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DIREITO CIVIL II 1ª unidade

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DIREITO CIVIL II
LIVROS – Teoria do Fato Jurídico: Plano da Existência; Teoria do Fato Jurídico: Plano da Validade; Teoria do Fato Jurídico: Plano da Validade. Marcos Bernardes. 
PROVAS: 31/03 e 31/05 EMAIL: maurequiao@gmail.com
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FENÔMENO JURÍDICO – análise geral como o fato se torna um fato jurídico. 
O Direito é uma das formas de regulação das relações sociais, tendo o monopólio do uso da força (obrigar, tirar sua liberdade). Influencia no comportamento, mas não altera alguns fatos, por exemplo, o atual Código dos Deficientes altera a capacidade dos deficientes, tornando-os absolutamente capazes. Esse fato não altera o fato da deficiência da pessoa, podendo, porém, influenciar no comportamento (responsabilidades, etc.). 
Desenvolvimento do fenômeno jurídico – pressupostos necessários para que algo se torne um fato jurídico. Para existir um fato jurídico, é necessária uma norma (não significa necessariamente lei em sentido estrito) com a descrição de um fato ou conjunto de fatos que pode ou podem acontecer na sociedade. Essa descrição é chamada de suporte fático. 
Quando o suporte fático for o que está descrito na norma (hipótese), é chamado de suporte fático hipotético ou abstrato. Apenas a descrição não significa existir um fato jurídico, há apenas uma possibilidade de acontecer. Quando acontece algo que se encaixa no que está descrito no suporte fático hipotético (norma), o “algo” será chamado de suporte fático concreto.
Quando há a concretização daquilo que estava descrito na norma, há a incidência da norma (juridicização do evento), consequentemente gerando um fato jurídico. 
Dimensões do fenômeno jurídico: 
Dimensão política: criação do ordenamento jurídico pelas pessoas. Dimensão valorativa/axiológica. Pessoas escolhem o que será normatizado e como será valorado.
Dimensão normativa: A norma juridica, através da incidência sobre o suporte fático, atua independentemente da adesão das pessoas e se realiza no mundo, subordinando aos seus ditames a conduta humana considerada no campo das relações sociais.
Dimensão sociológica: aceitação da norma pela sociedade (eficácia). 
Norma X Fato Jurídico:
Norma traz, além do suporte fático (descrição), uma descrição das consequências jurídicas de quando se concretiza aquele suporte fático, que é chamada de preceito. 
Essa norma não tem que estar necessariamente em um único artigo de lei (ex. Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito e Art. 927: Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.)
Mesmo dentro do direito civil, um mesmo fato pode ter mais de uma consequência ou alternativamente consequências diferentes, no mesmo campo do direito ou em ramos diferentes.
Obrigatoriedade da norma: 
Teoria normativa que se encaixa em uma teoria Sancionista. Essa teoria explica a obrigatoriedade da norma a partir da existência da sanção (a norma é obrigatória, pois se for descumprido, haverá uma sanção). 
Existe no direito civil a teoria Não Sancionista. Isso significa que a obrigatoriedade da norma não é explicada a partir da perspectiva da sanção (não nega a existência da sanção) e sim da incidência da norma. A norma tem obrigatoriedade porque ela vai incidir independentemente da vontade do sujeito. Se existe uma norma, em acontecendo no mundo concreto aquilo que está descrito na norma, obrigatoriamente ela incidirá.
Não quer dizer que existam situações em que a vontade seja relevante, mas quando essa vontade é relevante para afastar a incidência de uma norma, isso só acontece pois existe uma outra norma que diz que a vontade pode afastar a incidência. 
SUPORTE FÁTICO: 
É uma das partes da norma (suporte fático hipotético). Descrição de algo que pode acontecer no mundo real e que foi, de alguma maneira, considerado relevante para o direito ao ponto de ser recepcionado como norma. 
Duas posições de suporte fático – descrição de algo na norma, que é o suporte fático hipotético ou suporte fático concreto, que é a ocorrência no mundo dos fatos daquilo que foi regulamentado como suporte fático abstrato. 
Elementos do suporte fático: eventos que se enquadram no suporte fático (ilustrativo, não classificação)
Fatos da natureza: o suporte fático não terá necessariamente a presença humana, ela independe da ação humana. Quando dissemos que tal elemento compõe o suporte fático e não precisa da presença humana, isso não quer dizer que se tiver a presença humana, não irá se encaixar naquilo. 
