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Para a terceira prova Estudo Dirigido Textos 15 a 20

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ESTUDOS DIRIGIDOS 3/2010
TEXTO 15 - LeBreton
1) Explique o programa da sociobiologia e a crítica do autor.
R: O programa da sociobiologia é a intenção de tornar o homem o produto do corpo; as interações humanas são determinadas no plano biológico. A inteligibilidade da ação humana, não estando enraizada na dinâmica do liame social, deveria ser simplesmente pesquisada no cérebro do homem. O sistema simbólico das relações entre atores, o funcionamento coletivo das comunidades humanas estão sob estreita dependência de uma programação genética, determinada durante o desenvolvimento da filogênese, fazendo da cultura um simples artefato biológico.
 O autor critica a sociobiologia por se afastar da preocupação de observar o homem real que vive em dada sociedade num dado momento, fundando este último como natureza, preferindo o estudo dos mecanismos neurológicos dos comportamentos ao estudo das relações do homem com o mundo, e de fazer vista grossa às formidáveis variações culturais. Os comportamentos sociais não são determinados pela seleção natural, pela genética, e o corpo é uma construção social e cultural com incontáveis peculiaridades e variabilidades. 
2) Explique: “As características físicas e morais, as qualidades atribuídas ao sexo, dependem das escolhas culturais e sociais e não de um gráfico natural que fixaria ao homem e à mulher um destino biológico”.
R: Essa passagem nos mostra que a condição do homem e da mulher não se inscreve em seu estado corporal, mas sim construída socialmente. Segundo Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-se mulher” – o mesmo ocorrendo com o homem. É a interpretação social que faz a diferença dos sexos orientando as maneiras de criar e educar segundo um papel estereotipado que se espera. As qualidades morais e físicas atribuídas ao homem ou à mulher não são inerentes a atributos corporais, mas à significação social que lhes damos e às normas de comportamento implicadas.
3) Explique: às partes do corpo, aos órgãos e funções do corpo humano são atribuídos representações e valores diferentes em função dos grupos sociais.
R: A sociedade, o universo inteiro tem um lado sagrado, nobre, precioso, e outro fêmea, fraco, passivo ou, em duas palavras, um lado direito e um lado esquerdo. O corpo metaforiza o social e o social metaforiza o corpo. No interior do corpo são as possibilidades sociais e culturais que se desenvolvem. Em cada cultura as diferentes partes do corpo possuem sua representação e importância.
4) Explique: o racismo repousa sobre uma relação imaginária com o corpo.
R: A raça é uma espécie de clone gigantesco que, na imaginação do racismo, faz de cada um dos membros fictícios que a compõem um eco incansavelmente repetido. A história individual, a cultura, a diferença são neutralizadas, apagadas, em prol do imaginado do corpo coletivo, subsumido sobre o nome de raça.
 O processo de discriminação repousa no exercício preguiçoso da classificação: só dá atenção aos traços facilmente identificáveis e impõe uma versão reificada do corpo. A diferença é transformada em estigma.
 “Raça” não é fato, e nem é essência, mas sim um construto social. Sendo assim, não existe raça, e sim racismo. A “raça” é o fenótipo (capacidade, atributos, características).
5) Descreva a ambivalência das sociedades ocidentais na forma de lidar com as pessoas com deficiência.
R: Nossas sociedades ocidentais fazem da deficiência um estigma, um motivo sutil de avaliação negativa da pessoa, colocando-a como se fosse um “ser” deficiente, ao invés de “ter” uma deficiência. O contrato tácito que preside o encontro do homem que tem uma deficiência e do homem “válido” se sustenta pelo fato de fingir que a alteração orgânica ou sensorial não cria nenhuma diferença, nenhum obstáculo, mesmo que a interação possa ser incomodada por esse fato que comumente adquire uma dimensão considerável. Sugerimos que ele aceite a condição e nos aceite, como forma de agradecimento pela tolerância natural que nunca realmente lhe concedemos.
 - exclusão
Ser humano X - estranhamento
 - espaço “descapacidade” (é determinada pelo espaço)
6) De que formas a aparência corporal constitui um capital social?
 
R: Capital social: aparência - corpo = exterioridade, consumo, prazer
 - oportunidade, vantagens
 Para que o sujeito seja incluído como um indivíduo comum, suficiente para seus papéis sociais, ele não pode ter em seu corpo marcas que lhe ponham em posição supostamente inferior, em que o indivíduo traz em si marcas alvo de preconceitos (tatuagens, piercings, alargados de orelha, corte de cabelo), já que o indivíduo/grupo preconceituoso apenas enxerga o corpo em detrimento do indivíduo que o habita, e marcas de deficiência. [A deficiência marca o indivíduo como alguém que necessita de suportes maiores que os oferecidos ao sujeito normal, apesar do discurso social ser de que a deficiência que se tem não diminui a importância, o valor ou dignidade do deficiente (enquanto que o se tem fora desse discurso é a marginalização do deficiente que é assistido pela previdência e mantido fora da convivência social.] Se a pessoa não tem boa aparência = falta de caráter, imoralidade. 
 Quando livre das marcas marginalizadoras, o que se tem do corpo é a pura máscara do indivíduo que, para manter-se incluso, regula-a seguindo as instruções da moda, lembrando-se sempre que a avaliação a seu respeito é feita muitas vezes a partir da sua imagem (corpo). O investimento sobre o corpo se apresenta na compra de roupas, cosméticos, práticas esportivas e principalmente na manutenção da juventude e forma. A fundamentação para esse investimento muitas vezes é situado na sedução, mas tem-se implícito uma fundamentação na moralidade, sendo equivalente à moralidade do julgado. As pessoas que fazem plásticas, ou utilizam algum artifício para modificar o corpo (cyborguização do corpo) tem uma noção sociológica, pois investem em si para serem contratadas e bem quistas pela sociedade. Todas essas características complementam o conceito de “capital-aparência” de Pagés-Delon. Para ele esse capital é trabalhado principalmente pelas agências de comunicação em pessoas públicas, que devem ter sua imagem gerenciada para que o melhor rendimento seja alcançado.
 O que se tem da relação corpo e classe social é o valor que o corpo assume em cada classe. Para as classes mais baixas ou culturas tradicionais, as quais o trabalho braçal ainda é a principal fonte de renda para o provimento da família, o corpo assume papel puramente instrumental, menos atentos para a saúde, e preocupando-se apenas com a salubridade corporal quando percebe-se a dificuldade para executar o trabalho. As classes média e alta tem mais atenção com o corpo tomando atitude preventiva quanto à saúde; tendo o corpo são, a valorização do estético toma espaço. “Na medida em que o nível de instrução cresce, diminui a importância e a execução de trabalhos manuais em relação ao trabalho intelectual, e então a relação do indivíduo com o corpo é igualmente modificada.”
 
7) Descreva o controle bio-político característico dos dispositivos disciplinares.
R: - medicina/ - farmacêutica
Biopolítica Estado–nação - psicologia X Corporações transnacionais - cosmética 
 - burocracia (biopolítica contemporânea) - fitness
 
