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Tenda dos milagres - Jorge Amado

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Análise da obra Tenda dos milagres, de Jorge Amado
Tenda dos Milagres é um romance do escritor brasileiro Jorge Amado, publicado em 1969. Esta obra serviu de base, ainda para adaptações, no cinema e na televisão, além de merecer traduções em alemão, árabe, búlgaro, espanhol, finlandês, francês, húngaro, inglês, italiano, russo e turco.
Enredo
A ação se passa na Tenda dos Milagres, que era a gráfica de Lídio Corró no Pelourinho, na capital da Bahia, Salvador, terra povoada por afro-descendentes, maioria da população local, e fadada ao preconceito mas aguerrida na conquista individual de seu espaço na sociedade. Esse local também servia para encontros de pessoas do candomblé e capoeira de Angola.
O candomblé constitui-se em pano de fundo e Pedro Archanjo é o herói mestiço dessa história, mulato com algum estudo, protegido pelo professor da Faculdade de Medicina Silva Virajá.
Curiosidades
Muitas das personagens de Amado foram baseadas em pessoas reais - quando não as inseriu com os próprio nomes em suas obras. O rábula João Romão foi baseado em Cosme de Farias - um célebre defensor dos pobres em Salvador, o professor Silva Virajá era o médico também célebre Pirajá da Silva.
Até a personagem principal, Pedro Archanjo, era inspirado numa pessoa real, um negro chamado Manuel Querino. Como no livro de Jorge Amado, Manuel Querino se notabilizou por escrever vários livros de caráter antropológicos e étnicos, como por exemplo um acerca da culinária baiana e, considerado muito importante, outro que traçava a genealogia da elite branca de Salvador, mostrando a sua miscigenação com a raça negra.
O adversário intelectual de Pedro Arcanjo é Nilo Argolo, provavelmente inspirado na figura do médico e antropólogo brasileiro Nina Rodrigues que ficou conhecido por suas idéias carregadas de preconceitos advindas das teorias de Lombroso e outros.
Embora o título aluda ao letreiro ostentado pela oficina do riscador de milagres Lídio Corró, artesão estabelecido à Ladeira do Tabuão na cidade da Bahia, o romance é a história de um amigo dele, por nome Pedro Arcanjo, nascido a 18 de dezembro de 1868. Freqüentou o Liceu de Artes e Ofícios, onde conheceu Lídio Corró, oito anos mais velho conquanto igualados numa amizade fraterna que duraria toda a vida.  
Ainda rapazola perde a mãe e engaja-se num cargueiro para o Rio de Janeiro, de onde retorna aos vinte e um anos de sua idade para não mais deixar a Bahia, fixando-se ao lado de Lídio na Tenda dos Milagres.  
 Nomeado bedel da Faculdade de Medicina em 1900, publica em 1907 seu primeiro livro, "A Vida Popular da Bahia", quando é requisitado pelo catedrático Silva Virajá para seu auxiliar, a fim de dar-lhe oportunidade para ampliar os estudos. 
Em 1918 lança "Influências Africanas nos Costumes da Bahia" e, em 1928, "Apontamentos Sobre a Mestiçagem nas Famílias Baianas", obra que lhe custou o emprego devido à reação racista liderada pelo professor Nilo d'Ávila Argolo de Araújo. 
Mesmo reduzido à simples condição de "pobre, pardo e paisano", publica em 1930 seu último trabalho, "A Culinária Baiana: Origens e Preceitos", que completa meritória obra versando antropologia, etnologia e sociologia, a qual, conquanto praticamente desconhecida de seus conterrâneos contemporâneos, veio a ser julgada indispensável "para a compreensão do problema de raças no Brasil".            
