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Resumo Freud

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1
por Diogo Leite
1
RReessuummoo ddee FFRREEUUDD,, SSiiggmmuunndd;; OO MMaall EEssttaarr ddaa
CCiivviilliizzaaççããoo
Capítulo I
Religião -> sentimento peculiar, que pode se encontrar atuante em milhões de pessoas 
-> sentimento oceânico (comum)
-> Energia religiosa
Sentimento Oceânico: vínculo indissolúvel, de ser uno com o mundo externo como um 
todo. Forma de uma indicação da vinculação com o mundo.
Não há nada que possamos estar mais certos do que o sentimento do próprio eu, do 
próprio ego (que parece ser algo autônomo e unitário).
O ego parece ter linhas de demarcação bem claras e nítidas com o exterior. Só há um 
estado em que ele não se apresenta assim: no auge do sentimento de amor. Neste a
fronteira entre o ego e o objeto ameaça desaparecer, confusão entre o “eu” e o “tu”.
Quando há problemas na fronteira entre o ego e o mundo externo, se dá a patologia. 
O ego desenvolve-se no ser humano, a criança não tem ego quando nasce. Princípio da 
realidade -> separar o ego (interno) do mundo externo.
O ego utiliza o método para afastar desprazeres do exterior também para afastar 
desprazeres do interior. -> ponto de partida para importantes distúrbios patológicos.
O sentimento oceânico é então a junção do ego com o mundo externo.
No mundo da mente, o sentimento primitivo, que deu origem ao ego, continua 
preservado na mente ainda. Ambas as partes continuam convivendo no mesmo lugar 
(exemplo de Roma: se quisermos representar a seqüência histórica em termos 
espaciais, só conseguiremos fazer por justaposição no espaço).
A suposição de que tudo o que passou é preservado se aplica, mesmo na vida mental, 
só com a condição de que o órgão da mente tenha permanecido intacto e que seus 
tecidos não tenham sido danificados por trauma ou inflamação.
Da mesma forma se dá o desenvolvimento humano, as fases primeiras foram 
absorvidas pelas posteriores, as quais forneceram material para estas últimas. Só na 
mente é possível a preservação de todas as etapas anteriores do desenvolvimento.
Tudo que se passou na vida mental PODE ser preservado, não sendo 
NECESSARIAMENTE destruído.
2
por Diogo Leite
2
Assim podemos afirmar que o sentimento oceânico existe em muitas pessoas e nos 
inclinamos a fazer sua origem remontar a uma fase primitiva do sentimento do ego.
Que direito tem então esse sentimento de se fazer fonte das necessidades religiosas?
Necessidade de proteção na infância: pai, na vida adulta: destino, medo da morte. A 
origem da atitude religiosa pode ser remontada até o sentimento de desamparo 
infantil.
O sentimento oceânico se vinculou à religião posteriormente. “A ‘unidade com o 
universo’, que constituiu seu conteúdo ideacional, soa como uma primeira tentativa de 
consolação religiosa, como se configurasse outra maneira de rejeitar o perigo que o 
ego reconhece e ameaçá-lo a partir do mundo externo.”
Capítulo II
A religião tem apenas a função de personificar um “pai”, uma figura a quem 
responder, em substituição aos pais da infância. Respondemos e nos dirigimos a Deus 
do mesmo jeito que nos retratávamos aos nossos pais quando criança.
A vida é árdua demais, com muitos sofrimentos e decepções e para suportá-la,
temos que usar algumas medidas paliativas. Uma delas são os derivativos poderosos, 
que nos fazem extrair luz da nossa desgraça; outra são as satisfações substitutivas, 
que a diminuem; e a última são as substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis a
ela.
Exemplo de satisfações substitutivas: arte (são ilusões), que são tão eficazes 
graças ao papel que a fantasia assumiu na vida mental. Já as substâncias influenciam 
nosso corpo e alteram sua química.
A religião responde à questão do propósito da vida: “qual o sentido da vida?”.
Uma das buscas pelo homem pode ser a da felicidade, ou para ter momentos de 
prazer, ou ao mínimo para evitar os momentos de desprazeres. O que decide o 
propósito da vida é o princípio do prazer, que domina o funcionamento do aparelho 
psíquico desde o início.
