste do 
Paraná (2009).
SEJA BEM-VINDO(A)!
Que bom começarmos nossa disciplina de Linguística! Nela, faremos uma incursão pela 
ciência linguística em forma de introdução breve e metódica, apresentando alguns con-
ceitos teóricos, a definição e a diferenciação de língua e de linguagem, caracterizando 
cada uma delas. Além disso, estudaremos como o objeto da Linguística – a própria lín-
gua – evoluiu ao longo do tempo e como eram feitos os estudos sobre língua e lingua-
gem na antiguidade por diferentes povos. Esse desenvolvimento passou pela gramática 
especulativa, depois pela gramática geral, pela linguística histórico-comparativa, pela 
neogramática, culminando, por fim, no Estruturalismo. Alguns princípios norteadores 
que motivaram o surgimento desses movimentos foram explicitados para que você 
compreenda melhor como a língua e a linguagem se desenvolveram. 
Ressaltamos que, durante a redação deste livro, procuramos manter um posicionamento 
teórico neutro, de modo a evitar distorções e parcialidade no tratamento das questões 
referentes à linguagem. De modo semelhante, buscamos equilibrar a complexidade do 
assunto e a dialogicidade do texto. Sugerimos, assim, algumas leituras complementares 
indicadas no final de cada unidade; tais obras serão de grande auxílio para compreender 
satisfatoriamente as questões que, por ventura, o aluno julgar mais complexas. 
O livro está dividido em cinco unidades; cada unidade apresenta seções em número va-
riável. Nos parágrafos abaixo, apresentaremos, de forma sucinta, os conteúdos a serem 
trabalhados e discutidos.
Na primeira unidade, são apresentados os conceitos de língua e de linguagem, defi-
nindo a diferença existente entre eles. Em seguida, o aluno encontrará a definição do 
objeto de estudo da linguística, multifacetado por natureza, para, então, elencar as 
característicasdas línguas naturais, oferecendo um aporte teórico básico para compre-
ender as noções e conceitos a serem apresentados nas unidades seguintes.
Na segunda unidade, a questão dos estudos linguísticos na antiguidade será aborda-
da. Diferentemente do que comumente se faz em introduções sobre linguística, partire-
mos de uma perspectiva cronológica para considerar os fatos, e não de uma perspectiva 
cultural que implicaria uma posição etnocêntrica, ou seja, que considera determinada 
etnia como o centro irradiador de cultura.
Assim, embora a tradição gramatical do português tenha recebido enorme influência 
da tradição gramatical greco-romana, trataremos, primeiramente, dos estudos grama-
ticais na Índia, visto que a primeira obra de descrição sistemática de uma língua surgiu 
nessa nação, tendo se desenvolvido em solo indiano uma frutífera tradição de estudos 
linguísticos. Em seguida, veremos brevemente como eram os estudos gramaticais na 
Arábia, para, então, prosseguirmos até a Grécia antiga, mostrando como algumas das 
concepções linguístico-gramaticais se desenvolveram de modo descontínuo e gradual. 
Na sequência, veremos como essas concepções influíram na tradição gramatical ro-
mana, que nos foi legada sob a forma de gramática tradicional.
Na terceira unidade, será apresentada a gramática especulativa que foi, de certo modo, 
APRESENTAÇÃO
LINGUÍSTICA I
a precursora das correntes teóricas que consideram a relação entre língua, pensamento 
e realidade. Em seguida, abordaremos a gramática geral ou gramática de Port-Royal, 
constituindo a primeira tentativa de racionalizar o estudo da gramática. Na sequência, 
analisaremos como e quando surgiu e o que ocasionou a gramática histórico-compa-
rativa. Continuando nossos estudos, faremos uma incursão na neogramática, movi-
mento de oposição à gramática histórico-comparativa. 
Na quarta unidade, nos ocuparemos do Estruturalismo, o movimento linguístico con-
siderado o marco inicial da linguística moderna, ao postular a língua como um sistema, 
formando uma entidade a partir das dicotomias por ela apresentadas. Discorreremos 
também, de forma sucinta, acerca de seus pressupostos teóricos e o momento histórico 
de seu surgimento.
A quinta unidade é inteiramente dedicada à explicação das dicotomias saussureanas 
e às implicações destas nas teorias subsequentes. Mostrar-se-ão os desdobramentos 
teóricos e metodológicos a partir de cada elemento da dicotomia, culminando no surgi-
mento das teorias pós-estruturalismo.
Esperamos que este livro seja bastante proveitoso e que atinja o objetivo de apresentar 
a ciência linguística. Desejamos, assim, muito sucesso a você, aluno(a)!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
LÍNGUA E LINGUÍSTICA
15 Introdução 
16 A Ciência Linguística 
19 Os Conceitos de Língua e de Linguagem 
22 O Conceito de Gramática 
28 Objetivo e Objeto de Estudo da Linguística 
33 Propriedades da Linguagem Humana 
38 Outras Características da Linguagem 
41 Considerações Finais 
UNIDADE II
ORIGENS HISTÓRICAS DA LINGUÍSTICA
47 Introdução
48 Origens Históricas Da Linguística 
49 Estudos Gramaticais no Antigo Oriente 
50 Estudos Gramaticais na Índia e a Primeira Gramática 
53 Estudos Gramaticais na China 
55 Estudos Gramaticais na Arábia 
58 Estudos Gramaticais na Grécia Antiga 
63 Estudos Gramaticais em Roma 
64 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
OS MOVIMENTOS LINGUÍSTICOS DO PRÉ-ESTRUTURALISMO
71 Introdução
71 A Gramática Especulativa 
73 A Gramática Geral ou Gramática de Port-Royal 
74 A Gramática Histórico-Comparativa 
90 A Neogramática 
95 Considerações Finais 
UNIDADE IV
O ESTRUTURALISMO
101 Introdução
101 História e Desenvolvimento do Estruturalismo 
106 Concepções Teóricas do Estruturalismo 
110 O Estruturalismo Europeu 
111 O Estruturalismo Americano 
114 Biografias de Autores Estruturalistas 
118 Críticas ao Estruturalismo 
120 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
AS DICOTOMIAS SAUSSUREANAS
125 Introdução
125 As Dicotomias Saussureanas 
125 Língua e Fala 
128 Significante e Significado 
130 Sintagma e Paradigma 
132 Sincronia e Diacronia 
134 Arbitrariedade e Motivação 
135 Forma e Substância 
137 Considerações finais 
141 CONCLUSÃO
143 REFERÊNCIAS
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Professor Me. Adriano Steffler
LÍNGUA E LINGUÍSTICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Estabelecer a distinção entre linguagem e língua.
 ■ Definir os objetivos e objeto de estudo da Linguística.
 ■ Determinar as características das línguas naturais.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A ciência linguística
 ■ Os conceitos de língua e de linguagem
 ■ O conceito de gramática
 ■ Objetivo e objeto de estudo da Linguística
 ■ Propriedades da linguagem humana
 ■ Outras características da linguagem humana
INTRODUÇÃO
Ao estudar a linguagem, enfocamos em uma característica única aos seres 
humanos. Todos nós, não importando o lugar onde nascemos ou a cultura em 
que vivemos, independentemente de nosso grau de escolaridade, conseguimos 
produzir linguagem articulada e, assim, comunicamo-nos uns com os outros. 
Dificilmente haverá um momento de nossas vidas em que não usaremos linguagem 
– há aqueles que falam dormindo ou se veem falando em sonhos, não é mesmo?
A linguagem, muito mais do que qualquer outra característica, distingue 
eminentemente o ser humano dos animais. O ser humano consegue adaptar a 
sua linguagem às mais diversas situações, encontrando formas para se comuni-
car de maneira eficiente.
Assim, a linguagem é uma característica universal dos seres humanos. No 
entanto, os seres humanos podem se subdividir em agrupamentos, cada qual tendo 
a sua própria língua (entendida aqui como idioma). Por esse motivo, falantes de 
diferentes línguas, ou seja, de diferentes idiomas – como o inglês ou o francês –, 
embora possuam linguagem, não conseguirão, a princípio, estabelecer comuni-
cação entre si, uma vez que não dominam o mesmo idioma.
Em meio à heterogeneidade linguística, que forma um “caos aparente”, é, 
portanto, objetivo da Linguística definir quais aspectos da linguagem serão por 
ela considerados e de que modo isso será feito, a fim de obter regras gerais que 
possam explicar o funcionamento da linguagem como um todo, partindo da 
análise das línguas particulares. Surgem, assim, diferentes modos de considerar 
o mesmo objeto de estudo, resultando nas teorias linguísticas.
