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Uma Visão Arquetípica do Curador Ferido na Psicologia Clínica

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UMA VISÃO ARQUETÍPICA DO CURADOR FERIDO NA PSICOLOGIA CLINÍCA
Autor: Rafael Leitoles Remer
Resumo
Este artigo tem por objetivo, relacionar o exercício da profissão de psicólogo clínico com a atuação do arquétipo do curador ferido no próprio sujeito. Possui caráter exploratório relacionando através de pesquisa bibliográfica os dados coletados de questionários respondidos por psicólogos clínicos com mais de três anos de atuação na área. As respostas dos questionários são categorizadas e as categorias são relacionadas às características do arquétipo do curador ferido. Pressupõe-se que estas auxiliam os psicólogos em determinados momentos de seu trabalho na psicologia clínica, pois acredita-se que o psicólogo ,enquanto curador ferido, por já ter experiênciado a dor, empatisaria com maior facilidade a dor do seu paciente. Considera-se que o trabalho do psicólogo sobre suas próprias feridas, faria com que essa sintonia pudesse acionar no paciente o seu próprio lado curativo, desta forma o desenvolvimento pessoal do psicólogo torna-se um fator decisivo nesse processo, assim caberia ao psicólogo experienciar o poder curativo do próprio Self, pois, como curador ferido, tornar-se-ia primordial que o psicólogo tenha sido iniciado antes de se tornar uma espécie de guia e companheiro para seus pacientes, no processo de encontrar um significado para a ferida, tentando expor que os ferimentos não são, via de regra, algo à serem superados, deixados para traz ou escondidos, mas seriam sim parte integrante de cada individuo. Este, para obter a verdadeira “cura”, deve primeiramente aceitar seus próprios padecimentos, conscientizando-se de que algumas feridas podem ser curadas e outras não.
Palavras chave: Psicologia Analítica, Arquétipo, Curador Ferido, Terapeuta
Contato: Rua Francisco Klemtz, 621 Fone: (41) 3082-8778 / (41) 99182-1966
remerterapias@gmail.com
1. Introdução
	Em geral procedimentos psicoterápicos, têm como objetivo a cura ou então a amenização de algum sofrimento. Por mais que os processos médicos e psicoterápicos tenham evoluído muito nos últimos anos, devemos buscar novamente as origens do processo de cura para os psicoterapeutas, para que assim componham um quadro mais nítido do seu próprio trabalho.
	Tal estudo faz-se necessário para uma maior reflexão sobre o que vem a ser a cura e a dor. Durante estes cinco anos de estudo da psicologia, por uma abordagem junguiana, creio que a cura está no encontro de um significado para a doença, para tanto é necessário ativar a imagem do curador ferido.
	Pode-se perceber que quando compreendemos plenamente a experiência do sofrimento, adquirimos um maior grau de conhecimento e sensibilidade, o que acaba por nos tornar capazes de entender melhor nossos pacientes e ajuda-los a superar suas próprias feridas. Pressupondo, assim, que as características arquetípicas do curador ferido, poderiam auxiliar os psicólogos clínicos no seu trabalho diário, pois aceitando e entendendo as próprias feridas eles ficariam em maior sintonia com as feridas do paciente, potencializando assim a cura.
	Pode-se dizer que o processo de cura psíquica é ainda um processo misterioso, porém, uma revisão criteriosa daquilo que transparece no processo, poderia nos ajudar, enquanto psicoterapeutas, a nos tornarmos cada vez mais competentes em nossa assistência e participação nesse “ritual” de cura ou amenização do sofrimento psíquico do outro. 
2. Objetivos
2.1. Objetivo Geral
		Relacionar a atuação do arquétipo do curador ferido proposto por C. G. Jung, no próprio psicoterapeuta no seu exercício da profissão de psicólogo clinico. 
2.2. Objetivos Específicos 
	Compreender como o processo de análise do psicoterapeuta influencia na sua prática clinica e no seu modo de ser psicoterapeuta.
	Identificar a importância dada pelos psicoterapeutas do seu processo de análise pessoal na sua pratica da psicologia clínica.
	Levantar como seu trabalho na psicologia clínica influenciaria em modificações no psicoterapeuta.
	Refletir sobre os motivos que nos levam a escolher a profissão de psicoterapeuta.
