Buscar

PROCESSO PENAL II. CASO CONCRETO. SEMANA 8. ESTÁCIO. FIC. 2017.

Prévia do material em texto

PROCESSO PENAL II
CASO 8.
 (OAB) Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente qualificado, guiava seu automóvel tendo Madalena, sua namorada, no banco do carona. Durante o trajeto, o casal começa a discutir asperamente, o que faz com que Caio empreenda altíssima velocidade ao automóvel. Muito assustada, Madalena pede insistentemente para Caio reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não seria possível controlar o automóvel. Caio, entretanto, respondeu aos pedidos dizendo ser perito em direção e refutando qualquer possibilidade de perder o controle do carro. Todavia, o automóvel atinge um buraco e, em razão da velocidade empreendida, acaba se desgovernando, vindo a atropelar três pessoas que estavam na calçada, vitimando-as fatalmente. Realizada perícia de local, que constatou o excesso de velocidade, e ouvidos Caio e Madalena, que relataram à autoridade policial o diálogo travado entre o casal, Caio foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de homicídio na modalidade de dolo eventual, três vezes em concurso formal. Realizada Audiência de Instrução e Julgamento e colhida a prova, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Caio, nos exatos termos da inicial. Na qualidade de advogado de Caio, chamado aos debates orais, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso: 
a) Qual (is) argumento (s) poderia (m) ser deduzidos em favor de seu constituinte? ; 
Trata-se de homicídio culposo, não tendo qualquer intenção de matar, visto também que a velocidade não fora a causa mor para que se desse o ocorrido, mas sim o efeito do impacto do buraco na via em que transitava o veículo. Assim, deve-se reconhecer a não intenção de Caio, tão menos a aceitação do risco, pois não haveria como se saber de antemão na espécie, qual obstáculo surgiria na condução do carro e de que o mesmo tinha consciência que não ocorreria qualquer acidente, em razão da sua conhecida perícia na direção de automóveis. Portanto, não é competente o tribunal de júri para julgar o caso, tendo em vista a ausência de dolo no caso apresentado, e sim a ocorrência da culpa consciente. 
b) Qual pedido deveria ser realizado? ; 
Reconhecimento de homicídio culposo (desclassificação do crime doloso), sem intenção de matar, e declinação de competência do tribunal do júri. Assim preleciona o artigo 419 do cpp:
Art. 419.  Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.                 (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        Parágrafo único.  Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso.
c) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a peça de interposição deveria ser dirigida? 
Caso houvesse a pronúncia de Caio, ter-se-ia a possibilidade de interposição de recurso em sentido estrito contra a decisão, com direcionamento ao tribunal de apelação nos termos do Código de processo penal ( juiz de direito da vara criminal vinculada ao tribunal do júri, prolator da decisão atacada).. Assim aduz os artigos 581 e 582 do CPP.
Art. 581.  Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
        I - que não receber a denúncia ou a queixa;
        II - que concluir pela incompetência do juízo;
        III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
         IV – que pronunciar o réu;                         (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;                     (Redação dada pela Lei nº 7.780, de 22.6.1989)
        VI -                        (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008)
        VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
        VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
        IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade;
        X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
        XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
        XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
        XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
        XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
        XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;
        XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
        XVII - que decidir sobre a unificação de penas;
        XVIII - que decidir o incidente de falsidade;
        XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;
        XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
        XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;
        XXII - que revogar a medida de segurança;
        XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação;
        XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.
        Art. 582 - Os recursos serão sempre para o Tribunal de Apelação, salvo nos casos dos ns. V, X e XIV.
        Parágrafo único.  O recurso, no caso do no XIV, será para o presidente do Tribunal de Apelação. (CPP)
DA COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO
        Art. 74.  A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
        § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados.             (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
        § 2o  Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada.
        § 3o  Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2o).
Exercício Suplementar 
(OAB) Assinale a alternativa CORRETA à luz da doutrina referente ao Tribunal do Júri. 
a) São princípios que informa o Tribunal do Júri: a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência exclusiva para julgamento dos crimes dolosos contra a vida; Errado:
De fato, quatro são os pricípios informadores do Tribunal do Júri: plenitude do direito de defesa, sigilo dos veredictos, soberania das decisões e competência para julgar os crimes dolosos contra a vida. No entanto a competência do júri não é exclusiva para estes crimes, pois também pode julgar demais crimes desde de que haja conexão ou continência com o crime doloso contra a vida.
Xb) A natureza jurídica da pronúncia (em que o magistrado se convence da existência material do fato criminoso e de indícios suficientes de autoria) é de decisão interlocutória mista não terminativa; 
c) O rito das ações de competência do Tribunal do Júri se desenvolve em duas fases: judicium causae e judicium accusacionis. O judicium accusacionis se inicia com a intimação das partes para indicação das provas que pretendem produzir e tem fim com o trânsito em julgado da decisão do Tribunal do Júri; Errado:
Conforme STJ o judiciumaccusationis tem por objeto a admissibilidade da acusação perante o Tribunal Popular e o judicium causae o julgamento dessa acusação por esse Tribunal Popular, do que resulta caracterizaro excesso judicial na pronúncia, usurpação da competência do Tribunal do Júri, a quem compete, constitucionalmente, julgar os crimes dolosos contra a vida (STJ - REsp: 147469 RR 1997/0063270-9, Relator: Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Data de Julgamento: 03/04/2001, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJ 25.06.2001 p. 251). Logo o judicium acusationes não dura até a decisão final.
d) Alcançada a etapa decisória do sumário da culpa, o juiz poderá exarar quatro espécies de decisão, a saber: pronúncia, impronúncia, absolvição sumária e condenação. Errado:
Ao fim da primeira fase do procedimento do júri (judicium acusationes) o juiz apenas poderá: pronunciar, impronunciar, absolver sumariamente. Condenar somente os jurados podem.
Cabe Lembrar também que ao fim da primeira fase, ou até mesmo na segunda fase, poderá o Juiz promover a desclassificação, sendo que na primeira fase remeterá o processo para o Juízo competente, e na segunda fase ele mesmo procederá o julgamento, conforme aludido nos artigos 419 e 492 §1º.
Art. 419.  Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.                 (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        Parágrafo único.  Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso. (CPP)
Art. 492.  Em seguida, o presidente proferirá sentença que: 
 I – no caso de condenação:                (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        a) fixará a pena-base;                    (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
        b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates;                       (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
        c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas admitidas pelo júri;                      (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
        d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;                       (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
        e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva;                   (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
        f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condenação;                   (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
        II – no caso de absolvição:                       (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso;                     (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;                   (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.                        (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        § 1o  Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.                 (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
        § 2o  Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1o deste artigo.  (CPP)

Outros materiais