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I'JU Nor '•1/u~ •o/.n 1111111111/11111,(111 it IJtts no nud to fob~r ore:..plort'; Darkly it knows rvhat obsrncfts nrr tbtr~, And so mny tvenve and flirter, dip and soar in perfect courus through the blackest 11ir. And hns tbis simile 11 like perfmiotr? The mind is like a hilt. Precisely. Save Tbat in the very lutppiest intellection A gmcefid error nut)' correct the crtve. 19• • [Traducrao livre: "Em sua mais pura ac;ao a mente equal um morcego/ Que voluteia solidriu pd cavern~/ Con~cgulll~O, por algumJ pcrspidcia insciem~,/ Nao sc acauar cuntra um mum .J,.,, dra./ Nao prcctsa hcmar nem explorar/ Sabe obscuramcnrc quais sao os ohst:iculos,/ E podc .1• Ill tranc;ar c vocjar, mcrgulhar c subir/ Em trajct6rias perfcitas pelo mais negro ar./ E rem estc: ,(111 11 pcrfeic;ao que o igualc?/ A mente c <JU:ll morccgo. Exat:Jmcnrc. Excero/ Que na mais feliz d,l\ 1111r lccc;oes/ Um erro gracioso pe>de co rrigir a caverna." (N.T.) 0 mundo em pedafos: Cultura e politica no fim do seculo m undo em pedafOS Em mcm6ria de Edward Shils ... com l[UCm cu 3s vczcs cuncordava. 1 ••11.1 polftica, que se apresenta como abordando quest6es universais e per- IHntcs a respeito do poder, da obriga<?o, da justic;:a e do governo em termos .. , t' incondicionais, a verdade sabre as coisas, rais co mo no rundo sempre r•m toda pane, necessariamenre, c, na verdade e de maneira incvi ravel, uma 1\ta espedfica a circunsrancias imediaras. Por mais cosmopol ira que possa I llllCnyaO de Ser, ela C, COmO a re!igiao, a !ireratura, a historiografla OU 0 di- 1111 movida e animada pelas exigencias do momemo: um guia para perplexi - 1"' particulares, premenres, locais e ao alcance da mao. lsso fica bastante clara por sua hisr6ria , especialmenre agora que essa his- 1.1 cnfim comcc;:a a ser escrita, por Quentin Skinner, John Pocock e ourros, tl·rmos realisras- como uma hisc6ria dos engajamentos dos intelecruais 'atuac;:6es polfricas que os cercam, e nao como uma procissao imaculada de II inas, impulsionadas pel a 16gica das ideias. A esta altura, e diffcil deixar de •nhecer que o idealismo polfrico de Pia tao ou o moralismo po lfrico de Aris- l'S riveram alga a vcr com suas reac;:6es as vicissitudes das cidades-estados que o realismo de Maquiavel reve aver com seu envolvimento nas ma- hr.ts dos principados da Renascenc;:a, e que o absolurismo de Hobbes relacio- tll sc com seu horror as furias da desordem popular nos prim6rdios da 11opa moderna. 0 mesmo com Rousseau e as paix6es do Iluminismo, com 111 kc e as da rea~ao a ele, com os realpolitikers do eguilfbrio do poder eo na- l.tlismo e imperialismo do seculo XIX, com John Rawls, Ronald Dworkin e t('(>ricos dos dirciros liberais e os Esrados de bem-estar pos-1945 , na Ameri- do Norte e na Europa Ocidenral, e com Charles Taylor, Michael Sandel cos Ia uuados comunirarisras, e a incapacidade de esscs Esrados produzirem a vid.a na.aginada. A moriva~ao da rencxao geral sabre a polfrica em gcral c r:tdic.d 191 mente nao geral . Prm•em de LL m de.;ejo, ate de uma aflic;:ao, de com prn nd r jogo d e poder e aspiraqao que se encontra girando ao red o r, nu m d.tdll l11 perru rbado, num dado momenta desarriculado. H oje, passada uma decada d a queda do Muro de Berlim , est:i cl:u o I ji lt tamos mais um a vez nesse Iugar e nesse mom enta. 0 mundo em que VIVf.lllt desde T eera e Po tsdam, ou, a r igor, desde Sedan e Port Arthur - u rn 111111 1.! de potencias compactas e blocos anragonicos, de arranjos e rearranjo' dt 111 cro-aliancyas- nao existe mais. 0 mundo que exisre, em vez disso, e a 111111• ~I co mo devemos reAerir sobre ele, po rem, sao coisas nitidamente menos cl.11 1 Urn padrao muito mais pluralista de relac;:6es entre os povos do 1111111 1 parece estar em ergindo, mas s ua forma ainda e vaga e irregular, fe ira dl· 1 t lhos, ameac;:ado ramenre inde terminada. 0 colapso da Uniao Sovietica <: ·" 111 didas atrapalhadas da Russia q ue a sucedeu (e que nao e nem espaci:tlltll II idenrica a que a precedeu) trouxeram em sua esreira uma onda de divisol'' ',It curas e estranhas instabilidades. 0 mesm o fi zeram o reavivamento das p.11 '' nacionalisras na Europa Central e Oriental, as angusrias hachuradas que .tl • 11 nificac;:ao da Alemanha esrimulo u na Europa Ocidental, e o chamado Rll t 11 mento Americana: a capacidade decrescente (e a disposic;:ao decrescerHc) .!1 Estados U nidos d e comprometerem seu poderio em regi6es di stan ces do 1111111 do - os Bilcas o u o leste d a Africa, o Magreb ou mar da C hina M eridion.tl \ crescenres tens6es in ternas d e mui ros paises, surgidas de mig rac;:ocs cull1u tl mente disco rdantes e em larga escala, o aparecimento de movimentos rdtj'l" so-po liticos, armadas e apaixonados, em varias partes do mundo, eo despw1111 de novos centros de riqueza e poder no Oriente Medio, na America Lari n;l l 11 margem asiatica da costa do Padfico s6 fizeram contribuir para o seminH 1111 gen eralizado de inconsran cia e incerteza. T odos esses fenomenos, assim co11u ourros induzidos po r eles (as guerras civis ernicas, 0 separarismo lingi.i istil.ll. "mul riculruralizac;:ao" do capital inrernacional), nao produziram a sensar;..tP tl uma nova ordem mundial. Produziram urn senrimento de dispersao, par111 11 laridade, complexidade e descentram ento. As temidas simetrias da cr.1 du p6s-guerra desarticularam-se, e n6s, ao que parece, fi camos co m os peda\n Todas as mudanc;:as desse ri po, descontfnuas e em grande escala, quem t rud iosos e os esradistas gosram de chamar de "hist6 ricas mundiais", pa~>t desculparem por nao ter percebido a ap rox imac;:ao delas, p roduzem novas I"' sibilidades e perigos inediros, ganhos inesperados e perdas surpreendentl'~. I 1 desaparecimenro, pelo men os por enquanro, da am eac;:a da conA agrac;:ao nw I. ar macic;:a, a libertac;:io de vasras gamas de pessoas da dominac;:ao das grande potencias eo relaxame nro da rigidez ideol6gica e das escolhas fo rc;:adas dl· 11111 mundo bipolar sao fenomenos positives, do ponro de vista de praticam rlll• qualquer pessoa. Os recentes avanc;:os em d irec;:ao a paz e a civilidade, por II I I'll 'lil t' scjam, na Arr ica do Sui, emre os israelenses e a OLP, ou, de maneira difcrcn tc, na lrlanda do Norte, provavelmenre nao poderiam rer ocorri- r dt·ccn o nao com tanta rap idez, sea distancia entre as disputas locais e a rontac;:ao global ainda fosse tao pequena quanto era antes de 1989. E, se ela , os norre-americanos tambem nao estariam pensando em negociar com t uhanos, os russos com os japoneses, Seul com Pyongyang, ou Barak com Por ourro !ado, as convuls6es trazidas por inimizades nacionalisras, ante- nwntc contidas pelas autocracias poderosas, a inda que a urn enorme custo o, simplesmenre ja n ao tern como ser acolhidas como benc;:aos da liber- . Tampouco podem se-lo as hesitac;:oes da inregrac;:ao europeia, agora que cdo do comunismo d iminui u, a m enor capacidade de as po rencias mun- prcssionarem os Estados-clientes a se comportarem, ago ra que as recom- da dependencia economica e po!irica foram reduzidas, ou a iplicidade de candidaros a dominac;:ao regional, agora que a polftica inrer- passou a ser menos cerceada pelas estrategias globais. Reduc;:ao das ar- das superpotencias e prolife rac;:ao nuclear, libertac;:ao politica e mdamento do provincianismo, capitalismo sem fronteiras e pirararia . e d iflcil fazer urn balans:o claro. Mas a mudanc;:a mais fatfdica talvez seja, mais uma vez, o esgarc;:amento lizado do mundo com que de repenre nos vemos co nfronrados. 0 esfa- to de coes6es maiores, ou que assim pareciam, em coes6es menores, li- enrre si de maneira incerta, rornou exrremamenre diffcil relacionar as es locais com as globais, "o mundo das bandas de ca'' (para adaptarmos minosa exp ressao de Hillary Putnam) co m o mundo em geral. Para queo possa ser apreendido e para que se descubram novas unidades, parece ne- rio apreende-lo nao di retamenre, de uma vez s6, mas atraves de exemplos, variac;:6es, parricularidades- aos pouquinhos, caso a caso. Num esrilhac;:ado, devemos examinar os esrilhac;:os. E e af que entra a teOL·ia, see que vai haver alguma. Em particular, onde e esse desped a<;:amento - chamemo-lo de "desmonragem" - deixa os ndcs conceiros inregrado res e roralizanres que po r tanto tempo nos acostu- os a usar para organizar nossas ideias sabre a polfrica mundial e, em espe- sobre a semelhan c;:a e a diferenc;:a entre povos, sociedades, Esrados e uras: conceiros como "tradic;:ao", " idenridade", "religiao", "ideologia", "va- ", "nac;:ao" e, a rigor, ate os pr6p rios conceitos de "culrura", "sociedadc", " ou "p ovo"? Sera que ficamos reduzidos, ago ra que a oposic;:ao flagran enrre "Lesre" e "Ocidente" foi denunciada como a f6rmula ernoccncric:t que re foi (o lesre em Moscou, o ocidente em Washington, e todos os outws res- H avana, T 6quio, Belgrade, Paris, Cai ro, Pequi m, Joancsblllgn I'J•I derivacivamen te situados), a falar apenas de deralhes idiossincr:iticos c 1111," ll pas;6es imediaras, aos reralhos d e reflexao e as arens;6es dispersas do no111111 norurno? E preciso consrruir algumas ideias gerais, novas ou reco ndic.1o11 tolt se quisermos pen etrar na luz ofuscan re da nova hererogeneidade e dizcr .1lgo uril sobre suas formas e seu futuro. D e faro, hi agora urn born numero de proposras sendo formul adas '"' '' direyao que deve tamar o pensameoro no rocanre a siruas;ao emergent' I'" posras sobre como enrende-la , como conviver com ela, como corrigi-la, "'' ja que sempre exisrem aquelesque insisrem resolutamenre em que nada )·"""' se modi fica de verdade nas quest6es humanas, porque nada jamais se mudll1 no coras;ao humano (e eles existem especial mente na Europa, onde o pc~\1 1111 mo hist6rico