“O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação 
(de preferência, repentina) de necessidades represadas em alto grau, sendo, por sua 
natureza, possível apenas como uma manifestação episódica.” Só entendemos o 
prazer por haver um contraste, ou seja, em comparação com o momento anterior. Por 
isso nossas possibilidades de felicidade são restringidas por nossa própria constituição.
Já o sofrimento de infelicidade é menos difícil de experimentar, pois pode vir 
do nosso próprio corpo (decadência, envelhecimento), do mundo externo (ambiente, 
forças, natureza – fragilidade do homem) e dos nossos relacionamentos com os 
outros homens, que talvez seja o mais penoso.
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por Diogo Leite
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Contra o sofrimento que pode advir dos seres humanos, a defesa mais imediata 
é o isolamento voluntário. Com isso pode-se buscar a felicidade da quietude, a 
felicidade de se evitar a infelicidade.
No entanto, todos os métodos para evitar o sofrimento interferem no nosso 
próprio organismo, ou seja, todo sofrimento nada mais é do que uma sensação, só 
existe na medida em que sentimos. O mais grosseiro e o mais eficaz método é o 
químico.
Além disso, nossa estrutura mental admite outras formas de influências. Uma 
delas é a busca do prazer, da felicidade, pela realização dos instintos, para se satisfazer 
sensorialmente.
Porém, tal satisfação dos instintos é controlada pelos agentes psíquicos 
superiores, diminuindo a satisfação pela realização do instinto. -> “O sentimento de 
felicidade derivado da satisfação de um selvagem impulso instintivo não domado pelo 
ego é incomparavelmente mais intenso do que o derivado da satisfação de um instinto 
que já foi domado”.
Outra técnica para afastar o sofrimento consiste no deslocamento da libido que 
nosso aparelho mental possibilita. -> reorientar os objetivos instintivos, tornar 
independente do mundo externo por processos psíquicos internos
Há outro procedimento em que a distenção do vínculo com a realidade é ainda 
maior: a satisfação das ilusões, vindas da vida da imaginação.
Outro processo é ainda mais enérgico: considera a realidade como a única 
inimiga e a fonte de todo sofrimento, de modo que se quisermos ser felizes, temos que 
romper com a realidade. Cria-se um mundo à parte, isento dos desprazeres da 
realidade.
A última técnica de conseguir felicidade e afastar o sofrimento é a “arte de 
viver”, o indivíduo passa a ser independente do “Destino”, e localiza a satisfação nos 
processos mentais internos. Obtém sua felicidade pelo apego aos objetos do mundo 
externo. Esta é a modalidade de vida que faz o amor o centro de tudo, que busca toda 
a satisfação em amar e ser amado. No entanto é a forma mais vulnerável, nunca os 
achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, tão 
desamparadamente infelizes como quando perdemos nosso objeto amado.
Uma das formas de fruição da felicidade é a da busca pela beleza, que é uma 
derivação do campo do sentimento sexual. Amor pela beleza -> impulso inibido
“A felicidade, no reduzido sentido em que a reconhecemos como possível, 
constitui um problema de economia da libido do indivíduo.”
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Assim criam-se três tipos de homem: o predominantemente erótico, que dará 
preferência aos relacionamentos emocionais; o narcisista, que é auto-suficiente, e 
tende a procurar suas satisfações em seus processos mentais internos; e o homem de 
ação, que nunca abandonará o mundo externo, onde pode testar sua força.
No entanto não devemos buscar a nossa felicidade em uma única dessas 
fontes.
Caso uma dessas fontes por algum motivo se mostre inviável, uma das 
conseqüências é a fuga para a enfermidade neurótica, ou a intoxicação crônica. 
Com isso a religião impõe um único caminho para a busca da felicidade e da 
proteção contra o sofrimento, consistindo em depreciar o valor da vida e deformar oquadro do mundo real de maneira delirante. Com isso a religião consegue poupar 
muitas pessoas da neurose individual. 
No entanto, nenhuma dessas formas de buscar a felicidade é perfeitamente 
segura, nem mesmo a religião.
Capítulo III
Duas das três formas de infelicidade (poder superior da natureza e a fragilidade 
de nossos próprios corpos) nos forçam a reconhecê-las e a se submeter ao inevitável. 
Já a terceira fonte, a fonte social de sofrimento, não a admitimos, não entendemos 
por que os regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam, ao 
contrário, proteção e benefício para cada um de nós. Podemos perceber aqui que há 
também uma parcela da natureza inconquistável, dessa vez uma parcela de nossa 
própria constituição psíquica.
