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Política Atual Brasileira em Arendt, Schmitt e Weber

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Pluralismo, legitimidade, violência e política. O que podemos utilizar em Hannah Arendt, Max Weber, e Carl Schmitt para uma reflexão sobre a prática política contemporânea do nosso país?
Para Hannah Arendt, é através do discurso e da ação que os seres humanos se manifestam uns com os outros. Ou seja, é através do discurso e da ação que os seres humanos se distinguem e se conhecem uns aos outros. Arendt afirma que vivemos num mundo de aparências, onde cada um manifesta a si mesmo para os outros através do seu discurso e de sua ação. A ideia de aparência aqui não tem um sentido pejorativo, pois é através dela que nos damos a conhecer. Existe uma conexão entre a ação e a aparência, ou entre o ator e o espectador, pois, a intenção principal do agente é revelar sua própria imagem. Seguindo essa conexão entre a ação, o discurso e a manifestação de si, é possível estabelecer um ponto de contato entre o pensamento de Hannah Arendt e a teoria de Max Weber, autor que pratica aquilo que ele intitula como sociologia compreensiva, que seria uma tentativa de compreender a ação ou interação social através do sentido visado pelos agentes. A ação é fundamental no pensamento de Hannah Arendt e está na base da sociologia de Max Weber. 
Nesse sentido, o fato de Weber escolher caracterizar os líderes políticos como demagogos é revelador. No uso que o autor faz desse termo, não há qualquer sentido pejorativo: o demagogo para Weber é o líder típico do Ocidente, aquele que conquista sua posição através do uso da palavra, através do discurso. Ainda que o Estado se defina para o autor como a instituição que monopoliza o uso legítimo da violência, ao dirigir sua reflexão sobre a política moderna para o demagogo, o autor caracteriza o espaço público como espaço de debates, como a esfera em que sujeitos através da ação e do discurso (ou de uma ação que é discurso) enfrentam uns aos outros, tentando ganhar a adesão dos espectadores.
O fenômeno do poder tem que ser compreendido em termos de mando e obediência e o fenômeno da violência se têm considerado, simplesmente como uma manifestação de poder. Toda essa discussão entre poder e violência o ponto chave sempre foi quem domina quem. Arendt afirma que a violência tem capacidade de destruir o poder mais nunca de criá-lo, bem como que inegavelmente o poder pode ser legitimado enquanto a violência no máximo poderá ser justificada como instrumento a ser usado para se cegar em um determinado fim.
Segundo Arendt a esfera pública é uma zona de discurso, é o lugar do “mundo comum” do aparecimento e da visibilidade e, por conseguinte da política: um espaço reconhecido de opinião e de ação. No pensamento da autora, a política não se define exclusivamente por referência ao Estado, mas antes como uma forma de sociabilidade, ou seja, um espaço público que cria suas próprias regras e seus próprios critérios, pelos quais os acontecimentos e os constrangimentos da vida em sociedade podem se fazer visíveis e inteligíveis para os que dela participam. A esfera pública é o espaço da palavra e da ação, onde ocorre o agir conjunto, a existência do “nós” e a manifestação da política. A esfera privada é o reino das necessidades do homem enquanto ser que precisa sobreviver, enquanto ser que possui necessidades. Hannah Arendt salienta que existe uma relação mútua entre a ação humana e vida em comum na comunidade ou sociedade.
 E com a política que se obtém o terceiro elemento essencial de tal ciência jurídica: as normas. A partir da convivência humana, do surgimento da sociedade que a política “nasce”. Afinal não existe a mesma para somente um indivíduo. Sendo assim, é para manter uma convivência harmoniosa que as normas existem. Criadas sobre atitudes meramente políticas entre os homens em sociedade. 
Max Weber dividiu os poderes legítimos em três: tradicional, carismático e burocrático. São poderes em que o dominante acredita ter algo especial para governar os dominados. Numa viagem na história do Brasil é fácil perceber governos com as características propostas pelo sociólogo. Do império instalado no país até o surgimento da república, pode se dizer que prevalece o poder tradicional; da república aos dias atuais, o poder burocrático; da forma que Weber caracteriza o poder carismático, conclui-se que este não tenha existido por aqui, não de fato.
     O poder tradicional é marcado por um forte respeito aos usos e costumes perpetuados em um dado grupo social. Esse tipo de governo é muito comum em monarquias, pois os súditos acreditam numa espécie de santidade dos reis. O império brasileiro é o melhor exemplo desse tipo de poder existente por aqui. A prova disso é que quando D. Pedro I retorna a Portugal e o Brasil fica sem o seu regente, é esperado a maioridade de D. Pedro II para assumir o trono. Enquanto isso eclodiram vários conflitos país a fora. Só o jovem príncipe assumir, e o país voltou a normalidade por um bom período de tempo.
     Já o burocrático tem como marca principal a desumanização do poder. Aqui é legitimado o que está prescrito no papel - a lei. Há resquícios do Estado Burocrático ainda no período Monárquico brasileiro, pois foi promulgada uma Constituição em 1824 que devia ser seguida. Só vontade e os costumes já não valiam tanto.  Contudo é com a instituição da república e principalmente após a Constituição de 1988 que se terá um Estado firmado nos pilares proposto por Max Weber para que se tenha o Poder Burocrático. Separação da esfera pública da privada; regularidade nos assuntos oficiais; concursos públicos; hierarquia estipulada na lei e outras características burocráticas passarão a ser rotina no país.
