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GE Atualidades 1° Semestre 2016

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3GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
O passo final é continuar estudando atualidades, pois as provas exigem 
alunos cada vez mais antenados com os principais fatos que ocorrem 
no Brasil e no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes o 
seu processo seletivo – o Enem, por exemplo, é bem diferente dos 
demais vestibulares.
arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE ENEM e o GE Fuvest são ver-
dadeiros “manuais de instrução”, que mantêm você atualizado sobre 
todos os segredos dos dois maiores vestibulares do país. Também não 
dá para perder a próxima edição do GE Atualidades, que será lançada 
em agosto, trazendo novos fatos do noticiário que ainda podem cair 
nas provas dos processos seletivos do final do ano.
Um plano para 
os seus estudos
Este GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES oferece uma ajuda e tanto 
para as provas, mas é claro que um único guia não abrange toda a preparação 
necessária para o Enem e os demais vestibulares.
É por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem uma série de publicações que, 
juntas, fornecem um material completo para um ótimo plano de estudos. O 
roteiro a seguir é uma sugestão de como você pode tirar melhor proveito de 
nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas.
O primeiro passo para todo vestibulando é escolher com clareza a 
carreira e a universidade onde pretende estudar. Conhecendo o grau 
de dificuldade do processo seletivo e as matérias que têm peso maior 
na hora da prova, fica bem mais fácil planejar os seus estudos para 
obter bons resultados.
arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE PROFISSÕES traz todos os 
cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as carac-
terísticas de mais de 260 carreiras e ainda indica as instituições que 
oferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking 
de estrelas do GUIA DO ESTUDANTE e com a avaliação oficial do MEC.
Para começar os estudos, nada melhor do que revisar os pontos mais 
importantes das principais matérias do Ensino Médio. Você pode re-
passar todas as matérias ou focar apenas em algumas delas. Além de 
rever os conteúdos, é fundamental fazer muito exercício para praticar.
arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ Nós produzimos todos os anos um 
guia para cada matéria do Ensino Médio: GE MATEMÁTICA, História, 
Geografia, Português, Redação, Biologia, Química e Física. Todos 
reúnem os temas que mais caem nas provas, trazem muitas questões 
de vestibulares para fazer e têm uma linguagem fácil de entender, 
permitindo que você estude sozinho.
Os guias ficam um ano nas bancas – 
com exceção do ATUALIDADES, que é 
semestral. Você pode comprá-los também 
nas lojas on-line das livrarias Saraiva 
e Cultura. 
FOTO: STRINGER/REUTERS
1 Decida o que vai prestar
2 Revise as matérias-chave
3 Mantenha-se atualizado
FALE COM A GENTE: 
Av. das Nações Unidas, 7221, 18º andar, 
CEP 05425-902, São Paulo/SP, ou email para: 
guiadoestudante.abril@atleitor.com.br
CALENDÁRIO GE 2016
Veja quando são lançadas 
as nossas publicações
MÊS PUBLICAÇÃO
Janeiro
Fevereiro GE HISTÓRIA
Março GE ATUALIDADES 1
Abril
GE GEOGRAFIA
GE QUÍMICA
Maio
GE PORTUGUÊS
GE BIOLOGIA
Junho
GE ENEM
GE FUVEST
Julho GE REDAÇÃO 
Agosto GE ATUALIDADES 2
Setembro
GE MATEMÁTICA
GE FÍSICA
Outubro GE PROFISSÕES
Novembro
Dezembro
APRESENTAÇÃO
ATUALIDADES VESTIBULAR + ENEM / Ed.23 / 1º SEMESTRE 2016
SUMÁRIO
6 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
ESTANTE
8 Dicas culturais Sugestões de filmes, histórias em quadrinhos e 
fotografias que complementam reportagens desta edição 
PONTO DE VISTA
16 Retrospectiva/Perspectiva Veja o que os principais semanários 
destacaram em seu balanço de 2015 e o que se espera para 2016
18 Crise política Como os jornais noticiaram o vazamento de 
denúncias do senador Delcídio do Amaral (PT) contra o governo 
DESTRINCHANDO
20 Olimpíadas no Brasil Veja com gráficos e mapas o que 
os jogos olímpicos têm a ver com história, geopolítica, 
desenvolvimento socioeconômico e urbanização
 
DOSSIÊ ESTADO ISLÂMICO 
26 A ameaça terrorista O avanço do extremismo jihadista desafia a 
segurança internacional e desestabiliza o Oriente Médio
28 Por dentro do Estado Islâmico Como o grupo conquistou territórios 
e se tornou a organização extremista mais poderosa do mundo
32 A guerra civil devasta a Síria Entenda o conflito, veja como ele 
fortaleceu o Estado Islâmico e de que forma interfere na intrincada 
geopolítica do Oriente Médio
38 Cobiça internacional acirra conflitos O histórico da desastrosa 
ingerência ocidental no Oriente Médio e como isso afeta as relações 
entre os países da região
42 A imensidão do mundo muçulmano A história da religião 
 
 
 
INTERNACIONAL
46 União Europeia O drama humano e político dos milhares de 
refugiados que chegam ao Velho Continente
54 Rússia A potência intervém na Guerra da Síria e volta a se 
contrapor militarmente ao Ocidente
58 Turquia Cresce a tensão política e religiosa no país
62 Guerra Civil Espanhola Há 80 anos começava o sangrento conflito 
que antecipou a II Guerra Mundial 
64 América Latina Eleitores mudam os rumos políticos na Argentina 
e na Venezuela, parceiros do Brasil no continente
70 África O continente que depende das exportações de matérias-
primas e é afetado pela queda internacional dos preços 
76 Ártico O degelo provocado pelo aquecimento global abre novas 
rotas mercantes e frentes de extração de petróleo e gás do subsolo 
 
BRASIL
78 Impeachment Entenda como é esse processo legal que ameaça o 
segundo mandato da presidente Dilma Rousseff
84 Corrupção no Congresso Deputados e senadores sob pressão
88 Ditadura militar Manifestantes pedem a volta dos militares
92 Reforma política O Supremo Tribunal Federal (STF) proíbe a doação 
de empresas privadas aos partidos nas campanhas eleitorais
 
ECONOMIA
94 Crise econômica Ajuste fiscal do governo tenta equilibrar as 
contas, mas provoca recessão e desemprego
100 Plano Cruzado O fracasso do primeiro grande plano para tentar 
 frear a inflação congelando os preços.
102 Agropecuária A exportação de alimentos fortalece o agronegócio
108 Matriz de energia O impacto da queda internacional dos preços 
 do petróleo na economia dos países e de empresas como a Petrobras 
114 Globalização EUA anunciam o Transpacífico, o maior acordo global 
de livre-comércio já criado 
 
 QUESTÕES SOCIAIS
120 Gênero Avanços e lutas das mulheres por seus direitos
126 Urbanização Os desafios crescentes das grandes metrópoles
132 Demografia A China decide flexibilizar a política de filho único
136 Papa Francisco Um líder progressista e ativo na diplomacia
140 IDH O desenvolvimento humano avança no Brasil
 
CIÊNCIAS E MEIO AMBIENTE
144 Aquecimento global Entenda o acordo de todos os países na 
COP-21, que substituirá o Protocolo de Kyoto
150 Desastre ambiental As questões levantadas e as consequências do 
rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG)
154 Chernobyl Há 30 anos ocorria o maior acidente nuclear da história
156 Doenças O vírus zika e a microcefalia assustam o Brasil e o mundo 
162 Marte A Nasa encontra água no planeta vermelho
SIMULADO
164 Teste 37 questões dos vestibulares sobre temas desta edição
PENSADORES
178 Zygmunt Bauman O sociólogo que discute a sociedade líquida
MAR E LAMA 
Na foz do Rio Doce, 
a lama que vazou 
em Mariana (MG) 
encontra o mar em 
Linhares (ES), em 
novembro de 2015
FABIO BRAGA/FOLHAPRESS
FILMES E QUADRINHOS NOS FALAM DO MUNDO ATUAL E SEUS DRAMAS CONTEMPORÂNEOS
ESTANTE
8 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
É possível abordar um tema tão grave quanto a situação dos imigrantes na Europa de forma 
leve e descontraída? O filme francês 
Samba mostra que sim. Dirigido por 
Oliver Nakache e Eric Toledano, os 
mesmos da comédia
de sucesso Into-
cáveis, a obra tem a rara qualidade de 
equilibrar drama e comédia – além 
de generosas doses de romance – sem 
desviar o foco do tema principal: a vida 
de um migrante na França.
O protagonista do filme é Samba Cis-
sé, um senegalês que mora ilegalmente 
em Paris há dez anos. Ele sobrevive de 
pequenos bicos e subempregos, en-
quanto tenta obter um visto de per-
manência legal no país. Ao ser preso 
Samba aborda a situação dos 
migrantes na França com 
leveza e descontração 
Sem perder 
a ternura
FILMES
pelo serviço migratório, Samba recebe 
a ajuda de uma ONG que auxilia os 
imigrantes ilegais na França. Uma das 
voluntárias é Alice, uma executiva afas-
tada do trabalho por estresse. Quando 
Samba sai da prisão, recebe a ordem 
para deixar o país, mas ele decide ficar 
na França e é ajudado por Alice para 
permanecer em Paris. 
Ao acompanhar as agruras de Samba 
na capital francesa, testemunhamos 
com um olhar privilegiado as compli-
cadas situações às quais os imigrantes 
ilegais são submetidos para conseguir 
permanecer – e sobreviver – na Europa. 
Samba vive de favor com um tio, que 
conseguiu o principal objeto de desejo 
dos imigrantes – um visto de residência 
DI
VU
LG
AÇ
ÃO
9GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
Em Dheepan – O Refúgio, um 
homem, uma mulher e uma 
criança do Sri Lanka tentam 
se adaptar à vida na França
A realidade 
nua e crua dos 
refugiados
permanente. Sem isso, Samba se vira 
para conseguir documentos falsos e po-
der se candidatar a alguma vaga de tra-
balho. E mesmo quando arruma alguns 
bicos, são trabalhos precários, que vão 
desde separador de lixo a limpador de 
janelas nos arranha-céus parisienses.
O filme também não deixa de ex-
plorar o sentimento de exclusão pelo 
qual passam os imigrantes nas grandes 
cidades europeias. Ao seguir os passos 
de Samba pelas ruas parisienses acom-
panhamos a sua tensão ao dobrar cada 
esquina diante da possibilidade de ser 
pego novamente pela polícia. Já no 
vagão do metrô, Samba é alvo de olha-
res desconfiados dos franceses, o que 
denuncia algumas atitudes xenófobas, 
ainda que veladas.
