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CAPÍTULO 3 Escolas Psicológicas: Psicanálise e Humanismo Nesse capítulo, você estudará duas escolas psicológicas. A Psicanálise, criada por Sigmund Freud e o Humanismo, de Carl Rogers. Essas duas teorias voltam-se para os processos afetivos do sujeito. Ambas descrevem o desenvolvimento da personalidade ao longo da infância e demonstram a relação da personalidade com as atitudes do sujeito quando adulto. CAPÍTULO 3 Escolas Psicológicas: Psicanálise e Humanismo Objetivo geral de aprendizagem Estudar a teoria psicanalítica, a partir do desenvolvimento psicossexual e a teoria de Rogers e o desenvolvimento da personalidade de acordo com o Humanismo. Seções de estudo Seção 1 – Princípios da Psicanálise Seção 2 – Desenvolvimento psicossexual de acordo com a Psicanálise Seção 3 – Princípios da Teoria Humanista Seção 4 – Educar de acordo com a Teoria Humanista Iniciando o estudo do capítulo Nesse capítulo, você terá a oportunidade de conhecer os principais conceitos das teorias de Sigmund Freud e Carl Rogers. Para tanto você acompanhará uma explicação sobre essas duas teorias psicológicas, as quais consideram os processos afetivos como determinantes para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. Você estudará que os trabalhos de Freud e Rogers são fundamentais para a compreensão do papel da educação no desenvolvimento da personalidade do sujeito; é a partir da psicanálise que a escola passa a considerar os processos afetivos do aluno em desenvolvimento. É nesse sentido que o papel da escola foi revisto e o professor passa a ser considerado como gura social fundamental para a organização da afetividade do aluno. Seção 1 - Princípios da Psicanálise Objetivos de aprendizagem » Conhecer o processo de formação da psicanálise. » Expor os aspectos topográcos e dinâmicos do aparelho psíquico. Agora, você estudará as seguintes escolas psicológicas: a Psicanálise, de Freud, e a escola conhecida como Humanismo, de Carl Rogers. A Psicanálise e o Humanismo são de fundamental importância para a Psicologia e para a Educação. Há algumas décadas o objetivo da escolarização era ensinar o conteúdo cientíco, independente da análise das condições em que se processa a aprendizagem e do estado emocional do aluno. Caso o aluno fracassasse no projeto de escolarização, o fracasso era atribuído ao estudante; a escola e o professor não eram responsabilizados. É nesse contexto que as escolas psicanalítica e humanista contribuíram para a mudança no olhar sobre a relação de ensino e aprendizagem. 69 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 Antes de estudar a teoria de Carl Rogers é importante você entender o que é a Psicanálise de Sigmund Freud. Sigmund Freud (1856-1939) foi o fundador da Psicanálise. Durante seu trabalho clínico como neurologista ele observou que em algumas desordens mentais não tinha uma causa biológica e por isso o tratamento com remédios e outras técnicas médicas não resolviam o problema. É o interesse de Freud por esse tipo de distúrbio que o faz sair de Viena e trabalhar com Jean Martin Charcot (1825-1893), em Paris. Charcot era um psiquiatra reconhecido e usava a hipnose como método de cura dos problemas mentais. Freud, durante o tempo em que trabalhou com Charcot, em Paris, pôde observar os benefícios e os limites da hipnose como tratamento. A técnica de Charcot consistia em submeter o paciente à hipnose e durante o estado hipnótico, o sintoma era removido por sugestão. Os sintomas desapareciam temporariamente e logo voltavam. Após trabalhar com Charcot, Freud retorna a Viena e passa a trabalhar com outro médico: Dr. Josef Breuer (1842-1925). Breuer, assim como Charcot, também realizava pesquisas com a hipnose. Em seu trabalho com pacientes histéricos, Breuer avançou em direção ao que viria ser a Psicanálise. O caso mais famoso de Breuer foi o de uma paciente que padecia 0sicamente em virtude de uma neurose histérica. A paciente foi chamada de “Ana