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Filosofia da Ciência

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Capitulo II 
Ciência e experiência 
Considerando a crítica elaborada por Popper ao processo de indução e 
evidenciando o caráter intuitivo assumido pelo autor acerca da inspiração para 
a composição de um conhecimento científico, tentaremos mobilizar alguns 
aspectos presentes nas obras de Popper que nos possibilite uma melhor 
caracterização do que hoje chamamos ciência, e mais especificamente, ciência 
empírica. 
É claro que não podemos assumir como pressuposto, uma mera 
tentativa de resolver o problema da demarcação. Cabe aqui registrar que o 
fator que caracteriza a ciência empírica não se limita a possibilidade da 
experiência. Como seres ativos que construímos nossas próprias conjecturas, 
somos nós que definimos o nível e em qual medida uma determinada 
experiência me afetará a consciência, aquilo que no futuro poderá vir a compor 
uma Ideia Nova. 
Ainda em “Lógica da Descoberta Científica” o próprio Popper nos orienta 
para o papel de qualquer epistemologia que não aceita a lógica indutiva, a 
saber, enfrentar o problema da demarcação, pois rejeitando a lógica indutiva é 
rejeitado, por conseguinte todas as tentativas anteriores de demarcação. Qual 
o aspecto que delimita aquilo que pode ser chamado de ciência empírica e 
aquilo que comumente chamamos de metafísica? 
“As expressões “sem sentido” ou “absurdo” traduzem e pretendem traduzir uma 
posição depreciativa; e não há dúvida de que o que os positivistas realmente desejam não é 
tanto uma bem sucedida demarcação, mas a derrubada total e a aniquilação da Metafísica”. 
(POPPER, 1972, pag. 36) 
A preocupação do autor com os positivistas é clara e distinta, Popper 
salienta ainda que a demarcação da ciência empírica não seja o verdadeiro 
objetivo dos positivistas, mas sim a aniquilação total da metafísica. De fato o 
que preocupa é a questão que segue: o que diz a ciência? 
As proposições científicas não nos dizem a cerca de fatos elementares, 
as pretensões das leis da ciência empírica vão além daquelas verdades obtidas 
através da experiência particular. 
Outro problema ao qual não poderemos nos desvencilhar é a 
interpretação do Tractatus Logico-Philosophicus de Wittgenstein presente na 
argumentação de Popper, tanto em “Lógica da Descoberta Científica”, quanto 
em “Conjecturas e Refutações”. Segundo o “Tractatus” toda proposição 
significativa deve ser reduzível a uma proposição atômica, ou seja, todo 
enunciado significativo pode ser reduzido a um enunciado singular que 
descreve um fato específico da realidade. A partir dessa interpretação, de uma 
das proposições do “Tractatus”, Popper acredita identificar a proposta de 
Wittgenstein com o método indutivo defendido pelos positivistas. 
O que Popper nos propõe é uma identificação entre aquilo que 
Wittgenstein chama de afigurações da realidade e o que podemos encarar 
como princípio de indução, ou seja, se para Wittgenstein toda proposição 
significativa deve ser reduzível a uma proposição atômica essa configuração se 
aplica também ao entendimento dos defensores do princípio de indução, onde 
um enunciado universal deve ser reduzível a um enunciado singular. 
Na tentativa de limitar a metafísica os positivistas acabam por limitar 
também a ciência empírica. Ora, a ciência empírica não nos diz acerca de fatos 
singulares da realidade, sua maior ambição, pelo contrário, é dizer acerca 
daquelas “verdades eternas”. Deste ponto de vista, podemos afirmar que o 
problema da linguagem detectado por Wittgenstein não interfere na tarefa 
básica da epistemologia, demarcar a ciência empírica em relação à metafísica. 
A diferença primordial entre esses dois campos do saber não tange o que diz 
respeito ao que elas dizem, ou seja, as traduções em símbolos que essas duas 
fontes de conhecimento realizam ao se depararem com uma realidade, que 
necessita ser traduzida em símbolos, inefável, ou ainda, uma realidade que 
dificilmente poderá ser traduzida em símbolos. 
 
