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DIREITO PENAL – PARTE GERAL DIREITO PENAL O Direito Penal é o conjunto de princípios e normas que disciplinam o crime, as contravenções, a pena e a medida de segurança. Tem duas funções: 1ª) Proteção aos bens jurídicos. Bens Jurídicos são os interesses, os valores protegidos pela norma penal; 2ª) Manutenção da paz social. O Direito Penal tem caráter fragmentário, isto é, a lei penal só pode incriminar fatos graves, fatos que realmente devem ser incriminados como uma necessidade ao convívio social. É inconstitucional a eventual lei que incriminar fatos puramente imorais, como, por exemplo, a mentira. E o Direito Penal não pode também incriminar fatos que violam Direitos Fundamentais, como, por exemplo, o direito de liberdade. É, pois, inconstitucional, eventual lei que queira incriminar, por exemplo, a homossexualidade. Vigora no Brasil o direito penal do cidadão que é o conjunto de princípios e normas que estabelecem para o criminoso garantias materiais e garantias processuais, como, por exemplo, a ampla defesa, o direito a um advogado, e assim por diante. DIREITO PENAL DO INIMIGO O Direito Penal do Inimigo é aquele que suprime as garantias materiais e processuais. Então, no Direito Penal do Inimigo a criação de crime, por exemplo, não dependeria de lei. No Direito Penal do Inimigo não vigora o Princípio da Ampla Defesa, e assim por diante. No Brasil não é possível o Direito Penal do Inimigo, pois viola princípios constitucionais, sobretudo, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Há, no entanto, alguns resquícios de Direito Penal do Inimigo no Brasil, por exemplo, o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) que permite o isolamento do preso; outro exemplo, o art. 211 do CPP admite a incomunicabilidade do preso; há uma lei chamada Lei de Abate de Aeronave (se uma aeronave estrangeira invadir o nosso território ela pode ser abatida, ela pode ser destruída). Os arts. 1362 e 1373 da CF permite a suspensão de determinadas garantias durante o estado de sítio e durante o estado de defesa, assim, por exemplo, é possível suspender, nessas situações 1 Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963). 2 Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. §1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. DIREITO PENAL – PARTE GERAL excepcionais (estado de sítio, estado de defesa) o sigilo das comunicações, por exemplo, comunicações telegráficas, comunicações telefônicas; suspender o sigilo, de modo que, qualquer autoridade poderia quebrar esse sigilo. Outro exemplo: durante o estado de sítio e o estado de defesa seria possível prender sem ordem do juiz, isto é, uma autoridade administrativa determinar a prisão de alguém por até 10 (dez) dias, sem ordem do Juiz. Mas, o interessante é que durante o estado de sítio e o estado de defesa, embora, sejam suprimidas as garantias, é proibida a incomunicabilidade do preso. Durante uma situação normal é possível a incomunicabilidade do preso nos termos do art. 214 do CPP, mas, durante o estado de sítio e de defesa não é possível a incomunicabilidade do preso. FONTES DO DIREITO PENAL São os lugares de onde nasce o Direito Penal. Quais são as fontes do Direito Penal? a) A União é a fonte material do Direito Penal. Então, para criar a Lei Penal é preciso lei emanada da União; b) Os Estados-Membros, em regra, não podem legislar sobre Direito Penal. A Constituição os autoriza a legislar sobre questões específicas de Direito Penal, desde que, autorizados por Lei Complementar. É possível, portanto, uma Lei Complementar autorizar os Estados-Membros a legislar sobre temas específicos de Direito Penal, isto é, temas que interessam àquele Estado, por exemplo, poderia uma Lei Complementar autorizar o Estado do Amazonas a incriminar, por exemplo, de maneira diferenciada a destruição da planta vitória-régia. §2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação. §3º Na vigência do estado de defesa: I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial; II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação; III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; IV - é vedada a incomunicabilidade do preso. §4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta. §5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. §6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa. §7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa. 3 Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta. 4 Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, emqualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963). DIREITO PENAL – PARTE GERAL Em suma, as Fontes do Direito Penal é a União; e os Estados-Membros podem legislar em questões específicas, desde que haja Lei Complementar que os autorize. No tocante às fontes das normas penais não incriminadoras, podem ser: a Lei e os Costumes. Essas normas não incriminadoras podem brotar: de lei; costumes; princípios do direito e analogia. CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS PENAIS As leis penais podem ser: a) Incriminadoras: são aquelas que definem as infrações penais e cominam, isto é, preveem a respectiva sanção. É a lei que cria crime. A lei descreve a conduta criminosa e prevê a sanção. Exemplo: art. 1215. A conduta criminosa, que é o preceito primário da lei, é “matar alguém”. O preceito secundário é a sanção (pena: 06 (seis) a 20 (vinte) anos); b) Não Incriminadoras: são aquelas que não criam infrações penais. Elas podem ser: b.1) Permissivas: são as normas penais que autorizam a prática do fato típico. Por exemplo: a lei autoriza matar em legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito, estrito cumprimento do dever legal; b.2) Exculpantes: são as normas penais que preveem causas de exclusão da culpabilidade ou da punibilidade. Por exemplo: o menor de 18 (dezoito) anos não responde criminalmente; o doente mental deve ser absolvido (art. 266 do CP); outro exemplo: a prescrição; Alguns penalistas chamam essas normas de exculpantes também de normas permissivas. Então, o conceito de normas permissivas seria mais amplo, seria aquelas normas que preveem as causas de exclusão da antijuridicidade, da culpabilidade e da punibilidade. Para quem divide permissivas seria apenas as normas que preveem as causas de exclusão da antijuridicidade, enquanto, exculpantes seria a normas que preveem as causas de exclusão da culpabilidade e da punibilidade. b.3) Interpretativas: são aquelas que esclarecem o conteúdo de outras normas. Exemplo: o art. 3277 do CP prevê o conceito de Funcionário Público; o art. 13, “caput”8 do CP, prevê o conceito de causa no Direito Penal. NORMA PENAL EM BRANCO É aquela que a definição da conduta criminosa deve ser complementada por outra lei ou por ato administrativo. 5 Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 6 Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 7 Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. §1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. §2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. 