     Alguém pode pensar que num país dominado por uma elite desde seu descobrimento, a ascensão de um pobre, operário só aconteceria se tal indivíduo fosse carismático. Nesse caso estar-se-ia diante do poder carismático. O caso já aconteceu no Brasil, mas não é verdade que se tenha tido tal poder por aqui. Segundo Weber, um líder carismático é dotado de uma extraordinária capacidade quase sobrenatural de fazer com que terceiros o obedeçam, inclusive os convencendo a modificar as estruturas do Estado. É sabido que, mesmo passado mais de duas décadas de democracia, no Brasil qualquer um que queira se eleger tem que se vender ao empresariado local e conseguir coligações com oligarquias no poder desde os primórdios da nação. Resultado: muda-se para continuar como se está. O poder carismático ainda não existiu politicamente no Brasil. O líder carismático não quer buscar sua legitimidade na opinião favorável dos outros para com ele, não quer agradar todo mundo, quer se autenticar pelo que tem, o seu discurso e apelo. O líder simpático não tem conteúdos definidos, tem a tentativa de conquistar as pessoas através de favores e promessas; esse seria Lula, o líder carismático.
O único poder legítimo neste momento, pois escolhido pelo voto popular, está acuado pela mídia, as corporações e um Executivo usurpador. O Legislativo hoje é o único poder constitucional legitimado pelo voto popular, mas se tornou refém de outros poderes ilegítimos por sua culpa. O Executivo atual é usurpador, sua falsa legitimidade foi-lhe dada pelo Legislativo, que por ironia tornou-se refém dele. O pior são, porém, os poderes paralelos e espúrios, entulhos do período ditatorial que colocam hoje os verdadeiros poderes constitucionais em xeque. Um deles é conhecido internacionalmente como o quarto poder, a mídia. No Brasil, ela dispõe de regalias quase ilimitadas. Um outro, a Polícia Federal, redesenhada na ditadura, tornou-se o órgão a margem dos novos poderes legítimos da democracia e biombo de forças ocultas internas e externas ao País, que não podiam aparecer na transição democrática. De modo surrealista, Temer arrota valentia de que não vai renunciar e ameaça o Legislativo, caso não sejam aprovadas as reformas. Deveria ser justamente o contrário. O Parlamento é que deveria dar o ultimato a Temer. Deve suspender imediatamente a tramitação das reformas até a renúncia do peemedebista.
	A oposiçãoamigo-inimigo como categoria sócio jurídica, em seu percurso especulativo, constitui uma viga mestra do pensamento autoritário. Na época atual, C. Schmitt, o teórico do nazismo, revivificou a antítese amigo-inimigo como critério político autônomo, indicando o seu significado: determinar pontos-limite de união e ruptura sem que outros juízos intervenham, projetando o antagonismo político para o absoluto. "Não é necessário que o inimigo político seja moralmente mau ou esteticamente feio; ele não precisa necessariamente se apresentar como concorrente econômico e pode até mesmo ser vantajoso negociar com ele. Ele é apenas "o outro", o estrangeiro, bastando, para sua essência, que ele seja, num sentido particularmente intenso, algo alheio e estranho (...)". Uma disputa política só se resolve pela eliminação do adversário. Não há possibilidade de acordo, de trégua política, nem de respeito ao outro, mas a apenas a possibilidade de manifestar a intolerância. Na história do Brasil, eventos como a campanha do “Brasil, ame-o ou deixe-o; na década de 1970, ou até a surpreendente campanha publicitária recente de Michel Temer de “vamos tirar o Brasil do vermelho” operam através da lógica política amigo-inimigo.
Após se aliar aos derrotados na eleição de 2014 e liderar o impeachment que derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff, o até então vice-presidente Michel Temer se tornou o primeiro presidente da história do País a ser denunciado pela PGR, por cometimento de crime comum no exercício do mandato. A denúncia criminal contra Temer é robusta e baseada em provas concretas, com áudio, vídeo e imagem. A principal oferta do governo para que os deputados votassem pelo arquivamento da denúncia foram as famosas emendas parlamentares. Nunca um presidente liberou tanta emenda como agora. Para ganhar o voto da bancada ruralista, Temer alongou o pagamento das dívidas do setor com o INSS. O governo ainda concedeu descontos e a isenção dos juros por atraso. Porém, insistirá na aprovação da Reforma da Previdência, alegando que o INSS está quebrado. Em troca do voto dos ruralistas, o presidente também reduziu a alíquota dos descontos ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). Contratos superfaturados, alta quantia de dinheiro “doado”, e ajuda no encobrimento de operações fraudulentas também são meios de conseguir a “amizade política”. Os que não seguiram as ordens, inimigos, agora serão punidos, O governo começou o processo de retaliação aos deputados da base aliada que votaram pela abertura de investigação contra Michel Temer.
Algumas máximas já se popularizaram no vocabulário do mundo da política, tais como: “os fins justificam os meios” e “para os amigos tudo, para os inimigos a lei”. Não importa o espectro político, as duas máximas são de utilização corrente entre os ditos homens públicos brasileiros. A seletividade que explicitamente protege um lado e criminaliza permanente e patologicamente o outro, não pode se transformar em salvo conduto para que o lado criminalizado desrespeite o Estado de Direito. Não é corrompendo a Constituição que vamos combater e vencer a corrupção. A motivação de expectativa por parte de uma opinião pública sedenta por justiça, não pode ser naturalizado e justificado no seio da sociedade, caso contrário, estaríamos caminhando para o vale tudo, só compreendido em situação de barbárie.

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