No entanto, na maior parte do filme, 
essa carga dramática passa por um fil-
tro cômico e romântico que suaviza a 
tensão vivida pelo protagonista. Em boa 
medida, o mérito dessa fórmula está na 
forma como o roteiro conduz a interação 
de Samba com outros personagens. As 
situações compartilhadas entre Sam-
ba e Wilson, um imigrante “brasileiro”, 
rendem boas risadas. Já a atração mútua 
entre o protagonista e Alice, a voluntária 
da ONG, confere ao filme uma leveza, 
ainda que abuse um pouco do clichê 
romântico “os opostos se atraem”.
Ao tratar da complexa situação dos 
imigrantes na Europa e da difícil inte-
gração em uma sociedade pouco afeita 
à aceitação de estrangeiros vindos da 
África, o filme toca em uma ferida mui-
to exposta no continente. Pelo tema, 
bastante atual, o filme já seria uma boa 
dica para quem vai prestar o vestibular. 
Ao conseguir fazer a crítica social sem 
soar excessivamente sisudo ou panfle-
tário além da conta, o filme torna-se 
ainda mais atraente.
SAMBA
Direção | Oliver Nakache e Eric Toledano Ano | 2014
A vida dos refugiados na Euro-pa vem sendo explorada com muita frequência pela cine-
matografia francesa nos últimos anos. 
Além de Samba, outro filme recente 
que aborda o tema com bastante pro-
priedade é Dheepan – O Refúgio. Mas 
se o primeiro aposta em uma narrativa 
mais leve e descontraída, o segundo 
prefere uma dramatização mais nua e 
crua da situação dos migrantes.
O protagonista do filme é Dheepan, um 
membro do grupo Tigres de Libertação 
da Pátria Tâmil, uma milícia do Sri Lanka 
que, entre 1983 e 2009, enfrentou as tro-
pas do governo em uma luta separatista 
no norte e no leste do país. Quando a 
guerra termina com a derrota de seu 
grupo, ele se une a uma mulher desco-
nhecida e uma criança órfã, fingindo 
constituir uma família para tentar um 
visto de permanência na França.
Ao chegar em Paris, os três passam 
a viver juntos, como uma verdadeira 
família. Dheepan consegue um trabalho 
como zelador de um conjunto habitacio-
nal no subúrbio da capital francesa. O 
condomínio é barra-pesada, dominado 
por gangues de tráfico de drogas. A mu-
lher passa a cuidar de um idoso doente, 
onde também vive um traficante que 
acaba de sair da prisão. Enquanto isso, a 
garota tenta se integrar entre os colegas 
na escola e aprender o novo idioma. 
A trama se desenvolve em torno desse 
falso núcleo familiar. A tentativa dos 
dois adultos que mal se conhecem em 
se adaptar a uma difícil convivência e 
tentar ajudar na criação de uma garota 
órfã confere um desafio a mais na vida 
desses refugiados. Além disso, o fato de 
os três viverem na periferia em meio à 
violenta disputa entre traficantes torna 
a situação ainda mais extrema.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival 
de Cannes de 2015, Dheepan tem como 
principal mérito equilibrar a delicadeza 
do drama familiar desses refugiados com 
a crueza da guerra entre as gangues. Sob 
um registro que muitas vezes beira o 
documental, o filme é um ótimo com-
plemento ao extrovertido Samba como 
estudo da crise migratória na Europa.
DHEEPAN – O REFÚGIO
Direção | Jacques Audiard Ano | 2015
DI
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ESTANTE
10 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
QUADRINHOS
A ditadura em 
traços críticos
Duas obras com fatos e 
horrores da ditadura militar, 
em charges e quadrinhos
A s histórias reais de estudantes, militantes políticos, guerri-lheiros e líderes rurais e in-
dígenas presos, torturados e mortos 
por agentes e militares da ditadura 
(1964-1985) ganham no livro Notas de 
um Tempo Silenciado uma narrativa 
jornalística em quadrinhos, com texto 
e desenhos de Robson Vilalba. 
São 13 histórias curtas, reconstruídas 
após um extenso trabalho do autor em 
entrevistas com sobreviventes, amigos 
e familiares das vítimas, autores de 
biografias, historiadores e pesquisas 
para conseguir, inclusive, fotos para 
desenhos realistas dessas pessoas. 
As primeiras oito histórias reportadas 
por Vilalba foram originalmente publi-
cadas na série Pátria Armada Brasil, no 
jornal Gazeta do Povo, de Curitiba. Elas 
receberam o prêmio Vladimir Herzog 
de Anistia e Direitos Humanos 2014, 
organizado pelo Sindicato dos Jorna-
listas do Estado de São Paulo.
Para este livro, porém, o autor acres-
centou outras cinco produções, com 
destaque para o avanço agressivo dos 
militares sobre as terras indígenas, a 
criação de um presídio para indígenas 
e de uma guarda rural indígena pela 
Fundação Nacional do Índio (Funai) 
treinada para torturar líderes dos ín-
dios. Um capítulo final (Salvadores da 
Pátria) resgata o histórico dos golpes 
como uma herança maldita dos mili-
tares, iniciada com a Proclamação da 
República até chegar ao golpe de 1964, 
e sua influência do positivismo. 
A obra é enriquecida com uma repor-
tagem sobre a eclosão do movimento 
negro Black Music nos anos de 1970 no 
Rio de Janeiro e a repressão a alguns de 
seus expoentes, além de inúmeros de-
poimentos sobre cada história revelada, 
entre os quais o da psiquiatra Maria 
Rita Kehl, que integrou a Comissão 
Nacional da Verdade. 
Já o arquiteto e artista plástico Luiz 
Gê aborda o tema com bastante ironia 
em seu livro Ah, Como Era Boa a Di-
tadura. A obra traz charges publicadas 
pelo no jornal Folha de S.Paulo a partir 
de 1981, sobre fatos políticos, econômi-
cos e sociais do último governo militar, 
o do general João Baptista de Oliveira 
Figueiredo. Luiz Gê explora fatos como 
a explosão da dívida externa, a derroca-
da econômica e a chamada estagflação 
(estagnação econômica simultânea a 
desemprego com taxas de inflação es-
tratosféricas) – resultado da submissão 
dos militares à imposição
de políticas 
recessivas pelo Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) –, as armações políticas 
que impediram a volta de eleições dire-
tas para a Presidência já em 1985 e os 
personagens políticos daqueles anos. 
Textos introdutórios no livro, e na 
abertura de cada ano, situam o leitor 
mais jovem sobre fatos e aspectos do 
período para ajudar a entender a ironia 
das charges. Além de um texto conclu-
sivo, Luiz Gê agrega uma galeria dos 
principais personagens, em que revela 
seu talento para fazer caricaturas. 
NOTAS DE UM TEMPO SILENCIADO
Autor Robson Vilalba
Editora BesouroBox, 103 páginas
AH, COMO ERA BOA A DITADURA
Autor Luiz Gê
Editora Quadrinhos na Cia. (Companhia das 
Letras), 288 páginas. 
ESTANTE
QUADRINHOS
12 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
RE
PR
O
DU
ÇÃ
O
O polêmico 
Irã em foco
HQs belas e emocionantes 
abordam a opressão sofrida 
pelo povo iraniano
O Irã é um dos protagonistas do cenário global, sobretudo des-de a Revolução Islâmica de 
1979. Sua importância econômica vem 
do fato de que possui uma das maiores 
reservas mundiais de petróleo. Politica-
mente, o país é um dos líderes do mun-
do islâmico, em tensão com os Estados 
Unidos e os países ocidentais há mais 
de três décadas. Em anos recentes, vive 
em constante tensão interna e externa. 
Esse cenário convulsionado é o pano 
de fundo de duas excelentes histórias 
em quadrinhos feitas por iranianos que 
ganharam destaque mundial.
Persépolis, a autobiografia em qua-
drinhos de Marjane Satrapi, narra a his-
tória do país dos anos 1970 até a década 
de 1990, passando pela Revolução de 
1979 – que derrubou a ditadura pró- 
EUA do xá Reza Pahlevi e implantou 
a atual república islâmica. Na narrati-
va de Satrapi, publicada no Brasil em 
2007, é como se o povo iraniano tivesse 
pulado da frigideira para o fogo.
Marjane tinha 10 anos quando se 
viu obrigada a usar véu e a estudar em 
uma sala de aula só de meninas. Era o 
resultado do Estado religioso erguido 
no país, com sua atmosfera sufocante e 
autoritária. Persépolis aborda, com hu-
mor leve e irônico, o dia a dia opressivo 
dos iranianos, convivendo com tortu-
ras, assassinatos, pressão nas escolas e 
a guerra contra o Iraque (1980-1988).
O impacto da obra lhe conferiu re-
percussão mundial e muitas premia-
ções. Persépolis foi escolhida a melhor 
história em quadrinhos de 2004 na 
Feira de Frankfurt. Sua versão cine-
matográfica venceu o prêmio do júri 
no Festival de Cannes de 2007.
Mais recentemente, os leitores brasi-
leiros puderam ver O Paraíso de Zahra, 
publicado em 2011, cujos autores são 
anônimos, com pseudônimos de Amir 
e Khalil. Trata-se de um retrato can-
dente da sociedade iraniana, em um 
momento recente: o Movimento Verde, 
em 2009, em que milhares de pesso-
as tomaram a Praça da Liberdade, em 
Teerã, acusando de fraude as eleições 
que reconduziram o então presidente 
Mahmoud Ahmadinejad ao cargo. Mais 
de 70 pessoas foram mortas pela polícia 
e 4 mil foram presas.
A história começa com o desapareci-
mento do estudante Mehdi Alavi, de 19 
anos, nos protestos. Sua mãe, Zahra, e 
seu irmão, Hassan, vão à praça e ficam 
sabendo da violenta repressão. Come-
çam então uma angustiante busca, que 
se estende por semanas, pelos labirin-
tos de hospitais, repartições públicas 
e prisões – em busca de Mehdi. É uma 
viagem pelas entranhas do regime che-
fiado pelos aiatolás.
