Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Instrumentos da Política de Proteção Ambiental Nos últimos anos, o debate sobre a escolha de instrumentos de política ambiental no Brasil vem se intensificando e abrindo espaço para a contribuição de economistas. "A ecologia deve conversar com a economia". Vantagens versus desvantagens do atraso em relação ao debate internacional é o dilema sempre presente em países como o nosso. O Brasil pode se beneficiar do atraso, oferecendo soluções criativas e apropriadas às nossas condições específicas. Outra alternativa é ceder à tentação de reproduzir aqui propostas de políticas ambientais, defendidas com veemência por economistas entusiasmados com modelos econômicos padrões e recomendadas por organizações multilaterais (OECD, Banco Mundial e BID), mas ainda pouco difundidas naqueles países, que dispõem de uma capacidade institucional mais adequada a esta orientação política do que a que se apresenta no Brasil. Não há dúvida de que a teoria econômica que oferece um suporte imediato para a discussão de instrumentos de política ambiental é a microeconomia neoclássica, especificamente seu conceito de externalidades. Aplicar instrumentos econômicos – em especial, as environmental taxes – que "internalizem" as externalidades no processo de decisão do agente agressor do meio ambiente, fazendo valer o princípio do "poluidor-pagador", é a orientação vencedora no debate internacional sobre política ambiental. A despeito do crescente interesse pelos instrumentos econômicos, sua repercussão na experiência internacional de política ambiental ainda é modesta se comparada com a extensão em que são empregados outros instrumentos – na linha de "comando e controle" – ou com o total dos impostos praticados nos países industrializados. Instrumentos da Política de Proteção Ambiental – ll As vantagens atribuídas aos instrumentos econômicos pelos economistas neoclássicos são, normalmente, apresentadas a partir de contraposições aos mecanismos de regulação direta, também conhecidos como políticas de "comando e controle", uma vez que estas impõem modificações no comportamento dos agentes poluidores por meio de: Brasília, de 24 a 26 de março de 1997. (1) Padrões de poluição para fontes específicas (limites para emissão de determinados poluentes, por exemplo, de dióxido de enxofre). (2) Controle de equipamentos: exigência de instalação de equipamentos antipoluição (por exemplo, filtros); obrigatoriedade de uso de tecnologias "limpas" já disponíveis. (3) Controle de processos (exemplo: exigência de substituição do insumo empregado – de óleo, combustível com alto teor de enxofre, para outro com baixo teor). (4) Controle de produtos: visa à geração de produtos "(mais) limpos", estabelecendo normas para produtos cujo processo de produção ou consumo final acarrete alguma forma de poluição. Exemplos: especificação da quantidade de agrotóxicos em produtos agrícolas e proibição de fabricação de carros com baixo desempenho energético. (5) Proibição total ou restrição de atividades a certos períodos do dia, áreas etc., por meio de: concessão de licenças (não comercializáveis) para instalação e funcionamento; fixação de padrões de qualidade ambiental em áreas de grande concentração de poluentes; e zoneamento. Tais medidas têm por finalidade um controle espacial das atividades dos agentes econômicos (outro exemplo é o rodízio de automóveis na cidade de São Paulo), procurando resguardar a capacidade de absorção de poluição do meio ambiente em questão. (6) Controle do uso de recursos naturais por intermédio da fixação de cotas (não comercializáveis) de extração (exemplos: para extração de madeira e pesca; no caso da madeira, o governo pode exigir uma cota-árvore de reflorestamento para cada unidade de extração). A principal característica da política de "comando e controle" é que esta, em base legal, trata o poluidor como "ecodelinquente" e, como tal, não lhe dá chance de escolha: ele tem que obedecer a regra imposta, caso contrário se sujeita a penalidades em processos judiciais ou administrativos. A aplicação de multas em casos de não cumprimento da obrigação é bastante usual. Essa característica é considerada uma grande desvantagem para uns e uma importante vantagem para outros. Desvantagem: os poluidores não têm liberdade para selecionar e promover os ajustes no tempo que lhes convier; não é uma regra