8 Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. DIREITO PENAL – PARTE GERAL Na Norma Penal em Branco o preceito secundário, isto é, a sanção é completa, mas, a definição da conduta criminosa é incompleta, precisa ser complementada por outra lei ou por ato administrativo. A Norma Penal em Branco em sentido “lato” ou homogênea é aquela em que o complemento emenda também da mesma fonte que criou a Lei Penal, isto é, emana da União. Por exemplo: o art. 2379 do CP incrimina aquele que se casa conhecendo os impedimentos absolutos para se casar, por exemplo, ele fica viúvo e casa-se com a sogra, é crime porque é impedimento absoluto. Se ele casa conhecendo os impedimentos absolutos isso é crime. Agora, os impedimentos absolutos estão no Código Civil. Quem criou o Código Penal? A União. Quem criou o Código Civil? A União. Então, é uma Norma Penal em Branco Homogênea porque o complemento, exemplo, o Código Civil, emana também da União. A Norma Penal em Branco Heterogênea é aquela cujo complemento emana de um ato administrativo. Então, exemplo, a Lei de Drogas. Quais são as substâncias entorpecentes? Quais são as drogas? Essas drogas encontram-se numa Portaria, que é um ato administrativo emanado do Poder Executivo. Norma Penal Heterogênea porque a Lei foi feita pela União e o complemento um ato administrativo emanou do Poder Executivo. Essas Normas Penais em Branco Heterogêneas também são chamadas de Normas Penais em Branco em sentido estrito. TIPO ABERTO É aquele cuja definição da conduta criminosa precisa ser complementada pelo Juiz, é o caso, por exemplo, do crime de rixa. O crime é participar de rixa. O que é rixa? É o Juiz que vai complementar a definição da conduta criminosa. Outro exemplo de tipo aberto: crime culposo. O que é culpa? A culpa é complementada pelo juiz. Então, enquanto, na norma penal em branco o complemento é feito por outra lei ou por ato administrativo, no tipo aberto o complemento da definição da conduta criminosa é feito pelo juiz. INTERPRETAÇÃO Esclarecer a vontade da lei. Hermenêutica é o nome da ciência que estuda a interpretação das leis. O intérprete deve buscar a vontade da lei e não a vontade do legislador, porque uma vez promulgada a vontade da lei se desprende da vontade do legislador. a) Quanto ao Método: Gramatical: é a análise sintática, isto é, analisa o significado das palavras da lei; Lógica ou Teleológica: é que busca a “ratio legis”, isto é, a vontade da lei. Se houver conflito entre a interpretação lógica e a interpretação gramatical, prevalece, evidentemente, a interpretação lógica. b) Quanto ao Resultado ou Conclusão do intérprete: Declaratória: é aquela em que o texto da lei coincide com a vontade da lei. O que está escrito é o que realmente é. Não há nada para acrescentar, nem para reduzir. Há uma coincidência com o que está escrito e a vontade da lei. A maioria das interpretações acaba sendo declaratória; Extensiva: é quando lei disse menos do que quis, mas, ela quis abranger um fato. O fato, na verdade, que ela quis abranger está previsto implicitamente, através de um raciocínio lógico se 9 Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano. DIREITO PENAL – PARTE GERAL conclui que a lei prevê o fato de maneira implícita, embora tenha dito aparentemente, ela disse menos do que quis, então, é preciso estendê-la para abranger aquele fato que ela quis também abranger. Por exemplo: o art. 15910 do CP incrimina a extorsão mediante sequestro (sequestro é a privação da liberdade da vítima num recinto maior), mas, é evidente que é crime também do art. 159 a extorsão mediantecárcere privado (que é a privação da liberdade da vítima num cubículo, ela fica enclausurada, ela fica num buraco, ela fica num cativeiro). Se é crime extorsão mediante sequestro, isto é, deixá-la num ambiente maior, numa fazenda, numa casa, numa floresta, é evidente que também tem que ser crime do art. 159 deixá-la num buraco da casa, da fazenda, da floresta, é uma questão de lógica. Portanto, a interpretação extensiva a lei disse menos do que quis, mas, quis abranger o fato; Restritiva: é quando a lei disse mais do que quis, então, é preciso reduzir o alcance das suas palavras para não abranger certos fatos. Reduz para não abranger a situação, isso é a interpretação restritiva. Por exemplo: o art. 2811, diz: “a embriaguez não exclui a imputabilidade penal”. Quer dizer: estar bêbado não é desculpa para praticar crime. Num primeiro momento da impressão que não exclui em hipótese alguma, mas, na verdade a lei disse mais do que quis, porque a embriaguez exclui a imputabilidade penal, se for uma embriaguez patológica, isto é, doentia. Essa embriaguez patológica é quando o sujeito não tem álcool no organismo, mas, ele se comporta como se estivesse bêbado. É uma doença mental. De modo que o sujeito deve ser absolvido do art. 26, “caput”12 do Código Penal; “In Dubio Pro Reo”: é o princípio que se aplica na análise das provas. O Juiz Penal na dúvida absolve o réu. Agora, na interpretação das leis não vigora o “in dubio pro reo”. Na dúvida o Juiz não interpreta a lei necessariamente em favor do réu. O intérprete deve buscar uma interpretação que atenda a maior proteção ao bem jurídico e não necessariamente em favor do réu. Se esgotadas 10 Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de seis a quinze anos, e multa, de cinco contos a quinze contos de réis. Pena - reclusão, de oito a quinze anos. §1° Se o sequestro dura mais de vinte e quatro horas, se o sequestrado é menor de dezoito anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha: §1 o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de oito a vinte anos, multa, de dez contos a vinte contos de réis. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. §2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de doze a vinte e quatro anos, e multa, de quinze contos a trinta contos de réis. Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. §3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte a trinta anos, e multa, de vinte contos a cinqüenta contos de réis. Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. 11 Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: I - a emoção ou a paixão; II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. §1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. §2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 12 Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. DIREITO PENAL – PARTE GERAL todas as possibilidades, e, ainda sim, a dúvida persistir, como último recurso aplicaria o “in dubio pro reo” na interpretação das leis. Em resumo: Em matéria de interpretação, na dúvida não se interpreta necessariamente em favor do réu, mas sim, em favor da proteção do bem jurídico. Agora, se a dúvida não for solucionada pelos meios hermenêuticos, como último recurso poderia aplicar o “in dubio pro reo”; Interpretação Progressiva: é aquela que se faz a adaptação da lei à nova realidade social, senão ela se tornaria arcaica. Hoje em dia, por exemplo, o conceito de ato obsceno é diferente do que se pensava na década de 40, de 50, onde um simples beijo na boca já era ato obsceno. Então, hoje mudou a interpretação da lei; Interpretação Analógica ou “Intra Legem”: é aquela que a lei prevê uma fórmula casuística, isto é, exemplificativa, e em seguida uma forma genérica para abranger casos semelhantes. Exemplo, o Código Penal diz: “embriaguez é intoxicação produzida pelo álcool”, e depois diz: “ou outra substância de efeitos análogos”. Então, a lei deu exemplo “álcool” que é a fórmula casuística, e depois “ou outra substância de efeitos análogos”, que é fórmula genérica para abranger outras situações, assim, por exemplo, cocaína, embriaguez, maconha, cogumelo. Outro exemplo: o art. 171, “caput”13, que prevê o estelionato, diz: “estelionato é obter vantagem mediante artifício, ardil ou outro meio fraudulento”. Percebam que a lei deu dois exemplos de fraude (artifício e ardil) e depois disse “ou outro meio fraudulento”, isto é, pode ter outras hipóteses de fraude, como por exemplo, o silêncio para enganar a pessoa, é uma forma de praticar estelionato; INTEGRAÇÃO DO ORDENAMENTO JURÍDICO Integração é suprir as lacunas da lei ou a falta da lei. O ordenamento jurídico não tem lacunas porque o Juiz é obrigado a decidir. Ainda que não hajam leis, o juiz tem que decidir. É o princípio da indeclinabilidade da jurisdição. Os mecanismos de integração do ordenamento jurídico são: Analogia; Costumes; e Princípios Gerais do Direito Analogia: é aplicação ao caso não previsto em lei, de uma lei que regula caso semelhante. Na analogia a lei não prevê determinado fato, então, para resolver o problema, o Juiz aplica uma lei que regula fato semelhante. No Direito Penal é proibida a “analogia in malan partem”, isto é, analogia para prejudicar o réu, pois isso violaria o Princípio da Reserva Legal. Mas, é possível “analogia in bonan partem”, analogia para beneficiar o réu, salvo, em normas de exceção, em normas excepcionais. Tirando, então, essas hipóteses de normas que abrem exceção à regra geral, as outras normas gerais comportam analogia “in bonam partem”. Por exemplo: o art. 12814 permite ao médico realizar o aborto, se a gravidez resulta de estupro, mas, por analogia “in bonam partem” também é possível realizar o aborto, se a gravidez resulta de posse sexual fraudulenta (art. 21515); 13 Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. 