 
“Isso mostra que o critério indutivista de demarcação falha no traçar uma linha divisória 
entre sistemas científicos e metafísicos e porque esse critério deve atribuir a ambos o status 
igual; com efeito, o veredito decorrente do dogma positivista relativo ao significado é o de que 
ambos são sistemas de pseudo-enunciados, destituídos de sentido. Assim, em vez de afastar a 
Metafísica das ciências empíricas, os positivistas levam à invasão do reino cientifico, pela 
Metafísica”. (Popper, 1972, pag. 38) 
É preciso problematizar este movimento argumentativo na obra de 
Popper, pois não nos parece possível afirmar que uma proposição atômica se 
identifica com a noção de enunciado singular. O que estamos chamando aqui 
de enunciado singular se identifica com a descrição de um fato da experiência, 
ou ainda, uma tradução em símbolos, uma afiguração da realidade. Sendo 
assim, não podemos admitir que se diga o mesmo a cerca das proposições 
atômicas. As proposições atômicas não se comportam como descrições da 
realidade, na verdade será necessária uma breve discussão a cerca do que 
Popper entende por proposições atômicas. 
O problema destacado por Popper em relação à proposta de 
Wittgenstein é que ao se tentar aniquilar a metafísica como um conjunto de 
pseudo-enunciados, se aniquila também a ciência empírica, pois é nítido que 
os axiomas aceitos na física contemporânea não se enquadram na redução a 
proposições atômicas, ou ainda, a enunciados singulares. Tanto na Ciência, 
quanto na Metafísica, os enunciados universais não são reduzíveis a 
enunciados singulares, portanto, ambas dizem a cerca do que não poderia ser 
dito. 
Segundo Popper as leis naturais não teriam sentido dentro do critério de 
significatividade de Wittgenstein, assim como as especulações metafísicas, o 
trabalho do físico seria esvaziado como uma pseudociência, ou seja, 
desprovido de sentido e significado, uma vez que seus enunciados gerais não 
poderiam ser remetidos a enunciados singulares. 
O possível engano Popperiano pode estar contido na interpretação 
daquilo que entendemos por “proposição atômica”. Se entendermos o critério 
de demarcação do significado como um problema acerca dos “fatos atômicos”, 
a identificação entre a indução e o critério do significado se mostra impossível. 
Ao dizer que uma proposição significativa se remete a um “fato atômico”, não 
estamos dizendo que esta mesma proposição pode ser identificada numa 
proposição atômica, singular, estamos dizendo que essa proposição descreve 
um “estado de coisas” ou “estados de coisas”. Vale também ressaltar que 
Wittgenstein não se refere ao “estado de coisas” como algo passível de 
descrição e da linguagem, em suma seu argumento baliza as formas lógicas 
dos objetos lógicos dentro do espaço lógico. Assim sendo, antes da 
experiência. 
Para Popper o maior exemplo daquilo que comumente chamamos 
ciência empírica é a física quântica e a mecânica moderna. Deste ponto de 
vista, seria possível elaborarmos uma lista contendo algumas informações 
precisas sobre algumas mensurações já obtidas através das mais diversas 
áreas da física contemporânea e, contudo, continuarmos sem delimitar aquilo 
que acarreta em assumirmos determinados enunciados de uma determinada 
teoria como mais seguros e fidedignos que outros. 
Afim de melhor ilustrar o que Popper acredita ser a ciência empírica e 
assumindo, de antemão, que é a Teoria da Relatividade de Albert Einstein que 
o motiva no ímpeto de demarcar a ciência empírica, argumentaremos em prol 
de uma determinada discussão contida na Teoria da Relatividade Geral e 
Restrita de Einstein que possibilita uma configuração diferente daquilo que 
poderíamos chamar de Ciência Empírica. 
Se caso retornássemosa discussão acerca da indução, poderíamos 
argumentar a respeito de por qual motivo Albert Einstein assume a velocidade 
da luz como uma constante em suas reflexões e conjecturas. Não nos parece 
clara e nem distinta tal conclusão acerca da natureza da luz, sua velocidade 
como uma constante é o que há de absoluto na Teoria da Relatividade. Não só 
isso, outro aspecto absoluto presente na Teoria da Relatividade é a 
identificação entre as naturezas de Matéria e Energia, deste ponto de vista, o 
universo é formado por duas expressões da mesma natureza. 
Logo no início da obra de maior repercussão de Einstein se percebe a 
preocupação do autor em ressaltar o aspecto conjectural de uma teoria, ainda 
segundo ele a menor distancia entre dois pontos pode não ser uma linha reta, 
não demonstrando tal suposição, apenas assumindo outros axiomas. Como 