justa, uma vez que não leva em consideração as distintas situações dos agentes individuais para cumprir a obrigação. Vantagem: estes instrumentos têm uma elevada eficácia ecológica – uma vez fixada a norma (de modo apropriado), será cumprida (se os poluidores não violarem a lei). Estudo de Impacto Ambiental (EIA) A convenção sobre Avaliação de Impacto Ambiental Transfronteiriço foi assinada em Espoo (Finlândia), em 25 de fevereiro de 1991. O acordo foi adotado no âmbito da Comissão das Nações Unidas para a Europa, tendo entrado em vigor em 10 de setembro de 1997. O preâmbulo salienta a importância de serem considerados os fatores ambientais no começo do procedimento decisório e em todos os escalões administrativos. Dessa forma, melhora-se a qualidade das informações fornecidas aos responsáveis, permitindo-lhes tomar decisões racionais do ponto de vista ambiental, limitando-se o quanto possível o impacto prejudicial das atividades pretendidas. A avaliação de impacto sobre o meio ambiente designa um procedimento nacional, tendo por objetivo avaliar o impacto provável de uma atividade proposta sobre o meio ambiente (art. 1, VI). É um ato de soberania de cada país, e não se criou órgão internacional algum para efetuar esse estudo. Os efeitos transfronteiriços constatados e analisados no procedimento de EPIA serão objeto de negociações bilaterais ou multilaterais. “O termo impacto designa qualquer efeito de uma atividade proposta sobre o meio ambiente, notadamente sobre a saúde e a segurança, a flora, a fauna, o solo, o ar, a água, o clima, a paisagem e os monumentos históricos ou outras construções ou a interação entre estes fatores” (art.1, VIII). A Convenção de Espoo trata, no art. 2, em 10 parágrafos, das disposições gerais. Resumindo essas normas, apontamos: os países engajam-se a tomar, isolada ou conjuntamente, todas as medidas apropriadas e eficazes para prevenir, reduzir e combater o impacto ambiental transfronteiriço; a avaliação de impacto ambiental deverá ser efetuada tendo em vista as atividades indicadas no Apêndice II, antes da autorização administrativa e do começo da atividade proposta: os países obrigam-se a notificar aos países que poderão sofrer as consequências das atividades propostas; procedimento de avaliação ambiental aberto à participação do público tanto do país que o elabora quanto do público das áreas dos países que poderão sofrer o impacto ambiental; além de avaliar a atividade proposta concretamente, os países farão esforços no sentido de aplicar os princípios da avaliação de impacto ambiental nas políticas, planos e programas. Estudo de Impacto Ambiental (EIA) Com a Constituição de 1988, as políticas ambientais evoluem e estados e municípios passam a ter competência para formularem suas próprias políticas, ao mesmo tempo em que determina ser direito de todos, um meio ambiente ecologicamente equilibrado e que é dever do poder público e da coletividade defendê-lo e preservá-lo. No plano institucional, a área ambiental do Estado, influenciada pela Constituição de 1988, transformava-se com a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em 1989, que passa a ter a missão de formular, coordenar e executar a PolíticaNacional de Meio Ambiente. Logo após, em 1992, foi criado o Ministério do Meio Ambiente, órgão de hierarquia superior que passa a ter a missão de formular a Política de Meio Ambiente no Brasil e o IBAMA passa a ter uma atuação mais voltada para fiscalização. A década de 1990 se inicia com avanço na estrutura dos órgãos ambientais de Estado e também nas discussões sobre a necessidade de implementação de um modelo de desenvolvimento ambiental e socialmente sustentável em escala planetária. Essas discussões culminaram com a realização da II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO’92), repercutindo profundamente na política ambiental brasileira. A conferência reuniu 179 chefes de Estado e de Governo, empresários e contou com uma inédita participação da sociedade civil por meio do Fórum das ONGs. Diversos documentos foram assinados como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a Convenção da Diversidade Biológica, a Carta da Terra, o Protocolo de Florestas, a Agenda 21 Global, entre outros. A RIO’92 foi um divisor de águas na política ambiental, pois, além de contribuir para maior participação das ONGs, trouxe também o universo empresarial para as questões ambientais, e