O”, para preservar sua identidade. Em uma das consultas de rotina, Breuer, por meio da hipnose, colocou Ana em um estado de sonambulismo como se tivesse usado tranquilizante. Nesse estado, a paciente passou a narrar fatos passados que lhe foram dolorosos e a marcaram profundamente. Os episódios narrados por Ana, no estado de sonambulismo hipnótico, não lhe eram conscientes. Por isso, quando Ana voltava da hipnose não se lembrava de nada que havia acontecido durante a sessão, por isso a hipnose foi abandonada. Na sugestão hipnótica, o médico induz o paciente ao sono, nesse estado o paciente é induzido à cura através da fala do médico. Há muitos anos, a hipnose foi abandonada como mé- todo de tratamento, hoje ela é utilizada em shows e espetáculos populares. O nome da paciente era Ana O, é assim que aparece na literatura psicanalítica. Figura 3.1 – Sigmund Freud 70 Universidade do Estado de Santa Catarina C A P ÍT U LO 3 Breuer, durante o tratamento de Ana, pouco a pouco passou a intervir e auxiliar Ana a recordar dos fatos passados que eram dolorosos para ela. A cada lembrança, Ana revivia as emoções, dessa forma os sintomas histéricos desapareciam. Essa forma de tratamento, em que a paciente ao lembrar revivia as emoções do passado cou conhecida como Método Catártico. A partir dos resultados do tratamento de Ana, Breuer e Freud passam a trabalhar e tratar seus pacientes com o Método Catártico, ao mesmo tempo em que realizavam o tratamento eles faziam novas descobertas sobre a vida psicológica humana. Freud, durante o seu trabalho com o método catártico, observou que os conteúdos explicitados por seus pacientes tinham uma origem arcaica, e faziam parte da história de vida do paciente ou eram fantasias relacionadas a conteúdos infantis. Ele observou ainda, que os pacientes quando lhe contavam algum acontecimento doloroso sofriam como se o fato estivesse acontecendo naquele momento, esses fatos o levaram a formular uma hipótese sobre o aparelho psíquico. Para Freud, o aparelho psíquico é constituído de três instâncias: 1. Inconsciente – lugar onde estão os conteúdos psicológicos instintivos e os elementos reprimidos inacessíveis à consciência. 2. Pré-consciente – lugar onde estão as memórias, as lembranças que podem vir à consciência a qualquer momento. 3. Consciente – lugar onde estão os conteúdos que estamos cientes em um determinado momento e os acessamos de forma voluntária. Para Freud, o objetivo da Psicanálise é fazer com que o conteúdo do inconsciente venha para o consciente do paciente. Esse método de trabalho é chamado de associação livre. Por meio da análise, o conteúdo reprimido 71 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 no inconsciente movimenta-se em direção à consciência e apresenta-se de forma simbólica nos sonhos e aparecem nos “atos falhos” do paciente. O ato falho nada mais é que o conteúdo inconsciente que aparece na fala da pessoa sem que ela tenha a intenção de comunicar o que foi dito. Exemplo Maria teve um relacionamento amoroso durante muito tempo com João. Maria insatisfeita com os rumos da relação decide romper o namoro, mas continua gostando de João. Maria tem que seguir em frente, por isso seu sentimento é reprimido (ca no inconsciente). Algum tempo depois Maria começa um novo relacionamento com Marcos. Algumas vezes ao chamar Marcos , o chama de João, nome do antigo namorado. Esse equivoco é chamado de ato falho. Maria teve a intenção de chamar o novo namorado de Marcos e nome que lhe veio à consciência foi o de João. Freud, também formulou a hipótese dinâmica do aparelho psíquico. Ele a)rma que nosso psiquismo possui três grandes sistemas:o Id, Ego e o Superego. O id é a única estrutura psicológica que já vem conosco ao nascer. É a parte original do aparelho psíquico e é a partir do id que se desenvolve o ego e o superego. Acompanhe, a seguir, a explicação de cada um deles. Id O Id é a fonte primária de energia psíquica (libido), nele estão também os nossos instintos. De acordo com Freud, nosso psiquismo opera por meio de dois instintos básicos: » O instinto de vida - o objetivo desse instinto é a manutenção da vida do sujeito e da espécie, ele se apresenta sob a forma de fome, sede e desejo sexual. 