Buscar

Aulas de Direito Empresarial III Títulos de Crédito 1a. Parte

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO EMPRESARIAL III - TÍTULOS DE CRÉDITO
Prof. Carlos Eduardo Cuiabano
O CRÉDITO  E A CIRCULAÇÃO DOS DIREITOS DE CRÉDITO
            O crédito importa um ato de fé, de confiança do credor. Daí a origem etimológica da palavra – creditum, credere. Representa a confiança que uma pessoa inspira à outra, de cumprir, no futuro, obrigação atualmente assumida (crédito – segurança de que alguma coisa é verdadeira; confiança; fé na solvabilidade).
           A utilização do crédito veio facilitar e aumentar consideravelmente não só as transações comerciais, mas também as operações não comerciais, facilitando-as ao dar maiores oportunidades aos que, em certas ocasiões, não dispõem de recursos pecuniários suficientes para as suas necessidades presentes, muito embora possam contar com os mesmos em época futura. Com a utilização do crédito, as transações se tornaram mais rápidas e mais amplas, principalmente pela possibilidade de uma pessoa gozar, hoje, de um bem ou serviço cujo pagamento será feito posteriormente.
            A venda a prazo e o empréstimo constituem precisamente as suas duas formas essenciais.
            Porém, desde o início foi evidenciado um problema relativo à circulação dos direitos creditícios, problema que, de fato, só veio a ser solucionado com o aparecimento dos Títulos de Crédito.
            Difícil, no direito romano, era a circulação dos capitais através do crédito, já que a obrigação constituía, em princípio, um elo pessoal entre o credor e o devedor. 
            Assim, se alguém contraía uma dívida, o seu patrimônio não respondia pela mesma, já que patrimônio e pessoa eram inseparáveis, sendo os bens tidos como um acessório da pessoa. A obrigação aderia ao corpo de devedor, daí se permitir pela Lei das XII Tábuas a cobrança  consistente em matar o devedor ou vendê-lo como escravo.
            Com o aparecimento da Lei Paetelia Papiria, em 429 a.C. (século V a.C.) fez-se a distinção entre patrimônio  e pessoa, podendo, a partir daí, o credor acionar os bens do devedor para que esses, e não a própria pessoa do devedor, solvessem a dívida.
            Porém, os direitos de crédito não eram facilmente transmitidos pelo credor a terceiros, permanecendo o princípio do crédito individual, exigindo-se formalidade na transmissão do crédito através da cessão, que importava, como ainda hoje, a notificação do devedor (artigo 290 Código Civil).
            Só depois do aparecimento dos Títulos de Crédito, isto é, de papéis em que estavam incorporados os direitos do credor contra o devedor, foi que o problema da circulação dos direitos creditórios começou a marchar para uma solução.
            E foi na Idade Média (a partir do séc. XII), devido à maior intensidade e desenvolvimento mercantil, que começaram a aparecer, de maneira mais freqüente e mais completa, documentos que representavam direitos de crédito e a necessidade de circulação de capitais, difundindo-se o uso de Títulos de Crédito que, a princípio, representavam direitos de crédito que só poderiam ser exercidos pelos que figuravam nos documentos como seus titulares (credores), e que posteriormente passaram a ser transferidos  por esses titulares a outras pessoas que, de posse dos documentos, podiam exercer, como proprietários, os direitos mencionados nos papéis.
            Foi a denominada “cláusula à ordem”, que nada mais é que a faculdade que tem o titular de um direito de crédito de transferir este direito a outra pessoa, juntamente com o documento que o incorpora, que marcou uma fase importantíssima para a economia dos povos, viabilizando a circulação de crédito.
            Daí por diante, novos meios foram adotados para dar melhor forma aos Títulos de Crédito, e novas regras surgiram garantindo os direitos que os títulos incorporavam.
            Portanto, pode-se destacar que:
1) O título, incorporando direitos, faz com que esses fiquem vinculados ao documento. E como nos Títulos de Crédito as ordens ou promessas de pagamento não são feitas exclusivamente para benefício de uma pessoa certa, mas de quaisquer outras que, legitimamente, se tornem proprietárias dos títulos, quem está de posse do documento tem, normalmente, a propriedade dos direitos que ele encerra. Daí a razão de só poderem circular os direitos com o documento; daí, também, o motivo que faz do Título de Crédito um título de apresentação – quem se declarar sujeito ativo dos direitos deve exibir o documento para gozar desses direitos.
2) O aparecimento da “cláusula à ordem” foi, talvez, o fato mais importante ocorrido na evolução dos Títulos de Crédito, porque possibilitou a circulação dos direitos incorporados nos mesmos. E para tornar mais fácil a utilização dessa cláusula, surgiu  o endosso, consistente na simples assinatura do beneficiário, a princípio apenas no verso do título (donde chamar-se endosso, de in dorso, nas costas) e hoje admitido, em certos casos, no verso ou anverso do mesmo.
Obs. Os direitos são classificados entre os bens (artigo 83, III, do Código Civil), sendo o direito de crédito um bem patrimonial móvel.
HISTÓRICO - Os títulos de crédito surgiram na Idade Média (a partir do séc. XII), como instrumentos destinados à facilitação da circulação do crédito comercial, devido à maior intensidade e desenvolvimento do tráfico mercantil. Surge, inicialmente, a letra de câmbio, classificada pela doutrina como título de crédito por excelência, cuja origem histórica situa-se na península itálica. A letra de câmbio nasce da necessidade da troca de moedas, e sua história é dividida em três períodos:
1°) O período Italiano (séc. XII à XVII – 1673) – Como cada feudo ou cidade italiana cunhava suas próprias moedas metálicas, acarretando complexos problemas ao intercâmbio comercial, que entre elas era intenso, houve necessidade da intervenção do cambista ou corretor que trocava as moedas. Porém, para evitar o transporte de moedas por vias inseguras e passíveis de emboscadas, é que se passou a entregar as moedas a um cambista local, que emitia uma carta direcionada a outro cambista de praça distante, para que entregasse moedas a seu cliente, garantindo a realização do câmbio em momento posterior. Nesse momento histórico, a letra funciona como mero instrumento de pagamento e não instrumento de crédito.
2°) O período Francês (séc. XVII - 1673 a XIX - 1848) – Esse período marca o aparecimento da cláusula “à ordem”. O título passa a funcionar como uma ordem do próprio emitente direcionada à pessoa com quem mantinha uma provisão de fundos (passa-se então a exigir uma provisão de recursos do emitente junto ao destinatário da ordem), para que pagasse ao portador do título a quantia indicada, tomando impulso a circularidade do título com a introdução do endosso.
3°) O período Germânico ou Alemão (séc. XIX, desde 1848) – Período em que a letra de câmbio adota as características atuais de instrumento suficiente de garantia de direito creditício. Nesse momento histórico, a letra deixa de funcionar como mero instrumento de pagamento, e passa a valer como um verdadeiro título que vale por si próprio e de acordo com a vontade manifestada pelo subscritor, passando, assim, a funcionar como instrumento de crédito, desvinculado de um contrato preliminar, valendo apenas pelo que nela está escrito. Dois postulados fundamentaram a teoria Alemã: 1) para exercer a ação cambial, que lhe tutela o direito, não precisa o credor de outros dados além dos que constam da cambial; 2) a promessa que se faz em tais títulos, não se dirige a credor determinado, pois é feita de forma geral ao público.