Levando-se em conta essas questões, trataremos, nesta primeira unidade, da 
questão da linguagem como característica propriamente humana, procurando 
demonstrar como a ciência linguística se ocupa desse assunto.
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Introdução
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LÍNGUA E LINGUÍSTICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA
A linguística moderna é fruto de um longo desenvolvimento, permeado de ques-
tões controversas e de disputas internas. Esse desenvolvimento pode ser melhor 
compreendido em termos históricos, tanto ao se referir à ciência linguística do 
passado distante ou recente quanto às peculiaridades de seu desenvolvimento 
em contextos socioculturais diversos.
Os estudos da linguagem eram primordialmente constituídos por atividades 
relacionadas com a criação e o melhoramento da escrita, com o ensino do léxico 
(do vocabulário), com a interpretação de textos sagrados e de textos de obras anti-
gas, com o desenvolvimento da relação entre fala, estrutura e som, especialmente 
na poesia, e coma busca de maneiras mais eficazes de influenciar as palavras 
consideradas mágicas e empregadas em ritos sacerdotais. Inicialmente voltada 
a problemas de cunho mais prático, a linguística, como a conhecemos hoje, foi 
paulatinamente tomando forma: a gama de problemas abordados foi ampliada, 
as suas análises foram aumentadas e mais aspectos da linguagem passaram a ser 
levados em consideração, fato esse que levou à construção da ciência linguística 
e ao desenvolvimento de novos métodos de pesquisa. A linguística, que antes 
era mais um “filosofar” sobre a linguagem, passa a estudar as línguas particula-
res, constituindo uma ciência, com métodos e premissas próprios.
Como conjunto de estudos sistemáticos sobre a linguagem, a linguística 
passou a ser divulgada mais amplamente apenas no século XX, sobretudo, na 
Europa, onde foram realizadas várias conferências de linguistas, os famosos 
Círculos Linguísticos. A comunicação entre os linguistas aumentava à medida 
que se desenvolviam os meios de comunicação; depois da segunda metade do 
século XX, os avanços dessa disciplina podiam ser transmitidos a todo mundo 
em questão de horas. A linguística se tornou, ao menos aparentemente, uma 
ciência unificada e internacional. Embora pretenda ser una de um ponto de 
vista científico, é possível notar várias influências nacionais e de línguas espe-
cíficas. Os esforços para a aproximação das escolas linguísticas são, por vezes, 
notadamente marcados pela tendência em se concentrar na compreensão euro-
cêntrica (a Europa entendida como o centro cultural) de linguagem. A respeito 
desse assunto, Charlier (1981, pp. 30-31) escreve:
17
A Ciência Linguística
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A linguística é uma ciência porque se constitui num conjunto sistemá-
tico de factos e de teorias para o estudo da linguagem e das línguas. 
Tem um objeto definido, a linguagem e as línguas, e métodos definidos 
que se pode descrever, comunicar, reproduzir, pôr à prova. Como todo 
o estudo de dados “observáveis”, implica naturalmente a percepção e a 
escolha destes dados, portanto um certo elemento pessoal (e a formu-
lação de hipóteses assenta naturalmente também no génio individual), 
mas o que é fundamental, em oposição, por exemplo, a certos tipos de 
explicações de textos, é que, em qualquer momento, o seu percurso é 
explícito, as intuições são transmissíveis, as escolhas operadas repor-
tam-se a um raciocínio sistemático, as hipóteses de partida cujas con-
sequências lógicas são examinadas, a princípios gerais que constituem 
uma teoria que se pode enunciar, formular, de maneira que se possa 
verificar pelos dados da língua qualquer consequência logicamente in-
ferida das hipóteses. […]
A história da linguística sempre se circunscreve, mesmo que de modo velado, 
a um determinado país, região, cultura ou língua, estando sujeita à história 
cultural, social e política do lugar onde se originou. Assim, o ritmo de desen-
volvimento do conhecimento linguístico e o rumo tomado pelas pesquisas são 
variados: em alguns casos, situa-se em primeiro plano o problema da criação e 
da melhoria de sistemas de escrita e da interpretação dos textos escritos, como 
é o caso das tradições gramaticais chinesa e grega; em outros, há a preocupação 
com o discurso, como ocorre com os estudos gramaticais indianos. O objetivo 
do estudo da linguagem pode retroceder a algumas centenas ou mesmo milha-
res de anos, principalmente em termos de trabalho lexicográfico, como ocorreu 
na China, ou então se direcionar para a análise gramatical, como foi o caso dos 
estudos greco-romanos e da linguística em si. No que se refere ao trabalho de 
campo, em algumas tradições linguísticas ele é relativamente independente, em 
outras, ele constitui um dos aspectos epistemológicos e metodológicos de um 
plano mais amplo.
As diferentes vertentes de estudo da linguagem apresentam uma ordenação 
hierárquica e métodos de pesquisa diversos, bem como diferentes formas de 
considerar as suas unidades básicas de análise. Do mesmo modo, relacionam-
-se com outras ciências, a fim de estabelecer o lugar da linguagem na hierarquia 
dos valores humanos, tais como filosofia, epistemologia, teologia, lógica, retórica, 
poética, filosofia, literatura, história, estética, psicologia, biologia, antropologia, 
LÍNGUA E LINGUÍSTICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
etnologia, história, sociologia, estudos culturais, medicina, matemática, semió-
tica, teoria da comunicação, cibernética, informática, didática, tradução etc. A 
respeito desse fato, Martelotta (2009, p. 21-22) mostra que:
Uma vez afirmada como ciência, delimitando objeto e metodologia 
próprios, a lingüística reivindica sua autonomia em relação às outras 
áreas do conhecimento. No passado, o estudo da linguagem se subor-
dinava, por exemplo, às investigações da Filosofia através da Lógica. 
Sobretudo a partir do século XX, com a publicação do Curso de lin-
güística geral (marco inicial da chamada lingüística moderna), obra 
póstuma do linguista suíço Ferdinand de Saussure, instaura-se uma 
nova postura, e os estudiosos da linguagem adquirem consciência da 
tarefa que lhes cabe: utilizando-se de uma metodologia adequada, es-
tudar, analisar e descrever as línguas a partir dos elementos formais que 
lhes são próprios.
A diversidade teórica da linguística não impede a sua existência como ciência. 
De modo semelhante, as diversas formas de analisar o mesmo objeto de estudo 
levam a refutar a noção de que,
[…] haja apenas uma teoria. Este domínio é mesmo caracterizado no 
momento presente por uma proliferação de teorias diversas, o que não 
impede que, para qualquer teoria linguística “científica”, se conheçam 
claramente os axiomas postos à partida e as vias seguidas. Pode-se en-
tão avaliar a força e o interesse das hipóteses, em face das predições 
que permitem fazer sobre a língua e do modo como estas predições são 
verificadas ou infirmadas pelos factos; pode-se claramente ver as con-
sequências do que foi excluído e tomado em consideração nos axiomas 
de partida e comparar as teorias entre si, visto que, sendo explícitas, são 
compreensíveis e aplicáveis. Certamente que todos os gramáticos des-
de sempre tentaram raciocinar bem em vez de mal, mas é a noção de 
hipótese que é extremamente importante: a atitude científica consiste 
em construir, a partir de observações limitadas e provisórias, teorias ou 
modelos hipotéticos que explicam estas observações e permitem fazer 
outras. Uma teoria linguística não é verdadeira ou falsa, apenas é mais 
adequada do que outra em vista dos dados, ou é menos adequada, isto 
é, explica menos factos ou explica-os menos bem, por processos menos 
justificados, mais arbitrários, menos sistemáticos ou menos simples 
(CHARLIER, 1981, p. 31).
Essa postura teórica implica, aparentemente, um isolamento de outras disci-
plinas. No entanto, com isso são estabelecidas relações ainda mais próximas e 
bastante frutíferas com outras áreas do conhecimento. Ainda segundo Martelotta 
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Os Conceitos de Língua e de Linguagem
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(2009, p. 22),
[...] isso não significa dizer que a lingüística encontra-se isolada das 
demais ciências e de outras áreas de pesquisa. Ao contrário, existem 
relações bastante estreitas entre elas, o que faz com que, algumas vezes, 
seus limites não se apresentem nitidamente. Desse modo, a caracteriza-
ção dessas disciplinas é útil na medida em que permite delimitarmais 
claramente o campo de atuação da lingüística, contrastando-o com o 
de outras ciências. Temos, assim, duas faces da relação entre lingüística 
e as demais ciências.