Ex. art. 2º CC “a personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida”. Nascer é um evento natural e, embora essa norma se refira a um nascimento de um ser humano, o ato de nascer é um evento da natureza. A morte também é um evento natural que igualmente vai compor o suporte fático. Art. 6º
Ato humano: em outras situações, para que se possa acontecer o fato, o suporte fático exige a presença humana. Existem diversas maneiras da presença humana, pode ser que exija a presença humana, independentemente da vontade (ex. a pessoa que pesca vira dona do peixe que pescou, pouco importando se ela tem capacidade, sendo criança ou não, o efeito que essa conduta material será o mesmo). Em outras situações, terão algumas condutas humanas com exigência da vontade da pessoa, não bastando o próprio ser humano, ele precisa exprimir sua vontade, havendo outro regramento (ex. na realização de um contrato por uma criança, esse será nulo. Um adulto, esse será válido no quesito capacidade). 
Se o ordenamento regulamentou que a vontade não será necessária, havendo a vontade não mudará a conduta. Art. 94. 	
Dados psíquicos: ex. o possuidor de boa-fé terá direito à indenização. Para incidir essa norma, parte do que tem que acontecer no mundo fático é estar de boa-fé (dado psíquico). No direito penal, muitos crimes partem da intencionalidade de quem o comete. Art. 113.
Estimações valorativas: o que se tem na norma é uma estimação valorativa para que um determinado efeito possa acontecer. Ex. bons costumes vão gerar a incidência da norma (existem maus costumes). Mulher honesta – existiriam mulheres desonestas. Não significa dizer que não precisa de fundamentação. Art. 13. 
Probabilidades: normas que trazem a probabilidade da prole eventual (o sujeito pode deixar em testamento um bem para eventual neto). Art. 239.
Outros fatos do mundo jurídico: pode ser que o suporte fático já seja algo que faça parte do fato jurídico. Ex. para existir um contrato, um dos contratantes precisa realizar uma oferta, que em si também é um ato jurídico que está regulamentado (com seu próprio suporte fático). E para que surja um contrato, é preciso que primeiro seja realizada uma oferta. A aceitação da oferta também é regulamentada pelo mundo jurídico. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta
Passagem do tempo: prescrição; decadência, é necessária a passagem do tempo para que elas possam se realizar. Art. 205. Art. 4º (passagem da idade).
Elemento subjetivo e objetivo: sempre haverá o elemento subjetivo, no sentido em que esta norma é dirigida a alguém (alguém atuando para que a norma existe). Mas nem sempre haverá o elemento objetivo, que é o direito do sujeito que está sendo tratado, visto que existem normas que são apenas reguladoras (disciplinando, por exemplo, uma norma de processo civil). 
*Normalmente, o suporte fático é complexo, ou seja, é integrado por diversos desses fatores, e não apenas um deles. Ex. homicídio – consequências diferentes em diferentes campos. 
Elementos nucleares: elementos essenciais para que o fato jurídico exista. Só haverá incidência da norma se os elementos nucleares estiverem presentes. A partir dele haverá a análise da existência do fato (plano da existência). Se faltar esse elemento, não haverá existência. 
Cerne:parte central e que está presente em todos os suportes fáticos. 
Completante: completa o cerne. 
Ex. objeto em um contrato é um elemento nuclear. 
Elementos complementares: análise de perfeição dos elementos nucleares. Se faltar esse elemento, normalmente não haverá validade. 
Ex. Duas pessoas que façam um acordo de vontade sobre um objeto (Contrato). Sublinhados estão os elementos nucleares. 
Para que o contrato seja válido, os sujeitos precisam ser capazes (qualificação do sujeito). A vontade precisa ser livre (qualificação da vontade), se coagido não haverá validade. O objeto precisa ser lícito, possível, determinado (qualificação do objeto). 
Os elementos complementares vão trazer fatores que vão impactar (novos dados) sobre aquelas circunstâncias que já foram colocados como elementos nucleares. Os fatos que tem elemento complementar são, normalmente, aqueles que a vontade compõe o suporte fático. (Ex. nascimento não pode ser nulo). 
Elementos integrativos: normalmente vão se relacionar com o plano da eficácia. Requisitos que tem que ser cumprido para que o fato alcance todos os seus efeitos possíveis (eficácia plena). O fato existe, tem validade e tem efeito, o elemento integrativo apenas potencializa os efeitos da norma. Ex. atos de notificação, de registro. 
Distinções: 
Há uma distinção entre o fato do mundo que ainda não foi juridicizado, o fato jurídico e o suporte fático. Acontecem fatos no mundo que nunca vão ser jurídicos. Há uma confusão entre o suporte fático e o fato jurídico. O fato jurídico é o produto final, é o que surge a partir do suporte fático (não há uma identidade entre suporte fático e fato jurídico). 