 - Estado-nação – funciona à base do controle do estado: a pessoa não tem metas (não pode ser criativa, e faz sempre a mesma coisa); idéia de controle iniciado desde o capitalismo industrial, em que há um gerente que vai ficar atrás da máquina controlando sua presença ou não no trabalho.
 - Corporaçõestransnacionais – controle da iniciativa privada; funciona pela lógica do consumo, do desejo: o funcionário deseja ser promovido, e acaba trabalhando mais (escravidão voluntária); ou seja, as pessoas são cooptadas, e ainda assim se sentem felizes, acreditam no que estão fazendo; se você quer sexo, tem que entrar na lógica, senão ou vai ter pouco, ou não vai ter, ou ainda não vai poder escolher.
 O controle biopolítico visa o controle do comportamento do indivíduo. O poder não é um privilégio que pode mudar de mãos como se fosse um instrumento; ele é um sistema de relação e imposição de normas; é muito mais exercido que possuído. A anatomia política do detalhe, constitutiva desses dispositivos (de controle), é encontrada na organização do sistema penitenciário, na organização das escolas, dos colégios, dos hospitais, do exército, ou das montadoras. O controle da atividade implica o controle do tempo dos atores envolvidos, a elaboração gestual da ação que a decompõe em elementos sucessivos até que seja conseguida a mais completa correlação do corpo e do gesto a fim de se alcançar o melhor rendimento. Uma preocupação de uso exaustivo esforça-se para não deixar de lado nenhum dos recursos físicos e morais do ator (capitalismo industrial, referenciado acima). 
8) Explique a seguinte hipótese: os corpos objetivam os gostos culturais de classe.
R: As relações com a corporeidade inscrevem-se no interior das classes e culturas que orientam suas significações e seus valores. Por exemplo, as classes mais privilegiadas têm tendência a estabelecer uma fronteira mais tênue entre saúde e doença e a adotar, com relação a esta última, uma atitude mais preventiva para evitar qualquer surpresa. Na medida em que subimos na hierarquia social, que o nível de instrução cresce e que diminui correlativa e progressivamente a importância do trabalho manual em relação ao trabalho intelectual, o sistema de regras que rege a relação do indivíduo com o corpo é igualmente modificado. Quando a atividade profissional é essencialmente uma atividade intelectual que não exige nem força nem competência física particular, os sujeitos sociais tendem a estabelecer uma relação consciente com o corpo e a tomar mais cuidado com as sensações orgânicas e à expressão dessas sensações e, em segundo lugar, a valorizar a graça, a beleza, a forma física, em detrimento da força física.
 Habitus = gostos de classe – nossa origem social está inscrita no corpo (falar, vestir, comer, etc.); consumo, modos de vida (o jeito que as pessoas vivem imprime uma marca no corpo), estética, alimentação, cuidados corporais.
9) Explique: na (pós-?)modernidade, o corpo se torna o maior objeto de investimento individual e social.
R: Na pós-modernidade, impera o sujeito da exterioridade – norma da qual se você estiver fora, é excluído (existe uma pluralização das possibilidades); há um valor de troca em ter um certo corpo. Caracterizada ainda pela crise das instituições sociais modernas, em que a energia que se gastava com religião, e outros, volta-se para o próprio indivíduo, para sua individualidade; o medo de abandonar o trabalho pelo que se sonha e se deseja é grande (lógica do escravo feliz). As instituições sociais modernas regulavam as atividades do espaço público; na medida em que essas coordenadas vão perdendo sentido, elas se voltam para mim (narcisismo).
 O corpo é promovido ao título de “significante de status social”. Existe um narcisismo dirigido e funcional da beleza a título da valorização e da troca de símbolos. O interesse febril que se dedica ao corpo não é de modo algum espontâneo e “livre”, é a resposta a imperativos sociais tais como a “linha”, a “forma”, o “orgasmo”, etc. O corpo se impõe como lugar de predileção do discurso social, e está associado a um valor incontestável. O homem é transformado em um objeto a ser moldado, modificado, modulado conforme o gosto do dia; o corpo se equivale ao homem no sentido em que, modificando-se as aparências, modifica-se também o homem.
Objeto de investimento - externalização do sujeito, performance, aparência
 - individualização
10) A que o autor atribui o gosto contemporâneo pelos esportes de risco e aventura?
R: Risco e aventura -superação dos limites/maior segurança
 -adrenalina, maiores estímulos sensoriais, aceleração, experiências mais intensas
 Adrenalina – P. Stoller (“anestesia cultural”) = intensificar as sensações cada vez mais
 Na busca desses esportes, se não há adrenalina, fica dormente, não está vivo (indústria do prazer – objetos que produzem cada vez mais prazer); busca de prazeres frente ao stress, tensão diária, movimento/fluxo tenso.
 A paixão moderna pelas atividades de risco nasce pela profusão dos sentidos que o mundo contemporâneo sufoca; os limites dados pelo sistema de sentidos e valores perdem sua legitimidade; então, as explorações dos extremos ganham impulso: busca de performances, proezas, velocidade, imediatismo, frontalidade, aumento do risco, uso exagerado dos recursos físicos. A procura de sentidos é fortemente individualizada. As respostas são mais pessoais, solicitam os recursos criativos do indivíduo. Experimentar, à custa do corpo, a capacidade íntima de olhar a morte (geradora de sentido e valor quando a ordem social se esquiva desse papel) de frente sem fraquejar. Somente esse contato, mesmo que puramente metafórico, parece ter força suficiente para impulsionar uma relação com o mundo carregada de sentido, na qual o gosto pela vida se reconstitui. Quando a sociedade é incompetente em sua função antropológica de orientação da existência, resta interrogar a morte para saber se viver tem sentido.
11) Explique: no contexto pós-humano, o corpo se torna um empecilho ou acessório de identidade e não uma parte constituinte do sujeito.
R: Pós-modernidade fim do corpo = empecilho, acessório – de identidade. Quanto mais o corpo perde o valor moral (pós-modernidade), mais cresce o valor técnico e mercadológico. Sendo assim, o corpo não é um destino, pois posso ser o que quiser (um lagarto, uma vaquinha, um porco). Ele ficou obsoleto; atualmente existe uma série de possibilidades, mas tenho que pagar por elas, tenho que ter dinheiro para tal. A sensação de obsolescência do corpo se deve em grande parte aos recursos tecnológicos e possibilidades de transformação. Corpo: interface natureza/cultura; multiplicidade.
 
12) Explique a especificidade teórica e metodológica da sociologia/antropologia do corpo.
R: A sociologia paliçada ao corpo desenha uma via transversal no continente das ciências sociais, cruza permanentemente outros campos epistemológicos (história, etnologia, psicologia, psicanálise, biologia, medicina, etc.) diante dos quais afirma a especificidade de seus métodos e ferramentas de pensamento. A análise que faz dificilmente é desenvolvida sem o controle das influências que recebe dessas disciplinas, sem mantê-las no nível respectivo de pertinência sob o risco de diluir seu objeto. 
 O corpo é a interface entre o social e o individual, entre a natureza e a cultura, entre o fisiológico e o simbólico; por isso, a abordagem sociológica ou antropológica exige prudência particular e a necessidade de discernir co precisão a fronteira do objeto.
TEXTO 16 – Segato
1) Qual o ofício do antropólogo?
R: Examinar o universo da sociabilidade em busca do significado que os atores sociais atribuem aos seus próprios atos, situados, interessados, envolvidos em suas fantasias individuais e em desejos coletivamente instigados, guiados pela cultura de seu lugar e seu tempo. 
 Desvendar a lógica nativa (a qual é possível ser violenta), seu sistema de representação, valores, práticas, que dão sentido à pessoa. Todos estamos mergulhados num sistema sexista. Como na nossa sociedade cotidiana justificamos/reiteramos o padrão informado por uma lógica? A formacomo educamos, fazemos piada – essa violência não é individual, tem um sentido dentro de uma certa lógica cultural.
2) Explique: a estrutura hierárquica das relações de gênero “normais” torna invisíveis vários tipos de violências e desigualdades cotidianas.
R: Tradição/costume – naturaliza a violência. Esta estrutura hierárquica é posta pela moral e é aceita como um fenômeno social normativo que visa proteger a instituição da família. A mulher é a figura representativa do culto ao materno, ao sagrado, uma figura deificada que presume a manutenção da família e que deve ser mantida num lugar social pré-determinado em favor da família e da sociedade, mesmo que em detrimento da própria mulher, sendo muitas vezes subjugada e fazendo com que se sinta numa posição secundária na relação. 
 
