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Para a segunda prova Estudo Dirigido dos Textos 7 a 10

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ESTUDOS DIRIGIDOS 2/2010
Texto 7 - Cuche
1) Explique as seguintes noções:
a) cultura dominante/dominada
R: Em um espaço social há sempre uma hierarquia cultural. Karl Marx e Max Weber afirmaram que a cultura da classe dominante é sempre a cultura dominante. Não pretenderam com isso afirmar que a dominante possui superioridade intrínseca, ou alguma força vinda de sua “essência” que dominasse as culturas, mas que a força das culturas equivale à força social dos grupos que as sustentam, ou seja, que na realidade existem grupos sociais em relação de dominação ou subordinação uns com os outros. 
 Uma cultura dominada não é necessariamente alienada e totalmente dependente, mas não pode desconsiderar a cultura dominante; pode sim resistir em maior ou menor escala à imposição cultural dominante. Segundo Marx e Weber, as culturas dominadas são culturas de grupos dominados, que se constróem e se reconstróem em uma situação de dominação. 
Dominante (dos grupos dominantes) / dominada (dos grupos dominados) → PODER
b) cultura popular
R: Possui uma ambigüidade semântica, pois nem todos os autores dão a mesma definição ao termo “cultura” e/ou “popular”.
 Do ponto de vista das ciências sociais, duas teses diametralmente opostas devem ser evitadas, a minimalista e a maximalista.
 - minimalista: não reconhece nas culturas populares nenhuma dinâmica/criatividade próprias. Seriam derivadas da cultura dominante - única legítima e correspondente à cultura central, de referência; culturas marginais, cópias de má qualidade da cultura legítima da qual se distinguiriam por um processo de empobrecimento – faltas, deformações, incompreensões; expressão da alienação social das classes populares, desprovidas de qualquer autonomia; produtos inacabados da cultura das elites sociais (a única “verdadeira cultura”).
 - maximalista: iguais e mesmo superiores à cultura das elites; autênticas, completamente autônomas e sem nada a dever à cultura das classes dominantes; alguns adeptos da tese afirmam não haver nenhuma hierarquia entre as culturas popular e “letrada”; outros adeptos afirmam a cultura popular como sendo superior à das elites (derivação ideológica populista), pois sua vitalidade viria da criatividade do povo (superior à das elites).
 Segundo Cuche, a realidade é mais complexa do que é apresentado por estas duas teses. As populares revelam-se nem inteiramente dependentes, nem inteiramente autônomas, nem pura imitação, nem pura criação. Apenas confirmam que toda cultura particular é uma reunião de elementos originais e importados, invenções próprias e empréstimos. Não são homogêneas sem ser incoerentes, como qualquer cultura. Por definição, são culturas de grupos sociais subalternos, sendo construídas, portanto, em uma situação de dominação. Sendo assim, certos sociólogos evidenciam o esforço de resistência das classes populares à dominação cultural, à qual os dominados reagem com ironia, provocação ou “mal gosto” mostrado voluntariamente (Ex: folclore do “soldado raso” no exército) – neste sentido, elas são culturas de contestação.
 Entretanto, este último aspecto não é suficiente para definí-las, visto que poderemos cair na tese minimalista, que nega qualquer criatividade autônoma das culturas populares, e ainda pelo fato de que, segundo Grignon e Passeron, elas não estejam mobilizadas permanentemente em uma atitude de defesa militante – funcionando também em repouso. Nem toda a alteridade popular se encontra na contestação. Por outro lado, os valores e práticas de resistência cultural não bastam para criar uma autonomia cultural suficiente para que surja uma cultura original – elas assumem funções integradoras, pois são cooptáveis pelo grupo dominante.
 Sem esquecer a situação de dominação, é mais pertinente dizer cultura popular como sendo um conjunto de maneiras de viver com a dominação, ou um modo sistemático de resistência à dominação. Segundo Michel de Certeau, é a cultura comum das pessoas comuns, que se fabrica no cotidiano, atividades banais e renovadas a cada dia. A criatividade popular é multifome e disseminada (foge por mil caminhos), e por isso não está nas produções perceptíveis e claramente identificáveis. Para captá-la, usa-se a inteligência prática das pessoas comuns, no uso que elas fazem da produção de massa. (galera, nem vou continuar escrevendo sobre as idéias de Michel de Certeau, visto que o Bizerril nem frisou muito suas considerações sobre cultura popular, e acredito que por isso não há motivo para que continue a resposta, ok? – o mais importante é Cuche)
 - cultura erudita
 Cultura popular – produzida por grupos subalternos - resistência 
 - originalidade
 - produção própria
c) cultura de massa 
R: Certos sociólogos, como Edgar Morin, a definem como sendo uma cultura que não é produzida pelo povo, mas para a massa, para o consumo. No entanto, a maioria dos autores dedicam-se à questão do consumo da cultura, produzida pela mídia de massa, pelo efeito da uniformização cultural como conseqüência da generalização dos meios de comunicação em massa, que supõe-se estarem provocando uma alienação cultural/aniquilação da capacidade criativa do indivíduo, que inevitavelmente sofre influência das mensagens transmitidas. No entanto, ao se estudar essa questão, não se deve apenas o contentamento na análise dos discursos e imagens difundidos, mas também ao que os consumidores fazem co o que eles consomem, visto que os programas divulgados não são em sua maioria assimilados passivamente – são apropriados e reinterpretados segundo suas próprias lógicas culturais. Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais de cada grupo, bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção. 