Ex. Usucapião – quando acontecer a usucapião, é necessário que a pessoa fique na posse do bem durante determinado tempo, sem nenhuma oposição. Estar na posse do bem durante determinado tempo é o suporte fático a partir do qual surge o fato jurídico da usucapião, que tem por efeito a aquisição da propriedade. 
O fato jurídico é o produto da relação entre suporte fático hipotético, fato do mundo real que corresponde ao suporte fático concreto e a incidência da norma, gerando o fato jurídico.
Preceito: O fato jurídico existe, pois esse terá efeitos. A norma trará o suporte fático e o preceito (se o fato existir, o que ele gera no fato jurídico). O preceito incidirá para fazer com que surjam os efeitos desse fato jurídico. 
Ideia de sanção como consequência, e não como punição. Haverá a mesma estrutura basicamente do suporte fático (abstrato e concreto). Não é causa de o fato jurídico existir, ele existe para que, se o fato jurídico existir, quais serão as consequências. Em tendo eficácia, dirá que eficácia é essa, ou seja, quais são as consequências.
PLANOS DO MUNDO JURÍDICO: 
Plano da existência: pressuposto para todos os outros. Alguns fatos não precisarão passar pelo plano da validade, pois se esses ingressam no mundo jurídico, simplesmente tem efeito (fatos que não tem sentido se pretender analisar sua perfeição a partir de elementos complementares, como por exemplo, o nascimento). 
Plano da validade: é preciso de validade para passar para o plano da eficácia. Se é invalido, pode ser anulável (com risco de perder a eficácia) ou nulo (não tem eficácia). 
Não há relativização no plano da validade, ou é valido, ou é anulável ou é nulo, o fato inteiro, e não em algumas situações (isso seria eficácia). 
Plano da eficácia: ato pode ser nulo que produz o seu efeito (excepciona). Ex. casamento putativo. Normalmente, no momento em que o fato acontece, ele produz o seu efeito. Mas nem sempre isso ocorre, como no negócio jurídico (possibilidade das partes modificarem os efeitos). A eficácia admite uma análise relativa, porque pode ser que um fato seja eficaz em relação a um sujeito e não ser eficaz para outro. 
INCIDÊNCIA: 
Efeito da norma, que vai fazer com que haja alguma consequência, normalmente a consequência é a juridicização, mas não todas as vezes. 
Para acontecer essa incidência, é necessário saber as características e os pressupostos dessa incidência. 
Características:
Incondicionalidade: a ideia de que a norma é obrigatória se vincula com o fato de que haverá incidência da norma independentemente da escolha dos sujeitos (não há força para que não incida a norma). Se há a correspondência dos fatos daquilo que está escrito no suporte fático hipotético, haverá a incidência da norma. 
Norma cogente X não cogente: Normas cogente não há como afastar a sua incidência, de modo algum. Normas não cogentes dão uma permissão aos sujeitos para fazer com que aquela norma não incida, ou haja escolha na incidência. Ex. obrigações, artigo 244 CC – a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação, ou seja, há a possibilidade de, na hora da criação da obrigação, determinar que a escolha não vai caber ao devedor, e sim ao credor ou terceiro. “Isso será assim, se não houver determinação em sentido contrário”. 
*Nem sempre está claro se a norma é cogente ou não cogente. Normalmente quando o código traz uma proibição e não diz qual a consequência, significa que se alguém o fizer, o ato é nulo (norma cogente). Nos casos em que não está explicito, deve-se observar em que parte do código está (ex. contratos, a tendência é que as normas sejam não cogentes). 
Não implica que, porque a norma é não cogente, ela não será incondicional. Sempre haverá incidência. 
Inesgotabilidade: a norma não sofre qualquer espécie de desgaste ou limitação por causa da incidência. A norma pode incidir infinitas vezes. Estando ela vigente, não há um limite para a incidência toda vez que os seus pressupostos forem preenchidos.
Há situações em que existe uma limitação temporal, visto que o conteúdo dela, após um tempo, não tem mais como se realizar na prática. Para isso, existem normas de transição. 
Pressupostos: obrigatório para incidência da norma
Vigência da norma: para acontecer a incidência, não basta estar no ordenamento, é preciso estar no ordenamento e apta a produzir os seus efeitos (eficácia). Normalmente, há o ingresso no ordenamento, mas tem um período de vacatio legis (espaço entre o momento do ingresso e o momento que ela começa a incidir seus efeitos). Durante a vacatio legis, não a incidência da norma. É na norma em que há a descrição dos fatos, que em acontecendo no fato concreto, vai acontecer a incidência da norma.