72 Universidade do Estado de Santa Catarina C A P ÍT U LO 3 » O instinto de morte - se apresenta na forma de agressão. Em casos patológicos o instinto de morte se apresenta na forma de depressão, psicose e autodestruição. Os instintos de vida e morte não são excludentes, porque para preservarmos a vida precisamos da agressividade para mastigar a carne de um animal que nos serve de alimento. Instinto de vida e morte buscam um equilíbrio para alcançarem o objetivo de manter a vida de uma pessoa. O problema é quando o instinto de vida enfraquece e o instinto de morte predomina, dando origem a psicopatologias e outras doenças que colocam em risco a vida do sujeito. O Id tem características particulares, seu conteúdo é totalmente inconsciente e não tolera tensão. Se o grau de tensão em seu interior se eleva, ele tende a descarregar essa tensão, o objetivo é eliminar o desconforto, a dor e buscar o prazer. A busca do id em reduzir a tensão é chamada de princípio do prazer. Sua busca pelo prazer é irracional, pois o Id desconhece os limites da realidade objetiva. No psiquismo do bebê ao nascer, por exemplo, só existe o id inicialmente. A fome gera no bebê um estado de desprazer que eleva a tensão e coloca o recém nascido em desespero. O Id, para se livrar do desprazer cria mecanismos para descarregar a tensão e voltar ao estado de conforto. É nesse momento que o Id vai em busca do prazer: a tensão diminui quando o bebê é amamentado. Na medida em que o bebê ingere o leite materno, juntamente com a força que ele faz para sugar o seio da mãe Figura 3.2 – O ID e o Bebê 73 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 ou a mamadeira, diminui a tensão gradativamente, aumenta o estado de conforto gerando prazer que o acalma. Quando o id não consegue obter prazer o bebê vive a frustração, agora é preciso lidar com a insatisfação por meio da adaptação, daí surge o ego. Ego Diferentemente do id, o ego opera pelo princípio da realidade. A criança, ao se deparar com as exigências do meio, precisa se reorganizar frente à realidade, por isso redireciona os impulsos do id e passa a operar pelo princípio da realidade. Agora, a criança terá que suportar a frustração de ver seus desejos não se realizarem imediatamente, ela precisa adiar o prazer, tolerar a frustração. Nesse contexto, o ego canaliza a energia psicológica para outros objetos de maneira a fazer com que o sujeito se adapte a realidade. No processo de adaptação à realidade, a criança se depara com as normas, regras e os valores que modulam sua conduta afetiva por meio da repressão dos seus desejos. Nesse momento, se desenvolve outra estância psicológica, o superego. Superego O superego é a incorporação das normas sociais, sua função é decidir o que é certo ou errado. Ele é punitivo o responsável pelo sentimento de culpa, pelo remorso que tortura o sujeito. O id, o ego e o superego con)guram ao aparelho psíquico, como você pode ver na )gura ao lado. A dinâmica do aparelho psíquico pode ser explicada da seguinte forma: 1. O id lança um impulso na forma de desejo proibido e imoral culturalmente. CONSCIÊNCIA PRÉ-CONSCIENTE INCONSCIENTE EGO SUPEREGO ID Figura 3.3 - Estrutura psíquica segundo Freud 74 Universidade do Estado de Santa Catarina C A P ÍT U LO 3 2. O superego se relaciona com esse desejo de maneira a reprimi-lo, porque é considerado errado socialmente. 