3. Marco Teórico
3.1. Narração do Mito do Centauro Quíron 
Segundo Brandão (2000 vol. II:p.90) Quíron, do grego Kheíron, nome que é, possivelmente uma abreviatura de Kheirurgós, “aquele que trabalha ou age com as mãos”, cirurgião, pois que esse centauro foi um grande médico, que sabia muito bem compreender seus pacientes, por ser ele um médico ferido. A palavra “Quíron” é raiz etimológica de cirurgia e significa “com a mão” (do grego chirurgia “trabalho com as mãos”) (MEIER, 1967:p. 40) O mito de Quíron ocorre nas planícies da Tessália, região norte da Grécia, com o encontro entre Cronos (Saturno o Deus do tempo) e a ninfa Filira. Atraído pela sua beleza, Cronos passou a perseguí-la e Filira, para escapar do seu assedio, transformou-se em uma égua. Por ser filho de Cronos, Quíron pertencia à geração divina dos Olímpicos. Pelo fato de Cronos ter-se unido a Filira sobre a forma de um cavalo, o centauro possuía dupla natureza: eqüina e humana.
	Horrorizada ao ver o monstro que gerara, Filira suplicou aos deuses que a transformassem em uma árvore, desejo que foi prontamente atendido. Rejeitado pela mãe e sem ter conhecido o pai, Quíron foi adotado por Apolo, o deus da música, da poesia, da medicina e das profecias, que lhe transmitiu muitos e ricos ensinamentos.
	O Centauro Quíron, vivia numa gruta, no monte Pélion e era um gênio benfazejo, amigo dos homens. Sábio, ensinava música, arte da guerra e da caça, a moral, mas sobretudo a medicina. Foi o grande educador de heróis, entre outros, Jasão, Peleu, Aquiles e Esculápio (GRIMAL 2001:p. 402). 
		Quando do massacre dos centauros por Hércules, Quíron, que estava ao lado do herói e era seu amigo, foi acidentalmente atingido por uma flecha envenenada dele. O Centauro aplicou ungüentos sobre o ferimento, mas este era incurável.
	Recolhido à sua gruta, Quíron desejou morrer, mas nem isso conseguiu, pois era imortal. Finalmente, após muitos anos, Quíron conseguiu livrar-se de sua agonia, graças a uma troca de destino com Prometeu. Esse Titã fora acorrentado a um rochedo por Zeus, como castigo por ter roubado o fogo dos deuses para dá-lo aos homens.
	Como Quíron, também Prometeu, estava condenado a uma tortura eterna, pois todos os dias uma águia lhe bicava o fígado, que se recompunha durante a noite. De acordo com as ordens de Zeus, Prometeu só poderia ser libertado se um imortal se dispusesse a ir para o Tártaro ( um dos infernos) e lá permanecesse renunciando à sua imortalidade.
	Convencido por Hercules, que intercedeu a favor do seu antigo mestre, Zeus concordou com a troca. Assim, Quíron tomou o lugar de Prometeu que cedeu-lhe o direito a morte. E foi assim que Quíron pode encontrar repouso (GRIMAL, 2001:p. 402)
	Conta-se que Quíron subiu ao céu sob a forma da constelação do sagitário, uma vez que a flecha em latim sagitta, a que se assimila o sagitário, estabelece a síntese dinâmica do homem, voando através do conhecimento para sua transformação, de ser animal para ser espiritual (Brandão 2000 vol. II:p. 90) 
3.2. A Cura e O SIMBOLISMO DO Arquétipo do Curador Ferido 
“Tudo em Quíron, o médico divino e ferido... o faz parecer a mais contraditória figura de toda a mitologia grega. Apesar de ser um deus grego, sofre de uma ferida incurável. Além disso, a sua figura combina o aspecto animal com o apolíneo, pois apesar do seu corpo de cavalo – configuração pela qual são conhecidos os centauros, criaturas da natureza, fecundos e destrutivos – é ele quem instrui os heróis nas artes da medicina e da música (KERÉNYI, 1959)”.
	Segundo Brandão (2001 vol. III:p. 26) pelo fato de Quíron ser um médico ferido, um xamã, e residir numa gruta evocam, de pronto, sua função mais nobre e indispensável aos jovens “históricos”, mas sobretudo aos heróis míticos, a saber, a ação de fazê-los passar por ritos iniciatórios, que outorgavamaos primeiros o direito à participação na vida política, social e religiosa da polis e aos segundos a imprescindível indumentária espiritual, para que pudessem enfrentar a todos e quaisquer monstros...