Concreção suficiente do Suporte Fático: ênfase em que, para a norma incidir, todos os elementos nucleares do S.P. têm que estar presentes. Suporte fático suficiente, insuficiente (o fato não será um fato jurídico), e deficiente (deficiência no plano da validade, ligada aos elementos complementares). 
Ficção jurídica: desprezo da realidade, porque a lei vai trazer uma narrativa dizendo que aquilo é daquela maneira, independentemente de factualmente aquilo ser verdade. Gera um efeito que não está tão ligado com a concreção. Suposição que todos conhecem a lei
Presunção jurídica: ideia de que algo aconteceu, mesmo que eventualmente não tenha acontecido. Ao contrário da ficção, a presunção é mais maleável, é algo que pode ser desconstituído com prova. A presunção gerará a incidência da norma. 
Possíveis consequências da incidência:
Juridicização: transformar um fato em fato jurídico. Consequência mais comum. 
Pré-exclusão de juridicidade: algo que deveria ser juridicizado de uma maneira, a norma vai atuar (incidir) para fazer com que ou aquilo não seja juridicizado ou seja juridicizado de maneira diferente. Impede que o fato seja juridicizado como ele normalmente seria. 
Ex. normalmente quando se causar dano a uma pessoa é um ato ilícito. Se agindo em legitima defesa (Art. 188) vai impedir que aquilo seja juridicizado como ato ilícito. 
Invalidade: invalidar a incidência. Ex. sujeito absolutamente ou relativamente incapaz, atos são nulos ou anuláveis. 
Deseficacização: retirar a eficácia de algo. Ex. normas relacionadas a prescrição (há o direito de reclamação até determinado prazo, se passado o prazo, incidea norma da prescrição para tirar o efeito daquele direito que você tinha). 
Desjuridicização: incide para que algo que estava no mundo jurídico, deixe de estar. Ex. se duas pessoas fazem um acordo sobre alguma coisa, é um contrato. Isso será juridicizado como contrato. É possível que depois essas mesmas pessoas façam um novo acordo (destrato) para acabar com aquele contrato. Quando há o destrato, a norma incide tendo o efeito de desjuridicizar. 
CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS: classificação com base na análise do suporte fático (análise dos elementos nucleares). 
Fato jurídico lato sensu: todo fato que é considerado fato jurídico (abrange todos os fatos jurídicos). Se o direito se ocupa desse fato para dizer que é algo proibido, esse será um ato ilícito (o fato não é ajurídico, não está fora do direito). Se é algo permitido, será um fato lícito.
Classificação do fato lícito: 
Fato jurídico stricto sensu: eventos que acontecem sem necessariamente precisar haver a presença humana. Independe da presença humana, é um evento natural. Não significa que não pode ter a presença humana, mas essa presença não compõe o suporte fático.
Ex. nascimento, morte, passagem do tempo, desastre natural. Ex. Art. 2º; Art. 6º; Art. 1249
Ato-fato jurídico: exige a presença (conduta, ação ou omissão) humana, mas a vontade não compõe o suporte fático. Nos planos jurídicos, só há o plano da validade se há vontade (não há possibilidade de anular um nascimento). O ato-fato só passa pelos planos da existência e da eficácia. 
Ex. na pesca a vontade não está no suporte fático, visto que a norma não exige da vontade do sujeito para obter o resultado, não podendo essa ser considerada invalida se um menor de 16 anos pescar um peixe.
Ex 2: Promessa de recompensa: uma pessoa perde a carteira e promete uma recompensa para quem achá-la. Há a vontade da promessa (negócio jurídico). Se uma pessoa acha a carteira e devolve e não tinha conhecimento da promessa, ainda sim terá o direito à recompensa (cumprir o requisito da promessa é um ato-fato, pouco importado se ele queria ou não ter a recompensa). Se fosse uma criança, também teria direito, pois a vontade não compõe o suporte fático. Ex. posse (art. 1196)
Ato jurídico lacto sensu: a vontade compõe elemento nuclear.
Ato jurídico stricto sensu: o efeito daquele ato de vontade já está determinado em lei sem nenhuma possibilidade de modificação.
Ex. ao pagar uma dívida, quem pagou tem direito a receber uma quitação (documento assinado de comprovação). Existe a vontade compondo o suporte fático (ato) e o efeito é provar que o devedor pagou, não existindo outra finalidade (efeito). 