Segundo a opinião do sábio norte-americano James D. Levenson, detentor de Prêmio Nobel, que, em visita à Bahia, faz despertar o interesse geral por sua pessoa, cuja atuação vai sendo rememorada, em contraponto com os dois atuais, nas páginas do romance, em suas vicissitudes de vida modesta todavia rica de calor humano e de muitos amores - a negra possessa Dorotéia, Sabina dos Anjos, a bela, Rosália, a ardente, e tantas e tantas inclusive a finlandesa Kirsi, parêntese louríssimo, que levou no ventre o fruto do amor do trópico - mas de todas as amadas a nenhuma ele amou tão profundamente como à bela negra Rosa de Oxalá, a quem todavia jamais possuiu, pois que era amante de Lídio, o amigo-irmão.  
Por ocasião do centenário do seu nascimento, a ele até então ignorado na terra natal, foram-lhe prestadas homenagens pela intelectualidade baiana com respaldo oficial.  
 Mais condizente, talvez, com o exemplo de sua vida vivida nas ruas e ladeiras da Bahia, o foi a homenagem prestada por uma escola de samba, a dos Filhos do Tororó, no carnaval de 1969, em Salvador. 
Análise II
Em Tenda dos Milagres, segundo romance de Jorge Amado, publicado em 1969, o autor apresenta a violência dos brancos diante de rituais de origem africana, e oferece o ingresso para um outro mundo, onde a mistura não é só de raças, mas também de religiões. É um grito contra o preconceito racial e religioso. E na ânsia de nos apresentar a figura de um certo Pedro Archanjo em sua inteireza, o autor encheu-se de ambição, quis abarcar o mundo com as pernas, misturou tempos e espaços romanescos.
Tenda dos Milagres é uma obra em que o diálogo com as teorias da identidade nacional é explorado em sua máxima potência. Seu personagem principal, Pedro Archanjo, transita entre teorias populares e eruditas, torna-se autor (sem jamais ser inserido formalmente na academia, entrando pela porta de trás) e debate com personagens que podem ser reconhecidos em teóricos como Nina Rodriques e Manoel Querino.
O candomblé, a capoeira e as festas populares da Bahia fazem parte do universo de Pedro Archanjo, escritor, sábio, malandro e personagem central da obra. Os tipos folclóricos das ladeiras de Salvador estão presentes também em Tenda dos Milagres. É um dos maiores e mais perfeitos personagens da literatura universal. Ele é descrito como Ojuobá (ou "olhos de Xangô"). Mulato e capoeirista, mestre Archanjo, como também era conhecido, tocava viola, era bom de cachaça e pai de muitas crianças com as mais lindas negras, mulatas e brancas. No romance, é ele quem percorre as ladeiras de Salvador e recolhe dados sobre o conhecimento dos negros africanos sua cultura. Pedro é um mulato sociológo que combate os preconceitos da Salvador do começo do século e que continua freqüentando os terreiros mesmo depois que deixa de acreditar nos orixás. Tudo para não deixar esmorecer o ânimo dos perseguidos e evitar o triunfo da polícia e da elite racista.
Romance sociológico, esta obra segue a linha típica dos romances de Jorge Amado, que tem, como já citado, a cidade de Salvador como cenário e é, basicamente, a narrativa das proezas e dos amores de Pedro Archanjo, bedel da Faculdade de Medicina da Bahia, que se converte em estudioso apaixonado de sua gente, publicando livros sobre a mestiçagem genética e os sincretismos simbólicos do povo baiano. Mostra sua luta pela afirmação da cultura popular.
Em Tenda dos Milagres a vida do povo baiano é apresentada em um enredo fascinante e pleno de personagens os mais variados e interessantes, que vão dos mestres da capoeira à gente do candomblé, professores, doutores e boêmios.
E muitas são as mulheres que encheram de encanto a narrativa do escritor: Rosa de Oxalá, Dorotéia, Rosenda, Risoleta, Sabina dos Anjos, Dedé, a maioria mulatas baianas, e a nórdica Kirsil. Mas dentre tantos tipos que povoam a história, se sobressai, sem dúvida, a figura de Pedro Archanjo.

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