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Apostila 1.O DIREITO NO UNIVERSO DO CONHECIMENTO

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1. O DIREITO NO UNIVERSO DO CONHECIMENTO
O CONHECIMENTO CIENTÍFICO DO DIREITO (O MÉTODO NO DIREITO E A TÉCNICA JURÍDICA)
Introdução ao Estudo do Direito – IED:
É a disciplina de base, introdutória à ciência do Direito, que visa descortinar seus horizontes ao definir o objeto de estudo, indicar os limites da área de conhecimento, apresentar suas características fundamentais, fundamentos e valores primordiais. Trata-se da matéria de iniciação, que fornece ao uma visão global do Direito e as noções fundamentais para a compreensão do fenômeno jurídico, além de desenvolver a técnica e o raciocínio jurídicos.
Ela trata do fenômeno jurídico, propiciando uma compreensão de conceitos jurídicos comuns a todos os ramos do direito e introduzindo o estudante e o jurista na terminologia técnico jurídica. É um sistema de conhecimento, recebidos de múltiplas fontes de informação, destinado a oferecer os elementos essenciais ao estudo do Direito, em termos de linguagem e de método, com uma visão preliminar das partes que o compõem e de sua situação na história da cultura.
Conceitos gerais: Direito, fato jurídico, relação jurídica, lei, justiça, equidade, jurisdição, segurança jurídica, etc (aplicáveis a todos os ramos do Direito).
Natureza Epistemológica da IED:
Epistemologia, do grego “epistême” (ciência) e “logos” (estudo), significa etimologicamente “teoria da ciência”. Segundo alguns doutrinadores, a IED não é ciência, por faltar-lhe unidade de objeto, isto é, falta um campo autônomo e próprio de pesquisa, mas é uma disciplina epistemológica, visto que contém conhecimentos científicos, filosóficos e por:
propiciar uma visão sintética da ciência jurídica; 
definir e delimitar os conceitos jurídicos fundamentais que serão utilizados pelo jurista na elaboração da ciência jurídica;
apresentar, de modo sintético, as escolas científico-jurídicas.
Caráter Enciclopédico e Propedêutico da IED:
Trata-se de uma disciplina essencialmente preparatória ou propedêutica ao ensino dos vários ramos jurídicos, devido às noções básicas e gerais que visa transmitir. Além disso, é uma enciclopédia (do grego, “eukuklios” = o círculo ou ciclo perfeito de “paidéia” = conhecimento), pois contém conhecimentos científicos (aspectos jurídicos, sociológicos, psicológicos, históricos e filosóficos) introdutórios ao estudo da ciência jurídica.
É uma matéria essencialmente propedêutica ao ensino dos vários ramos jurídicos. Inclusive, a partir de 1912, como disciplina de caráter propedêutico, passou a ser denominada como “Enciclopédia Jurídica”, tendo seu nome alterado para Introdução ao Estudo do Direito – IED a partir de 1931.
O método no Direito:
Método (do grego “méthodos” (metha = ao longo + hodos = caminho) significa o procedimento a ser seguido, ao longo de um caminho, para se alcançar um objetivo preestabelecido com eficácia e segurança. Portanto, é o roteiro ou a sequência de etapas a serem seguidas na investigação da verdade ou no estudo de uma ciência. Assim, o Método Jurídico trata-se da série ordenada dos meios pelos quais se chega ao conhecimento profundo do conteúdo das normas jurídicas.
Segundo Paulo Dourado de Gusmão, “o problema do método ou dos métodos da ciência jurídica, ou seja, dos procedimentos lógicos adequados ao conhecimento do direito, é o problema central da Metodologia Jurídica”. Ainda de acordo com Gusmão, “o problema do método jurídico depende da natureza da investigação que se pretende realizar. Se partirmos do geral (norma), para o caso concreto a ser julgado ou para dada situação jurídica, utilizaremos o método dedutivo, raciocinando através de silogismos; se de casos singulares para o geral, o método indutivo; com muita frequência o método comparativo; se a investigação tiver por objetivo as raízes sociais ou os efeitos sociais do direito, o método sociológico terá de ser usado, mas, se o passado do direito estiver na mira do jurista, deverá ser empregado o método histórico”. 