Negócio jurídico: embora existam leis que determinam os efeitos, há um certo grau de possibilidade para o sujeito que está realizando o negócio jurídico de modificar os seus efeitos. Há uma permissão, dentro dos limites do ordenamento, se possa modificar. 
Ex. contratos. Negociação do preço, prazo de pagamento, prazo de entrega. Há a possibilidade de modulação dos efeitos. Criação de qualquer pessoa jurídica. Casamento. 
ATO-FATO: 
Tem no suporte fático a presença humana, mas não a vontade. O que importa é o que acontece em razão da conduta, não importando a conduta em si. A conduta resulta em um fato, não importando a vontade. Dividida em 3 classificações:
Ato real: ato que gera um fato, mas que a vontade não está envolvida. Não significa que se quiser pagar a alguém e assim o fizer, não se torna um fato. Ex. pagamento (o que importa que o pagamento foi feito). O pagamento, mesmo trazendo situações como coação, causando dúvida, é um ato-fato. 
Ato-fato indenizativo: uma das possíveis consequências do ato ilícito é a indenização, no entanto, nem todo ato ilícito tem o dever de indenizar e não somente atos ilícitos geram o dever de indenizar). Um ato lícito pode gerar o dever de indenizar (ato-fato jurídico indenizativo). Ato-fato cujo efeito é o dever de indenizar. 
Ex. Uma pessoa invade a propriedade privada para se esconder de alguém tentando matá-la é um ato lícito (ordenamento permite), porém se danificar, por exemplo, uma porta é preciso de indenização (art. 929 CC). O que importa é que o dano aconteceu. 
Ato-fato caducificante: o suporte fático será composto por dois elementos: inação e passagem do tempo. Caducidade dá ideia de perda de direito, se encaixando por exemplo, a prescrição, decadência, etc. Tempo + a pessoa não agir (não fazer o que deveria fazer). Não importa se a pessoa esqueceu ou não quis invocar o direito, portanto a vontade não importa. 
ATO JURÍDICO:
- Elementos: 
Exteriorização da vontade: necessário que tenha exteriorização da vontade para que o suporte fático se concretize. Não adianta ter vontade e não a exteriorizar. 
Manifestação de vontade X declaração de vontade: manifestação é qualquer ato que seja concludente da vontade. Na declaração há de modo expresso o que é a vontade da pessoa. Na maioria dos casos, tanto faz se é manifestação ou declaração, o que importa é a exteriorização. Mas é importante a diferença pois para alguns casos é necessária a declaração de vontade (casamento). 
Ex. Art. 110:  A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. Normalmente a reserva mental não tem efeito, o que importa é a exteriorização. 
*Silêncio: art. 111: O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. Normalmente não tem nenhum resultado jurídico, só importando anuência se por algum fator, já há um contexto que pode ser interpretado como anuência, só podendo acontecer em uma situação em que a lei não exija declaração expressa. 
Ex. Art. 299: É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor (...). Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.
(...) Se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.
*OBS: Art. 112: Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Não diz que é pra se preocupar mais com a reserva mental, mas sim que é mais importante o que se pode depreender da intenção do que foi exteriorizado, e menos com o sentido literal do que foi exteriorizado. 
Consciência da vontade: até para poder exteriorizar a vontade é preciso ter consciência que aquilo é uma exteriorização de vontade. Não é preciso que tecnicamente ela entenda o conteúdo jurídico (tipo de ato ou negócio), basta que ela entenda negocialmente falando. 
Resultado possível, lícito e determinado ou determinável: as qualificações estão mais relacionadas com a validade do que com a existência. Essa vontade, para que dê origem ao ato, tem que estar dirigida a um resultado que o ordenamento recepciona (contrato para uma pessoa matar a outra). O objeto do negócio tem que ser recepcionado pelo ordenamento.
Atos de direito público: as ações do poder público são normalmente qualificáveis como ato stricto ou negócio público, ou até ato misto. 
NEGÓCIO JURÍDICO: 
Discussão sobre os contratos de adesão: uma parte elabora e outra só assina. Ainda que o sujeito só aceite ou negue, há vontade. Há que critique, já que os efeitos já estão prontos. Mas os efeitos estão prontos pela vontade de um deles. A lei permite que haja modificação dos efeitos.
Classificações: 
Unilateral X bilateral X plurilateral: critério que leva em conta a quantidade de exteriorização de vontade e a sua direção. O negócio jurídico pode partir da vontade de um único sujeito, não é preciso que tenha dois sujeitos envolvidos. Ex. promessa de recompensa, há uma exteriorização unilateral. Quando há a formação de um contrato, alguém tem que fazer uma proposta para outra pessoa, há uma unilateralidade do negócio jurídico. 