De acordo com a mitologia grega, Quíron, metade homem, metade cavalo, passou por intensos sofrimentos e, embora tenha se tornado um mestre nas artes curativas, jamais conseguiu tratar sua própria ferida, razão pela qual foi chamado de “O Curador Ferido”, assim o relacionamos, com o tema da dor e da cura (DOWNIG, 1991: p.233).
O arquétipo do Curador Ferido, representa nossas feridas psicológicas mais profundas, ou seja, feridas que acabam por nos auxiliar em determinados momentos da profissão de psicoterapeuta, pois certamente por já ter experiênciado a dor, empatisamos mais facilmente à dor alheia . Por isso a idéias de ter sido ferido, ter sofrido ou adoecido, são pré requisitos para os que vão exercer do papel de “curador”, pois “só o curador ferido cura” (DOWNIG, 1991: p.233).
	A cura só pode ser encontrada quando aceita-se a dor e se dá a ela um significado. Olhando por esse prisma vemos que muitas vezes o terapeuta precise por a nu uma dor oculta, pois se não experimentássemos a dor, talvez não tivéssemos a capacidade para a bondade. A cura como integração psíquica, poderia, quem sabe, ter lugar e “bloqueios do desenvolvimento” que seriam removidos ao se reviver, possíveis experiências traumáticas, em pequenas doses de emocionalidade. Em revisão à abordagem junguiana em relação ao processo de cura, vemos que a cura procede do “encontro de um significado para a doença” ou quando “os sintomas se integram em uma totalidade significativa” (MEIER, 1967: 128). O verdadeiro mestre está sempre aberto as dores do mundo, porque ele também sofre. A figura de um curador ferido vem nos contar sobre o valor das inúmeras limitações, das feridas dentro de nós, que embora nos causem sofrimento na vida cotidiana, de alguma forma, nos levam a questionar e a abrir caminho para um entendimento maior a respeito das leis da vida. O paradoxo, vem na forma do próprio centauro, pois sendo metade deus, metade cavalo ele tem a capacidade de compartilhar tanto o instinto como o espírito, contendo a dualidade própria da condição humana. Nunca seremos totalmente animais e tampouco conseguiremos ser totalmente divinos, mas sempre uma mistura dos dois, pois aqui estamos para aprender e conviver com ambas as partes. Dessa mistura vem a sabedoria do centauro, que compartilha do conhecimento de Deus, bem como do conhecimento das leis naturais.
	 No mito Quíron recebe dos deuses, como recompensa pela sua atuação como curador o dom da imortalidade. Mas preferiu a morte, aceitando-a de maneira nobre e tranqüila, uma vez que em vida não conseguiria curar-se de sua própria ferida. Vem daí outra característica do Curador Ferido: a necessidade que nós temos de aceitar a mortalidade como parte da vida. Aponta também situações nas quais lutamos incessantemente por algo – um ideal, um relacionamento, uma carreira, por exemplo – sem conseguirmos nenhum resultado positivo, o que muitas vezes, nos leva a acreditar que a vida é uma sucessão de esforços inúteis, que só trazem sofrimento (YOSHIKAWA, 1997).
	Geralmente por traz dessas batalhas aparentemente sem sentido está a mensagem de que precisamos enfrentar o fim das coisas. O conhecimento e a compreensão dos desígnios de nosso eu mais profundo. Assim como na mitologia, o grande centauro foi mestre de muitos heróis, na vida ele representa o nosso guia interno, que nos revela o caminho e nossa jornada ao longo da vida.
		Quando pensamos em um curador ferido, não podemos nos deixar atrair, pela figura de um curador curado. É o que Quíron representa: o curador ainda ferido. Um paradoxo onde aquele que está sempre curando permanece eternamente ferido, parecendo, assim, estar no centro do mistério da cura. O princípio desse mistério é “simplesmente o conhecimento de uma ferida também experiênciada e de modo permanente, por aquele que cura” (KERÉNYI 1959:p.99). O que sugere que nossos ferimentos, não são algo para superarmos, deixá-los para traz ou escondê-los. Nossos ferimentos são sim parte integrante de nós, ou seja, a aceitação de nossos padecimentos faz parte da verdadeira saúde, assim como, a aceitação de que algumas feridas saram, e outras não.