14 Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 15 Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.DIREITO PENAL – PARTE GERAL Obs: Atentado violento ao pudor não existe mais. Atentado violento ao pudor que hoje é ato libidinoso diverso da conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça, hoje é classificado no Código Penal como estupro e não mais como um crime de atentado violento ao pudor. Não confundir a analogia com a interpretação analógica. Na analogia a lei não prevê o fato, e por isso, aplica-se uma lei que regula fato semelhante. Na interpretação analógica a lei prevê o fato na fórmula genérica, a lei manda abranger o fato através da fórmula genérica. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL (art. 1º16 do CP e art. 5º, XXXIX17 da CF) “Não há crime, nem pena, sem lei que o defina.” Princípio da Reserva Legal significa só a lei pode criar crime, só a lei pode criar pena, portanto, crime e pena não pode ser criado por analogia, costumes e princípios do direito. Esse princípio também se aplica às contravenções penais, portanto, só a lei pode criar uma contravenção penal, por força do art. 1218 do CP (as normas gerais do Código se aplicam as leis especiais). E uma dessas normas gerais é justamente o art. 1º, que cuida do princípio da reserva legal. A posição dominante é que também se aplicam as medidas de segurança. PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE ou MANDATO CERTEZA A lei que cria crime deve definir o mínimo de determinação da conduta criminosa. Deve ser uma lei que contenha a identificação mínima da conduta criminosa, porque a incriminação vaga, genérica, é inconstitucional. Por exemplo: há uma lei que incrimina o crime de terrorismo, assim “praticar terrorismo”. É uma lei inconstitucional porque não definiu o mínimo necessário para saber o que significa terrorismo. Portanto, o princípio da taxatividade complementa o princípio da reserva legal ao determinar que a lei deve conter o mínimo de identificação da conduta criminosa. Os crimes podem ser criados por: Emenda Constitucional. Porque se até a lei pode criá-lo, a emenda constitucional que está acima da lei, evidentemente, também poderá; Lei Complementar; e Lei Ordinária. Lei Delegada não pode criar crime. Não pode versar sobre direitos individuais, isto é, sobre matéria do art. 5º19, e criação de crimes está no art. 5º. Portanto, lei delegada não pode criar crime (art. 68, §1º, I e II20) Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. 16 Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 17 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; 18 Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 19 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: DIREITO PENAL – PARTE GERAL Medida provisória também não pode criar crime (art. 6221 do CP). Há quem entenda que medida provisória pode versar sobre normas penais não incriminadoras. A Constituição diz medida provisória não pode versar sobre Direito Penal, mas, a posição dominante é que ela poderia versar sobre normas permissivas, sobre normas não incriminadoras, o que ela não poderia era criar crime, porque até costume pode versar sobre Direito Penal, desde que, não crie crime evidentemente. O Princípio da Reserva Legal só se aplica as normas penais incriminadoras, não se aplica as normas penais não incriminadoras, portanto, normas penais permissivas, exculpantes, interpretativas, não se submetem ao Princípio da Reserva Legal. Tanto é que é possível as causas supralegais de exclusão da antijuridicidade. Causas que excluem a ilicitude baseado em costumes, analogia, princípios do direito. Então, não é preciso uma lei para criar essas causas de exclusão da antijuridicidade. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE A lei que incrimina o crime não pode ser aplicada a fatos anteriores a sua vigência. A lei que cria crime só vai poder ser aplicada aos fatos ocorridos a partir da sua vigência. Esse Princípio da Anterioridade aplica-se a lei que cria crime, contravenção, penas e medida de segurança. Se após o crime se criar uma pena maior, evidentemente, essa lei não será aplicada. Nada mais é esse Princípio da Anterioridade do que o Princípio da Irretroatividade da lei penal que prejudica o réu. LEI PENAL NO TEMPO (SUCESSÃO DE LEIS) Sucessão de leis ocorre quando o sujeito pratica o crime na vigência de uma lei e depois surge uma nova lei durante o inquérito ou durante o processo, é o chamado Conflito de Leis no Tempo. Em regra, viola o Princípio do “tempus regit actum”, isto é, aplica-se a lei vigente ao tempo da conduta criminosa. Em regra, portanto, o sujeito vai ser julgado pela lei vigente ao tempo da conduta criminosa. Exceção: É a lei penal benéfica. A lei penal benéfica é retroativa, aplica-se a fatos ocorridos antes da sua vigência (art. 5º, XL22, da CF). Essa lei penal benéfica retroage inclusive para violar coisa julgada, ainda que o sujeito já tenha sido definitivamente julgado com o trânsito em julgado, a lei penal benéfica deve retroagir para aplicar a fatos ocorridos antes da sua vigência. A lei penal benéfica é extra-ativa. Lei extra-ativa é a que tem duas características: a) Retroativa: se ela surgir após o fato ela retroage para aplicar a fatos anteriores; 20 Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. §1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; 21 Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II - coage ou induz outrem à execução material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. 22 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; DIREITO PENAL – PARTE GERAL b) Ultra-ativa: significa que se ela for revogada ela continua a ser aplicada a fatos ocorridos durante a sua vigência. Então, sujeito praticou o crime durante a vigência de uma lei mais benéfica,depois surgiu uma lei que piora a situação, continua sendo aplicada a lei mais benéfica aos fatos ocorridos durante a sua vigência. São duas as espécies de leis penais benéficas: 1ª) “Abolitio criminis” É a lei que deixa de considerar o fato criminoso. Torna atípico um fato que até então era fato típico. É uma lei que revoga norma que incriminava o fato anterior. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o crime de sedução e com o crime de adultério. Em 2.005 foram revogados esses dois crimes por uma nova lei. Natureza Jurídica: é disciplina no Código Penal como causa de extinção da punibilidade (art. 10723 do Código Penal). Efeitos: apaga todos os efeitos penais, de modo que o réu volta a ser primário. Ocorrendo é como se o crime não existisse. Se o inquérito policial está em andamento, o Juiz decreta a extinção da punibilidade. Se a ação penal está em andamento, o Juiz decreta a extinção da punibilidade nos termos do art. 10724. Se o processo está no Tribunal em grau de recurso, o Tribunal decreta a extinção da punibilidade. Agora, se já transitou em julgado a condenação, e daí surge à nova lei, a “abolitio criminis”, o Juiz competente para aplicar a “abolitio criminis” após o trânsito em julgado é o Juiz da Execução Penal. Então, não é através de habeas corpus que se pleiteia “abolitio criminis”, e sim após o trânsito em julgado se pede ao Juiz da Execução Penal (Súmula 61125 do STF, que diz isso não cabe habeas corpus). Se já transitou em julgado, pede primeiro para o Juiz da Execução, e após cabe recurso de agravo em execução. A “abolitio criminis”, portanto, apaga todos os efeitos penais, mas, os efeitos civis permanecem. Portanto, persiste a obrigação do réu de indenizar a vítima. Se a sentença já tinha transitado em julgado ela já continua valendo como título executivo no cível. 