UNIFORMIZAÇÃO DO DIREITO CAMBIÁRIO
            No estudo da história do Direito Cambial, fica claro que o primeiro título conhecido que documentou o crédito e viabilizou sua circulação foi a letra de câmbio que, inicialmente, viabilizava o câmbio de moedas através da entrega da carta (lettera em italiano) emitida por alguém (sacador) em favor de outrem (tomador) e contra um terceiro (sacado). Com o desenvolvimento das relaçõescomerciais entre os povos, sobretudo com o surgimento de novos meios de transporte, juristas e comerciantes voltaram suas atenções para a necessidade do estabelecimento de regras uniformes sobre a circulação do crédito. E diante da importância da letra de câmbio para o desenvolvimento do comércio internacional, é que, no início do século XX, foram tomadas iniciativas diplomáticas que redundaram, em 1930, na assinatura da Convenção de Genebra, na Suíça, para a adoção de uma lei uniforme sobre letra de câmbio e nota promissória, sendo o Brasil um dos signatários.
            Uniformizando-se o direito sobre a matéria cambial, os acordos comerciais entre pessoas físicas ou jurídicas sediados em países diferentes podiam ser concluídos com maior facilidade.
            O Brasil, quando participou da Convenção de Genebra, já possuía um direito cambiário bastante evoluído, representado pelo Decreto nº. 2.044/1908 (antes dele o Código Comercial de 1850 disciplinou os títulos de crédito, e seus preceitos cambiários vigoraram até 1908, quando foi sancionado o Decreto nº. 2.044).
            Apenas em 1966, foi editada uma norma com intuito de atender ao compromisso internacional assumido em 1930: o Decreto nº. 57.663/66, que “promulga as convenções para a adoção de uma lei uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias”, a partir daí conhecido como LUG – Lei Uniforme de Genebra.
            Mas a via escolhida em 1966 para fazer valer a Convenção de Genebra no direito brasileiro não era tecnicamente a correta. O Decreto nº. 2.044/08 foi recepcionado pela ordem constitucional posterior a ele (CFs de 1934 e 1946) como lei ordinária, e sua revogação não podia ocorrer por meio de simples decreto do poder Executivo, mas apenas por outra lei. No entanto, a partir do ano de 1971, o STF (RE n° 71.154/71 e 80.004/77) se posicionou no sentido de afirmar que a Lei Uniforme de Genebra era válida e estava em vigor.
 
A CONVENÇÃO DE GENEBRA
            A Convenção de Genebra permite que o país, ao aderir a ela, se reserve a faculdade de fazer algumas reservas em relação ao texto uniforme, ao introduzi-lo em seu ordenamento. Essas reservas somente podem ser as previstas pela mesma convenção, para fins de garantir o propósito fundamental da uniformidade.
            Pela sistemática adotada, agregam-se à convenção dois anexos: o texto da lei uniforme (Anexo I) e as reservas admitidas (Anexo II).
            O Brasil assinalou treze reservas. Assim, a lei uniforme não vigora inteiramente entre nós. Nas matérias reservadas, assim como nas matérias não disciplinadas pela lei uniforme, permanecem em vigor as normas correspondentes do Decreto nº. 2.044/1908, que compõe a chamada lei cambial interna.
Obs. O texto original da Convenção de Genebra foi redigido em francês, tendo o art. 1° das “Disposições Gerais” estabelecido que as Partes Contratantes obrigavam-se a adotar a Convenção nos seus respectivos territórios, quer no seu texto original, quer nas suas línguas nacionais. Assim, tendo a primeira tradução sido feita por Portugal, o governo brasileiro, seguindo a mencionada recomendação, fez a tradução diretamente da tradução do texto português, que não foi das mais adequadas, e está eivada de erros. Não obstante, a tradução do texto português para nossa língua também não foi feita com perfeição, prejudicando sua interpretação. 
O CÓDIGO CIVIL DE 2002
            O Código Civil de 2002 contém normas sobre os títulos de crédito (arts. 887 a 926), que se aplicam apenas quando compatíveis com as disposições constantes de lei especial ou se inexistentes estas (art. 903). De modo sumário, são normas de aplicação supletiva, que se destinam a suprir lacunas em regramentos jurídicos específicos, e, por isso, não revogam nem afastam a incidência do disposto na Lei Uniforme de Genebra, ou na legislação específica de cada um dos títulos de crédito já existentes. Assim, apenas se, no futuro, a lei vier a criar um novo título de crédito e não disciplinar exaustivamente, nem eleger outra legislação cambial como fonte supletiva de regência da matéria, terá aplicação o previsto pelo Código Civil de 2002. Observe, finalmente, que a classificação dos títulos de crédito pelo Código Civil de 2002 segue critério diferente do aplicável por decorrência da legislação sobre títulos de crédito já existentes, além de estabelecer algumas regras e conceitos distintos dos já existentes (Enunciado 52 e 464 CJF).
CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO - “Título de Crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”. 
 	Esse conceito, formulado por Cesare Vivante (“Trattado di Dirittto Commerciali”, 1893, Veneza, Itália), e aceito pela unanimidade da doutrina, é adotado pelo artigo 887 do Código Civil, e sintetiza com clareza os elementos principais da matéria cambial. Nele se encontram referências aos princípios básicos de sua disciplina, de forma que, seu detalhamento permite a apresentação da teoria geral do direito cambiário. 
           Como documento, ele reporta um fato, e prova a existência de uma relação jurídica, especificamente de uma relação de crédito. Constitui a prova de que certa pessoa é credora de outra.
CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
 	Os Títulos de Crédito se distinguem dos demais documentos representativos de direitos e obrigações em três aspectos:
1) Referência exclusiva a relações creditícias - quanto ao primeiro aspecto, os títulos de crédito se referem unicamente a relações creditícias (obrigação de crédito), não se documentando neles nenhuma outra obrigação de dar, fazer ou não fazer. Apenas o crédito titularizado por um ou mais sujeitos, perante outro ou outros, consta do instrumento cambial (apenas a obrigação de pagar quantia certa) (art. 1°, nº 2, e 75 nº 2, LUG – ver arts. 315 e 318, CC). Mas observe que, essa característica não é suficiente a distingui-lo dos demais documentos representativos de obrigação;
2) Executividade - o segundo aspecto está ligado à facilidade na cobrança do crédito em juízo, já que os títulos de crédito são definidos pela lei processual como títulos executivos extrajudiciais (art. 784, I, CPC – ver arts. 783 e 829 CPC), possuindo executividade, o que dá ao credor o direito de promover a execução judicial de seu crédito. Mas este também não é um atributo exclusivo suficiente a diferenciá-lo dos demais documentos representativos de obrigação;
3) Negociabilidade (ou cambiaridade) - o terceiro aspecto é que, os títulos de crédito ostentam o atributo da negociabilidade, por razão de sua aceitabilidade, já que estão intencionalmente sujeitos a uma disciplina jurídica que torna mais fácil a circulação do crédito e a negociação dos direitos neles mencionados, representando esse aspecto a fundamental diferença entre o regime cambiário e a disciplina dos demais documentos representativos de obrigação (regime civil), que facilita a antecipação do valor da obrigação em troca da titularidade do crédito. Essa negociabilidade é decorrência do regime jurídico-cambial, que é regido pelo Princípio da Tutela do Crédito, e estabelece regras que dão à pessoa para quem o crédito é transferido maiores garantias do que as do regime civil. Para compreender esta diferença é preciso examinar os princípios do direito cambiário.