e freqi.ientemente tornado por marca de boas maneiras e cui1111 ) -como negar que ela esteja de faro emergindo. A mais destacada dessas propostas, ou a mais celebrada, de qualtpt modo, e, pelo menos num sentido desse rermo fabricado e mudvd. "p6s-modernismo". Segundo essa visao, a busca de padr6es abrangentcs tl, ser simplesmente abandonada, como urn resro da busca antiquada do ctt1111 do real, do essencial e do absoluro. N ao existem, segundo se afirma, narr.tll\ mesrras sobre a " idenridade", a "tradis;ao", a "culrura" ou qualquer outra co1 H a apenas acontecimenros, pessoas e formulas passageiras, e, mesmo assim, 111 coerences. D evemos conrenrar-nos com hisr6rias divergences em idiomas 1111 conciliaveis, e nao ten tar abarci-las em vis6es sin6pricas. Tais vis6es (seguud essa visao) sao impossfveis de obter. T entar obte-las leva apenas a ilusao estere6tipo, ao preconceiro, ao ressentimento e ao confliro. Em completa oposis;ao a esse ceticismo neu rastenico ante os esfors:o' tl juntar as coisas em relatos abrangenres, em grands recits provides de urn enll "" e uma moral, exisrem as tentarivas de nao descartar como vazios e enganosm n conceitos de larga escala, inregradores e totalizantes, mas de subsriruf- los I'"' outros de escala ainda maior, mais integradores e mais torali zanres- "civil11 1 s:oes", ou seja Ia o que for. As te nrarivas de conrar hist6rias ainda mais grand111 sas e dramaticas comeyam a surgir, agora que as mais antigas esrao ' desgastando: hist6rias d e choq ues de sociedades incomuniciveis, morais Cllll tradir6 rias e vis6es de mundo incomensuriveis. "As grandes d ivis6es da huua 1 nidade e a fonte dominance d e co nAiro (nos anos do futuro imediatol proclamou recenremente o cientista polftico norte-americana Samuel llu11 rington , "serao culrurais", nao "primordialmente ideol6gicas nem primordi.d mente economicas".' "0 choque das civilizas:oes", diz ele, "dominara a polflll 1 global. As linhas de fi ssura entJe as civilizas;6es [cristae islamica, confucian.•• hindu, norte-americana e japonesa, europeia e africana] serao as lin has de COlli bate do futuro ." "A proxima g-uerra mundial, sevier", como ele parece jul~·'' ( J 1111111dn rill prt!ttfll! l 'l'i ci t.uncn te prov:ivcl, dad.1s cssas agregas:oes maciyas de religiao, raya, local i- , c linguagem, "sera uma guerra entre civilizas:oes." ( ~onfronrados com essa escolha entre urn cericismo desiludido, que nos pouca coisa a dizer, exceto que a diferens:a e a diferenya e nao ha como rnar isso, e urn reuato verbal operfstico, que concebe choques de guerras lrl' mundos ainda mais espetaculares do que as que parecemos ter evitado r tun criz ate agora (assim como diante de varias ourras sugesc6es implausf- - as de que a hisr6ria acabou, as afi rmas:oes de conhecimento nao passam ll'lltativas mal disfars;adas de romar o poder, ou rudo se reduz ao desrino dos cs), aqueles denrre n6s que remos o compromisso de fazer uma rriagem de mos concretes, para desenvolver comparas;6es pormenorizadas- investi- cspedficas de diferens:as especfficas -, talvez pares;amos ingenues, qui- IOt:cs<:os, dissimulados o u antiquados. Mas, see que vamos encontrar normas navcgas;ao num mundo estilhas;ado e desmonrado, elas terao que vir desse halho pacienre, modesto e cri terioso. Nem as cenas frias nem os enredos serao realmente de qualquer serventia. Precisamos descobrir com te exatidao qual e 0 panorama. Mas tambem isso e muito mais diffcil , agora que a maneira como nos acnstumamos a dividir o mundo cultural - em pequenos blocos (Indonesia, no meu caso, ou Marrocos) agrupados em blocos maiores (Sudeste tico ou Africa meridional), e estes reunidos em blocos ainda maio res (Asia, Oriente M edio, o Terceiro Mundo, ou seja Ia o que for) - j:i nao funciona muito bern em nenhum de seus nfveis. Os escudos inrensamente concentrados (aobre a musica javanesa ou a poesia marroquina, 0 parentesco africano ou a lturocracia chinesa, 0 direito alemao ou a estrutura de classes inglesa) ja nao sao uados ou sequer in teligfveis, como invesrigas;6es fechadas e autonomas, relacionadas entre si, nem co m seu contexte e seus arredores, nem com os gerais de que fazem parte. Ao mesmo tempo, entretanto, as linhas pclas quais seria possivel rras;ar essas relas;6es, descrever esses contexros e definir uses fenomenos sao emaranhadas, sinuosas e diffceis de discernir. A mesma dissolus:ao de grupos esraveis e divis6es conhecidas que rornou tao insondavel e hcio de arestas o mundo poll rico fez com que a analise da culrura, de como as pcssoas veem as coisas, reagem a elas, imaginam-nas, julgam-nas e lidam com rlas, se rornasse uma empreirada muito mais delicada do que era quando sabfa mos, ou melhor, julgavamos saber o que combinava eo que nao combinava om o que. Em termos culturais, assim como em termos polfticos, a "Europa", dig.t mos, ou a "Russia" ou "Viena" nao d eve ser entendida como uma unidadl· de eaplrito e valor, co nrrastada com outras dessas supostas unidades- o O ril'llll' Mcdio, a Africa, a Asia, a America Larina, os Esrados Unidos o u Londrc\ mas como urn co nglomerado de diferenyas profundas, radicais c rcs istl'l11t'~ u• resumes. E o mesmo se aplica as d iversas subpartes que demarcamos, d~ IJill modo o u de outro, dentro desses conglo merados - protesram es c c.awli•u islamiras e ortodoxos; escandinavos, Iatinos, germanicos, eslavos; urb:mm 1 111 rais, continenta.is e insulares, natives e migrantes. A desmo nragem do mtltulu polfrico nao provocou essa heterogeneidade, e clara. Foi a hist6 ria, inst.t\• I caprichosa, e dilacerad a pela violencia, que o fez. A desmonragem apen.l' l••r nou patente a hererogeneidad e: flagrante, impossfvel de encobrir com 1d~1 grandiosas, ja agora impossfvel de nao ver. 0 que precisamos, ao que parece, nao e de ideias grandiosas nem do .th Ill dono complero das ideias sinterizadoras. Precisamose de modos de penSa l 'I" sejam receptivos as parricularidades, as individualidades, as estranhezas, ,l,li conrinuidades, contrasles e singularidades, receplivos ao que C harles T.t} lou chamou de "diversidade profunda", uma pluralidade de maneiras de fazcr l'·'r tee de ser, e que possam extrair deles - dela- urn senti men to de vincul,l~·•o de uma vinculayaO que nao e abrangente nem unifo rme, primordial nem i11111 ravel, mas que, apesar disso, e real. 2 A preocupayao de Taylo r, dianre do scp.11 tismo ideologizado, da ameaya de separayao entre Quebec e 0 Canada, e COlli I desmontagem poll rica, como aspecro de pertencimento e cidadania da idu11• dade num mundo esrilhayado: que e urn pafs, se nao e uma nayao? Mas a p11 gunra e a mesma do !ado do eu, do ser, que e sua face especular e invercida: 'I" e uma culrura, se nao e urn consenso? Boa parte do pensamento filos6fico e das ciencias sociais na Europa e nos Fstt dos Unidos esta atualmente as voltas, de maneira nao muiro eficaz, com cs•.,t duas pergunras, muiras vezes, a lias, de maneiras que co nfundem uma cotn 1 o utra e com a noyao- que esta bern Ionge de ser idenrica e e, a meu ver, bt "' mais complicada, frouxa, supergeneralizada e decerto abusivamenre usada de "nacionalismo". A coexistencia, na maioria das regi6es do mundo, a ril-\''' em praricamente rodas, de grandes rradic;6es culrurais, ricas, disrinras e hist<lll camente profundas (civi lizac;6es no senrido proprio do termo, e nao em srn senrido polemico), com uma progressao inrerminavel de diferenyas denLro dt diferenc;as, divis6es dentro de divisoes, misturas denrro de misturas, levant• uma pergunra que ja nao pode ser descartada como ociosa ou inconsequerHt como e, num mundo tao mulri facerado, que surge a idenridade polftica, sou.al ou cultural? Sea idenridade sem unfssono e de faro a no rma - na fndia ou rllt' Esrados Unidos, no Brasil ou n a Nigeria, na Belgica ou na Guiana, ou ate ru• Japao, esse suposto modelo de afinidade mental imanente e singularidadc ,., sencializada - ,em que e que ela repousa? () ,,,,111 r111 prtlttftl! I 'J7 T.unbcm nc.ssc c:1so, cn LrcLanro, a perguma esta mal posee, se inlerprelada urna pcrgunta gcral em busca de uma resposta invariavel - o que, mais vcz, constitui o problema de pelo menos grande parte dos textos sabre o iunalismo" (au, a prop6sito, rambem sabre a "ernic idade") que se torna- tao populares nos Ultimos anos. E que existem quase tantas maneiras de nir cssas idenridades, fugazes o u duradouras, abrangentes ou intimas, cos- >liras ou fechadas, amistosas o u sanguinarias, quantos sao os materiais que uni-las e as raz6es para faze-lo. fndio no rre-americano, israelense, bo- ' muc;ulmano, basco, tamil, europeu, negro, australiano, cigano, ulste- :irabe, quilombola, maronita, hi spanico, flam engo, zulu, jordaniano, ola, bavaro e formosense- res pastas que as pessoas as vezes ciao a pergun- fi.