3.4. A Postura do Psicoterapeuta e o Arquétipo do Curador Ferido
	O psicoterapeuta “toma para si” as feridas do seu paciente, começando, assim a experimentar de maneira mais plena, o lado ferido da imagem arquetípica. Isto faz ativar suas próprias feridas a sua vulnerabilidade à doença a nível pessoal ativa a sua conexão com a imagem arquetípica do curador ferido (MEIER, 1959:p. 29).
No atendimento na clinica psicológica inclui-se que dentro do meu sistema psicológico, vou dedicar minha atenção, minha energia, minha alma, para que esta pessoa alivie seu sofrimento, porque consideramos que este atinge pessoalmente. Quando um paciente solicita nossos serviços a sua urgência maior é obter ajuda para a cura daquilo que o faz sofrer.
“Só quando o curador tiver sido tocado profundamente pela doença, infectado por ela, mobilizado, amedrontado, comovido; só quando ela tiver se transferido para ele, continuando nele e obtido em referencial em sua própria consciência – só então e só nessa medida poderá lidar com ela eficazmente” (JASPERS, 1964)
Porém, não é tarefa fácil determinar até que ponto, os psicoterapeutas, devem se envolver ao assumir a doença do paciente. Ele deve estar o suficiente próximo para poder envolver-se, mobilizar-se e ficar atento às suas próprias feridas a fim de catalizar este processo, sem perder de vista os perigos da inflação, de suas próprias limitações e até mesmo da possibilidade da sua morte.
	O que temos então, é o analista de um lado fazendo papel de curador e o paciente fazendo papel daquele que é ferido. No inconsciente, o trabalho do analista sobre suas próprias feridas fará com que esta sintonia possa, no paciente, acionar o seu lado curador. O lado curador do paciente não é para curar o analista mas para curar a si próprio.
	O paciente se apossa das forças curadoras do terapeuta, começando assim a vivenciar de forma mais clara o aspecto curador da imagem arquetípica, o que ativa a própria potencia curativa do paciente que começa a tomar parte ativamente no processo terapêutico. Distancia-se, cria novas perspectivas, começando, assim a participar também ativamente da cura. Fica carregado de conteúdos do aspecto ferido do arquétipo do “médico interior”, assim a experiência de totalidade se constela. 
“É um típico risco de insalubridade profissional para o terapeuta ser infectado fisicamente e envenenado pelas projeções às qual se expõe. O terapeuta tem de ficar continuamente em guarda contra a inflação. Mas o veneno não o afeta apenas psicologicamente; pode mesmo atacar o sistema simpático. Observei um bom numero dos mais extraordinários casos de doenças físicas entre psicoterapeutas, doenças que não correspondiam aos sintomas médicos conhecidos e que eu atribuí ao efeito de um continuo ataque de projeções, em relação as quais o analista não consegue discriminar sua própria psicologia. A condição emocional peculiar do paciente tem um efeito contagioso. Quase que se poderia dizer que desperta vibrações idênticas no sistema nervoso do analista e, por isso, da mesma forma que os psiquiatras, os psicoterapeutas tendem a tornar-se um pouco esquisitos. É um problema para se ter sempre em mente. Está relacionado de maneira definida ao problema da transferência” (JUNG, 1968: p.172-173).
	Guggenbühl-Craig sugere um arquétipo “médico/paciente”, que se faz presente toda vez que uma pessoa adoece. O enfermo procura um doutor externo ou médico, mas o fator curador ,“intrapsiquico”, ou ainda “médico interior” são mobilizados da mesma forma. Até mesmo se o “médico externo” for muito competente as feridas não serão curadas, enquanto não houver a ação do “médico interior” (GUGGENBÜHL-CRAIG,1971:p. 89-91).
	Com freqüência ouvem-se explicações do tipo “sua resistência interna cedeu” ou “ele não estava querendo melhorar”. De um ponto arquetípico de vista, é o médico interior que não está funcionando. Guggenbühl coloca essa questão nos seguintes termos: “Isto significa psicologicamente que não somente o paciente tem um médico dentro de si mesmo, mas também que existe um paciente no interior do médico” (1971.,p. 91)
	 “Ninguém leva o outro além de onde ele mesmo for” (JUNG, 1946: p.308). O desenvolvimento pessoal do terapeuta é então fator decisivo no processo psicoterapeutico, ele próprio deve ter experiênciado o poder curativo do Self; como um curador ferido, simbolicamente podemos colocar que deve ser iniciado antes de se tornar guia para os outros, isto é perceber seu lado de curador ferido.