A técnica jurídica:
Técnica (do grego, “téchne” = "saber fazer", em latim, “ars” = arte, habilidade de transformar uma realidade natural em artificial ou o perfeito conhecimento de todo e qualquer ramo do saber) é o modo de realizar, de forma racional e segura, uma finalidade prática. Diz-se que o método indica o que fazer, ao passo que a técnica indica o como fazer. O mesmo método enseja a utilização de várias técnicas, das quais uma será a mais adequada. A técnica é a instrumentação específica da ação em cada etapa do método.
De acordo com Paulo Dourado de Gusmão, “a ciência do direito, como qualquer ciência, tem sua técnica (técnica jurídica), ou seja, a sua arte, que pode ser entendida como conjunto de procedimentos destinados a tornar mais perfeita e eficaz a criação e aplicação do direito, bem como a tornar mais completo o seu conhecimento”. Portanto, o conceito de Técnica Jurídica remete às formas e aos meios empregados para a obtenção de um objetivo específico, que é a concretização do Direito. Já que o fim maior do Direito é a conceder segurança aos indivíduos e a realização da Justiça, a Técnica Jurídica, então, pode ser definida como os meios adequados para se efetivar a segurança e a Justiça.
Segundo Ariel Álvarez Gardiol, “técnica jurídica é a adequada utilização dos meios que permitem alcançar os objetivos que o direito visa, seguindo preceitos metódicos.” Para Brethe de la Gressaye e Laborde-Lacoste “... a técnica jurídica se caracteriza, conforme nosso pensamento, essencialmente como um conjunto de meios, de procedimentos, mais ou menos artificiais, destinados a transportar o dado racional e experimental, com vistas a tornar prática e eficiente a norma jurídica no meio social onde ela seja invocada”. Assim, trata-se do método de realização das normas jurídicas. Ela tem um caráter artificial, pois consiste em um artifício que suscita o procedimento mais prático e eficiente. Assim, conclui-se que a Técnica Jurídica consiste no conjunto de princípios que disciplinam a elaboração, a interpretação e a aplicação corretas da norma jurídica, permitindo a plena realização do Direito na vida social.
O Direito é eminentemente instrumental, visando a harmonia entre as pessoas e a paz social, e se manifesta mediante normas jurídicas, definidas como preceitos obrigatórios de organização social e conduta individual, devidamente sancionados pelo Estado. A técnica jurídica consiste no conjunto de princípios que disciplinam a elaboração, a interpretação e a aplicação corretas da norma jurídica, permite a plena realização do Direito na vida social. A técnica jurídica divide-se em duas espécies bem demarcadas: 1) Técnica Legislativa: refere-se à conduta do legislador e inclui a iniciativa, discussão e aprovação, pelo Poder Legislativo, dos projetos propostos, seguidos da sanção, promulgação e publicação das leis, pelo Poder Executivo (arts. 59 e segs., e 84, IV, CF). 2) Técnica de interpretação e aplicação de leis e contratos (Jurisdicional), baseia-se nos princípios de quais se utiliza o juiz para aplicar, corretamente, as normas em cada caso concreto.
Dentre os recursos construídos e empregados pela técnica jurídica destacam-se:
Presunção (que dispensa prova), baseada na verossimilhança, generaliza o que normalmente ocorre em certos casos, estendendo as consequências jurídicas de um fato conhecido a um desconhecido (arts. 8º e 1.597, CC).
Ficção atribui realidade ao que não tem, considerando verdadeira uma criação artificial do pensamento ou “mentira técnica consagrada pela necessidade”, segundo Ihering e ainda, de acordo com Ferrara, “não transforma em real o que não tem realidade, mas só lhe dá as mesmas consequências, como se fosse real” e “por dar igual tratamento a relações em si materialmente diversas”. Às vezes, é preciso contradizer a própria realidade, uma vez que, só assim se alcançam os fins úteis ao meio social. (arts. 79 e 81, CC; Art. 3º, LICC).