Há um argumento que diz que a civilização é a grande responsável por nossas 
desgraças e que seríamos muito mais felizes se voltássemos à vida primitiva. No 
entanto todas as coisas que buscamos para nos proteger da infelicidade são oriundas 
da civilização.
A origem da insatisfação com a civilização vem então de alguns acontecimentos 
históricos específicos. Um desses fatores pode ser o relacionamento hostil do 
cristianismo com as religiões pagãs, e sua posterior vitória sobre estas. Outra ocasião 
foi quanto o progresso das navegações conduziu o contato com raças e povos 
primitivos. A última ocasião foi quando as pessoas tomaram conhecimento das 
neuroses, que ameaçam solapar a pequena parcela de felicidade do homem civilizado. 
-> “descobriu-se que uma pessoa é neurótica porque não pode tolerar suas frustrações 
que a sociedade lhe impõe, a serviço de seus ideais culturais, inferindo-se disso que a 
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abolição ou redução dessas exigências resultaria num retorno a possibilidades de 
felicidade.”
Outro fator de desapontamento é o crescente poder sobre a natureza, pelo 
progresso científico, que não aumentou a fonte de felicidade do homem. Assim o 
poder sobre a natureza não é a única condição para a felicidade, assim como não é o 
único objetivo do esforço cultural.
O progresso científico traz sim felicidade (exemplo do telefonema ou do 
telegrama para aliviar a saudade), mas na visão pessimista, de que adianta tais 
progressos, de que adianta uma vida longa se ela se revela difícil e tão cheia de 
desgraças que só a morte é reconhecida por nós como uma libertação.
Parece certo que não nos sentimos confortáveis com a civilização atual, mas em 
que grau os homens das civilizações anteriores se sentiram mais felizes? No entanto, a 
felicidade é algo totalmente subjetivo, não é possível comparar assim as felicidades 
que diferentes homens de diferentes épocas sentem.
É necessário agora, portanto, descrever a origem da civilização. A palavra 
“civilização” descreve as realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das 
de nossos antepassados animais e que servem a dois intuitos: de proteger o homem 
contra a natureza e de ajustar seus relacionamentos mútuos.
Primeiramente, reconhecemos como culturais todas as atividades e recursos 
úteis aos homens, por lhes tornarem a terra proveitosa, por protegem-nos contra a 
violência das forças da natureza, e assim por diante. Os primeiros atos da civilização 
foram a utilização de instrumentos e o controle sobre o fogo. Através destes 
instrumentos, o homem recria seus próprios órgãos ou amplia os limites de seu 
funcionamento. “O Homem tornou-se assim uma espécie de ‘deus de prótese’”. Com 
esses progressos o homem se sente mais semelhante ainda à Deus, contudo, o homem 
não se sente feliz em seu papel de semelhante a Deus.
Portanto, reconhecemos que os países que atingiram maior nível de civilização 
são os que utilizam tudo que pode ajudar na exploração da terra e na sua proteção 
contra as forças do mundo é útil para ele.
O homem também tem um anseio por beleza, a sujeira de qualquer espécie nos 
parece incompatível com a civilização. Da mesma forma entendemos nossa exigência 
de limpeza com o corpo humano. É o anseio por ordem, que é uma espécie de 
compulsão a ser repetida, que decide quando e como uma coisa será efetuada. Com 
isso, há os benefícios da ordem, de o homem utilizar o espaço e o tempo para seu 
melhor proveito, conservando ao mesmo tempo as forças psíquicas nele.
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por Diogo Leite
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Com isso, a limpeza, a beleza e a ordem ocupam uma posição especial entre 
as exigências da civilização. Outro bom caracterizador das civilizações são a estima e o 
incentivo em relação às mais elevadas atividades mentais (realizações intelectuais, 
artísticas e científicas). Entre essas idéias estão os sistemas religiosos, as especulações 
da filosofia e os “ideais” do homem, suas idéias a respeito da possível perfeição do 
homem.
O aspecto da civilização, e último, a ser analisado é a maneira pela qual os 
relacionamentos mútuos dos homens são regulados. O elemento da civilização entra
em cena com a primeira tentativa de regular esses relacionamentos sociais. A 
substituição do poder do indivíduo pelo poder da comunidade constitui o primeiro 
passo da civilização, a vida humana só se torna possível quando se reúne uma 
maioria mais forte do que qualquer outro indivíduo isolado e que permanece unida 
contra todos os indivíduos isolados. Para isso os membros dessa civilização devem 
renunciar as possibilidades de satisfação individuais e se submeterem à lei, à garantia 
de que esta não será violada em favor de um indivíduo.