O Paraíso de Zahra é uma obra em 
quadrinhos prodigiosa, magnifica-
mente desenhada, que fala muito da 
realidade do Irã, complementando a 
história de turbulências e instabilida-
des retratada em Persépolis. Juntas, 
as publicações atuam como registro 
da luta permanente pela liberdade em 
um país marcado pela opressão. box
PERSÉPOLIS
AUTOR Marjane Satrapi
EDITORA Companhia das Letras, 352 páginas
O PARAÍSO DE ZAHRA
AUTOR Amir & Khalil
EDITORA Leya, 272 páginas
ESTANTE
14 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
FOTOGRAFIA
Em 2015, mais de 1 milhão de migrantes e refugiados che-garam à Europa cruzando as 
águas do Mar Mediterrâneo. Outros 3,5 
mil não conseguiram fazer a travessia 
e morreram afogados na tentativa de 
chegar ao Velho Continente. Mais da 
metade dos migrantes vêm da Síria, 
fugindo da brutal guerra civil que de-
vasta o país desde 2011.
Mas esses números, ainda que im-
portantes e alarmantes, são incapazes 
de revelar o drama particular dessas 
pessoas que deixam tudo para trás e 
se arriscam em viagens perigosas para 
tentar reconstruir suas vidas. Em con-
traposição, as imagens, muito mais que 
indicadores e estatísticas, conseguem 
revelar o lado humano da crise dos 
refugiados e tentam nos aproximar da 
dura realidade vivida por eles.
Desde 1955, a Fundação World Press 
Photo (WPP) realiza uma premiação 
internacional para escolher as melho-
res fotos jornalísticas do ano. A imagem 
que você vê acima é a grande vencedora 
deste ano na premiação da WPP. Ela 
mostra um homem passando um bebê 
para outra pessoa por baixo de uma 
cerca de arame farpado. 
A imagem foi registrada pelo fotógra-
fo australiano Warren Richardson no 
dia 28 de agosto de 2015, na fronteira 
entre a Sérvia e a Hungria. Os dois paí- 
ses fazem parte da rota que milhares 
de migrantes vindos do Oriente Mé-
Imagens que revelam o lado 
humano dos problemas globais
Fotos premiadas no World Press Photo de 2016 mostram o 
sofrimento de quem é obrigado a fugir de guerras e perseguições
dio tentaram cruzar, cujo destino final 
era a Alemanha. Segundo Richardson, 
que acampou com os refugiados, essas 
pessoas tentavam chegar à Hungria 
antes que a cerca de segurança esti-
vesse concluída.
O que mais impressiona na foto é a 
força que a imagem em preto e bran-
co transmite, mesmo com poucos ele-
mentos. No rosto do homem é possível 
perceber a tensão e a ansiedade do mo-
mento. O bebê nos remete ao sofrimento 
das crianças que são obrigadas a deixar 
seus lares sem entender direito por quê. 
Por fim, a cerca de arame farpado tem 
o poder de simbolizar as restrições a 
que os refugiados são submetidos e as 
barreiras que precisam superar.
ESTANTE
15GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
Imagens de desespero
A imigração é um assunto que tem apa-
recido com frequência nos vestibulares, 
e a leitura e a intepretação de fotos como 
a vencedora do concurso da WPP podem 
ajudar bastante no estudo de atualidades.
Na premiação de 2016, tiveram bas-
tante destaque as imagens da guerra 
civil na Síria e a fuga dos refugiados 
das áreas de conflito. A foto acima, do 
fotógrafo sírio Abd Doumany, mostra 
uma garota ferida em um bombardeio 
realizado pelo governo da Síria. Ao lado, 
a imagem captada pelo russo Sergey 
Ponomarev revela a situação dos mi-
grantes que se amontoam em pequenas 
embarcações para chegar à Grécia.
Mas a premiação da WPP não ficou 
restrita ao tema dos refugiados. Outras 
imagens vencedoras abordam grandes 
desafios do mundo contemporâneo, 
como o aquecimento global, a epidemia 
de ebola, a violência contra a mulher e 
a exploração do trabalho infantil. 
No site da WPP, você pode confe-
rir todos os premiados desta edição: 
http://www.worldpressphoto.org/
collection/photo/2016. box
A ROTA ATÉ A EUROPA Na guerra entre o regime sírio, rebeldes e extremistas, a população 
fica no meio de um violento fogo cruzado. Acima, a imagem mostra uma garota síria ferida em 
bombardeio das forças do governo, em tratamento em um hospital improvisado na cidade de 
Douma. Muitas pessoas não suportam a situação e decidem abandonar o país, como mostra a 
imagem abaixo de uma pequena embarcação chegando à vila de Skala, na Ilha de Lesbos, na 
Grécia. Já a foto premiada, na página ao lado, revela os obstáculos que os refugiados recém-
chegados à Europa são submetidos para conseguir recomeçar suas vidas. 
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PONTO DE VISTA
16 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
UM MESMO FATO PODE SER NOTICIADO DE MANEIRAS VARIADAS POR DIFERENTES VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
arrow istoé
Chama atenção a ausência de uma grande imagem ou de um 
forte texto na capa, em que predomina, simplesmente, a cor 
branca. Essa falta logo se explica pela pequena chamada que 
aparece, discreta, abaixo do nome da revista: “2016 não pode 
passar em branco. Faça um ano melhor!”. 
Assim torna-se clara a relação da capa branca com a primeira 
parte da frase, que faz referência à Perspectiva 2016. Nessa 
seção são apresentadas cinco reportagens sobre alguns dos 
eventos do ano que se inicia, como os Jogos Olímpicos no Rio 
de Janeiro e as eleições nos Estados Unidos, que poderão, 
segundo a revista, “construir um ano melhor”. Nessa frase, 
assim como ocorre nas outras três revistas, há uma crítica 
ao ano que passou. Mas diferentemente de Carta Capital e de 
Veja, há uma conclamação direta para se fazer um ano melhor.
Entre os outros semanários, a IstoÉ é a única a trazer tanto 
uma perspectiva de 2016 como uma retrospectiva de 2015. Os 
fatos do ano que passou são chamados numa tarja na parte 
superior da revista (Retrospectiva 2015), com pequenas ima-
gens de pessoas que protagonizaram alguns desses aconteci-
mentos – como Dilma, Eduardo Cunha, ativista de movimenos 
feministas e Mineirinho, o atual campeão mundial de surfe. 
arrow veja
Uma foto em primeiro plano do rosto do juiz Sergio Moro, res-
ponsável pelas investigações da operação Lava Jato. Ele aparece 
sério e com um olhar assertivo. A imagem ganha ainda maior 
destaque devido ao fundo escuro. Essa foi a escolha de Veja para 
ilustrar a sua Retrospectiva 2015. 
Abaixo da foto, a chamada principal afirma: “Ele salvou o 
ano!”. A manchete sugere que 2015 foi ruim, mas teve um grande 
e único fato positivo (que salvou o ano) – daí a publicação da 
foto única na capa e o fato de a reportagem sobre o juiz, na 
retrospectiva, ter nove páginas, enquanto todas as demais 
receberam duas páginas. 
Na sequência da manchete vem o texto, que confirma a intenção 
do semanário de valorizar a atuação do juiz: “Veja pesquisou 
300 sentenças que Sergio Moro lavrou nos últimos quinze anos 
e descobriu as raízes da determinação e eficiência do juiz que 
deu ao Brasil a primeira esperança real de vencer a corrupção”. 
A frase, além de enaltecer Moro – referindo-se a sua deter-
minação e eficiência e como sendo a primeira esperança real 
de vencer a corrupção –, também expressa a ideia de que isso 
seria incontestável, pois foi resultado de um exaustivo trabalho 
jornalístico que levou em consideração 300 sentenças.
17GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
Como as principais revistas 
semanais do país fizeram um 
balanço de 2015 e apresentaram 
as expectativas para o ano novo
Retrospectiva 
e perspectivas 
para 2016
A operação Lava-Jato e a atuação do 
juiz Sergio Moro, a crise política do go-
verno Dilma, a questão dos refugiados, 
as manifestações feministas, a tragédia 
ambiental em Mariana e o avanço do 
zika vírus, entre outros acontecimentos 
que marcaram 2015, estiveram na pauta 
dos semanários. E o olhar para o futuro 
ficou por conta de buscar soluções para 
questões como a crise econômica, o 
crescimento do desemprego e os em-
bates nas redes sociais.
O fato
As edições de final de ano das quatro principais revistas se-manais brasileiras – Carta Ca-
pital, Época, IstoÉ e Veja – trouxeram, 
como de costume, uma retrospectiva 
do ano que passou, com os fatos e os 
personagens que ganharam destaque 
no período e as perspectivas para o ano 
que se inicia nas diferentes áreas, como 
política, economia, cultura e sociedade. 
arrow carta capital
Com um fundo rosa e cheia de emojis – as carinhas e os ícones 
divertidos para trocas de mensagens – a revista opta por tratar 
com humor e ironia o ano que passou. 
A manchete “Rir para Não Chorar”, no centro da capa, traz 
a ideia de que 2015 foi marcado por acontecimentos ruins. 
Reforça esse pensamento a frase que complementa o título 
principal “Memórias e imagens de um ano que nem devia ter 
começado. E 2016? Bem, 2016...”. Ou seja, o ano trouxe tantos 
acontecimentos indesejados que seria melhor que nem tivesse 
existido. O semanário demonstra ter a mesma expectativa (de 
más notícias) em relação a 2016 ao se referir ao novo ano com 
uma interjeição (bem) e reticências... 
Completa o sentido humorístico a presença dos emojis que 
fazem referência a alguns acontecimentos do ano, como os fatos 
que envolveram a presidente Dilma Rousseff (bonequinha com 
os dentes à mostra e a faixa presidencial), os panelaços (ícone da 
panela), os atentados terroristas (bomba), a tragédia de Mariana 
(onda marrom) e a crise dos refugiados (boneco no barquinho). 
Ganha destaque a escolha do ícone na chamada superior onde 
se anuncia a edição especial, mais uma vez trazendo de forma 
bem-humorada a ideia de um ano negativo. 
arrow época
Ao contrário dos outros três semanários, a Época não faz uma 
retrospectiva de 2015. A revista investe numa edição especial 
dedicada a discutir ideias e assuntos que estarão na agenda 
da sociedade brasileira em 2016, como a crise econômica, a 
Operação Lava Jato e as polêmicas nas redes sociais.
Usando cores fortes, como vermelho em contraste com o 
amarelo, o que causa uma sensação de urgência, usa o título 
“Guia de Sobrevivência” para se referir ao novo ano. A expressão 
é grafada em grandes letras, que ocupam boa parte da capa. 
O ano 2016 aparece em preto, ao fundo.
