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DISCIPLINA: CG0567 - METODOLOGIA EM GEOCIÊNCIAS HISTÓRIA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO: O CAMINHO DA MODERNIDADE Prof. Wellington Ferreira DEGEO-UFC PENSAMENTO MECANICISTA (CARTESIANO) • Qual a constituição da matéria? • Medição e Quantificação • Fatos dissociados de valores • Objeto dissociado do observador • Compreensão do todo em função das partes (reducionismo) • Metáfora da máquina • Física clássica, astronomia, química FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO MECANICISTA Método indutivo (Francis Bacon – 1561 a 1626) • Construção gradual de princípios gerais a partir de e baseada em grande número de observações particulares (empirismo); • Processo de eliminação que permite separar o fenômeno a ser conhecido de tudo que não faz parte dele; • Multiplicação e diversificação das experiências, alterando as condições de realização, repetindo-as, ampliando-as, aplicando os resultados (ação na natureza), verificando as circunstâncias em que o fenômeno está presente, circunstâncias de ausência e possíveis gradações. Francis Bacon FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO MECANICISTA Método analítico (René Descartes– 1596 a 1650) • Crença na certeza do conhecimento científico (verdade científica); • Matemática como chave para a estrutura do universo; • Dúvida radical, eliminando o conhecimento tradicional, impressões dos sentidos, o próprio corpo, até o alcance de algo que não se pode duvidar: a existência de si mesmo como pensador (“Cogito, ergo sun”); • Intuição como apreensão de verdades-princípios, frutos da razão, que não são extraídas da observação de dados por meio dos sentidos; • Dedução como processo para alcance da verdade a partir de certas verdades-princípios; • Referência explícita à Deus como fonte das verdades-princípios (ordem natural e luz da razão); • Resolução de problemas através da análise dos pensamentos e problemas em pedaços e arranjo desses pedaços em ordem lógica; • Separação entre matéria e mente (mais verdadeira); • Funcionamento da natureza de acordo com as leis mecânicas (universo-máquina), inclusive seres vivos; • Sanção “científica” para a manipulação e exploração da natureza. “Discurso sobre o Método de Conduzir Corretamente a Razão e de procurar a Verdade nas Ciências” COROAMENTO DO PENSAMENTO MECANICISTA QUEM? QUEM? QUEM? COROAMENTO DO PENSAMENTO MECANICISTA Isaac Newton • Formulação abrangente da visão mecanicista da natureza; • Síntese grandiosa das obras de Copérnico, Kepler, Bacon, Galileu e Descartes. • Invento de um método completamente novo para descrever os movimentos dos corpos sólidos (cálculo diferencial); • Combinação das leis empíricas para o movimento planetário (Kepler), com as leis de queda de corpos obtidas por experimentação (Galileu) formulando leis gerais que governam todos os objetos do sistema solar, das rochas aos planetas. • Combinação dos métodos empírico-indutivo (Bacon) com analítico-dedutivo (Descartes), evitando-se experimentos desprovidos de interpretação sistemática e dedução a partir dos primeiros princípios sem evidências experimentais, desenvolvendo a metodologia sobre a qual a ciência natural se baseia desde então. DECADÊNCIA DO PENSAMENTO MECANICISTA • Eletromagnetismo : o conceito de campo eletromagnético, desenvolvido por Michel Faraday (1791-1867) e completado por James Clerk Maxwell (1831-1879). Compreensão da luz como onda em campo eletromagnético. “Éter” como conceito de conciliação com a mecânica clássica. • Teoria da Evolução: Lamarck e Charles Darwin (1809-1882) destroem a concepção cartesiana de um mundo como máquina que emergiu, completamente construída, das mãos do criador. • Termodinâmica: Sadi Carnot (1796-1832) levou à concepção da 2º lei da termodinâmica, onde qualquer sistema físico isolado prosseguirá espontaneamente no sentido de uma desordem sempre crescente (aumento da entropia). • Teria da Relatividade: Albert Einstein (1879-1955)concebe o espaço-tempo e destrói a concepção newtoniana de espaço e tempo absolutos e separados. A noção de período de tempo relativa à velocidade do observador. • Mecânica Quântica: física dos sistema moleculares, atômicos e subatômicos, teve Max Planck (1858-1947) e Albert Einstein entre seus fundadores . Contradição entre localidade e o processo de medida é um exemplo da subversão de premissa mecanicista (separação entre observador e objeto). Max Planck Albert Einstein Charles Darwin REAÇÃO À DECADÊNCIA DO MECANICISMO: POSITIVISMO (OU EMPIRISMO) LÓGICO Eminentes filósofos, como Hans Hahn (1879-1934), Philipp Frank (1884-1966) e Otto Neurath (1882-1945) se dispuseram a aperfeiçoar a concepção comum de ciência vigente na primeira metade do século XX em um sofisticado programa filosófico (Círculo de Viena). Características do Pensamento do Círculo de Viena • Unificação da ciência