Com isso, a liberdade do indivíduo não constitui o dom da civilização. Esta era 
muito maior antes da existência de qualquer civilização. A civilização impõe restrições 
a ela e a lei garante que ninguém fuja a essas restrições.
Grande parte dos conflitos da civilização se centralizou na tarefa única de 
encontrar uma acomodação conveniente. Um dos problemas é saber se essa 
acomodação pode ser alcançada por meio de uma forma específica de civilização ou se 
esse conflito é irreconciliável.
Há uma grande semelhança existente entre o processo civilizatório e o 
desenvolvimento libidinal do indivíduo. Outros instintos são induzidos a deslocar as 
condições de sua satisfação, a conduzi-la para outros caminhos. Em alguns casos esse 
processo coincide com os da sublimação com que nos achamos familiarizados. A 
sublimação do instinto constitui um aspecto particularmente evidente do 
desenvolvimento cultura, é ela que torna possível às atividades psíquicas superiores, 
científicas, artísticas ou ideológicas, o desempenho de um papel tão importante na 
vida civilizada.
Outro ponto é que é impossível desprezar o ponto até o qual a civilização é 
construída sobre uma renúncia do instinto, o quanto ela pressupõe exatamente a não-
satisfação de instintos poderosos. Essa frustração cultural domina o grande campo 
dos relacionamentos sociais entre os seres humanos e é a causa da hostilidade 
contra a qual todas as civilizações têm de lutar. Não é fácil compreender como pode 
ser possível privar de satisfação um instinto, e se a perda não for economicamente 
compensada, pode-se ficar certo que sérios distúrbios ocorrerão disto.
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Capítulo IV
Depois que o homem primitivo se deu conta de que sua sobrevivência estava 
em suas mãos, percebeu que seria vantajoso se unir a outros homens. Aí se deu a 
formação da família, onde o macho sentiu a necessidade de estar ao lado da fêmea e 
esta a necessidade de ficar junto de seus filhos, ficando também com o macho mais 
forte. No entanto nessa família primitiva, a vontade do pai era irrestrita. A vida 
comunitária dos seres humanos teve, portanto, um fundamento duplo: a compulsão 
para o trabalho, por necessidades externas; e o poder do amor. Com isso Eros e 
Ananke (amor e necessidade) se tornam os pais também da civilização humana.
Viver e obter felicidade somente do amor pode ser perigoso, portanto, as 
pessoas que optam por isso, acabam por necessitar dealterações mentais de grande 
alcance na função do amor. Com isso tais pessoas deslocam o que mais valorizam no 
ser amado para o amar, voltam seu amor não para objetos isolados, mas para todos 
os homens.
O amor que fundou a família continua a operar na civilização, tanto em sua 
forma original como em sua forma modificada. Continua a sua função de reunir 
consideráveis quantidades de pessoas de um modo mais intensivo do que o que pode 
ser alcançado através do interesse pelo trabalho em comum.
O amor genital conduz a formação de novas famílias e o “amor inibido em sua 
finalidade” cria as amizades. No entanto no decurso do desenvolvimento a relação de 
amor e civilização perde sua falta de ambigüidade. O amor se coloca em oposição aos 
interesses da sociedade e a sociedade ameaça o amor com restrições substanciais. 
Quanto mais os indivíduos de uma família se sintam ligados entre si, mais 
dificuldades terão de se unir aos outros de fora da família. As mulheres também se 
opõem à idéia de civilização, pois estas representam os interesses da família e da vida 
sexual e o trabalho de civilização tem se mostrado cada vez mais masculino. O 
trabalho masculino mina as energias da libido e a mulher se sente relegada a 
segundo plano pelas exigências da sociedade.
A sociedade deve e age fortemente contra a libido, contra o amor sexual. A 
energia psíquica da libido é direcionada a outras áreas, pois é economicamente 
vantajoso. A vida sexual do homem civilizado encontra-se severamente prejudicada. 
Às vezes somos levados a pensar que não se trata apenas de pressão da civilização, 
mas de algo da natureza da própria função que nos nega satisfação completa e nos 
incita a outros caminhos.