Bilateral: pelo menos doissujeitos. Esses sujeitos vão exteriorizar as suas vontades, de modo oposto, mas complementar. Ex. uma pessoa quer vender e outra quer comprar. 
Plurilateral: é preciso de pelo menos duas pessoas, não significa que tenham várias pessoas. A ideia é que embora também precise de duas pessoas, as vontades convergem para o mesmo fim. Ex. pessoas se reúnem para a criação de uma pessoa jurídica para uma finalidade.
Causal X Abstrato: todo negócio jurídico tem uma causa, no sentido que há um fundamento jurídico para que aquele negócio jurídico possa acontecer. Não confundir com motivo (subjetivo, pontual, o motivo de uma doação pode ser por caridade, por amor, etc. A causa seria a vontade de doar. Normalmente motivo não tem importância). A causa pode implicar a nulidade do negócio jurídico, como a causa ser coação. 
Há determinados negócios que vão ficar vinculados a essa causa ao longo de sua existência e outros vão se destacar (teve uma causa no início, mas agora ela é irrelevante).
Se, em um negócio jurídico abstrato, se descobre depois que houve um vício na causa, esse negócio jurídico não será afetado, pois ele se desvinculou da sua causa. 
A maior parte dos negócios jurídicos são causais (contratos, testamento, casamento, etc.). Porém alguns precisam ser abstratos até para o bom funcionamento dele, como por exemplo a nota provisória (visa proteger a confiabilidade da circulação da nota provisória, não vai importar, por exemplo, se houve coação na causa inicial, o documento se desvincula da causa). 
 “Inter vivos” X “Mortiscausa”: análise se esse negócio produz efeitos estando os sujeitos que o realizaram, vivos ou se a produção de efeitos está vinculada à morte. Os efeitos (eficácia) não dependem da morte de alguém. Ex. testamento é mortiscausa.
Consensual X Real: para ter um negócio jurídico é preciso de uma exteriorização e, exceto a unilateral, é preciso haver um consenso. A exteriorização da vontade e a ideia de consenso é constante em todos os negócios jurídicos. Existem alguns negócios que, além da vontade, existe um outro elemento completante, que é a entrega de certa coisa (real). Não significa que é real quando envolve a entrega de algo, é real quando a entrega da coisa é elemento completante (nuclear). Muitos negócios jurídicos envolvem a entrega da coisa, mas não são negócios jurídicos reais, e sim consensuais. 
Ex. art. 481. Não há como elemento da sua formação a entrega da coisa, apenas a obrigação de entregar no momento da obrigação de pagamento. Vontade de entregar e vontade de pagamento. Consensual. Obs. Compra e venda = consensual. 
Art. 579: para ter um comodato, não basta que diga que vai emprestar. Só forma o comodato no momento que o objeto for entregue. Antes da entrega da coisa, não existe comodato, é essencial para a formação do negócio jurídico. Real
Solene X Não solene: o negócio jurídico solene é aquele em que a lei traz a exigência de certa forma, que ele seja celebrado de certa forma. O não solene, a lei deixa livre a forma que ele será realizado, não exige uma forma específica (tem forma). A forma é verbal ou escrita. As vezes pode ser elemento Completante ou pode ser complementar. 
Ex. forma do testamento é dita pela lei, sendo ele um negócio jurídico solene. Nos casos de compra e venda, a lei não determina de que forma deve-se fazer, podendo ser feita verbalmente ou por escrito. A regra é que os negócios jurídicos sejam não solenes (se o código não apresentar uma forma, nenhuma especificação quanto à forma, o negócio jurídico é não solene). 
Ex. art. 819: A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.
Ex. pode variar, por exemplo, art. 541: A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único: A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição. 
Normalmente é solene, mas tem exceção que vai ter que ser não solene. Assim como compra e venda, é geralmente não solene, mas tem exceção que vai ser solene. Não é o comum.
Principal X Acessório: negócio jurídico principal, significa que ele não tem sua existência vinculado a nenhum outro negócio jurídico. Quando é um negócio jurídico acessório, ele só tem razão de ser vinculado a outro. Se tem um principal e um acessório, normalmente tem a ideia de que, se o principal é anulado, o acessório perde sua razão de ser. 
Ex. Fiança, negócio jurídico acessório. Sempre é fiador de algum outro negócio. Se a locação for anulada ou deixar de existir, não há mais fiança.