·ita por elas mesmas ou po r terceiros, sabre quem (ou, talvez mais exata- ruc, o que) elas sao- simplesmenre nao com poem uma estrutura ordeira. Nem rampouco esravel. A medida que o mundo se torna ma.is rigorosa- ntc inrerligado, econ6mica e politicamenre, que as pessoas se deslocam de iras imprevistas, apenas parcial mente controlaveis e cada vez mais maci- c que novas linhas sao rrayadas enquanto as anrigas se apagam, o catalogo idcnrificay6es disponfveis se expande, contrai-se, muda de forma, ramifi- , involui e se desenvolve. Meio seculo arras, nao havia beurs. nem bengal is, havia peranakans e iugoslavos; a ltalia nao Linha urn "problema marroqui- c Hong Kong nao rinha urn problema vietnam ita. (Nem Vancouver rinha problema vindo de H ong Kong.) Ate as identidades que persiscem, como austrfacos e norte-americanos rem boas raz6es para saber- assim como os loneses, os xiitas, os malaios e os edopes -, alteram-se em seus layos, seu do e seu sentido interne. Os cientistas polfticos tendem a funcionar em nfveis bern acima desse ma- de caracterizay6es, distinc;:oes, particularidades e rotulay6es que com- o mundo do "quem e 0 que" das identidades coletivas; tendem a flutuar nu:dilativamenre sabre ele, como se esrivessem num balao de Montgolfier- por medo de que descer venha a expo-los ao tipo de detalhes interminaveis e nnflitanres que amiude acabrunham os antrop6logos; talvez porque o matagal lhcs pareya meio repelente: emocional, esronteante, irracional, perigoso; ou talvcz porque pareya irreal ou acidenral , mero verniz, decorayao e misrificac;ao. Mas, se o que de faro nos confronta e urn mundo de dessemelhanyas co rnp,te. 1 l1t<s1gnac;:1io francesa das pessoas de origem magrebina e nacionalidade francesa, em gcral d.1 Sl'~un 1la ~crac;:ao de imigranres. (N.T.) N tJIIII ltw. w!J r '' '"''' ''/'"'''JI.''' tadas de ma neiras diversas, e n ao de E.s tados nacionais intciri~os, rcuntd., blocos e superblocos (aquele ripo de co isa que seve de urn balao), nao rn t 1 111 tra coisa senao rrararmos de examinar os casas, seja qual foro pre~o par.• neralidade, a cerreza ou o equilibrio inrelecrual. Mas, na verdade, talvez os custos nao sejam rao alros quanro se tenrc beneffcios esrejam sendo subesrimados: a absrrac;ao das especificidadcs n.to (mica forma assumida pela reoria. Nos anos do fururo imediaro, enqu.1111 n China enrra com passo desajeitado e desigual na economia internacion.d . ell quanro a Alemanha procura remendar meio sck ulo de divisao polft it.. r, 11 quanto a Russia ten ta encontrar uma forma viavel de existir, enqu .1111n sociedades africanas renram conrer 6d ios multiplos e disrinc;6es intrinc rold enquanto o Japao, descobrindo o u redescobrindo sua diversidade, procur .1 ol finir um Iugar para si numa regiao que se move em meia duzia de direc;oc.' dtl rentes ao mesmo tempo, e en quanro os Esrados Unidos, a Franc;a, o M exru• •JII a Argelia descobrem-se assenrados sobre uma comunhao de mentalidadc~ 1 .. Itt menor do que seus credos publicos proclamam exisrir porIa, e provavel <i'" " abordagens da analise polfrica que se dedicam a esses assuntos na pleni tud< ,1 sua particularidade sejam mais ureis a compreensao do que as que tentam d senvolver uma visao pan6prica geral. Em sfnrese, parece necessaria que haja varios ajustes serios no pens:lllll II to, para que n6s, fi l6sofos, antrop6logos, hisroriado res ou quem quer que '' 1~ ffiOS, tenhamOS alga de UtiJ a dizer SObre este mundo desmontado OU !I l l processo de desmonte, cheio de identidades irrequieras e ligac;6es incertas. l'rl meiro, a diferenc;a rem que ser reco nhecida, de maneira explfcita e franca, c 11 11 1 obscurecida po r urn discurso improvisado sabre a :t.rica Confuciana ou a 'J r .1 dic;ao O cidenral, a Sensibil idad e Larina ou a Menral idade Muc;ul mana, nc 111 po r moralizac;6es fnigeis sobre os val ores universais, ou tenues banalidadc1- ", bre a unicidade subjacen te: Rosie O 'Grady e a Senhora do Coronel. Segundto, e mais importance, a diferenc;a deve ser vista niio como a negac;ao da semclh,111 c;a, seu oposto, seu contrario e s ua contradic;ao. O eve ser vista como abar< .• l!r do-a: siruando-a, concretizando-a, dando-lhe fo rma. Ja que se fo ram os blo1." e co m eles suas hegemonias, esramos dianre de uma era de emaranhados dr. persos, cada qual singular. A unidade e a idenridade existences terao que scr 111 gociadas, produzidas a partir da diferenc;a. Por maiores que sejam a original idad e e a singularidade das formas de vul.1 malaias e chinesas no Sudeste Asiatica, por exemplo, ou as fo rm as inglesas, cscu cesas, galesas ou irlandesas na Gra-Breranha, ou as fndias e larinas na N icarag11 .1 o u na G uatemala, as muc;ulrnanas e cristas na N igeria, as muc;ulmanas e himlw na fndia, as cingalesas e ta meis no Sri Lanka, ou as negras e brancas na Africa dto Sui - e e claro que elas t:em muiro disso -, essa o riginalidade e singularidad,(} 11111111/ 11 (II/ JlttfiiJIII 1'111 J as manciras como a variedade das pnhicas que as comp6em se posicio- llt' w nstitui. Nao se rraca, para adaprarmos a famosa imagem wingensreinia- da t.Orda, de urn fio unico que as perpasse inteiramenre, defi nindo-as e numa especie de rodo. 0 que ha sao superposi¢es de fios di- re~. que se inrersectam e emaranham, urn retomando o curso onde o outro lftJ IIn • •~u , e rodos posicionados em tens6es efetivas entre si, formando urn cor- posro, urn corpo local mente d fspar mas globalmente integral. Separar es- fios, localizar essas inrerse¢es, enredamentos, ligac;6es e tensoes, sondar o ' carater agregado do corpo comp6sito e sua profunda diversidade, e isso c:xige a analise desses tipos de pafses e sociedades. N ao ha oposis:iio entre o ho delicado, que revela a variedade, e a caracterizas:iio geral , que define afi- 0 imporrante e fazer com que eles iluminem urn ao outro e com isso re- o que e a idenridade. Eo que ela nao e. isso - ligar paisagens locais, cheias de deralhes e acidenres, com as topo- complexas em que elas se inserem - requer uma alteras:iio nao s6 da rna- como concebemos a idenridade, mas da manei ra como escrevemos sobre do vocabulario que usamos para tormi-la visfvel e medir sua forc;a. A teoria que em nossa epoca tantas veus consiste em meditac;6es sin6pticas so- prindpios rransformados em essencias e aprisionados numa lura de morre · ta - coletivismo e ind ividualismo, objerivismo e relarivismo, direiro liberdade e coas:iio -, ou em compromissos ideol6gicos enfeitados maneira a parecer deduc;6es inelutaveis de premissas inescapaveis, precisa rer apreensao mais clara das parricularidades do momento atual. Mas a lingua- em que ela e formu lada, uma linguagem que e mais de resumos que de dis- inac;6es, inibe-a seriamenre, quase por complero, de realizar essa tarefa. Os disponfveis de descris:iio e avaliac;ao nao se ajustam bern a urn mundo iplo, misturado, irregular, cambianre e desconrfnuo. 0 que parece necessaria e algo intermediario, ou que talvez combine desta daquela maneira as reflex6es filos6ficas sobre o self, o agente, a vonrade e a ricidade (ou seu questionamento co mo const ructos ideol6gicos ou ilu- metaffsicas), os levantamenros hist6ricos do surgimento de etn icidades, Esrados e grupos solidarios (ou a imaginas:iio deles nos rituais politicos recnologias culturais da vida moderna) e as represen tac;6es ernograficas de ·as, morais, rradic;6es e vis6es de mundo (ou a denuncia delas como re- exo tistas, hegemonizadoras e neocolonialistas de urn ourro que e rad i- te virimado) . Mas nao esta muito clara o que seria isso . Quem procura , fac;o aqui, enfrentar o quadro confuso e conflicanre de urn m undo que i•~ 1: satisfatoriamente descrirfvel como uma d istribuic;ao de povos o u um sis tema de Es~ados, ~m catilogo de culrurJs o u uma ripo logia de rcgimc.s, ,1m comra mul[a cotsa em que se apoiar nas concepcy6cs acci tas d.as • , humanas. Minha linha aqui, improvisadora, opo rtunista e info rmalmcntc lt·du n ada, a medida que eu for avan yando , consistira em enfocar alrernaJ.1111 Ill duas pcr?umas que. rnencionei antes como sendo as que levam as qll<.:'·l J terpretanvas centrals levantadas pelo fracionamento, pela instabilidad1 r carater descentrado do mundo p 6s-Muro de Berlim: que e urn pars, \(' II uma nac;:ao? Q ue e uma cultura, se nao e urn consenso? Poucos .uw·. quando o mapa do mundo parecia razoavelmente consolidado e scm w 1 nos cram mais o u m enos nftidos, essas duas perguntas tcriam parecido 1 "" sas ou absurdas, pois havia pouca coisa separando os rermos contrast.tdm. que existia. Os pafses eram nac;:6es- Hungria, Franc;:a, Egito, Brasil. A\ 1 ras eram estilos de vida comuns-hungaro, frances, egfpcio, brasilcim 1 u.ma cunha entre os rermos, e po rtanto, entre as pr6prias perguntas, pa1 1 vmcuhi-los uns d o outros e exam ina-los em separado, pareceria, no mclhnr casas, uma empreitada in util , e no pior, uma proposra maldosa. Talvez ela seja maldosa, a u, pel a me nos, perrurbadora, mas nao e illli' 11 agora exisrem pouqufssimos pafses, e talvez nunca ten ham existido, que , 11111 dem sequer em carater aproximado com entidades culruralmente solid.i 11•1 Japao, a Noruega e, possivelmente, o Uruguai, se esquecermos os italianm u talvez a Nova Zelandia, se esq uecermos os maoris. As formas do Estado 111 xicano e alemao, nigeriano e indiana, cingapuriano e saudita- sao tao 111, 11 samente diversas, que mal podem ser coligidas sob uma mesma denomin.1 1 As bases da legirimidade are mesmo de vizinhos contfguos, os ripos de hi , t11d que eles contam a si mesmos para explicar sua existencia e justifrcar a cont lllll l da~e ~esta- Israel e ] ordan ia, Camboja e Vierna, Grecia e Turquia, Sud .• ,, En6pra- sao enunciados de maneira co ntrastante, mal pod em ser trad1111,J, e nada. rem de hom6logos. A ilusao de urn mundo coberro de ponca a pnfll por Unldades que. se repetem, a qual e produzida pelas convenc;:6es pict6rit · ~ I nossos atlas polfncos - recorres poligonais num quebra-cabec;:a bern cnc; .11 do - , e exaramenre isso: uma ilusao. Scparar os aspectos poliricos e culturais do mundo desmontado, antt a I tornar a relaciona-los entre si, ao menos nos permite desvendar algo das m,111 bras e ac;:~es cruzadas que esra? envolvidas na formac;:ao e na interac;::io das pr1 , nae colenvas, e alguns dos en1gmas que essas manobras e ac;:6es cruzadas Cl j •Ill para as ordenac;:oes sociais, as economias, as sociedades e as vidas cotidi ana\ 1111 que elas ocorrem. ~om enos sabemos alguma coisa- nem de Io nge o sufiuc11 re, mas ~lguma cor sa-sobre como se com poem na sociedade as difcrcn~.l\ d, ·--- p oder, nqueza, status, sorte e habilidade, para o melhor au para o pior, ,11 j,1, ~· ) ........ ~ .. ..., J ., .,~ • () lfl II m/11 rill f't',/,1(1>1 o'i itucrcsscs m.ncn.us sc ajustam c conci liam, sao contidos ou subjugJ e ~nbrc como os confli tos idcol6gicos sao resolvidos ou exacerbados, csta- ou Jispumdos ate a derrota de UITia das partes, e como sao 1strados. Mas, diante de lucas sociais enunciadas em termos da individu- dos sentimenros arraigados e da lealdade primaria, dos contrasres na- l' das sutilezas imanentes, continuamos muiro inseguros. Elas parecem lOmo rempestades e se evaporar com a mera exaustao, ou com uma mu- incxplicavel do tempo, ou en tao, com maior frequencia, persisrir como 1cs cronicos, latentes, meio escondidos, com os quais meramente se vive ae morre), sem que eles sejam realmenre co mpreendidos, realmente resol- Niio e facil melhorar essa situac;::io de meramenre resremunhar e deplorar. scm duvida, o primei ro passo para melhora-la e examinar mais de perro, e in /oco, 0 que vern (ou nao vem) a ser CXatamente OS pafses COITIO ato- colctivos. Eo segundo, com certeza, e examinar o que os faz (na medida em os faz) serem assim. Dcsde 1945, passamos de uma situac;:ao em que havia talvez uns cinquenta universalmente reconhecidos, distribuindo-se o resrante do mundo em ias, proretorados, possess6es e coisas simi lares, para uma situac;:ao em que m quase duzentos palses, e e quase cerro que surjam outros. A diferenc;:a, e cst:i na revoluc;:ao descolonizadora que ocorreu na Asia e na Africa e, are ponto, no Pacifico e no Caribe, durante os anos cinqi.ienta e sessenta, e hoje e reforc;:ada pela desarriculac;:ao do ultimo dos imperios transculrurais mcnos que se considere a C hina como um dcles)- a Uniao Sovietica. Essa u~ao foi geralmente entendida, tanto par seus lfderes e re6ricos quanta aqueles contra quem eles se rebelaram, como uma libertac;:ao da dom inac;:ao ngeira, e, por conseguinte, foi assemelhada com muita rapidez e facilidade movimenros nacionalisras da Europa e da America Larina no seculo XIX - a ultima onda de urn impulso global para a autodeterminac;:ao,0 governo sc:melhanre pelo semelhanre, a moderniz."lc;:ao da gesrao governamenral , a Jcac;::io do Esrado e da cultura, ou l:i o que seja. Mas ela foi , como ficou cada mais claro como passar do tempo e como resfriamento dos ardores mais mente ideol6gicos, algo bern mais profunda do que isso. Foi uma alrera- ate uma rransformac;:ao, de roda a nossa ideia das relac;:oes entre a hisr6ria, Iugar e o perrencimenro polfrico. 0 reconhecimenro de que o aparecimenro de uma mulriplicidade de paf- novos na Asia e na Africa, de porte grande, pequeno e medio, foi mais do uma equiparac;::io imitariva dos pafses do mundo "subdesenvolvido" ou rasado", ou do "Terceiro Mundo", como chamado padrao do Estado na al, construldo na Europa entre os seculos XYll e XIX, e de que ele foi , sob I Wl'ol II(£ 10/Jit' ol o/fll/1/f'llfll,~lll mui ros asp~cws, mais um q~csciona.mcmo dessc padrao do que \t' ll ti ll,, reencarnayao, d emorou mu1ro a chegar A id J.1'a d'r · · d d c · · ' t: II USIOntSta C CJI II 11 mo erno IOJ feJto na Europa serenrrional e ocidenr I d .. d a, e epo1s t·s~cu,111 urn vazamen.ro e 61eo, ace cobrir o resto do mundo, obscurcccu o f.llu deve esrar evidence pe los aconrecimentos nos Esrados U 'd A · c 1 . ,. n1 ose na llllllll tJna, scm ra ar na Llbena, no H aiti na T ailandia ou no J - ) d d · ' apao c () 11 •· un e converglrem para urn unico padrao, essas en ridades chamad as paf\,·~' yaran: a se o rdenar d e maneiras ineditas, maneiras que submetcl.ttn pressao crescenre as concepc;oes europeias alias J."' - . I ' d ' a nao multo segue:\\, 1 11 urn pals e equal e sua ~ase. 56 agora as implicac;oes verdadeiramenlt· I .II do processo de descolomzac;ao esrao sendo reconhecl'das Para o b a1 di A • d · em"'' 1 ; H' a-' lnamlca a cons.rruc;ao ocidental das nac;oes nao esta sendo rt:p l"d a. a a guma o utra co1sa acontecendo. Descobri~, o q~e.r~.de ser isso implica, por urn !ado, uma comprt'l'll • termos com o n ac;ao ' Estado" "povo" " . d d " h d . , . , e soc1e a e , cun agem dt'\l' 1 1 a anal ise polmca, que nao os reduza todos a urn p d - ' d . a rao comum, , 111111 ~ente. repr~. ~zldo: e, p or outro, implica uma comprecnsao de termm ' ldentJdade ' tradJc,:ao", "afiliac;ao" e "coerencia" vocabula'r,· - · d d d · - ' o nao lllC'Illl ~~; a escr~c;ao c~l tural, que nao os reduza rodos a uniformidadc c .'1 ··• era de ~nenrac;ao,. a urn mol de de caregorias. £ nessa iniciariva ' til empenharel, de manelra preliminar e explorat6 ria, nas pr6ximas dua,' •Ill desr~b~alpdftdulo,dna esperanc;a de esclarecer os desafi os e os riscos, os terrol~ ' possl 1 1 a es o mundo despedac;ado. 0 que e um pais, se nlio e uma ndflio? As palavras que usamos hoje em dia para fal ar do que tomamos or alil I elementares da ordem polfrica global - "nar<io" "Esrad " " ,~, " I ·, d " " " • . . r- ' o , pa1s , SOli• , e ' povo - te.m uma ambJgilldade p erturbadora, incorporada em \tu tl cance, seu prop6slto e sua definic;ao. Por urn !ado n6s as usam d . · b., 1 ' os e m.uu 1 ln tercam lave, como se fossem sino nimas: "Franra" ou "H . " "C, I o "C b · " "M-' · , .. • ungn a , ~ 1111 u am OJa ' cxlco ou Eri6pia", "Ira" ou "Porrug I" - d . I sas ao mesm t _ a sao to as ess.1' 1 ,, I d 6 o embpo- nas;oes, Esrados, p aises, sociedades e povos. Por 011111 a o, n s as perce emos como desviando-nos em suas nuan s • · . . • c;aseconota\t" uas ressonanc1as e senndos m rernos p ara direroes · d ' c san d A • • ' , • , multo lrerentes: p.11 1 ~ue, a ras;a, a escendencJa e os mlsten os e mistificac;6es da semelh I l6gJca; para a lealdade poll rica e c ivil e p ara as indivisibill'dades d I .and<;.t ',II• d ·A • d fc d a e1, a 11 ,, l e~cla: a o rc;a .e o governo; para a agregac,:ao geograft ca, a demarc I t tern ton al eo senn menro d e origem pi tria e habit t· . - . \ ' a, para a 1nrerac;ao, o co 111 rismo c a associa~.H> pd tica, o encontro de pessoas eo jogo de intcresscs; 11 afinidade cul tural, hist6 rica, lingilfstica, rel igiosa ou psicol6gica - lJii ididade do espfrito. ambiguidade, persistence, teimosa, ralvez irremovfvel, perturbou a da Europa e das Americas pelo menos desde o seculo XVII, e agora per- de modo pelo menos igualmente impladvel, tambem a Asia e a Africa. 111rrnt· :1n do bio l6gico, do governamcntal, do territorial, do inceracional e ural co mo express6es equivalences e inrercambi aveis de uma mesma re- ' como embutindo-se umas nas ourras e convergindo para uma soma , c.• o senti men to de que elas s6 se embutem e co nvergem assim de manei- 'al e incompleta, de que se referem a realidades d iferences, representam dC' solidariedade e afi liac;ao diferentes, nascem de imagi naries diferences, diferentes e temores d iferentes, tornam incerto saber exatarnence o rnapeado no mapa polftico do mundo. Q ue djzemos ao dizer Maurita- Ou Eslovaquia, Bo lfvia, ou Aumalia? Folheando os verbetes perrinentes no Oxford English Dictionary, vemos pC'rplex.idade e sua hisr6ria, pelo rnenos no rocanre a Europa e aos inglcscs C'll diria que o rnesmo resultado seria obtido se vagassemos similarrnente p~ginas do Grand Robertou do Deutsches Worterbuch) . Em cada termo ha espccie de pen umbra basica de senrido q ue !he e espedfica, cercando-o de CC'rtO ar e tonal idade, eo que parece ser uma rentariva del iberada, ou, a ri- dc:scsperada, de suprimir isso e empurrar a palavra para uma coincidencia ica com as outras, para produzir, seja como pals, povo, sociedade, Esta- nac,:ao, urn a unidade generica da acrao coleriva - del imitada, designavel, c: coerentemence defi nida: urn self hisrorico. " Country" [pafs], por exemplo, que nos d izem prov ir da raiz Iarina da qual recebemos "contra" e "counter' [conrrario], desloca-se de urn chama- tide literal, "aqui lo que esta em frente ou d ian te da visao, a paisagem que nde diance dos o lhos", passa por uma serie de defi nic,:6es, que vao da defi- general izada de "terreno o u pedac;o de terra de extensao indefinida; re- distrito", e das defi nic;oes bern mais espedficas de " terreno ou distrito de mais ou menos defin idos em relac,:ao a ocupac;ao humana, p.ex., perten- ao mesmo senho r ou proprietario, ou habirado por pessoas da mesma dialeto, ocupac;ao etc." e "terra de nascirnento, cidadania, residencia etc. pessoa", ate a defi nic,:ao intei ramence abrangente de "territorio OU area uma nacrao; em geral, Estado independente ou regiao antes independentc c para lidar co m a Esc6cia e a l rlanda], que se distingue ainda pela ra~a, instituic;oes ou lembranc;as hist6ricas"; e, para culm inar, vern a dcfini dircta e simples de "povo de urn distriro ou urn Estado, nac;ao"- como n.1 N111'.1 lue 11hrr ''"'""'/"''"!.''' llistorin rln fnglntcrrll, de Macaulay: "0 povo nao tinha amor a scu p.ti till rei", o que nao significa, imagino, que nao gostasse da paisagcm. ' A pabvra "povo" segue uma trajet6ria semelhante, indo de urn.• de f1 general izad~ e indistinta de "populacho", "mulcidao" ou "plebe", pass.uulo las caraccenza~6es bem mais espedficas de "pessoas em rela~o a urn su1 ou a alguem a quem percencem" e "rodo o corpo de ... cidadaos qu.1lil1 como uma fonce de poder", ace chegar, mais uma vez, ao coletivo tllll "corpo de pessoas que comp6em uma comunidade, tribo, ra~a, [grupo 1·111 - "~ 0 "Es d " ou nac;ao . mesmo aconrece com ta o , que vern, e claro, das r.llt posic;ao e siruac;ao, como em "estate" [propriedade, condic;ao social] c '\1 11 e~e-deslo~a semancicamenc.~ por "domfnio" e "comunidade", acechega1 :1 d mc;ao ma1s concencrada de corpo de pessoas que ocupam urn cerric6riu d, II do e organ izado sob urn governo soberano ... , o cerric6rio ocupado pot corpo", e daf para a detlni~o plenamence integral de "supremo poder cival. governo de urn pals ou na~o". "0 Estado", escreveu Matthew Arnold l:lll I mocrncin, "e, propriamencefalando, ... a nac;ao em sua qualidade coleciva, 0 , 5 poranva . 