Publicidade permite poder presumir o conhecimento da lei e de certos atos jurídicos(decretos, decisões judiciais, etc) por todos através da publicação destes em jornais oficiais (Diário Oficial) visando a prioridade, a segurança jurídica e a facilitação da prova dos mesmos.
Forma visa dar certeza e segurança à relação jurídica, sendo, em certos casos, essencial ao ato (art. 108, CC).
Redução e Concentração visam reduzir o número de princípios, regras e conceitos jurídicos (redução das coisas a móveis e imóveis)
CORRENTES DOUTRINÁRIAS NO DIREITO
Jusnaturalismo
Corrente de pensamento que advoga a existência de um Direito justo por natureza, independente da disciplina social imposta pelo legislador. Haveria na alma humana uma consciência inata, natural, do que é bom e justo, independentemente da orientação imposta pela lei ou direito positivo. Tais ideias encontram seu embrião na antiga Grécia, como um anseio intuitivo de uma convivência harmoniosa calcada numa ordem social absolutamente justa e eterna, em oposição à permanente ameaça do arbítrio e da injustiça. É a corrente de pensamento jurídico que defende a existência de um direito natural superior ao direito positivo. Segundo Paulo Nader (2004, p. 367):
O raciocínio que nos conduz à ideia do Direito Natural parte do pressuposto de que todo ser é dotado de uma natureza e de um fim. A natureza, ou seja, a propriedade que compõe o ser define o fim a que este tende a realizar. Para que as potências ativas do homem se transformem em ato e com isso ele se desenvolva, com inteligência o seu papel na ordem geral das coisas, é indispensável que a sociedade se organize com mecanismos de proteção à natureza humana. Esta se revela, assim, como o grande condicionante do Direito Positivo. O adjetivo ‘natural’, empregado à palavra direito, indica que a ordem de princípios não é criada pelo homem e que expressa algo espontâneo, revelado pela própria natureza.
Para o direito natural, há um direito anterior ao feito pelo homem e impera o pressuposto de que há uma verdadeira identidade entre direito e justiça. Deve-se ao jusnaturalismo e aos brocardos latinos, as primeiras versões acerca dos princípios jurídicos, como ideias decorrentes da própria natureza do homem, do bom senso e da prática social.
Positivismo Jurídico
É uma projeção do positivismo filosófico de Augusto Comte no âmbito jurídico que exclui toda a metafísica da apreciação científica e estabelece o padrão do método científico como partindo da observação, passando pela formulação da hipótese e sua verificação na experimentação. Nas considerações de Paulo Nader (2004, p. 376):
O positivismo jurídico [...] rejeita todos os elementos de abstração na área do Direito, a começar pela ideia de Direito Natural, por julgá-la metafísica e anticientífica [...] despreza os juízos de valor, para se apegar apenas aos fenômenos observáveis. Para essa corrente de pensamento o objeto da Ciência do Direito tem por missão estudar as normas que compõem a ordem jurídica vigente. Nessa tarefa, o investigador deverá utilizar apenas os juízos de constatação e de realidade, não considerando os juízos de valor. Em relação à justiça, a atitude positivista é a de um ceticismo absoluto. Por considerá-la um ideal irracional, acessível apenas por vias da emoção, o positivismo se omite em relação aos valores.
Dando grande importância à ciência no progresso do saber, restringindo o objeto da ciência e da filosofia aos fatos e descoberta das leis que os regem, o positivismo pretendia ser o coroamento do saber cientifico. Oposto a qualquer teoria do direito natural, é negador de qualquer filosofia dos valores. Elimina do direito qualquer referência à ideia de justiça e valores, procurando modelar o direito pelas ciências consideradas objetivas e impessoais e das quais compete eliminar tudo o que é subjetivo, portanto arbitrário.
Historicismo Jurídico
Com suas raízes no idealismo de Hegel, o maior expoente do pensamento historicista no meio jurídico foi Friedrich Karl Von Savigny. Segundo ele, o direito se formula a partir da experiência daquilo que foi e sempre será. No que tange ao aparente conflito com a escola do justo natural, a maior dissensão diz respeito às ideias jusnaturalísticas da imutabilidade e universalidade do fenômeno jurídico. Savigny nega que possa haver verdades jurídicas universais eternas. A escola histórica considera o direito como produto da evolução temporal em constante transformação, sendo o fundamento do direito as tradições jurídicas de cada povo.