4. Metodologia
	Este artigo, é de caráter exploratório, onde relaciona-se, através de uma pesquisa bibliográfica os dados que foram coletados, através de questionários, que foram aplicados a psicólogos clínicos que tenham mais de 3 anos de atuação na área clínica. Os questionários são constituídos de perguntas abertas e foram deixados em clinicas particulares e em CAPS à disposição dos psicólogos que se interessassem em responde-los. Estas respostas coletadas através dos questionários, foram categorizadas e suas categorias foram relacionadas com as características do arquétipo do curador ferido.
Os questionários foram respondidos no período de setembro e outubro de 2002. Ao todo foram distribuídos 75 questionários a psicólogos de diversas linhas, porém só retornaram 15 questionários, portanto, trabalharemos com essa amostragem.
	A idade dos psicólogos que responderam os questionários, varia entre 28 e 60 anos, temos uma média de idade de 39.93 anos ,destes, 60% são mulheres 40% são homens. O tempo de atuação na área clinica variou de 3 à 29 anos de prática, tendo uma média de 13.73 anos de atuação.
5. Resultados
	Quanto às linhas, 40% (N = 6) dos psicólogos que responderam os questionários, são psicanalistas, 26.6% (N = 4) são psicodramatistas, 13,3% (N = 2) trabalham com a linha sistêmica, 6,6% (N = 1) psicodinâmica, 6,6% (N = 1) psicologia relacional e por fim 6,6% (N = 1) seguem a psicologia analítica.
	1- Como a terapia influenciou na sua prática clinica? No seu modo de ser terapeuta?
	Categoria
	Descrição
	%
	1.1
	Modelo terapêutico, escolha da linha
	20%
	1.2
	Com a aproximação pessoal do que faz sofrer o terapeuta, aprende-se a reconhecer o sofrimento no outro.
	40%
	1.3
	Enquadram-se nas categorias 1.1 e 1.2
	40%
	Vemos, que não só os pacientes, mas também os psicólogos, vêem seus psicoterapeutas como “mestres”, pois seus psicoterapeutas em 60% dos casos, os influenciaram na escolha da linha e no modelo terapêutico. Como vimos anteriormente, o verdadeiro mestre, está sempre aberto às dores do mundo, porque ele também sofre.
	A grande maioria dos psicólogos dessa amostragem, acreditam que o desenvolvimento pessoal do terapeuta é fator decisivo no processo terapêutico, na interpretação junguiana segundo o arquétipo do curador ferido, ele próprio deve ter experiênciado o poder curativo do Self; dentro da psicologia é fundamental que o terapeuta tenha sido iniciado no processo terapêutico, antes de se tornar terapeuta (mestre) para os outros.
	2- Para você qual a importância da terapia na prática clinica?
	Categoria
	Descrição
	%
	2.1
	Procedimento ético, condição fundamental para o exercício da profissão e formação 
	40%
	2.2
	Perceber o que do paciente se identifica com o terapeuta aumenta a eficiência por estar menos comprometido.
	26.6%
	2.3
	Fundamental para separar as questões pessoais com as do paciente para não atrapalhar o processo
	13.3%
	2.4
	Enquadram-se nas categorias 2.1 e 2.2
	6.6%
	2.5
	Enquadram-se nas categorias 2.2 e 2.3
	13.3%
	Pode-se observar o grande grau de importância dada pelos psicólogos à terapia na prática clinica, terapia esta, que é vista como fundamental ou essencial para o exercício da profissão e da constante formação do psicólogo. Como um curador ferido é essencial que o psicoterapeuta esteja consciente de suas feridas, aceitando-as, facilitando assim, a relação psicoterapeuta – paciente, onde o psicólogo não se impõe como um ser onipotente, mas sim admite ser uma pessoa que sofre como seus pacientes.
	Também pode-se observar a preocupação dos psicoterapeutas no que diz respeito, à separação de questões pessoais com as do paciente para não atrapalhar o processo terapêutico e para haver certa proximidade com o outro sem confundir-se com ele a terapia na prática clínica torna-se fundamental.
	3- O trabalho na clinica chegou a muda-lo (a) pessoalmente? Como?
	Categoria
	Descrição
	%
	3.1
	Aprendem com seus pacientes, casos instigam questões pessoais e pode-se assim, trabalhar algo que estava adormecido. 
