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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA DISCIPLINA: ANATOMIA TOPOGRÁFICA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS I SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO GIL � ANATOMIA DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO I GENERALIDADES O sistema nervoso junto o sistema vascular sanguíneo são os que alcançam maior extensão no organismo. O sistema nervoso intervém nos fenômenos fisiológicos servindo como mediador entre o estímulo desencadeante e a reação de resposta. Isto significa que o sistema nervoso controla e coordena as funções de todos os sistemas do organismo e ainda, recebendo estímulos aplicados à superfície do corpo animal, é capaz de interpretá-los e desencadear, eventualmente, respostas adequadas a estes estímulos. Desta forma muitas funções do sistema nervoso dependem da vontade do indivíduo (AÇÃO VOLUNTÁRIA) como andar, e muitas outras não (AÇÃO INVOLUTÁRIA), como a secreção da saliva. As unidades funcionais e básicas da formação do tecido nervoso são os NEURÔNIOS, que são células alongadas compostas por um CORPO CELULAR ou pericário e vários prolongamentos chamados de DENDRITOS (que são múltiplos e curtos) e AXÔNIOS (que são sempre únicos e longos). Os neurônios acham-se interligados para formar vias de condução e são mantidos juntos por um arcabouço de células especializadas, não condutoras, conhecidas como NEURÓGLIAS. Funcionalmente os neurônios classificam-se em: NEURÔNIO SENSITIVO OU AFERENTE: responsável por conduzir as informações ao SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) sobre as modificações ocorridas no meio externo; na extremidade destes neurônios existe uma modificação chamada de RECEPTOR, capaz de transformar qualquer estímulo em elétrico e a mensagem é transmitida sob esta forma codificada. NEURÔNIO MOTOR OU EFERENTE: responsável por conduzir o impulso ao órgão efetor, isto é, um músculo ou uma glândula. O mecanismo estímulo-resposta é conhecido como ARCO REFLEXO, que se classifica da seguinte forma: ARCO REFLEXO SIMPLES: Receptor → Neurônio aferente ou sensitivo → Sinapse → Neurônio eferente ou motor → Efetor (músculo ou glândula) ARCO RELFEXO COMPOSTO: Receptor → Neurônio aferente ou sensitivo → Sinapse → Interneurônio → Neurônio eferente ou motor → Efetor (músculo ou glândula) II CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA DO SISTEMA NERVOSO � 1–Sistema Nervoso Central (SNC) 1.1–Encéfalo. 1.1.1–Cérebro 1.1.2–Cerebelo. 1.1.3–Tronco Encefálico. 1.1.3.1–Mesencéfalo. 1.1.3.2–Ponte. 1.1.3.3–Bulbo. 1.2–Medula Espinhal. 2–Sistema Nervoso Periférico (SNP) 2.1–Nervos Espinhais e Cranianos. 2.2–Gânglios. 2.3-Terminações nervosas. � III SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO O Sistema Nervoso Periférico (SNP) é composto por estruturas que interligam os neurônios do SNC a periferia do corpo, bem como aos órgãos internos. Os principais componentes do SNP que fazem estas conexões são os nervos. Estes nervos constam de axônios e/ou de dendritos de corpos de neurônios pertencentes ao SNC. Além dos nervos, também fazem parte do SNP os GÂNGLIOS e as TERMINAÇÕES NERVOSAS. 1 NERVOS 1.1 CONCEITO São cordões esbranquiçados constituídos por feixes de fibras nervosas que ligam o SNC à periferia, essas fibras podem ter trajetos aferentes (sensitivos) e/ou eferentes (motores). Os nervos são classificados anatomicamente de acordo com o ponto de origem do SNC. Funcionalmente os nervos são classificados segundo a natureza de suas fibras: AFERENTE ou SENSITIVO, EFERENTE ou MOTOR, MISTOS (possui ambas as fibras aferentes e eferentes). 1.2 CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA 1.2.1 NERVOS ESPINHAIS São aqueles que surgem da medula espinhal e abandona o canal vertebral através dos forames intervertebrais. Todos são pares e emergem de cada lado da medula espinal, de forma metamérica, recebendo denominação de acordo com região de emergência: CERVICAIS, TORÁCICOS, LOMBARES, SACRAIS E COCCÍGEOS. Em cada lado da coluna vertebral geralmente existe um número de nervos igual ao número de vértebras, com exceção dos nervos cervicais (oito) e coccígeos. Os nervos apresentam uma distribuição segmentária, em que cada um deles inerva a princípio um segmento corporal determinado. As fibras motoras destes nervos inervam a musculatura do segmento. As sensitivas se distribuem pela porção da pele suprajacente. O segmento muscular inervado é chamado de miótomo e o segmento de pele inervada é chamado de dermátomo. Para cada segmento deste, existe uma região correspondente na medula espinhal. 