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Ética à Nicômaco

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Universidade Federal de Alagoas
Faculdade de Direito de Alagoas
Disciplina: Filosofia do Direito I
Docente: Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar
Discente: Rayanne da Silva Alves
1º Período - Noturno
Fichamento
	COELHO, Nuno Manuel Morgadinho dos Santos. Introdução à Edição Brasileira. In: ARISTÓTELES. Ética à Nicômaco. Tradução: Antônio de Castro Caeiro. São Paulo: Atlas, 2009. p.1-14. 
“ Tem grande relevo teórico e prático a nova apropriação, em curso, da ética de Aristóteles dos diversos horizontes do saber e da experiência.[...] É mais esclarecedor, por exemplo, retomar o Livro IV da Ética a Nicômaco, que trata das virtudes dianoéticas, virtudes do pensar, e da sua relação decisiva com as virtudes éticas. Trata-se de um texto chave para a compreensão de toda a ética de Aristóteles e também do direito da sua dimensão de prática realização. Encontra-se ali o conceito fundamental de phronesis, excelência ou virtude de uma das partes da alma capaz de razão, e como tal possibilidade extrema do humano.” (p.1-2)
“ A phronesis é excelência do pensar as coisas que encontram no homem a sua causa, inaugurando-se a ética sobre a possibilidade do agir do humano sobre o mundo, perfazendo-o, e sobre si mesmo. É possível renovar a teoria do direito e o próprio pensamento jurídico, como o modo de estar no mundo, a partir da noção fundamental de phronesis, a partir de uma leitura contemporânea da Ética a Nicômaco que faça justiça tanto a Aristóteles como as exigências de nosso tempo. [...] A phronesis orienta a autoconstituição do homem como homem sério, guiando o seu viver e permitindo-lhe ascender ao bem viver, para além do aprisionamento na paixão e na sensibilidade e em direção ao autodomínio e a felicidade.” (p.2)
“ [...] Todo pensamento ético em Aristóteles é ao mesmo tempo político e jurídico. Pode-se aceitar a afirmação de que o pensamento grego moveu-se na unidade sincrética entre moral, política e direito, e acompanhar a tese de que a consciência jurídica apenas se autonomiza na experiência jurídica romana. De fato, a experiência grega não oferece os elementos para a compreensão do direito em sua específica autonomia. [...] Embora não se possa falar em autonomia do direito entre os gregos, reconhece-se o mérito excepcional de Aristóteles de ter assinalado, pela primeira vez e em termos absolutamente explícitos, a autonomia do pensamento prático, da razão mobilizada no agir, em contraposição à razão teórica, epistêmica, que está em jogo na ciência.” (p.3)
“ [...] Os contornos com que nitidamente descreveu a phronesis – como excelência na racional mobilização de meios na turbulência de uma situação concreta sempre única e irrepetível – fazem da teoria aristotélica do pensar prático uma reflexão ainda hoje e cada vez mais poderosa sobre o significado e sobre o que está em jogo em todo agir. [...] Todas as virtudes éticas são formas de justiça, e a justiça está em jogo em todo agir. Por consequência, o exercício da phronesis é sempre uma forma de realização da justiça, especialmente da justiça como equidade que realça o caráter sempre situado, sempre circunstancial, de toda decisão prática. E o desafio de sua adequação e contemporaneidade. O exercício da phronesis se liga assim ao sentido profundo de equidade, que torna o agir sempre um desafio, mantendo o caráter do homem a cada vez em jogo, assim como a sua própria felicidade. Como a lei tem sempre de ser “adequada” à circunstância atual do agir, ela tem de ser “descoberta” sempre novamente.” (p.4)
“ [...] A recuperação de Aristóteles permite uma nova saída para o falso, mas angustiante, dilema em que se enreda a filosofia moral e jurídica contemporânea, em aporia entre cognitivismo e irracionalismo, sugerindo que estas não são as únicas saídas para a filosofia do agir.” (p.5)
“ [...] O estudo da alma é um dos pontos de partida da reflexão ético-política de Aristóteles. Aristóteles compreende a alma no horizonte da reformulação, socrática do problema do homem como o problema da alma: Sócrates, à pergunta “o que é o homem?”, pela primeira vez respondeu: “o homem é a sua alma”, entendendo a alma como a consciência inteligente e responsável. Fazendo-o, Sócrates promoveu a guinada para o interior do homem no âmbito da reflexão sobre o comportamento e a normatividade, fazendo com que mereça ser reconhecido como fundador da ética. Aristóteles reelabora a tripartição acadêmica da alma, que parte “da análise geral dos seres vivos e das suas funções essenciais” para apontar a existência das partes ou funções da alma: a vegetativa, a sensitiva e a intelectiva, cada qual animando um tipo de operação própria do organismo. As duas primeiras perfazem a parte irracional da alma, e são partilhadas pelo humano com outros seres vivos: a parte vegetativa, responsável pela nutrição, reprodução e crescimento, é comum a todos os seres vivos, vegetais e animais; a parte sensitiva, responsável pelas sensações, apetites e movimento, é comum a humanos e aos demais animais. A intelectiva é a parte racional da alma, e é exclusiva do humano, entre os animais.” (p.6)