A ideia de apresentar um guia de sobrevivência é trazer ao 
leitor um manual de como comportar-se ou agir perante as 
situações que estão por vir (note todos os verbos no futuro): 
“O custo de vida vai subir, o desemprego vai aumentar, o japo-
nês da Federal [em referência ao agente Newton Ishii, chefe do 
Núcleo de Operações da Polícia Federal em Curitiba] vai acordar 
os poderosos e os brasileiros continuarão a brigar nas redes 
sociais”, diz o texto que complementa o título. 
A chamada termina com a frase “Saiba como vencer a difí-
cil batalha do novo ano”, comprovando a necessidade de um 
manual frente à um cenário complexo. 
PONTO DE VISTA
18 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
arrow folha de s.paulo
A Folha trouxe a manchete relacionada ao fato – “Ex-líder do 
governo liga Dilma e Lula à Lava Jato, e oposição pede renúncia” 
– para a parte superior da sua capa. Ao contrário do Estadão e 
do Globo, não colocou o nome do senador Delcídio no título (mas 
apenas no texto abaixo da manchete) e preferiu usar a expressão 
“ex-líder do governo”, mostrando que a delação vem do próprio 
ex-aliado da presidente Dilma. A manchete também destacou o 
efeito provocado nos partidos de oposição, que mencionaram 
incluir a delação no pedido de impeachment.
O jornal reproduziu as acusações contra Dilma (“tentou interferir 
três vezes na operação com ajuda de José Eduardo Cardozo, então 
ministro da Justiça) e Lula (“Delcídio intermediou, a pedido de 
Lula, propina ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para 
tentar evitar a sua delação”), citou algumas consequências da 
declaração (como a subida da Bolsa e a queda do dólar) e incluiu 
que “devem dar força a protestos anti-Dilma”.
Chama atenção a articulação das duas fotos presentes na capa: 
a do rosto parcial da presidente Dilma em primeiro plano (em que 
aparecem apenas seus olhos e nariz) e a que mostra somente os 
lábios costurados de um refugiado iraniano, que vem um pouco 
abaixo, formando uma unidade. A Folha noticiou a queda no 
PIB na parte inferior da página, mas com um certo destaque, e 
afirmou que é o “pior resultado desde 1990”. Não houve menção 
à notícia sobre Eduardo Cunha – a capa do dia anterior já havia 
adiantado
que a maioria dos ministros do Supremo Tribunal 
Federal havia votado pela abertura da ação penal.
Como os três principais diários 
do país repercutiram a suposta 
revelação de que Dilma e Lula 
interferiram na Lava Jato
IstoÉ divulga
delação de 
senador
O fato
Em 3 de março de 2016, a revista IstoÉ publicou reportagem em que afirma que teve acesso ao 
termo de delação premiada do senador 
Delcídio do Amaral (PT-MS) ao Ministé-
rio Público Federal. Ele acusa a presiden-
te Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz 
Inácio Lula da Silva de envolvimento no 
esquema de corrupção da Petrobras e na 
tentativa de impedir as investigações da 
Operação Lava Jato. Ex-líder do governo 
no Senado, Delcídio do Amaral foi preso 
em novembro de 2015, ele mesmo acusa-
do de interferir na Lava Jato. Segundo a 
IstoÉ, em de fevereiro de 2016, quando 
passou a cumprir prisão domiciliar, ele 
teria feito o acordo de delação premiada, 
em que o acusado conta o que sabe e, em 
troca, recebe benefícios, como redução 
da pena. O senador emitiu nota dizendo 
que não reconhece a autenticidade dos 
documentos divulgados pela revista. 
No mesmo dia, o resultado do PIB em 
2015 e a votação de ação penal contra o 
presidente da Câmara Eduardo Cunha 
(PMDB-RJ) também foram notícias. 
PONTO DE VISTA
19GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
arrow o estado de s. paulo
A cobertura do jornal sobre a suposta delação de Delcídio – 
que também mereceu a manchete principal e o maior espaço 
na capa – parece ser mais focada na atuação do ex-presidente 
Lula do que na da própria presidente Dilma. A manchete é se-
melhante à da Folha, que traz o nome de ambos, mas, no texto 
da capa, é citada apenas uma acusação contra a presidente 
Dilma (“acompanhou o processo de compra da refinaria de 
Pasadena”), enquanto sobre o ex-presidente são citadas duas 
(“atuou para evitar a delação de Nestor Cerveró e intermediou 
pagamentos à família do ex-diretor da Petrobras em troca do 
silêncio dele” e “trabalhou para frear as investigações da CPI do 
Carf sobre a suposta compra de MPs”). A foto de Dilma – única 
imagem da capa – sugere certa fragilidade da presidente, ao 
mostrá-la abraçando o ex-ministro da Justiça na cerimônia 
de transferência de cargos. Além do texto que acompanha a 
notícia principal, outras duas chamadas repercutem a delação 
e ampliam a cobertura: “Planalto critica ‘vazamentos como 
arma política’” e “Oposição reforça pedido de renúncia”. 
Assim como O Globo, o Estado também traz na capa a infor-
mação que Delcídio não confirmou a autenticidade dos docu-
mentos da reportagem da revista IstoÉ – a Folha só menciona 
esse fato na reportagem interna. 
 O jornal ainda destaca na capa a queda de 3,8% do PIB e o 
resultado final da votação do STF (“Supremo, por unanimida-
de, instala ação contra Cunha”), embora tivesse antecipado o 
fato – assim como a Folha e o Globo – na edição do dia anterior.
arrow o globo
No jornal carioca, a delação de Delcídio também ganhou espa-
ço nobre, ocupando cerca de três quartos da página. Uma foto 
de Dilma em primeiro plano, com um olhar triste, mostrava, ao 
fundo, o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que cum-
primentava um colega ao se despedir do cargo. A ideia que Dilma 
está só foi reforçada pela forte manchete “Delação de Delcídio 
põe Dilma no centro da Lava-Jato”. Diferentemente da Folha e 
do Estado, o Globo não colocou o nome do ex-presidente Lula no 
título; apenas o mencionou abaixo, nas subchamadas.
O resumo da reportagem na capa focou nas acusações do 
delator contra Dilma: que a pedido dela “negociou o voto de 
um ministro do STJ para tentar soltar os empresários Marcelo 
Odebrecht e Otávio Azevedo” e que “ela sabia das irregulari-
dades na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA”. Com-
pletam o conjunto de informações sobre a delação fotos das 
personalidades envolvidas, como Delcídio, Dilma e Lula, e um 
pequeno resumo da atuação do senador e das acusações que 
recaem sobre a presidente e o ex-presidente.
A notícia sobre Eduardo Cunha veio logo abaixo do conjunto 
de informações sobre a delação de Delcídio, com o título “Por 
unanimidade, Cunha vira réu no Supremo”. Já o recuo do PIB 
(“Brasil a caminho de outra década perdida”) contou com a 
publicação de indicadores negativos (recessão histórica, queda 
dos investimentos, tombo na indústria), reforçando “o pior 
resultado desde o confisco de Collor” e as projeções feitas (novo 
tombo de 4% este ano e recessão como a da década de 80).
74
2
2
1
32
22
1
1
17
1817
12
8
910
532
3
4
2
2730252822292718211871711
18
15
13
5
4
33
212
3
2
2
2
2
22
21
1
1
1
1
7269
59
49
37
4644
2928
22
12
24
14
AustráliaFinlândiaReino UnidoAlemanhaEUAHolandaFrançaBélgica
Não houve
Olimpíada
Não houve
OlimpíadaSuéciaReino UnidoEUAFranceGrécia
1956195219481936 1940 19441932192819241920191619121908190419001896
MelbourneHelsinkiLondresBerlimLos AngelesAmsterdãParisAntuérpiaEstocolmoLondresSt. LouisParisAtenas
NÚMERO DE PAÍSES PARTICIPANTES POR 
CONTINENTE E EDIÇÃO DOS JOGOS*
1920
Invadida pelos alemães na I 
Guerra Mundial, a Bélgica dá 
o troco nos Jogos de 1920, na 
Antuérpia: exige a exclusão 
de Alemanha, Áustria, 
Hungria, Bulgária e Turquia – 
países derrotados no conflito.
1932
No auge da crise 
econômica mundial que se 
seguiu à quebra da Bolsa 
de Nova York, em 1929, a 
Europa corta todos os 
gastos. Os comitês que 
conseguem ir a Los 
Angeles levam 600 atletas, 
1.600 a menos do que em 
Amsterdã.
1936
Com Adolf Hitler fazendo 
propaganda nazista com 
os Jogos, os alemães 
lideram o ranking de 
medalhas. Mas nenhum de 
seus atletas ganha mais 
ouros do que o 
afro-americano Jesse 
Owens, com quatro 
vitórias no atletismo. 
1948
Burma e Ceilão (atuais 
Mianmar e Sri Lanka), 
recém-libertos do domínio 
britânico, e a Coreia do Sul, 
liberta do Japão, são alguns 
dos estreantes nos Jogos 
de Londres. Derrotadas na 
II Guerra Mundial, 
Alemanha e Japão não 
participam do evento.
1952
Os movimentos nacionais 
nas colônias da África 
ganham corpo a partir dos 
anos 1950 – o que se reflete 
no aumento de africanos 
nos Jogos seguintes. Em 
1952, a União Soviética 
(URSS) estreia nos Jogos, 
e a disputa com os Estados 
Unidos pela hegemonia 
mundial passa a ser travada 
também no esporte.
O MUNDO DOS 
IMPÉRIOS – 1900
No início dos Jogos da era moderna, o 
mundo era dominado pelas potências 
imperialistas. A principal era o Reino 
Unido, que mantinha colônias em todos 
os continentes. Muitas dessas potências 
obrigavam atletas de outras nações a 
defendê-las, como armênios que tiveram 
que competir como turcos, e coreanos 
forçados a usar nomes japoneses.
Grã-Bretanha
França
Alemanha
Itália
Holanda
Portugal
Espanha
Japão
Bélgica
Principais impérios 
e suas colônias
II GUERRA
MUNDIAL
1939-1945
I GUERRA
MUNDIAL
1914-1918
Europa
América
Oceania
Ásia
África
AS CIDADES-SEDE POR CONTINENTE
Ásia
3
Oceania
2
África
0
Américas
7
Europa
16
* As instituições nacionais que participam dos Jogos são classificadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como Comitês Olímpicos Nacionais – aqui tratadas genericamente como países.