os investimentos das empresas em meio ambiente passaram a ser crescentes nos anos subsequentes. Além disso, a conferência lançou novas políticas fomentadas por doações de cooperação internacional como o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil – PPG7. A RIO’92, de uma forma geral, não produziu mecanismos efetivos de alcance global para assegurar a aplicação de suas resoluções – a responsabilidade pelo cumprimento das decisões foi transferida aos Estados, que prioriza seus interesses nacionais. Após a RIO’92, a política ambiental no Brasil deu um salto qualitativo com a aprovação da Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza, nº 9.605/98. A sociedade brasileira, os órgãos ambientais e o Ministério Público passaram a contar com um instrumento que lhes garante agilidade e eficácia na punição aos infratores do meio ambiente. Com o surgimento da lei, as pessoas jurídicas passaram a ser responsabilizadas criminalmente, permitindo a responsabilização da pessoa física autora ou coautora da infração. O ano de 2000 se inicia com a aprovação da Lei nº 9985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza (SNUC), dividindo as unidades de conservação em Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável. O SNUC reflete um avanço na política ambiental brasileira considerando que veio fortalecer a perspectiva de uso sustentável dos recursos naturais, das medidas compensatórias e de uma descentralização mais controlada da política ambiental no Brasil. Dois anos após a criação do SNUC, foi lançada a Agenda 21 Brasileira, em 2002, com vasta consulta à população brasileira, universidades, organizações não governamentais, órgãos públicos dos diversos entes federativos. A criação da Agenda 21 Brasileira foi um avanço à medida que sensibiliza os governos locais e estaduais a encararem suas responsabilidades para um desenvolvimento sustentável, e a tomarem iniciativas para elaboração de suas Agendas 21 locais, por meio de planejamento estratégico e participativo. O Século 21 se inicia, assim, com a política ambiental mais participativa tendo em vista o crescente aumento dos conselhos deliberativos e consultivos. Em agosto de 2001, foi criado o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), que hoje possibilita a participação dos povos indígenas, das comunidades locais, das empresas e de organizações ambientalistas, como convidados permanentes com direito a voz. Em 2003, foram estabelecidas a Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO) e a Comissão Nacional de Florestas (CONAFLOR), com representantes do governo e da sociedade civil. Além disso, houve o aumento de representatividade do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) de 29 para 57 membros. Os anos seguintes contaram com o aumento da Comissão de Política de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 (CPDS) de 10 para 34 membros e com a ampliação do conselho do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) – estes são indicadores que refletem a maior participação da sociedade na Política Ambiental. Com a mudança de gestão no Ministério do Meio Ambiente, surgem novas diretrizes para a política ambiental no Brasil, dentre as quais se destacam o fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) com objetivo de promover a gestão ambiental compartilhada entre os governos federal, estadual e municipal; a efetivação do chamado princípio da transversalidade, no qual a política ambiental deixa de ser setorial para entrar na agenda dos diversos ministérios e órgãos públicos, e o maior controle e participação social nas políticas ambientais. A participação social passa a ser ampliada com a realização da Conferência Nacional do Meio Ambiente, uma iniciativa que conta com a crescente participação de milhares de pessoas a cada evento, representantes dos mais diversos segmentos do governo e sociedade, em que grandes propostas foram transformadas em ações, tais como o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia, o Plano BR-163 Sustentável, as operações de combate à corrupção do IBAMA e órgãos estaduais e a sanção da Lei de Gestão de Florestas Públicas. A política florestal passa a ser reorientada com a criação do Serviço Florestal Brasileiro e a Comissão de Gestão de Florestas Públicas (CGFLOP), com representantes de diversas áreas do poder público, de empresários, de trabalhadores, da