Caracterizou-se por se opor a codificação do Direito, defendendo a transformação e a formação espontânea do Direito, marcada pelo “espírito do povo” (Volksgeist). O Direito é um fenômeno espontâneo da sociedade, manifestado primeiro como costume, que é sua fonte autêntica, por corresponder mais fielmente aos ideais e necessidades da sociedade em dado momento histórico e por acompanhar de perto as transformações econômicas, políticas e sociais.
Culturalismo Jurídico
Tendência que se disseminou bastante na América Latina. Segundo ela, o Direito habita o mundo da cultura, não o mundo natural como queriam os jusnaturalistas, nem é tão somente o ordenamento positivo segundo os positivistas. Iniciado na Alemanha com Josef Kohler, este pensamento jusfilosófico reafirma o Direito como realidade cultural e apresenta uma teoria da justiça, fundada em premissas antropológicas que priorizam a cultura humana como elemento primordial para a construção e compreensão do fenômeno jurídico. Revela a importância de se compreender o processo de formação e desenvolvimento cultural no seio de uma sociedade, e o modo pelo qual ele influencia a criação e consolidação dos hábitos e costumes, os quais propiciam o aparecimento da norma jurídica. Assim, o convívio social gera um processo cultural que produz hábitos e costumes, no sentido de propiciar um convívio humano pacífico e harmonioso. Nesse contexto, o Direito figura como instrumento de adaptação da conduta humana em proveito da sociedade. O fenômeno jurídico e a própria ciência do direito decorrem dos hábitos e costumes que a sociedade desenvolve através de um processo cultural, como meio de atingir uma convivência harmônica e pacífica a todos os seus integrantes.
Por sua vez, a norma jurídica tem sua gênese no processo cultural produzido pela sociedade. A ela antecedem os hábitos e costumes sociais, intermediados pelas relações humanas, num processo civilizatório e histórico. Portanto, o Culturalismo Jurídico: situa o Direito no reino da cultura e não da natureza; faz acompanhar a sorte do Direito à sorte da cultura em que está integrado, podendo emigrar para outra, quando moribunda a que o criou, (Direito sumeriano ou romano); faz depender o conhecimento jurídico do método diferente do aplicado às ciências físico-naturais; vê o Direito como realidade orientada por valores e destinado a atingir finalidades.
O Culturalismo Jurídico busca na cultura as bases da Teoria da Cidadania e funda-se na ideia de que o direito possui uma fundamentação tríplice: o fato, o valor e a norma. No Brasil, destaca-se a Teoria do Culturalismo Jurídico de Miguel Reale e seu Tridimensionalismo Jurídico. Entre nós, a maior expressão do culturalismo jurídico se deu na obra do filósofo e jurista Miguel Reale. A nota marcante da filosofia de Reale é a tridimensionalidade do direito. Assim, ele se traduz numa relação simbiótica entre fato, valor e norma. Conforme explica Paulo Nader (2004, p. 383):
O fenômeno jurídico, qualquer que seja a sua forma de expressão, requer participação dialética do fato, valor e norma. A originalidade do professor brasileiro está na maneira como descreve o relacionamento entre os três componentes. Enquanto que para as demais fórmulas tridimensionalistas, denominadas por Reale genéricas ou abstratas, os três elementos se vinculam como em uma adição, quase sempre com prevalência de algum deles, em sua concepção, chamada específica ou concreta, a realidade fático-axiológica-normativa se apresenta como uma unidade, havendo nos três fatores uma implicaçãodinâmica. Cada qual se refere aos demais e por isso só alcança sentido no conjunto. As notas dominantes do fato, valor e norma estão, respectivamente, na eficácia, fundamento e vigência.