3) Qual o objetivo do artigo?
R: Explicitar a teoria da violência hierárquica, entendendo seu sentido, e pensar nos vários contextos dela; orientar para a consciência e a prática da necessidade de erradicar a violência de gênero, que é inseparável da própria reforma que constitui e afeta as relações de gênero como nós conhecemos, e sua aparência considerada normal, que não é modificada por decreto, contrato e lei.
4) Defina, do ponto de vista legal, violência contra a mulher.
R: De acordo com o Art 1º da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, também conhecida como Convenção de Belém do Pará, realizada em 1995, violência contra a mulher é “qualquer ato ou conduta baseado no gênero que cause morte, dano, lesão física, sexual ou psicológica tanto na esfera pública como na privada.” Em âmbito doméstico compreende, entre outros, estupro, violação, maus tratos e abuso sexual; em âmbito da comunidade, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus tratos, tráfico de mulheres, prostituição forçada, seqüestro e assédio sexual no lugar do trabalho, assim como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar.
5) Explique e problematize o ponto de vista da autora: a gramática formadora da subjetividade masculina é pautada pela violência.
R: Gramática da masculinidade: não existem feminilidade e masculinidade no singular; nem todo homem é violento; o macho “dá pancada”. Para ser considerado como homem, másculo, há que se ter atitudes agressivas em relação a comportamentos do cotidiano, que vão dos mais simples (posição de pernas cruzadas) até as formas de desejo, pensamento e ação, de maneira que não é permitido ao macho “fugir” na iminência de uma simples discussão, e sim provar sua masculinidade pelo confronto físico. O problema é a geração da violência endêmica, e a falta de consciência da necessidade de melhor convívio com o semelhante, aumentando ainda mais a violência não só entre os homens, mas como também de gênero. 
6) Explique: as relações entre lei e códigos de status da moral são contraditórias.
R: Lei (moderna, igualdade) X Moral (tradicional, hierárquica): a lei tradicional do status infiltra-se na lei moderna do contrato jurídico. O enfoque das leis está na proteção do patrimônio e da herança familiar que passam pelo corpo feminino e não pela pessoa da mulher agredida; tanto é que os crimes de estupro e atentado violento ao pudor enquadram-se, no Brasil, entre os crimes contra os costumes e não contra a pessoa. Fica clara, no discurso legal, a condição da mulher como status-objeto, status-instrumento de linhagem e da herança, status-dependente e vinculado à honra masculina.
 A estrutura hierárquica de gênero, fundamentada num status moral, contamina as leis. Por trás do contrato igualitário das leis, aparece um sistema de status organizador da sociedade em gêneros desiguais, da mesma forma que as raças, as minorias étnicas e nações desiguais, o que promove uma relação francamente contraditória entre lei e moral. Como exemplo disso, no Brasil os crimes de violência doméstica contra a mulher, mesmo em casos graves, são normalmente encaminhados aos Juizados Criminais Especiais, porque são tratados como crimes de “lesão corporal”, considerados infrações menores, com penas leves. A ocorrência mais freqüente da violência de gênero faz com que esse tipo de crime seja interpretado como mais comum e, portanto, com menos repercussão que outros menos comuns. 
7) Explique: o estupro pode ser lido como um crime moralizador, que restaura a hegemonia masculina.
R: O estupro surge como um ato disciplinador e vingativo contra a mulher abordada. É um ato que vem sob o mandato para punir e retirar a vitalidade de uma mulher percebida como desafio e deixando a sua posição para o estatuto moral tradicional. Assim, para muitos, o crime de estupro é um castigo, e o estuprador não é um criminoso, mas um moralista vingador da moralidade. Muitos deles são os mais moralistas dos homens, conservadores, “caretas”, e não possuem um perfil patologizante. Estupro, crime moralizador – disciplinar, “colocar no seu lugar”. Na hora de se aplicar a lei no tribunal, é utilizado o argumento da moral, utilizado por defensores de estupradores, de que a culpa do estupro foi da vítima (a que horas foi estuprada? Onde estava? Com qual roupa? Foi pra lá porque queria!).
8) Descreva a tensão entre a luta pelos direitos de minorias étnicas e as lutas pelos direitos de mulheres que pertencem a minorias étnicas.
R: Mulheres X Minorias étnicas = Qual direito vem na frente: o dos índios, ou das mulheres (no caso de uma mulher indígena)? A tensão está na lealdade inquestionável e inegociável para o povo a que pertence, pois há o risco de fragmentar a frente de batalha que considera principal: a luta pelos direitos étnicos. Reinvidicar seus direitos com base no nível individual parece ameaçar a permanência dos direitos coletivos os quais estão firmados no direito comunitário da terra e uma economia de base doméstica que depende da consideração de gênero, em uma divisão sexual do trabalho tradicional. E isso enfraquece as reinvidicações das mulheres indígenas, por exemplo. 
9) Enumere as contribuições da lei para a transformação das subjetividades de gênero.
R: Transformação das subjetividades: a lei é útil para que possamos ensinar as pessoas sobre o que é certo ou errado; o ponto de contribuição da lei é a dimensão educativa; por exemplo, instalar a concepção/representação que o cinto de segurança é uma peça obrigatória. 
 A lei aponta nomes para as práticas e experiências desejáveis e indesejáveis para uma sociedade. Nesse sentido, o aspecto mais interessante da lei é que constitui um sistema de nomes. Os nomes, uma vez conhecidos, podem ser acatados ou debatidos. Sem simbolização não há reflexão, e sem reflexão não há transformação: o sujeito não pode trabalhar sobre sua subjetividade senão a partir de uma imagem que obtém de si mesmo. O discurso do direito é um desses sistemas de representação que descreve o mundo como ele é e deve ser prescrito, pelo menos da perspectiva de legisladores eleitos. Nela, o sujeito tem oportunidade de reconhecer-se e identificar aspectos de seu mundo em nomes que a lei coloca à disposição, podendo observar o que ela sugere como falhas e concordar com sua finalidade, ou refutá-los no campo político a partir de um sentimento ético dissidente e até desobediente. Mas estabelece assim uma dinâmica de produção de moralidade e desestabilização do mundo como paisagem natural. A formulação da lei previne a penhora dos sujeitos sociais em práticas prescritas como imutáveis. Através da produção das leis e da consciência por parte dos cidadãos de que as leis se originam em um movimento constante de criação e formulação, a história deixa de ser um cenário fixo e preestabelecido, um dado da natureza, e o mundo passa a ser reconhecido como campo de disputa, uma realidade relativa, mutável, plenamente histórica. Este é o verdadeiro golpe na ordem do status. Essa consciência desnaturalizadora da ordem vigente é a única força que o desestabiliza. 
 Os protagonistas do drama dogênero não são mais vistos como sujeitos em uma paisagem inerte, inertes como sujeitos fora da história, indivíduos para quem o tempo não implica a responsabilidade de transformação e cuja consciência se opõe à possibilidade de decidir e escolher entre alternativas, preso em uma natureza-essência-outro, um progrma biológico visto como inexorável e, portanto, inevitável. 
10) Apresente a relação que a autora estabelece entre violência, sistema de status e sistema de contrato, por ela denominada de célula violenta, ou estrutura elementar da violência, que abrange não só os problemas de gênero, mas também de raça, etnicidade e nacionalidade. (questão de prova – galera, ela ficou maiorzinha, justamente para que todas as idéias referentes possam ser utilizadas na resposta, ok? Mas o primeiro parágrafo foi a resposta que o Bizerril explicou na sala).
R: Grupo/sistema de status: argumento da moral hierárquica. Há um grupo dominante, que estabelece um sistema de contrato, violento, por meio da subordinação de categorias subalternas, em que essas categorias tem que prestar tributos e homenagens aos dominantes; há uma lógica de desigualdade que considera ato moral e corretas certas formas de violência.
 As estruturas de violência elementar residem na tensão constitutiva e irredutível entre o status do sistema e do sistema de contrato. O status do sistema é baseado na usurpação ou extorsão do poder feminino por parte dos homens. Essa extorsão garante o tributo de submissão, domesticidade, moralidade e honra que reproduz a ordem de status, na qual o homem deve exercer seu domínio e prestígio ante seus pares. Ser capaz de realizar essa extorsão de tributo é um pré-requisito imprescindível para participar da competição entre iguais com que se desenha o mundo da masculinidade. É na capacidade de dominar e exibir prestígio que se assenta a subjetividade dos homens e é essa posição hierárquica, que chamamos masculinidade, que seu sentido de identidade e humanidade se encontram entranhados. A estrutura dos rituais de iniciação masculina e os mitos de criação falam universalmente desta economia de poder baseada na conquista do status masculino mediante o expurgo da mulher, sua contenção no nicho restrito da posição que a moral tradicional lhe destina e o exorcismo do feminino na vida política do grupo e dentro mesmo da psique dos homens.
 Entretanto, a mulher participa desse ciclo, dessa economia simbólica, refazendo-se constantemente como sujeito social e psíquico diferenciado capaz de autonomia, sendo que uma parte se adapta à posição que lhe é atribuída, e a outra não cabe inteiramente em seu papel nessa ordem de status; é livre, não submissa – posição híbrida.
 A falta de correspondência entre as posições e subjetividades dentro desse sistema articulado, mas não inteiramente consistente, produzem e reproduzem um mundo violento. Esse efeito violento resulta do mandato moral e moralizador de reduzir e aprisionar a mulher em sua posição subordinada, por todos os meio possíveis, recorrendo-se à violência sexual, psicológica e física, ou mantendo a violência estrutural da ordem social e econômica (feminização da pobreza = fato das mulheres ganharem muito menos que os homens).
 Esta também é a célula violenta que é sentida no coração de toda relação de poder entre os termos classificados como diferentes, seja pela marca de raça, etnia, nacionalidade, região ou qualquer registro para operar no tipo de relações que chamamos hoje de estrutura de colonialidade. É essa célula de usurpação e resistência baseada num costume que chamamos de moral, com raízes e dinâmicas patriarcais, que se reproduz e prolifera nas economias de poder onde o status se infiltra no contrato e no direito público.
 Portanto, é possível afirmar que o sistema não se reproduz automaticamente, nem está predeterminado a reproduzir-se como conseqüência de uma lei natural, senão através de um repetitivo ciclo de violência, em seu esforço pela restauração constante da economia simbólica que estruturalmente organiza a relação entre os status relativos de poder e subordinação, representados pelo homem e pela mulher como ícones das posições masculina e feminina, assim como de todas as suas transposições no espaço hierárquico global.
11) Explique: o tema de gênero concerne também aos homens, como o tema da raça, também aos brancos.
R: A luta anti-sexista cabe aos homens, e a racista cabe aos brancos, pois é pior para todos que a desigualdade opere sobre todo mundo dessa forma. Ou seja, assim como a humanidade se deteriora e se degrada a cada ato racista, o sexismo também deteriora a humanidade e a degrada quando pressionado pela moral tradicional e do regime de status a reconduzir-se todos os dias, pela força ou pela astúcia, a sua posição de dominação.
TEXTO - 17 Ferreira
1) Defina semiologia médica.
R: Á a área da medicina que estuda os métodos de exame clínico em busca de sintomas e sinais de doença, de modo a buscar o corpo como gerador de signos. É na procura dos sintomas e sinais que o médico coordena todos os elementos para construir o diagnóstico e deduzir o prognóstico.
 Diagnóstico por meio de um catálogo de classificação.
2) Diferencie sintoma e sinal.
R: Sintomas - sensação tradução Sinal - observável
 - experiência subjetiva - classificação médica
 O sintoma diz respeito única e exclusivamente ao doente, é o caráter invisível da doença, sensações que o indivíduo experimenta e só pode expressar por meio de palavras.
 O sinal, como manifestação objetiva, faz parte do aspecto visível da doença e diz respeito principalmente ao domínio médico, pois se constitui da observação clínica e do exame físico.
 Se o médico maneja bem o sistema de saúde e suas técnicas (sem levar em conta também somente o fator custo – remédios e exames), tem como analisar objetivamente o sintoma.
3) Descreva a estrutura da consulta, considerando-a o cenário para a prática da semiologia médica.
R: Consulta - entrevista Laboratório
 - exame clínico
 É o contexto, o lugar em que a tradução acontece, ou deveria acontecer. A consulta médica é uma ação que se desenrola em um tempo e espaço definidos, em que os atores sociais – médico e paciente – possuem atos e falas que seguem uma sequência determinada, desempenhando comportamentos específicos, isto é, papéis sociais ditados pelas regras sociais. Portanto, a consulta médica é um espaço de interação simbólica onde o comportamento humano envolve não somente uma resposta direta às atividades, mas também uma resposta às intenções dos outros. O paciente discorre sobre seus sintomas e responde às perguntas do seu médico. O médico, desde o momento em que o paciente entra no consultório já passa a colher dados que possam auxiliar na sua interpretação: o andar, o trajar e a linguagem do paciente são alguns dos elementos que fazem parte dos dados colhidos.
 É estruturada em entrevista, em que o paciente discorre sobre as sensações corporais que por ele foram interpretadas como sintomas (e sobre as quais o médico interpretará, inclusive sobre aspectos não ditos), e exame físico, que é o instrumento básico utilizado pelo médico que envolve seus sentidos (visão, audição e tato).
4) Qual o problema abordado pela autora?
R: Problema: tradução cultural – representação sobre corpo, saúde, doença.
5) Explique: as próprias sensações fisiológicas são construções sociais.
R: Sensações– construções sociais - representações, linguagem
 - condições sociais objetivas
 O que é a dor, desconforto insuportável? Dependendo da classe social e do trabalho, em que a pessoa usa o corpo para trabalhar, a dor é entendida de outra forma. As condições de vida deixammarcas concretas no corpo.
 As sensações são construções sociais porque a percepção delas como alterações faz parte de um aprendizado que diz respeito a significados socialmente compartilhados. Esse aprendizado faz parte de um conhecimento que é dado pelo grupo social e que acaba por influenciar a percepção dos sintomas e a maneira como são interpretados. 
6) Explique a noção corpo sígnico.
R: Corpo sígnico – superfície do texto cultural, significação social das sensações corporais. O corpo sígnico, corpo doente, porta significados sociais, à medida que sensações corporais experimentadas pelos indivíduos e as interpretações médicas dadas a estas sensações são feitas de acordo com referenciais específicos a estes dois pólos. A capacidade de pensar, exprimir e identificar as mensagens corporais está ligada a uma interpretação que procura determinada significação. Esta interpretação está na dependência direta da representação de corpo e de doença vigente em cada grupo. O corpo pode ser tomado como um texto, passível de leitura e interpretação, tanto pelo doente na expressão dos sintomas como pelo médico na busca de sinais. Dessa forma, as mensagens emitidas pelo corpo tornam possível que médico e paciente realizem uma leitura destas mensagens que serão interpretados como sintomas e sinais, levando a um significado de doença ou à ausência dela.
7) Descreva o contexto etnográfico da discussão.
R: Vila de classe popular, Lomba do Pinheiro, zona leste de Porto Alegre; bairro territorialmente extenso e de grande densidade populacional. É uma periferia. Grande parte dos moradores provém do interior do Estado, com média de renda mensal de dois salários mínimos. 
8) Explique: “dor é uma sensação subjetiva”.
R: Dor – subjetiva - não-observável
 - variação grupal e individual
 - não corresponde à intensidade da lesão
 Há pessoas que lidam muito bem com as atividades cotidianas, e outras que não suportam. Pessoas que trabalham usando o corpo (boxeadores, estivadores, pedreiros, faquires) tem mais probabilidade de suportarem a dor do que aquelas que trabalham em escritório, no ar-condicionado (variação grupal).
 É subjetiva porque qualquer informação sobre ela há de provir apenas daquele que a sente. Porém,o fato de ser uma resposta biológica universal e individual a estímulos nocivos, advindos do interior do corpo ou fora dele, não exclui que sua percepção e tolerância variem conforme o grupo social. A sensação de dor, os comportamentos que a envolvem, quer verbais ou não, até as atitudes que visam remover ou não sua fonte, modificam-se de acordo com o contexto social.
 Ela é indicada como sensação desprazerosa, reportando à idéia de sofrimento. De fato, alguns não se consideram doentes se não a sentirem. Do ponto de vista médico, a dor não é predominantemente negativa, à medida que é um indício de patologias orgânicas.
9) Os pacientes ouvidos na etnografia referem-se às suas doenças em termos de dor e fraqueza.
Discuta as implicações destas representações para a saúde desta população e para a atuação do
profissional de saúde.
R: Dor/fraqueza – discussão do LeBreton. Cuidado do corpo = instrumental, cuidar da saúde = cuidar do instrumento de trabalho; há trabalhos que se a pessoa não for, não ganha – trabalhador sem carteira não tem direito trabalhista; quanto menos qualificada, menos direitos. Existem pessoas que só procuram ajuda médica em caso de extrema dor, fadigas que as impedem de ir ao trabalho.
 As metáforas para descrever dor/fraqueza física muitas vezes são usadas no cotidiano para explicitar qualquer tipo de sofrimento moral, em que elas são tomadas como o próprio sofrimento em si mesmo, em expressões do tipo: “tal fato foi muito doloroso”. O sintoma fraqueza igualmente abrange vários significados que vão desde uma constituição física fraca e debilitada, como também sugere desânimo, defeito ou mediocridade, sendo difícil separar aspectos físicos e morais pertinentes a esse sintoma. Quanto ao aspecto físico, a fraqueza pode sugerir alterações transitórias, correspondendo a hábitos pouco saudáveis como também a doenças orgânicas mais graves. 
 O profissional da saúde deve saber interpretar com bom senso a relação entre “dor x fraqueza” para a pessoa, não só pelos usos feitos pelas culturas populares acerca dos sintomas (para que se possa associá-lo a algum diagnóstico objetivo), como também para verificar em que casos poderia estar diagnosticando realmente a pessoa, tratando-a objetivamente, e em que casos caberia um acompanhamento multidisciplinar (encaminhamento para outros profissionais da saúde). 
10) Explique: “a doença é uma construção social”.
R: Doença: construção social - interpretação das sensações
 - modos de vida
 Porque o corpo pode ser percebido segundo uma pluralidade de aspectos: para a Semiologia Médica, o corpo do outro é sujeito a uma emissão de sintomas e sinais engendrada por sua prática específica; o indivíduo, porém, também realiza sua interpretação destes mesmos processos, que segue uma lógica particular, mas nem por isso legítima.
 Sendo assim, para o paciente as representações dos sintomas são influenciadas por vários elementos, como suas representações de corpo em geral, suas experiências individuais, e as compartilhadas por suas redes de relações. Contribui para as representações dos pacientes a apropriação do discurso médico, que alia aspectos deste discurso com suas próprias representações sobre o corpo e a doença. O médico, por sua vez, ao interpretar os sintomas do paciente, se utiliza de seu saber legitimado pela ciência, aliado à aquisição de um saber sobre o popular, o que se dá através de sua prática e que é enfatizado na sua formação médica.
 
