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OLERICULTURA A ARTE DE PRODUZIR HORTALIÇAS Prof. Mário Puiatti Olericultura: a arte de produzir hortaliças 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À OLERICULTURA 1. Olericultura, horticultura, fitotecnia, oleráceas - Origem e significado dos termos: Etimologicamente, olericultura é um termo derivado do latin (substantivo oleris = herbáceo + verbo colere = cultivo). Olericultura é um termo técnico-científico utilizado na ciência que trata do ensino, pesquisa e cultivo de espécies vegetais essencialmente herbáceas destinadas à alimentação. Essas espécies são as oleráceas, olerícolas ou simplesmente hortaliças; quem as cultivada ou produz são os olericultores. Portanto, todos esses termos estão corretos e apropriados para uso no meio acadêmico e científico; porém, à exceção do termo hortaliças, os demais termos são desconhecidos da maioria das pessoas não relacionadas a essa área da ciência. Popularmente, as hortaliças têm sido denominadas de “verduras” e “legumes”. Nos supermercados a sigla FLV (Frutas, Verduras e Legumes) tornou-se corriqueira. Porém os termos verduras e legumes são pouco esclarecedores, embora o primeiro nos remeta à vaga idéia de órgãos vegetais de coloração verde e tenros e o segundo aos demais órgãos (frutos, tubérculos, rizomas, raiz tuberosa etc.). Portanto, o termo hortaliça é mais apropriado para utilização no meio popular, pois, além de aceito pela população é também utilizado no meio acadêmico e científico. Horticultura, hortifrutigranjeiro ... A olericultura é um ramo da horticultura. O termo horticultura é derivado do hortus romano que se refere às espécies vegetais cultivadas em ambiente cercado, próximo às residências, justificado pelo elevado valor dos seus produtos. Por sua vez, o termo fitotecnia (fiton = planta) é abrangente e engloba as tecnologias praticadas no cultivo de espécies vegetais, alimentícias ou não, porém úteis ao bem estar humano. O Esquema 1.1, a seguir, ilustra os ramos ou subdivisões da fitotecnia, demonstrando que o termo horticultura engloba várias outras atividades hortícolas, dentre elas a olericultura. Olericultura: a arte de produzir hortaliças 2 Esquema 1.1. Ramos ou subdivisões da Fitotecnia (Fonte: Filgueira, 2008). Grandes culturas = Grãos, fibras e estimulantes Olericultura → Hortaliças Fruticultura → Fruteiras Floricultura → Flores Jardinocultura → Plantas ornamentais Fitotecnia Horticultura Viveiricultura → Mudas em geral Condimentares → Condimentos Medicinais → Medicinais Cogumelos comestíveis→ Cogumelos comestíveis Silvicultura = Espécies Florestais Forragicultura = Pastagens e forrageiras 2.Caracterização da exploração de hortaliças A atividade olerícola apresenta peculiaridades que a distingue das outras atividades fitotécnicas apresentadas no Esquema 1, principalmente daquelas não pertencentes à horticultura. Dentre essas temos: 2.1.Uso intensivo dos fatores solo, mão de obra, insumos e água: a. solo: Diz-se que, no cultivo de hortaliças, há o uso intensivo do solo. Existem duas razões para que isso ocorra: uma delas é que as hortaliças apresentam, em sua maioria, ciclo cultural relativamente curto; a segunda é que existe grande número de ESPÉCIES de hortaliças e, dentro de uma mesma espécie de hortaliça, muitas VARIEDADES ou CULTIVARES adaptadas às variações climáticas ao longo das estações do ano. Dessa forma, em uma mesma área de solo, poderá haver cultivo com hortaliças diversas durante todo o ano. Portanto, na exploração de hortaliças não há “ANO AGRÍCOLA”, mas há maximização do uso da terra. Embora interessante em termos de produção de alimentos, quando há uso intensivo de máquinas e de equipamentos não bem dimensionados para o preparo do solo em área com topografia acentuada, associado à umidade de solo não adequada para esse tipo de trabalho, pode resultar em sérios problemas