3. O ego, por sua vez, medeia a relação entre o id e o superego; 4. O ego pega o impulso do id e a repressão do superego e encontra uma saída socialmente aceita para atender as essas duas estâncias psicológicas. Pense na seguinte situação: uma mulher, ao sair do trabalho sente muita fome, ao passar em frente a uma panicadora, vê uma deliciosa torta na vitrine o seu primeiro impulso é quebrar a vitrine e comer a torta (id); logo o seu superego entra em ação a sinaliza a ela que se quebrar a vitrine e pegar a torta ela irá presa; reprime o impulso, gerando um con0ito. É neste momento que seu ego entra em ação e sinaliza para ela entrar e ver quanto custa a torta; se a torta for muito cara, seu ego cria outra alternativa sinaliza para ela comprar um pedaço da torta, assim o con0ito é resolvido e as demandas do id e do superego são atendidas sem danos ao sujeito. Observe que as três instâncias psicológicas (id, ego e superego) se articulam para manter o equilíbrio psicológico do sujeito. Se uma dessas instâncias predominar sobre a outro, tem-se como resultado a formação de doenças psíquicas. Seção 2 - Desenvolvimento psicossexual de acordo com a Psicanálise Objetivos de aprendizagem » Estudar as fases do desenvolvimento sexual do homem. » Conhecer o papel da Psicanálise na educação. Freud causou polêmica e foi severamente criticado ao dizer que o homem não é senhor de suas ações, porque é conduzido pelo inconsciente. Outro 75 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 fator que estremeceu os pilares da sociedade médica e da população em geral foi a a#rmação de Freud sobre a sexualidade da criança, para ele a criança é sexuada. De acordo com Freud, o prazer erótico está presente desde o nascimento do sujeito e que sua manifestação ocorre a partir dos primeiros dias de vida. Para Freud, a sexualidade infantil não está pronta ao nascer, ela se desenvolve ao longo da vida do sujeito do nascimento até a puberdade. Para entendermos como se desenvolve a sexualidade da criança durante a infância, precisamos, antes, conhecer o conceito de libido segundo a Psicanálise. Você estudou que o aparelho psíquico é dinâmico e suas partes (id, ego e superego) estão em interação constante. A energia que mobiliza o conteúdo psicológico é chamada de libido e sua fonte é o id. A organização da sexualidade humana está relacionada à expansão da libido, essa expansão Freud denominou de fases do desenvolvimento psicossexual. As fases são: oral, anal, fálica, de latência e genital. Para a Psicanálise, o desenvolvimento psicológico acontece juntamente com os processos de maturação neurobiológico da criança. Para explicar a relação entre o desenvolvimento libidinal e a maturação biológica do sujeito, foram identi#cadas zonas erógenas no corpo da criança. As zonas erógenas são partes do corpo em que a libido está mais concentrada. Quando essas regiões são estimuladas o sujeito sente prazer. As fases do desenvolvimento descritas na Psicanálise são caracterizadas de acordo com a maior concentração de libido em uma dada região do corpo. Veja a seguir a explicação de cada uma das fases do desenvolvimento psicossexual. 76 Universidade do Estado de Santa Catarina C A P ÍT U LO 3 Fase oral A fase oral do desenvolvimento psicossexual vai de zero a um ano. Nessa fase, a libido está concentrada na boca e no trato gastrointestinal, por isso a boca é uma zona erógena. O prazer, nessa fase, ocorre por meio da alimentação. A criança sente prazer ao ser alimentada. Imagine um bebê faminto, a sensação de desconforto é imensa enquanto espera o alimento. A espera pelo alimentoaumenta a tensão no bebê por isso ela chora desesperadamente. Nesse momento, a criança opera pelo id, quer que seus impulsos e desejos sejam satisfeitos imediatamente. A criança luta em busca do prazer. No memento seguinte, a mãe lhe oferece o seio ou seu substituto. O bebê ao sugar o seio descarrega a tensão; na medida em que o alimento é ingerido a criança sente alivio, o prazer é imenso. Quando o bebê está satisfeito a tensão é zerada e ele volta a (car calmo e tranquilo. A mãe, ao alimentar o bebê o aconchega lhe dá afeto, o seu carinho o tranquiliza, por isso a criança incorpora além do alimento o afeto materno. O cuidado com o bebê é fundamental, porque as experiências vividas no primeiro ano de vida podem determinar os padrões de reações futuras do