11) Explique: em função da relação entre médico e paciente, ocorre uma circularidade de saberes.
R: As representações médicas acabam sendo incorporadas pelo saber popular; trânsito de mão dupla entre o saber científico e o saber popular (que é complementado também pela influência midiática).
 As metáforas usadas pelos pacientes muitas vezes são incorporadas no próprio discurso médico. Tal fato advém tanto de sua formação, e que a literatura médica se esmera em valorizar, como também decorre do contato com os pacientes. É o caso do termo “pontada”, que os médicos empregam para fornecer aos seus pacientes o diagnóstico de pneumonia. Dessa forma, termos como “batata da perna”, “grão do olho” e outros são apreendidos pelo médico à medida que este consegue vislumbrar aspectos do cotidiano de seus pacientes e que estão envolvidos nas representações de corpo. Da mesma forma, a familiarização com termos técnico-científicos de uso clínico e a aquisição de novas categorias de percepção do corpo pelos pacientes são o resultado do contato com o médico (circularidade de saberes).
 Dessa forma, tanto as representações dos pacientes como as representações médicas são constituídas de saberes apropriados de ambos os pólos.
TEXTO 18 - Rabelo et al.
1) Qual o objetivo do artigo?
R: Objetivo: análise comparada de terapêuticas religiosas no contexto da saúde mental. 
2) Explique os dois aspectos centrais da perspectiva teórica de Rabelo: “os modos pelos quais a experiência da doença é reconstruída no interior do domínio religioso e as formas pelas quais a experiência religiosa da cura é absorvida e repercute no cotidiano”.
 Experiência do ritual na cura
R: (Re) interpretação/ressignificação repercussão no cotidiano: mudança de posicionamento, atitude 
 A experiência do ritual na cura ocorre a partir de um encaminhamento do simbolismo religioso para resolver seu problema. A interpretação é o primeiro passo que visa a transformação da situação por meios simbólicos, etem como ponto de partida a percepção da narrativa subjetiva. O que altera o comportamento (mudança de posicionamento) é uma experiência significativa do sujeito que ocorre na experiência do ritual na cura. As religiões soa procuradas por diversos motivos (sofrimento, consolo, sociabilidade, relacionamento amoroso, turismo, pesquisa, etc). Somos tocados pela situação (experiência do ritual), mais do que pela vontade de ser.
 Os dois aspectos se referem ao fato de que os sistemas religiosos oferecem uma interpelação à doença, ligada às relações entre o humano e o sagrado na tentativa de promover uma reorientação do comportamento, conduzindo o doente a situar-se segundo novas formas frente aos outros e a si mesmo. É o ritual de transformação da experiência de aflição. Os rituais encerram um domínio especial de ação, que rompe com os parâmetros da vida cotidiana e demanda de seus participantes uma mudança de atitude e atenção. Ao mesmo tempo estabelecem um diálogo especial com o mundo dos dramas e aflições cotidianos, representando-o segundo ângulos e versões novas, por vezes surpreendentes e profundamente desconcertantes.
3) Explique as noções de: a) província finita de sentido; b) enquadre (frame); c) processos imaginativos; d) o caráter multissensorial do símbolo religioso.
R: a.) depende do contexto/espaço próprio da experiência religiosa (que em outro local seria classificado como loucura);
 b.) moldura: o contexto do ritual enquadra uma situação de tal maneira que lhe possibilite trabalhar com ela; os enquadres são construídos mediante o uso combinado de diferentes meios: música, dança, discurso falado, luz, modo de ocupação e delineamento do espaço; mudanças nos modos de apresentação desses meios são utilizadas para indicar uma mudança no enquadre proposto; o contexto torna possível certas experiências, é um definidor da experiência que vive; delimitação de um espaço de possibilidades;
 c.) para Csordas a experiência religiosa é possível porque imaginamos juntos, e isso acontece por meio do corpo – processo que implica envolvimento da totalidade da pessoa que possibilita à coisa acontecer-se; a situação em que você toma o ayahuasca possui todo um ritual (xamânico) que dá sentido à sua experiência, organizando a experiência individual, que tomando em casa não teria como; engajamento corporal coletivo no ritual, em que a experiência pode acontecer; modos pelos quais os participantes se envolvem e assumem como seus os enquadres engendrados nos rituais, por meio do engajamento corporal; a imaginação se desenvolve em contextos que pressupõem processos de orientação mútua: repousa em um campo de significados compartilhados, abrindo nele e comunicando através dele certas possibilidades de ser. Isso só é possível porque o sujeito da imaginação não é uma mente, consciência ou subjetividade mas o sujeito/corpo da ação, engajado com outros em uma atividade – ritual – que é fundamentalmente pública. A imaginação é um modo de engajamento corporal;
 d.) quando se pensa no que é sagrado para as pessoas, o que vem à cabeça = invisível, imaterial, inteligível – só são possíveis através de símbolos apresentados materialmente (que no fundo é bastante sensível, motor); o ritual é um elemento que induz a um certo estado, que é somático. 
 