como objetivo; • Sistema de fórmulas neutro, simbolismo sem as “impurezas” das linguagens históricas; • Realidade concebida como uma rede complexa nem sempre passível de visão panorâmica e frequentemente apreendida apenas por partes; • A concepção científica do mundo desconhece enigmas insolúveis e não admite conhecimentos incondicionalmente válidos a partir da razão pura ; • Tarefa do trabalho científico consiste na resolução de problemas empíricos através da análise lógica (método determinado ou positivista). Hans Hahn Philipp Frank Otto Neurath OBJEÇÕES AO POSITIVISMO LÓGICO • Ilógica da Indução: As leis da lógica não asseguram a validade do processo indutivo, ao contrário do processo dedutivo onde, se a verdade de uma proposição estiver assegurada, também o estará a de todas as proposições que dela decorrerem dedutivamente,pelo uso das leis da lógica. • Empirismo Indutivista: Eliminada a possibilidade de justificação lógica resta unicamente a justificação empírica, que é impossível. • Falseamento do Empirismo Indutivista: Dada uma proposição geral qualquer, não importa quão numerosas e variadas tenham sido as observações que lhe forneceram suporte, é sempre possível que a próxima observação venha a contrariar (falsear) a proposição geral. • Diretriz Teórica: Sem diretriz teórica alguma para guiar as observações, estas nunca poderão ser concluídas, já que a rigor deve-se considerar uma infinidade de fatores. • Parcialidade das Observações/Subjetivismo: A “grade” intelectual segundo a qual percebemos a realidade (ideias, conceitos, juízos, conhecimentos) não é objetiva, mas subjetiva e totalmente independente de nosso arbítrio. FALSEACIONISMO DE POPPER • Teorias são criações livres da mente, destinadas a ajustar-se tão bem quanto possível ao conjunto de fenômenos de que tratam. • A cientificidade de uma teoria reside, não em sua impossível prova a partir de uma base empírica, mas em sua refutabilidade. Somente as teorias passíveis de serem falseadas por observações fornecem informação sobre o mundo; as que estejam fora do alcance da refutação empírica não possuem “pontos de contato” com a realidade. • A concepção falseacionista não pretende que a investigação científica comece por observações. A teoria (pelo menos alguma expectativa ou teoria rudimentar) sempre vem primeiro. O papel fundamental das observações e testes experimentais é mostrar que algumas teorias são falsas, estimulando a produção de teorias melhores. Conseguintemente, partimos sempre de problemas práticos ou de uma teoria com dificuldades.” • Crítica ao Falseacionismo: Teorias reais não são proposições gerais isoladas, mas conjuntos de proposições, e não podem ser submetidas a testes empíricos senão quando suplementadas por teorias e hipóteses auxiliares (como referentes ao funcionamento dos aparelhos empregadosna observação), proposições acerca das condições iniciais e de contorno, etc. Karl Popper (1902-1994) PENSADORES PÓS-POPPERIANOS • O Positivismo Lógico não contextualizou o conteúdo da ciência, tomando de modo não histórico o ideal de demonstração, verdade provável, verdade lógica, métodos e técnicas. • Os pensadores pós-popperianos buscaram fundamentos históricos e sociais da estrutura das teorias. Enfatizando desenvolvimento e progresso. Thomas Kuhn (1922-1996) Imre Lakatos (1922-1974 KUHN: ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS • Paradigma: Matriz disciplinar ou modelo exemplar que integra aspectos lógicos da racionalidade nos contextos sócio históricos do conhecimento, como produto de concepções de mundo próprias de uma época ou cultura. • Os estereótipos consideram a ciência como linear e contínua (ciência normal) enquanto que a história da ciência tem mostrado que tanto as concepções teóricas quanto a ação dos próprios cientistas são movidas por revoluções. • A crise é instaurada quando a solução dos quebra-cabeças não pode ser alcançada pelo paradigma que foi adotado pela comunidade. • Três resultados para a crise: (i) aperfeiçoamento da ciência normal e solução do problema; (ii) colocação do problema em “estado dormente”, após abordagens consideradas “radicais”, e (iii) Emergência de novo paradigma. LAKATOS: PROGRAMA CIENTÍFICO DE PESQUISA • Programa de Pesquisa Lakatosiano: Estrutura que fornece um guia para futuras pesquisas. • As assunções básicas subjacentes ao programa formam o seu núcleo rígido e não devem ser rejeitadas ou modificadas. Esse núcleo rígido é resguardado contra falseações por um cinturão protetor de hipóteses auxiliares, condições iniciais, etc. • A indicação de como um programa deve ser desenvolvido é feita a partir de prescrições não muito precisas. Os programas de pesquisa são considerados progressivos ou degenerantes, conforme tenham sucesso, ou persistentemente fracassem, em levar à descoberta de novos fenômenos.
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