23 Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial deste Código; VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005); IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 24 Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial deste Código; VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005); IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 25 Súmula 611\STF. 611. Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna. DIREITO PENAL – PARTE GERAL 2ª) “Novatio Legis in Mellius” É a nova lei que de qualquer forma beneficia o réu, sem abolir o crime. É uma lei que reduz a pena, que prevê causas de exclusão da antijuridicidade, da culpabilidade, que reduz o prazo de prescrição, que permite “sursis” onde não cabia. Exemplo: anistia. Qual é a diferença entre anistia e “abolitio criminis”? Ambas dependem de lei; Ambas apagam todos os efeitos penais da condenação (o réu volta a ser primário de bons antecedentes); Ambas persistem os efeitos civis, isto é, obrigação de indenizar; Na “abolitio criminis” a nova lei revoga a lei que incriminava o fato. Então, o fato deixa definitivamente de ser crime; Na anistia a nova lei não revoga a norma incriminadora, o fato continua sendo crime; A anistia é a lei que exclui do Direito Penal, certos fatos, mas, a norma que o incrimina continua em vigor. Por exemplo: Surge uma lei anistiando quem cometeu crime contra a segurança nacional até 1.979. Então, ela exclui determinado fato (como realmente ocorreu essa lei de anistia em 1.979, quem praticou tal crime até tal data está anistiado), mas, continua sendo crime, o crime continua existindo. Foi uma anistia para apagar certos fatos cometidos numa determinada época. APURAÇÃO DA LEI MAIS BENÉFICA Pratica-se um crime na vigência de uma lei e depois surge outra lei para verificar qual é a mais benéfica, não basta compará-las em abstrato, comparar as penas da lei, é preciso analisar o caso concreto, porque às vezes, a lei tem uma pena maior, mas, ela traz outros benefícios que a primeira não trazia. COMBINAÇÃO DE LEIS O sujeito pratica crime na vigência de uma lei e depois vem uma nova lei que é mais benéfica numa parte e pior numa outra parte. Porque às vezes, a nova lei é mais benéfica na pena de prisão, mas, prevê uma pena de multa maior, quer dizer a lei anterior era melhor no tocante à pena de multa. Então, poderia pegar a pena de prisão da nova lei, já que é menor, e a pena de multa da lei anterior, já que a pena de multa da lei anterior era melhor do que a pena de multa da nova lei. Então, combinação de leis é pegar uma parte de uma lei e uma parte de outra. Uma primeira corrente acha que não é possível porque o Juiz estaria legislando, mas, a posição dominante que é possível sim a combinação de leis, porque é uma forma de o Juiz suprir as lacunas da lei. Tendo em vista que a nova lei gera uma situação benéfica numa parte e na outra parte a lei anterior é mais benéfica, então, o Juiz poderia combinar as leis, justamente para aplicar a lei mais benéfica. O Juiz não está criando lei porque está pegando parte de uma lei e parte de outra lei que já existe, não são leis que ele criou. Então, a posição dominante é que é sim possível a combinação de leis. LEIS SEVERAS Leis que prejudicam o réu. São de duas espécies: DIREITO PENAL – PARTE GERAL a) “Novatio legis incriminadora” é a lei que torna típico um fato que até então era atípico. É a lei que cria crime; b) “Novatio legis in pejus” é a lei que agrava a situação jurídica de um fato que já era criminoso. Ela não criou um novo crime, mas, aumentou pena, proibiu sursis. Essas leis que prejudicam o réu são irretroativas, portanto, lei penal que prejudica o réu não pode retroagir. LEIS TEMPORÁRIAS E LEIS EXCEPCIONAIS (art. 3º26 do CP) a) Lei Temporária é a que traz no seu texto o período da sua vigência. Então, é uma lei que diz que vai vigorar só durante 02 (dois) anos, por exemplo. b) Lei Excepcional: é aquela cuja vigência depende da persistência de uma situação anormal, de uma situação extraordinária. Exemplo hipotético, imaginário: Uma lei que diga “é crime passar pela ponte durante a guerra”. Então, depende essa lei da persistência da guerra. Essas leis temporárias e excepcionais são ultra-ativas, isto é, continuam sendo aplicadas aos fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de cessada a sua vigência. Então, imaginemos, por exemplo: quem pratica crime militar durante a guerra. Terminada a guerra ele vai continuar sendo processado; quem pratica crime eleitoral durante a eleição, terminada a eleição continua sendo processado, porque essas leis são ultra-ativas. Continuam sendo aplicadas aos fatos ocorridos durante a sua vigência mesmo depoisde sendo cessada a sua vigência. Não são as únicas leis ultra-ativas, porque conforme eu já disse, a lei penal benéfica também é ultra-ativa. Portanto, nós temos três leis ultra-ativas: Temporárias; Excepcionais; e a Lei penal benéfica. TEMPO DO CRIME (art. 4º27 do CP) Considera-se praticado o crime no momento da conduta, isto é, no momento da ação ou da omissão. É a chamada Teoria da Atividade. Exceção: A lei penal benéfica. Retroage para aplicar a fatos ocorridos antes da sua vigência. É importante para analisar a imputabilidade. Então, imaginemos: na véspera de completar 18 (dezoito) “A” atira em “B”. “B” morre quando “A” já tinha 18 (dezoito) anos. “A” não responde pelo crime, porque a imputabilidade é apurada ao tempo da conduta criminosa e não ao tempo do resultado. Quando realizou a conduta ele era menor de 18 (dezoito) anos, portanto, não vai responde pelo crime, embora, o resultado tenha ocorrido quando ele já tinha 18 (dezoito) anos. CRIME PERMANENTE E CRIME CONTINUADO a) Crime Permanente: é aquele que o momento consumativo se prolonga no tempo por vontade do agente, que é o caso do sequestro. 26 Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 27 Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. DIREITO PENAL – PARTE GERAL b) Crime Continuado: é quando o sujeito pratica diversos crimes, mais de um crime da mesma espécie. Então, começa a praticar diversos estelionatos, diversos furtos. Começa o crime permanente na vigência de uma lei e durante o crime surge uma lei mais severa, qual lei se aplica? Aplica-se a nova lei. Aplica-se a última lei que estava em vigor antes de cessar a permanência, ou antes, de cessar o crime continuado, é o que diz a Súmula 71128 do STF. Por exemplo: Se o sujeito começou sequestrar a vítima na vigência de uma lei, durante o sequestro surge uma lei que dobra a pena, ele vai ser regido pela nova lei, ainda que, prejudicial, porque a conduta foi praticada na vigência da nova lei. O tempo do crime é o momento da conduta, não é o momento do início da conduta. Nos crimes permanentes a conduta se prolonga no tempo. Embora, a conduta tenha se iniciado na vigência de uma lei, ela continuou na vigência de uma lei, então, aplica-se a lei vigente ao tempo da conduta. Não é no inicio da conduta e sim ao tempo da conduta que estava em vigor antes de cessar a permanência ou cessar a continuidade delitiva. LEI PENAL NO ESPAÇO A Lei Penal no Espaço refere-se a crimes ocorridos fora do Brasil, refere-se, também, ao fato de uma parcela da conduta ocorrer no