4) Explique: a experiência religiosa decorre de um engajamento corporal no ritual religioso.
R: Transe no corpo, e não é necessariamente um ato da vontade: muitas pessoas chegam a um determinado ritual religioso sem vontade de ter uma experiência marcante (desinteressadas, somente por curiosidade), e lá passam por uma experiência extremamente significativa (um surto, um desmaio, chora) que acabam transformando/ressignificando a visão sobre a religião e mesmo provocando uma mudança de posicionamento em relação à religião e algum aspecto de sua vida. Em contrapartida, há pessoas que se dirigem a um determinado ritual religioso para serem “tocadas”, terem uma experiência única, e acabam não sentindo nada de diferente.
 Na experiência que se desenrola nos rituais parece ter importância central um envolvimento gradativo em contextos de som, movimento, cores e cheiros. Entretanto, se a performance solicita e engaja o corpo, doentes, participantes e/ou espectadores não estão apenas reagindo aos vários estímulos a que são submetidos no seu decorrer. Na experiência esses elementos são articulados em uma situação, cada um se destaca sob um certo horizonte de sentido e, se podemos reverter a atenção de um para outro, da música para dança, é porque são solidários e compõem um contexto total. Ser tocado pelo canto, por uma conjunção de muitas vozes em oração ou pelas batidas de um tambor não é simplesmente reagir a estímulos sonoros, mas enredar-se em uma situação que o som pode sintetizar, expressando uma certa atmosfera ou tom afetivo, em que outros elementos componentes do ritual estão implicados. 
5) Descreva as concepções de saúde e doença, bem como a terapêutica do candomblé.
R: No candomblé as causas das doenças podem ser físicas/materiais ou espirituais, e a doença nunca é vista como mera manifestação física, mas comporta sempre uma dimensão mágico-religiosa. A doença pode expressar um desígnio ou vontade do orixá, e pode também estar ligada ao não cumprimento das obrigações rituais que ligam o fiel a seu santo e ao terreiro; mas em todas, sempre existe uma situação de vulnerabilidade (corpo aberto, podendo perder axé – energia vital – e receber energias negativas).
 O tratamento pode comportar desde a utilização de remédios a base de plantas, ritos e sacrifícios de limpeza e purificação, até a iniciação na religião. São os rituais que apelam aos vários sentidos para reconstruir a saúde. O restabelecimento da saúde é ritualmente construído enquanto criação, reprodução e fortalecimento de laços com as entidades sagradas.
 
 Candomblé - qualidade da relação com o sagrado: corpo aberto/fechado, orixás, eguns, feitiço
 - fitoterapia, ritos de purificação, oferendas
 Corpo aberto é um problema; é um termo de categoria nativa, para falar da vulnerabilidade às influências nativas. Remonta a um desequilíbrio ou ruptura nas relações entre o indivíduo e as entidades ou forças sagradas.
 Orixás: seres ambíguos com os quais se cumpre uma relação contratual
 Eguns: mortos que causam problemas
 A primeira coisa que fazem quando a pessoa está com problema (corpo aberto), é jogar os búzios – revelação das causas na divinação, que é o encontro privado da mãe-de-santo com o cliente para o jogo; diante do diagnóstico dos búzios, é que vai ser realizado o tratamento (fitoterapia, ritos de purificação, oferendas) – até mesmo a iniciação na religião, que não é obrigatória, somente para alguns
6) Descreva as concepções de saúde e doença, bem como a terapêutica do (neo)pentecostalismo.
R: No pentecostalismo a concepção de doença quase sempre tem causas espirituais, ligadas a uma influência maléfica (ameaça e mesmo invasão do corpo por entidades demoníacas – desengatadas pela ação de outros via feitiçaria ou olho grosso). A produção da doença sinaliza para duas situações básicas: modo de vida vulnerável que contraria ou se afasta dos princípios divinos (quadro geral de pecados), ou uma prova imposta por Deus para testar seus fiéis, não implicando um estado prévio de fraqueza moral. A libertação, a cura, é dada através de toda uma reorientação social do sujeito, que deve se abrir para Deus, saindo do plano do mal, e transportando-se para o universo dos fiéis. A cura é uma graça concedida por Deus, um sinal de que é preciso e possível mudar, um aviso de que a mudança requer uma vigília contínua sobre o comportamento e, portanto, sobre o corpo. A doença e a cura são fundamentalmente parte de um processo amplo de libertação e fortalecimento no poder de Deus. O corpo e a cura são um empreendimento moral.
 (Neo) Pentecostalismo- “cosmologia da batalha espiritual”: pecado, provação
 - conversão, revelação, oração, exorcismo
 