sujeito. É a mãe que faz a ligação entre o mundo interno da criança e a realidade externa; o bebê atribui à mãe os seus estados afetivos. As experiências de grati(cação e frustração vão ser fundamentais na formação da personalidade da criança e na forma que ela lidará com a realidade. Fase anal A fase anal inicia-se a partir do segundo ano e vai até aproximadamente o quarto ano de vida. Nesse período, há uma expansão da libido para a região anal, o ânus passa a ser a zona erógena na criança. Cabe lembrar, Figura 3.4 – Fase oral 77 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 que nessa fase, ocorre a maturação biológica dos músculos anais (esfíncter) e das musculaturas de base que favorecem a mobilidade da criança, ela coordena suas ações e torna-se mais independente. A criança sente prazer ao evacuar. É dada uma atenção especial para o “fazer cocô”. Nesse período, a criança passa pelo treino de toalete e os adultos dão atenção especial ao momento em que a criança irá evacuar. Por outro lado, a criança se depara com um produto que é seu, nesse sentido as fezes tornam-se muito importantes para criança. A valorização do produto criado pela criança e a valorização social são elementos que estruturam as fantasias do infante. Ela “imagina” que seu produto é importante para todos, e durante o treino de toalete ela o oferece como recompensa a um ambiente agradável. Se o ambiente for desagradável, a criança se recusa a oferecer o seu produto às pessoas, podendo então reter as fezes. A fase anal apresenta duas subfases: a expulsiva e a retentiva. A atividade de excreção e retenção são ações biológicas naturais, quando o intestino ou a bexiga está cheio, a criança expulsa seu conteúdo para obter alívio e prazer. Na sociedade em que vivemos, não é permitido o movimento biológico natural. O ato de evacuar está sujeito a normas e regras: como local apropriado e horários, por exemplo. Essas normas levam a criança a reter os excrementos quando o desejo é eliminá-los. Nesse processo educativo, a criança descobre que ao reter as fezes adiando a evacuação, o prazer é maior durante a expulsão. Em termos psicológicos, a xação na fase expulsiva pode levar o sujeito a ter diculdades de administrar suas emoções, tornando-se por vezes agressivo e hostil. A fase retentiva fornece a base para que o sujeito tenha controle de suas emoções e dos demais seguimentos da sua vida. De acordo com a Psicanálise, o indivíduo 0ca 0xado em uma das fases do desenvolvimento psicossexual, quando é despendida grandes quantidades de libido em uma determinada fase, que pode ocorrer por grati0cação, insatisfação ou trauma. Tal 0xação fará parte da personalidade do sujeito e 78 Universidade do Estado de Santa Catarina C A P ÍT U LO 3 quando ele estiver em estados de tensão e ansiedade tenderá a expressar características da fase na qual está %xado. Pense na seguinte situação: ao %car ansioso, tenso, o sujeito passa a comer mais , uma forma encontrada para descarregar a tensão. O prazer em comer é uma característica proveniente da fase oral. 3.5 – As fases do desenvolvimento Fase fálica A fase fálica do desenvolvimento psicossexual inicia-se por volta dos quatros e termina por volta do seis anos de idade. Nessa fase, a libido está concentrada nos genitais da criança, que é sua zona erógena. Esse é o momento em que as crianças manipulam essas áreas erógenas em busca de prazer. O menino e a menina descobrem o pênis e esse passa ser o alvo de interesse da criança. Ela passa a atribuir valor ao órgão sexual e procura o pênis em objetos inanimados, como por exemplo, a criança ao ver um vazamento de água em um carro ela pensa que o carro tem pênis e está fazendo “xixi”. De acordo com os psicanalistas, nessa fase, as meninas acreditam que o clitóris é um pênis que irá se desenvolver. Por outro lado, os meninos durante muito tempo ignoram a existência da vagina. O valor atribuído ao pênis é simbólico, pois durante muito tempo os homens dominavam os espaços