Contratualismo Jurídico
A polis e a sociedade em si, decorreriam de um pacto que os homens decidiram celebrar para fugirem da condição de isolamento e barbárie em que se encontravam no estado natural. Como regra de convivência humana, pode-se resumir o pensamento de Epicuro (341 a 270 a. C.) em uma única frase: "não faças ao seu próximo o que não desejas que façam a ti." Posteriormente esse pensamento seria incluído na definição clássica dos Romanos sobre os preceitos do Direito: “viver honestamente, não lesar aos próximos e dar a cada um o que é seu”.
Normativismo Jurídico
Corrente do pensamento jurídico que reduz o direito a normas coercitivas, sistematicamente organizadas, tendo por fundamento uma norma dita fundamental. É a corrente mais radical que reduz o direito ao direito positivo. O positivismo jurídico desembocou no normativismo de Kelsen, talvez a escola jurídica mais influente de nosso século e a expressão por excelência desse movimento jurídico. A doutrina kelseniana provém da teoria nomológica, pois apoia toda sua teoria no conceito de norma fundamental. Esta, determinada pela Teoria Pura do Direito, como condição da validade jurídica objetiva, fundamenta, porém, a validade de qualquer ordem jurídica positiva. A estrutura do Direito é normativa, porque tem a função de conhecer e descrever as normas. A estrutura lógica da ordem jurídica é piramidal, pois a ciência política estabelece uma hierarquia.
Dentro do positivismo jurídico só existe uma ordem jurídica, a que é criada pelo Estado. De maneira geral, no positivismo jurídico podem ser enquadradas todas as teorias que consideram ser o direito expressão da vontade do legislador, definindo-o como comando e reduzindo-o ao direito do Estado. Na refutação da cientificidade dos juízos de valor, os princípios, por não possuírem caráter positivo (posto), acabam sendo esquecidos.
Somente a lei passa a ser tida como manifestação real do direito e somente a análise da lei passa a ser considerada com expressão científica de seu estudo. A crítica que se dirige geralmente ao positivismo jurídico é abalizada no fato de esta corrente enxergar apenas a face do direito sem grande preocupação com seu conteúdo. O ceticismo positivista reduz o homem a um fenômeno físico-causal e conduz a regimes totalitários. Além disso, a doutrina positivista não satisfaz os anseios sociais pela Justiça nem garante que a lei seja usada sempre em prol da sociedade.
Sociologismo Jurídico
Originado da afirmação da Sociologia como ciência a partir de Comte e das investigações de Durkheim e Max Weber. O sociologismo defende que o fato social explica e justifica o direito através da aplicação do método sociológico no campo jurídico. Com Marx e Engels, assume outra veste, passando a dar maior ênfase aos antagonismos de classes e a ver o direito como objeto de força e controle. Explica o direito sob a ótica de uma realidade social, observando o direito não como norma ou lei, mas sim como fato social. Em última análise, não identifica o direito com a lei e nem com a jurisprudência, mas com o fato social. Portanto, define o direito como fenômeno social, negando sua vinculação ao Estado, afirmando sua origem nos fatores sociais, que de forma natural e espontânea se manifestam no costume, para em seguida adquirirem formas estruturadas por intermédio de leis e códigos. Admite todas as formas e fontes do direito, considerando todas iguais, consagrando assim o pluralismo jurídico.
Idealismo Jurídico
É a corrente de pensamento que sustenta que o Direito se origina de um processo espiritual constante ou da ideia do Direito a priori. De um modo geral, designam-se como idealistas as correntes do pensamento jusfilosófico que, embora discordem quanto a outros pontos, têm em comum a concepção de que a essência do Direito é uma ideia. Desse modo, as diversas correntes do idealismo jurídico se fundam na suposição de que há uma essência do Direito, e que tal essência é uma ideia.
Realismo Jurídico
Teoria centrada no fato da aplicação do direito pelos tribunais e com os motivos, de ordem social ou psicológica, que a determinam. A justiça e os valores jurídicos são postos de lado, por serem mitos sem base científica ou fática. Para os realistas, o direito é fato social e renunciam a qualquer explicação transcendente ou metafísica dele. Sendo o direito fato, algo objetivo, a ser verificado na concretude das relações humanas, nada justifica a conduta de mitificá-lo, criando a seu respeito concepções idealizadas, sem nenhuma referibilidade com o que efetivamente acontece.