Contudo, nem sempre há apenas diferenças no tocante à origem e ao desenvol-
vimento do conhecimento linguístico em diferentes contextos etnoculturais. 
Muitas tradições linguísticas nacionais discutem problemas relacionados à filo-
sofia da linguagem, como a sua origem, a sua natureza, a relação entre linguagem 
e pensamento, a relação entre os meios linguísticos de expressão e de conteúdo, 
a natureza natural ou convencional da relação entre as palavras e as coisas, as 
semelhanças e diferenças entre a linguagem humana e a “linguagem” dos animais.
OS CONCEITOS DE LÍNGUA E DE LINGUAGEM
De modo a melhor entender o objeto de 
estudo da Linguística, devemos distinguir 
os conceitos de língua e de linguagem. 
Resumidamente, pode-se dizer que a lin-
guagem se refere, de forma bastante ampla, 
a sistemas de comunicação, não somente 
humanos, mas também animais. A língua, 
por sua vez, é o conjunto de signos convencio-
nados e empregados por determinada linguística (no 
caso do português, nosso alfabeto, por exemplo, e o modo como 
empregamos as letras, formando as palavras). Assim, pode se dizer que 
as línguas são linguagens, mas as linguagens não são necessariamente línguas. 
LÍNGUA E LINGUÍSTICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
Essa divisão entre o que é língua e o que é linguagem apresentará implica-
ções no momento de estudar o fenômeno da linguagem, pois há teorias que se 
voltam para o todo, procurando encontrar na linguagem o que há de universal. 
Outras teorias, por sua vez, analisam as línguas em particular, com o objetivo 
de encontrar nelas estruturas comuns, de modo a definir como se estabelece o 
todo que é a linguagem. Há também algumas teorias que procuram mostrar 
que a linguagem não apresenta características universais e que o seu desenvol-
vimento varia de cultura para cultura.
A linguagem constitui, portanto, um elemento estruturador da sociedade 
na medida em que intermedeia a comunicação entre os sujeitos falantes, sendo 
por ela perpassadas todas as atividades nela desenvolvida. Manifestada sob a 
forma de línguas naturais, ocorre entre essas línguas um incessante cruzamento 
e complementação, que seguem a transformação do ser humano e das formas 
de organização social.
A finalidade primária da linguagem é a comunicação verbal, e essa caracterís-
tica isoladamente justificaria a sua existência. É isso que possibilita a construção 
das sociedades e de conhecimento, por mais distintos que sejam.
Por apresentar um caráter comunicativo, a linguagem apresenta também 
um caráter social, no sentido de que existe como suma do conhecimento lin-
guístico de todos os falantes individuais. Quando nascemos já a encontramos 
pronta, bastando aprendê-la; quando deixamos de existir, a língua continuará 
à disposição dos outros falantes. Assim, a língua se constitui como patrimônio 
social e cultural de uma comunidade de falantes.
O conceito de linguagem é mais amplo do que aparenta ser à primeira vista, 
pois se refere não somente à linguagem verbal, mas a todo e qualquer conjunto 
de sinais empregados pelo ser humano para estabelecer comunicação, seja 
por meio de sinais auditivos, visuais, por meio de linguagem corporal ou lin-
guagem verbal. Esses sinais são convencionados por determinada comunidade, 
a fim de permitir o entendimento mútuo ou, em certos casos, também o senti-
mento de exclusão. 
A língua, considerada dessa forma, constitui um constructo sócio-histó-
rico, que nunca permanece estanque, posto estar sempre a sofrer alterações em 
todos os seus níveis, de modo a se adaptar à sociedade, à cultura e à situação em 
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que é empregada. Esse caráter social e histórico é mais nitidamente percebido se 
entrarmos em contato com diversos falantes e notarmos que nenhum deles fala 
da mesma forma. Essas diferenças encontradas em uma mesma língua consti-
tuem o que se denomina variante linguística. Vejamos, brevemente, quais tipos 
de variação as línguas podem apresentar:
a. Variação diafásica: é a alteração do registro de fala de acordo com o 
ambiente comunicativo em que a pessoa se encontra. Assim, ao partici-
par de uma reunião, um indivíduo diria, por exemplo: Eu poderia tomar 
a palavra, a fim de elucidar esta questão? Em situações informais, como 
em um churrasco com os amigos, esse mesmo indivíduo diria, por exem-
plo: Quero falar pra explicar esse troço aí! Por meio da alteração de seu 
registro de fala, o indivíduo falante consegue se adaptar às mais diferen-
tes situações comunicativas, a fim de obter êxito na comunicação. 
b. Variação diastrática: é a alteração do registro de fala de acordo com a 
camada social e cultural do indivíduo. Nesse caso, é importante alertar 
para o fato de que estar em uma camada social mais elevada não implica, 
necessariamente, um conhecimento linguístico maior e uma fala mais 
apurada. A camada cultural em que o indivíduo se situa é mais decisiva 
para definir como ele empregará a língua. Assim, uma pessoa mais instru-
ída poderia dizer, por exemplo: Nós vamos para casa agora, ao passo que 
alguém com um menor grau de instrução poderia dizer: Agora nóis vai 
pra casa. A variação diastrática é, muitas vezes, empregada como fator de 
discriminação, sobretudo, quando entendida erroneamente, ao relacionar 
camadas sociais mais elevadas com um conhecimento linguístico maior.
c. Variação diatópica: é a alteração do registro de fala de acordo com o 
local em que a língua é falada, correspondendo aos falares regionais. Essa 
forma de variação é, certamente, a que causa maior estranhamento nos 
indivíduos. Assim, na fala de um gaúcho perceberíamos diferenças léxi-
cas, morfológicas e fônicas, se comparássemos a sua fala com a de outras 
regiões. Ele diria, por exemplo: Tu vais comprar aipim?, ao passo que em 
outras regiões normalmente ouviríamos: Você vai comprar mandioca? 
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Essa forma de variação, por vezes, também é fator de discriminação, sobre-
tudo, quando se fazem afirmações que promulgam determinada variante 
regional melhor e mais correta do que a de outras regiões. Tal forma de 
considerar nunca é movida por critérios linguísticos, mas sim por interes-
ses políticos e, por vezes, financeiros, o que exige que nos mantenhamos 
cautelosos diante de tais situações.
d. Variação diacrônica: é a alteração do registro de fala com o decorrer do 
tempo. Essa alteração é bastante perceptível se considerarmos as gírias 
empregadas em cada época. Uma pessoa que nasceu nos anos 1950 pro-
vavelmente conheceu as palavras supimpa, barato, maneiro, massa, todas 
com a noção da palavra legal, empregada atualmente. Essa pessoa prova-
velmente também atualizou a sua forma de falar e dificilmente se pode 
imaginar alguém empregando a palavra supimpa nos dias atuais. Essa 
variação é mais difícil de ser percebida pelo fato de requerer certo grau 
de conhecimento da história da língua, ao menos de algumas décadas.
Além da definição dos conceitos de língua e de linguagem, é importante tam-
bém definir de forma mais detalhada o conceito de gramática, o que será feito 
nos próximos parágrafos. 
O CONCEITO DE GRAMÁTICA
Ao se estudar a linguagem, deparamo-nos frequentemente com o termo gramá-
tica. As concepções veiculadas por este termo podem ser bastante variadas, tendo 
seguido também o curso de desenvolvimento da linguística.Embora haja diver-
sas concepções de gramática que, por vezes, parecem incompatíveis entre si, pois 
apresentam diferentes metodologias e terminologias para considerar o mesmo 
fato – a linguagem – essas mantêm pontos em comum entre si. Verificaremos isso 
nos parágrafos seguintes, em que descreveremos brevemente a evolução histórica 
e as diferenças epistemológicas entre as diferentes acepções do termo gramática.
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Na antiguidade, incluindo-se aí não somente a Grécia Antiga e Roma, mas 
também a China e a Índia, a noção de gramática representava um conjunto 
de regras a serem seguidas para falar e escrever de forma clara e racional. Essa 
concepção visava, sobretudo, a fins práticos de preservação da forma original 
da língua em questão, considerada dádiva dos deuses e empregada, por conse-
guinte, em rituais religiosos. Tinha-se o objetivo de prescrever o que seria a língua 
correta, apresentando a esse tipo de gramática características altamente regu-
ladoras, motivo pelo qual ela é chamada de gramática prescritiva ou gramática 
normativa. Nesse período, surgiu a noção de certo e de errado na língua, con-
cepção essa que se mantém até os dias atuais, sobretudo entre, o público leigo. 