Princípios do Regime Jurídico Cambial (princípios são preceitos elementares que representam valores básicos e compõem o núcleo de um sistema, constituindo-se como base, alicerce ou ponto de partida para o próprio direito). Do regime jurídico disciplinador dos Títulos de Crédito pode-se extrair três princípios:
 
1) Cartularidade – segundo o qual o exercício dos direitos representados por um Título de Crédito pressupõe a sua posse e apresentação. Como o Título de Crédito se revela, essencialmente, um instrumento de circulação do crédito, que se incorpora no título, o Princípio da Cartularidade é a garantia de que o sujeito que postula a satisfação do direito é mesmo o seu titular. Assim,para que se exerça o direito nele mencionado é preciso estar com a posse do título, materializado numa cártula, ou seja, num papel ou documento, tornando-se essencial a exibição do documento. Sem a sua exibição material, não pode o credor exigir o direito fundado no título (art. 16, 38, 39, 50 e 51, LUG e art. 798, I “a”, CPC, e art. 223 § único, e 887, CC), daí se dizer que os Títulos de Crédito são títulos de apresentação (Ação de Anulação e Substituição de Título – art. 36, Dec. 2.044/1908 c/c art. 259, II e 301 CPC).
2) Literalidade – segundo o qual, somente produzem efeitos jurídico-cambiais os atos lançados no próprio título. Atos documentados em instrumentos apartados, ainda que válidos e eficazes entre os sujeitos diretamente envolvidos, não produzirão efeitos perante o portador do título. Assim, pela simples leitura do documento, é possível certificar a existência e extensão do crédito nele mencionado (art. 1, n° 8, 13, 25, 31, 39 e 50, LUG e 887, CC).
 
2) Autonomia – Talvez o mais importante dos princípios do direito cambial, representando a garantia efetiva de circulabilidade do Título de Crédito. Por decorrência dele, quem transaciona o crédito com possuidor ilegítimo do título tem sua boa-fé tutelada pelo direito cambiário. Assim, o terceiro que receber o título de boa-fé não precisa investigar as condições em que o crédito transacionado teve origem, pois ainda que haja irregularidade, invalidade ou ineficácia na relação fundamental, ou de alguma obrigação específica, ele não terá o seu direito maculado (887, CC).
 	Esse princípio apresenta um tríplice aspecto, desdobrando-se em: 
a) Princípio da Autonomia – Refere-se à Autonomia das Obrigações – as obrigações constantes do Título de Crédito são autônomas umas das outras, de forma que, os vícios que venham a comprometer qualquer delas não contagiam as demais. Ou seja, os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica documentada em Título de Crédito não se estendem às demais relações abrangidas no mesmo documento (art. 7°, LUG). 
b) Princípio da Abstração – Refere-se à Autonomia do Próprio Título de Crédito - quando posto em circulação, o título se desvincula da relação fundamental que lhe deu origem, afastando os efeitos de possíveis irregularidades, nulidades ou vícios que a contaminem. Tem por pressuposto a circulação do título (art. 17 e 19, 2ª alínea, LUG);
c) Princípio da Inoponibilidade das Exceções Pessoais contra Terceiros de Boa-fé – Refere-se à Autonomia do Direito do Legítimo Possuidor - o executado em virtude de um Título de Crédito não pode, em sua defesa, opor contra o portador legítimo do título (ou contra o exeqüente, em caso de cobrança judicial), matéria estranha à sua relação direta com ele e relativa a um dos outros obrigados no título, salvo provando a má-fé dele, sendo impossíveis defesas não fundadas exclusivamente no título (art. 17 e 19, 2ª, LUG, art. 350 CPC – ex. art. 368 e 369 CC) (Obs. O simples conhecimento, pelo terceiro, da existência de fato oponível ao credor anterior do título já é suficiente para caracterizar a má-fé, não se exigindo para o afastamento da presunção de boa-fé a prova de ocorrência de conluio entre o exeqüente e o credor originário).
NATUREZA JURÍDICA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
 	Desde o Código Comercial e o Regulamento nº. 737, ambos de 1850, se incluíam na jurisdição comercial as questões relativas a Letras de Câmbio. No entanto, o antigo Código Civil brasileiro disciplinou os “Títulos de Crédito ao Portador”, embora fosse muito criticada a inclusão dessa matéria em seu âmbito, considerando-os não como resultantes da relação contratual, mas de declaração unilateral da vontade. Por isso, alinhou-os sob o título “Das Obrigações por Declaração Unilateral da Vontade”, ao lado do capítulo “Da Promessa de Recompensa” (artigos 1.501 a 1.511, do Código Civil de 1916). Assim, o Código Civil de 1916 seguiu a Teoria de Vivante para explicar a posição jurídica diversa entre o devedor que emite o título de crédito e o credor que lhe estava à frente, e aquele a quem este transferir o título, de forma que, em relação ao seu credor, o devedor do título se obriga por uma relação contratual, motivo porque contra ele mantém intactas as defesas pessoais que o direito comum lhe assegura; em relação a terceiros, o fundamento da obrigação está na sua firma (do emissor), que expressa sua vontade unilateral de obrigar-se, e essa manifestação não deve defraudar as esperanças que o crédito desperta em sua circulação. Nesse sentido, o atual Código Civil de 2002, seguindo essa linha, disciplinou os Títulos de Crédito no livro “Do Direito das Obrigações”, em título próprio (Livro I, da Parte Especial, Título VIII – arts. 887 a 926), logo após tratar dos atos unilaterais em termos genéricos, e fora e distante do título que trata dos contratos. Portanto, os Títulos de Crédito têm a natureza ou materializam uma declaração (ato) unilateral de vontade, de pagar quantia certa, direcionada a pessoas indeterminadas, já que se admite sua circulação por endosso.
  
NATUREZA JURÍDICA DAS OBRIGAÇÕES CAMBIAIS
            Os devedores de um Título de Crédito são solidários. A lei preceitua que os obrigados no título (sacador, aceitante, endossantes e avalistas) são solidariamente responsáveis pelo pagamento do título (art. 47 da LUG). Porém, a solidariedade cambial apresenta particularidades, e se diferencia da solidariedade civil. Define-se a solidariedade passiva pela existência de mais de um devedor obrigado pela dívida toda (art. 257, 264 e 275, CC). Por este conceito é correto afirmar-se a existência de solidariedade entre os devedores do Título de Crédito, porque o credor cambiário pode, atendidos determinados pressupostos, exigir de qualquer deles o pagamento do valor total da obrigação. Porém, quando se trata de discutir  a composição, em regresso, dos interesses desses devedores,  a regra aplicável do direito cambiário é diferente da pertinente à solidariedade passiva. Isto porque, o regime jurídico cambial estabelece uma hierarquia entre os devedores de um mesmo título de crédito, de forma que, em relação a cada título é escolhido um dos participantes da relação cambial para a situação de devedor principal, reservando aos demais a situação jurídica de co-devedores. Assim, enquanto no regresso típico da solidariedade passiva, e como regra geral, o devedor solidário que paga ao credor a totalidade da dívida pode exigir, em regresso, de todos os demais devedores, a quota-parte cabível a cada um (art. 283, CC), em relação aos devedores cambiais, a regra do regresso se distingue, porque:
1) Nem todos têm direito de regresso. Os devedores principais (aceitante na letra de câmbio com aceite - art. 28 -, sacador na letra de câmbio com recusa de aceite - art. 9° -, subscritor da nota promissória – art. 78, LUG -, emitente no cheque - art. 4°, da Lei n° 7.357/85 -, e sacado na duplicata - art. 2°, §1°, VIII, da Lei n° 5.474/68) após pagarem o título não poderão cobrá-lo de ninguém (ver art. 285, CC);
2) Nem todos os co-devedores respondem regressivamente perante os demais: os devedores anteriores respondem perante os posteriores, mas esses não respondem perante os anteriores. Há uma hierarquia (art. 9º, 15, 32, 1ª. e 3ª alínea, 49, e 50, 2ª alínea, LUG);
3)  Em regra, o regresso cambiário se exerce pela totalidade, e não pela quota-parte do valor da obrigação (art. 48 e 49, LUG) (apenas excepcionalmente, especificamente na hipótese de avais simultâneos, é que se verifica, entre os co-avalistas, a participação proporcional da obrigação - art. 31, 4ª parte, LUG e SUM 189 STF – ver 285 CC). 
CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
 	Classificam-se os Títulos de Crédito segundo os seguintes critérios:
1) Quanto ao modelo, os títulos podem ser:
Vinculados – Precisam atender ao padrão legalmente exigido para sua forma, para produzir efeitos cambiais (ex.: cheque - art. 1° e 69, Lei n° 7.357/85, Res. 885/83, CMN, e duplicata - art. 27, Lei n° 5.474/68); 
Livres – São aqueles que, pornão existir um modelo padrão de utilização obrigatória, o emitente pode dispor à vontade os elementos essenciais do título (ex.: letra de câmbio, nota promissória). Observe que é preciso atender aos requisitos mínimos exigidos pela lei, sem, no entanto, se estabelecer um modelo próprio.
2) Quanto à estrutura, os títulos podem ser:
Ordem de pagamento – Dá ensejo a três situações jurídicas distintas: a do sacador, que ordenou a realização do pagamento; a do sacado, para quem a ordem foi dirigida  e que irá cumpri-la; e a do tomador, que é o beneficiário da ordem (ex. letra de câmbio - art. 1°, LUG -, cheque – art. 1°, II, Lei n° 7.357/85, e duplicata – art. 2 § 1° VIII e 8°, Lei n° 5.474/68).
Promessa de pagamento – Dá ensejo apenas a duas situações jurídicas distintas: a do promitente, que assume a obrigação de pagar; e a do promissário, beneficiário da promessa (ex.: nota promissória - art. 75, LUG).
3) Quanto às hipóteses de emissão, os títulos podem ser:
Causais – Os que só podem ser emitidos  nas hipóteses expressamente autorizadas pela lei (ex.: duplicata mercantil ou de prestação de serviços – só podem ser geradas para documentar crédito oriundo de compra e venda mercantil ou prestação de serviços – art. 2° e 20, Lei n° 5.474/68);
Não causais ou abstratos – Os que podem ser criados em qualquer hipótese, independente de qual seja a causa (ex.: cheque, nota promissória e letra de câmbio).
4) Quanto à circulação, os títulos podem ser (a diferença entre eles reside no ato que opera a circulação do crédito):
Ao portador – Não ostentam o nome do credor, e, por isso, circulam por mera tradição (ex.: cheque até R$ 100,00 – art. 69, Lei n° 9.069/95, e art. 8°, III, Lei n° 7.357/85); 
Nominativos à ordem – Identificam o titular do crédito e se transferem por endosso (art. 11, LUG) (ex. letra de câmbio - art. 1°, n. 6, LUG -, nota promissória - art. 75, n. 5, LUG -, cheque de valor superior a R$ 100,00 - art. 69, Lei n° 9.069/95 e art. 8°, I, Lei n° 7.357/85 - e duplicata - art. 2° § 1°, IV, Lei n° 5.474/68);
Nominativos não à ordem – Identificam o credor, e circulam por cessão civil de crédito (ex. qualquer título com a cláusula “não à ordem ou não endossável” – art. 11, alínea 2°, LUG, art. 17 § 1°, Lei n° 7.357/85).
CATEGORIAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
            Os Títulos de Crédito podem ser distribuídos, quanto aos direitos que incorporam, em categorias. As mais comuns são:
1) Títulos de crédito próprios – Aqueles que encerram uma verdadeira operação de crédito, e que se encontram totalmente regidos pelo direito cambial (ex: letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata);
2) Títulos de crédito impróprios ou cambiariformes  - São aqueles que não representam, ou uma verdadeira, ou uma exclusiva operação de crédito mas que, revestidos de certos requisitos dos Títulos de Crédito propriamente ditos, circulam com as garantias que caracterizam esses papéis. Estão sujeitos a regime jurídico próximo à cambial, ou seja, apenas em parte se submetem ao direito cambiário. Estão sujeitos a disciplina legal que aproveita em parte os elementos de regime jurídico-cambial. (ex. a) Títulos de legitimação – São aqueles que dão ao portador não um direito de crédito propriamente dito, mas o de receber uma prestação de coisas ou de serviços. É o caso dos bilhetes de espetáculos públicos, de passagens, com os quais o portador pode exigir a prestação de uma coisa ou de um serviço. Não são verdadeiros Títulos de Crédito, mas, como a prestação a ser feita é futura, absorvem certas qualidades dos Títulos de Crédito, sendo, por isso, amparados por alguns de seus princípios; b) Títulos de participação – São aqueles que dão ao portador um direito de participação. É o caso, por exemplo, das ações das sociedades anônimas; c) Títulos de financiamento ou bancários – Instrumentos cedulares representativos de crédito decorrente de financiamento aberto por uma instituição financeira.) 
LETRA DE CÂMBIO
            Para o estudo da teoria geral dos atos cambiários, deve-se eleger um dos Títulos de Crédito para servir de referência. E o mais apropriado, para essa finalidade, é a letra de câmbio, cuja estrutura possibilita o exame de todos os aspectos relevantes dos atos de constituição e exigibilidade do crédito cambial.
            No entanto, a opção tem um único inconveniente: no Brasil, quase não existe letra de câmbio. Como o direito brasileiro criou um Título de Crédito mais operacional – a duplicata mercantil, cuja origem se encontra no Código Comercial de 1850 – a letra de câmbio deixou de ser utilizada pelos comerciantes.
SAQUE NA LETRA DE CÂMBIO
            A letra de câmbio representa uma ordem que o sacador dá ao sacado, no sentido de pagar determinada importância ao tomador.
 	Como se trata de uma ordem de pagamento, a letra de câmbio, ao ser emitida, dá ensejo a três situações jurídicas distintas: a do sacador, a do sacado, e a do tomador.
a) Sacador – é a pessoa que dá a ordem de pagamento;
b) Sacado -  é a pessoa para quem a ordem é dada;
c) Tomador – é a pessoa beneficiária da ordem.
 
Obs.: Três situações jurídicas distintas, e não três sujeitos de direito distintos. A mesma pessoa pode ocupar simultaneamente mais de uma situação: o art. 3°, LUG, autoriza o saque da letra à ordem do próprio sacador (1ª alínea - caso em que o emitente será sacador e tomador) ou sobre  ele (2ª alínea - caso em que o emitente será o sacador e o sacado).