Capítulo V
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As frustrações da vida sexual são precisamente aquelas que as pessoas conhecidas 
como neuróticas não podem tolerar. O neurótico cria satisfações substitutivas para si.
O amor libidinal basta para dois amantes (o casal de namorados que não quer 
saber do resto do mundo). E teoricamente o amor libidinal entre pares e o vínculo com 
o mundo externo pela força do trabalho seriam suficientes, mas a civilização visa unir 
os membros da sociedade de maneira libidinal também, e usa todos os artifícios para 
que dois indivíduos sintam vontade de se unir.
A pista da origem disto pode ser: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. No 
entanto é difícil sentir amor por algum desconhecido, só é possível quando há 
identificação, quando é possível que o homem se possa amar amando aquela pessoa. 
Seria injustiça também colocar estranhos no mesmo patamar onde estão os que 
realmente amamos, pela valorização do amor que os amados dão em amá-los. Se devo 
amar a todos só por existir, então caberá a todos apenas uma pequena parcela de 
amor. (Inflação do amor, que é desvalorizado pela banalização)
No entanto esse estranho pode provocar mais o sentimento de ódio do que de 
amor, só por ser estranho. Parte-se do princípio que o outro, o estranho, não se 
importa comigo e pode fazer qualquer coisa para satisfazer seus desejos, logo, deve-se 
agir de maneira recíproca também. Do mesmo modo, o mandamento “Ama seu 
próximo como a ti mesmo” é o mesmo que “ama teu inimigo”, pois o próximo pode 
ser considerado um inimigo.
Além disso, mesmo se tal mandamento fosse respeitado, de amar o outro como 
a si mesmo, há diferenças nos seres humanos no que é classificado como bom ou mau, 
há diferenças éticas.
O elemento a que todos estão dispostos a repudiar é que “Os homens são 
criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se 
quando atacadas”, levando a crer que os dotes instintivos do homem possuem uma 
poderosa quota de agressividade. Com isso o próximo não é só apenas um ajudante 
potencial, um objeto sexual, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele 
sua agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação.
A existência da tendência para a agressão, que podemos detectar em nós 
mesmos e supor com justiça que ela está presentes nos outros, constitui o fator que 
perturba nossos relacionamentos com o nosso próximo e força a civilização a um tão 
elevado dispêndio de energia. Com isso a sociedade civilizada se vê permanentemente 
ameaçada pela desintegração. A civilização tem de se utilizar de esforços supremos a 
fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e manter suas 
manifestações sob controle por formações psíquicas reativas. Vem daí o emprego de 
métodos destinados a incitar as pessoas a identificações e relacionamentos amorosos 
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por Diogo Leite
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inibidos em sua finalidade, daí a restrição à vida sexual e daí também o mandamento 
de amar ao próximo.
No entanto os comunistas acreditam que o homem é inteiramente bom e bem 
disposto com o seu próximo, mas a instituição da propriedade privada lhe corrompeu a 
natureza. A propriedade privada concede poder ao indivíduo, e com ele, a vontade de 
maltratar o próximo.
Se a propriedade privada fosse abolida, tudo seria de todos e não haveria 
motivos para interpretar o próximo como um inimigo. No entanto a agressividade não 
foi criada pela sociedade e estava presente desde os primórdios, quando mal havia o 
conceito de propriedade.
Além disso, não é fácil aos homens abandonar a satisfação dessa inclinação 
para a agressão. Um grupo só se sente coeso quando há membros de fora deste a 
quem descontar a agressividade dos membros do grupo. É o caso de territórios 
adjacentes com rixas constantes, o “narcisismo das pequenas diferenças”.
Se a civilização nos impõe sacrifícios tão grandes, tanto pela sexualidade como 
pela agressividade, fica claro porque é tão difícil viver nessa civilização. Na verdade o 
homem primitivo se acha em situação melhor sem conhecer as restrições de instinto. 
No entanto, para este, os momentos de felicidades eram muito tênues. O homem 
civilizado trocou, portanto uma parcela de suas felicidades pela possibilidade de viver 
em segurança.
Podemos efetuar em nossa civilização alterações tais que satisfaçam melhor 
nossas necessidades e escapem às nossas críticas.
Capítulo VI
Teoria dos instintos: “São a fome e o amor que movem o mundo”, a fome pode 
ser vista como os instintos de sobrevivência ao passo que o amor visa à perpetuação 
da espécie.