0 padC:io se repete com "sociedade" (''associac;ao como semelhantc": o;l lac;ao com pessoas"; "conjunro de pessoas que convivem [numa] comunid~ j ordeira"; "sistema ou modo de vida adocado por urn corpo de indivfduo\ I' 1 fins de convivencia harmoniosa"; "liga~o ... uniao ... afinidade").6 Mas c , .. 11 o termo mais radicalmence consolidance da serie, e o mais esquivo, " na~.111 que ele chega a sua expressao mais plena, corn a palavra acraindo rodas as 011111 para si como urn escranho aerator semi6cico. "N -" .c d I . ' ac;ao , que prov~.:m o allln nation-em, ' linhagem", "cepa", "rac;a",lu•t s~a vez deri:ados de nasci, "nascer", rem, ou ceve no decorrcr de sua evolu\.111 d1versas apl1cac;6es alcamence particulares, co mo "famflia, parentela", "cl,1 11 Iandes", "populac;ao naciva de uma aldeia ou cidade", "classe, especie ou 1.1\il de pessoas", "domfnio, reino", ou "a totalidade do povo de urn pals ... em co11 trasce com algum corpo menor ou mais rescrico dencro dele", a maioria .t 1 q~ais, a esca alcur.~, resvalou para a vascidao magistral do que se cornou seu ''I' mficado central: Ampla aglomera~o de pessoas, cao escreicamence associad.u umas as ourras pela ascendencia, linguagem ou hisc6ria comuns, que form.u 11 uma rac;a ou povo disc:into, em geral organizado como urn Escado polfrico" parado e ocupando um terrir6rio definido." ("Nos exemplos iniciais", comc11 tao Oxford English Dictionary, ralvez embarac;ado, ele mesmo, com o imen··•• alcance eo car<~rer con fuso que a concepc;ao havia assumido em 1928, "a idtl, racia l costumava ser mais forte do que a polfrica; no uso recente, a ideia de Lilli dade polfrica .. . e mais proeminence"; eo diciomirio fornece duas cirac;:oes, b., ranee oposcas jusramenre nessa cendencia, para agravar ainda mais r n 1111111"11 ,, prd·l! Ill d.tdc: a frasc populil!ta de Bright, no cstilo "roc;ado c caberna"- "a na de tmlo pafs mora no ctmpo" -, e a frase hicracica de Tennyson, no gene- . c cerro": "Sepulremos o grande duque [ou seja, Wellington] ao som cnlucado de uma nac;ao poderosa.")7 Mcnciono cudo isso nao por achar que as palavras em si fac;am o mundo (embora, na verdade, elas cenham urn bocado aver com suas obras e seu amenco), nem por achar que e possfvel incerpretar a hist6ria polltica a d.ts dcflnis;6es dos dicionarios (embora, na verdade, elas escejam entre os rnrcs mais sensfveis e menos usados de que dispomos para registrar seus res subcerraneos). Menciono rudo isso por acredirar que a censao entre lOnccpc;:ao convergence e uma conccpc;:ao dispersiva da a~o coletiva, en- • tcntativa de cornar os cermos dessa a~o idenricos e inrercambiaveis e a iva de manter suas difercnc;as e separac;6es, reflere e, a rigor, impulsiona ro do que vern aconrecendo no mundo ulcimamence, bern como o que os antrop6logos, jornaliscas e ide6logos rem a dizer sabre o que esci ndo. De faro, na Europa entre Napoleao e Hider (para dar urn nome rendenci- a um perfodo cendencioso), o movimento de subordina~o das varias ma- de pensar sobre a pergunca "que sou eu (ou voce, ou n6s, ou eles)?" a anc,em:lio de uma semelhanc;a global de especie, diflcil de especificar, facil de ire imposslvel de erradicar, foi uma dinamica central da hisr6ria polfrica, assim que foi rrequencemente idencificada com 0 pr6prio processo de iza~o. 8 Urn processo relarivamente curro, como s6i aconrecer, suma- localizado em rermos geograficos e basranre incomplero, de qualqucr foi tornado por paradigma geral do desenvolvimcnro politico, em codas ~pocas e por coda parte. Foi isso, que eu chamaria de preconceiro, que foi ionado, primeiro, pelas revoluc;:6es anricolonialiscas, desde ada fndia no dos anos quarenra ate a de Angola no infcio da decada de 1970, e agora, desmoncagem do mundo bipolar (racetas, alias, de uma unica subleva~o). No que concerne a revoluc;ao ancicolonialista (que, no espac;o de quarenta quadruplicou 0 numero de encidades chamadas pafses, nac;:6es, Escados povos-sociedades discinras, com nome e enderec;o), como assinalei antes, foi simplesmenre assemelhada, em sua cocalidade, ao desenvolvimento eu- u, ou ao que se sup6e cer sido o desenvolvimenro europeu. Especial mente suas fases declamac6rias iniciais- os dias de Bandung de homens como Nehru, Hoe Sukarno (e como Mao e Tiro)-, ela foi vista como ";t ima onda" de urn movimenco mundial rumo a " nacionalidade [como] pr.t nrc inseparavel da consciencia policica", para cicar Benedict Anderson, o rico da narrariva mescra disso tudo.'J Mais recencemence, OS rcnorm.'IW\ denrro dessas enridades- a disjunc;:5.o nigeriana, cingalesa c a1 ~d1 lOCJ na, o terror camboj ano, o genodd o sudancs, a guerra civil iemcni1, suas rela~6es umas com as o urras con1plicaram basrante o panor:J m.t I , 1111 concerne a desmon ta.gem do mundo bipolar, a perda do senrimcnt" d mentos analogos, encaixados numa esrrutura bern definida do podl' l , d porrancia, tornou diffcil de articular e di ficil de defender a idci.1 cl. •11 mundo se comp6e d e nacionalidades atomicas, poderosas e nao podt'llo 1 beranas e subalternas. Resistir a coalescencia das dimens6es da C() ltlllll polftica, manter separadas e visfveis as varias linhas de afinidade qu<.• t 1 Ill mam popula~6es abscratas em atores publicos, de repente parece tel " 1 do, mais uma vcr., conceitualmenre util, moralmente politicamenre realista. Na busca desse objetivo, poderiamos, e d aro, si mplesmenre percorrcr, llll e rotineiramenre, os diversos pares - povo e sociedade, sociedade t' I 1 Estado e na~ao, e assim por diante - e expor alguns dos danos e c0111 1 1 erroneas que resultam de nao se manter entre eles urn a distin<;:1io suficic11t• cerro ponro, isso j:i foi feito, aqui e ali, e de modo basta nee assistematico, .. 1 tudo co m respeito a na~ao e Estado, a medida que o hifen da formula d11 I do-na~o passou finalmente a ser visto com urn olhar mais crftico, c 'I'' princfpio da aurodetermina~ao nacional (todo grupo que real mente qut'll , Estado deve te-lo; qualquer grupo que tenha urn Estado e per se um.t II·'' passou a ser visro como o fogo-faruo ou a idealiza<;:3.o que e - T ami l N .. 1,, Curdistao, Suriname e Zaire. M as quero concenrrar-me aqui apenas till desses pares, paise na~o, e sobretudo em liberrar o primeiro dos tenta<:t d,, segundo. A fusao ou confusao deles, que equivale a quase completa subnu1 da ideia de pafs, nao apenas obscurece o que vern aconrecendo neste ou IIIII I le Iugar. Ela nos impede de ver com muita clareza como de faro se monla 1 mundo atual. A maneira mais facil de fazer isso, clara, e simplesmente opor urn LCIIIIII outro. Podemos maldizer urn deles como "nacionalismo", coisa que e "pot 1 tureza incivil , antidemocratica e separatista, uma vez que confere podct , 111 grupo ernico sabre OS demais" (para citar as paJavras do ultimo emb;li~ 11l1 norte-americana na Jugoslavia integrada, num relat6rio perspicaz, afot.t 1 sobre o que acontecia por Ia), e podemos enaltecer o outro como "pat111111 mo", aquele amor decente e caloroso pelo pafs - verdes vales, cafes na.s l tf,, das, 0 chamado do alm uad em, 0 mon te Fuji em meio as brumas, OS CllliJ"' piaZZilS, o cheiro de cra.vo. O u podemos objetifica-los como express6es cl.t .111 cat6rias, tipos irreconc iliaveis (urn mau e urn born) de "nacionalismo", ·" ollt1 "' • , " ' • , (t fi .al,, " I ,, "d b d '' (( r I ern tco vs. ctvtco , o tct vs. popu ar , esmem ra or vs. uni llc:..u "' () 111111111t1 rill prtltlftll :w7 ll.tbsburgo" (ou "oriental") vs. "liberal" (ou "ocidemal"), ou seja Ia o que F.m qualq uer desses casos, fica-se com uma imagem maniquefsta, que o provincianismo enciumado e a xenofobia sanguinaria, de urn lado, ao lw si ncero e a serena autoconfian~, do outro. Num nfvel mui co geral, o daquelavisao do balao pairando la no alto, isso e tc plausfvel: o tipo de nacionalismo associado a Hider ou Karadzic real- parece estar em rigoroso contraste com o tipo associado a Ghandi ou Mais uma vez, porem, quando descemos aos casos particulares, ao et- (se e disso que se trata) de Israel ou Bangladesh, da H ungria ou de pura, ou ao patriotismo (see disso que se trata) de Castro ou Soljenitsin, h Powell ou Jean-Marie Le Pen, as coisas come~am a ficar bern menos 6b- Sc comarmos, por exemplo, tres pafses que neste momento vern sendo em graus ascendenres de severidade e perigo, por idenridades coleti- enunciadas como na~6es e que resistem a ser abarcadas por estas- o Cana- o Sri Lanka e a (ex-) Iugoslavia - , ficara claro que as rela~6es entre "pais" e " sao tao diferentes de urn para 0 outro, que e impossfvel encerra-las opos i~o dicotomica, do mesmo modo como esrao encerradas numa fu- promfscua. E, se prosseguirmos enrao para o Burundi ou a N igeria, o Afe- istao ou a Indonesia, a Belgica ou os Estados Unidos (deixo de lado a Suf~a Ubano, como casos q uase acessfveis demais), as coisas ficarao ainda mais di- licadas. Mais uma vez, nao ha nada senao uma especie de etnografia polfti- uu polftico-economica que possa ident ificar as rel a~6es entre pafses e as afinidades e dissonancias em que eles esrao envolvidos por qua- loda parte- nao, nao por quase toda parte: em toda parte. lsso porque, na medida em que ha uma distin ~ao a ser fei ta entre "pals" e ", ela nao esra na civilidade e nao agressividade de urn e na paixao e voci- da ourra, o que, de qualquer maneira, nem sempre acomece (vide a a Fran~a, o Marrocos, a Argentina). Esta, no primeiro, como uma are- polftica, e na segunda, como uma for~a polftica: entre urn espa~o demarca- por fronteiras e ate cerro ponto arbitrario, em cujo interior sao contidos, !ados e postos nos eixos os t ipos mais imediatos de lura publica, aqueles irrefletidamenre chamamos de in ternes (a ordena~ao dos encontros so- a distribui~o das possibilidades de vida, a utiliza~ao dos recursos produ- ' e, em contraste, uma das energias centrais que impulsionam essas lucas: acnrimenro de quem sao aqueles de quem se descende, quem sao aqueles com m see parecido no pensar, na aparencia, na maneira de falar, de comer, de r, ou nos gestos, e a quem, por conseguinte, sente-se q ue se est:i empali<..l ligado, haja o que houver. Se tomarmos brevemente os tres pafses que acabo de citar como cst.tndo ndo por graus variaveis de tensao, enu nciada em termos de nac;ao o C.t nadt o ~ri Lanb e css3 sombra pcr'>t'>tcntc, ncm Jcsapar<.'cida ncm JHl''<"lllc e :l lugosl:ivia -,esc 0 fizcrmos scm ncnhuma tcntativa sena de OCSVl"tlllll hist6ria, avaliar suas perspectivas ou julgar os crros e acenos <.las cot'·" (hal para a qual, com coda a franqueza, nao estou preparado), essa imcra~·"' l:llll campo da polftica e sua complei~o f:cara bastante evidence. 