Requisitos da letra de câmbio (art. 1°, LUG) - Para que o documento produza os efeitos de letra de câmbio, ele deve atender a determinados requisitos legais. Sem o atendimento desses requisitos, o título poderá eventualmente servir à tutela de direitos no âmbito civil, mas não poderá circular, ser protestada ou executada como uma cambial. Assim, a letra de câmbio, ainda que seja um título de modelo livre, é considerada um documento formal, no sentido de que deve ostentar certos elementos para fundamentar a aplicação do regime jurídico cambial, especialmente:
1) As palavras “letra de câmbio” inseridas no próprio texto do título – É a chamada “cláusula cambiária”, que identifica o tipo de Título de Crédito emitido, viabilizando, consequentemente, saber qual conjunto de regras deve-lhe, especificamente, ser aplicado (art. 1°, 1ª alínea, LUG);
2) A ordem incondicional de pagar quantia determinada  - o título representa unicamente um direito de crédito, e obrigação de pagar quantia determinada. Por isso, o cumprimento da obrigação materializada no Título de Crédito não pode ficar sujeito, pelo saque, ao implemento de qualquer condição, suspensiva ou resolutiva (art. 1°, 2ª alínea, LUG);
Obs. A incondicionalidade do pagamento é pressuposto necessário da circulação do Título de Crédito. O documento que materializa obrigação vinculada ao implemento de condição futura não presta à negociação do crédito, porque seu descontador não se garante quanto à exigibilidade, posto que depende da verificação de fato que não pode ser por ele conhecido. Portanto, a ordem deve ser pura, simples e incondicional. 
Obs. Quanto ao valor do título, admite-se sempre a cláusula de correção monetária. E se a letra é “à vista” ou “a certo termo de vista”, também se admite a fixação e fluência de juros entre as datas do saque  e da apresentação a pagamento (art. 5°, LUG, e art. 1° § 1° Lei n° 6.899/81).
Obs. Se são discrepantes as menções em algarismos e por extenso da quantia devida, prevalece a por extenso, assim como, se houver indicação da quantia devida por mais de uma vez, e houver divergência entre elas, prevalecerá a quantia inferior (art. 6°, LUG).
3) A indicação do sacado – Deve o sacado, ao aceitar a letra, identificar-se pelo número da identidade, CPF, carteira profissional ou pelo título de eleitor (Lei n° 6.268/75, art. 3° / art. 27, §1°, da Lei n° 9.492/97);
4) A data do pagamento – Se a letra não indicar a data do pagamento, reputar-se-á emitida à vista (art. 1°, 4ª alínea, e art. 2, 2ª alínea, LUG). Portanto, esse é o único requisitolistado no art. 1° que não é efetivamente essencial.
5) O lugar onde a letra deve ser paga – a letra deve informar o lugar do pagamento. 
Obs. É possível que o sacador indique um lugar de pagamento distinto do lugar do domicílio do sacado, quando a letra será então denominada “letra domiciliada” (art. 4° e 27, 1ª alínea, LUG).
6) A identificação do tomador – Não produz, em decorrência, os efeitos de letra de câmbio o documento emitido ao portador, ainda que presentes os demais requisitos de lei (portanto, a letra, quanto à circulação, deve ser nominativa);
7) A data em que e o lugar onde a letra é passada (para permitir a definição do vencimento, prazo de apresentação a pagamento, de prescrição, e também para definição de foro competente – art. 100, IV “d”, CPC);
8) A indicação do sacador e sua assinatura – É preciso indicar quem é o sacador, que também deve identificar-se pelo número da identidade, CPF, carteira profissional ou pelo título de eleitor (Lei n° 6.268/75, art. 3° / art. 27, §1°, da Lei n° 9.492/97). Não obstante, é fundamental que conste a assinatura do sacador, já que, é dessa assinatura que decorre a constituição do crédito cambiário, tornando-se o sacador, com o SAQUE, co-devedor da letra (art. 9°, 1ª alínea, LUG).
Título em branco ou incompleto -  A validade da emissão e circulação do título em branco ou incompleto é fundada na lei (art. 10, LUG – apesar da adoção da reserva do art. 3 do anexo II -, e art. 3° e 4°, Decreto n° 2.044/1908, art. 891 Código Civil) e admitida pela jurisprudência (SUM 387 STF). A letra de câmbio deve estar perfeita, no sentido de atender aos respectivos requisitos legais, no momento que antecede ao protesto ou à cobrança judicial. Por conseqüência disso, prevalece o entendimento de que, quem assina título de crédito incompleto e o entrega ao tomador, investe-o de poderes para, em seu nome, completar o título, outorgando a ele mandato para oportuno preenchimento.
 
Cláusula-Mandato - O saque (assim como os demais atos cambiários) pode ser praticado por procurador, com poderes especiais. A LUG admite expressamente a hipótese, inclusive para disciplinar a exorbitância dos poderes pelo mandatário (art. 3, 3ª, e 8°, LUG / art. 653 e 654 do Código Civil). Utilizando-se dessa premissa, as instituições financeiras, em claro abuso do direito, forçavam os mutuários (quem pega o empréstimo no contrato de mútuo – art. 586, Código Civil) a constituir o mutuante (o banco que empresta o dinheiro) seu procurador, para que pudesse emitir por ele um título executivo para cobrar a importância devida. Por conta disso, e para impedir o abuso do direito, é que o STJ firmou entendimento de que: “SUM 60 STJ (de 1992) – É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste” (ver art. 51, VIII, Lei n° 8.078/90).
Obs. O Direito de Crédito é um direito pessoal de caráter patrimonial – art. 83, inciso III, do Código Civil.
ACEITE NA LETRA DE CÂMBIO
 	O aceite é o ato cambial pelo qual o sacado aceita pagar a letra de câmbio (art. 21, LUG). 	Através dele, o sacado se vincula ao pagamento da letra de câmbio e se torna o seu devedor principal (art. 28, LUG). Apenas se ele não pagar, no dia do vencimento, é que os co-devedores poderão ser acionados (art. 43, LUG). Assim, é recomendável que o tomador, ao receber a letra de câmbio, apresente-a ao sacado para consultá-lo sobre a aceitação da ordem.
Apresentação facultativa e apresentação obrigatória para o aceite - A apresentação da letra ao sacado, para aceitá-la, a princípio, é facultativa (art. 21, LUG). Mas é possível que se estabeleça a apresentação obrigatória, caso em que a letra passa a ser denominada como “letra contra aceite” (art. 22, 1ª e 4ª alíneas, LUG).
Falta de apresentação quando o aceite é obrigatório – A falta de apresentação para aceite quando este é obrigatório (art. 22, 1ª e 4ª, LUG) implica na perda do direito de ação cambial tanto por falta de aceite como por falta de pagamento contra o sacador e os demais co-devedores (art. 53, 3ª e 4ª, LUG).
Obs. A letra pode circular antes de ser apresentada para aceite.
Localização - O aceite decorre da assinatura do sacado no anverso do título. Admite-se, porém, o aceite no verso, desde que identificada a sua natureza pela expressão “aceito” ou outra equivalente (art. 25, LUG).  Observe que, em razão do princípio da literalidade, só é aceite o ato praticado no instrumento cambial. 
Obs. Contudo, mitigando a aplicação do Princípio da Literalidade, a LUG estabelece que o sacado responde, ainda que o aceite não conste da letra de câmbio, perante a pessoa para quem eventualmente comunicar a sua intenção de aceite (art. 29, 2ª alínea, LUG).
 	
Facultatividade do Aceite - Observe que a letra de câmbio é uma ordem de pagamento que o sacador endereça ao sacado. Porém, este não se encontra obrigado a cumprir a ordem contra sua vontade, mesmo que ele seja devedor do sacador (o aceite é sempre facultativo). Não há meios jurídicos que possam vincular o sacado ao pagamento da letra de câmbio contrariamente à sua vontade. Por isso, enquanto não manifesta sua concordância, através de um ato lançado no próprio título, o sacado não tem nenhuma obrigação cambial.