Sustenta que o direito é o conjunto de normas efetivamente aplicadas pelos tribunais de uma determinada comunidade e, nesse sentido, efetivamente seguidas. Ao afirmar que o direito ocupa o mundo fatual, os realistas chamaram a atenção para a necessidade de verificar o que realmente acontece no seio da comunidade social. Pois, o direito é o ajuste lógico da razão dos juristas à concretude da vida social, identificando a realidade concreta do direito com o direito dos juízes e dos tribunais. A norma é apenas uma referência dada, que deve ser submetida à prova do fato social, à valoração do juiz, ao que se decide em concreto, à sua própria decantação pelas cortes de justiça. Para o realista, então, o direito não é a norma, mas o fato da decisão, tal como proferida. O direito real e efetivo é aquele que o tribunal declara ao tratar do caso concreto.
1.3 RELAÇÃO DO DIREITO COM OUTRAS ÁREAS DO SABER
A Resolução CNE/CES no 9/2004 estabeleceu que o objetivo do eixo de formação fundamental é integrar o estudante de graduação em direito no campo e estabelecer as relações do Direito com outras áreas do saber.
CIÊNCIAS JURÍDICAS FUNDAMENTAIS
CIÊNCIA DO DIREITO
Segundo Paulo Nader, "em lato sensu, a Ciência do Direito corresponde ao setor do conhecimento humano que investiga e sistematiza os conhecimentos jurídicos. Em stricto sensu, é a particularização do saber jurídico, que toma por objeto de estudo o teor normativo de um determinado sistema jurídico". Ela tem por objeto o fenômeno jurídico tal como ele se encontra historicamente realizado. A Ciência do Direito estuda o fenômeno jurídico tal como ele se caracteriza no espaço e no tempo.
FILOSOFIA DO DIREITO
A Filosofia do Direito não se confunde com Ciência Direito, pois tem por objeto a indagação científica para examinar as suas condições de possibilidade. Indaga as condições mediantes as quais a concretização do fenômeno jurídico é possível. Seria uma perquirição permanente e desinteressada das condições morais, lógicas e históricas do fenômeno jurídico e da Ciência do Direito. A Filosofia do Direito, a “scientia altior” ou a ciência jurídica mais elevada nas palavras de Paulo Nader (2003), trata de questões tais como: O que é Direito? Em que se funda ou se legitima o Direito? Qual o sentido da história do Direito?
Ainda para Paulo Nader, “é uma reflexão sobre o Direito e seus postulados, com o objetivo de formular o conceito do Jus e de analisar as instituições jurídicas no plano do dever ser, levando-se em consideração a condição humana, a realidade objetiva e os valores justiça e segurança. 
SOCIOLOGIA DO DIREITO
A Sociologia Jurídica, entendida como ciência autônoma que procura examinar empiricamente as recíprocas interligações entre Direito e sociedade, busca explicitar o conteúdo ideológico que existe por trás das emanações legislativas, jurisprudenciais e dogmáticas.
Não se pode conceber o Direito senão dentro de um processo histórico de constituição e transformação social, de modo a garantir-lhe a necessária legitimidade para a regulação das relações ocorridas na sociedade. Esta disciplina, portanto, procura estabelecer o contraponto entre a normatividade abstrata da lei e a normatividade concreta decorrente dos fatores sociais, políticose econômicos, contribuindo para a formação de um sistema de legitimidade do Direito.
No contexto de revisão de paradigmas, a alternatividade jurídica surge como crítica à dogmática legal estrita e ao caráter usualmente conformista dos operadores do Direito, exigindo, ademais, uma mudança na orientação do ensino jurídico como um todo, de modo a adequá-lo à visão plural. O escopo da Sociologia Jurídica, nessa ordem de ideias, é desconstituir dogmas já ultrapassados de concepções acerca do fenômeno jurídico, para incentivar a formação de substrato ideológico renovado pelos novos conteúdos advindos do dinamismo social. Em verdade, se é do seio social que o Direito emana, é nas suas vicissitudes que deve ser compreendido.