comunidade científica, dos movimentos sociais e das ONGs, procurando atender às reivindicações da sociedade referentes ao assessoramento, à avaliação e à proposição de diretrizes para a gestão sustentável das florestas públicas da União. A política ambiental brasileira hoje deve ser pautada como prioridade na agenda internacional uma vez que os maiores problemas globais, como o das mudanças climáticas, têm forte relação de dependência com a política ambiental brasileira. O Brasil é um dos maiores emissores de Gás de Efeito Estufa do mundo e a maior parte dessas emissões é proveniente do desmatamento da Amazônia, o que reflete a importância da política florestal brasileira. O meio ambiente precisa, assim, ser prioridade na agenda do governo. O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) – I O RIMA – Relatório de Impacto Ambiental – é o relatório que reflete todas as conclusões apresentadas no EIA. Deve ser elaborado de forma objetiva e possível de se compreender, ilustrado por mapas, quadros, gráficos, enfim, por todos os recursos de comunicação visual. Deve também respeitar o sigilo industrial (se este for solicitado) e pode ser acessível ao público. Para isso, deve constar no relatório: · Objetivos e justificativas do projeto e sua relação com políticas setoriais e planos governamentais. · Descrição e alternativas tecnológicas do projeto (matéria-prima, fontes de energia, resíduos etc.). · Síntese dos diagnósticos ambientais da área de influência do projeto. · Descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação da atividade e dos métodos, técnicas e critérios usados para sua identificação. · Caracterizar a futura qualidade ambiental da área, comparando as diferentes situações da implementação do projeto, assim como a possibilidade da sua não realização. · Descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras em relação aos impactos negativos e o grau de alteração esperado. · Programade acompanhamento e monitoramento dos impactos. O RIMA/EIA se englobam dentro do AIA (avaliação de impacto ambiental), que é um instrumento preventivo usado nas políticas de ambiente e gestão ambiental com o intuito de assegurar que um determinado projeto possível de causa de danos ambientais seja analisado de acordo com os prováveis impactos no meio ambiente e que esses mesmos impactos sejam analisados e tomados em consideração no seu processo de aprovação. A elaboração de um AIA é apoiada em estudos ambientais elaborados por equipes multidisciplinares, os quais apresentam diagnósticos, descrições, análises e avaliações sobre os impactos ambientais efetivos e potenciais do projeto. Um detalhe importante é que apenas o RIMA pode ter acesso público, pois o EIA contém maior número de informações sigilosas a respeito da atividade. Assim, o texto do RIMA deve ser mais acessível ao público, e instruído por mapas, quadros, gráficos e tantas outras técnicas quantas forem necessárias ao entendimento claro das consequências ambientais do projeto. O EIA/RIMA cumpre o princípio da publicidade, pois permite a participação pública na aprovação de um processo de licenciamento ambiental que contenha este tipo de estudo, por meio de audiências públicas com a comunidade que será afetada pela instalação do projeto. ESTRUTURA DE RELATÓRIO DO RIMA Segue-se abaixo a estrutura de um RIMA: “Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental – RIMA refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo: I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais; II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias-primas, e mão de obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados; III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do projeto; IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação; V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização; VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado; VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral). Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de sua implementação.” O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) – II EIA – RIMA Estudo de impacto ambiental é um documento técnico no qual se avaliam as consequências para o ambiente, decorrentes de um determinado projeto. Nele, encontram-se identificados e avaliados, de forma imparcial e meramente técnica, os impactos que um determinado projeto poderá causar no ambiente. O EIA propõe que quatro pontos básicos sejam primeiramente entendidos, para que depois se faça um estudo e uma avaliação mais específica. São eles: · Desenvolver uma compreensão daquilo que está sendo proposto, o que será feito e o tipo de material usado. · Compreensão total do ambiente afetado. Que ambiente (biogeofísisco e/ou sócio- econômico) será modificado pela ação. · Prever possíveis impactos nos ambientes e quantificar as mudanças, projetando a proposta para o futuro. · Divulgar os resultados do estudo para que possam ser utilizados no processo de tomada de decisão. O EIA também deve atender à legislação expressa na lei de Política Nacional do Meio Ambiente. São elas: · Observar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, levando em conta a hipótese da não execução do projeto. · Identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação das atividades. · Definir os limites da área geográfica a ser afetada pelos impactos (área de influência do projeto), considerando principalmente a "bacia hidrográfica" na qual se localiza; · Levar em conta os planos e programas do governo, propostos ou em implantação na área de influência do projeto e se há a possibilidade de serem compatíveis. É imprescindível que o EIA seja feito por vários profissionais, de diferentes áreas, trabalhando em conjunto. Esta visão multidisciplinar é rica, para que o estudo seja feito de forma completa e de maneira competente, de modo a sanar todas as dúvidas e problemas. Plano Diretor Municipal e a Proteção ao Meio Ambiente O Estatuto das Cidades e os novos caminhos para o Planejamento Urbano nos Municípios Uma nova legislação nacional de política urbana surge somente em 2001, com a aprovação da Lei Federal nº 10.257, após dez anos de debates e discussões no Congresso Nacional, e com a definição de questões centrais para a reforma urbana consolidou-se, em de 10 de julho de 2001, que dispõe sobre o Estatuto das Cidades, trazendo novas condições para que os municípios enfrentem os problemas relacionados à sustentabilidade urbana. Nesse processo, os movimentos sociais pela reforma urbana tiveram um papel importante na definição dessa legislação sobre política urbana, já anunciada pelos artigos 182 e 183 da Constituição de 1988, mas que dependiam de uma regulamentação específica para serem aplicados. A maior parte desses movimentos sociais surgiu em defesa do direito à moradia e pela regularização fundiária de áreas ocupadas por favelas e loteamentos irregulares, embora essas carências estejam sempre ligadas a questões socioambientais, elas não são necessariamente tratadas em conjunto. Se por um lado a urbanização dos territórios mais excluídos das cidades depende do reconhecimento desses direitos, por outro os investimentos que o poder público realiza nas cidades por meio dos impostos arrecadados, e que valorizam o solo urbano, precisam ser democratizados e resgatados para que novos investimentos possam suprir as áreas mais carentes em infraestrutura urbana e em melhoria da qualidade ambiental dos municípios. Questões como o resgate da mais valia urbana decorrente da maior exploração do solo urbano em áreas com maior infraestrutura são tratadas no Estatuto das Cidades com a instituição do instrumento da outorga onerosa do direito de construções adicionais. Por meio da outorga onerosa do direito de construir o mercado imobiliário, poderá investir em áreas passíveis de adensamento, e ressarcir o poder público gerando recursos adicionais para que possa investir em infraestrutura urbana, sistema viário, habitação, transportes e investimentos em meio ambiente.A principal mudança do Estatuto das Cidades é que essa lei transformou o plano diretor no principal meio de garantir a aplicação desses e de outros instrumentos pelos municípios brasileiros, reforçando a capacidade do plano diretor transformar a realidade urbana. O Estatuto das Cidades passou a determinar o conteúdo mínimo do plano diretor e estabeleceu normas para sua elaboração, entre as quais se destaca a necessidade da participação da população na sua elaboração e a definição dos objetivos a serem cumpridos pela propriedade urbana e pela cidade, no cumprimento da sua função social e ambiental, como princípio básico. O Estatuto das Cidades condicionou o Plano Diretor como o orientador da definição das diferentes áreas do município em que poderão incidir a utilização de