 - doença: efeito do pecado
 - diagnóstico: dons de revelação da pessoa
 - identificação do problema: descrição em aberto do problema com o qual os participantes se identificam
 - o mal não se transforma: oração, exorcismo – práticas de alívio imediato, paleativa, em que a única solução é a conversão = pressão coletiva
 - experiência de identificação com o pastor e o problema retratado no ritual é pessoal (“nossa, isto está acontecendo comigo, isto é meu!”)
 - objetivo: preparar o corpo para receber o espírito santo
7) Descreva as concepções de saúde e doença, bem como a terapêutica do espiritismo.
R: No espiritismo a doença aponta, em primeiro lugar, para o estado de desenvolvimento espiritual do doente; é sinal de fraqueza moral ainda a corrigir. Em alguns casos, a enfermidade é resultado direto da interferência de espíritos menos desenvolvidos, obsessores, que encontram pouso fácil no corpo dos que estão mais vulneráveis.
 O tratamento consiste fundamentalmente em um empreendimento de cunho pedagógico: é preciso conduzir a pessoa em aflição e também os espíritos inferiores a aprender gradativamente a adotar uma postura correta frente à vida, uma atitude serena, equilibrada, um processo de evolução. O fortalecimento espiritual virá a partir das sessões de caridade e amor ao próximo, o autocontrole, a disciplina e o estudo da doutrina.
Espiritismo - evolução espiritual - causa e efeito 
 - obsessão
 
 - triagem, educação, terapêuticas mediúnicas
 - inclusão no pensamento moderno do século XIX como doutrina;
 - são pessoas muito otimistas – esperança em existir vários planos, melhores que o terrestre, e que pode-se atingi-los por meio de condutas positivas;
 - as causas espirituais das doenças são de responsabilidade do indivíduo (fraquezas morais, causas a corrigir) ou por causa dos outros (obsessão);
 - causa e efeito: se acontece alguma coisa de errado, o responsável sou eu;
 - espiritismo é Iluminismo – a razão liberta das trevas da ignorância;
 - é uma instituição burocrática: a pessoa chega no balcão, recebe uma ficha, e é atendida por um médico, que a encaminhará; se o problema pode ter algum ganho para a religião, pode ir tomar passe, ou participar de reuniões, ou ser encaminhado a um treinamento para ser médium – só para pouquíssimas pessoas)
8) Diferencie as conseqüências da participação em cada uma destas terapêuticas religiosas.
R: Candomblé: o ingresso no candomblé reveste o sujeito com uma capa de legitimidade dos comportamentos ou modos de ser, retirando do eu do singular a responsabilidade e culpa por eventos e experiências discrepantes dos padrões vigentes, distribuindo e suavizando seu peso por meio do chamado ou do castigo do santo, conduzindo o sujeito a uma exploração ativa e legitimada de novos e alternativos modos de ser-no-mundo.
 Pentecostalismo: o ingresso no pentecostalismo fortalece o eu enquanto parte de uma trama sagrada e coletiva que é a igreja, tendo como objetivo a transformação do corpo em uma habitação, um corpo se purifica e disciplina. E há um contraste entre as duas formas de existência: um passado de ignorância, pecado e sofrimento e um presente de retidão e força no Senhor, mantendo vivo esse modelo genérico por meio do testemunho, sem necessitar ocultar suas identidades de “desviantes” da sociedade. A história pessoal é tida como mais um fio de uma trama divina que comprova o poder de Deus em operar maravilhas na vida. Elas diferem quanto ao conteúdo específico da vida anterior à conversão e tendem a se assemelhar quanto ao rumo que vem a tomar com a entrada na igreja.
 Espiritismo: o ingresso no espiritismo supõe um desenvolvimento espiritual, possuindo uma postura de distância monitorada que envolve uma atitude de calma refletida frente às situações-problema. O projeto espírita de evolução é mediada por uma ação ordenadora da vida por parte do sujeito, apontando a necessidade de uma prática disciplinada e racional para manter a ordem instaurada. A identidade do sujeito é processual, em curso de desenvolvimento, única, individual, um ideal de progresso e diferenciação e alheio ao universo cultural das classes trabalhadoras. 
TEXTO 19 – CARVALHO
1) Descreva as premissas básicas das teorias da religião formuladas pelos autores Fundadores das Ciências Humanas.
R: Teorias clássicas - estabilidade do símbolo (ou corpo simbólico)
 
 - relação com instituições sociais
 
 Autores como Marx e Comte pressuporam que há uma estabilidade do campo simbólico, enfatizando-se em alguns casos a estabilidade do campo, e em outros a estabilidade do próprio símbolo. As unidades que constituem o sistema religioso não mudam, continuam constantes; há um consenso, uma homogeneidade, que lhe conferem uma idéia de continuação.
 Qualquer religião prescreve uma ordem moral; sendo assim, autores como Marx, Weber, Durkheim, e Malinowski conceberam articulações entre o campo dos símbolos religiosos e os outros campos simbólicos - instituições ligadas à estrutura social, à política e à economia (que são também expressas através do universo dos símbolos, mas que mantém em termos relativos sua autonomia, interesse e capacidade de articular e forjar a vida social), em que eles se condicionam mutuamente.
2) Explique: o símbolo religioso constitui um espaço para romper com o racional, por meio da identificação individual ou sub-grupal.
R: A ruptura com o racional ocorre pela interpelação do inconsciente, quando dirigimos associações para identificação e respostas aos símbolos religiosos que não são propostos por nós mesmos. O analista que interpreta o fenômeno religioso sempre lança mão de alguma comparação, de algum exemplo motivado pelo seu inconsciente, ativando o símbolo religioso, até então colocado num estado que poderia ser chamado de formal, congelado, tornando-o vivo novamente, e relançando assim uma interpretação do símbolo religioso em questão. Muitos dos profetas, líderes carismáticos e iniciadores dos movimentos religiosos foram interpelados pelo seu inconsciente na busca de respostas, e com aquela energia de reação criativa que sugeriram novas linhas de releituras que levaram a cisões, ao surgimento de diferenças, a novos quadros religiosos.
 Além disso, pelo devaneio, entramos em contato com realidades alternativas, com símbolos que suspendem temporariamente a ordem racional e vigilante do mundo, ao se exercitar a fantasia por meio da repetição, reiteração, parar de pensar, sonhar com, que permite a abertura para a vertigem, sendo comparável aos jogos infantis. Aos invés de se perguntar às divindades, sonha-se com aquelas divindades; sonha-se com a Virgem Maria, com o Preto Velho, com um espírito de luz, com determinada árvore, com o deus que habita uma pedra, enfim, com o que seja pertencente ao mundo do sagrado (o que rompe com o pensamento racional). O devaneio, aliado à influência do inconsciente, afeta as pessoas durante os ritos religiosos, sem que nem mesmo queiram, pois o símbolo de alguma maneira fala de coisas que nos são caras.
3) Descreva os elementos centrais das teorias da instabilidade e da polarização do símbolo religioso.
R: Polarização - significados contrastantes e simultâneos
 - singularidade
 Segundo Turner, o símbolo parece muito mais um paradoxo do que uma unidade, ainda que um paradoxo de fonte, origem, lançamento; trata-se de significados que na veradde são disparatados, que caminham como um par na direção de extremos opostos entre si. A tendência do símbolo seriade romper-se, esfacelar-se, de tão paradoxais que são as associações que ele permite e que vão construindo de fora para dentro. De uma origem primária, raiz braços que vão crescendo para lados opostos.
 Caillois julga importante recuperar a idéia de que o mundo do sagrado não visa sancionar o par puro/impuro, não se impondo nem se opondo a ele. Argumenta que há uma separação do par puro/impuro quando se constrói a oposição entre o sagrado e o profano, situando-se os dois dentro do campo do sagrado (os aspectos sombrios, inferiores da experiência, estão dentro do campo do sagrado)
 Bateson chamava de duplo vínculo uma espécie de esquizofrenia fundamental nessa separação entre eu e o todo, que se dá simultaneamente ao movimento de unificação desses dois opostos; mesmo que um símbolo seja estável, do ponto de vista coletivo, quando é introjetado pelo indivíduo (quando é transferido para o nível individual, singular, particular), tem seu sentido instabilizado, conseqüência do fato de que me relaciono com uma imagem que é o meu deus – porém sempre me assalta a idéia da imagem de ser e ao mesmo tempo não ser deus, justamente por ser uma imagem por mim construída. Sendo assim, a esquizofrenia não é no sentido psicopatológico, mas no sentido de ser uma conseqüência de questões que desafiam a estabilidade da suposta unidade do campo simbólico que se promete de início. Sendo assim, pode-se definir a indecidibilidade simbólica como pertença simultânea e radicalmente polarizada ao indivíduo e ao coletivo.
4) Explique: o símbolo religioso pertence indissociável e simultaneamente ao Individual e ao coletivo. (questão de prova hein psicolegas!)
R: O símbolo é individual, pois o sujeito se apropria dele, mas é antes coletivo, pois é preexistente ao sujeito, e foi construído historicamente tomando como base os alicerces sociais. A partir do momento que o indivíduo se apropria do símbolo, pratica o que em algumas religiões é chamado de blasfêmia, ou seja, o indivíduo, ao negociar sua relação com os símbolos coletivos, introjeta e questiona a estabilidade aprendida pelo coletivo, rompendo com a asfixia da memória, e liberando esta última para o devaneio e a imaginação; a partir daí as coisas tomam aspecto de revelação, aparecendo como se estivessem surgindo todas de novo. Este ato de revelação carrega sempre consigo um certo grau de violência, insubordinação, desafio – blasfêmia. Foi o que Bizerril entendeu do autor de que a pessoa com essa atitude acaba ofendendo a sacralidade do símbolo (“mijando” na cruz, p.e.); afirmou ainda ser a relação dissidente entre a introjeção do indivíduo do símbolo coletivo como sendo uma Heresia, e não blasfêmia (p.e., o cristianismo é uma dissidência/linha da religião judaico-cristã). Bizerril ainda não considera tão certo o termo Blasfêmia por não ser aplicável a algumas religiões, como o budismo, em que mesmo após algumas dissidências, houve um Buda que muito tempo depois recuperou os verdadeiros ensinos/propósitos dos símbolos adotados pelo primeiro Buda (Sidarta Gautama). 
 