Brasil, outra parcela noutro País, ou o inverso, uma conduta em outro País, resultado aqui no Brasil. Como regra, vigora o princípio da territorialidade temperada. Significa: aos fatos ocorridos no Brasil aplica-se apenas a lei penal brasileira. E a lei penal brasileira só se aplica a fatos ocorridos no Brasil. É o Princípio da territorialidade temperada ou relativa porque admite duas exceções: a) Extraterritorialidade é a aplicação da lei penal brasileira a fatos ocorridos fora do Brasil; b) Intraterritorialidade é a aplicação da lei penal estrangeira a crimes ocorridos no Brasil. PRINCÍPIOS DA EXTRATERRITORIALIDADE Que é o fato da Lei Penal Brasileira ser aplicada a crimes ocorridos fora do Brasil. PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE ATIVA Aplica-se a lei da nacionalidade a que pertencer o criminoso. Assim, se um brasileiro praticar crimes fora do Brasil, a lei penal brasileira pode ser aplicada a ele. PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE PASSIVA Aplica-se a lei do País a que pertencer a vítima. Assim, se alguém praticar crime contra Brasileiro fora do Brasil, o Brasil pode julgar este crime (art. 7º, §3º29 do CP). PRINCÍPIO DA DEFESA OU PROTEÇÃO OU REAL 28 Súmula 711\STF. 711. A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 29 Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: §3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. DIREITO PENAL – PARTE GERAL Aplica-se a lei do País a que pertencer o bem jurídico ofendido ou exposto a perigo. Assim, se alguém praticar um crime contra o patrimônio da União, Estado, Municípios, o Brasil julga este crime mesmo ocorrendo fora do Brasil. Outro exemplo: se alguém pratica um crime fora do Brasil contra o Presidente da República Brasileiro, o Brasil vai julgar este crime. PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL OU COSMOPOLITA É o que manda aplicar a lei do País em que se encontra o criminoso, pouco importa o lugar do crime, pouco importa a nacionalidade do sujeito ativo ou do sujeito passivo, o local onde ele estiver aplica-se a lei do País do local onde ele estiver. Esse princípio também é adotado no Brasil em alguns delitos. Então, imaginemos: o sujeito pratica um crime de tráfico de pessoas na Europa, e ele está passeando aqui no Rio de Janeiro, o Brasil pode julgar este crime. PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO OU SUBSTITUIÇÃO (PRINCÍPIO DO PAVILHÃO OU DA BANDEIRA) Aplica-se a lei do país a que pertencer à embarcação privada ou a aeronave privada onde ocorreu o crime. Então, imaginemos: navio ou aeronave privado brasileiro que está num outro país, e um chileno mata um boliviano, crime envolvendo só estrangeiros. O Brasil julga este crime subsidiariamente, isto é, se o País onde ocorreu o crime não quiser julgar, daí, então, o Brasil julgará. O que é Território? Território é um conceito jurídico de âmbito de validade das nossas normas jurídicas. É o âmbito espacial em que as nossas normas jurídicas têm valor, isto é, devem ser aplicadas. Território é até onde vai a nossa soberania. Até onde vai o poder da jurisdição brasileira. O Território abrange: a) O País. O País é o território geográfico, isto é, é o nosso espaço físico delimitado pelas fronteiras; b) 12 (doze) milhas do Mar Territorial; c) O espaço aéreo subjacente ao nosso país, ao nosso mar, a essas 12 (doze) milhas. No tocante ao espaço aéreo vigora a teoria da absoluta soberania do espaço aéreo do País subjacente, isto é, não tem limite. Todo espaço aéreo que está acima do nosso território jurídico ou do nosso mar territorial é considerado território brasileiro; d) o território brasileiro por extensão abrange navios e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro que estejam em qualquer País são considerados território brasileiro. Então, imaginemos: Navio Público Brasileiro ancorado em Lisboa, chileno mata boliviano. O crime ocorreu fora do Brasil? Não. O crime ocorreu no Brasil, porque é um navio público, e é considerado território brasileiro por extensão. Também é território brasileiro por extensão o navio ou aeronave particular brasileiro que estejam em alto mar. Se houver aqui navio ou aeronave público estrangeiro será considerado território estrangeiro, porque tem reciprocidade. Imaginemos o seguinte: Tem um avião Inglês sobrevoando a cidade de São Paulo, e o inglês mata outro inglês. O crime ocorreu no Brasil ou fora do Brasil? Se for uma aeronave pública ou a serviço do governo da Inglaterra é um territórioda Inglaterra, então, o crime ocorreu fora do Brasil, quem vai julgar vai ser a Inglaterra. Agora, se for um avião particular inglês que esteja sobrevoando aqui, então, o crime ocorreu aqui no Brasil. Daí o Brasil vai julgar este crime. DIREITO PENAL – PARTE GERAL LUGAR DO CRIME (art. 6º30 do CP) Está ligado aos chamados crimes à distância, que são aqueles ligados em que a conduta ocorre em um País e o resultado ocorre noutro País. Então, imaginemos: alguém do Brasil mandou uma bomba que explodiu lá na Bolívia ou vice-versa. Adotou-se a teoria da ubiquidade pura. Significa: O Brasil é o lugar do crime. O crime ocorreu no Brasil, o Brasil é o lugar do crime quando a conduta, ainda que parcialmente ocorrer aqui no Brasil. Então, se a conduta pudesse ser dividida em 100 (cem) atos, e um ato de execução ocorresse no Brasil, o Brasil seria o lugar do crime. O Brasil é o lugar do crime quando a conduta, ainda que parcialmente ocorrer aqui, quando o resultado ocorrer no Brasil. Então, imaginemos: a conduta ocorreu na Bolívia e o resultado no Brasil. O Brasil é o lugar do crime. Também o Brasil é o lugar do crime quando o resultado deveria ocorrer aqui, mas, não ocorreu por circunstâncias alheias à vontade do agente. Então, alguém mandou uma bomba para explodir aqui no Brasil, mas desviou e não explodiu no Brasil, foi explodiu em outro País, ainda, assim, o Brasil é o lugar do crime. Não confundir o art. 6º31 do CP com o art. 7032 do CPP. O art. 6º do CP cuida dos crimes à distância (conduta num País, resultado noutro País) e fixa a jurisdição brasileira, o poder de julgamento quando a conduta ou resultado ocorre no Brasil ou deveria ocorrer aqui no Brasil. O art. 70 do CPP cuida dos crimes plurilocais, isto é, conduta numa comarca, resultado noutra comarca, mas, dentro do mesmo País, e fixa competência territorial, isto é, a comarca competente, não fixa jurisdição, fixa comarca, dizendo que o réu deve ser processado na comarca da consumação, embora, essa regra tem algumas exceções, por exemplo, no homicídio entende-se que a competência no homicídio doloso é no local da conduta, porque lá tendo repercussão. Então, se “A” baleou a vítima numa cidade de Sorocaba e a vítima morre no hospital em São Paulo, embora, consumou em São Paulo, pela jurisprudência o processo no homicídio doloso é no local que ocorreu a conduta, que lá que teve maiores repercussões o fato. A Extraterritorialidade é a aplicação da lei penal brasileira a crimes ocorridos fora do Brasil. Pode ser: a) Extraterritorialidade Incondicionada: é aquela que para o Brasil julgar basta a prática de determinado crime no exterior. O Brasil julgará o crime ainda que o réu venha a ser absolvido no exterior, ainda que tenha cumprido totalmente a pena no exterior, ainda que ele tenha sido perdoado no exterior, ainda que tenha sido extinta a punibilidade pelas leis estrangeiras, mesmo assim, o Brasil julga o crime nessas hipóteses de extraterritorialidade incondicionada. Essas hipóteses são as seguintes: Crime contra a vida e liberdade do Presidente da República; Crime contra o patrimônio ou fé pública da União, Estado-Membro, Distrito Federal, Município, Autarquia, Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista; Crime contra a Administração Pública Brasileira por quem estava a serviço; 30 Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 