instrumentos por ele criados para que os municípios possam fazer cumprir a função socioambiental da propriedade urbana e implantar uma política de desenvolvimento e de expansão urbana. Institui diversos instrumentos de política urbana, vinculando-os ao plano diretor, e também estabelece normas para sua elaboração participativa – tratou, em capítulo específico, da gestão democrática da cidade, da participação da população na definição das políticas públicas e do cumprimento da função social da propriedade. Entre os novos instrumentos de gestão urbana, destacam-se a outorga onerosa de potencial construtivo; a transferência do direito de construir; o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; e três tipos de Coeficientes de Aproveitamento, máximo, mínimo e básico para regular a função social da propriedade urbana e que requerem a revisão das formas usuais de planejamento, de controle do uso do solo e de zoneamento urbano, separando o coeficiente de aproveitamento construtivo do tipo de uso do solo permitido. Destaca-se também, pela primeira vez em uma lei urbanística nacional, a introdução nas diretrizes para a ordenação e controle do uso do solo de questões ambientais, como a poluição e degradação ambiental, o controle do uso excessivo ou inadequado do solo em relação à infraestrutura urbana, a adoção de padrões de produção de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites de sustentabilidade ambiental, social e econômica do município e do território sob sua área de influência, assim como a preservação, conservação e proteção do meio ambiente natural e construído. Além dessas diretrizes, são também criados, em conjunto com os demais instrumentos de gestão urbana já citados, a instituição de unidades de conservação, o zoneamento ambiental e os estudos prévios de impacto ambiental (EIA) e de impacto de vizinhança (EIV). Assim, o Estatuto da Cidade instituiu uma nova política urbana e confirmou que o Plano Diretor não é um produto puramente técnico e científico, mas um instrumento que requer a democratização de sua elaboração por meio da participação da sociedade civil organizada. Por outro lado, reconheceu a existência de conflitos e a necessidade de processos de negociação decorrentes dos interesses divergentes, existentes na sociedade brasileira para a solução dos problemas socioambientais da urbanização, e para a necessidade de inserção da sustentabilidade ambiental em planos diretores. Somente a partir desses processos públicos, o Plano Diretor poderá transformar-se em lei municipal que oriente o futuro da cidade. O Plano Diretor Municipal e a Proteção ao Meio Ambiente – II A Aplicação dos Instrumentos do Estatuto da Cidade no Plano Diretor. O plano diretor permite a aplicação dos instrumentos de gestão urbana institucionalizados no Estatuto da Cidade, e utilizando-os para implementar os objetivos e as diretrizes definidas no plano por meio dos seguintes instrumentos: a) parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, IPTU progressivo no tempo e desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública, aplicados a imóveis localizados em favelas e áreas com habitações precárias e transformados em Zonas Especiais de Interesse Social no Plano Diretor, de forma a cumprir a função social da propriedade e enfrentar a questão da carência por moradias adequadas para as populações de baixa renda; b) concessão urbanística – por meio de permissão de parcerias público-privada para a realização consorciada de obras de urbanização ou de reurbanização de quaisquer áreas da cidade necessárias à implementação de melhorias urbanas; c) concessão de uso especial e usucapião especial, incluindo o coletivo, para atender às necessidades de moradia social; d) direito de superfície, a ser concedido (ou negociado) por proprietário de imóvel urbano ao município e a entidades públicas de direito privado, para viabilizar a utilização do espaço superficial, aéreo e subterrâneo, necessário à implementação de diretrizes do plano diretor. Por exemplo, para melhoria da paisagem urbana com a modernização das redes de infraestrutura por meio de galerias subterrâneas; e) direito de preempção, para dar preferência ao poder público na aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares, a fim de facilitar a execução de melhorias viárias e de infraestrutura em geral: piscinões, criação de parques e áreas verdes e