1.2.1.1 ORIGEM REAL E APARENTE DOS NERVOS ESPINHAIS A origem real de um nervo corresponde ao local onde estão situados os corpos de neurônios que forma o nervo, e a origem aparente corresponde ao ponto de emergência ou entrada do nervo na superfície do SNC. Portanto a origem real dos nervos espinhais corresponde as colunas dorsal e ventral da substância cinzenta da medula espinhal, e a origem aparente corresponde aos sulcos lateral dorsal e lateral ventral da medula espinhal. As raízes fazem conexões com estes sulcos através dos FILAMENTOS RADICULARES. 1.2.1.2 FORMAÇÃO DOS NERVOS ESPINHAIS Cada nervo espinhal é formado pela fusão de duas raízes, uma ventral e outra dorsal. A ventral emerge do sulco lateral ventral e possui apenas fibras eferentes ou motoras, cujos corpos de neurônios estão situados na coluna ventral da substância cinzenta. A raiz dorsal penetra no sulco lateral dorsal e possui fibras aferentes ou sensitivas e os corpos de neurônios estão situados na coluna dorsal da substância cinzenta da medula e do gânglio sensitivo da raiz dorsal, que é uma dilatação da própria raiz. Após a fusão das raízes do nervo espinhal, forma-se um tronco nervoso misto que passa pelo forame intervertebral e se divide em 2 ramos: A – RAMO DORSAL – Separa-se após o forame e inerva os músculos e a pele situados dorsalmente à coluna vertebral, porém as regiões cutâneas inervadas se estendem mais ou menos pela zona lateral. B – RAMO VENTRAL – Surge após o forame e é um pouco mais grosso. Inerva a musculatura da zona lateral, isto é, todos os músculos e a pele da parede lateral e ventral do tronco e dos membros, bem como do pescoço. Os nervos que inervam os membros torácicos e pélvicos surgem dos ramos ventrais dos nervos espinhais oriundos, respectivamente, das intumescências cervical e lombar. Estes ramos formam os PLEXOS BRAQUIAL E LOMBOSSACRO. O PLEXO BRAQUIAL é uma cadeia de nervos que supre cada membro torácico e está localizado na região axilar. Os nervos que formam o plexo derivam dos ramos ventrais dos últimos 3 ou 4 nervos cervicais e dos dois primeiros torácicos. Eles recebem nomes específicos e inervam os músculos e demais estruturas anatômicas do membro torácico e parte da parede lateral do tórax (tabela 3). O PLEXO LOMBOSSACRO origina-se dos ramos ventrais dos últimos 3 ou 4 nervos lombares e dos primeiros nervos sacrais. Este plexo dá origem a vários nervos que inervam a musculatura dos membros pélvicos e parte das vísceras pélvicas (tabela 4). 1.2.2 NERVOS CRANIANOS São nervos que fazem conexão com o encéfalo, principalmente com a superfície ventral do tronco encefálico. São 12 pares de nervos que emergem pelos forames do crânio e são designados por algarismos romanos e por nomes específicos, distribuídos em ordem crescente, num trajeto rostro-caudal. Os nervos cranianos diferem dos espinhais quanto a forma e componentes funcionais de suas fibras. Quanto a forma os nervos cranianos não apresentam raízes como os espinhais. E quanto a natureza funcional das fibras, existem nervos cranianos mistos, sensitivos e motores. 1.2.2.1 ORIGEM REAL E APARENTE DOS NERVOS CRANIANOS A origem real dos nervos cranianos está localizada nos núcleos da base do encéfalo e nos núcleos do tronco encefálico. A origem aparente é diferente para cada par de nervos e está demonstrada na tabela 5. 2 GÂNGLIOS Sãodilatações observadas no trajeto de determinados nervos e corresponde ao acúmulo de corpos de neurônios fora do SNC. Os gânglios formam plexos, chamados plexos ganglionares. 