Efeitos do aceite – O aceite introduz na letra de câmbio uma nova situação jurídica, a do aceitante. Através dele, o sacado, aceitante, fica obrigado pelo pagamento do título como devedor principal (art. 28, LUG).
Recusa do Aceite - O aceite é sempre facultativo, e sua recusa é plenamente válida. Ressalte-se, no entanto, que a recusa total ou parcial opera o vencimento antecipado do título (art. 43, n° 1, LUG), que poderá ser cobrado do sacador (que passa, pela recusa do aceite, a fazer o papel de principal devedor já que, como garante, terá que pagar o título e não terá direito de regresso contra ninguém – art. 9°, LUG) e demais co-devedores (art. 15, 32 e 47, LUG). 
Recusa Parcial do Aceite (art. 26, LUG) - O aceite é puro e simples, ou seja, incondicional. Mas a lei admite que o sacado, ao aceitar, faça modificações nas condições estabelecidas no título, o que caracteriza a recusa parcial. A recusa pode ser parcial através do: 
a) Aceite limitativo - Quando o sacado reduz o valor da obrigação que ele assume (art. 26, 1ª alínea, LUG);
b) Aceite modificativo – Quando o sacado introduz mudanças nas condições de pagamento da letra. Por exemplo, postergando o seu vencimento ou alterando a praça (cidade) em que deve ser pago (art. 26, 2ª alínea, LUG). 
Obs. A recusa parcial do aceite: 1) importa no seu vencimento antecipado, permitindo a cobrança imediata do sacador e demais co-devedores (art. 43, 1°, 47); 2) e vincula o sacado ao pagamento da letra de câmbio nos termos do seu aceite (art. 26, 2ª alínea, LUG).
Aceite Domiciliado – Pode o sacado, no ato do aceite, indicar outro domicílio, no mesmo lugar (mesma praça ou cidade), para nele ser efetuado o pagamento (art. 27, 2º alínea, LUG). Note-se que isso representa recusa parcial de aceite (art. 26, 2ª alínea. LUG).
Obs. É distinto da “letra domiciliada” – aquela pagável no domicílio de terceiro - pelo fato de ser o novo domicílio para pagamento indicado não pelo sacador, mas pelo sacado aceitante (art. 4° e 27, 1º alínea, LUG).
Prova da falta ou recusa do aceite – A prova se faz mediante um ato solene, com procedimento especial, chamado protesto (art. 44,1ª, LUG). A falta de aceite pela recusa não desnatura o documento como letra de câmbio, não sendo o aceite um requisito essencial, bastando apenas que se comprove sua recusa para exercer o direito de crédito contra o sacador e demais coobrigados (art. 9°, 43,1ª e 47, LUG).
Prazo de Reflexão – A lei permite que o sacado solicite que o portador volte no dia seguinte, para refletir sobre o aceite. Mas o portador não é obrigado a deixar o título com ele (art. 24, LUG) (ver art. 301, CPC e art. 36, Dec. 2.044/1908).
Cancelamento e retirada do aceite – A lei admite que o aceite seja cancelado. Apresentadaa letra de câmbio, pode o sacado ficar com ela para devolução posterior, lançando seu aceite (observe que o portador não é obrigado a entregá-la). Assim, pode ocorrer de o sacado, antes de devolver o título, riscar o seu aceite, cancelando-o, ou mesmo fazendo-o com a permissão do portador (art. 24 e 29, LUG).
Cláusula “não aceitável” – Para evitar a antecipação do vencimento pela recusa do aceite, a lei possibilita ao sacador a introdução de cláusula na letra de câmbio, proibindo a sua apresentação ao sacado antes do vencimento (art. 22, 2ª alínea, LUG – salvo em se tratando de letra domiciliada - art. 4º e 27, LUG - ou emitida a um certo termo de vista – 33 e 35, LUG). É a chamada “cláusula não aceitável”. Observe que a “cláusula não aceitável” não exime o sacador da responsabilidade pelo pagamento do título, apenas impede o vencimento antecipado pela recusa do aceite.
Obs. Prazo de Carência - A lei também autoriza que o sacador fixe, na letra, uma data limite, antes da qual a sua apresentação ao sacado é vedada. Trata-se de variante da “cláusula não aceitável”, e o objetivo é o de evitar a antecipação do vencimento aquém da data fixada (art. 22, 3ª alínea, LUG).
Exoneração da Garantia do Aceite – A lei permite que o sacador se exonere da garantia do aceite, mas não permite a exoneração do pagamento (“sem garantia de aceite”) (art. 9, 2ª, LUG).
Aceite por Intervenção – Intervenção é o ato cambiário pelo qual uma pessoa, estranha ou não à letra de câmbio, nela intervém, espontaneamente ou por força de indicação feita pelo sacador, endossante ou avalista, para aceitá-la ou pagá-la por honra de um dos devedores, no caso de recusa total ou parcial de aceite pelo sacado. Ou seja, para evitar o vencimento antecipado do crédito por recusa de aceite pelo sacado (art. 43, nº 1), pode ser indicado um interventor para aceitar o título neste caso. 
Obs. O aceite por intervenção só é admitido nas letras aceitáveis e quando o portador tenha direito de ação antes do vencimento contra os co-devedores (art. 56, 1ª). 
Obs. Não se admite aceite por intervenção na letra emitida pelo sacador com a “cláusula não aceitável”, mesmo que estabelecido por um dos coobrigados seguintes. 
Obs. A intervenção pode ser necessária ou espontânea. A primeira se caracteriza quando há na letra designação expressa da pessoa do interveniente, não podendo, nesse caso, o portador do título ignorar a necessidade de obter o aceite por intervenção ou a comprovação de sua recusa para cobrar a letra daquele que o indicou; a segunda se caracteriza quando o interveniente não for indicado na letra, caso em que o portador do título tem o direito de recusar o aceite por intervenção. 
Obs. O terceiro interveniente torna-se não exatamente o devedor principal, já que, ainda que o título deva, a partir do aceite por intervenção, ser apresentado a ele, no vencimento, para pagamento antes da cobrança contra os demais co-devedores, que só poderão ser cobrados se o interventor-aceitante não pagar, fica o interventor-aceitante, se pagar o título, sub-rogado  nos direitos emergentes da letra contra a pessoa por honra de quem pagou, bem como contra todos quantos estão obrigados com ele (art. 56, 58 e 63, 1° alínea, LUG).
Obs. A letra com a quitação entregue ao interveniente é instrumento que serve à execução em regresso e não à circulação, razão pela qual a parte final do art. 63, LUG, veda ao interveniente endossá-la a outrem.
Mais de um Sacado - os artigos 10 e 20 § 2°, do Decreto n° 2.044/1908, prevêem  a possibilidade de ser indicado mais de um sacado. A LUG não prevê essa possibilidade, mas também não a impede, de forma que, alguns doutrinadores entendem aplicável esta regra. Se todos os sacados indicados no título aceitarem-no, todos ficam responsáveis nos termos do aceite dado, mas o regresso, entre eles, observará a regra da solidariedade civil (art. 283, CC), enquanto que em relação aos demais co-obrigados, se aplica a regra do regresso da solidariedade cambial.
Obs. Interventor para Aceite x Mais de um Sacado – Na intervenção para aceite, o interventor não se torna o devedor principal, já que, se pagar o título, sub-roga-se  nos direitos emergentes da letra contra a pessoa por honra de quem pagou, bem como contra todos quantos estão obrigados com ele (art. 56, 58 e 63, 1° alínea, LUG). Já no caso de haver mais de um sacado, eles farão o papel de devedores principais, no limite dos respectivos aceites (art. 28 c/c 10 e 20 § 2º. Dec. 2.044/1908).