0 arranjo t·., ranjo das cis6cs e uni6es geradas pel a lingua, pela ascendencia, pela rasa. I' Iii ligiao etc., bem como os espac;os e limites em que essas cis6es e uni• arran jam e se desarranjam, nao apenas diferem largamenre de um caso p.11 tro, como rambem as parricularidades dessa diferenc;a afetam profundanH·nt que, como costumamos dizer, ralvez com mais ratio do que nos damos t acontecc "no terrene". Urn pals enorme e de ocupa~o muito desigual, 11111 1 queno pals insular densamente povoado, ao largo de urn continence, e umtn te irregular de vales entre montanhas, planlcics fechadas, rios sinuosos c lunr estreitados, cercado de perto por vizinhos ciumentos, proporcionam tjU ideativos espedficos e distintos para o choque de idenridades -lugares ht tut cizados, que moldam com cerra forc;a a esrrutura do choque. 0 Canada, descrito pelo sarcasrico papa do jornalismo de Toronto, Co111 d Black, como sendo, "hisroricamenre, ... uma coler;ao de pessoas que nao <I 111 americanas: franco-canadenses abandonados pela Franc;a em 1763, depot. I vit6ria milirar britanica; os leais ao Imperio Britanico que fugiram da Rcvnht c;ao Americana; imigranres e fugitives da Europa e, mais recentemente, dt ••11 tros lugares, inclusive dos Esrados Unidos; e natives de Terra Nova, regiao qtl mal conseguiu eleger-se para se tornar uma provincia canadense em 1949, ,f, pois de ira falencia como domlnio autonomo"; somados (em bora ele sc esq11• r;a de mencion:i-los, talvez caracterisricamente) a urn numero considerivtl .J, ?Tupas ,amerfndios sig~ iftcati.vamente diferenteS, de~ertO e urn pafs em tjlll tmposstvel perder de VISta a dtferencya entre o espac;o tdeativo em que a polftu 1 c mol dada e pelo qual se espalha (dez mil hoes de quilometros quadrados t'Jll 11 Detroit eo Cfrculo Artico) e as idenridades colerivas que colorem essa pol111 ca." A lura que ocorre Ia, muiras vezes vista (pelo menos pelas pessoas de f01 •J como uma quesrao pura e simples de orgulho frances c sanguinolencia ingll· 1 e, na verdade, urn encontro mulrifacetado de "diversidades profundas", qw • desenrola num territ6rio imenso, insuftcienremente conhecido, imperfcll• mente concebido, nao u niformemente ocupado e desigualmenre dorado dl u curses. Quando 90% da popular;ao, talvez, concen tram-se numa faix;l .J, trezentos quilometros ao norte da fronteira norte-americana; quando mct.ul• da populac;ao vive a pen as no corredor en tre Toronto e Montreal e 1/4 dcla vrv• em Quebec, que rem mais de 80% de falanres de fran ces; e quando os ou111•1 r J "'"""" '"' pnMfllr 10 do pafs (o none mats ou mcnos congclado, ondc se sirua a maior propor· dt· ~cus rccursos narurais) sao tao escassamente povoados que tern uma ia amerfndia em quase rodos os lugares- apenas para arranhar a super- d.l complcxidade (ha urn ripo diferenre de minoria francesa em New nswick; ha esquim6s inuit nos terrir6rios do noroeste; ha ucranianos e asia- grupo em rapida expansao, e mais outros Indios no oeste; ha mitis, mesti- de franceses e {ndios que falam crioulo frances e indfgena, na regiao central rta de florestas; e ingleses de fora a fora naT erra Nova) -, e 6bvio que se uma situac;ao em que ha uma boa margem de manobra entre as partes e os como quer que sejam definidos. E a hist6ria poll rica recente do pafs (embora nao s6 a recenre) tern consisti- cm coda uma serie dessas manobras, a maioria delas aborriva ou, ate o presen- incompleta, indefinida e de futuro incerto. Houve tcntativas de rever as ur,os.u· :o(~ constirucionais, ja entre as mais modificadas do mundo (s6 a Belgica ..vo1n;;1ua ou o Ubano debilirado parecem rer ido mais Ionge), de inventar novas de varies tipos (o Conselho de Yukon, o Nunavur, a Associa~o dos is), de ajusrar as fronreiras inrcrnas, de redistribuir recursos entre regi6es e e, mais especialmenre, de anrecipar ou, na falha rambem disso, de fa- preparatives para a secessao quase cominuamenre ameac;ada do Quebec. E isso enquanto se procura, num pals essencialmenre definido por uma unica teira, manter sua inregridade e autogestao peranre aquila a que seus llderes umam referir-se cuidadosamente como "nosso grande vizinho do sui". 0 resulrado e, a urn tempo, fluido e curiosamente persistente- urn deba- cronico sabre "Para onde vai o Canada?", no qual a lfngua, a religiao, a erni- e 0 regionalismo parecem estar conrinuamenre a beira de alterar a pria forma do pa{s, retrac;ando seus contornos e transformando por com- plete a ropografia do cenario polfrico, mas, pelo mcnos ate agora, sem real- mente co nseguir faze-lo. Como se desenrolara rudo isso, e clara, ainda esra por ~ dcscobrir. Sera que o Quebec flnalmcnre se desligari, ou se desligara parcial- mente ("urn Esrado soberano dentro de urn Esrado soberano"), ou conrinuara apcnas a ameac;ar incessantemente desligar-se? 0 que quer que ele fa~, quais acrao suas rclac;6es com o resro do Canada, inclusive, o que nao c sem tmpor-tincia, com as tribos indlgenas que se encontram dentro de suas fronteiras (en- tre algonquinos e inuks, elas comp6em a maioria da populac;ao em cerca de mcrade do rerrit6rio reclamado pelo Quebec), e com as quais ele ja esra cnreda do numa briga pelo conrrole dos recu rsos naturais das terras indfgenas? (" I• possfvel que os manses herdem a terra", como teria dito J. Paul Getty, " tn,l\ clcs podem esquecer os direiros aos recursos minerais.") lrao os ressen(imt•tllm das provfncias ocidentais contra Ontario, que hoje assegura meradc do PI B (t• que, num Canada sem o Quebec, responderia por uma parcela csma~.HI01.1), ou o~ rc~scntimcnros dos Iabn res de inglcs rcmanesccnrcs em Montr' ,d tll a marorra fran cesa do Iugar sofrcr uma cscalada ern d' -C . ' rrcc;:ao .1 nova, 111 p111 ~mo sc organnara ftnalmemeo imenso e aberto none, sobretudo <Jll.uldt na enses europeus co.me~rem a se mudar para Ia? E por af vai. Eo mesmo se aplrca ao relacionamenro do pais com seu vizinho dv.•••ll ranee. Black, ele mesmo urn angl6fono nascido em n . b d ~ '<.ue ec, que, co111o 11111 meu~eus conterraneos (c~m mi.l, desde que comec;:ou o separatismo, cnr I q ou-se pa~a um .mer? mars congenerico, chegou a projetar unu ,j, (chamada, crero que rronrcameme de "Uma Uniao M . p fc • ") Es d b' 1 al ' ars er erta em q111 ta o rcu. tur se desfizesse, o Canada ingles formaria uma fcdera . Esrados Unrdos, esrabilizando a "complicada demografi , d ' I S.:~<~''"'' r l, · . a este u lllllll ( ermos g~opo rtJ.cos, a ~enca quase renasceria"), embora nao esre·a d."" ele pr6pno canst~ acredrrar nessa hisr6ria.' 2 0 que esra clara e J ( como pals e d "' que 0 .Ill ' mats urn campo e liohagens', 'especies' ou 'ce as' de " (cul turalmenre supostas) do que uma linh · p . I , . d . . agem em st mesma _ corsn, t d que e atn ~mats perttnenre quanta aos Esrados Unt'd " ''I . I N. · , . os, vot. von so vu ntzonen ' como dtsse Herder algum tempo arras. Considerando sua aparencia 0 s · L k 'd C .1 . . C d , Ilh ' n an a, nascJ o et ao, d rficilmentc lt•rllhl rra o ana a ora ape r d - de 11150 do ~amanh d r a ~· c£ao uma vasra ~xrensao continental, tcm '' r I . 0 aque e. cern vezcs mats densamenre povoado 11 1abtranres razoavelmenre bern disrribufdos por rod , - 't tn' d _ . . a a sua area, e nao apllrlr ~s em concenrrac;:~es dtsttnras, que se desracam de enormes vazios Eo mpr~laAd~ dde cle~ro6~ crnquenra anos de dominac;:ao colonial direra e ~ais ,/;':11: r emo e 1rsr rra e nao u 1 - d . . ' . ma co ec;:ao e pessoas reun rdas por acaso c em d rt m~tto reccnte. E e troptcal, .asiarico e pouco indusrrializado. 0 faro de h.ll I :~amcedrros aspecl~osl , uma ~udnosa semelhanc;:a entre as rens6es inrernas qut '"' T esmanrea-o-atn aque 1 ~ 1 . . 'pe o menos ate agora, e as sejam muito IIIII severas, mutro mats carregadas de 6dio e muiro mais marcadas pela vinic II I - e as gue amea~am desmanrelar o Canada da o que pensar. u Tambcmnr' caso, 0 pafs em St e mcnos uma suposta "Jinhagem" " e . " d terreno hisroricizado- urn meio e um Iugar no lou esiJ:' here o qut "''' · l qua essas 1n agens ou 1.,1, ~r es se acorove am, consrruindo-se mutuamente e construt'nd .t lnte I · d o o cara£('1 , ,, resses co envos umas as ourras. Pelo mcnos para llln observado d ft . Sri Lanka e d r e ora, o que parece mats marcan tc IHI ' m termos as tens6es entre idenridades grupais gue 0 vern Jl'\11•1 y"Replcro de inumeras pequen:JS na~ocs''. (N.T.) () 1111111,/11 fill f'r,/,/flll 211 ll<t' t'rlt im;1s quatro dccadas, mais ou mcnos, nao co faro de clas screm rutidamcmc bipolares do que costuma sera norma nesses casos, hoje em (16 Ruanda ou o Burundi, ou ralvez a lrlanda do Norte, parecem aproxi- ddc nesse ;'!Specto; a Nigeria, a Jugoslavia, a fndia, o Canada e os Esra- Unidos, mulrifacetados e com situac;:6es inrrincadas, sao bern mais da norma), nem rampouco eo faro de elas serem tao severas, tao cro- t' litO resistentes a divisao das diferens;as. 0 que mais impressiona e envoJ- um choque entre dois grupos que, de algum modo, sentem-se ambos rninorias; e rerem surgido muico recentemenre, como resultado quase dos aspectos incrigantes do "auto" de "autogesrao"; e terem ocorrido pals que, sob ourros aspectos, rem sido basrante esravel, progressisra e mcnos moderadamenre bern sucedido -crescimento populacional redu- inflac;:ao conrida, melhorias na educac;:ao, uma taxa de crescimento decen- uma taxa de morcalidade in fa neil que se aproxima das do Chile ou da Coreia I e uma expecrariva de vida equ iparavel as da Hungria ou daArgentina. 