20 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
NO ESTUDO E NO DIA A DIA, GRÁFICOS, MAPAS E TABELAS TRAZEM MUITAS INFORMAÇÕES
DESTRINCHANDO
53535253
52
45
42
41
21
6
29
24
21
12
4142424242
39
37
36
15
333232
2219
4949484848403428283233322931
4442444343
34
35
28
14
17
2421
1918
1717151412
11
11
7
2
433
23
204
54
41
50
43
17
205**204201200197
169
159
140
80
92
121
112
93
83
Reino UnidoChinaGréciaAustráliaEUAEspanhaCoreiaEUARússiaCanadáAlemanhaMéxicoJapãoItália
20122008200420001996199219881984198019761972196819641960
Londres
Brasil
2016
RioPequimAtenasSydneyAtlantaBarcelonaSeulLos AngelesMoscouMontrealMuniqueMéxico DF TóquioRoma
1972
O grupo terrorista palestino 
Setembro Negro ataca a 
delegação de Israel na vila 
olímpica, onde mata dois e 
faz nove reféns. Na 
tentativa de resgate, os 
reféns, cinco terroristas, um 
policial e um piloto morrem. 
1976
22 países africanos deixam 
os Jogos em protesto contra 
a Nova Zelândia, cujo time 
de rugbi fez uma turnê de 
jogos pela África do Sul, 
“furando” o embargo a 
eventos esportivos sob o 
regime do apartheid.
1980-1984
Devido à invasão do 
Afeganistão pela URSS, os 
EUA lideram um boicote 
de 66 nações nos Jogos de 
Moscou. A URSS responde 
na Olimpíada seguinte, em 
Los Angeles, liderando o 
boicote do bloco socialista.
1996
Com o desmembramento da URSS 
em novos países e a adesão de 
mais países africanos ao COI, os 
Jogos de Atlanta batem recorde 
de participantes. A Palestina faz 
sua estreia olímpica.
2016
Dois países farão a estreia 
olímpica no Rio de Janeiro: 
o Sudão do Sul, que 
emancipou-se do Sudão 
em 2011; e o Kosovo, que 
declarou a independência 
da Sérvia em 2008, mas 
ainda não obteve 
reconhecimento da ONU. 
Além dos kosovares, 
outras 13 nações que a 
ONU não reconhece como 
países também estão com 
viagem marcada para o 
Rio, como Palestina e 
Taiwan. Até a cerimônia de 
abertura, o único ausente 
entre os 206 membros do 
COI será o Kuwait, 
suspenso pela 
interferência do governo 
no comitê do país.
O PLANETA DIVIDIDO 
NA GUERRA FRIA – 1947-1991
A polarização da Guerra Fria não ficou restrita 
à esfera política. EUA e URSS também 
tentaram mostrar a superioridade de seus 
regimes nos esportes. Durante o período, era 
comum acompanhar qual bloco tinha mais 
medalhas – o capitalista ou o socialista. 
Mesmo entre os países não alinhados, poderia 
haver inclinações socialistas ou capitalistas 
dependendo do momento histórico.
EUA e aliados
Alinhados com os EUA
URSS e aliados
Países não alinhados
Alinhados com a URSSEUA
URSS
** Previsão do Comitê Olímpico Internacional.
21GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
 
Mais que 
um evento 
esportivo
Veja o que as Olimpíadas 
têm a ver com a geopolítica, 
o desenvolvimento social e 
econômico e a urbanização
por Wiliam Taciro e Multi/SP
Os Jogos Olímpicos que os aristo-cratas europeus criaram no final do século XIX era um festival 
atlético com repercussões modestas. 
Mas, perto da I Guerra Mundial, os Jo-
gos já eram explorados em um âmbito 
que extrapolava a performance esportiva.
Ver compatriotas desfilarem com sua 
bandeira pela primeira vez numa ceri-
mônia olímpica tornou-se um momento 
de celebração histórica em mais de cem 
países que conquistaram a independên-
cia nesse tempo. O bom desempenho no 
ranking de medalhas passou a ser visto 
como uma demonstração de poder e or-
gulho nacional, refletindo, muitas vezes 
as conquistas sociais e econômicas do 
país. Ser anfitrião dos Jogos virou uma 
oportunidade para países promoverem 
reformas urbanísticas na cidade-sede 
e lustrarem a imagem internacional.
Acompanhe abaixo a evolução no 
número de participantes e como os 
comitês olímpicos e os Jogos se tor-
naram parte importante da geopolítica 
internacional.
Fontes: COI e Banco Mundial 
ANAMORFOSE: O MAPA DISTORCIDO
Este mapa é diferente daqueles planisférios a que você está acostumado. 
Trata-se de uma anamorfose – uma representação cartográfica que 
distorce o tamanho e o traçado dos países para reforçar o efeito 
comparativo a respeito do tema apresentado. Neste caso, o mapa mostra 
como seria o mundo se a área dos países fosse proporcional ao número de 
medalhas ganhas na história dos Jogos.
Nº de países
Nº de medalhas
IDH
Muito 
elevado
Sem IDH 
estimado*Elevado Médio Baixo
49 1856 37 44
10.311 783.601 240 200
Países com IDH baixo
A maioria das nações com baixo IDH 
nunca ganhou nem um bronze. Já 
Quênia, Etiópia e Nigéria somam juntas 
154 medalhas – 90% em corridas de 
média e longa distância, que não 
exigem altos investimentos dos atletas.
Países com IDH elevado
Os seis maiores medalhistas entre os 
países do IDH elevado são socialistas 
e ex-socialistas. O Brasil é o sétimo.
Países com IDH 
muito elevado
Mais de 2/3 das medalhas de 
todos os Jogos Modernos estão 
neste grupo, assim como 13 
dos 14 países que competiram 
nos Jogos de 1896.
Brasil
O Brasil tem o quinto maior 
território do planeta, mas, 
no mundo olímpico, ele 
parece 80% menor.
Cuba
A ilha de Cuba parece 
só um pontinho no 
planeta, mas o 
cartograma revela sua 
dimensão de gigante 
nos esportes olímpicos.
IDH VERSUS MEDALHAS 
Classificação no IDH (Índice de 
Desenvolvimento Humano) e 
medalhas por país 
Estados Unidos
Os norte-americanos 
dominam os Jogos da 
Era Moderna. Neste mapa, 
apesar de ter a quarta 
extensão territorial do 
planeta, sua área é a que 
ocupa o maior espaço, 
refletindo suas conquistas 
olímpicas.
O PLANISFÉRIO REAL
Para ter uma ideia do quão distorcidas foram as regiões 
do cartograma das medalhas, compare-o com este outro 
mapa, onde a área dos países é proporcional aos seus 
territórios reais.
Área por país (projeção equirretangular)
Brasil
Quênia
Austrália
Índia
Cuba
Europa
Estados
Unidos
1º 
ESTADOS UNIDOS
2.404 MEDALHAS
19º 
CUBA
208
27º 
BRASIL
108
22 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
DESTRINCHANDO
O dinheiro dá as cartas 
no planeta olímpico
Como a força do capital e dos investimentos sociais afastam os 
países mais pobres das conquistas e limitam o pódio olímpico a 
uma pequena elite esportiva – e financeira
O lema “O importante não é vencer, mas competir” surgiu nas Olimpíadas de Londres, 
em 1908, popularizado pelo barão de 
Coubertin. E para a maioria das nações, 
principalmente aquelas que não estão 
no grupo dos desenvolvidos, o papel nos 
Jogos fica restrito mesmo à competição. 
 Obs.: As medalhas das Alemanhas Oriental e Ocidental foram contabilizadas para a Alemanha, as medalhas da URSS e do time unificado de 1992 foram contabilizadas para a Rússia, 
as medalhas da Australásia foram contabilizadas para a Austrália, as medalhas da Iugoslávia e Tchecoslováquia não foram contabilizadas para nenhum país.
Mesma quantidade de medalhas
Grécia e Brasil empatam no número de 
medalhas, embora o PIB grego seja um 
décimo do brasileiro. E Cuba, com um terço do 
PIB grego, tem quase o dobro de medalhas.
PIB VERSUS MEDALHAS
Este gráfico de dispersão mostra uma clara relação 
entre o Produto Interno Bruto (PIB) e o 
desempenho olímpico. Os pontos localizados no 
canto direito superior representam os países com 
elevado PIB e muitas medalhas – caso de EUA, 
China e Alemanha. Note como são pontos em tons 
de azul, o que sinaliza um Índice de Desenvolvimen-
to Humano (IDH) elevado. Já no canto esquerdo 
inferior ficam os países com poucas medalhas e PIB 
baixo, como as nações africanas. São também as 
nações com IDH baixo, indicados pela cor vermelha.
Na mesma faixa do PIB
Veja a variação no desempenho olímpico de 
países no mesmo patamar de PIB, como 
Índia, Brasil, Canadá, Itália e Rússia – 
quanto mais alto, mais medalhas.
10
100
1.000
2.000
1
5
50
500
2
N
º D
E 
M
ED
AL
H
AS 20
200
PIB – US$ bilhões
10.0001.000100101
EUA
Alemanha
Canadá
Índia
Itália
Rússia
China
Brasil
Cuba
Grécia
Quênia
O Quênia é o país africano com 
mais medalhas (86). O resultado 
destoa do restante da África, que 
praticamente some do mapa.
Rússia e China
Mesmo com bons desempe-
nhos olímpicos, Rússia e China 
aparecem em dimensões 
reduzidas neste mapa. Isso 
acontece porque esse grande 
número de medalhas
ainda é 
desproporcional ao gigantismo 
de seus territórios.
Europa
As limitadas dimensões de 
França, Reino Unido, Alemanha 
e Itália ganham volume neste 
mapa, devido ao fato de serem 
potências olímpicas.
Austrália
Note como as dimensões 
territoriais da Austrália são 
bem proporcionais à sua 
importância no quadro de 
medalhas – por isso ela não 
parece muito distorcida 
neste mapa.
Índia
Apesar da multidão de 
talentos esportivos que se 
podem esperar de 
populações tão grandes 
como da Índia e sudeste 
asiático, essas nações têm 
muitas outras prioridades 
antes de preparar 
campeões olímpicos.
2º 
RÚSSIA
1.526
9º 
CHINA
473
10º 
AUSTRÁLIA
468
4º
REINO
UNIDO
779
5º 
FRANÇA
671
3º 
ALEMANHA
1.296
7º 
SUÉCIA
483
6º 
ITÁLIA
549
8º 
HUNGRIA
476
47º 
ÍNDIA
26
31º 
QUÊNIA
86
Muito alto
Classificação do IDH
Alto
Médio
Baixo
23GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
 
Os altos investimentos em educação, 
o incentivo à prática esportiva para as 
crianças e as boas condições de vida 
para a população acabam tendo refle-
xos diretos no quadro de medalhas. 