Nessa temática de transição de visões (da normativista à institucional), em que predomina a necessidade de reelaboração dos conceitos de juridicidade e de Direito, esta disciplina firma-se como instrumento necessário à nova conformação do ensino do Direito e à formação profissional do novo jurista, cônscio de seu papel como sujeito ativo da construção jurídica, em sintonia com as necessidades sociais, e não como mero aplicador inconsciente da letra abstrata da lei.
A análise do substrato sociológico de um sistema jurídico torna clara a distinção entre direito vigente (de validade formal) e direito eficaz (aceito na vivência da sociedade), reforçando o papel do Direito como instrumento ora de conservação, ora de mudança social. Nessa esteira, o Direito "aviva-se", como resultado da normatividade emergente das relações sociais, e, ao mesmo tempo, redesenha-se pela criação judicial, aproximando-se da realidade pulsante dos fatores sociais.
A sociologia jurídica como interdisciplina (interface entre Direito, sociedade, cultura, política e economia) e analisa o Direito como reflexo da sociedade ou como elemento dinâmico desta sociedade. Trata-se de um método científico de análise das relações entre o Direito e a realidade social, das condições factuais de existência e de desenvolvimento dos sistemas jurídicos no sistema social. Constitui-se na análise do Direito na sociedade (seu lugar e função) e da sociedade no Direito (resposta social diante da regulação jurídico-formal).
PSICOLOGIA DO DIREITO
Campo de investigação psicológica especializado, cuja finalidade é o estudo do comportamento dos atores jurídicos no âmbito do Direito, da lei e da Justiça. Seu objeto de estudo é complexo, pois trata da relação entre o homem em suas condutas coletivas, analisando as consequências comportamentais decorrentes da norma de conduta social imposta pela sociedade.
Segundo Clemente (1998): “É o estudo do comportamento das pessoas e dos grupos enquanto têm a necessidade de desenvolver-se dentro de ambientes regulados juridicamente, assim como da evolução dessas regulamentações jurídicas ou leis enquanto os grupos sociais se desenvolvem neles”.
Visando pesquisar intervenções que resultem em benefícios para os sujeitos envolvidos em situações legais, ela pode auxiliar na compreensão do hommo juridicus e na interpretação das leis e suas conflitualidades, aperfeiçoando as instituições jurídicas. Para Trindade (2004), a Psicologia Jurídica é fundamental não só ao Direito, mas principalmente essencial à Justiça. Pois, para se chegar à Justiça, é necessário que o Direito e a Psicologia estejam em uma relação de reciprocidade compartilhando o mesmo objeto, que é o homem e seu bem-estar.
CIÊNCIAS JURÍDICAS AUXILIARES
HISTÓRIA DO DIREITO
Para Paulo Nader (2003), “A História do Direito é uma disciplina jurídica que tem por escopo a pesquisa e a análise dos institutos jurídicos do passado. O seu estudo pode limitar-se a uma ordem nacional, abranger a Direito de um conjunto de povos identificados pela mesma linguagem ou formação, ou se estender ao plano mundial.”
Segundo Paulo Dourado de Gusmão (2005), “É a parte da História que tem por objeto o Direito considerado como fato histórico. É, assim, história particular, e não geral, por ser o direito um dos componentes da Cultura. Como história particular, a do Direito só pode ser traçada como o conhecimento da História da Cultura em que o Direito estiver inserido, bem como da História da nação a qual ele pertencer por não ser fenômeno histórico-social autônomo, mas um dos elementos do fenômeno sóciocultural global, encaixado em um contexto histórico”.
Ainda de acordo com a lição deste ilustre doutrinador, “Grande é a importância dos estudos históricos do Direito, pois, revelando os efeitos históricos das legislações, da jurisprudência, dos negócios jurídicos e da doutrina, facilitam a compreensão do Direito atual, e esclarecem a razão de uma lei, além de fornecer aos juristas, ao legislador e ao juiz lições que devem ser aproveitadas”.