 Esta cultura é diferente da popular. É caracterizada por um circuito global de difusão midiática – movimento hip hop, por exemplo. Segmentação de mercado – “customização”, multiplicidade dos estilos de vida = publicidade, em que o cara não vende o objeto, e sim a identidade (as coisas que as pessoas compram são emblemas da sua identidade).
De massa → indústria cultural – mídia X recepção heterogênea
 
d) culturas de classe
R: O conceito teve origem com Max Weber, quando em seu estudo “A ética protestante e o espírito do capitalismo” fez referência a comportamentos econômicos da classe dos empresários capitalistas, procurando formar a cultura chamada de “espírito” dessa nova classe de empresários que criou, de certa maneira, o capitalismo moderno. A partir dela, começam a surgir outras classes, como a média burguesia, na qual se encontra em maior adequação o sistema de valores do capitalismo moderno e mais eficaz para sua difusão, sendo caracterizada por um “estilo/modo de vida”, cultura particular, baseada em novos costumes (ruptura com princípios tradicionais). Esses costumes implicam em uma ética da consciência profissional e valorização do trabalho como atividade que tem um fim em si mesma, dando sentido à vida do homem, que buscará o lucro e a acumulação de capital, ao invés do enriquecimento como fim em si mesmo. Sendo assim, as novas virtudes da classe são o sentido de poupança, abstinência, e esforço, que são o fundamento da disciplina das sociedades industriais. 
(Sub) Cultura de classe → sociologia marxista → divisão social o trabalho (consciência de classe)
- de classe – exemplo: registros lingüísticos(Inglaterra)
- sociologia marxista: realiza uma análise sociológica das classes sociais modernas; não dá conta de toda a situação que vive o capitalismo atual; há também o preconceito de classe compartilhado
e) habitus
R: Segundo Pierre Bordieu, “habitus” são “sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, a funcionar como princípios geradores e organizadores de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptados a seu objetivo sem supor que se tenham em mira conscientemente estes fins e o controle das operações necessárias para obtê-los”. São adquiridos por uma série de condicionamentos próprios a certos modos de vida particulares, caracterizando uma classe ou grupo social em relação aos outros que não partilham das mesmas condições sociais. Diferentes posições em um espaço social dado = estilos de vida que expressam simbolicamente as diferenças inscritas objetivamente nas condições de existência. 
 Funciona como materialização da memória coletiva, passando de geração para geração, que permite ao grupo “perseverar em seu ser”; é profundamente interiorizado, não implica em consciência dos indivíduos para ser eficaz, e explica porque os membros de uma mesma classe agem de maneira semelhante sem mesmo terem entrado em acordo para isso. 
 É o que permite aos indivíduos se orientarem em seu espaço social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social, tornando possível para o indivíduo elaborar estratégias antecipadoras guiadas por sistemas inconscientes, que resultam do trabalho de educação e socialização ao qual o indivíduo está submetido + “experiências primitivas” ligadas a ele.
 É também incorporação da memória coletiva, de hexis corporal (disposições corporais) e da concepção de mundo social incorporada (moral incorporada). Cada pessoa, por seus gestos e posturas, revela o habitus que habita, sem se dar conta e sem que os outros tenham consciência disso. Pela hexis corporal, as características sociais são naturalizadas. A homogeneidade dos habitus de grupo ou classe = homogeneização dos gostos, é o que torna inteligíveis e previsíveis as preferências e práticas, porém não implica em negação da diversidade de estilos individuais, que devem ser compreendidas como singularidade da posição no interior da classe e trajetória.
 Para Bordieu, o habitus não é um sistema rígido de disposições que determinariam de maneira mecânica as representações e as ações dos indivíduos e que garantiria a reprodução social pura e simples. As condições sociais do momento não explicam totalmente o habitus, que é suscetível de modificações. A trajetória do grupo/indivíduo = experiência de mobilidade social acumulada por várias gerações e interiorizada deve ser levada em conta para analisar as variações do habitus. 
 - memória social nos corpos 
 - práticas de sensibilidade
 Habitus - coletivo, o que você compartilha com os outros semelhantes
 - padrões que fazem com que você pertença a um certo grupo social
2) Descreva as principais características da cultura operária:
R: - produção de representações de si mesma em pequeno número; 
 - bipartição fundamental do mundo social entre “eles” e nós, que se traduz num grande conformismo cultural, e pelas escolhas orçamentárias que dão prioridade aos bens que se prestam numa utilização coletiva, e ao reforço da solidariedade familiar;
 - agrupamento de comunidades operárias em um mesmo bairro, desenvolvendo sociabilidade intensa de vizinhança e festas coletivas (o que não existe mais nos dias de hoje);
 - vida familiar cotidiana especialmente marcada por uma estrita divisão sexual dos papéis
 - coletivização da renda 
 Cultura operária
 - divisão sexual do trabalho bem definida (homem e mulher)
3) Descreva as principais características da cultura burguesa:
R: - produção inúmeras representações de si mesma (literárias, cinematográficas, jornalísticas);
 - indivíduos burgueses não se reconhecem como tais, recusando-se de serem qualificados por este termo – a cultura burguesa é a que raramente as pessoas reinvidicam e se orgulham, sendo difícil estudá-la de maneira empírica;
 - Beatrix Le Wíta analisa a cultura burguesa pela tomada de três elementos fundamentais (através da análise de colégios particulares católicos e as mulheres saídas deles): a atenção aos detalhes (particularmente as vestimentas), o controle de si mesmo (propriedade essencial da burguesia capitalista – Max Weber), e a ritualização das práticas da vida cotidiana (boas maneiras à mesa);
 - a referida autora ainda acrescenta a esses elementos mais outro: a manutenção e o uso constante de uma memória familiar, profunda e precisa;
 - socialização das instituições privadas (escolas católicas) – complemento eficaz da educação familiar
Burguesa – quantidade de representações públicas muito grande (cinema, arte, música)
Texto 8 - Novaes
1) Explique: juventude é um termo em disputa.