31 Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 32 Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. §1 o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. §2 o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. §3 o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção. DIREITO PENAL – PARTE GERAL Crime de Genocídio praticado por brasileiro ou por pessoa domiciliada no Brasil. Nessas situações, portanto, o Brasil julga os crimes ainda que o agente tenha sido absolvido lá fora, tenha sido perdoado ou extinta a punibilidade. b) Extraterritorialidade Condicionada (art. 7º, II33, do CP). São certos crimes que para o Brasil julgar depende de ocorrer uma série de condições. Quais são essas condições para o Brasil julgar? São as seguintes: O agente tem que entrar no território brasileiro, se ele não entrar aqui, o Brasil não vai julgar; A dupla tipicidade, isto é, o fato tem que ser crime no exterior e no Brasil. Porque se for contravenção, o Brasil não julga contravenção ocorrida fora do Brasil. Não existe extraterritorialidade de contravenção, porque o Brasil nunca vai julgar uma contravenção ocorrida fora do Brasil; Tem que ser um crime extraditável, isto é, crimes que a lei brasileira admite extradição. Leia-se crime com pena privativa de liberdade superior a 01 (um) ano; que até 01 (um) ano o Brasil também não julga; Não pode ter sido absolvido no exterior; Não pode ter sido extinta a punibilidade pelas leis estrangeiras; Nem ter sido perdoado pelas leis estrangeiras; e Não pode ter cumprido toda pena lá fora. Então, para o Brasil julgar determinados crimes na extraterritorialidade condicionada são as seguintes condições. Dando um exemplo: Brasileira pratica um aborto num País que é permitido. Para o Brasil poder julgar esse crime ocorrido fora do Brasil: 1ª condição: tem que voltar para o Brasil; 2ª condição: dupla tipicidade. Tem que ser crime aqui e tem que ser crime onde foi praticado também. Porque se praticar um aborto num País que aborto não é crime, quando ela volta para cá ela não poderá ser processada. Porque tem que ter a dupla tipicidade, tem que ser crime aqui e crime lá; 3ª condição: tem que ser crime com pena superior a 01 (um) ano; crime que admite extradição; 4ª condição: não pode ter sido absolvida no exterior, nem extinta a punibilidade, nem perdoada, e se foi condenada, se já cumpriu pena lá, não vai poder ser julgada aqui. Presentes todas essas condições. Quais são esses crimes que o Brasil julga? a) Crimes Internacionais que são aqueles por Tratado ou Convenção o Brasil se obrigou a reprimir, por exemplo, o tráfico de pessoas; b) Crimes praticados por Brasileiros no exterior. Então, se o Brasileiro mata alguém no exterior, por exemplo; c) Crimes praticados contra Brasileiro, que o Brasileiro é a vítima. Imaginemos: Um Alemão mata uma Brasileira na Alemanha, para o Brasil julgar esse crime, além daquelas condições ter que entrar aqui no Brasil, a ação penal depende de requisição do Ministro da Justiça, é uma ação penal 33 Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em territórioestrangeiro e aí não sejam julgados. DIREITO PENAL – PARTE GERAL pública condicionada à requisição e o Brasil só julgará este crime cometido contra Brasileiro se o País onde cometeu o crime não pedir a extradição desse estrangeiro que veio para o Brasil ou se pediu a extradição se o Brasil negou a extradição; d) Crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações particulares brasileiras que estejam no exterior. Aeronaves ou embarcações particulares brasileiras que estejam em algum País estrangeiro. Aqui se refere à hipótese que o autor é estrangeiro e a vítima estrangeira. O único que é brasileiro é a embarcação, a aeronave. Nesse caso, como nós já vimos, o julgamento no Brasil é subsidiário, o Brasil só vai julgar se o próprio País onde ocorrer o crime não se interessar pelo julgamento. PRINCÍPIO DO “NON BIS IN IDEM” (art. 8º34 do CP) A pena cumprida no exterior é abatida ou atenuada a pena cumprida no Brasil, a pena brasileira, pelo mesmo fato. Imaginemos o seguinte: O sujeito praticou crime fora do Brasil e chegou a cumprir um pouco de pena no exterior, depois veio para cá e foi condenado também. Se as penas forem da mesma espécie daí a questão é de detração penal, isto é, desconta. Então, foi condenado a 05 (cinco) anos aqui no Brasil e na Alemanha cumpriu 01 (um) ano de pena lá, desconta vai cumprir só mais 04 (quatro) aqui, se as penas forem da mesma espécie. Agora, se as penas foram de espécies diferentes daí a pena cumprida no exterior atenua a pena brasileira. Então, foi condenada a prisão no Brasil e a multa noutro País, e pagou a multa. Então, aqui no Brasil, o fato dele ter cumprido a pena no outro País, no caso, pagou a multa, vai atenuar a pena brasileira. “Non bis in idem” o sujeito pode ser julgado pelo Brasil pelo outro País pelo mesmo fato, porque o Brasil não pode impedir o outro País de julgar o fato porque é uma questão de soberania. Agora, na hora de cumprir a pena aqui no Brasil desconta-se a pena cumprida no exterior se forem penas da mesma espécie ou, então, se forem penas de espécies diferentes atenua-se a pena brasileira, porque é o Juiz é quem vai dizer o “quantum” dessa atenuação, porque a lei não diz. EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA Com relação aos crimes ocorridos fora do Brasil à sentença penal estrangeira para surtir efeito aqui no Brasil, em regra, não precisa ser homologada, basta ela ser traduzida e autenticada pelo Consulado Brasileiro. Se o sujeito pratica um crime nos Estados Unidos, essa sentença estrangeira para gerar reincidência aqui no Brasil, não precisa de homologação, basta traduzir e reconhecer a firma no Consulado. Portanto, a homologação da sentença estrangeira só é necessária em duas situações. Em duas hipóteses a sentença estrangeira para produzir efeitos aqui no Brasil tem que ser homologada: a) Obrigar o agente a reparar o dano, em suma, ao ressarcimento, aos efeitos civis de um modo geral. Para obrigar o sujeito a reparar o dano precisa ser homologada; b) Para sujeitá-lo à medida segurança aqui no Brasil. Então, se ele sofreu uma medida de segurança num País lá fora, para cumprir essa medida de segurança aqui no Brasil essa sentença estrangeira precisa ser homologada. Portanto, em duas situações para obrigação de reparação do dano e homologação de medida de segurança, a sentença estrangeira precisa ser homologada pelo STJ. E para homologação, é 34 Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. DIREITO PENAL – PARTE GERAL preciso o trânsito em julgado, antes do trânsito em julgado não se homologa sentença estrangeira (Súmula 42035 do Supremo Tribunal Federal) IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS Os diplomatas estrangeiros se praticarem crimes no Brasil eles não serão julgados pela lei brasileira. Então, imaginemos: um diplomata estuprou alguém aqui no Brasil, matou, ele não é julgado pela lei brasileira, ele é julgado pela lei do seu País. É uma causa de exclusão da Jurisdição Brasileira. A imunidade se estende aos diplomatas, aos funcionários estrangeiros da embaixada e, também, se estende aos respectivos familiares. Portanto, se o filho do diplomata matar alguém aqui no Brasil, ele não será julgado no Brasil, ele é julgado na lei do seu País. O cônsul só tem imunidade para crimes funcionais, para crimes relacionados ao exercício da sua função, para outros crimes ele não tem imunidade. Já o diplomata, funcionários estrangeiros da embaixada e os familiares têm imunidade para todos os crimes, o cônsul não. O Cônsul a imunidade é só para ele, não é para outros funcionários do consulado, nem para familiares, é só para crimes funcionais, crimes relacionados com as funções que ele tem imunidade, isto é, não será julgado no Brasil. A sede da embaixada é possível