destacado anteriormente, a velocidade da luz como uma constante e a 
identificação entre as naturezas de Massa e Energia. 
Segundo Einstein é necessário uma espécie de inclinação perpétua para 
com os objetos da experiência, ou mundo da experiência, afim de que através 
dessas observações e desse “amor intelectual” fosse possível obter um quadro 
geral, o que o físico chamaria de uma imagem do universo. O amor intelectual 
proposto pelo Físico pode então ser entendido como uma das chaves da 
intuição, e deve ser observada no registro de Bergson. 
O que ocorre na intuição não é a mera mensuração de um dos 
momentos do objeto, mas sim um acompanhamento subjetivo da própria 
substância do objeto se movendo pela idéia do Espaço-tempo. O Espaço-
tempo Einsteiniano nos instiga a imaginar uma realidade onde toda mudança 
no espaço também é mudança no tempo, deste ponto de vista, não cabe ao 
cientista registrar os eventos em sua particularidade, separados. Antes mesmo 
de observar os eventos experimentais o cientista já intuiu a própria substância 
de sua teoria, ele já absorveu a idéia de duração. No espaço-tempo de Einstein 
os momentos, tanto no passado quanto no futuro, são fatias de diferentes 
perspectivas do mesmo Espaço-tempo. 
Na época em que escreveu sua “Lógica da Descoberta Científica”, 
Popper se encontrava espantado com a Teoria Gravitacional de Einstein, o 
físico havia proposto algo inédito, em certa medida, e que exigia mensurações 
absurdas para se comprovarem. Ninguém na época poderia acreditar piamente 
nas verdades obtidas nas teorias de Einstein. 
Em “Conjecturas e Refutações” de 1963, por exemplo, Popper nos 
mostra seu estranhamento frente à Teoria de Einstein, o arranjo intelectual 
elaborado pelo físico não se mostrava como evidente na época em que foi 
publicado e ainda não teve seu alcance intelectual de fato atualizado até os 
dias atuais. O objeto de pesquisa de Einstein não se limita ao mundo sensorial 
a nossa volta, seu itinerário epistemológico é pretensioso e parece não 
comportar toda experiência possível. 
A iminência de seu contraditório é um de seus aspectos mais 
emblemáticos, à medida que experimentos contemporâneos corroboram as 
teorias de Einstein, se desperta também a vontade de conhecer o seu 
contraditório e surgindo assim especulações a cerca de suas contradições. As 
verdades contidas nas teorias de Einstein andam no limiar entre o absoluto e o 
fantasma do desconhecido, do irracional. 
Para Popper o caso de Einstein é relevante dentro desse discurso. O 
que o físico propõe é uma visão totalmente diferente do universo observável e 
parece fugir da regra indutivista. Antes de observar os casos que corroboram 
sua teoria o físico é despertado por seu próprio intelecto e intui o universo que 
irá expressar. É a partir dessa intuição que a decisão de como ligar os pontos 
vem à tona. E é justamente essa característica que torna a ciência empírica 
confiável, ela parte de uma hipótese e tece uma teia de desdobramentos 
dedutíveis dessa mesma hipótese, e desse modo ela possibilita a correção, a 
inovação e não corre o risco de ficar obsoleta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
Bibliografia consultada 
POPPER, K. R. (1972) Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo. Editora 
Cultrix. 
 POPPER, K R. (1994). Conjecturas e Refutações. Brasília. Editora 
Universidade de Brasília. 
 ___. (1974). A Sociedade Aberta e seus Inimigos. Belo Horizonte. 
Editora Itatiaia. 
 ___. (1980). The Logic of Scientific Discovery. London: Unwin Hyman 
HUME, D. (1999). Investigações Acerca do Entendimento Humano. São 
Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. In: Os Pensadores. 
 EINSTEIN, A. (1999). A Teoria da Relatividade Especial e Geral. Rio de 
Janeiro. Editora Contraponto. 
EINSTEIN, A. (2005). Indução e dedução na física. São Paulo. Revista 
Sciencia Studia. vol.3, nº 4, p.663-664. 
 WITTGEINSTEIN, L. (1968). Tractatus Logico Philosophicus. São Paulo. 
Editora da Universidade de São Paulo. 
STACHEL, J. (2005). O manuscrito de Einstein de 1912 como pista para 
o desenvolvimento da teoria da relatividade restrita. São Paulo. Revista 
Sciencia Studia. vol 3, n°4, p. 583-96. 
STUBERT, W. R. (2007). Explicação causal e indeterminismo na filosofia 
de Karl Popper. Curitiba. Editora da Universidade Federal do Paraná. 
 
Bibliografia a consultar 
 
 ACKERMANN, R. (1977). The Philosophy of Karl Popper. United 
States of America: The University of Massachusetts Press. 
 AYER, A. (1959). Logical Positivism. New York: The Free Press.

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