R: Juventude é um conceito construído histórica e culturalmente, e as definições acerca do que é ser jovem, e do limite de idade para ser considerado jovem, têm mudado ao longo do tempo, sendo diferentes nas diversas culturas e espaços sociais. Ao nosso tempo e à nossa cultura, é um termo de disputa nos campos político e econômico, e ainda intragerações, porque observa-se que existem grupos e segmentos juvenis organizados que falam por parcelas da juventude, mas nenhum grupo tem a delegação de falar por todos aqueles que fazem parte da mesma faixa etária. E certamente pesquisadores, pais e responsáveis não podem falar pelos jovens.
2) Enumere os aspectos que diferenciam as experiências d@s jovens brasileir@s:
R: - classe social (desigualdade mais evidente): se explicita claramente na vivência escola/trabalho; quando e como um jovem começa ou termina de estudar revelam acessos diferenciados a partir das condições econômicas dos pais;
 - gênero e raça: moças pobres ganham menos que rapazes nos mesmos postos de trabalho, e boa aparência atinge jovens negros e negras pobres; ser pobre, mulher e negra ou pobre, homem e branco faz diferença nas possibilidades de viver a juventude;
 - local de moradia: o endereço faz diferença – abona ou desabona, amplia ou restringe acessos, visto que é critério de estratificação social, indicador de renda, pertencimento de classe, e principalmente trazem consigo o estigma de áreas urbanas subjugadas pela violência e a corupção dos traficantes e da polícia (favelas, subúrbios, periferias, morros, comunidades);
 - disparidades regionais e as relações entre o campo e a cidade: devem ser consideradas em um necessário diagnóstico, visto que as diferenças entre regiões do país, entre ser jovem no campo ou na cidade, e mesmo as diferenças entre cidades grandes e pequenas devem ser levadas em conta para caracterizar matizes da condição juvenil.
3) Explique a relação entre escolaridade e desigualdade entre os jovens:
R: A escola é a instituição social em que o jovem mais confia, de acordo com pesquisa da autora. É um lugar para fazer amigos e integrante da sociabilidade que caracteriza a condição juvenil. No entanto, os jovens mais pobres não embarcam no mito da escolaridade, pois a escola não é vista como garantia de emprego. Ficar fora da escola é marca de exclusão social, o que caracteriza uma desigualdade entre os jovens. Além desta, temos o fato de que jovens de classes populares que conseguem terminar o ensino médio esbarram, nosconcursos e demais processos de seleção, com candidatos que possuem cursos superiores completos; sendo assim, apesar dos jovens terem consciência de que a escola é importante como passaporte que permite a viagem ao emprego, ela não é garantia. 
4) Apresente os elementos principais da descrição que a autora faz da situação d@s jovens no mercado de trabalho:
R: O primeiro elemento é com relação à situação da escolaridade: apesar dos jovens de hoje estarem muito mais escolarizados que há poucas décadas, enfatizar a escolaridade é pressupor que existam empregos disponíveis para os escolarizados; no entanto, há muitos jovens cujas possibilidades de inserção no mercado de trabalho não são condizentes com os anos de estudo → nos últimos doze anos, Pochman afirmou que o emprego que mais cresceu no país foi o doméstico. A segunda ocupação que mais cresceu foi a de vendedor ambulante. A terceira, foi na área do asseio, conservação e limpeza. Nos requisitos para algumas dessas ocupações inclui-se até o mesmo o ensino médio, corroborando a idéia de que o trabalho não é condizente com os anos de estudo. 
 A autora afirma ainda que não é necessariamente uma mudança no conteúdo do trabalho que exige uma pessoa mais escolarizada, tampouco com maior qualificação e preparação técnica, e utiliza como exemplo a central de atendimento telefônico (call center), que é um trabalho simplificado, que não exige criatividade ou autonomia, e representa repetição, empobrecimento, e desqualificação do trabalho; cita também a de caixa de supermercado – a pessoa que com diploma de ensino médio e trabalha com computador, código de barras, e sistema eletrônico on-line, é comparada ao atendente de mercearia de vinte anos atrás, que fazia todo o trabalho de marcação de preços, contas, comunicação com cliente, e levantamento das vendas, passando ao final do dia tudo o que havia acontecido ao proprietário da mercearia, sem nem mesmo saber escrever bem. 
 Além desses elementos, a questão da inserção do jovem no mercado de trabalho é um dos mais freqüentes motivos de conflitos entre pais e filhos, tanto nas famílias pobres quanto nas de classe média. Os jovens que já trabalham hoje já trabalharam em muitos lugares, com variados vínculos de emprego e em tempos diferenciados, o que faz com que reinventem maneiras e sentidos de inserção produtiva. 
5) Explique os dois principais medos expressos pelos jovens segundo a autora:
R: Os dois principais medos são o da morte e o do futuro. O da morte expressa várias características da insegura vida atual, sobretudo nas metrópoles brasileiras e, mesmo que nem sempre os jovens tenham sido atingidos diretamente pela violência urbana, o tema faz parte do imaginário socialmente construído, e um marco geracional importante – entre os jovens de hoje há o temor expresso da morte prematura, muito associado também com o problema da violência (um dos temas de conversação mais freqüente entre os jovens).