nela receber criminosos políticos. A Convenção de Caracas permite que a sede da embaixada de asilo político para determinados criminosos. Porém, a sede da embaixada estrangeira que se situa no Brasil é território brasileiro. A sede da embaixada não é território estrangeiro, é território brasileiro. O fato de permitir o asilo político não significa que é território estrangeiro. Então, qualquer crime ocorra na sede da embaixada, um furto, o Brasil que vai julgar. O Brasil só não julga as pessoas que tem imunidade (Diplomatas, funcionários estrangeiros da embaixada e os respectivos familiares). Essas imunidades diplomáticas são estendidas também aos Ministros das Relações Exteriores porque eles estão acima dos Diplomatas e aos Presidentes da República e Primeiros Ministros que estão acima também dos Diplomatas. Então, evidentemente, se o Presidente dos Estados Unidos vem aqui pratica um crime ele não vai ser julgado pela lei brasileira. Embora, a imunidade seja para o Diplomata, por interpretação extensiva, estendesse também a imunidade para as autoridades que estão acima dos Diplomatas, que é o caso dos Ministros das Relações Exteriores e do Presidente da República. IMUNIDADES PARLAMENTARES Os Deputados e Senadores têm imunidade penal absoluta nos crimes de opinião, eles não respondem por suas palavras, por suas opiniões, por seus votos. Exemplo: crime contra a honra é um crime de opinião, apologia ao crime, então, o deputado que faz apologia ao crime é crime de opinião, ele não responderá, nem inquérito se instaura. Agora, o terceiro que participa do crime responde. O terceiro que instigou o deputado vai responder (Súmula 24536 do STF). O início da imunidade é com a diplomação, logo, antes mesmo de tomar posse ele já tem imunidade. Se ele se afasta para exercer cargos no Executivo, por exemplo, vai ser Ministro, Secretário de Governo, ele não perde o mandato de Deputado, mas, ele não tem imunidade nesse período que está afastado. No tocante aos outros crimes que não sejam de opinião os Deputados ou Senadores eles respondem. 35 Súmula 420\STF. 420. Não se homologa sentença proferida no estrangeiro, sem prova do trânsito em julgado. 36 Súmula 245\STF. 245. A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa. DIREITO PENAL – PARTE GERAL No tocante a prisão Deputado e Senador só pode ser preso em flagrante por crime inafiançável e, mesmo assim, feita a prisão em flagrante tem que comunicar a respectiva casa, se for Deputado a Câmara, se for Senador o Senado. E a casa tem vinte e quatro horas para decidir se vai ou não manter a prisão decretada pelo STF. Então, o Deputado e Senador só podemser presos em flagrante em crime inafiançável, eles não podem ser presos por outras prisões. Essa prisão em flagrante por crime inafiançável na verdade não é decretada pelo STF. O STF não pode prender Deputado e Senador, porque o Deputado ou Senador só pode ser preso em flagrante e por crime inafiançável, enquanto for Deputado ou Senador. E a prisão é comunicada a respectiva casa que terá vinte e quatro horas para manter ou não a prisão. Agora, no tocante a ação penal contra Deputado ou Senador, fora os crimes de opinião, o Procurador-Geral da República pode oferecer a denúncia no Supremo Tribunal Federal, e o Supremo recebe normalmente a denúncia, não precisa mais de licença da casa para receber a denúncia. Recebe a denúncia e comunica a respectiva casa, isto é, a Câmara ou Senado. E a casa, então, por maioria dos seus membros pode suspender o processo. Então, a denúncia é recebida. A casa é comunicada. A casa pela maioria dos seus membros pode determinar a suspensão do processo. Deputados Estaduais têm imunidades idênticas ao dos Federais (art. 27, §1º37, CF). Eles são julgados pelo Tribunal de Justiça, enquanto, os Deputados Federais e Senadores são pelo STF. Quanto aos Vereadores (art. 29, VIII38, CF) diz que eles só têm imunidade nos crimes de opinião e, mesmo assim, a imunidade é só quando ele está no exercício do mandato e na circunscrição do Município, portanto, ele não tem imunidade quando está fora do Município; Vereador não tem imunidade. A imunidade do Vereador é só penal para crimes de opinião. Quanto à prisão pode ser preso normalmente. Quanto à ação penal a Câmara de Vereadores não é nem comunicada da ação penal, não tem poder para suspender a ação penal. PRESIDENTE DA REPÚBLICA O Presidente da República não pode ser preso, salvo, após o trânsito em julgado da condenação (art. 86, §3º39 da CF). E no tocante a ação penal para processar o Presidente da República é preciso licença prévia da Câmara dos Deputados, 2\3 (dois terços) da Câmara dos Deputados precisa autorizar o processo contra o Presidente da República. Aplica-se ao Presidente o Princípio da Irresponsabilidade, isto é, o Presidente não pode se quer ser processado por crime anterior ao mandato e não pode ser processado por crime praticado durante o mandato, mas, sem nexo com as suas funções, crimes que não tem nexo com as suas funções, não pode ser processado, mas é uma imunidade temporária, só perdurar enquanto durar o mandato. Então, ele 37 Art. 27. O número de Deputados à Assembléia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. §1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. 38 Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município; 39 Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. §3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. DIREITO PENAL – PARTE GERAL só vai poder ser processado por crime praticado durante o mandato e relacionado com as suas funções e mesmo assim o processo vai precisar de autorização de 2\3 (dois terços) da Câmara dos Deputados para que o Supremo Tribunal Federal possa receber a denúncia. Se a Câmara autorizar o processo o Presidente será suspenso por 180 (cento e oitenta) dias do seu cargo. IMUNIDADES DOS GOVERNADORES A Constituição não prevê a exigência de licença para receber denúncia contra Governador; contra Presidente precisa de 2\3 (dois terços) da Câmara, para Governador a Constituição Federal não prevê nada disso. De modo que, essa exigência de 2\3 (dois terços) da Assembléia Legislativa para receber denúncia contra o Governador só existe se houver previsão expressa na Constituição Estadual, sem essa previsão expressa não vai ter essa imunidade de se exigir 2\3 (dois terços) para receber denúncia contra Governador do Estado. As Constituições Estaduais não pode estabelecer para o Governador imunidade de prisão nos moldes que tem o Presidente da República, porque a prisão é uma das consequências, a possibilidade de prender o governante é uma das consequências do Princípio da República e essas exceções ao Princípio da República devem estar expressas na Constituição Federal. De modo que, Governador não tem nenhuma imunidade referente à prisão, e as Constituições Estaduais não poderão prever essas imunidades referentes à prisão, porque exceções ao Princípio Republicano só podem ser admitidas se constar expressamente na Constituição Federal. DISPOSIÇÕES FINAIS (art. 10 a 1240 do CP) CONTAGEM DO PRAZO Em matéria penal inclui-se o dia do começo na contagem do prazo. Então, o prazo de 03 (três) dias que começa na segunda-feira, termina às vinte quatro horas da quarta-feira, porque inclui o dia do começo, segunda, terça e quarta. Os prazos penais incluem-se o dia do começo, diferente do prazo processual que começa a correr a partir do dia seguinte, o penal não, já inclui o dia do começo. Porque o prazo penal quanto mais curto melhor para o réu. O processual quanto maior melhor para o réu. Quanto aos dias, meses e anos contam-se pelo calendário comum que é o calendário gregoriano. Os dias, meses e anos contam-se pelo calendário comum, então, um mês no Direito Penal não tem 30 dias. O mês no Direito Penal pode ter 28 dias, se for Fevereiro, 29 dias, se for Fevereiro no bissexto, pode ter 30 dias, pode ter 31 dias. Por exemplo: Setembro tem 30, Agosto tem 31. Portanto, mês no Direito Penal não tem necessariamente 30 dias, é o calendário comum. Pode ter 28, 29, 30 ou 31, depende do mês. E o ano é a mesma coisa, o calendário comum. O ano pode ter 365 ou 366, se for ano bissexto. Nas frações outra regrinha que tem; despreza-se as frações de dia nas penas privativa de liberdade. Frações de dias são as horas. Então, as frações de dias são desprezadas no cálculo da pena privativa de liberdade. Então, se o Juiz fixou uma pena em 20 dias e mandou aumentar de 1\3, foi para 26 dias e 16 horas. Então, essas 16 horas são desprezadas, não precisa cumprir essas frações de dias que são as horas. 