Pelo fato de apresentar um caráter exclusivamente pedagógico, a gramática nor-
mativa não tem pretensões científicas. Ela pode ser definida como um conjunto 
de regras aprioristicamente estabelecidas, que visam a orientar os falantes per-
tencentes à determinada comunidade linguística no emprego da variante culta 
de sua língua. O seu caráter prescritivo surgiu com os primeiros estudos gra-
maticais dos gregos, muito embora outras civilizações também já apresentassem 
esse conceito. A fundamentação para as regras a serem seguidas se encontra em 
padrões literários, geralmente antigos e idiossincráticos. É nessa época que sur-
gem os germes da gramática tradicional, de caráter normativo e prescritivista. 
A respeito dessa questão, Saussure (2012, p. 31) afirma:
Começou-se por fazer o que se chamava de “Gramática”. Esse estudo, 
inaugurado pelos gregos, e continuado principalmente pelos france-
ses, é baseado na lógica e está desprovido de qualquer visão científica 
e desinteressada da própria língua; visa unicamente a formular regras 
para distinguir as formas corretas das incorretas; é uma disciplina nor-
mativa, muito afastada da pura observação e cujo ponto de vista é for-
çosamente estreito.
A gramática tradicional apresenta alguns problemas interessantes que não podem 
ser negligenciados. O aspecto mais notório desse tipo de gramática é a deficiên-
cia no tratamento dado ao uso efetivo da língua, apresentando como exemplo 
somente a língua de grandes escritores do passado. Assim, as características do 
estado atual da língua são deixadas de lado, apresentando, em lugar delas, arca-
ísmos que não encontram mais uso na língua atual. Em língua portuguesa, por 
exemplo, o uso da forma cadê?, derivada da expressão que é feito de?, é condenado 
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em gramaticas mais tradicionais. Entretanto, a última expressão não pode mais 
ser considerada como fazendo parte do atual estado da língua.
Outra questão importante a ser considerada é o fato de a língua falada 
ser relegada a segundo plano, por vezes ocorrendo também a confu-
são entre a variedade falada e escrita. Para exemplificar esse fato, podemos 
citar a questão da metaépia em português, que faz com que as vogais /e/ e 
/o/ sejam pronunciadas /i/ e /u/ em posição átona, respectivamente: menino 
/miniːnʊ/, livro /livrʊ/, pequeno /pikenʊ/. De modo semelhante, poderíamos 
citar a questão da metafonia em português, ou seja, a alternância de o fechado /o/ 
para o aberto /ɔ/, sobretudo, em formas do plural. Essa questão está ausente da 
maioria das gramáticas tradicionais do português: poço – poços, povo – povos, 
porco – porcos, tijolo – tijolos, novo – novos, ovo – ovos. Pelo fato de não haver 
representação gráfica dessa alternância, estudantes estrangeiros de língua por-
tuguesa terão dificuldades para compreender em quais casos ocorre a variação.
Ademais, mencione-se o fato de que as gramáticas tradicionais se detêm 
demasiadamente em questões secundárias da língua, omitindo questões impor-
tantes. As gramáticas de língua portuguesa costumam trabalhar exaustivamente 
os substantivos coletivos e os particípios duplos, por exemplo, deixando a sintaxe 
em segundo plano. É, sobretudo, nessa questão que se pode perceber o caráter 
prescritivista da gramática tradicional, visto que ela se preocupa mais em elen-
car exceções, a fim de que o falante evite erros, do que explicar a formação dos 
sintagmas, das orações e dos enunciados. Desse modo, é dada uma excessiva aten-
ção à morfologia, deixando de lado a sintaxe. O resultado disso é um conjunto 
de regras esparsas que, por não apresentarem sistematicidade, não possibilitam 
a correta formação de orações complexas.
As falhas da gramática tradicional podem ser notadas não somente no plano 
do conteúdo, mas também no modo como os diversos tópicos gramaticais são 
apresentados. Assim, um dos principais problemas é a definição e explicação 
vaga de certos conceitos. Prescinde-se da clareza de expressão em prol de uma 
apresentação supostamente lógica e pouco elucidativa. A vagueza desse tipo de 
definição dificulta, quando não impede, uma correta compreensão dos fatos da 
língua. Desse modo, nota-se que as explicações apresentadas pelas gramáticas tra-
dicionais são, muitas vezes, incorretas pelo fato de se fundamentarem em critérios 
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de ordem diversa. A organização e a disposição das explicações da gramática 
tradicional favorecem uma dispersão das informações. Normalmente, as gramá-
ticas classificam as suas explicações a partir das tradicionais classes de palavras.
Desde tempos remotos, a gramática esteve atrelada ao pensamento filosófico, 
sobretudo, na cultura greco-romana. Essa forma de pensar se desenvolve desde 
a Idade Antiga, atingindo o seu apogeu na Idade Média, momento em que surge 
a chamada gramática filosófica, que objetivava descrever as línguas a partir das 
leis que regem o pensamento. Nessa época, acreditava-se que o funcionamento 
e a organização das línguas refletiam fielmente as leis do raciocínio, ideia que 
foi abandonada séculos mais tarde.
Quando a gramática filosófica deixou de ser um referencial para os estu-
dos linguísticos, passou-se a considerar a língua como um reflexo dos processos 
humanos, marcados pela emoção e pelos sentimentos. Esses aspectos psicoló-
gicos, exteriorizados pela linguagem, passaram a ser considerados nos estudos 
gramaticais, advindo daí a denominação gramática psicológica.
Com os desenvolvimentos posteriores dos estudos linguísticos, e devido a 
um conhecimento mais extensivo das diversas línguas do mundo, os estudiosos 
notaram a semelhança entre a estrutura básica de todas as línguas, demons-
trando que a sua estruturação se fundamentava em critérios altamente racionais. 
Assim, entendia-se a linguagem humana, aqui no sentido de conjunto de todas 
as línguas naturais, como um sistema universal, portanto, um conjunto de regras 
básico aprendido na infância, que está à disposição dos falantes de uma comuni-
dade linguística e que possibilita formar os enunciados das línguas particulares. 
Essa forma de pensar constituía o que hodiernamente se costumadenominar 
gramática universal.
Outro termo corrente na linguística é gramática internalizada. Esse tipo de 
gramática considera as línguas como sistemas de normas que regularizam e pos-
sibilitam o emprego e a consequente combinação das unidades e das estruturas 
linguísticas que as compõem. Desse modo, as línguas naturais formam um sis-
tema de possibilidades linguísticas, do qual se servem os falantes de determinada 
comunidade linguística. Esse fato, já referido por Ferdinand de Saussure no ano 
de 1913, tornar-se-ia um dos conceitos estruturadores de várias teorias linguísti-
cas que surgiriam após o estruturalismo, como o gerativismo e o funcionalismo.
LÍNGUA E LINGUÍSTICA
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O conjunto de possibilidades linguísticas a que aludimos anteriormente 
constitui a língua em si, coincidindo, nesse caso, com o conceito de gramática. 
A gramática, nessa forma de considerar, é o conjunto de conhecimentos linguís-
ticos do falante que se estabelecem de maneira gradual em sua memória, desde 
os primeiros anos de vida em diante. A assimilação da gramática, no sentido de 
língua, ocorre de maneira espontânea, bastando a criança estar em contato com 
determinada língua e receber estímulos positivos que contribuam para que ela 
a aprenda. Por esse motivo, todo ser humano, em condições normais, domina 
alguma língua com eficiência, ou seja, de forma profunda, que permita comuni-
cação com outros indivíduos, falantes da mesma língua. Assim, todos conhecem 
uma gramática que oferece as regras para a exteriorização do pensamento e para 
o estabelecimento de comunicação, embora nem sempre tenham consciência 
desse conhecimento.
A gramática internalizada permite aos falantes analisarem diversos aspec-
tos das elocuções que ouvem, por exemplo, se um enunciado está corretamente 
estruturado (*Água um beber de gostaria pouco eu. / Eu gostaria de beber um 
pouco de água.), se ele apresenta relações de significado corretas (*Conversei com 
o fogo sonolento. / Conversei com o motorista sonolento.) e em quais situações 
ele pode ser empregado (Fale baixo! / O senhor poderia, por obséquio, falar mais 
baixo?). A partir desses aspectos, podemos explicar a noção de gramaticalidade, 
que equivale basicamente à noção de aceitabilidade de uma elocução linguística.
O conhecimento gramatical internalizado dos falantes nunca é homogêneo, 
como preveem algumas concepções de linguagem. Assim, a língua internalizada 
pelos falantes apresenta diferenças quanto ao seu uso em determinada região, 
nível social e também no que se refere ao estilo da língua, o que, todavia, não 
impede a comunicação e a compreensão mútuas.