 No medo do futuro se expressam os sentimentos de uma geração que se defronta com um mercado de trabalho restritivo e mutante; é quase um sinônimo do medo de “sobrar” e está muito relacionado à inserção no mundo do trabalho: “medo de não estudar e não conseguir emprego”, “medo de estudar e não conseguir emprego”, “medo de conseguir emprego e depois perder”, “medo de ficar desempregado”. Os jovens de diferentes classes sociais temem o futuro. Ter estudo não garante que se vá trabalhar, e ter trabalhado não garante que se continuará trabalhando. A geração atual diz palavras vagas sobre o futuro, pois não sabe nem como vai se aposentar. Pode-se relacionar esse aspecto também à ausência de mobilidade social no país.
6) Descreva o que são os “jovens de projeto”: 
R: São aqueles que fazem parte do “público-alvo” dos projetos sociais, governamentais ou não-governamentais, destinados a garantir a inclusão social de jovens de áreas pobres e violentas. Esses jovens se (re)apropriam de idéias, palavras e expedientes dos projetos, incluindo-os em suas estratégias de sobrevivência social.
 Os projetos podem contribuir para a supressão de certas marcas da exclusão pelo aumento da escolaridade, capacitação profissional, consciência étnica, gênero, pertencimento local comunitário. Tornam-se pontes para um determinado tipo de inclusão social de jovens moradores de certas áreas marcadas pela pobreza e pela violência das cidades. Com eles, uma parcela dos jovens pode inventar novas maneiras de sociabilidade e integração societária que resultem em determinadas modalidades de inclusão. Ter ou não ter acesso aos projetos sociais diferencia entre si os jovens mais pobres e também cria uma diferenciação entre os jovens de diversas áreas pobres e violentas da cidade. 
7) Descreva os “jovens de periferia”:
R: O termo periferia não tem sentido meramente geográfico; é a nomeação de uma identidade construída nos últimos anos e que tem efeitos nos estilos, estéticas, vínculos sociais e laços afetivos das trajetórias de uma parcela dos jovens de hoje. Ligados à periferia, convocando a favela, alguns grupos de jovens dão visibilidade a redes sociais preexistentes e constroem outras redes. São atores de um momento histórico em que se inventa um novo tipo de profissional militante e/ou militante profissional ligado a atividades artísticas e culturais; são os que podem contribuir para construir um “espaço público” nas próprias periferias e favelas privatizadas pelo tráfico e submetidas à violência e à corrupção policial. Possuem roupa, postura corporal, e linguagem que garantem marcas de identidade que unem a todos. 
 O movimento característico que engloba todos esses elementos citados é o da cultura hip hop, composta da trilogia rap, break e grafite. Não é um movimento orgânico que produz grupos homogêneos, por existirem várias correntes, linhas e ênfases que diferenciam o rap feito em países, cidades, bairros e grupos específicos. O rap torna-se atualmente um demarcador de identidade, provoca conversões, muda rumos e destinos, para uma parcela importante dos jovens brasileiros. Ele busca reafirmar as raízes de moradores de múltiplas periferias. Segundo Helena Abramo, os hip hopers têm uma localização territorial forte, e isso compreende um laço maior com a comunidade, é a “cultura da rua no bairro”, o que encerra um grande poder de transformação para a própria comunidade. 
 O hip hop pode ser pensado como um movimento de expressão cultural que produz efeitos políticos; a fé e a linguagem religiosa também são expressões culturais, que constituem o “esforço civilizatório do rap”, em oposição à barbárie, alternativa possível num quadro de absurda injustiça social em que estão inseridos. Juntando essas características, chegamos ao conceito de “Canudos urbanos”, em que se busca reafirmar as raízes d moradores de múltiplas periferias, em vez de produzir um deslocamento territorial em busca de vida nova que caracterizou o movimento messiânico de Antônio Conselheiro.
 
Texto 9 - Hall
1) Descreva as seguintes concepções de sujeito/identidade:
a) moderna ou iluminista;
R: O sujeito do iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades da razão, de consciência e de ação, cujo centro consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo ao longo da existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. Essa era uma concepção muito individualista do sujeito e de sua identidade. 
 Moderno/iluminista - indivíduo centrado, unificado, racional, livre, responsável; 
 - essência – interioridade de pensamentos e sentimentos
b) sociológica;
R: Essa noção refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não eraautônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele habitava. Segundo Mead, Cooley e os interacionistas simbólicos (que elaboraram esta concepção interativa da identidade e do eu) a identidade é formada na interação entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o eu real, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais exteriores e as identidades que esses mundos oferecem. A identidade, nesta concepção, preenche o espaço entre o interior e o exterior, entre o mundo pessoal e o mundo público. O fato de que projetamos a “nós próprios” nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os parte de nós, contribui para alinhar nossos sentimentos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural. Sendo assim, a identidade costura o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis.
Sociológica → interioridade subjetiva + social (instituições sociais), códigos culturais → papéis
 - papel não é identidade; é função, atributo, que derivam das posições que ocupamos dentro da participação/representação social; é delegado pela Instituição; referências a partir das quais a Identidade se estabiliza; eles são dados a partir de marcação de raça, sexo, e gênero; o papel é como se o indivíduo tivesse um texto, para que pudesse atuar junto aos outros;
 - a identidade não se confunde com os vários papéis; ela é composta a partir de um processo de identificação com certos papéis
c) pós-moderna.