sociais. Em termos simbólicos, o falo signi"ca poder. Tudo que se relaciona ao falo adquire o signi"cado de poder gerador de força. O pênis masculino é uma representação fálica de poder. Por isso a psicanáli- se deu o nome a esta fase de fálica porque as rela- ções afetivas vividas nesse período estão relacionadas ao poder masculino 79 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 Nessa fase, a tensão e o con"ito estão relacionados às relações afetivas que a criança estabelece com seus pais. É nesse momento que a criança vive o que Freud chamou de “complexo de Édipo”. O complexo de Édipo se caracteriza pela rivalidade do lho para com o pai. Em busca do amor da mãe, há desejos incestuosos do menino em relação à mãe. O menino tem sentimentos ambivalentes em relação ao pai, ao mesmo tempo em o que ama, também o odeia. Esses sentimentos se relacionam à disputa pelo amor da mãe e pela identicação do menino com o pai. O objeto de amor do menino é a mãe. Ele percebe que existe uma relação entre o pai e a mãe e fantasia que o pai quer lhe tirar a mãe, por isso o odeia. Por outro lado, o menino admira o pai e o percebe como poderoso esse fato leva a criança a se identi'car e imitar o pai. Na disputa com o pai, o menino vive angustia da castração, ele tem medo de ser castrado pelo pai por causa do amor pela mãe. Esse sentimento de castração juntamente com o tabu do incesto faz com que o menino reprima seu desejo pela mãe. Após a vivência do medo da castração, o menino reprime os desejos experimentados no Complexo Édipo, em virtude dessa repressão o menino sai do Complexo de Édipo. Nesse momento, o superego está totalmente pronto, o que favorece a internalização e operação mental das normas sociais. Tabu signica uma proibição imposta por tradição ou costume. O incesto é a relação sexual entre parentes de primeiro grau. O tabu do incesto refere-se à proibição da relação sexual entre pais e lhos. Do ponto de vista da Psicanálise, o tabu do incesto é a maior lei cultural internali- zada pela humanindade. Figura 3.6 – Complexo de Édipo 80 Universidade do Estado de Santa Catarina C A P ÍT U LO 3 Na mulher, a fase fálica inicia-se com o complexo de castração. Em virtude do valor atribuído ao pênis, a menina ao perceber que não tem o orgão, se sente impotente e vive o complexo de castração. A menina atribui a sua falta de pênis e todas as suas impossibilidades à mãe. Ela se sente herdeira da castração materna, dessa forma, a menina tem sentimentos ambivalentes (amor e ódio) em relação à mãe, ela percebe a mãe como rival. O pai é o objeto de amor da /lha dessa forma con/gura-se o complexo de Édipo na mulher. Ao vivenciar o tabu do incesto, a menina reprime os desejos eróticos pelo pai, o superego está totalmente formado e a menina passa a operar com as normas do meio cultural e social. Para a psicanálise, quando a criança elegecomo objeto de amor, durante o complexo de Édipo, o progenitor do sexo oposto, essa criança faz uma escolha inconsciente pela heterossexualidade. Da mesma forma, se durante o complexo de Édipo a criança escolher como objeto de amor o progenitor do mesmo sexo, essa criança faz uma escolha inconsciente pela homossexualidade. Com a instauração do superego os desejos sexuais são reprimidos, a libido será dirigida para outras coisas do cotidiano e a criança entra na fase de latência por volta dos seis anos. Fase de latência Nesta fase, diferentemente das anteriores, a libido não predomina em uma região especí/ca do corpo. Agora a libido é direcionada para o mundo externo. A criança torna-se mais independente em relação aos pais e seus interesses estão voltados para os relacionamentos sociais e intelectuais. Figura 3.7 – Complexo de Édipo na mulher 81 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 Cabe observar, que na fase de latência a criança tem curiosidade sobre o corpo do adulto, busca outros recursos afetivos para solucionar os seus problemas e por isso ca vulnerável à sedução do adulto. Embora