A neurose foi caracterizada então como o resultado de uma luta entre o 
interesse da autopreservação e as exigências da libido, luta da qual o ego saiu 
vitorioso, ainda que ao preço de graves sofrimentos e renúncias.
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por Diogo Leite
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Conceito de narcisismo: o próprio ego se acha catexizado1 pela libido, de que o 
ego, na verdade, constitui o reduto original dela e continua a ser, até certo ponto, seu 
quartel-general.
“Ao lado do instinto para preservar a substância viva e para reuni-la em 
unidades cada vez maiores, deveria haver outro instinto, contrário àquele, buscando 
dissolver essas unidades e conduzi-las de volta a seu estado primevo e inorgânico.”-> 
Instinto de morte, de destruição. As ações da vida podem ser explicadas pela ação 
concorrente dos dois instintos. No entanto o instinto de morte é mais reprimido, mais 
escondido e, portanto mais difícil de ser observado.
Uma parte deste sentido é desviada ao mundo externo e vem à luz como um 
sentido de agressividade, de destruição. Com isso o instinto pode ser compelido a 
destruir algo ou algum organismo, ao invés de destruir a si mesmo. Com isso qualquer 
tentativa de barrar essa agressividade estaria fadada a se tornar autodestruição. 
O nome “libido” é utilizado para denotar as manifestações de poder do Eros e 
distingui-las da energia do instinto de morte. A satisfação do instinto é acompanhada 
por um alto grau de fruição narcísica, devido ao fato de presentear o ego com a 
realização de antigos desejos de onipotência deste último. O instinto de destruição, 
portanto, moderado e domado,inibido em sua finalidade, deve se dirigir a objetos 
para proporcionar ao ego a satisfação de suas necessidades vitais de controle sobre a 
natureza.
A inclinação para a agressão é, portanto, uma disposição instintiva 
original e auto-subsistente, e ela é o maior impedimento à civilização.
Logo “a civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo propósito é 
combinar indivíduos humanos isolados, depois famílias e, depois ainda, raças, povos e 
nações numa única grande unidade, a unidade da humanidade.” Tais reuniões devem 
estar libidinalmente ligadas umas às outras, a necessidade, as vantagens do trabalho 
não as manterão, por si só, unidas.
No entanto o instinto de agressividade do homem se opõe a esse programa da 
civilização. Tal instinto de agressividade é o derivado e o principal representante do 
instinto de morte.
O significado da civilização é de representar a luta entre o Eros e a Morte, o 
instinto de vida e o instinto de destruição. Portanto a evolução da civilização pode ser 
descrita como a luta pela vida.
 
1
Houaiss: Rubrica: psicologia, psicanálise: investir energia mental ou emocional na representação precisa 
de (algo); catectizar
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por Diogo Leite
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Capítulo VII
Os animais não possuem tal luta cultural, entre Eros e morte. Isso se dá, pois
um equilíbrio temporário foi alcançado entre as influências de seu meio ambiente e os 
instintos mutuamente conflitantes dentro deles, ocorrendo assim uma cessação de 
desenvolvimento. Uma das hipóteses é que, no homem primitivo, um novo acréscimo 
de libido tenha provocado um surto renovado de atividade por parte do instinto 
destrutivo.
Uma das formas de inibir a agressividade (e permitir a civilização) é introjetá-la, 
internalizá-la, enviar de volta para o lugar de onde proveio, ou seja, ela é dirigida no 
sentido do próprio ego. Surge então daí o SUPEREGO, que se coloca contra o resto do 
ego, e sob forma de consciência luta com a mesma agressividade rude contra o EGO.
Esta tensão causada pelo conflito entre os dois é o chamado sentimento de culpa, 
expressando-se como uma necessidade de punição. Deste modo a civilização 
consegue desarmar o indivíduo enfraquecendo-o e estabelecendo dentro de seu 
interior um agente para cuidar dele (SUPEREGO).
Tal sentimento de culpa pode vir não só quando uma pessoa cometer um ato 
que esta considere má, como também apenas por ter a intenção de fazer algum ato 
ruim. Surge então a questão de o porquê de a intenção ser considerada equivalente
ao ato. O que uma pessoa considera bom ou mau não é necessariamente o que pode 
ser bom ou mau para ela, para seu ego, e o que ela considera como mau pode até ser 
bom para seu ego. Está aí presente então uma influência estranha, uma influência 
externa que nos diz o que é bom e o que é mau.