R: Processo de identificação através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais que se tornou mais provisório, variável e problemático, devido à fragmentação do sujeito, composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas – as identidades que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as necessidades objetivas da cultura estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. Sendo assim, o sujeito pós-moderno não possui uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma celebração móvel: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, e identidades que não são unificadas ao redor de um eu coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. À medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente.
Pós-moderno → descentrado, mutável, contraditório, contextual, relacional, “sem essência, múltiplo, posicionado”
- sujeito e identidade segundo Hall são a mesma coisa: ponto atravessado por diversos eixos de identidade (raça, orientação sexual, religiosidade, regionalidade, registros lingüísticos)
2) Enumere e explique brevemente as cinco inovações teóricas e sociais que produziram um descentramento do sujeito moderno no século XX.
R: 1ª) Tradições do pensamento marxista: com a afirmação de que “os homens fazem a história, mas apenas sob as condições que lhes são dadas”, alguns novos intérpretes concluíram que os indivíduos não poderiam de forma alguma ser os autores ou os agentes da história, uma vez que eles podiam agir apenas com base em condições históricas criadas por outros e sob as quais eles nasceram, utilizando os recursos materiais e de cultura que lhes foram fornecidos por gerações anteriores. O marxismo, corretamente entendido, deslocara qualquer noção de agência individual. Ao colocar as relações sociais e não uma noção abstrata de homem no centro de seu sistema teórico, Marx deslocou duas proposições-chave da filosofia moderna: há uma essência universal de homem, e que essa essência é o atributo de cada indivíduo singular, o qual é seu sujeito real;
Marxismo: história – processo dialético – luta de classes; motor = conflitos sociais; não é o indivíduo que decide; torna-se consciência a partir da classe que está inserido
 2ª) A descoberta do inconsciente por Freud: nossas identidades, sexualidade e estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona com uma lógica diferente daquela da Razão, arrasando com o conceito de sujeito cognoscente e racional provido de uma identidade fixa e unificada – o penso, logo existo, do sujeito de Descartes. A identidade é algo formado, ao longo de tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo imaginário ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre em processo, sempre sendo formada. Assim, em vez de falar da identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar de identificação, e vê-la como um processo em andamento. A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é preenchida a partir de nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos pelos outros. 
 3ª) Lingüística estrutural (Ferdinand de Saussure): nós não somos, em nenhum sentido, os autores das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na língua. Podemos utilizar a língua para produzir significados apenas nos posicionando no interior das regras da língua e dos sistemas de significado de nossa cultura. A língua é um sistema social e não um sistema individual – ela preexiste a nós. Não podemos, em qualquer sentido simples, ser seus autores. Falar uma língua não significa apenas expressar nossos pensamentos mais interiores e originais; significa ativar também a imensa gama de significados que já estão embutidos em nossa língua e em nossos sistemas culturais. A identidade, como o inconsciente, está estruturada como a língua – o falante individual não pode, nunca, fixar o significado de uma forma final, incluindo o significado de sua identidade. O significado é inerentemente instável: ele procura o fechamento (a identidade), mas ele é constantemente perturbado pela diferença.
Lingüística estrutural: língua (sistema social, história) X fala
 4ª) Genealogia do sujeito moderno – Michel Foucalt: destaca um novo tipo de poder, o disciplinar – está preocupado, em primeiro lugar, com a regulação, a vigilância é o governo da espécie humana ou de populações inteiras e, em segundo lugar, do indivíduo e do corpo. Seus locais são aquelas novas instituições que se desenvolveram ao longo do século XIX e que “policiam” e disciplinam as populações modernas (oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clínicas, etc.), com o objetivo de manter as vidas, atividades, trabalho, infelicidade e prazeres do indivíduo, saúde física e moral, práticas sexuais e vida familiar, sob estrito controle e disciplina, com base no poder desses regimes administrativos, conhecimento especializado de profissionais e o fornecido pelas disciplinas das Ciências Sociais, produzindo um ser humano que possa ser tratado como um corpo dócil. Quanto mais coletiva e organizada a natureza das instituições da modernidade tardia, maior o isolamento, vigilância e individualização do sujeito individual.
Michel Foucalt: sujeito como efeito do poder; poder disciplinar da sociedade burguesa:controle burocrático e cotidiano da vida dos indivíduos; biopoder;
 5ª) Novos movimentos sociais - emergiram durante os anos sessenta, com o feminismo, revoltas estudantis, movimentos juvenis contraculturais e antibelicistas, lutas pelos direitos civis, movimentos revolucionários do Terceiro Mundo, movimentos pela paz e outros de 1968: se opunham à política liberal capitalista do Ocidente e à política estalinista do Oriente; afirmavam as dimensões subjetivas e objetivas da política; suspeitavam das formas burocráticas de organização, favorecendo a espontaneidade e atos de vontade política; tinham uma ênfase e uma forma cultural fortes; refletiam o enfraquecimento ou o fim da classe política, bem como sua fragmentação em separados movimentos sociais; nascimento da política de identidade – uma identidade para cada movimento. O feminismo foi o que mais contribuiu para o descentramento do sujeito: questionou a distinção entre o dentro e fora, o privado e o público (o pessoal é político); abriu para a contestação política arenas da vida social (família, sexualidade, trabalho doméstico, divisão doméstica do trabalho, cuidado com as crianças, etc.); politizou a subjetividade, identidade e o processo de identificação (como homens/mulheres, mães/pais, filhos/filhas); incluiu a formação das identidades sexuais e de gênero no debate político; questionou a noção de que homens e mulheres eram parte da mesma identidade, a Humanidade, substituindo-a pela questão da diferença sexual.