ambientais. Dentre esses problemas podemos citar a perda de solo por erosão em locais de maior declive. Essa erosão ocorre devido à formação do PÉ DE GRADE (Fig. 1.1). Olericultura: a arte de produzir hortaliças 3 Figura 1.1. Erosão laminar promovida pelo uso excessivo de máquinas agrícolas em solo de topografia acidentada cultivado com hortaliças em São José do Rio Pardo, SP. Note o “pé de grade” (solo compactado abaixa da camada arada). Foto: José Maria Breda Júnior. ESPÉCIE: se refere à classificação taxonômica desenvolvida por Linneaus, também denominada de binomial latino por utilizar dois termos latinos. O primeiro termo, com a inicial maiúscula, ser refere ao gênero e o segundo, todo em minúsculo, se refere à espécie propriamente dita ou epíteto específico (veja capítulo 4). Ambos devem ser grafados em itálico. Exemplo: o tomateiro pertence à espécie Solanum lycopersicum. VARIEDADE (var): pode ter dois significados. Um deles é quando duas espécies, muito semelhantes, diferem entre si em alguma característica, normalmente relativa à reprodução; nesse caso se refere à variedade botânica. Exemplo: o repolho pertence à espécie Brassica oleracea var. capitata (com cabeça), enquanto que a couve-comum à espécie Brassica oleracea var. acephala (sem cabeça). O outro emprego para variedade (var.) seria no aspecto diferencial relativo a materiais propagativos comercializados por empresas ou utilizados pelos agricultores, dentro de uma mesma espécie e/ou variedade botânica. Exemplo: tomate var. Santa Cruz; tomate var. Santa Clara. CULTIVAR (cv.): é um termo derivado do inglês cultivated variety (= variedade cultivada). É empregado com significado semelhante ao de var. comercial; todavia, mais recentemente, tem sido utilizado para indicar variedade com maior interesse na exploração comercial. Como tal, é registrada no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) conforme Lei nº 9.456 de 25 de abril de 1997 que instituiu a Olericultura: a arte de produzir hortaliças 4 Lei de Proteção de Cultivares. Veja Serviço de Proteção de Cultivares em http://www.agricultura.gov.br/ para maiores informações. ANO AGRÍCOLA: se refere à produção ou safra agrícola que é aquela obtida em um ano que, normalmente, se inicia na primavera e termina no outono/inverno. PÉ DE GRADE: Camada de solo impermeável à água formada pela compactação do solo abaixo da camada de solo revolvida pela passagem de arado, grade ou de enxada rotativa sempre à mesma profundidade. b. mão de obra: No cultivo de hortaliças são utilizados muitos TRATOS CULTURAIS artesanais impossíveis de serem mecanizáveis. Portanto, por serem realizados manualmente, implicam em elevado gasto de mão de obra. Estima-se que, no cultivo do tomateiro destinado ao consumo in natura (tomate de mesa), gasto médio de 800 DH/ha; na cultura do alho, apenas na operação de implantação da cultura, há um gasto estimado de 40 DH/ha. Embora esse gasto com mão de obra contribua para com o aumento do custo de produção, o cultivo de hortaliças se torna importante atividade no aspecto social por gerar, além de alimentos saudáveis, postos de trabalho evitando o fluxo das pessoas para as cidades (veja capítulo 3). Figura 1.2. Implantação da cultura de alho no Cerrado brasileiro. Note a grande quantidade de mão de obra envolvida no plantio todo manual. Foto: Marco Antônio Lucini. TRATOS CULTURAIS: São todas as práticas de cultivo exigidas pelas culturas como, por exemplo: tutoramento, podas, amarrio, amontoa etc. (veja cap. 9). DH/ha = Dias Homem por ha; 1 DH corresponde à jornada de trabalho de um dia de um trabalhador rural; ha = hectare; 1 ha corresponde à área de 10.000 m2. Olericultura: a arte de produzir hortaliças 5 c. insumos: O cultivo de hortaliças envolve o uso de tecnologias avançadas com a utilização de produtos (insumos) de elevado valor. Dentre esses insumos podemos mencionar: uso de sementes