A língua, devido ao seu caráter sistêmico, apresenta regularidade e organiza-
ção estrutural. Essas características são passíveis de análise e, consequentemente, 
de descrição, surgindo daí o conceito de gramática descritiva.
A descrição de uma língua pode abranger diferentes níveis, partindo de 
unidades mínimas, como os fonemas e os morfemas, passando pelo estudo das 
palavras, dos sintagmas, das orações, dos enunciados, para chegar, por fim, ao 
texto e ao discurso. A descrição gramatical objetiva demonstrar a forma como 
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essas unidades se exteriorizam em forma de sons (fonologia); como diferentes 
unidades se combinam para expressar novos significados e formar novas palavras 
(morfologia); como elas são dispostas e organizadas nas orações e nos enuncia-
dos (sintaxe), além de procurar explicar os diferentes valores e significados de 
uma mesma palavra de acordo com o contexto em que está situada (semântica). 
Por conseguinte, a gramática descritiva, diferentemente da gramática normativa, 
objetiva descrever as possibilidades combinatórias e discursivas de uma língua 
sem fazer juízos de valor sobre elas. Por esse motivo, todas as variedades da lín-
gua podem servir como objeto de estudo para o linguista, prevalecendo, nesse 
tipo de gramática, o caráter científico.
A língua apresenta determinado grau de fixidez, no sentido de que não pode-
mos alterá-la completamente para obter determinado propósito: temos sempre 
de nos valer de estruturas, formas e palavras estabelecidas em uma espécie de 
acordo implícito entre os falantes de uma comunidade linguística. Apesar disso, 
há certa liberdade para a criação e a alteração dos elementos e estruturas já exis-
tentes quando o contexto ou a situação assim o exigirem; por outro lado, o caráter 
histórico da língua, quer dizer, o seu estabelecimento por meio de um grupo de 
falantes em determinado momento, impede que a alteração se suceda de forma 
descontrolada. Caso a língua se alterasse de maneira profunda em pouco tempo, 
surgiriam sérios impedimentos à comunicação. A partir desse fato, percebe-se 
que a língua é, antes de mais nada, uma instituição social, e que os indivíduos 
falantes não apresentam liberdade com relação à linguagem.
Por volta do século XIX, surgiu na Europa uma corrente marcada pela com-
paração entre diversas línguas, geralmente pertencentes a uma mesma família 
linguística. Essa corrente fora denominada gramática comparativa. Além dessa 
forma de considerar os fenômenos da linguagem, procurava-se também anali-
sar as línguas à luz de seu desenvolvimento: as línguas apresentam, além de uma 
realidade estrutural e de uma realidade social, uma realidade histórica, que, de 
certa maneira, se entrelaça com as duas anteriores. Devido à sua importância, 
procurou-se explicar a linguagem a partir de uma perspectiva que levava em con-
sideração as mudanças ocorridas em determinada língua, a fim de determinar 
direções gerais de desenvolvimento. A esse tipo de gramática, voltada ao estudo 
histórico das línguas, denominou-se gramática histórica.
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Considerando separadamente cada um desses conceitos de gramática, che-
ga-se a conclusões pouco frutíferas: comparar línguas sem um critério histórico 
é de pouco valor, permitindo apenas mostrar quantitativamente as semelhan-
ças entre duas ou mais línguas. De modo semelhante, analisar a história de uma 
língua sem tecer comparações com outras línguas pode levar a conclusões errô-
neas a respeito do seu desenvolvimento histórico. Pelo fato de as fraquezas de 
cada concepção de gramática terem sido reconhecidas, passou-se a reuni-las 
sob a denominação gramática histórico-comparativa. O seu principal objetivo 
é, portanto, oferecer uma descrição científica do desenvolvimento das línguas, 
organizadas em períodos bem definidos, por meio de comparações sistemáti-
cas entre elas.
Conforme vimos, o conceito de gramática é bastante amplo e, por vezes, 
parece-se confundir com o conceito de linguística. Devemos, no entanto, ser cau-
telosos ao empregar cada termo: gramática se refere à sistematização e descrição 
do conjunto de fenômenos, possibilidades combinatórias, regras e tendências de 
uma língua; já a linguística remete ao estudo do conjunto de gramáticas. Desse 
modo, pode-se dizer que a linguística constitui um superconjunto da gramática.
OBJETIVO E OBJETO DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA
O objetivo principal da Linguística é estudar a linguagem humana, manifestada 
em forma de línguas naturais, e dessas línguas depreender e explicar leis, regras 
e tendências gerais que regulam os sistemas imanentes a essas línguas. Embora 
compartilhando o mesmo objeto de estudo, as diferentes teorias linguísticas não 
partilham da mesma concepção de língua, havendo, portanto, diferentes orien-
tações teóricas nelas presentes. Assim, para algumas delas,o termo lei parecerá 
por demasiado restrito, para outras, o termo regra terá uma conotação prescri-
tivista; outras, ainda, consideram o termo tendência demasiadamente vago. A 
linguística apresenta múltiplas concepções acerca do que é e de como se consti-
tui esse sistema. A respeito disso, Moura Neves (2002, p. 11) mostra que,
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Depois de organizada a ciência linguística, passa a língua a ser verda-
deiro objeto de estudo, constituindo-se um método próprio de inves-
tigação linguística. Diferentes correntes, então, se sucedem, assentadas 
em diferentes concepções de linguagem e governadas por diferentes 
finalidades. Centradas nas estruturas, ou centradas em princípios ge-
rais, centradas no conhecimento linguístico do falante, ou centradas 
no uso, as diversas correntes explicitam seus princípios e oferecem suas 
análises, seguindo tais princípios.
Dessa maneira, relativamente ao seu objeto de estudo e às metodologias empre-
gadas, podemos dividir os estudos linguísticos em três períodos principais.
O primeiro período se estende desde o momento da criação do primeiro 
sistema de escrita até por volta do fim do século XVIII. Todos os povos da anti-
guidade que se dedicavam ao estudo de sua língua apresentavam dois pontos em 
comum: a consideração primária, por vezes, exclusiva de sua língua, vista como 
superior, e a grande preocupação com a designação da palavra e a sua relação 
com as coisas por ela denominadas. A tendência, portanto, é surgir primeira-
mente um interesse lexicográfico, voltado para a confecção de dicionários com 
objetivos bastantes específicos, como os que elucidam o significado de palavras 
empregadas em rituais ou de palavras arcaicas, os que trazem listas de rimas etc., 
e apenas posteriormente se estabelecerem as bases para um tratamento grama-
tical da língua. Bastante marcante para esse período é também a relação entre 
religião, filosofia e língua: pelo fato de ser considerada um dom divino ou um 
sistema natural, os estudos da linguagem quase sempre se subordinavam a estas 
duas outras áreas.
O estudo da linguagem na antiguidade tinha também uma finalidade prá-
tica, voltada, na maioria das vezes, à preservação e à interpretação de textos 
literários, considerados exemplos de uso correto e elegante da língua. Com essa 
forma de pensar, estabeleceu-se, relativamente ao uso da língua, uma orientação 
prescritivista, regida por normas que comandariam o bom uso da língua. Essa 
visão, preservada até hoje em manuais escolares e em gramáticas normativas, é 
a mais importante característica que diferencia a linguística antiga da linguística 
moderna. Parte desse caráter normativo era orientado também pela necessidade 
de unidade nacional por meio da língua. Devido às concepções epistemológi-
cas em voga na época, não havia uma real distinção entre língua e linguagem.
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Embora diversas civilizações tenham se dedicado ao estudo da língua, como 
os hindus, os árabes, os chineses, toda a nossa tradição linguístico-gramatical se 
fundamentou em modelos greco-romanos, que exerceram significativa influên-
cia até por volta do final do século XVIII, momento em que ocorre uma enorme 
ruptura epistemológica no campo dos estudos da linguagem.
O segundo período, que podemos denominar histórico-comparativo, apre-
senta uma nova forma de considerar as línguas por meio do estabelecimento de 
comparações sistemáticas entre elas e da consideração do seu caráter histórico. 