14 A sicuacyao de duas minorias resulta do faro de que os cerca de doze milh6es '"'"'''""'""'• a maioria dos quais e budisra e fala uma lrngua indo-europeia, sao a rdade dos que exisrem no mundo, enquanro os cerca de rres milhoes de ra- ot maioria dos quais e hindu e fala uma lfngua dravfdica, conram com mais ou quarenta mi lhoes (caracrerisricamente, 0 numero e discurido) do outro do esrreiro de Park, na fndia meridional. Assim, e facil ambos se considera- tragados urn pelo ourro: os cingaleses pelo expansionismo rami I, que se in- periodicamence sob a bandeira de um T ami I Nadu livre e unificado, e os · pela dominacyao exclusivamenre cingalesa do Sri Lanka propriamenre o que e urn rema central do alvoroc;:o politico rrazido pela independencia, mcsma urn processo rranqiiilo e sem dramaricidade, quase huis clos - nada aucrra nem revoluc;:iio, nem sequer uma grande agiracyao. A criac;:ao de urn pals, ou, mais exatamente, suponho, a oficializac;:ao de pais onde antes exisria uma colonia, foi o que disparou os problemas erni- do Sri Lanka- e nao queixas anti gas ourem ores alimenrados desde longa 11. Antes de 1948 e por alguns anos desde en tao, uma elite bicultural anglici- ' cnrrincheirada em Colombo, manreve as coisas funcionando de maneira 1~ ou menos ordeira; as rens6es grupais existences eram difusas e localizadas, roladas por diferenciac;:6es mulriplas, acordos esrabelecidos, lealdades cru- c complexidades praticas do coridiano. Mas, de meados dos anos cin lla em diante, essa civilidade delicada e meio artificial entrou em cobpso, itufda por uma divisao radical da popu lac;:ao em supercaregorias de "cin e "rameis" (ou "budisras" e "hindus", ou "arianos" e "dravidianos") c uma curva ascendenre de desconfianc;:a, ciume, 6dio e violencia, quc .tind.1 l hegou ao fim, a despeiro de uma serie de proposras consricucionai~ 11n C\ · lilo canadensc, de uma noca comfnua de go vet nose do auxflio rclut ,ttlt 1 111 Ill solicitado, e agora encerrado, do exerciro indiana. Podcmos deixar de !ado aq ui o que, no espac;:o de poucos a nos,,, "1 11 rudo isso- a ascensao de de magogos cingaJeses ao poder e a rejci~.to d.. h d.e lf.ngua inglesa, ra.nro pelas massas fa!~ res de cingales quanro pcla~ dc·ltfl~ll ramtl; a baralha apatxonada da lfngua, amda nao resolvida, que decom·11 ,1 1 a transformac;:ao do budismo, antes uma relig1ao quietista, num credo 111 ili1 n re, sob a lideranc;:a de monges empenhados na revivescencia religiosa c Jl· 111 1h cos yajurvedicos; o crescimenro de separatismo tamil, da atrac;:ao pclo ~11 1 it fndia e das travessias de urn !ado para outro do estreito; a onda de migr.t~.ln In terna, segregayao religiosa, agregayao etnica e terrorismo redproco; c 0 I IU descimenro de uma mitologia chissica de guerras religiosas, raci.u1 comunit:irias, conquisras tameis e expuls6es cingalcsas. Os deralhes, d,· q11 ttl quer modo, sao obscuros, e mais obscuro ainda e 0 seu peso. 0 import.llll que, mais uma vez, os lim ires de urn pafs, celebrados e quesrionados, hist1111 mente montados e hisroricamenre desmontaveis, fornecem o arcabou~o •n que se cristalizam os conflitos de idenridade: o palco- no caso, comp.11111 superpovoado- em que eles sao forcrosamente elaborados, ou nao 0 sao, I (I ro. Fazdirerenc;:a onde as coisas acontecem. Por cerro faz diferencra nos Bilcis. Volrarmo-nos brevemente para a Iugmltd (ou, como agora devemos dizer, com emonac;:ao descendenre, "a anriga lui'" I via") nao rem a intenc;:ao de deslindar o que praricamenre codas as ourras p~, .. 1 que o tentaram, inclusive os habeis e desesperados senhores Vance e Owen, c •HII sua reestruturayao da B6snia-Herzegovina em dez etapas, basicamenre naol .. l! seguiram deslindar. Tampouco posso abordar as rerrfveis quesr6es de mut•l polfrica que ela lanc;:ou num mundo despreparado para enrrenra-las. Quero 'I' nas concluir minha serie curta, ilusrrariva e muiro arbitraria de casas insrruttvg (eu ~ambem poderia cer considerado a Belgica, a Nigeria e o Afeganisrao, ott 1 Brastl, Ruanda e a Tchecoslovaquia): casos em que discriminar entre um I' u como Iugar hisroricizado- uma localidade, urn nome e urn passado que p11,f ser lembrado- e as solidariedades afins do "quem somos n6s?", que o rc~p.d dam OU 0 problematizam, e mais Uti! para a reflexao SObre Uffi mundo esti lh, l~ 1 do do que a fusao dessas duas coisas num "nacionaJismo" demonizado, d ramanho unico. A Iugoslavia (doravanre YOU suprimir 0 "anriga", a bern dol .• I lo: a expressao deve ser rida como !ida, em sua mais plena ironia) consritUI ttl It exemplo em que os tipos de rensoes que are agora rem sido conridas no Can;ul.t, pelo me nos suporcadas noS ri Lanka (em bora o mundo nao parec;:a rer muira t 1 1 teza disso, dados OS nfveis de viol en cia envoJvidos) esmagaram 0 pafs: literal me 11 d d · IS teo esrroc;:aram, etxaram-no em pedac;os. ..!ll A "vl11udc" (p.tlavta us;tda, c c.laro, enue as mats pcsadas aspas do hotror) ~~~~~ iugoslavo c que 0 pafs sc dcsmcmbrou- isto e, foi desmembrado -, nAn prc<.isamenre em camera lenra, pelo menos com uma cerra delibcrayao .ivcl, do gencro "quem diz 'A' rem que dizer 'B'", na qual os estagios da ntq~r•tc;:flo roram distinros, nfridos, dramaricos e visfveis. Houve o discurso M1losevic em Priscina, capital do Kosovo, no anivers:irio de seiscencos anos famosa bataiha perdida para OS CUCCOS, que final mente demonstrou, ate para ' iugoslavo dos iugoslavos (ainda restavam muiros naquela ocasiao, e eles n Ionge de ser impotences), que a Questao Servia rinha volrado para fi- Hnuvc a sa ida quase furriva da £slovenia da Federayao, em junho de 1991 , da confusa e hesitance guerra dos dez dias, a declarac;:ao coincidence da · da Croacia, o reconhecimenro desses dois aconrecimenros pela haem processo de reunificac;:.1.o, retornando a polirica europeia como ator dcsimpedido, e a eclosao da guerra na Croacia, que se seguiu imediata- e, quando Belgrado resolveu apoiar seus enclaves servios. Houve o deslo- to da guerra para a B6snia-Herzegovina, ap6s sua declarac;:ao de 11U:pc·no1encia em meados de 1992, eo maJfadado projero Vance-Owen dedi- em cant6es, em 1993- o desmembramento da B6snia para salva-la; o I c poroso cessar-fogo de Sarajevo; outro plano de divisao em cant6es; a as- adora perspecciva dos assassinaros inrerminaveis, em 1994; e a rremula paz Acordos de Dayton. Cada urn desses aconrecimenros, alem de uma poryao outros- o bombardeio de Dubrovnik, o arrasamenro de Vukovar, o cerco Sarajevo, a reduc;:ao de Mosrar -, foi uma fase de urn unico processo: o apa- mo de urn pafs e a tencaciva de redelinear o que restou. (Os aconrecimen- mais recentes em Kosovo sao apenas mais urn capfrulo de uma hist6ria -que vai acontecer com Montenegro?- e ralvez interminavel.) 0 pais nunca rivera, e clara, rafzes muico firmes; sua hist6ria era curta, ver- ••nosa. entrecorrada e violenra. Reunido pelas Grandes Potencias, depois da Guerra, a partir de alguns dos enclaves lingi.ifsticos, rcl igiosos e tribais tinham sido sacudidos pelas Guerras Balcinicas e deixados para tras pelo pcrio Austrfaco, ele foi arormentado desde o nascimento por quesriona- tos de sua integridade, vindos de dentro e de fora- o separatism a croata e 6nio, os irredentismos hungaro e bulgaro -, e passou da monarquia o parlamentarismo, a ocupayao nazisra, a diradura comunista, e de no para o parlamentarismo, no espac;:o de aproximadamenre oirenta anos. E quase urn prodfgio que tenha conseguido manter-se unido. Mas, pclo nos em rerrospecriva, ele parece rc-lo feiro com uma forc;:a consided.vd , c~ i.tlmente nas merr6poles e cidades, e nao esta claro que seu impulso ll1t:llt.al , tdcia que ele projetou de urn pals do none dos Balcas com uma pupul.t~.tn muhiculruraJ , ja se tenha dissipado por complcto, seja qual ror ,\ ftn.tlld.lck pr:irica de seu desaparecimento. A guerra <JUC o Jcsrruiu passou tJl· j"'"'""'"''"' ~ara servo-croara e para b6snta- uma sucessao de renrativas, com 11111,1 ),1 lt~ade e_loucura crcscenres, de substituir o que fora quase acidcnralmc111 I dtdo: nao urn Esrado nem urn povo, nao uma sociedade nem um.t 1 nenhum dos qu~is elechegou aser mais do que em car:irer incipicmc, 111 a pars. A Iugoshivta, ou, pela ultima vez, "a anriga Jugoslavia", parccc: \(I exemplo quase puro da nao coincidencia, no scnrido e de faro, dcssas 1, 11 des tao freqi.ien temente idenrificadas e fundidas entre si, e, de modo nq·.ll urn exemplo do peso, do poder e da imporrancia do pals. "Zd~a~ko Greb~ [es~reveu Misha Glenny sobre urn amigo seu, urn pte de d trCitO da Umvcrstdade de Sarajevo e ex-polfrico] e urn b6snio que ll ,Ill humor e culrura. Seus pais cram muc;ulmanos de Mostar, mas ele foi cri.ulu Belgrado e continuou a se chamar de iugoslavo, mesmo depois de ,11 )111 aberramente que a I ugoslavia ja nao exisria. 