	86.6%
	3.2
	Poucas mudanças e algumas frustrações.
	13.4%
Nota-se que a grande maioria dos psicólogos da amostragem em questão, (86,6%) admitem aprender, ou até mesmo evoluir com o paciente. Isto relaciona-se com a atuação do arquétipo do curador ferido, identificando-se muitas vezes com as feridas psíquicas trazidas pelos pacientes. Estas permitem ao terapeuta a empatisar com maior facilidade com as questões de seus pacientes. Tem-se ainda uma pequena amostragem que afirma que o trabalho na clínica, chegou a trazer algumas frustrações. Acredita-se que tais frustrações se dêem pela falta de um significado para o sintoma do próprio terapeuta.
	4- O que o motivou a ser terapeuta?
	Categoria
	Descrição 
	%
	4.1
	Amor a profissão e ao ser humano. Responsabilidade social
	20%
	4.2
	Desejo inconsciente de curar a si próprio. As próprias neuroses
	53.4%
	4.3
	Não era um projeto especifico, foi se revelando com o exercício da profissão de psicoterapeuta
	6.6%
	4.4
	Uma espécie de instinto ou dom
	6.6%
	4.5
	Enquadram-se nas categorias 4.1 e 4.2
	13.4%
A grande maioria dos psicoterapeutas entrevistados, admitem ter escolhido a profissão por desejos conscientes ou inconscientes de curar a si próprios - isto conforme a teoria junguiana, possibilitou o contato com seu próprio sofrimento e o entendimento do sofrimento alheio. Entretanto se sua própria ferida não é reconhecida pode-se projetar ou buscar a cura no paciente, ele se torna um objeto na mão do psicoterapeuta - e também aos outros.
Como no arquétipo do curador ferido, nota-se nos psicoterapeutas um amor à profissão e ao ser humano, um desejo inconsciente de ajudar e estar disponível, são aspectos decisivos para a escolha da profissão. Porém e como um curador ferido, acreditam reconhecer o sofrimento no outro por já terem, saberem ou terem experiênciado também o sofrimento. Tem-se ainda os psicoterapeutas que acreditam ter chegado a escolha da profissão, como se esta fosse um instinto, ou um dom, algo que já estava internalizado, como um arquétipo.
Conclusão
	Constata-se que o arquétipo do curador ferido, encontra-se mesmo presente, no dia-a-dia da psicologia clínica. Pois o psicoterapeuta também é um ser humano com os mesmos sentimentos do paciente e que também sofre. Por isso o psicoterapeuta terapeutizado, consegue um maior vínculo com seu paciente, pois quando se vê na posição de paciente, consegue reconhecer a dimensão ferida que existe em todo psicoterapeuta.
	O psicoterapeuta enfrenta sempre o desconhecido e o imponderável, transmitindo alento, oferecendo cura ou alívio, a partir do que aprendeu na sofrida lida com fracassos e erros que é capaz de guardar só para si. Tal com em outras disciplinas ou profissões, na psicoterapia o conhecimento se constrói em muito pela tentativa e erro, de tal forma que na história da psicologia, como na de cada psicólogo individual, na luta com a vida, há um convívio com o sofrimento que para cada um é único e o mais importante no momento.
Referencias BibliográficasGUGGENBÜHL-CRAIG, A. (1971). “Power in the helping profession”. New York, Spring Publications
MEIER, C. A. (1959). “Projeção, transferência e a relação sujeito – objeto em psicologia”, em J. analyt. Psychol., 4, I.
KERÉNYI, K. (1959). “Asklepios archetypal image of the physician’s existence”. Bollingen series LXV-3, New York, Pantheon Books. 
DOWNING, C. (org) “Espelhos do self: imagens arquetipicas que moldam a vida”. São Paulo: Cultrix, 1999.
JUNG, C. G. (1946) “A psicologia da transferência” em C. W. 16.
JUNG, C. G. (1968) “ Analytical Psychology, ets theory and practice”. New York, Ventage, Londres, Routledge.
BRANDÃO, J.S. (2000) “Mitologia Grega Volume II”. Petrópolis, Ed Vozes, 11º edição.
BRANDÃO, J.S. (2001) “Mitologia Grega Volume III”. Petrópolis, Ed Vozes, 11º edição.
GRIMAL, PIERRE (1912) “Dicionário de mitologia grega e romana”. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000.

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