40 Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. DIREITO PENAL – PARTE GERAL Despreza-se também na pena de multa as frações de real que são os centavos. Os centavos, portanto, não são devidos no Direito Penal. E, finalmente, o art. 1241, diz o seguinte:“as normas gerais do Código Penal se aplicam a toda a legislação especial”. Então, as normas gerais do Código estão no art. 1º42 ao art. 12043 e tem algumas outras normas gerais fora desses artigos, por exemplo, o art. 32744 é uma norma geral também. As normas gerais, por exemplo, que cuidam de legítima defesa, prescrição, menoridade. Todas essas normas gerais (Princípio da Reserva Legal) se aplicam as leis especiais. Por isso quando se faz uma lei especial não precisa ficar repetindo essas normas gerais. As normas gerais só não se aplicam as leis especiais se essas dispuserem de forma diferente. Por exemplo: o art. 4º45 da Contravenção Penal não pune a tentativa. Então, as regras sobre tentativas não se aplicam as contravenções penais. TEORIA GERAL DO CRIME A Teoria Tricotômica prevê que o crime tem três elementos: Fato Típico; Antijuridicidade; e Culpabilidade. A Teoria Dicotômica prevê apenas dois elementos: Fato Típico; e Antijuridicidade. É aquela velha discussão se crime é fato típico e antijurídico ou se crime é fato típico, antijurídico e culpável. Fato Típico é o descrito na lei como crime ou contravenção; Antijuridicidade é a contrariedade do fato com o ordenamento jurídico; Culpabilidade é o juízo de merecimento da pena. É o fato de o agente ter praticado um fato típico e antijurídico e ainda ser merecedor da pena. Não há diferença antológica, isto é, na essência, entre crime e contravenção, pois ambos são fatos ilícitos, são fatos proibidos. A diferença é de grau. Os fatos mais graves são classificados como crimes, e os menos graves, como contravenção. Costuma-se distinguir pela pena porque a contravenção não pode ter pena de detenção, nem de reclusão. Então, toda vez que houver pena de reclusão ou detenção vai ser crime. A contravenção tem que ter pena de prisão simples ou, então, apenas pena de multa, assim, se houver apenas pena de multa abstrata não é crime vai ser contravenção. 41 Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 42 Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 43 Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência. 44 Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. §1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. §2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. 45 Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção. DIREITO PENAL – PARTE GERAL O crime tem pena de reclusão ou, então, de detenção. A pena de multa nunca é isolada no crime. A pena de multa está junto com uma pena de reclusão ou detenção ou, então, de forma alternativa, reclusão ou multa, detenção ou multa. Lembrando que a Justiça Federal não julga contravenções penais, só julga crime. FATO JURÍDICO É o acontecimento da vida que cria, modifica ou extinguem direitos e obrigações. Dentro desse conceito crime é um fato jurídico porque é um fato que gera repercussões, é um fato que gera nascimento de direitos e obrigações. Nasce o direito do Estado de processar o criminoso, a obrigação do sujeito de ter que indenizar a vítima. O crime é um fato jurídico. A Antijuridicidade Penal significa ilicitude penal. Não é um fato antijurídico que está fora do direito. Quando se diz: “crime é um fato típico, antijurídico”; leia-se: “crime é um fato típico e ilícito”, porque Antijuridicidade Penal significa ilicitude. OBJETO DO CRIME O objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do agente. Objeto material é a matéria, é a pessoa ou coisa. No homicídio o objeto material é pessoa porque a conduta ataca uma pessoa. No furto objeto material é uma coisa, que é subtrair coisa. Alguns crimes não têm objeto material porque em alguns crimes a conduta não ataca pessoa, nem coisa, é o caso de falso testemunho (não tem objeto material), crimes omissos próprios, crimes de mera conduta; são crimes sem objeto material. Objeto Jurídico é o direito, é o interesse protegido pela norma penal, é o bem jurídico. Todo crime necessariamente tem objeto jurídico. Caso o crime não tenha objeto jurídico ele será inconstitucional. Todo o crime tem que ter objeto jurídico, isto é, todo o crime tem que lesar um direito ou por em perigo um direito. Objeto jurídico é o direito, é o interesse protegido pela norma penal. Sempre é importante na análise de um crime verificar se houve lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico, caso contrário, não haverá crime. Então, se o sujeito, por exemplo, entra no cemitério para violar túmulo. E ele viola lá um túmulo e não tinha nada, estava vazio o túmulo. Daí, então, é crime impossível, porque não existe o bem jurídico, o direito, a ser protegido ali, tendo em vista, que estava tudo vazio. SUJEITO PASSIVO DO CRIME O sujeito passivo do crime constante ou geral é o Estado. Costuma-se dizer que o Estado é a vítima de todos os crimes, porque o Estado que elabora a norma penal, através da União (Estado no sentido da União, Estado Federal). Então, o Estado Federal seria a vítima de todos os crimes. O sujeito passivo eventual ou material ou direto é quem realmente sofre os efeitos da conduta. O sujeito passivo direto ou eventual é o titular do bem jurídico protegido. Então, uma pessoa física, pessoa jurídica, nascituro pode ser sujeito passivo no crime de aborto, a coletividade pode ser sujeito passivo nos chamados crimes vagos (crimes vagos são aqueles em que o sujeito passivo é um ente sem personalidade jurídica, isto é, sujeito passivo é a coletividade, por exemplo, porte de arma) e, também, a família é um ente sem personalidade jurídica, mas, pode ser sujeito passivo nos crimes contra a organização familiar. Em suma os Sujeitos Passivos podem ser: Pessoa Física; Pessoa Jurídica; DIREITO PENAL – PARTE GERAL Nascituro (no crime de aborto); Coletividade; e Família. Os crimes contra a coletividade e a família, isto é, os crimes contra entes sem personalidades jurídicas são chamados de crimes vagos. Ninguém pode ser sujeito ativo e passivo da própria conduta. Sujeito não pode ser autor e vítima da própria conduta. Assim, a auto-lesão em regra não é crime. Agora, a auto-lesão para obter seguro é estelionato, mas, o agente é o sujeito ativo, o sujeito passivo não é ele, o sujeito passivo é a seguradora. Não confundir sujeito passivo com prejudicado. O sujeito passivo é o titular do bem jurídico protegido pela norma penal. Prejudicado é qualquer pessoa que tem direito a uma indenização em razão do crime. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA A Pessoa Jurídica, em regra, não pode praticar crimes, ela não pode ser sujeito ativo. A Constituição abre três exceções, três crimes que a Pessoa Jurídica pode cometer: Crime contra o Meio Ambiente; Crime contra a Economia Popular; e Crime contra a Ordem Econômica e Financeira (art. 173, §5º46, da CF e art. 225, §3º47, da CF). Mas, a Pessoa Jurídica atualmente só pode praticar crimes
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