3) Explique a concepção de nação como “comunidade imaginada”.
R: As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos. As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas. Sendo assim, a identidade nacional é uma comunidade imaginada. Segundo Anderson (1983), as diferenças entre as nações residem nas formas diferentes pelas quais elas são imaginadas. Ou como disse Powell (1969, p. 245), “a vida das nações, da mesma forma que a dos homens, é vivida, em grande parte, na imaginação”. 
4) Analise as críticas do autor à concepção acima.
R: O autor selecionou cinco elementos principais:
 1º) há a narrativa da nação, tal como é contada e recontada nas histórias e literaturas nacionais, na mídia e na cultura popular, que fornecem uma série de estórias e panoramas que simbolizam ou representam experiências compartilhadas, perdas, triunfos e desastres que dão sentido à nação; o que se ganha é uma ênfase na tradição e na herança, acima de tudo na continuidade, de forma que nossa cultura política presente é vista como o florescimento de uma longa e orgânica evolução;
 2º) há a ênfase nas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade; a identidade nacional está lá, na verdadeira natureza das coisas; os elementos essenciais do caráter nacional permanecem imutáveis, apesar de todas as vicissitudes da história;
 3º) invenção da tradição (Hobsbawn e Ranger): tradição inventada significa um conjunto de práticas..., de natureza ritual ou simbólica, que buscam inculcar certos valores e normas de comportamentos através da repetição, a qual implica continuidade com um passado histórico adequado;
 4º) mito fundacional: uma estória que localiza a origem da nação, do povo e de seu caráter nacional num passado tão distante que eles se perdem nas brumas do tempo, não do tempo real, mas de um tempo mítico; tradições inventadas tornam as confusões e os desastres da história inteligíveis, transformando a desordem em comunidade e desastres em triunfos; ajudam povos desprivilegiados a conceberem e expressarem seu ressentimento e sua satisfação em termos inteligíveis; novas nações são fundadas sobre esses mitos; (galera, lembrei daquele filme “Coração Valente”; não sei se estou certo, mas acredito que sirva para exemplificar esse lance do mito fundacional)
 5º) a identidade nacional também é muitas vezes simbolicamente baseada na idéia de um povo puro, original, mas nas realidades do desenvolvimento nacional, é raramente esse povo primordial que persiste ou que exercita o poder (não só no caso do Brasil, em que os portuga desempenharam primeiramente as funções de ministros, burocratas, e tal, mas como também em muitos países europeus que sofreram a invasão de povos bárbaros, etc) 
5) Defina globalização e explicite suas principais características.
R: É um complexo de processos e forças de mudança, que começou a poderosamente deslocar as identidades culturais nacionais no final do século XX. Se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado. Implica em um movimento de distanciamento da idéia sociológica clássica da sociedade como um sistema bem delimitado e sua substituição por uma perspectiva que se concentra na forma como a vida social está ordenada ao longo do tempo e espaço. Essas novas características temporais e espaciais, que resultam na compressão de distâncias e de escalas temporais, estão entre os aspectos mais importantes da globalização a ter efeito sobre as identidades culturais. Com isso, as identidades nacionais estão se desintegrando, como resultado da homogeneização cultural, outras estão sendo reforçadas pela resistência à globalização e, ainda, algumas outras estão em declínio, dando lugar à novas identidades – as híbridas.
 Uma das características principais é a compressão do espaço-tempo, a aceleração dos processos globais, de forma que se sente que o mundo é menor e as distâncias mais curtas, que os eventos em um determinado lugar têm um impacto imediato sobre pessoas e lugares situados a uma grande distância. A moldagem e a remoldagem de relações espaço-tempo no interior de diferentes sistemas de representação (identidades) têm efeitos profundos sobre a forma como as identidades são localizadas e representadas. Todas as identidades estão localizadas no espaço e tempo simbólicos, têm aquilo que Said (1990) chama de geografias imaginárias, paisagens, características, senso de lugar, bem como suas localizações no tempo (tradições e mitos de origem).
6) Explique a oposição entre o local e o global na construção das identidades.
R: O lugar segundo Giddens (1990) é específico, concreto, conhecido, familiar, delimitado: o ponto de práticas sociais específicas que nos moldaram e nos formaram e com as quais nossas identidades estão estreitamente ligadas. Os lugares permanecem fixos; é neles que temos raízes. Entretanto, o espaço pode ser cruzado num piscar de olhos por avião a jato. Harvey (1989) chama isso de destruição do espaço através do tempo. O efeito geral desses processos globais tem sido o de enfraquecer ou solapar as formas nacionais de identidade cultural. As identificações globais, colocadas acima do nível da cultura nacional, começam a deslocar e a apagá-las.Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, imagens da mídia e sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem flutuar livremente. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades, dentre as quais parece possível fazer uma escolha, sendo que foi a difusão do consumismo (como realidade ou sonho) que contribui para esse efeito de supermercado cultural. As diferenças e as distinções culturais, que até então definiam a identidade, ficam reduzidas a umaespécie de moeda global ou língua franca internacional, em termos das quais todas as tradições específicas e todas as diferentes identidades podem ser traduzidas = homogeneização cultural.