outras; f) outorga onerosa do direito de construir, para permitir a construção acima do coeficiente básico mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário, que será importante fonte de recursos extraorçamentários para ampliar a capacidade de investimentos do município na melhoria física da cidade; g) transferência de potencial construtivo, para compensar eventuais perdas econômicas advindas de eventual impedimento legal de utilização do Coeficiente de Aproveitamento básico em determinado imóvel e também para incentivar a manutenção de áreas verdes e de produção agrícola ou extrativista no município; h) operação urbana consorciada, para viabilizar transformações urbanísticas localizadas por meio de intervenções conjuntas dos setores público e privado; i) consórcio imobiliário por meio de permissão para o poder público receber, por transferência, imóveis para um melhor aproveitamento, por meio de concessão urbanística ou outra forma de contratação. A política ambiental municipal também pode fazer parte explícita do Plano Diretor com o objetivo de implementar as diretrizes da política nacional de meio ambiente, recursos hídricos e saneamento, criando os seguintes instrumentos de gestão urbana e ambiental: a) o zoneamento ambiental do município como instrumento definidor das ações e medidas de proteção e recuperação da qualidade ambiental do espaço, e com a definição dos fatores ambientais a considerar, por exemplo: ruído, vibração, poluição do ar, odores etc.; b) o Licenciamento Ambiental e os Estudos de Impacto Ambiental e o RIMA para que empreendimentos com impacto ambiental significativo tenham seus problemas tratados pelo município previamente à sua implantação, a exemplo de novas vias e linhas de metro, ou empreendimentos como aterros sanitários, estações de tratamento de esgotos, entre outros; c) o Estudo de Impacto de Vizinhança e o respectivo Relatório de Impacto de Vizinhança, para empreendimentos que causem alterações das características urbanas do entorno, a exemplo de shoppings centers, estádios, centros de lazer e grandes conjuntos habitacionais e/ou de serviços etc; d) o Termo de Compromisso Ambiental – TCA, para compensar autorizações para supressão de vegetação e/ou recuperar o meio ambiente em decorrência de atividades que causem degradação ambiental, como o parcelamentodo solo para fins de urbanização, entre outros; e) a Avaliação Ambiental Estratégica de Políticas, Planos e Programas Setoriais Públicos, visando reduzir seus impactos estratégicos ao meio ambiente urbano, como planos de transporte, de saneamento, de habitação e grandes intervenções urbanas. O Estatuto permite ainda que o Plano Diretor promova a efetivação de transformações no espaço urbano em direção à implantação e/ou readequação de uma estrutura urbana adequada para o município. Para tal, permite intervenções e reestruturações de áreas urbanas para melhoria de circulação viária, infraestrutura de transporte, espaços abertos, parques e novas centralidades. A definição no âmbito do Plano Diretor de Áreas de Intervenção Urbana (AIUs) facilita a identificação dos perímetros de áreas em que os instrumentos do Estatuto poderão ser utilizados, conforme exige a lei federal, e que serão também objeto de Projetos Urbanísticos Específicos para atingir os objetivos urbanísticos do Plano Diretor. No caso do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, por exemplo, as AIUs definidas são as seguintes: a) áreas de operação urbana consorciada e áreas de projeto definidas para revitalizar ou dinamizar áreas urbanas subutilizadas; b) áreas de intervenção urbana para a implantação de parques lineares; c) áreas de eixos e polos de centralidade, em função das nucleações consolidadas e/ou potenciais de comércio (lojas diversas, shoppings, supermercados, equipamentos públicos – de saúde, segurança –, de comunicação, locais de encontro etc.); d) áreas para a implantação de rede viária estrutural, demarcadas ao longo das vias estruturais propostas, medidas a partir do eixo da via, e nas existentes no caso de melhoramentos; e) áreas para a implantação de rede de transporte público, definidas por uma faixa de 300 metros de largura de cada lado dos alinhamentos do sistema de transporte público coletivo de massa e “círculos com raio de até 600 metros, tendo como centro as estações de transporte coletivo metroviário ou ferroviário”.
Compartilhar