 - individual: apropriação pessoal
 Símbolo 
 - coletivo: tradição
5) Problematize a partir da visão do autor, a oposição entre monoteísmo e politeísmo.
R: As religiões monoteístas são as que possuem somente um deus. As politeístas cultuam deuses da natureza (água, montanha, floresta). No Brasil temos como monoteístas a cristã, o judaísmo, e o islamismo, enquanto que as religiões de origem africana, o espiritismo e as dos índios (xamanismo – Santo Daime e União do Vegetal) são politeístas. Essa oposição entre o monoteísmo e o politeísmo é um reflexo metafísico dessa crença na estabilidade, na unicidade hierarquizada do campo simbólico, sobretudo segundo a perspectiva cristã. Ela é interessada, nativa, específica, que foi construída pelas religiões que se auto denominam monoteísmos, sendo elas mesmas que dividem as religiões do mundo entre monoteísmos e politeísmos. As religiões monoteístas criaram esta oposição por se sentirem diferentes das outras religiões – “primitivas”, “populares”, “animistas”, marcando esta diferença utilizando a idéia de um deus uno, absoluto, transcendente, como parâmetro para comparar religiões; ou seja, para criticá-las. No entanto, este caráter de monoteísmo se perde em alguns rituais cristãos (missas), se comparados a religiões ditas politeístas – nativas ou indígenas (religião dos índios Kogi, fronteira com a Colômbia e Venezuela). 
6) Explique a resposta do autor ao seguinte problema: será que um símbolo é mesmo religioso ou responde a imperativos sociais econômicos ou políticos?
R: O domínio religioso do símbolo nunca está completamente separado das outras esferas da vida, estando aberto e transitando entre o campo social, econômico, político, identitário, e cultural; as religiões transitam com as relações com a natureza, e questões familiares. Carvalho cita o caso de João de Camargo, o Preto Velho da umbanda, que no início do século XX (após várias demonstrações de seus poderes sobrenaturais – dom da visão e da cura) foi considerado pelo governo como curandeiro, sendo atacado com a arma jurídica dos poderosos, e tornando-se uma condição insuportável para o poder eclesiástico e civil branco, católico, de elite, urbano, europeu, civilizado do Brasil. Ainda na contemporaneidade assiste-se a discussões de alguns símbolos religiosos para decidir se de fato trata-se de um símbolo religioso ou se ele é disfarce para a expressão de conteúdos de experiências geradas nas esferas políticas, sociais, ou econômicas. Assim, o símbolo transforma-se numa arena onde acusações por domínios de espaços de poder tornam-se freqüentes. 
 Toda esta situação colocada serve para chegar à conclusão de que a idéia do símbolo religioso como o auto-imune que está indene, protegido do massacre, da corrupção do cotidiano, e da história, pode mascarar a realidade que, com muita freqüência, o assim chamado transcendente não se coloca na posição de auto-imune, pelo fato de que o símbolo religioso jamais foi totalmente apenas religioso. 
7) Explique: quando o símbolo religioso se coloca no espaço público, coloca-se em posição de
desgastar-se, tornando-se simulacro.
R: Na contra-corrente do hermetismo e da mística (iniciada pelos europeus do mundo pós-religioso, que procuram retomar o tema da transcendência a partir dos meios intelectuais à sua disposição, com seu mundo se distanciando das identidades tradicionais, e sendo invadido por uma nova realidade social identitária), apostou-se na espetacularização do símbolo religioso, na sua presença acintosa não só no interior das próprias religiões cristãs, como de algumas outras. 
 O simulacro é um termo de discussão de Jean Baudrillard, e se traduz por pura aparência e hiperrealidade. Ou seja, essa espetacularização tem a ver com o mercado, e é uma adaptação do símbolo religioso em um produto que pode ser vendido, comercializado, transformado na linguagem da mídia. Quanto mais desgastado, isto é, atualizado, revisado, racionalizado, modernizado o símbolo, mais vai empilhando polissemia e a camada profunda vai se escondendo atrás de sua transparência. Quanto maior é seu esforço por mostrar-se transparente, mais polissemia ele reserva por trás de sua literalidade.
TEXTO 20 Bizerril
1) Qual o problema proposto pelo autor?
R: A partir de uma perspectiva multidisciplinar, combinando antropologia, religião comparada, psicologia, psiquiatria e filosofia, o autor pretende discutir exemplos etnográficos pertencentes ao campo religioso para revisar conceitos utilizados em manuais diagnósticos como o DSM-IV ou, de certo modo, o CID-10, com o intuito de sublinhar alguns dilemas constitutivos da aplicação do conceito de normalidade, que envolvem complicadas relações entre contexto cultural, uso de classificações e significação da experiência vivida.
2) Explique a definição de delíriono diagnóstico da esquizofrenia.
R: Os delírios são crenças errôneas, habitualmente envolvendo a interpretação equivocada de percepções ou experiências. Seu conteúdo pode incluir variedades de temas (p.e., persecutórios, referenciais, somáticos, religiosos ou grandiosos).
3)Explique a definição de alucinação no diagnóstico da esquizofrenia.
R: Alucinação refere-se a uma percepção sensorial a que não corresponde um objeto material.
4) Identifique e explique os argumentos para diferenciar experiência religiosa e doença mental.
R: Os argumentos são relacionados a uma discussão bastante longa no campo dos estudos afro-brasileiros, cuja leitura psicopatológica inadequada da experiência religiosa apresenta desdobramentos em temas análogos que ocupam papel na religiosidade popular, quais sejam: a possessão depende de um contexto ritual específico para ocorrer; suas manifestações são interpretadas a partir de um sistema compartilhado de crenças e símbolos; os sujeitos que a vivenciam tem uma vida normal em todos os demais aspectos de seu cotidiano; estabelece uma linguagem para construção da pessoa; e também para articular diversas experiências sociais, dentre as quais a aflição. Na religiosidade popular, citamos fenômenos mediúnicos no contexto espírita, as aparições dos santos no catolicismo popular, e manifestações de dons do Espírito Santo no caso pentecostal, dentre outros. Vale lembrar que para legitimar estes fenômenos como sendo da ordem da normalidade não é necessário referendar seu estatuto divino ou objetivo. Considerando-se esses argumentos, há diferença entre experiência religiosa e doença mental, pois a pessoa pode estar apresentando sintomas devido à sua experiência religiosa, sem que isso lhe cause sofrimento (pra quê então intervir, considerando-a doente?).
 O problema, portanto, é de um conflito de visões de mundo que é configurado pela própria proposta de superposição da temática da experiência religiosa às classificações psicodiagnósticas. Caberia citar o posicionamento de Jenkins (2002), psiquiatra e antropóloga, sobre o tema da esquizofrenia numa perspectiva transcultural: se um paciente afirma que está sendo enfeitiçado ou que viu um espírito, a afirmação por si só não deve ser considerada como um sintoma para um diagnóstico de esquizofrenia. Deve-se investigar se na cultura a que o paciente pertence há feiticeiros e se as pessoas normais, no contexto de suas experiências religiosas, entram em contato com espíritos.
 Para exemplificar ainda mais esta questão, cita-se uma análise comparativa da vida de dois personagens do século XIX, uma mulher francesa e um homem indiano, ela católica e ele hindu, feita por Catherine Clément e Suddhir Kakar (1994). Ambos protagonistas de experiÊncias de êxtase místico acompanhados do mesmo tipo de fenômenos psicossomáticos: as mesmas contraturas, a mesma catotonia, as mesmas interrupções da respiração, as mesmas fomes devoradoras, têm o mesmo olhar fixo, o mesmo sorriso enorme nos lábios, a mesma imobilidade. A diferença principal é que enquanto Madeleine, após várias passagens pela prisão foi entregue aos cuidados de Pierre Janet, no asilo Salpetrière, durante cerca de 20 anos, até ser “curada” de seus êxtases pela razão laica, Ramakrishna supera sua crise iniciática para tornar-se um grande mestre espiritual e um dos maiores nomes da mística hindu de seu século. É um consenso que Ramakrishna seja um místico. O argumento original da discussão é que Madeleine apresenta características essenciais dos místicos autênticos. A tese central dos autores é de que a experiência individual tem seu sentido dependente do contexto cultural. O que faltou a Madeleine foi um contexto de significação que legitimasse suas experiências. Não havia lugar para misticismo na França republicana, laica e positivista do século XIX; apenas o não-lugar da loucura. É plausível concluir a partir desta comparação que muitos fenômenos que são patologizados pela psiquiatria ocidental, seriam percebidos como religiosos em outro contexto cultural.
5) Explique a relevância deste debate na formação de profissionais de saúde no contexto brasileiro.
R: No contexto brasileiro, o debate é importante para que antes do diagnóstico seja considerado o aspecto da diversidade religiosa; se a pessoa tem uma experiência compatível com seu universo subcultural, não é caso de interferência; para que não se pegue o DSM, inadvertidamente, e se construa um diagnóstico; alem de todas as deficiências do diagnóstico, tem a questão da diversidade cultural do país.
Anotações da aula – texto 20
 - Alucinação – com base nas sensações; se pensarmos em sentido estatístico, alucinação como falha de percepção = todo mundo tem; qualquer pessoa pode olhar pra um sobretudo e ver um vulto; isso em si não é sintomático de coisa alguma; a percepção pode não corresponder à realidade consensual; no universo religioso de varias tradições, pessoas específicas tem percepções que são consideradas como consensuais, mas depende da forma como expressam – exemplo: espírita/sensitivo/médium = ver espíritos não seria sintomático de doença, transtorno mental 
 - Delírio – coisa em que a pessoa acredita;
 - Como dependemos do relato verbal, às vezes não é tão simples entender se aquilo é uma alucinação – existe uma luz divina na minha cabeça: estou vendo, ou acredito?
 - A definição de delírio é valorativa, pois é o profissional que define se está errado; se for bem informado e tiver bom senso, pode decidir que é consensual;
 - Não dá pra dizer se uma coisa é religiosa, ou caso de psiquiatria; mas cabe a nós como profissionais de saúde mental intervir nessa situação, ou não? Em alguns casos sim, em outros é mais ambígua, exige mais reflexão;
 - O que está em pauta não é a natureza da experiência, mas em qual contexto tomaremos decisões para isso; em que contexto, com que freqüência, que consequência tem pra ela; está causando sofrimento, se torna disfuncional por causa do que está vivendo? Se a pessoa não deixa de viver a vida e não está sofrendo, não se justifica intervir, não se tem nada a ver com isso;
 