 Diante disso, observa-se a tensão entre o local e o global na transformação das identidades. As identidades nacionais representam vínculos a lugares, eventos, símbolos, histórias particulares; enfim, representam uma forma particularista de vínculo ou pertencimento. Sempre houve uma tensão entre essas identificações e identificações mais universalistas (identificação maior com a humanidade que com a inglesidade, por exemplo), que continuou a existir com a modernidade: o crescimento dos estados-nação, economias nacionais e culturas nacionais = local; expansão do mercado mundial e da modernidade como um sistema global – global.
7) Apresente a crítica do autor à idéia da homogeneização global das identidades.
R: A homogeneização cultural é o grito angustiado daqueles que estão convencidos de que a globalização ameaça solapar as identidades e a unidade das culturas nacionais. Entretanto, este quadro, segundo o autor, é muito simplista, exagerado e unilateral, e daí ele apresenta três qualificações.
 1ª) Vem do argumento de Kevin Robin de que, ao lado da tendência da homegeinização global, há também a fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da alteridade; há, juntamente com o impacto global, um novo interesse pelo local; a globalização na verdade explora a diferenciação local – sendo assim, é mais provável que vá produzir, simultaneamente, novas identificações globais e novas identificações locais;
 2ª) A globalização é muito desigualmente distribuída ao redor do globo, entre regiões e entre diferentes estratos da população dentro das regiões – o que segundo Doreen Massey se chama geometria do poder da globalização;
 3º) A questão de se saber o que é mais afetado por ela; uma vez que a direção do fluxo é desequilibrada, e que continuam a existir relações desiguais de poder cultural entre o Ocidente e o Resto, pode parecer que a globalização seja essencialmente um fenômeno ocidental (embora possa parecer que afete o mundo inteiro); na última forma de globalização, são ainda as imagens, os artefatos e as identidades da modernidade ocidental, produzidos pelas indústrias culturais das sociedades ocidentais (incluindo o Japão) que dominam as redes globais. A proliferação das escolhas de identidade é mais ampla no centro do sistema global que nas suas periferias. Os padrões de troca cultural desigual, familiar desde as primeiras fases da globalização, continuam a existir na modernidade tardia. Se quisermos provar as cozinhas exóticas de outras culturas em um único lugar, devemos ir comer em Manhattan, Paris ou Londres, e não em Calcutá ou Nova Delhi. 
8) Explique o conflito entre tendências ao hibridismo cultural e ao fundamentalismo no contexto da globalização.
R: Algumas pessoas afirmam que o hibridismo e o sincretismo (fusão entre as diferentes tradições culturais) são uma poderosa fonte criativa, produzindo novas formas de cultura, mais apropriadas à modernidade tardia que às velhas e contestadas identidades do passado. Outras, entretanto, argumentam que o hibridismo, com a indeterminação, a dupla consciência e o relativismo que implica, tem seus custos e perigos. Existem fortes tentativas para se reconstruírem identidades purificadas, para se restaurar a coesão, o fechamento e a tradição, frente ao hibridismo e à diversidade; dois exemplos são o ressurgimento do nacionalismo na Europa e o crescimento do fundamentalismo.
 O fenômeno do fundamentalismo é um revival do nacionalismo particularista e do absolutismo étnico e religioso, tendo como exemplo mais impressionante alguns estados islâmicos do Oriente Médio. Começando com a Revolução Iraniana, têm surgido, em muitas sociedades até então seculares, movimentos islâmicos fundamentalistas, que buscam criar estados religiosos nos quais os princípios políticos de organização estejam alinhados com as doutrinas religiosas e com as leis do Corão. Na verdade, esta tendência é difícil de ser interpretada. Alguns analistas vêem-na como uma reação ao caráter forçado da modernização ocidental: certamente, o fundamentalismo iraniano foi uma resposta direta aos esforços do Xá nos anos 70 por adotar, de forma total, modelos e valores culturais ocidentais. Alguns interpretam-no como uma resposta ao fato de terem sido deixados de fora da globalização. A reafirmação de raízes culturais e o retorno à ortodoxia têm sido, desde há muito, uma das mais poderosas fontes de contra-identificação em muitas sociedades e regiões pós-coloniais e do Terceiro Mundo. Outros vêem as raízes do fundamentalismo islâmico no fracasso dos estados islâmicos em estabelecer lideranças “modernizantes” bem-sucedidas e eficazes ou partidos modernos, seculares. Em condições de extrema pobreza e relativo subdesenvolvimento econômico (o fundamentalismo é mais forte nos estados islâmicos mais pobres da região), a restauração da fé islâmica é uma poderosa força política e ideológica mobilizadora e unificadora. 
TEXTO 10 – Augé
1)Defina lugar.
R: São espaços identitários, relacionais e históricos; são como indicadores do tempo que passa e que sobrevive; perduram como as palavras que os expressam e ainda os expressarão; a modernidade em arte presrva todas as temporalidades do lugar, tais como se fixam no espaço e na palavra. Espaço onde todos falam a mesma linguagem, e reconhecem que elas pertencem ao mesmo mundo; se completa pela fala, troca alusiva de algumas senhas, e na intimidade cúmplice dos locutores. O lugar é um espaço que tem um conjunto de elementos coexistindo dentro de uma certa ordem; espaço antropológico como espaço existencial. 
Lugar → espaço antropológico, espaço social em que se vive, domínio do local nas ciências sociais, que tem como conseqüências: ser identitário, relacional e histórico.