3 TERMINAÇÕES NERVOSAS São estruturas especializadas situadas nas extremidades das fibras sensitivas e motoras. As terminações sensitivas são denominadas RECEPTORES, enquanto que as motoras são os elementos de ligação entre as fibras e os órgãos efetores (músculos ou glândulas). As terminações nervosas sensitivas são classificadas em ESPECIAIS e GERAIS e estão demonstradas na tabela 6. As motoras são classificadas em SOMÁTICAS e VISCERAIS. As primeiras terminam nos músculos esqueléticos, e as viscerais nas glândulas, músculo liso e músculo cardíaco. TABELA 3 – NERVOS QUE FORMAM O PLEXO BRAQUIAL E OS MÚSCULOS POR ELES INERVADOS. PLEXO BRAQUIAL NERVO MUSCULATURA INERVADA Torácico longo Serrátil ventral Tóracodorsal Grande dorsal Peitorais Peitorais e subclávio Torácico lateral Cutâneo do tronco Subescapular Subescapular Supra-escapular Supra-espinhal e infra-espinhal Musculocutâneo Braquial e bíceps Axilar Redondo maior, redondo menor, deltóide e braquiocefálico Radial Tríceps, tensor da fáscia do antebraço, extensores do carpo e dos dedos Mediano Flexores do carpo e dos dedos Ulnar Flexores do carpo e dos dedos TABELA 4 – NERVOS QUE FORMAM O PLEXO LOMBOSSACRO E OS MÚSCULOS POR ELES INERVADOS. PLEXO LOMBOSSACRO NERVO MUSCULATURA INERVADA Femoral Quadríceps femoral Safeno Sartório Obturador Grácil, Pectíneo, adutor e obturadores Glúteo cranial Tensor da fáscia lata, glúteos médio e profundo Glúteo caudal Glúteo superficial, bíceps femoral, semitendinoso e semimembranoso Isquiático ou ciático Toda a musculatura distal ao joelho Fibular comum Tibial cranial, fibulares, extensores dos dedos Tibial Gastrocnêmio, sóleo, poplíteo, flexores dos dedos Pudendo Musculatura estriada perineal TABELA 5 – ORIGEM APARENTE, TIPO E DISTRIBUIÇÃO DOS NERVOS CRANIANOS. NERVO TIPO DAS FIBRAS ORIGEM APARENTE DISTRIBUIÇÃO I – Olfatório Sensitivo Bulbo olfatório Porção olfatória da mucosa nasal e órgão vomeronasal II – Óptico Sensitivo Quiasma óptico Retina III – Oculomotor Motor Pedúnculo cerebral Músculos do olho: reto dorsal, reto ventral, reto medial, oblíquo ventral e esfíncter da pupila IV – Troclear Motor Entre o pedúnculo rostral do cerebelo e o colículo caudal M. oblíquo dorsal do olho V – trigêmeo Misto Parte lateral da ponte Sensitiva: meninges, pálpebras, bulbo ocular, extremo caudal do nariz, solo e paredes lateral da boca. Motora: Mm. da mastigação VI – Abducente Motor Sulco parapiramidal do bulbo M. reto lateral do olho e M. retrator do olho VII – Facial Misto Corpo trapezóide Sensitivo: 2/3 rostral da língua, glândula lacrimal, glândulas salivares. (parassimpático) Motor: Mm. da expressão facial VIII – Vestíbulo-coclear Sensitivo Corpo trapezóide Componentes vestibulares e coclear do labirinto membranáceo IX – Glossofaríngeo Misto Sulco lateral do bulbo Sensitivo: 1/3 caudal da língua. Motor: Mm. da faringe e laringe, glândula salivar parótida (parassimpático) X – Vago Misto Sulco lateral do bulbo Sensitivo: Faringe, laringe, traquéia e esôfago. Motor: Mm. da faringe e laringe, vísceras do pescoço, tórax e abdome XI – Acessório Motor Sulco lateral do bulbo Mm. esternocefálico, cleidocefálico e trapézio XII – Hipoglosso Motor Sulco intermédio do bulbo Mm. da língua TABELA 6 – TERMINAÇÕES NERVOSAS RECEPTORES SENSIBILIDADE CAPTADA Especiais Visão, audição, equilíbrio, gustação e olfação Livres Dor Corpúsculo de Meissner* Tato Corpúsculo de Vater-Paccini* Pressão Corpúsculo de Krause* Frio Corpúsculo de Ruffini* Calor Fusos neuromusculares* Mecanismo muscular Órgãos neurotendinosos* Mecanismo muscular TERMINAÇÕES MOTORAS ÓRGÃO EFETOR Somáticas Músculo esquelético Viscerais Músculo liso e glândulas * Receptores encapsulados. BIBLIOGRAFIA: DYCE, K.M., SACK, W.O. & WENSING, C.J.G.. Tratado de Anatomia Veterinária. Rio de Janeiro-RJ. G. Koogan. 1990. FATTINI, C..A. & D’ANGELO, J.G. Anatomia Humana Básica. 2a ed.. Rio de Janeiro-RJ. Livraria Atheneu. 1986. FRANDSON, R.D. Anatomia e Fisiologia dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro-RJ. G. Koogan. 1979. GETTY, R. Sisson & Grossmans. Anatomia dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro-RJ. G. Koogan. 1979. Volumes I e II. MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional. Rio de Janeiro-RJ. Livraria Atheneu. 1988. SCHWARZE, E. Compêndio de Anatomia Veterinária – Sistema Nervioso y Organo de los Sentidos. Zaragoza-Espanha. Ed. Acribia. 1970. TOMO IV.
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