“ [...] O agir do humano determina-se pela relação entre a parte irracional-sensitiva da alma e a parte da alma que tem a razão. A parte sensitiva da alma abriga os desejos, os sentimentos, as paixões, as sensações e o princípio de todo movimento do ser vivo. A mais importante e mais característica das funções da alma sensitiva é a sensação, capacidade de receber as formas sensíveis sem a matéria, possibilitadora da fantasia, da memória e da experiência como acúmulo de fatos mnemônicos. [...]. Todo movimento do ser vivo deriva do desejo, da faculdade apetitiva. Assim se relacionam o movimento, o desejo e a sensação: a sensação provoca o desejo, que move o ser vivo. A sensação é a condição de possibilidade de todo desejo e de todo movimento.” (p.7)
“ [...] É argumentativa a relação entre razão ativa e a faculdade de desejar, que por esta perspectiva pode ser apresentada também como uma parte racional da alma, que tem razão. Neste último sentido, também a parte racional da alma mostra-se dupla, compondo-se pela parte capacitante da razão, que é a parte que tem a razão e que a exercita e a parte capaz de obedecer-lhe. [...] Mas a relação entre a razão e o desejo é sempre problemática. A faculdade de desejar é capaz de razão em sentido passivo, mas ao mesmo tempo é capaz também de incapacita-la, na medida em que pode “não dar ouvidos” ao que lhe dita a parte racional como o membro paralisado do corpo, que se move para a esquerda quando se quer movê-lo para a direita, e pode mesmo incapacitar a própria razão, tornando o homem não apenas incapaz de desejar o bem, mas mesmo de o discernir. Na investigação sobre a natureza da virtude, Aristóteles apresenta os três tipos de fenômenos que ocorrem com a alma: afecções, capacidades e disposições. São afecções da alma o desejo, a ira, o medo, a audácia, a inveja, a alegria, o ódio, a saudade e tudo o que se acompanha do prazer ou sofrimento.” (p.9)
“ [...] Evidentemente, encontrando-se as afecções na parte sensitiva da alma, também os animais as experimentam, e é aí, precisamente, que se desenha com nitidez o caráter especificamente humano da ética, que apenas tem lugar a partir da tensão que o seu caráter compósito estabelece no homem. [...]. Apenas na medida em que o homem é também racional surge para ele o desafio de controlar e dominar e por fim educar e conformar o seu desejo, isto é, a parte irracional-apetitiva de sua alma, impondo-lhe a direção e a medida tal que lhe indica a sua razão, como sentido orientador. Surjam as disposições ou hábitos, conceito capital da ética aristotélica, que são aquilo de acordo com que o homem se comporta bem ou mal relativamente às afecções. [...] A ética surge nessa tensão constitutiva do homem, e todo o seu programa consiste em elevar o homem da brutalidade em direção à divindade, o que se confunde com a realização de si mesmo, na sua dimensão mais própria, como ser racional.” (p.10)
“ [...] Ser insensível,para Aristóteles, não é uma virtude, mas uma forma de monstruosidade. A definição do humano exposta a partir de considerações psicológicas mostra o humano como em parte racional e em parte irracional, e denota como o agir é próprio do humano, por ter a alma assim dividida. [...] A autarquia é uma noção fundamental da ética grega. Em muitas passagens da Ética a Nicômaco, ela é afirmada como o fim do humano, confundindo-se com a felicidade. No início da política, Aristóteles esclarece que o fim para o qual todo ser foi criado é bastar-se a si mesmo. A afirmação de que “o homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade” vincula-se à sua natureza especificamente humana, entre o animal e o Deus.” (p.11)
“ [...] Este específico do homem é que o torna capaz e carente da política e da lei, pois é a vida na cidade a condição de sua elevação em direção que há de divino nele. O homem encontra condições de tornar-se homem na medida em que se integra na cidade. A cidade é uma associação que apenas se institui pelo fato de que o humano, isolado, é carente do outro, com quem estabelece troca. A necessidade é o fundamento da polis, lugar do encontro e da permuta em que o homem pode encontrar aquilo que sozinho não é capaz de obter na realização de seus desejos.” (p.12)
“ [...] A vida em comunidade não se resume ao simples viver, mas se dirige ao viver bem. Apenas isso justifica a afirmação de que mesmo da hipótese de não precisar do auxílio dos seus semelhantes, o homem deseja viver em sociedade. Afinal, “não é apenas para viver, mas para viver felizes, que os homens estabelecem entre si a sociedade civil”. [...] A posse dos bens éticos – a posse das virtudes do caráter – que tem uma relação interna com a felicidade também depende essencialmente da vida em sociedade.” (p.13)
“ Apenas no horizonte da polis o homem pode transcender sua incompletude em direção à realização de si mesmo, pois apenas a vida em sociedade oferece o ensejo e a oportunidade para a construção de seu caráter, para a conquista da virtude. [...] O homem não nasce pronto, mas deverá concluir-se pelo viver. Essa autoconstrução do homem ( que o leva a ser virtuoso ou pervertido, a ter virtudes ou vícios) apenas é possível na interação e no encontro com os outros homens junto ou em face de quem sempre age, assim como pressupõe o horizonte da lei, e os processos de educação ético-política pelos quais se forma.” (p.14)

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