2) Defina não-lugar.
R: Espaços produzidos pela supermodernidade, que não são lugares antropológicos, não integram lugares antigos, mundo prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório e ao efêmero; nunca existe sob uma forma pura; lugares se recompõem nele; relações se reconstituem nele; nunca se realiza totalmente; são medidas da época: quantificáveis e que se poderia tomar somando, mediante algumas conversões entre superfície, volume e distância, as vias aéreas, ferroviárias, rodoviárias e os domicílios móveis considerados meios de transporte (aviões, trens, ônibus), aeroportos, estaçõese estações aeroespaciais, grandes cadeias de hotéis, parques de lazer, grandes superfícies de distribuição, redes de cabo ou sem fio. Segundo Michel de Certeau, o não-lugar é uma espécie negativa do lugar, uma ausência do lugar em si mesmo que lhe impõe o nome que lhe é dado; passagens.
Não-lugar → a organização contemporânea da sociedade produziu lugares em que não há espaço, e como conseqüência temos: impessoalidade/anonimato, interação (em vez de relação), e lugares de trânsito/passagem/consumo. Não é um espaço superdemocrático; é violento de certa forma, pois causa exclusão. Dependendo do sujeito, é a maneira pela qual ele ocupa o lugar.
3) O que diferencia pré-moderno, moderno e supermoderno?
R: Nas sociedades pré-modernas, o espaço e o lugar eram amplamente coincidentes, uma vez que as dimensões espaciais da vida social eram, para a maioria da população, dominadas pela presença, por uma atividade localizada. Pré-moderno = passado, tradição.
 O moderno = presença do passado no presente que o ultrapassa e o reinvidica. Assim sendo, conecta no presente o passado e o futuro. Há uma preocupação com a tradição. O novo se torna valor em si – só porque é novidade, é bom. 
 Supermoderno = presente → futuro, fluxo. É produtor de não-lugares, de espaços que não são em si lugares antropológicos, e que não integram lugares antigos. Um mundo onde se nasce em uma clínica e se morre numhospital, onde se multiplicam em modalidades luxuosas ou desumanas os pontos de trânsito e as ocupações provisórias (cadeias de hotéis e terrenos invadidos, clubes de férias, acampamentos de refugiados, favelas destinadas aos desempregados), onde se desenvolve uma rede cerrada de meios de transporte que são também espaços habitados, um mundo prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório e ao efêmero. “Que se dane” o patrimônio histórico, o que importa é que se siga o fluxo, o movimento. Isso dá aos espaços uma cara meio igual, residual, certa impessoalidade; não tem marca da história. Impõe às consciências individuais novíssimas experiências e vivências de solidão, diretamente ligadas ao surgimento e proliferação de não-lugares.
4) Por que o turismo exemplifica a visita a não-lugares?
R: O espaço turístico procede de um duplo deslocamento: do viajante, e das paisagens, das quais ele nunca tem senão visões parciais, instantâneos, somados confusamente em sua memóia e, literalmente, recompostos no relato que ele faz delas ou no encadeamento dos slides com os quais, na volta, ele impõe o comentário a seu círculo. A viagem estabelece uma relação fictícia entre o olhar e paisagem. Há espaços em que o indivíduo se experimenta como espectador, sem que a natureza do espetáculo lhe importe realmente. O turismo possui espaços onde o espectador em posição de espectador é para si mesmo seu próprio espetáculo. Muitos prospectos turísticos sugerem um tal desvio, um tal giro do olhar, propondo por antecipação ao amador de viagens a imagem de rostos curiosos ou contemplativos, solitários ou reunidos, que escrutam o infinito do oceano, a cadeia circular de montanhas nevadas ou a linha de fuga de um horizonte urbano repleto de arranha-céus: sua imagem, em suma, sua imagem antecipada, que só fala dele, mas porta um outro nome. O espaço do viajante seria assim o arquétipo do não-lugar.Os espaços turísticos nada mais são que pontos de passagem, espetáculos, locais de consumo, enfim, espaços de plástico, que caracterizam os não-lugares.
5) Qual o efeito dos não-lugares sobre as identidades?
R: O passageiro dos não-lugares só reencontra sua identidade no controle da alfândega, no pedágio ou na caixa registradora, obedecendo ao mesmo código que os outros, registrando as mesmas mensagens, respondendo às mesmas solicitações. Sendo assim, o espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude. Não interessa quem você é – você é só mais um nesses espaços. Quanto mais estiver nas redes das grandes cidades (onde há maior circulação de notícias), maior a probabilidade da personalidade (que é um produto, uma marca da mídia) ser reconhecida (ambiente globalizado) – a vida dela é um produto. Passageiro, cliente, consumidor = anônimo na supermodernidade; é mais um no meio de muitos. 
6) Relacione não-lugares e globalização.
R: A globalização é o cerne do problema. A supermodernidade é efeito dela; para existir, até mesmo com materiais de infraestrutura, ela é uma rede de não-lugares; é um mundo de passageiros e consumidores, e ao mesmo tempo de pessoas que são excluídas – o nível de exclusão social atualmente é muito maior que há cinqüenta anos).
- Segue um esquema do Bizerril sobre Interação X Relação:
	Interação
	Relação
	instantânea
	duração
	.....
	papéis, instituições
	(descompromisso)
	compromisso
	......
	conseqüências mais explícitas
	imprevisibilidade
	previsibilidade
	não-lugares
	lugares
	Possuem modos de funcionamento diferentes

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