a criança seja independente e circule sozinha pela vizinhança é um período que exige atenção e cuidado. As crianças começam a se organizar em grupos. Na escola menina só anda com menina e menino só se relaciona com menino. Esses grupos circunscrevem os papéis sociais que a criança irá desempenhar. É nesse período que as crianças fazem os jogos sexuais como meio de descoberta do próprio corpo, do corpo do outro e das funções sexuais. Fase genital Para a psicanálise, a fase genital é o último estágio do desenvolvimento psicológico. Neste momento do desenvolvimento, o objeto erotizado não está no próprio corpo do indivíduo, mas em um objeto externo – no outro. A libido é investida no meio, com vistas ao relacionamento afetivo. Alcançar a fase genital signi)ca tornar-se um adulto capaz de amar, trabalhar e lidar com a realidade sem prejuízo ao seu psiquismo. Observe que ao voltar-se para o desenvolvimento psicossexual do ser humano, a psicanálise trouxe novos elementos para as questões que envolvem o desenvolvimento da criança como um todo, e consequentemente pode trazer muitas contribuições para a área da educação. Essas contribuições se deram principalmente no campo da afetividade. Figura 3.8 – Grupos de Crianças: Meninos e Meninas 82 Universidade do Estado de Santa Catarina C A P ÍT U LO 3 É a psicanálise, no contexto escolar, que resgata o papel da afetividade no processo de ensino e aprendizagem. Durante muitas décadas, o papel da educação escolar resumia-se ao desenvolvimento cognitivo do aluno. A escola era o lugar da disciplina e da formação moral. Os processos afetivos eram negados, no contexto escolar, em favor da autoridade dos educadores. É nesse contexto, que a Psicanálise adentra ao espaço escolar e auxilia os educares a constituir uma nova visão sobre as relações no contexto da sala de aula. Existem problemas, os quais interferem no processo de ensino e aprendizagem, que estão além da Didática e dos métodos de ensino. É natural que o aluno deposite no professor afetos e é natural também que o professor reaja a esses afetos. Nessa troca afetiva, cria-se um clima interpessoal, sem que os envolvidos, professor e aluno, se dêem conta do quanto estão sendo afetados por conteúdos inconscientes de sua constituição psicológica. Do ponto de vista psicanalítico, as di/culdades de aprendizagem perpassam o campo da relação professor e aluno, onde a capacidade de aprendizagem do estudante pode ser reprimida pela autoridade excessiva do professor ou apresenta-se reprimida em virtude de problemas emocionais da criança. Por exemplo, um o aluno pode apresentar di!culdades em lidar com as relações de autoridade na família e projeta esse conteúdo psicológico no professor, assim o aluno pode desenvolver uma timidez excessiva, por medo. O aluno pode ainda passar a desa!ar o docente, como forma de diminuir o seu desconforto psicológico durante a aula. A maior contribuição da Psicanálise para a educação foi à compreensão da sexualidade infantil. A sexualidade infantil deixou de ser vista pela 83 Psicologia da Educação I C A P ÍTU LO 3 ótica da moral e passou a ser encarada como um processo natural, com manifestações em correspondência à fase do desenvolvimento psicossexual da criança. Isso levou os educadores a encarar a sexualidade da criança como objeto da educação, a sexualidade passou a pertencer ao campo de estudo da educação. Figura 3.9 – Educação e Sexualidade Seção 3 - Princípios da Teoria Humanista Objetivos de aprendizagem » Apresentar os principais conceitos da teoria Humanista. » Demonstrar a teoria humanista por meio de exemplos cotidianos. Você estudará agora a teoria de Carl Rogers (1902 - 1987). Esta teoria apresenta diferenças marcantes em relação às outras teorias psicológicas. Rogers não usou o método introspectivo e não entende o homem como um produto dos estímulos do meio. Ele tem uma compreensão de consciência diferente da compreensão de Freud.
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