 - O profissional da saúde às vezes pode estar inteirado da cultura, mas não a legitima (o que implica que mesmo que saiba que a pessoa possua um sofrimento por enxergar espíritos, a medica como sendo uma patologia);
 - O fato de ser opressor não impede que seja da classe do oprimido (Ex: dizia-se que Hitler era judeu; há mulheres que apóiam atitudes agressivas por parte dos maridos em questões de gênero);
 - O racismo está na cabeça de todo mundo, por isso que funciona – gramática das relações na qual cabe o corpo também;
 - O problema é que por um lado as formações de saúde investem pouco na formação cultural (não possuem disciplinas como antropologia, p. e.); a maioria dos cursos de medicina no país não tem investimento nisso, cultura, pois se trabalha com o organismo das pessoas;
 - E tem também as discussões de classe, diferenças religiosas, que entram nas atribuições de sentido patológico das pessoas; historicamente a disciplina (psicologia) já serviu para patologizar muito as questões (negro, pobres, etc);
 - Questão da saúde mental e de direitos humanos são importantes de serem abordadas nas formações dos profissionais da área da saúde;
 - Qual era a amostra que os profissionais psiquiátricos tinham quando formularam os diagnósticos psicopatológicos (para poderem escrever o DSM-IV e o CID-10?);
 - O diagnóstico tem que ser dado por uma equipe multidisciplinar; no contexto brasileiro, é importante para que antes do diagnóstico seja considerado o aspecto da diversidade religiosa; se a pessoa tem uma experiência compatível com seu universo subcultural, não é caso de interferência; é importante estudar este tipo de debate na formação acadêmica para que não se pegue o DSM, inadvertidamente, e se construaum diagnóstico; além de todas as deficiências do diagnóstico, tem a questão da diversidade cultural do pais;
 - A experiência religiosa é legítima como expressão da psique, mas a maior parte das teorias não é simpática a elas (a não ser Jung);
 - Numa equipe multidisciplinar, os vários profissionais tem que ter bom senso; a questão é de compreender a cultura do país, que pode estar causando danos às pessoas;
 - Há uma demanda por parte do profissionais de saúde que o psicólogo sirva para domesticar o paciente; mas isso é objeto de uma negociação/oposição;
 - Não existe o paciente, mas pessoas com histórias específicas, demandas específicas;
 - Livro recomendado – “A invenção dos transtornos mentais”
 - O problema da profissão (psicólogo) é de como está sendo exercida por aí; será que a profissão é isso mesmo?
 - Você (como psicólogo) não tem poder para mudar o hospital, mas pelo menos pode fazer sua parte, dar sua contribuição, para provocar reflexão nos demais profissionais, e tratar aqueles de precisam de ajuda de forma diferenciada,adequada; 
 - Qual é a intervenção que se quer fazer? Orientação para outra religião? Um certo bom senso sobre a intervenção ideal se desenvolve pelo exercício da capacidade reflexiva; temos que ter informações para tomar decisões, o que não se resolve somente pelo conhecimento da técnica;
 - Por que a solução é por medicamento? 
 - Implicação de cronificação – sem intervenção imediata, dá merda (pois há casos em que o paciente realmente está surtando, e precisa da pronta-intervenção médica, senão morre); 
 - Como acompanhar os casos? Discussão do campo da psiquiatria que se desenrola há muito tempo, e que não foi resolvida;
 
 - As análises devem ter o mesmo bom senso que Freud, que ao mesmo tempo que praticava a técnica, refletia - o saber tem que ser processual, não é ser flexível sem cérebro; isso porque a teoria às vezes não dá conta da realidade com a qual tenho que trabalhar;
 - Devemos ir para o trabalho com espírito de questionamento científico sobre o que estamos fazendo;
 - Pessoas de origens religiosas diversas podem dar explicações a seus problemas, o que não implica que precisem de tratamento, ou sejam patologizadas;
 - Importa que respeitemos as opções dos outros e a subjetividade no contexto profissional; não precisamos patologizar para exercermos nossa autoridade como profissionais de saúde;
 - No caso de intervenção, depende da organização subjetiva da pessoa, que pode usar o vocabulário religioso para reagir; se a pessoa tem explicação religiosa isso a prejudica, mas pode ser o contrário;
 - A religião é uma gramática; o que as pessoas fazem com isso é muito subjetivo; o problema não é a religião, mas como você se apropria disso, para organizar sua subjetividade; a psicologia pode dialogar com esse aspecto.

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