O oposto não é possível, se a fiação for coagida, e a fiança for anulada, não afeta a locação.
Típico X Atípico: o negócio é vinculado à ideia da vontade, mas em um sentido muito mais livre do que o ato strictu. Em alguns casos, o legislador jamais poderia ter a pretensão de acreditar que ele conseguiria regulamentar todos os possíveis negócios jurídicos, sobretudo na parte contratual. Direito precisa se adaptar às novas realidades e regulamentá-las. Quando o tipo do negócio está previsto em lei, esse será um negócio jurídico típico. Quando não está previsto, mas a lei não proibir, esse será atípico. 
Ex. art. 425: É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
Oneroso X Gratuito (benéfico): verificar se o negócio jurídico traz vantagens patrimoniais para ambos sujeitos envolvidos ou só para um. Quando só para um, é chamando de Benéfico. Quando para ambos, é oneroso. 
Para alguns autores, existe também o negócio jurídico neutro, que é aquele desprovido de valor econômico, vantagens não patrimoniais. Ex. acordo entre duas pessoas para revisar a “barriga de aluguel”, não é economicamente classificado, mas está trazendo vantagem para quem “aluga”. 
Outros autores adicionam a ideia do negócio bifronte, aquele que pode ser tanto oneroso como gratuito. Embora o código traga o que o negócio normalmente vai ser, mas permite que ele seja de outra maneira. Ex. o mútuo (tipo de empréstimo), entrega de algo, não para devolver exatamente do jeito que entregou, mas outro da mesma qualidade e quantidade. Regra geral é que é um negócio jurídico gratuito, mas as partes podem concordar em tornar o mútuo oneroso. 
Ex. depósito, contrato que uma pessoa entrega para outro guardar, em regra é gratuito, mas pode ser oneroso, pois a pessoa pode dar dinheiro para a outra guardar determinada coisa. 
ATO ILÍCITO: Art. 186, 187 e 188 – violação de direito
Noções Gerais: Ilicitude não é algo externo ao direito, tanto quanto lícito. A própria ideia do que é lícito e ilícito passa pela dimensão axiológica anterior à criação da norma. Cunho de construção social, não há uma total sobreposição do que é lícito e o que é ilícito (análise temporal e espacial). Ex. política de drogas no mundo, existem várias ordens, alguns países que é praticamente livre e outros que essa mesma ação é completamente punida. 
Conduta deve ser contrária ao direito, mas não é externo a ele.
Classificação levando em conta os possíveis efeitos de um ato ilícito:
Ato ilícito indenizativo: cria o dever de indenizar. O próprio código cria uma referência direta. Caráter pecuniário. 
Ato ilícito invalidante: a invalidade é encaixada como sendo uma ilicitude, se o ordenamento repudia aquilo. Não vai alcançar os seus efeitos. Preocupação com a organização do ordenamento.
Ato ilícito caducificante: sujeito perde algum direito. Ex. situação em que uma pessoa que não cuida dos seus filhos, e por conta disso, perde o poder familiar que tinha sobre aquela criança. Consequência de uma conduta ilícita vai ser perder o poder familiar que possuía. Se preocupa muito mais com a vítima do que com o agente. 
Ato ilícito autorizante: prática do ato ilícito autoriza um outro sujeito a ter uma determinada conduta que antes não poderia. Ex. ato de doação, uma das possibilidades de uma doação ser revogada é se o donatário agir com ingratidão com relação ao doador (art. 557 e 558). Condutas ilícitas que tem como consequência nesse contexto autorizar o doadora revogar essa doação. 
*OBS: Não significa que a prática de um ato ilícito implique unicamente em uma dessas consequências previstas. Ex. o donatário tenta matar o doador, ele poderá revogar a doação e pedir uma indenização pelo tiro que levou. 
*Essas consequências se aplicam ao direito civil. 
Modalidades do ato ilícito:
Ato ilícito subjetivo: art. 186. Conduta que ela, em si, já traz a ideia de ilicitude, alguém teve uma conduta que violou o direito e causou danos a outrem. Agir ou deixar de agir de maneira contrária ao ordenamento. Mais comum por ação do que por omissão (ex. deixar de informar a alguém sobre o defeito que um produto que está vendendo – omissão ilícita). 
Ainda que exclusivamente moral, a ilicitude não se refere unicamente a questões patrimoniais. Ex. violação de direitos da personalidade. 
Ato ilícito objetivo: Art. 187. Abuso de Direito. “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Conduta que inicialmente é lícita, porém o fato de ter um direito não significa que possa utilizá-lo de modo ilimitado. 