ENDOSSO NA LETRA DE CÂMBIO
 	A  letra de câmbio é um título de circulação. Significa que é empregado com a finalidade de fazer com que os direitos incorporados no título sejam facilmente transferidos para que o crédito possa ser melhor utilizado (o que circulam são os direitos, não simplesmente o título). E o ato responsável pela transferência do crédito a outro sujeito de direito é o endosso, ato cambial de transferência dos títulos de crédito sujeitos ao regime jurídico cambial (art. 11, LUG).
Localização - O endosso consta da assinatura do proprietário do título no verso ou dorso (in dorso) da letra, mas a LUG permite-o também no anverso ou face da letra, desde que se indique se tratar de endosso, e que se indique também a pessoa a quem é transferida a letra (endosso em preto - art. 13). Se o endosso não indicar a pessoa a quem  a letra é transferida (endosso em branco), deve obrigatoriamente ser inscrito no verso (artigo 13, 2° alínea), sob pena de não ser válido, e de produzir os efeitos de aval em branco (quando o avalizado não é identificado – art. 31). Nem pode ser feito em documento em separado, por força do princípio da literalidade (art. 13).
Obs. ALONGUE - Se, por acaso, o título for transferido várias vezes, esgotando-se o espaço em branco do mesmo, é possível usar o processo de alongamento da letra, juntando à mesma um pedaço de papel que a prolongue (colado a ela, e não anexado) para permitir novos endossos (art. 13). Observe que a lei se refere, indevidamente, a “anexo” (equívoco de interpretação na tradução da LUG, originalmente redigida em francês).
Requisitos do Endosso - O endosso deve corresponder a uma declaração (unilateral de vontade) pura e simples, não podendo ter sua eficácia subordinada a qualquer condição, sob pena da cláusula condicional considerar-se como não-escrita (art. 12, 1° alínea, LUG).
Obs. Não exigência da datação – A legislação cambiária não exige a datação do endosso, e presume que o endosso sem data foi feito antes de expirado o prazo para protesto (art. 20, 2ª alínea e 44, LUG).
Quem pode endossar - O primeiro endossante da letra de câmbio será sempre o tomador ou beneficiário, já que a ordem de pagamento é sacada em seu beneficio. Transferido o título por endosso, pode o endossatário, que passa a ter plenos poderes para dispor da letra, transferi-la para outra pessoa (mesmo que seja o sacador ou o sacado, que podem endossar novamente – art. 11, 3ª alínea), que será o novo endossatário, passando a ser endossante e assim sucessivamente, até a data do vencimento, formando uma cadeia de endossos. 
                        
Obs. O detentor de uma letra é considerado portador legítimo se justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos (art. 16) (obs. extravio ou destruição da letra – procedimento – Ação de Anulação da Cambial - art. 36 do Decreto n° 2.044/1908 – ver art. 9° da Convenção sobre eventuais conflitos de leis em matéria de letras de câmbio e notas promissórias – ver art. 301, CPC).
Efeitos do Endosso - O endosso produz os seguintes efeitos:
1) Transfere o título e todos os direitos dele emergentes (art. 14);
2) Vincula o endossante ao pagamento do título como coobrigado ou co-devedor (art.15).
Observações:
1) O endosso introduz no título duas novas situações jurídicas: a do endossante (quem endossa a letra) e a do endossatário (quem recebe a letra por endosso). O endossante deixa de ser o credor do título que passa à titularidade do endossatário, ficando comoum dos co-devedores; 
2) A LUG dispõem que os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas são todos solidariamente responsáveis pelo pagamento do título ao seu portador, aduzindo que o portador tem o direito de acionar todas essas pessoas individual ou coletivamente, sem estar obrigado a observar a ordem porque elas se obrigaram, e acrescenta que a ação intentada contra um não impede acionar os outros (art. 47).
Proibição de Endosso Parcial – A lei não admite o endosso parcial, considerando-o nulo. Isso se justifica porque, sendo o título de crédito um título de apresentação (o portador necessita dele para exercer seus direitos cambiários contra os co-obrigados), corresponde a uma coisa indivisível, não podendo, pois, ser parcial a transmissão da posse da coisa. Ademais, a soma cambiária é igualmente indivisível, em razão da unidade do crédito cambiário (art. 1º, nº 2, e art. 12, 2° alínea, LUG).
Espécies de Endosso - O endosso pode ser: 
a) Endosso em branco – quando não identifica o endossatário (art. 13 e14, LUG).
b) Endosso em preto - quando identifica o endossatário.
Obs. O endosso em branco torna a letra em título ao portador, passando a poder circular por simples tradição, podendo o portador transferi-la a outras pessoas sem assiná-la, e sem se tornar responsável pelo cumprimento da obrigação creditícia nela documentada (art. 14, 3ª alínea, LUG).
Endosso “sem garantia” - Se não for intuito do endossante assumir a responsabilidade pelo pagamento do título, e com isso concordar o endossatário, operar-se-á a exoneração da responsabilidade pela cláusula “sem garantia” (art. 15, 1° alínea).
Proibição de Novo Endosso - O portador, ao endossar o título, pode proibir que o endossatário efetue novo endosso, porque não quer ter responsabilidade cambiária perante endossatários posteriores (art. 15, 2° alínea) (“...proibido novo endosso...”).
 	Se mesmo assim o endossatário efetivar novo endosso, este não será nulo (ele não fica efetivamente impedido de endossar), mas o endossante que estabeleceu a cláusula proibitiva não garante o pagamento aos portadores posteriores ao seu endossatário.
Obs. Endosso sem garantia x Cláusula proibitiva de novo endosso - A cláusula proibitiva de novo endosso não se confunde com a cláusula “sem garantia”. A cláusula “sem garantia” exime de responsabilidade o endossante perante qualquer portador posterior a ele. Já a cláusula “proibitiva de novo endosso” não afasta a responsabilidade do endossante para com o seu endossatário, apenas com os endossatários posteriores a ele.
Cláusula “não à ordem” - A cláusula “à ordem” é implícita nos títulos de crédito, que são, portanto, endossáveis (art. 11, 1° alínea). Mas é possível que se estabeleça no título a cláusula “não à ordem”, impedindo sua transferência por endosso (art.11, 2° alínea) (“não transferível por endosso” ou “não endossável”).
Observações: 
1) A cláusula “não à ordem” tem que ser expressa;
2) A cláusula “não à ordem” só pode ser inserida pela pessoa que faz a declaração cambiária originária (no caso da letra de câmbio, o sacador);
3) 	A cláusula “não à ordem” não impede a circulação do crédito, apenas a restringe, mudando o regime jurídico aplicável à circulação, impondo-se a transferência por meio de cessão civil de crédito e não mais por endosso (art.11 da LUG e art. 286 do Código Civil).
Obs. Cláusula “não à ordem” x Cláusula de “proibição de novo endosso” - A primeira só pode ser estabelecida pela pessoa que faz a declaração cambiária originária (no caso da letra de câmbio, o sacador), enquanto a cláusula proibitiva só pode emanar do endossante. Além disso, a cláusula “não à ordem” restringe a circulação do título, que só pode ser transmitido por cessão civil de crédito, enquanto que a cláusula proibitiva não impede a circulação por endosso, apenas exonera de responsabilidade o endossante perante os novos endossatários.