Um desses fatores externos é o medo da perda de amor, ou seja, o medo da 
perda de contato com outros seres humanos. Se esta pessoa perde o amor de uma 
pessoa que é dependente, fica também desprotegida de uma série de perigos, 
sobretudo o perigo de que uma pessoa mais forte mostre sua superioridade sob 
forma de punição.
O sentimento de culpa é, portanto aquilo que, com a perda de amor, faz os 
homens se sentirem ameaçados. No entanto este perigo só se instaura quando a 
autoridade descobrir a atitude má. As pessoas só se sentem seguras a fazer alguma 
coisa má se as autoridades não descobrirem, que no caso da criança são os próprios 
pais e do adulto a sociedade como um todo.
Uma grande mudança só se realiza então quando a autoridade é internalizada 
através do conhecimento do superego, pois os fenômenos da consciência atingem um 
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estado mais elevado2. Neste ponto o medo de ser descoberto se extingue e, além 
disso, a distinção de fazer algo mau e desejar fazê-lo se extingue, já que nada pode ser 
escondido do superego. “O superego atormenta o ego pecador com o mesmo 
sentimento de ansiedade e fica à espera de oportunidades para fazê-lo ser punido pelo 
mundo externo.”
Neste estágio de desenvolvimento, quanto mais virtuosa uma pessoa é, mais 
severo e desconfiado é seu comportamento. Outro fator que acentua a influência do 
superego é a má sorte – no campo da ética – isto é, a frustração externa. Quando 
ocorre tudo bem com um homem, a sua consciência é lenitiva, mas quando o 
infortúnio lhe sobrevém, ele busca sua alma, reconhece sua pecaminosidade, eleva as 
exigências de sua consciência, impões abstinência e se castiga com penitências.
Neste caso o Destino é encarado como um substituto do agente parental. Se 
um homem tem má sorte, ele não é mais amado por esse poder supremo. Isso se 
torna especialmente claro quando o Destino é encarado como uma Vontade Divina.
Isso fica claro quando povos passam por catástrofes, sua religiosidade não diminui e 
até aumenta, sendo mais fervorosos e mais punitivos consigo mesmos por terem tido 
falta de religiosidade e ter causado a ira do Todo Poderoso.
Há duas origens, portanto, do sentimento de culpa: a que se origina por medo 
da autoridade (medo de perder o amor de quem é dependente) e o medo do 
superego. A primeira exige apenas uma renúncia às satisfações instintivas, já a 
segunda, faz isso também e ainda exige punição. Esta severidade do superego pode 
ser entendida apenas como uma extensão da autoridade externa.
Com o desenvolvimento do superego, não bastou apenas a renúncia ao 
instinto, ocorrendo um sentimento de culpa, representando uma desvantagem 
econômica na construção do superego (na construção da consciência). A infelicidade 
externa foi, portanto, transformada em infelicidade interna, pela tensão do 
sentimento de culpa.
Toda renúncia ao instinto torna-se, portanto, uma fonte dinâmica de 
consciência, e a cada nova renúncia aumenta a severidade e a intolerância desta 
última. Portanto, paradoxalmente, a consciência é o resultado da renúncia instintiva 
e a renúncia instintiva, imposta a nós de fora, cria a consciência que impõe mais 
renúncias.
“O relacionamento entre o ego e o superego constitui o retorno, deformado 
por um desejo, dos relacionamentos reais existentes entre o ego, ainda individido, e 
um objeto externo.” O superego é mais severo, pois representa nossa própria 
agressividade contra o ego.
 
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Como a idéia do panopticom de Michael Foucalt
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Há duas teorias que explicam então o sentimento vingativo do superego: ou ele 
pode vir do próprio instinto agressivo do homem ou pode ser internalizado devido 
aos mecanismos punitivos que a sociedade impõe. Neste sentido, a agressividade 
vingativa da criança será determinada pela quantidade de agressão punitiva que 
espera do pai.
Portanto, na formação do superego e no surgimento da consciência, fatores 
constitucionais inatos e influências do ambiente atuam de forma combinada.
O nome do sentimento apropriado quando se fica com o sentimento de culpa 
por ter feito uma má ação seria o remorso, pois este pressupõe a consciência, pois a 
presteza de se sentir culpado já existia antes de o ato ser cometido.
Esse sentimento de remorso é resultante da ambivalência de sentimentos. 
Depois que o ódio é satisfeito pelo ato da agressão, o amor vem para o primeiro plano, 
no remorso pelo ato cometido.