Ao extrapolar os limites desse direito essa conduta deixa de ser lícita e passa a ser ilícita. *São situações que a base é algo lícito, só é ilícito porque o sujeito extrapola o limite, não tem o direito de fazer na dimensão que faz. 
- Fim econômico ou social: limites internos. Limites ao próprio direito, direito à privacidade, e o exercício dessa liberdade tem um limite próprio ao que é o direito de liberdade. Função social da propriedade parte do pressuposto do que é a propriedade, próprio de cada direito. 
EX: se uma pessoa é proprietária de algo, pode-se exercer o direito construindo coisas nele. Quando há a prática de um ato praticado não para alcançar o seu direito, mas com intenção de prejudicar o outro, existe um abuso de direito.
- Boa fé e bons costumes: limites externos, não há boa fé da propriedade, é algo externo. 1. Bons costumes: embate doutrinário sobre a definição. Historicamente, bons costumes têm a ver com questões sexuais sobre o outro e não há como valorar.
2. Boa fé objetiva: se refere ao fato de que existe um padrão ideal de conduta esperada que as como (trato social regulamentada pelo direito). Campo diverso. 
EX. “Venire contra factum prop” – um sujeito, no primeiro momento, tem uma conduta lícita. Porém, essa conduta gera uma expectativa na outra parte, e posteriormente, ele tem uma segunda conduta que, se fosse analisar isoladamente, seria lícita, mas essa segunda conduta vem contra a expectativa criada pela conduta anterior dele (comportamento contraditório). A segunda conduta é o Venire (ninguém pode vir contra seus próprios fatos). É abuso de direito pois a conduta, pensando de modo isolado, são condutas regulares. Mas, por conta da quebra da expectativa que criou, vira uma conduta ilícita. Plano de saúde concede o benefício para um sujeito do home care, e depois de 3 meses, há uma quebra de serviço. Essa interrupção, diante do fato de se ter colocado o serviço sem ressalva de temporalidade, gera no sujeito uma expectativa de que o serviço seria mantido. A segunda conduta é uma conduta contraditória, mesmo estando no contrato, caracterizando um abuso de direito. 
Supressio e surrectio: uma pessoa tem o direito, mas não o exerce (primeira conduta negativa, de inação). O não exercício do direito cria na contraparte (outro sujeito) uma expectativa legitima de que o direito não mais será exercido. Supressio é a perda do direito pelo sujeito que não o exerceu, enquanto o surrectio vai ser o correspondente ganho do direito (por conta da boa-fé). 
Ex. sujeito tinha um contrato de mútuo com o banco e em virtude desse contrato tinha que pagar várias parcelas da dívida. Por instrução do banco, que nunca se opôs a isso, ao invés dele pagar direto ao banco, pagaria numa empresa de cobrança e o banco nunca reclama (não age). No momento que ele paga um certo título, o banco alega que não pode ser pago na empresa de cobrança, apenas do branco. Presunção que este o aceitava validamente. Perda do direito do banco de ter que pagar no próprio, e ganho do direito de poder pagar na empresa de cobrança. 
“Tu quoque”: prática de que não deveria ter (caráter de ilicitude) e, em consequência dessa conduta, quer reclamar da mesma conduta realizada por outra pessoa. Esse sujeito não pode se valer de um argumento quando ele próprio está agindo com torpeza. 
“Inalegabilidade de nulidades formais”: existe uma situação que surgiu em que, naquele negócio, há um vício formal (algo está errado), as partes sabem disso. Mas um dos sujeitos que teria o direito de alegar aquilo (se beneficiando), desconstitui isso (fala para o outro sujeito que não faz diferença). E, mais pra frente, a mesma pessoa que fala que não tem problema, quer alegar a irregularidade. 
Ex. usufruto: transferência de direitos, desmembra os direitos da propriedade (dono, mas que não pode exercer e outro que não é o dono, mas que desfruta dos direitos, como locação, etc.). A pessoa fez um contrato de locação com o dono, depois a locatária para de pagar o aluguel, e o dono cobra. Na defesa alega que não poderia o contrato ter sido feito pelo dono, e sim pelo usufrutuário. Abuso de direito. 
Excludentes de ilicitude: Art. 188. 
Não constituem atos ilícitos:
I - Os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - A deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Ação dentro do exercício regular de direito nunca vai ser ilícito, está dentro do limite do direito. 
Deve ser proporcional, não pode exceder o que for necessário para proteger o bem tutelado. OBS: Ser lícito não significa que não haverá dever de indenizar.

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