Na maioria das vezes, os países me-
nos desenvolvidos acabam dependendo 
do talento e do esforço individual dos 
Isso porque o pódio costuma ser uma 
área limitada a uma elite esportiva que, 
não por coincidência, também são os 
países mais ricos. Entre as cinco nações 
que mais ganharam medalhas na história, 
quatro estão no G-7 (grupo dos países 
mais ricos do mundo): Estados Unidos, 
Reino Unido, França e Alemanha.
atletas ou de bons desempenhos pon-
tuais em determinadas modalidades. 
Portanto, é possível aprender muito so-
bre o cenário global analisando as Olim-
píadas. Nos mapas e gráficos a seguir, 
você confere como o poder do dinheiro 
e dos investimentos sociais são deter-
minantes para a performance olímpica.
REMOÇÕES DE 2009 A 2015
22 MIL FAMÍLIAS 
Favela com remoção
Minha Casa Minha Vida
Clusters Olímpicos 
(conjunto de locais de competição)
Porto Maravilha
Principais estradas
Ferrovias
Metrô
BRT
VLT
Escala
0 5 km
Região central concentra 
os empregos
Só no Centro estão 25% dos 
postos de trabalho formais 
da cidade, e a maioria dos 
outros fica no entorno. 
Antes, a grande parte dos 
removidos vivia e 
trabalhava na vizinhança.
Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro
Deslocamentos para
o trabalho
Estoque de vagas de 
trabalho por bairro
Centro
Barra
Guaratiba
Campo Grande
Bangu
Campo Grande
Guaratiba
Bangu
Copacabana
Deodoro
RIO DE JANEIRO
REMOÇÕES E REASSENTAMENTOS NO RIO
As obras de preparação do Rio para a Copa Fifa 2014 e os Jogos 
Olímpicos começaram quase ao mesmo tempo, em 2009. Veja como 
elas afetaram a população carioca: 
Mais longe do centro
Os fios mais claros no mapa mostram 
de onde os moradores foram 
removidos e para onde eles foram 
encaminhados. Observe como ficaram 
mais longe da região central e das 
obras das instalações olímpicas.
Recompensa distante
Os despejados recebem uma 
indenização ou um imóvel do programa 
de habitação Minha Casa Minha Vida. A 
indenização, feita a partir da avaliação 
material das perdas, geralmente é 
irrisória, dada a pobreza e situação 
irregular da maioria das comunidades 
removidas.
Fonte: Autoridade Pública Olímpica, Comitê Olímpico Brasileiro, ESPN Brasil e Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro
PRINCIPAIS FLUXOS DE 
TRABALHADORES
As setas mostram o movimento diário 
de trabalhadores para seus empregos, 
dominado por moradores das periferias 
e cidades vizinhas. A maioria das 
remoções segue o sentido contrário. 
Agora, esses moradores chegam a 
passar mais de quatro horas por dia 
indo e voltando do emprego.
4 MIL FAMÍLIAS
foram removidas para dar lugar a 
obras vinculadas ao projeto Cidade 
Olímpica, inclusive o Porto 
Maravilha. Cerca de 2,5 mil famílias 
foram tiradas de comunidades no 
caminho dos BRTs e outras obras 
ligadas a mobilidade. No começo 
do ano, o despejo de outras 2 mil 
ainda era incerto.
18 MIL FAMÍLIAS
removidas não teriam conexão 
com os Jogos, segundo a prefeitura, 
por viverem em áreas de risco ou 
proteção ambiental. Já o Comitê 
Popular contesta os motivos 
alegados para muitas remoções, 
que serviriam principalmente para 
beneficiar investimentos 
imobiliários e turísticos.
24 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
DESTRINCHANDO
O outro lado do 
legado olímpico
As obras de infraestrutura e a construção das arenas olímpicas 
no Rio provocam a remoção de milhares de pessoas para 
bairros distantes, longe dos locais de trabalho
P ara justificar os investimentos bilionários que um megaeven-to como a Olimpíada exige, os 
responsáveis pela realização dos Jogos 
costumam usar um termo à exaustão: 
o tal “legado olímpico”. De acordo com 
esse raciocínio, as obras para promover 
uma Olimpíada podem custar caro, mas 
DEODORO
BARRA COPACABANA
MARACANÃ
R$ 24,6 BILHÕES
TOTAL INVESTIDO NO PROJETO OLÍMPICO
R$ 39 BILHÕES
Centro
Aeroporto 
Internacional
Tom Jobim
Baía de Guanabara
Ponte Rio-Niterói
Lagoa Rodrigo 
de Freitas
CopacabanaIpanema
São Conrado
Lagoa da Tijuca
Ilha do
Governador
Vigário
Geral
RIO DE JANEIRO
Parque Olímpico
Maracanã
Pão de 
AçúcarCristo 
Redentor
Porto Maravilha
A revitalização da zona 
portuária no centro histórico, 
inspirada em projetos como o 
de Puerto Madero, em Buenos 
Aires, quer atrair turistas e 
investidores internacionais. 
MEGARREMOÇÕES OLÍMPICAS
Desde Seul, mais de 2 milhões de pessoas tiveram as 
casas demolidas para dar lugar a “legados olímpicos”
Barcelona 1992
624 famílias desapropriadas e 
alta no custo da moradia 
expulsou outros milhares 
Seul 1988
720 mil pessoas despejadas, a maioria 
sem realocação nem indenização
Pequim 2008
1,5 milhão de pessoas são removidas 
pelo governo. Ativistas e advogados 
que defendem moradores são presos
Sydney 2000
Não houve remoções forçadas, mas 
milhares foram expulsas pela alta 
nos custos da região
Atlanta 1996
6 mil pessoas removidas e 30 mil se 
mudam pela alta do custo de vida 
provocada pela valorização da área
Fonte: UN Habitat
Obras do legado
Metade disso vai para 
obras de transporte. 
Para o Porto 
Maravilha, menina dos 
olhos da Cidade 
Olímpica, quase R$ 8 bi.
7,4 BILHÕES
Comitê Olímpico
Operação do evento, serviços de 
alimentacão, hospedagem, 
transporte, tecnologia da 
informação, para atletas, 
funcionários e voluntários. 
7,07 BILHÕES
Instalações esportivas
(total)
5,68 BILHÕES
Barra
830 MILHÕES
Deodoro
70 MILHÕES
Copacabana 
90 MILHÕES
Maracanã 
400 MILHÕES
Outros gastos 
(geradores, arquibancadas
 temporárias etc.)
Atenas 2004
2,7 mil pessoas da 
etnia roma, um dos 
povos conhecidos 
como ciganos, são 
removidas
Londres 2012
450 pessoas dos povos 
roma e irlandês 
nômade são removidas 
para a construção do 
Parque Olímpico
25GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
 
Mas há um outro lado nessa história. 
Os Jogos de Seul, em 1988, por exemplo, 
são celebrados por transformar a capital 
sul-coreana em uma moderna metrópole, 
mas a organização demoliu o lar de 720 
mil pessoas. Segundo a ONU, foi uma das 
mais violentas políticas de remoções já 
realizadas no mundo.
deixam para a cidade-sede uma série de 
benesses em termos de infraestrutu-
ra que compensam qualquer impacto 
econômico, social e ambiental. Os Jo-
gos de Barcelona, em 1992, são sempre 
lembrados como um exemplo de como 
a realização da Olimpíada trouxe me-
lhorias urbanísticas para a cidade-sede.
Mesmo assim, expulsões em massa 
tornaram-se rotina durante as obras 
que precedem os Jogos. Ainda que a 
maioria das remoções se dê em acor-
do com leis locais, elas
são notórias 
por afetar principalmente pobres e 
minorias. Veja como o Rio está sendo 
impactado por essa política. box
26 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
BRUTALIDADE 
Cristão etíopes são 
conduzidos por 
membros do Estado 
Islâmico antes de 
serem decapitados, 
na Líbia
LEI DO TERROR 
Militante do Estado 
Islâmico conhecido 
como "Jihadi John", 
em vídeo que 
mostra a execução 
de um refém
AFP PHOTO / HO / 
SITE INTELLIGENCE GROUP
27GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
Conhecido pelos métodos brutais, o Estado Islâmico amplia 
a sua atuação ao organizar atentados na França e em outros 
países. Saiba por que o avanço do grupo extremista desafia a 
segurança mundial e desestabiliza o Oriente Médio
 por Cláudio Soares / Infográfico Multi/SP
28 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
DOSSIÊ ESTADO ISLÂMICO
O grupo extremista mais poderoso do planeta mantém uma 
vasta rede de recrutamento e de financiamento para as suas 
operações. Entenda como funciona a organização
noite de 13 de novem-
bro de 2015, uma sex-
ta-feira, não será es-
quecida em Paris tão 
cedo. Surpreendidas 
quando se divertiam 
em uma região de bares e restaurantes, 
dezenas de pessoas sofreram um ataque 
brutal, o mais mortífero na capital fran-
cesa desde a II Guerra Mundial (1939-
1945). Em ação coordenada, terroristas 
posteriormente identificados como 
integrantes do grupo Estado Islâmico 
(EI) atiraram a esmo ou se explodiram, 
provocando a morte de 130 pessoas, 
a maioria na casa de shows Bataclan. 
Disparos atingiram outras vítimas em 
mais quatro locais. Além das mortes, 
pelo menos 352 pessoas ficaram feridas.
Em declaração oficial, o EI reivindicou 
a autoria da ação. Para analistas, trata-se 
de uma retaliação contra o papel desem-
penhado pela França nos ataques aéreos 
na Síria e no Iraque, países nos quais o 
EI ocupa vastos territórios. A França 
é a mais constante aliada dos Estados 
Unidos (EUA) na guerra contra o grupo.
Não foi a única ação do EI no período. 
A facção assumiu também a autoria do 
atentado a bomba que derrubou um 
avião russo da companhia Metrojet, 
em 31 de outubro, no Egito, causando 
a morte das 224 pessoas a bordo. Em 
Beirute, no Líbano, um ataque com 
homens-bomba, em 12 de novembro, 
matou 44 pessoas, em outra iniciativa 
do grupo. Nos EUA, em 2 de dezembro, 
um casal, supostamente vinculado ao 
EI, atacou a tiros um centro de trata-
mento de pessoas com deficiência, na 
Califórnia, matando 14 pessoas. O EI 
realizou, diretamente ou por intermédio 
de grupos associados, outros ataques 
na Tunísia, na Nigéria, na Turquia e na 
Indonésia. Esses atentados marcam uma 
mudança na estratégia da organização, 
que agora amplia o seu raio de ação, an-
teriormente limitado ao Oriente Médio.