'De que mais posso cham.11 Ill ponderava. ·t. diffcil eu comec;ar a me chamar de muc;:ulmano ou servto .J, de todos esses a nos. ' A B6s~i a (e especialmente Sarajevo) tinha a maior Jilt• tagem de pessoas que se destgnavam como iugoslavas no recenseamento 1111 ~al. Quando _a Iu~oshivia so~obrou no sangue de seu pr6prio povo, tugoslavos e a tdenttdade a que ainda se apegavam foram arrastados por 111 ,1 1 de hist6ria envenenada. "16 0 rio d_a hi~t6ria nao precisa esrar tao envenenado, e claro. Mora 0 Ubann, I I vez a Ltbena e ralvez o S udao, ele nao o esreve, pelo menos nao tanto em 11111 ~os palses (a esmagadora maio ria, fa lando meramente em termos num~ 11, u Jnternamente arormentados por linhas de fratura culrurais- a Indo nc\1 1 Esrados Unidos, a fndia, o Egito, o Quenia, a Guatemala, a Mal:isia ou a J\1 1 1 ca. 0 Canada ainda se mantem unido, e se vier a ser incapaz de con 111111 c_omo tal_(o q~e naoyarece provavel no momenro), devera conseguir real!: 1r npo de dtv6rct~ amtsto~o que ftzeram a Tchecoslovaquia c, antes dela, ( 1111 ~ura e a Malista. 0 Sn Lanka ralvez ainda consiga conter suas tens6e\ 111m tlpo de estrutura con~titucional Aexfvcl e tratavel, como vem pelo menu• mcpn~o a fazer a Afnca do Sul, pais que, poucos a nos atr:is, era scm duv11l• qu~ se Julgava menos propenso a ter succsso num esforc;o dessa naturcz.t 1 m~ts tendc~re a mergulhar num caos multilateral. Ate a Jugoslavia podc111 l 1 evtrado_o ptor, se, como sugeriu G lenny, "a Comunidade Europeia e os I II dos Untdos [houvesscm guiado] os llderes inexperientes ou oporrunista\ 1'·.!1 urn desmembramenro consensual do pafs"; e, para que o horror nao sc c~p.tlh 0 mmuln rm prtlarns 21S 1ul dm B.ilc:1s, .1inJ.t tcrao que fazc-lo.' Muico depcnde Jc como cssas si- "·ran adminisrradas. Jlarn:cmos necessitar de uma nova forma de polltica, uma polltica que nao ,, .tfirm.u;ao etnica, religiosa, racial, lingi.i!stica ou regional como uma ir- ultdade arcaica e ingenita, a ser suprimida ou ulrrapassada, como uma t·cnsurada ou uma escuridao desconhecida, mas que a veja, como a outro problema social- a desigualdade, digamos, ou o abuso de po- n>mo uma realidade a ser enfrentada e modulada, com a qual de algum l: prcciso lidar e chegar a urn acordo. () lbcnvolvimenrodessa polfrica, que devera variar de urn Iugar para ou- confi>rmc as siruac;6es que river de enfrentar, depende de diversas coisas. c Je se descobrirem as origens da diferencia<;ao e da disc6rdia baseadas iJade nesse ou naquele caso. Depende de se d~envolver uma arirude simplistamenre demonizanre e _esterilmenre _negativa para ~o~ a dif~ como se ela fosse uma relfquta de selvagena ou algum esragto anren- rxisrencia humana. Depende de adaptarmos os prindpios do liberalismo dt"mocracia social, que ainda sao nossos melhores guias do direiro, do go- t' c..la conduta publica, a quest6es com respeito as quais eles tern sido, com ' freqi.iencia, desconsiderados, rearivos ou incompreensivos- filo- nte cegos. Mas, o que talvez seja mais importante, depende de cons- us uma conccp<;ao mais clara, mais detalhada, menos mecanica, ipada e carregada de cliches daquilo em que consisre a poll rica, do que j, ( )u seja, depende de obtermos uma compreensao melhor do que vern a • cuhura- as estruluras de senrido em que as pessoas vivem e formam suas oes, suas individualidades e seus estilos de solidariedade- como forc;a das quest6es h umanas. I· 1sso, mais uma vez, significa uma crltica das concepc;6es que reduzem as a uniformidade, a homogeneidade, a igualdade de orienrac;ao - ao . 0 vocabul:irio da descri<;iio e da amilise culrurais rambem precisa para a divergencia e a mulciplicidade, para a nao coincidencia de especies nias. Assim como os pafses, as identidades que os colorem, muc;ulmana budista, francesa ou persa, Iarina ou sfnica ... negra ou branca, nao pod em ser hdas como unidades inteiric;as, como totalidades ininLerruptas. flit' e a cultu.?'a, se niio e um consenso? urn paradoxa, ocasionalmenr~ notado mas nao_ muiro profun?am.enr~ •:1c~i ••l crca do esrado acual daqllllo a que nos refenmos, com mutta d tspltccncta, "o panorama mundial": cle esta flcando mais global e mais dividido, nuts IV(Iflff Ill compleramenre inrerligado e mais intrincadamcnre companimc·nt.•li1, I mesmo tempo. 0 cosmopolirismo eo provincianismo j:i nao sc opoc:tu: I e se refors;am. A mcdida que aumenta urn, aumenra o ourro. 0 desenvolvimento da recnologia, muito cspecialmente da tcu"'J,, 1 comunicas:oes, teceu o mundo numa s6 rcde de informas:oes e c.llls.~li.l 11 1 raJ sorte que, como a famosa borbolera que bare as asas no Pacrf'ic.o ,. 1 uma rempesra~e na ~enfnsula Iberica, uma mudans;a de siruas:ao 1111111 qual~uer P?de tn.dum a disrurbios em qualquer ourro Iugar. ToJ0 , 1 ·.1 merce dos tnvesrtdores norte-americanos que especulam com druJu.. l1l nos, ~u dos banqueiros britanicos de Cingapura que jogam nos Jc11\'1111\t !6~uto. Os rerremoros de Kobe ou as inundas:oes holandesas, os t··• 11 HaJ1anos ou as meras de produ~o saudi cas, as vendas chinesas de ar111.1111 0~ 0 tr~flco de drogas colombiano, todos rem urn impacto quase imt,lll d1ssemmado e ampliado, Ionge de suas origens. A CNN introduz ll.l\ al estar do mundo a matans:a b6snia, a fome na Somalia ou os campos de ,, dos de Ruanda. Lugares normalmenre muiro obscuros, provincianm, ros em suas pr6prias quest6es- Groznyi, Dili, Ayodhya ou Crisr6b.tl J Casas; QuigaJi, Belfast, Monr6via, Tbilissi, Phnom Penh ou Porco Prflu 'I' desafiam momentaneamenre as grandes metr6poles do mundo, em hu atenyao mundiaJ. 0 capital e m6vel e, como praricamenre nao existc llf'l\h povo que nao renha uma diaspora, nem mesmo os samoanos, rambcm 1111 lho e m6vel. Exisrem companhias japonesas nos Esrados Unidos, alem.1 n 1 donesia, norre-americanas na Russia, paquisranesas na Gra-13n.:t.•uh ~ormosenses. nas Fil i.pinas. T urcos e curdos mandam din hei ro para cas.t 1ll l~m , magr~b.tnos e V1et.namiras, de Paris, zairenses e rameis, de BruxeJ.t, I' nnos e fil~p1nos, da Cldade de Kuwait, somaJis, de Roma, marroqutllt• Espanha, Japoneses, do Brasil, mexicanos, de Los Angeles, alguns cro.11 , Suecia, e praticamenre todo o mundo, de Nova York. Toda essa vasta ,.,, e essa complexa intcrdependencia sao as vczes designadas, com base no· 1 d~res de slogans dos escudos culturais, de "aldeia global", ou, com b.a·a c:tadores de slogans do Banco Mundial, de "capitalismo scm frontcira~· · l\1 vtsto que ~Ia t~ao rem unidade ncm tradis:ao, bordas nem foco, e que lh I I qualquer tntetreza, trata-se de uma aldeia pred.ria. E, uma vez que e Ill• I acompanhada pelo afrouxamenro e redus;ao das demarcas:oes culcurais d11 •1 por ~ua re~labo~as;ao.e ~ulriplicas;ao, e ~uir~s vezes, como assinalei acilll.t J' sua lntenstflcac,;:ao, d1flcdmente se podena d1zer que ela e sem fronccira\ Ma~ear essas demarcac;6es, localizando-as e caraccerizando as popul ,, que elas 1~ola~, ou q~e pelo menos poem em desraque, e, quando muito IIIII t~re~a arbmana e r~alizada com imprecisao. Discernir rupturas cuhura1s, 1 , nnu1dades culturats, rra<;ar linhas em torno de con juntos de indivfduos tpl r J mumlo rm /''"'II 01 217 m• fc11111,1 d~ vtd.t m.tis ou menos idcncifldvel, em contrastc com nJunlns de 11H.Iivfduos que scguem formas de vida mais ou menos di- oult.t\ VO'l..CS 110Utras saJas- C bern mais faci) na teoria do que na tropolog1:t, que rem como uma de suas vocas;6es, pelo menos, locali- dt!m.m.t~ocs, discernir essas rupruras e descrever essas continuidades, dc!;ajeitadamente essa questao desde o comes;o e continua a se llllll da. Mas nao se deve fugir dela com banalidades obtusas sabre a .!.a cspccie humana ou os facores subjacentes de semelhan~ e tra- ~. nt·m que seja porque, "na natureza", como gostavam de d1zer os J\ pr6prias pessoas estabelecem esses contrasces e tras;am essas li- nault·r.un-se, em decerminados momenros e para determinados fins, ~ n.to inglesas, indianas e nao budistas, Hutu e nao Tursi, lacinas e xtii;\S e nao sunitas, Hopi e nao Navajo, negras e nao brancas, laran- Vt'r.lcs. Nao importa o que desejemos ou encaremos como esclareci- 1 Jivt·rsidade das culturas persisce e prolifera, mesmo em meio e ate em • pnderosas for~s de vinculayao da indUstria, das flnans;as, das via- do wmcrcio modernos. Quanta mais as coisas se juntam, mais ficam se- o mundo uniforme nao esca muito mais pr6ximo do que a sociedade llrlap.alhayao da antropologia para lidar com tudo isso, com a organiza- 1 do mundo moderno, que por direito deveria ser seu assunto apro- rc~ulta, em grande parte, das dificuldades por que ela passou, ao Iongo h1111lria errante e incrospecciva, para descobrir para si a melhor maneira ~nhrc a cultura, antes de mais nada. No seculo XIX c durante boa par- arutlo, a cultura, acima de qualquer outra coisa, era tida como uma universal da vida social humana, as tecnicas, costumes, tradis;6es e -a religiao eo parentcsco, o fogo e a linguagem - que a disrin- Ja viJa animal. A palavra que se opunha a ela era natureza, e, quando se dividi-la em ripos e especies, isso era feiro em termos da distancia a 11\t qual de suas partes - o monotefsmo ou o individuaJismo, a mono- cut ,1 protes;ao da propriedade privada- suposramente se afastara dana- rm tcrmos de seu progresso para a luz. Depois da I Guerra Mundial, Ltt•,cimento do crabalho de campo parciciparivo e de Iongo prazo com ."'""·'u'"' grupos- boa parte dele feito em ilhas e em reservas indfgen;l\, •• rupturas e limites eram mais faceis de discernir e a id~ia d e que tuJo sc vJ era mais facil de alimenrar -, a concepyao genenca come~ou a su '''" l.tJo, por ser considerada difusa, de diffcil manejo e inreresscira, em Jt' uma conceps:ao conflgurarivista. Em vez de apenas a culcura c.omo t.tl , .tter culcuras- delimitadas, coerentes, coesas e auto no mas: org.um _ IH Ntll·~ lur. w/Jtr ,, '"''"'/""''Xi•t mos sociais, cristais scmi6ricos, micromundos. A cultura em o que o' 1'"'11 nham c manrinham em comum, fosscm eles gregos ou Navajo, M.111d porto-riquenhos, cada q u.al com a sua. 18 Entretanto, depois da II
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