Diferentemente do que se fazia no período anterior, em que se buscava explicar 
a língua por meio da filosofia e da religião, no período histórico-comparativo 
buscava-se chegar, por meio de comparações, à língua primordial que teria ori-
ginado as línguas faladas na Europa e na Índia. Assim, o interesse por uma única 
língua foi considerado infrutífero, e passou-se a levar em conta tantas línguas 
quanto possível. Empreendeu-se, então, uma incessante busca da língua-mãe, 
mais tarde denominada indo-europeu. As primeiras comparações feitas agrupa-
vam línguas de períodos cronológicos muito distintos; por vezes, eram separadas 
por um abismo temporal de um ou até dois milênios. Apenas mais tarde é que se 
passou a comparar as línguas com base no momento histórico de sua existência, 
daí o motivo de esses estudos serem denominados histórico-comparativos. Essa 
forma de consideração permitiu detectar a extensão das mudanças ocorridas e o 
modo como elas se estabeleceram. De modo a manter a homogeneidade de suas 
análises, a gramática histórico-comparativa omitia deliberadamente quaisquer 
características dialetais, culturais ou sociais da linguagem, o que mais tarde seria 
apontado como um dos defeitos conceptuais e metodológicos desse período.
Essa postura metodológica fez com que os linguistas voltassem a sua aten-
ção para as regras que coordenavam a mudança, levando ao estabelecimento 
das famosas leis fonéticas, consideradas, a princípio, sem exceção. Devido à 
constatação de algumas exceções, buscou-se as explicar por meio do conceito 
de analogia, que previa que as formas linguísticas poderiam ser alteradas, a fim 
de se adequarem a paradigmas mais comuns, ou seja, que se manifestavam em 
mais palavras. A preocupação histórica se manteve até o início do século XX, 
quando o interesse da linguística passou a se concentrar em períodos bem defi-
nidos da história das línguas.
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O terceiro período, que se estende do início do século XX até os dias atuais, 
é caracterizado, sobremaneira, pelo seu caráter sincrônico e pela sua diversi-
dade teórica.
Após a publicação da obra Curso de linguística geral, de Ferdinand de 
Saussure, a investigação linguística voltou a sua atenção para o caráter sistêmico 
da linguagem. O objetivo do estudo não mais se restringia apenas às línguas da 
Europa e da Índia, mas procurava-se analisar o máximo de línguas possível, de 
modo a obter um modelo teórico adequado. Esse momento é caracterizado por 
um forte empirismo, ou seja, qualquer hipótese postulada deve ser submetida 
à análise com dados reais e diversificados, a fim de que possa ter a sua validade 
comprovada. Consequentemente, diversos aspectos da língua, escamoteados 
nos períodos anteriores, passaram não somente a ser considerados, mas consti-
tuíram a diretriz de pesquisa fundamental de diversas teorias. O florescimento 
desses posicionamentos teóricos tão heterogêneos exigiu, de certo modo, que as 
afinidades com outras áreas também fossem diversificadas.
As teorias linguísticas contemporâneas se dedicam a questões bastante pontu-
ais da linguagem, e sua heterogeneidade teórica permite dividir a Linguística em 
correntes, que objetivam, cada uma ao seu modo, estudar o complexo fenômeno 
da linguagem. Vejamos as diferentes concepções e princípios por elas veiculados:
 ■ língua como sistema extrínseco ao ser humano, constituindo um orga-
nismo autônomo;
 ■ língua como conhecimento inato;
 ■ língua como característica do falante;
 ■ língua como sistema intrínseco;
 ■ língua como sistema extrínseco;
 ■ língua como soma de relações sociais.
Pode-se dizer, dessa maneira, que o objeto de estudo da Linguística é multifa-
cetado e compreende diversos aspectos da linguagem humana. A respeito desse 
assunto, Martelotta (2009, p. 21) afirma que:
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A linguística tem como objeto de estudo a linguagem humana atra-
vés da observação de sua manifestação oral ou escrita (ou gestual, no 
caso da língua de sinais). Seu objetivo final é depreender os princípios 
fundamentais que regem essa capacidade exclusivamente humana de 
expressão por meio de línguas. Para atingir esse objetivo, os lingüis-
tas analisam como as línguas naturais se estruturam e funcionam. A 
investigação de diferentes aspectos das diversas línguas do mundo é o 
procedimento seguido para detectar as características da faculdade da 
linguagem: o que há de universal e inato, o que há de cultural e adqui-
rido, entre outras coisas.
A Linguística, ao se ocupar com diversas 
áreas, acaba estabelecendo divisões inter-
nas relativamente ao seu objeto de estudo. 
Primordialmente, a Linguística dava mais 
atenção à morfologia do que a qualquer outra 
questão: procurava-se estudar as característi-
cas morfológicas das línguas, estabelecendo 
classificações tipológicas (como língua fle-
xional, isolante, aglutinante, polissintética). 
A respeito dessa questão, Charlier (1981, p. 
30) afirma:
[…] Uns, considerando as línguas como organismos naturais que nas-
cem, vivem e morrem, procuram estabelecer as leis a que estas exis-
tências estão submetidas, com o mesmo rigor das leis da física ou da 
química. Outros definem com precisão os critérios que permitem clas-
sificar as línguas em tipos, por exemplo, em línguas “isolantes” (as pa-
lavras são invariáveis e justapostas, as relações que mantêm entre si são 
indicadas pela sua ordem e por palavras gramaticais; por exemplo, em 
chinês, algumas palavras apenas têm um sentido global e não têm ca-
tegoria gramatical, sendo o seu lugar na frase que as faz perceber como 
nome, verbo, etc., com o sentido de, por exemplo, “altura”, “subir”, etc.), 
línguas “aglutinantes” (as palavras são compostas por várias “sub-pala-
vras” aglutinadas, cada uma das quais exprime uma noção ou uma re-
lação gramatical; por exemplo, em turco, “a minha rosa” é expresso por 
“rosa + feminino + singular + mim”) e línguas “flexivas” (as palavras 
têm desinências, modificações da sua forma, que marcam simultane-
amente várias noções e relações gramaticais; por exemplo, em latim, 
caso + número + gênero = 1 desinência). […]
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Posteriormente, a preocupação maior era com a estrutura das línguas: estudava-
se a sintaxe, a colocação dos elementos principais da oração (a tríade sujeito 
- verbo - objeto, tão recorrente nas classificações tipológicas das línguas). Como 
os estudos linguísticos que levavam em conta critérios morfossintáticos pareciam 
insuficientes para alguns linguistas, passou-se a considerar o sujeito falante e as 
variações resultantes do uso efetivo da língua: buscou-se trabalhar a linguística 
sob um prisma sociológico, antropológico, filosófico e histórico. Entretanto, nem 
todas as teorias incluem essa vasta gama de áreas: algumas se ocupam mais com 
o papel social do indivíduo falante, outras com a posição histórica deste com 
relação à sua língua. Poderia se dizer que as concepções teóricas da Linguística 
são tão complexas e imbricadas quanto o seu objeto de estudo. Há, na linguís-
tica, também, a corrente imanentista, que considera a linguagem intrínseca aos 
seres humanos, definindo-a como uma característica inata.
De modo semelhante a como a Linguística do século XIX procurou o protó-
tipo das línguas indo-europeias, a linguística do século XX buscou o protótipo 
das línguas naturais humanas: essa espécie de arquétipo comum a todas as lín-
guas naturais é denominada gramática universal. As regras que determinam o 
seu funcionamento interno constituem os universais linguísticos. Há também 
as teorias voltadas ao significado das palavras isoladas ou em contextos, que se 
denomina semântica, e a análise do efeito desses significados em enunciados efe-
tivamente produzidos, o que então é chamado pragmática.
PROPRIEDADES DA LINGUAGEM HUMANA
O domínio da linguagem é intrínseco à nossa espécie: onde há seres humanos, 
também há linguagem. Por isso, a linguagem é o marco estruturador de toda a 
nossa existência: sem linguagem, não haveria sociedade, não haveria nem religião 
nem ciência. Questões extremamente diversas, de complexidade variável, por vezes 
contraditórias, são todas reunidas sob a égide da linguagem e por ela perpassa-
das. Assim, a linguagem, estruturadora do ser humano e de tudo o que o torna 
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humano, é onipresente. Todo ser humano, submetido a condições apropriadas e 
com o devido estímulo cognitivo, desenvolve linguagem articulada. Poderíamos 
ainda complementar essa asserção: a linguagem é única dos seres humanos, e per-
mite estruturar o mundo físico, estabelecer e permear as relações sociais que nele 
ocorrem. A sociedade humana como a conhecemos só pode existir por meio da 
linguagem. Com referência a essa questão, Neves (2002, p.17) afirma:
Por natureza racional, dotado de linguagem, o animal homem estru-
tura seu pensamento em cadeias faladas. Codifica-as e decodifica-as 
porque, independentemente de alguém que anuncie isso, ele é senhor 
das regras que regem a combinação dos elementos das cadeias que tem 
a faculdade de produzir. A partir dessa faculdade que lhe dá sua natu-
reza, o homem cumpre sua vocação de animal político [...] comunican-
do-se com voz articulada que produz sentido e, assim, criando uma 
sociedade política.