Há, portanto, uma grande influência exercida pelo papel do amor no 
sentimento de culpa. Como o homem obedece a esse impulso de amor para viver em 
grupo, a civilização só pode alcançar seu objetivo através do sentimento de culpa.
Capítulo VIII
O sentimento de culpa é o mais importante problema no desenvolvimento da 
civilização. O preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma 
perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa.
Em alguns casos de neuroses é o sentimentode culpa que se faz ruidosamente 
ouvido na consciência, domina o quadro clínico e também a vida do paciente. É e 
necessidade inconsciente de punição.
No entanto o sentimento de culpa nada mais é do que uma variedade 
topográfica da ansiedade, e em suas fases posteriores, coincide completamente com o 
medo do superego.
O sentimento de culpa concebido pela sociedade permanece inconsciente ou 
aparece como uma espécie de mal-estar. As religiões, por exemplo, nunca 
desprezaram o papel desempenhado pelo sentimento de culpa, que chamam de 
pecado.
O superego é um agente que foi por nós concebido e a consciência constitui 
uma função que, entre outras, atribuímos a esse agente, que é de manter a vigilância 
sobre as ações e as intenções do ego e julgá-las, exercendo sua censura. O 
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sentimento de culpa, a severidade do superego, é, portanto, o mesmo que a 
severidade da consciência.
É a percepção que o ego tem de estar sendo vigiado dessa maneira, a avaliação 
da tensão entre os seus próprios esforços e as exigências do superego. O medo desse 
agente crítico constitui uma manifestação instintiva por parte do ego, que se tornou 
masoquista sob a influência de um superego sádico, é, por assim dizer, uma parcela do 
instinto voltado para a destruição interna presente no ego.
Quanto ao sentimento de culpa, temos que admitir que exista antes do 
superego, e, portanto, antes da consciência também.
O sentimento de culpa era a conseqüência dos atos de agressão de que alguém 
se abstivera, em outro, porém, constituía a conseqüência de um ato de transgressão 
que fora executado. No entanto, com a instituição da autoridade interna, o superego, 
altera-se radicalmente a situação. Antes disso o sentimento de culpa coincidia com o 
remorso, mas posteriormente, devido à onisciência do superego, a diferença entre 
uma agressão pretendida e uma agressão executada perdeu sua força, daí em diante 
o sentimento de culpa poderia ocorrer não só por um ato realmente efetuado, como 
também um ato pretendido.
Primeiramente foi descrita a neurose como satisfações substitutivas para os 
desejos sexuais não realizados, mas talvez a neurose oculte uma quota de sentimento 
inconsciente de culpa, o qual, por sua vez, fortifica os sintomas. Logo, quanto uma 
tendência instintiva encontra repressão, seus elementos libidinais são transformados 
em sintomas e seus componentes agressivos em sentimentos de culpa.
O desenvolvimento do indivíduo parece ser um produto da interação entre 
duas premências, a premência no sentido da felicidade, que geralmente chamamos de 
“egoísta”, e a premência no sentido da união com os outros da comunidade, que 
chamamos de “altruísta”.
Há uma analogia que pode ser feita ao comparar o processo de constituição do 
superego do indivíduo com o superego de uma época de uma civilização, que se baseia 
na impressão deixada pelas personalidades dos grandes líderes.
Outro ponto de concordância entre o superego cultural e o individual é que o 
primeiro, tal como o último, estabelece exigências ideais estritas, cuja desobediência é 
punida pelo “medo da consciência”.
A ética pode ser considerada uma tentativa terapêutica da civilização de fazer o 
papel do superego.
Ao compararmos o desenvolvimento da civilização com o do indivíduo, e se 
emprega os mesmos métodos, não temos nós justificativa para diagnosticar que, sob 
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influência de premências culturais, algumas civilizações, ou algumas épocas da 
civilização, se tornaram “neuróticas”?
A questão fatídica para a espécie humana é até que ponto seu 
desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação de sua vida comunal
causada pelo instinto humano de agressão e autodestruição. Os homens adquiriram 
sobre as forças da natureza tal controle, que, com a sua ajuda, não teriam dificuldades 
em se exterminarem uns aos outros, até o último homem. Sabem disso, e é daí que 
provém grande parte de sua atual inquietação, de sua felicidade e de sua ansiedade. 
-> A origem do mal-estar da civilização

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