A Guerra ao Terror
Com um vasto território que abrange 
áreas do Iraque e da Síria, um enorme 
poder de mobilização e uma eficiente ca-
pacidade operacional, o EI é considerado 
a organização extremista mais poderosa 
e bem-sucedida da história. Sua ascensão 
está diretamente associada à política de 
“Guerra ao Terror” implementada pelo 
então presidente norte-americano Geor-
ge W. Bush (2001-2009) como resposta 
aos atentados de 11 de setembro de 2001 
cometidos pela Al Qaeda, a rede terroris-
ta de Osama Bin Laden (veja mais sobre 
as intervenções ocidentais na pág. 38).
A ocupação do Iraque como parte da 
ofensiva dos EUA contra o terrorismo, 
entre 2003 e 2011, teve como um dos 
principais efeitos colaterais o surgimento 
de um movimento local contra a invasão 
norte-americana. Nesse contexto, surgi-
ram diversas milícias que contestavam a 
presença das tropas dos EUA. Uma delas 
era a Al Qaeda do Iraque (AQI ou Isil, em 
inglês), uma filial da rede de Bin Laden. 
Criada em 2004, essa organização daria 
origem ao poderoso grupo que conhe-
cemos hoje como Estado Islâmico (veja 
linha do tempo na pág. ao lado).
Imposição do califado
Nos anos seguintes à criação da AQI, o 
caos no Iraque e na Síria foi um terreno 
propício ao avanço do grupo: enquanto 
no Iraque há uma sucessão de disputas 
políticas e conflitos sectários (entre su-
nitas e xiitas), a Síria vive desde 2011 
um confronto entre grupos rebeldes, 
apoiados pelas potências ocidentais, e 
o regime do ditador Bashar al-Assad. 
Aproveitando o vácuo de poder e de 
segurança nessas regiões, a organização 
foi ganhando força, com frequentes fu-
sões e trocas de nome nesse percurso. 
O ano de 2014 representou um marco 
na expansão do grupo. Em junho, o líder 
da organização Abu Bakr al-Baghdadi 
proclamou a criação de um califado nos 
territórios ocupados sob a alcunha de Es-
29GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
Em pouco mais de dez anos, uma milícia que lutava contra a ocupação dos Estados Unidos no Iraque conquistou territórios e tornou-se a mais influente organização terrorista
Mar Mediterrâneo
Golfo
Pérsico
ISRAEL
LÍBANO
CHIPRE
Mosul
Albu Kamal
Qaim
Palmira
Raqqa
Kirkuk
Homs
Jerusalém
Hama
Latakia
Aleppo
Khmeimim
Akrotiri
Irbil
Rio Tigre
Rio Eufrates
Muwaffaq
Salti
Incirlik
Bagdá
Damasco
AmãTel Aviv
Beirute
100 km
IRÃ
TURQUIA
JORDÂNIAEGITO ARÁBIA SAUDITA
KUWAIT
IRAQUE
SÍRIA
Tikrit
Ramadi
Al Asad
Habbaniyah
Diyarbakir
Deir
al-Zawr
Fontes: Instituto para o Estudo da Guerra, Departamento de Defesa dos EUA, The Guardian, Folha de S.Paulo
2016 
A organização terrorista domina vastas áreas no coração do Oriente Médio e desestabiliza a região. O governo 
do ditador sírio Bashar al-Assad tem o apoio militar da Rússia para combater os grupos rebeldes e manter-se no 
poder. Já os EUA lideram uma coalizão militar que bombardeia bases do Estado Islâmico
Regiões controladas
Principais cidades 
controladas
O ESTADO ISLÂMICO 
NO IRAQUE E SÍRIA
FORÇAS CONTRA O EI
Atacadas pelo EI
Curdos
Regime sírio
Rebeldes contra 
o governo sírio
Bases da coalizão liderada
pelos EUA
Base russa
2003
EUA e Reino 
Unido invadem 
o Iraque e 
derrubam 
o ditador 
Saddam Hussein
2004
Um dos grupos que lutam 
contra a ocupação do Iraque, 
dirigido por Abu Musab 
al-Zarqawi, se vincula à rede 
Al Qaeda de Osama bin 
Laden, adotando o nome de 
Al Qaeda no Iraque (AQI)
2011
Saída das tropas norte-americanas do Iraque. Rebeldes na Síria, 
com o apoio das potências ocidentais, começam a luta para depor 
o presidente Bashar al-Assad. O EII se desloca para o território 
sírio, onde se fortalece, e também combate Al-Assad. No Iraque, 
opõe-se ao governo de maioria xiita e começa a impor sua 
influência em regiões do norte do país, próximo à fronteira síria
2013
O grupo amplia sua 
atuação na Síria, adota o 
nome de Estado Islâmico 
do Iraque e do Levante 
(EIIL) e passa a contestar 
a liderança da Al Qaeda
2015
Em maio, o EI ocupa as 
cidades de Ramadi (Iraque) 
e de Palmira (Síria). 
Em novembro, realiza 
atentados em Paris que 
causam 130 mortes. 
O Exército iraquiano 
anuncia em dezembro a 
retomada de Ramadi, 
em operação concluída 
em janeiro de 2016
2014
Já desvinculado da Al 
Qaeda, o EIIL ocupa 
Mosul, a segunda maior 
cidade do Iraque, em 
junho. No mesmo mês, 
declara o estabelecimento 
de um califado, chamado 
de Estado Islâmico (EI), 
que abrange áreas sob seu 
controle no Iraque e na 
Síria, e tem sua suposta 
capital na cidade síria de 
Raqqa. Al-Baghdadi 
autodeclara–se o califa. 
A partir de setembro, 
uma coalizão 
internacional, liderada 
pelos EUA, inicia intensos 
bombardeios aéreos 
contra as posições do EI
2006
Com a morte de Al-Zarqawi, 
atingido por bombas norte-ame-
ricanas, a AQI é quase dizimada, 
mas ressurge como Estado 
Islâmico do Iraque (EII). Seus 
principais líderes são Abu Ayyub 
al-Masri e Abu Omar al-Baghdadi
2010
Após as mortes
de Al-Masri 
e Al-Baghdadi, o EII se 
reorganiza sob a direção de 
Abu Bakr al-Baghdadi. 
No Iraque, cresce a 
insatisfação dos sunitas 
contra o governo xiita
Países onde o EI declarou 
províncias do califado
Ataques inspirados
pelo EI
Ataques ligados
diretamente ao EI
OS ATAQUES DO EI PELO MUNDO
30 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
DOSSIÊ ESTADO ISLÂMICO
tado Islâmico e se autodenominou o cali-
fa (um líder espiritual investido de poder 
político). O califado é uma referência aos 
antigos impérios islâmicos surgidos após 
a morte do profeta Maomé – o último 
califado foi o Império Otomano, dissol-
vido em 1920. No entanto, este suposto 
califado carece de legitimidade mesmo 
dentro do mundo árabe-muçulmano.
Recrutamento de voluntários
A força do EI vem principalmente de 
sua capacidade militar e operacional. 
O número de integrantes do EI é de 
difícil verificação. As estimativas mais 
aceitas indicam que o grupo aglutina 
no mínimo 35 mil combatentes. Mas há 
avaliações que chegam a 100 mil mili-
tantes. No Iraque, o EI absorveu mem-
bros do antigo Exército de Saddam 
Hussein, desmantelado após a deposi-
ção do ditador, em 2003. Além disso, a 
população sunita passou a ser cada vez 
mais discriminada pelo governo pró- 
xiita, o que levou muitos a aderir ao 
grupo fundamentalista. 
Mas o que mais impressiona é a ca-
pacidade do EI em atrair voluntários 
de todas as partes do mundo, inclusive 
do Ocidente. Muçulmanos que vivem 
em países da Europa, desiludidos com 
a segregação e a falta de oportunidades, 
aceitam engrossar as fileiras do EI com a 
promessa de salvação. Utilizando tecno-
logias de comunicação que vão de vídeos 
no YouTube a revistas online, o grupo 
manipula o discurso religioso para incitar 
o ódio e atingir seus objetivos políticos. 
O Estado Islâmico 
possui um Exército 
de pelo menos 35 mil 
combatentes, vindos de 
mais de 80 países
BRUTALIDADE 
Cristãos etíopes 
são conduzidos por 
membros do Estado 
Islâmico antes de 
serem decapitados, 
na Líbia
Acredita-se que os membros estrangeiros 
(fora da Síria e do Iraque) seriam prove-
nientes de mais de 80 países. 
Como estratégia de guerra, o EI pro-
move execuções e amputações em massa, 
às vezes contra comunidades inteiras, 
e mortes coletivas, por crucificação, 
decapitação e enforcamento. Essa im-
posição pelo terror visa a atemorizar 
todos aqueles que o grupo classifica como 
infiéis (minorias étnicas e religiosas e 
ocidentais) ou apóstatas (muçulmanos 
que teriam renegado a religião). Como 
um grupo de orientação sunita, seus ata-
ques atingem principalmente os xiitas. 
As raízes doutrinárias do EI, em sua 
cruzada contra os infiéis, podem ser en-
contradas no wahabismo e no salafismo, 
movimentos sunitas ultraconservadores 
e radicais difundidos pela Arábia Sau-
dita (leia mais na pág. 42). Mas a orga-
nização não é movida apenas pelo ódio 
religioso. Com a instituição do califado, 
o grupo pretende criar uma nova ordem 
política no Oriente Médio e, a partir 
da conquista de novos territórios, um 
Estado genuinamente islâmico e uma 
sociedade livre dos costumes ocidentais.
 
A gestão do “governo”
O EI controla um território de aproxi-
madamente 100 mil quilômetros quadra-
dos, área pouco maior que a de Portugal. 
Nesses domínios, onde vivem entre 8 e 
10 milhões de pessoas, o grupo assumiu 
o controle de bases militares, bancos, 
hidrelétricas, campos de petróleo e gal-
pões de alimentos, além de instaurar 
um governo próprio, com ministérios, 
cortes islâmicas e aparato de segurança. 
Atua, assim, como se fosse um verdadeiro 
Estado, impondo a sua caótica ordem.