Por esse motivo, quaisquer outras características biológicas e, inclusive, com-
portamentais aplicadas aos animais, podem ser aplicadas aos seres humanos, 
no entanto, a linguagem é característica única de nossa espécie. Além disso, 
a linguagem humana se diferencia das ditas linguagens animais por algumas 
características:
Reflexividade: apesar de a comunicação ser considerada a função primá-
ria da linguagem humana, ela não constitui um traço distintivo, pois várias 
espécies animais apresentam algum tipo de comunicação. Entretanto, apenas 
os seres humanos conseguem se referir à linguagem empregando a linguagem. 
Essa característica é denominada reflexividade. Sem ela, dificilmente poderíamos 
pensar sobre a língua e estabelecer organizações e divisões internas a ela e, por 
conseguinte, não poderíamos identificar as outras características da linguagem 
humana. Assim, se dissermos que chover é um verbo, estaremos nos referindo 
à linguagem com o emprego da própria linguagem.
Deslocamento: os seres humanos, em qualquer língua, conseguem se refe-
rir a momentos que não se situam no presente imediato, fazendo referências ao 
que passou e ao que está por vir. Como consequência disso, podemos nos referir 
também a entidades imaginárias, que não existem em momento algum. Dessa 
maneira, orações como as elencadas abaixo não poderiam ser produzidas por 
linguagem animal, por mais evoluída e complexa que ela possa ser:
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1. Viajarei só depois de amanhã.
2. Comprei este livro na semana passada.
A simples falta de referência a momentos temporais que divergem do 
momento da elocução, do presente, já constituem impedimentos suficien-
tes para a existência de sistemas comunicativos eficientes. Como se isso 
já não fosse o bastante para impedir aexistência de sistemas de comu-
nicação animal complexos, temos de lembrar que a linguagem humana, 
além de poder fazer referência ao passado e ao futuro, consegue fazer 
referências secundárias a esses momentos temporais, tomando-os como 
ponto de partida. Vejamos alguns exemplos:
3. Depois que haviam terminado a construção da mansão, José passaria 
a morar nela.
4. Ele vivera nove anos em uma casa alugada, até que se mudou para uma 
casa própria.
5. Quando você chegar, terei terminado o meu trabalho.
Expliquemos os enunciados apresentados acima: no exemplo (3), a ação descrita 
faz referência a um ponto qualquer do passado e, tomando-a como referência tem-
poral, descreve-se uma ação realizada ainda no passado, mas que ocorreu depois 
da primeira ação. Dessa forma, mesmo havendo a indicação de dois momen-
tos temporais distintos, não se chega a expressar o presente. O exemplo (4), que 
também se refere ao passado, contém duas indicações de tempo passado: a pri-
meira se refere a uma ação ocorrida em um ponto temporal anterior à segunda 
ação. De modo semelhante ao exemplo (3), o presente não é expresso, apesar da 
dupla indicação temporal. No caso do exemplo (5), toma-se, inicialmente, um 
momento futuro como ponto de referência temporal para, em seguida, elencar 
uma ação que ocorreu antes desse tempo. O presente também não é expresso.
Arbitrariedade: esta característica se refere ao fato de não haver uma relação 
natural entre a forma linguística e o seu significado. Assim, se compararmos a palavra 
árvore em várias línguas, perceberemos que nenhuma delas apresenta traços icôni-
cos, ou seja, que apresentem alguma motivação natural, remetendo a um objeto com 
tronco, galhos, ramos e folhas, geralmente verdes, que pode produzir flores e/ou frutos:
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PORTUGUÊS ALEMÃO INGLÊS RUSSO JAPONÊS
árvore Baum tree djerevo ki
Fonte: elaborado pelo autor
A arbitrariedade pode ser comprovada apresentando-se essas palavras a pessoas 
que não as conheçam: nenhum traço ou características nelas presentes, sejam 
elas formais ou fônicas, indicam que se trata de uma árvore. Nem mesmo as ono-
matopeias, que parecem lembrar certos sons, como os de animais, são icônicas. 
Assim, se compararmos, a título de exemplo, o som do latido do cachorro em 
várias línguas, logo perceberemos a sua arbitrariedade:
PORTUGUÊS INGLÊS ALEMÃO RUSSO ESPANHOL CHINÊS JAPONÊS
au-au woof-
-woof
wau-
-wau
gav-
gav
guau-guau wou-wou wan-wan
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Latido>
Por esse motivo, afirma-se que o significado das palavras é totalmente arbitrário, 
no entanto, convencional, ou seja, estabelecido por uma comunidade linguística.
Produtividade: esta característica se refere à capacidade do ser humano em 
produzir novas expressões linguísticas por meio da manipulação e da alteração 
do inventário linguístico que possui, com o intuito de descrever novos fatos, obje-
tos e situações. A capacidade de criação de novas expressões é infinita.
Transmissão cultural: diferentemente de outras características, herdadas 
geneticamente, a linguagem tem de ser transmitida culturalmente. Embora tenha-
mos predisposição a aprender uma língua, não nascemos com a capacidade de 
produzir expressões linguísticas.
Dualidade: esta característica, também conhecida como dupla articulação, 
se refere ao fato de as línguas humanas serem organizadas simultaneamente em 
dois níveis distintos. Assim, temos um nível em que são considerados os sons 
da fala, por exemplo, [a], [l], [v]. Isoladamente, esses sons não apresentam qual-
quer significado. Se forem combinados, podem produzir várias palavras com 
significados diferentes: lava, vala, aval. A dualidade permite produzir infinitas 
combinações com um número finito de sons, revelando-se uma característica 
bastante econômica das línguas humanas.
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Nos últimos anos, áreas do conhecimento não ligadas diretamente à ciência 
linguística insistem em empregar o conceito de “linguagem animal”. Devido 
à relevância dessa questão, teçamos algumas reflexões sobre ela.
Sabemos que a linguagem é característica exclusiva do ser humano. Por que 
motivo a designação linguagem animal seria inadequada? Os animais, dife-
rentemente dos seres humanos, não têm a capacidade de produzir lingua-
gem articulada, ou seja, não possuem um sistema formal de combinação de 
signos. Assim, apesar de os animais possuírem alguns signos, eles não con-
seguem combinar esses signos para produzir linguagem articulada. Mesmo 
as espécies de macacos que têm centenas de expressões e gritos, ainda não 
apresentam uma linguagem, pois não combinam esses elementos entre si, 
e nem conseguem interpretá-los. A linguagem articulada prevê uma orga-
nização formal, ou seja, exige que a língua apresente sintaxe e semântica, 
formando um sistema linguístico. Além dessa característica principal, há di-
versas outras características secundárias ausentes das “linguagens animais”, 
como o deslocamento temporal, ou seja, aquilo que os animais expressam 
refere-se somente ao momento presente imediato, não sendo possível a 
eles fazer referência ao passado ou ao futuro.
Fonte: elaborado pelo autor.
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OUTRAS CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM
As línguas apresentam, além das características já citadas anteriormente, outras 
propriedades, que constituíram, com uma influência maior ou menor, as teorias 
linguísticas. Assim, a questão sobre se a língua era arbitrária ou motivada deu 
origem à discussão, na Grécia Antiga, entre os naturalistas e os convencionalis-
tas. Cerca de dois milênios mais tarde, Ferdinand de Saussure daria respaldo aos 
convencionalistas, ao afirmar que a língua é um conjunto de signos com valor 
arbitrário, convencionados por uma comunidade de falantes. Alguns anos depois, 
as teorias funcionalistas retomariam, de certa maneira, a ideia de que a língua 
apresenta relações motivadas entre a palavra com a sua representação sonora e 
a coisa representada, ao trabalhar com o princípio da iconicidade (o termo ico-
nicidade designa uma relação de semelhança entre o signo – forma de expressão 
ou símbolo – e aquilo que ele representa).
Por outro lado, se consideradas de um ponto de vista formal, as línguas cons-
tituem sistemas que mesclam regularidade com irregularidade. A constatação 
desse fato já motivara o interesse dos filósofos gregos: os analogistas conside-
ravam a língua como um sistema regular e os anomalistas viam a língua como 
um sistema irregular. Aproximadamente dois milênios depois, essa preocupação 
viria novamente à tona, embora com um foco e uma motivação diferente, com os 
gramáticos histórico-comparatistas que defendiam a regularidade das mudanças 
que ocorriam nas línguas. Os neogramáticos, que constituíam o movimento de 
oposição à gramática histórico-comparativa, enfatizaram, de forma ainda mais 
veemente, a ideia de que a mudança linguística ocorre de forma regular.