DIREITO COMPARADO
Nas palavras de Paulo Dourado de Gusmão (2005), “o direito comparado é a parte da ciência jurídica que tem por objeto a comparação de direitos de diferentes países, sociedades, civilizações ou de épocas diversas com o objetivo de descobrir seus princípios comuns e suas diferenças e, excepcionalmente, quando possível, propor uniformizações jurídicas ou unificações de legislações. Tem grande importância em nossa época, em face do desenvolvimento das relações internacionais, pois pode contribuir para a solução de problemas jurídicos oriundos dessas relações (contratos internacionais etc.)”.
1.4 Enfoques Teóricos
Zetética Jurídica e a Dogmática Jurídica
O pensamento dogmático está vinculado à opinião e à formação de opinião, enquanto que o zetético liga-se à dissolução das opiniões pela investigação e seu pressuposto básico é a dúvida. Segundo Tércio Sampaio Ferraz Jr., a origem etimológica destas expressões é a seguinte: “Zetética vem de zetein, que significa perquirir”, ao passo em que “dogmática vem de dokein, que significa ensinar, doutrinar”.
A dogmática jurídica corresponde ao campo das normas vigentes em um dado ordenamento legal: são respostas pré-concebidas, produzidas pelo aparato estatal, que monopoliza a criação normativa. Daí algumas expressões recorrentes, tais como "direito dogmático", "direito estatal" ou "direito oficial". Equivale, assim, ao direito positivo. Questões dogmáticas têm uma função diretiva explícita e estabelecem parâmetros fechados, configurando um dever-ser (uma prescrição de como deve-ser algo?).
Um advogado, um juiz ou um promotor não podem especular de maneira ilimitada acerca da solução mais justa ou adequada para pacificar uma controvérsia posta ao conhecimento do Judiciário. Deverão opinar e decidir com base em uma norma válida do ordenamento, que será o ponto de partida para a interpretação e aplicação do direito. A inegabilidade desses pontos de partida é, portanto, a principal característica do pensamento dogmático.
Por seu turno, o enfoque zetético suscita a dúvida, sugere perguntas que melhor refletem a questão analisada. Assim, na esfera do saber jurídico cumpre uma função especulativa muito importante, visando saber o que é uma coisa, configurando um ser (o que é algo?) ao contrário da perspectiva dogmática dirige-se a "possibilitar uma decisão e orientar uma ação".
A análise histórica do direito, a visão jusfilosófica, a psicologia forense, a antropologia e sociologia do direito são, entre vários outras, possíveis abordagens zetéticas do fenômeno jurídico, posto que descrevem a realidade de maneira explícita, especulando infinitamente sobre os dados tomados. Não se cingem a dizer o que algo deve ser, porquanto os pontos de partida são parâmetros da dogmática.
O papel da zetética seria, então, o de examinar criticamente os pressupostos que dão forma à dogmática, fornecendo-lhe assim condições de revisar seus pontos de partida, adaptando-os e fundamentando-os racionalmente. Para um saber jurídico completo, portanto, não se trata de eliminar ou de absorver um enfoque no outro, mas de compreendê-los como necessários e complementares.
A compreensão do direito depende, assim, do tipo de pensamento ou enfoque que se adotar. Tome-secomo exemplo uma hipotética disposição normativa encontrada na entrada de um Restaurante de luxo, em Copacabana: "é proibida a entrada de animais". E se acaso um cego acompanhado de seu cão guia desejasse acesso ao recinto? Em uma perspectiva dogmática, estaria impedido de entrar nesse ambiente. Um outro enfoque, não-dogmático, poderia levar a um mais profundo questionamento do problema, em que, dentre as várias conclusões possíveis, uma delas indicaria não ser razoável que tal proibição fosse estendida ao cego, permitindo-lhe assim, entrar no restaurante guiado pelo seu cão. Num enfoque dogmático o problema estaria resolvido pela máxima “dura lex sed lex”, e, por conseguinte, o cego estaria proibido de entrar no restaurante. Por outro lado, utilizando-se um enfoque zetético, se configuraria uma exceção ao comando normativo geral, de sorte a permitir a entrada do cego e do seu "acompanhante" canino.

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