Endosso x Cessão Civil de Crédito - 	São três as diferenças básicas entre uma e outra forma do crédito circular:
1) enquanto o endossante, em regra, responde pela existência do crédito e pela solvência do devedor (art. 15, 1ª LUG), o cedente, em regra, responde apenas pela existência do crédito e não pela solvência do devedor (arts. 295 e 296 do Código Civil);
2) o devedor não pode alegar contra o endossatário de boa-fé exceções pessoais que tenha contra o endossante, enquanto na cessão ele pode alegar contra o cessionário as exceções pessoais que tenha contra o cedente (art. 17 da LUG, e art. 294 do Código Civil);
3) a cessão de crédito para ter eficácia em relação ao devedor depende da notificação prévia deste, enquanto o endosso não exige notificação do devedor (art. 14 e 16 da LUG, e art. 290 do Código Civil).
Obs. O endosso é ato exclusivamente cambiário, porque só pode ser utilizado como meio de transferência de títulos de crédito propriamente ditos, enquanto a cessão civil crédito é instituto de direito comum e pode ter por objeto qualquer direito de crédito, inclusive de natureza cambiária (art. 286 a 298, Código Civil).
Endosso Póstumo ou Tardio - O endosso posterior ao vencimento é admitido pela lei, e tem os mesmos efeitos que o endosso anterior (art. 20, LUG).
 	Porém, o endosso efetuado após o protesto por falta de pagamento ou depois de expirado o prazo legal para sua efetivação, é considerado endosso póstumo, e produz apenas os efeitos de cessão civil de crédito (art. 20, 44, 3ª alínea, LUG, e art. 28 do Dec. n° 2.044/08).
Endosso como Cessão Civil de Crédito - Em duas situações o endosso produz efeito de cessão civil de crédito:
a) quando praticado em título com cláusula “não à ordem” (art. 11, 2ª, LUG);
b) quando praticado após o protesto por falta de pagamento, ou depois de expirado o prazo para sua efetivação (art. 20 / ver art. 44, 3ª alínea, LUG e art. 28 do Dec. n° 2.044/08).
Endosso Impróprio - Endosso próprio (traslativo ou translativo) é aquele que visa a transferência da titularidade do crédito ao endossatário. Há, contudo, hipóteses em que se faz necessário legitimar a posse que determinada pessoa exerce sobre o documento, sem, contudo, transferir-lhe o crédito. E para legitimar a posse de alguém sobre o título, sem torná-lo o seu credor, deve-se praticar ato que expresse claramente esta circunstância, sob pena de se presumir o portador como credor e titular do crédito (art. 16, LUG). É o denominado endosso impróprio (não traslativo ou não translativo), que tem por fim apenas a outorga do exercício dos direitos resultantes do título.
 	O endossatário, no endosso-impróprio, pode exercer todos os direitos emergentes da letra de câmbio, sem ser titular do crédito;
            Existem duas modalidades de endosso impróprio:
a) Endosso-mandato -  por ele o endossatário é investido na condição de mandatário do endossante, e se expressa pela assinatura do endossante-mandante em favor do endossatário-mandatário sob a expressão “pague-se, por procuração, a fulano...” ou outra equivalente (artigo 18, LUG / ver art. 653 do Código Civil).
Obs. Pode o endossatário-mandatário constituir outro mandatário através de novo endosso-mandato;
Obs. O devedor da letra pode opor ao endossatário-mandatário as exceções que tiver contra o endossante-mandante, não se aplicando, nesse caso específico, o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais contra terceiros de boa-fé (art. 18, 2° alínea, LUG);
Obs. Apesar de a parte final do art. 18, 1ª, LUG estabelecer que o endossatário-mandatário “só pode endossá-la na qualidade de procurador”, conjugada a norma com o disposto no art. 8º, LUG + § 1º do art. 8º, Dec. 2.044/1908, nada impede sejam conferidos ao endossatário-mandatário poderes até para transferência da titularidade do crédito e dos demais direitos emergentes do título para terceiro.
b) Endosso-caução – por ele, o endossante-caucionário institui penhor sobre o título de crédito (penhor = garantia real sobre bens móveis – ver art. 83, III, e 1.431 do Código Civil), fazendo-se necessáriaa entrega do título ao endossatário-caucionado, sem que se transfira a titularidade do crédito. Se expressa pela expressão “pague-se, em garantia, a fulano...” ou outra equivalente (art. 19, LUG).
Obs. O endossatário-caucionado, para fins de promover a efetivação de sua garantia pignoratícia, pode protestar e cobrar judicialmente a letra de câmbio, não podendo o devedor da letra, nesta hipótese, opor contra o endossatário-caucionado as exceções pessoais que tiver contra o endossante-caucionário, salvo provando a má-fé deles (art.19, 2° alínea, LUG / art. 1433, IV e VI do Código Civil).
Obs. O endossatário-caucionado, porque não age em nome e por conta do endossante-caucionário, não pode transferir a titularidade do crédito, apenas exercer os demais direitos emergentes do título.
Cancelamento do Endosso – A LUG admite o cancelamento do endosso, bastando o endossante arrependido riscá-lo retendo a letra (art. 16, 1ª.).
Circulação Cambial e o Plano Collor - Durante o Plano Collor, foi editada a Lei n° 8.021/90, que estabeleceu duas vedações que interferiram na circulação cambial:
a) a obrigatoriedade de identificação do beneficiário do pagamento dos títulos (art. 1° da Lei n° 8.021/90);
b) a proibição de emissão de títulos ao portador, ou nominativo-endossáveis (art. 2, II da Lei n° 8.021/90).
 	No entanto, é preciso observar que, ainda que os países signatários da Convenção de Genebra possam fazer reservas relativas à LUG, não podem ultrapassar as possibilidades autorizadas no anexo II da Convenção. 
 	Note-se que, em regra, a letra de câmbio, a nota promissória e a duplicata, já não admitiam, no saque, a forma ao portador, bastando, no caso de cheque, identificar o beneficiário no vencimento, não havendo, por isso, empecilho na aplicação da regra do art. 1° da Lei n° 8.021/90, bem como quanto à proibição de emissão de títulos ao portador. 	
 	Assim, o dispositivo da lei apenas inovaria na proibição da forma nominativo-endossável, eliminando a cláusula “à ordem” do direito brasileiro, e assim a possibilidade de transferência dos títulos de crédito por endosso.
 	Mas a aplicação do art. 2°, II, da Lei n° 8.021/90, no que se refere à proibição de emissão de títulos nominativo-endossáveis, importaria a completa descaracterização da circulação de efeitos cambiários, já que não se estaria vedando a circulação dos títulos de crédito, mas apenas o endosso, de forma que, a negociação do crédito passaria a se submeter aos preceitos do direito civil sobre a cessão civil de créditos. E sem o endosso, o título de crédito se desnatura, de forma que, a aplicação da regra do art. 2, II, da Lei n° 8.021/90, conduziria ao fim do direito cambiário como regime específico de disciplina da circulação do crédito, equivalendo à denúncia da Convenção de Genebra. Por isso, o melhor entendimento é o de que o art. 2°, II, da Lei n° 8.021/90, não se aplica aos títulos de crédito propriamente ditos, que se sujeitam à LUG, que é lei específica, e sim apenas aos títulos de crédito impróprios.
	O mesmo entendimento deve ser aplicado no caso do artigo 19, da Lei nº 8.088/90, que dispõem que: “Art. 19. Todos os títulos, valores mobiliários e cambiais serão emitidos sempre sob a forma nominativa, sendo transmissíveis somente por endosso em preto.”.
�PAGE �7�
�PAGE �15�

Outros materiais