A constatação de que as línguas mudam com o passar do tempo foi outra 
motivação para o estudo das línguas. Com isso, percebeu-se que existia uma 
língua anterior, a chamada língua-mãe, e, dessa maneira, foram empreendidos 
inúmeros esforços no sentido de reconstruí-la. Procederam, desse modo, a gra-
mática histórico-comparativa e a neogramática.
Posteriormente, por volta do início do século XX, o interesse na língua passou 
a se focar em suas características formais. Assim procedeu Ferdinand de Saussure, 
consideradoo pai da linguística moderna, em seu Curso de Linguística Geral, 
obra postumamente publicada, em que ele considera a língua como um sistema.
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O QUE É LINGUÍSTICA?
Nesse livro, Orlandi faz importantes elucidações sobre 
a história da linguística, desde o desenvolvimento do 
pensamento linguístico, por meio de abordagens que 
retratam seus precursores, até a linguística moderna, 
a sua aplicação, bem como as suas concepções acerca 
do objeto de estudo que têm em comum: a língua.
Assim, no primeiro capítulo, a autora discute a necessi-
dade humana de obter conhecimento que, por sua vez, 
ocorre, sobretudo, via linguagem. Por isso, segundo 
ela, o interesse do homem pela linguagem remonta aos 
tempos mais longínquos, embora tenha alcançado 
status de ciência somente a partir dos estudos de 
Ferdinand Saussure com o advento da Linguística 
Moderna.
Antes de se ater, contudo, a esse momento em si, 
a autora destaca obras e autores cujas contribui-
ções foram decisivas: tratam-se, por exemplo, das 
gramáticas gerais do século XVII e das gramáticas 
comparadas do século XIX, que constituem os alicerces sobre os quais se assentaram 
as bases de duas tendências dos estudos linguísticos: o Formalismo e o Sociologismo.
Já no terceiro capítulo, a autora dá prosseguimento à sua obra destacando como marco 
inicial da Linguística Moderna o Curso de Linguística Geral, de Ferdinand Saussure. Den-
tre os principais postulados dessa obra está o estabelecimento de quatro disciplinas que 
correspondem, por seu turno, a diferentes níveis de análise: a fonologia, a morfologia, a 
sintaxe, e a semântica. A partir dessas defi nições, Saussure apresenta também as chama-
das dicotomias (língua x fala; sincronia x diacronia; sintagma x paradigma; signifi cado x 
signifi cante). Assim, segundo o estudioso, a linguística deveria se dedicar, primeiramen-
te, ao estudo da Langue, ou seja, da língua, e, por extensão, deveria considerar a sincro-
nia. Defi nia-se, então, aquilo que Ferdinand denominou Sistema e que, a posteriori, foi 
defi nido por seus sucessores por Estrutura. 
Orlandi nos ensina que o estudo das estruturas linguísticas deu origem a outra linha de 
pensamento linguístico, que é o Funcionalismo. Essa linha, por seu turno, considera as 
funções dos elementos desempenhadas sob qualquer um de seus aspectos.
Na sequência, agora no quarto capítulo, a autora dá continuidade ao assunto afi rmando 
a existência de mais de um Funcionalismo e destaca aquele para o qual as funções que 
constituem a natureza da linguagem devem ser consideradas, pois que caracterizam o 
papel de cada elemento no processo comunicativo: expressiva (centrada no emissor), 
conativa (centrada no receptor), referencial (centrada no referente), fática (centrada no 
canal), poética e metalinguísticas (centradas no código).
Nesse livro, Orlandi faz importantes elucidações sobre 
a história da linguística, desde o desenvolvimento do 
pensamento linguístico, por meio de abordagens que 
retratam seus precursores, até a linguística moderna, 
a sua aplicação, bem como as suas concepções acerca 
Assim, no primeiro capítulo, a autora discute a necessi-
dade humana de obter conhecimento que, por sua vez, 
ocorre, sobretudo, via linguagem. Por isso, segundo 
ela, o interesse do homem pela linguagem remonta aos 
No quinto e último capítulo, Orlandi deixa entrever a importância de a linguagem não 
ser engessada a uma única teoria, pois que não há apenas uma maneira de pensá-la. 
Destarte, a autora aponta algumas linhas de pensamento que ligaram diferentes épocas 
no único objetivo, que é compreender a linguagem. Para tanto, ela ainda faz algumas 
indicações bibliográfi cas que, com certeza, são muito importantes para a compreensão 
mais exaustiva e abrangente dessa ciência que é a Linguística.
Fonte: elaborado pelo autor.
TENDÊNCIAS ATUAIS DA LINGUÍSTICA E DA FILOLOGIA NO BRASIL
Primeiramente, a obra de Anthony Julius Naro apresenta um levantamento bibliográfi -
co referente aos estudos desenvolvidos no Brasil (até 
meados dos anos 1970) nas áreas de Linguística e de 
Filologia. Embora não explicitamente, podemos iden-
tifi car sua concepção acerca do que, de fato, vem a 
ser o objetivo da Linguística a partir do Gerativismo 
de Noam Chomsky. A partir dessas considerações, 
o autor faz uma divisão do campo linguístico brasi-
leiro que, segundo ele, se organiza em duas corren-
tes: a norte-americana, advinda das propostas de 
Chomsky, Halle, bem como de colaboradores poste-
riores, e a francesa, cujas bases se assentam nos estu-
dos de Greimas e Pottier.
Terminada essa primeira etapa, o autor tece, então, al-
gumas considerações que nos direcionam no sentido 
de desconsiderar os trabalhos de orientação francesa 
como genuinamente linguísticos. Isso porque, segun-
do ele, o trabalho com essa corrente está limitado a 
um único pesquisador.
Consequentemente, o enfoque de Julius Naro volta-se à linguística norte-americana, ou 
gerativa. Trata-se de uma obra essencial, pois possibilita a compreensão de fatos refe-
rentes à história da linguística, fundamentais para a formação do futuro profi ssional de 
línguas.
Fonte: elaborado pelo autor.
Primeiramente, a obra de Anthony Julius Naro apresenta um levantamento bibliográfi -
Terminada essa primeira etapa, o autor tece, então, al-
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Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, vimos o porquê de a linguagem ser considerada uma capacidade 
única da espécie humana, a qual, devido à sua função comunicativa, permite a 
existência de sociedades. Partindo dessa noção, foram elencadas e descritas, em 
seguida, as características que fazem com que a linguagem humana se diferencie 
das linguagens animais, conferindo a nós uma capacidade comunicativa com-
plexa e altamente eficiente.
Diferenciou-se também o conceito de língua e de linguagem e foram apresen-
tadas algumas de suas propriedades formais e comunicativas, que contribuíram 
para a formação das diferentes teorias linguísticas, tornando multifacetado e 
complexo o seu objeto de estudo.
1. A respeito da Linguística, reflita sobre as seguintes questões:
a. O que é Linguística?
b. Qual é o seu objeto de estudo?
 2. Defina as seguintes características da linguagem humana:
a. Arbitrariedade.
b. Deslocamento.
c. Reflexividade.
3. Por quais motivos a linguagem é considerada uma característica eminentemente 
humana? Explique com suas palavras.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
No vídeo indicado a seguir, discute-se a questão da linguagem, relacionando-a 
com a questão da educação. A parte 1 do vídeo pode ser encontrada em:
<http://www.youtube.com/watch?v=I1Zusz__3e8>. 
E a parte 2 em: 
<http://www.youtube.com/watch?v=4qr3CGs1Upg>.
Neste vídeo, são feitos questionamentos a respeito dos pré-requisitos biológi-
cos para a comunicação falada e se nossa linguagem é uma característica in-
trínseca da nossa espécie. Ele pode ser acessado em: 
<http://www.youtube.com/watch?v=cYJoXsfgenQ>.
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Professor Me. Adriano Steffler
ORIGENS HISTÓRICAS DA 
LINGUÍSTICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apontar cronologicamente a época dos primeiros estudos 
linguísticos.
 ■ Explicar como os diferentes povos da antiguidade consideravam a 
linguagem.
 ■ Mostrar os pontos de convergência entre os estudos da antiguidade 
e da modernidade.
 ■ Mostrar as contribuições desses estudos para a linguística.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Origens históricas da linguística
 ■ Estudos gramaticais no antigo Oriente
 ■ Estudos gramaticais na

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