A venda de petróleo extraído dos 
territórios que ocupa é uma das prin-
cipais fontes de financiamento da orga-
nização. O contrabando do óleo para a 
Turquia – onde é vendido a preços bem 
abaixo dos de mercado – proporciona 
uma renda estimada entre 1 e 3 milhões 
de dólares por dia.
Outras formas de obter recursos são: 
a doação de indivíduos e instituições, 
principalmente da Arábia Saudita e do 
Catar, recompensas por estrangeiros 
sequestrados, o tráfico de milhares 
de objetos arqueológicos e antiguida-
AP
 P
H
O
TO
31GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
EI, DAESH, ISIL OU ISIS? NOME É MOTIVO DE POLÊMICA
O uso do nome Estado Islâmico (EI) para designar o grupo fundamentalista é objeto 
de discussão entre especialistas e governos que estão empenhados em combatê-lo. 
Como se trata de um grupo terrorista, e não de um verdadeiro Estado, muitos dizem 
que chamá-lo pela denominação que ele próprio se atribuiu seria legitimá-lo. Além 
disso, a vinculação islâmica é repudiada pela ampla maioria dos muçulmanos, que 
não se reconhecem nas ações do grupo.
Muitos governos, como o da França, utilizam o nome Daesh, que vem da contração 
de um de seus nomes anteriores (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) em árabe: 
Al-Dawla al-Islamiya fil Iraq wa'al-Sham. O termo, rejeitado pelo EI, é utilizado por 
inimigos do grupo porque o som lembra a palavra árabe que significa “destruidor”. 
Seu uso seria uma forma de desqualificar a organização. 
Autoridades norte-americanas costumam usar a sigla Isil, equivalente em inglês do 
mesmo nome anterior, mas o próprio presidente Barack Obama e o secretário de Esta-
do, John Kerry, já se referiram ao grupo pelo termo pejorativo Daesh. Existe, ainda, o 
termo Isis – uma tradução alternativa que significa Estado Islâmico do Iraque e da Síria.
APARATO MIDIÁTICO 
EXPANDE ALCANCE DO 
ESTADO ISLÂMICO
Diogo Bercito – Em Madri
A mensagem, citando normas do sé-
culo 7º, pode parecer medieval. Mas o 
meio utilizado para divulgá-la é de uma 
modernidade tamanha.
A facção terrorista Estado Islâmico (EI) 
utiliza uma complexa estrutura de comu-
nicação nas mídias sociais para divulgar 
seus vídeos de decapitação e destruição de 
patrimônio histórico na Síria e no Iraque (...).
Um relatório apresentado à ONU pe-
lo pesquisador espanhol Javier Lesaca 
estima, por exemplo, que o EI tenha pu-
blicado mais de 920 campanhas audio-
visuais em 22 meses, com o trabalho de 
33 diferentes produtoras.
A estética, segundo Lesaca, é familiar 
ao público ocidental. Das gravações de 
execuções, quase metade foi inspirada 
em filmes como Jogos Vorazes e jogos 
eletrônicos como Call of Duty.
O EI tem forte presença em dezenas de 
plataformas virtuais. Seus militantes es-
tão no Facebook, no Twitter, no Telegram, 
no WhatsApp e em aplicativos desenvol-
vidos pelos próprios terroristas. (...)
Governos e empresas de comunicação 
caçam esses terroristas on-line, mas o 
esforço necessário é hercúleo. (...)
Folha de S.Paulo, 31/1/2016
SAIU NA IMPRENSA
des históricas, a exploração de outros 
recursos naturais, como o fosfato, e 
a cobrança de impostos e taxas das 
populações submetidas a seu domínio.
A expansão do poder do EI levou vá-
rias facções fundamentalistas a declarar 
lealdade ao califado. Estima-se que se-
jam atualmente pelo menos 30 grupos, 
de quase 20 diferentes países. O grupo 
nigeriano Boko Haram, considerado um 
dos mais violentos do mundo em 2015, 
foi um dos que juraram lealdade ao EI.
Mudança de estratégia
Analistas avaliam que os atentados 
do final de 2015 marcam uma mudança 
de posição importante do EI. Desde que 
surgiu, o EI buscava atrair combaten-
tes num território que conquistou, no 
Oriente Médio, e chamar os islâmicos 
de todo o mundo a jurar obediência a 
seu califado. Ao organizar ou apoiar 
ações terroristas no Egito, no Líbano, 
na França e nos EUA, o grupo passou a 
também projetar-se para fora da Síria 
e do Iraque, tendo como alvo alguns 
dos principais países que desenvolvem 
ações contra a organização.
Os atentados mais recentes indicam 
que vários desses militantes do EI foram 
enviados de volta a seus países de origem, 
para
organizar atos terroristas. Toda a 
ação dos atentados de Paris teria sido 
organizada por integrantes do grupo 
que moravam na França ou na Bélgica. 
O EI também começa a se expandir 
na ocupação de outros territórios. Em 
2015, o grupo chegou até a Líbia, no norte 
da África. Como na Síria e no Iraque, o 
grupo aproveitou-se da fragilidade do 
Estado líbio, onde há disputas entre dois 
governos distintos. Estima-se que o EI 
tenha pelo menos 1,5 mil combatentes 
na região em torno da cidade de Sirte. 
A resposta do ocidente
O avanço do EI, principalmente após 
a proclamação do califado em 2014, le-
vou os EUA a comandar uma coalizão 
formada por cerca de 40 nações para 
realizar bombardeios aéreos contra bases 
da organização terrorista. Os ataques, 
que começaram em setembro de 2014, 
produziram resultados limitados e foram 
intensificados após os ataques em Paris.
Entre dezembro de 2015 e janeiro de 
2016, o Exército iraquiano retomou a 
cidade de Ramadi, que havia sido cap-
turada em maio pelo EI. Ramadi fica 
a 100 quilômetros da capital, Bagdá. 
Os bombardeios da coalizão também 
fizeram o EI perder territórios na Síria 
e no Iraque. Embora tenha sido um 
avanço na luta contra o grupo, analistas 
avaliam que será muito mais difícil a 
recuperação de cidades maiores, como 
Raqqa (Síria), Mosul e Faluja (Iraque).
O objetivo imediato dos EUA não é 
extinguir o EI, mas contê-lo, reduzindo 
o espaço geográfico sob seu controle. 
Um esmagamento completo do grupo 
é considerado praticamente impossível 
sem uma grande intervenção em solo, 
que é de difícil execução, tanto militar 
quanto politicamente. Após as fracas-
sadas intervenções no Afeganistão e no 
Iraque, realizadas durante a Guerra ao 
Terror na década passada, a política ex-
terna de Obama tem sido pautada pela 
cautela quando se trata de intervenções 
militares em outros países.
Outro problema é o impasse em torno 
da coalizão organizada pelos EUA para 
combater o EI, já que é difícil separar 
essa iniciativa da situação da guerra ci-
vil na Síria, em que há divergências en-
tre os vários atores. Tanto EUA quanto 
União Europeia, Rússia e os principais 
aliados dos países ocidentais no Oriente 
Médio, como Arábia Saudita e Turquia, 
participam formalmente da luta contra 
o EI. Na Síria, entretanto, onde boa 
parte dos combates efetivos se desen-
volve, os interesses são diferentes. E 
esse impasse tem sido fundamental para 
o fortalecimento do grupo extremista.
32 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016
DOSSIÊ ESTADO ISLÂMICO
Mais de 250 mil pessoas já morreram nesse conflito que 
resultou no fortalecimento do Estado Islâmico e alterou o 
equilíbrio de forças no Oriente Médio
arço de 2011. Um gru-
po de crianças em Da-
raa, no sul da Síria, é 
preso pela polícia por 
pichar frases críticas 
ao governo. Inconfor-
madas, centenas de pessoas saem às ruas 
da cidade para protestar contra as res-
trições à liberdade promovidas pelo go-
verno do ditador Bashar al-Assad. Assim 
como em outros países do Oriente Médio 
e do norte da África, a Síria mergulha na 
onda de manifestações conhecida como 
Primavera Árabe (veja boxe na pág. 37).
Mas a manifestação pacífica em Daraa 
é violentamente reprimida. As forças de 
segurança abrem fogo contra a multidão 
e matam dezenas de pessoas. A reação 
desproporcional do governo estimula 
novas revoltas. Algumas semanas depois, 
mais de 100 cidades na Síria são palco de 
protestos regulares. As tropas do governo 
não cedem e respondem com violên-
cia, o que leva a oposição a se organizar 
em diversos grupos armados para lutar 
contra Assad. É o início da guerra civil.
Corta para março de 2016. Passados 
cinco anos, a Síria é uma terra arrasada. O 
conflito é considerado pela Organização 
das Nações Unidas (ONU) a maior crise 
humanitária deste século. Os números 
falam por si só. Pelo menos 250 mil pes-
soas morreram. Entre os sobreviventes, 
6,5 milhões de pessoas foram obrigadas 
a mudar-se para outras regiões do país, e 
outros 4,5 milhões abandonaram a Síria. 
Com a economia em frangalhos, quase 
70% dos sírios que permaneceram agora 
vivem abaixo da linha de pobreza. 
As forças no conflito
A população síria encontra-se no 
meio de um fogo cruzado que envolve 
diferentes grupos. Veja a seguir as prin-
cipais forças envolvidas no conflito:
GOVERNO SÍRIO E ALIADOS De um lado do 
conflito está o regime sírio, liderado por 
Bashar al-Assad. Desde 1970, a família 
Assad comanda no país um brutal regime 
de partido único. Apesar de serem alauí-
tas (uma seita muçulmana do ramo xiita), 
os Assad mantinham um governo laico, 
que separava a religião do Estado. Com o 
início dos protestos, os sunitas tomaram 
a frente na oposição ao regime, o que deu 
ao conflito contornos sectários. Apesar 
de não apoiarem o ditador, cristãos, xiitas 
e até parte da elite sunita preferem ver 
Assad no poder diante da possibilidade 
de ter um país tomado pelos extremistas.
Quanto às alianças externas, Assad 
conta com o apoio do Irã e do grupo liba-
nês Hezbollah, formando um “eixo xiita” 
no Oriente Médio. O termo se refere a 
uma aliança política que reúne países e 
organizações cujos líderes são adeptos 
dessa corrente do islamismo. O grupo 
se opõe a Israel e disputa a hegemonia 
no Oriente Médio com as monarquias 
sunitas, lideradas pela Arábia Saudita. O 
principal aliado fora da região é a Rús-
sia, que mantém uma antiga parceria 
com a Síria, sustentada pela base naval 
que os russos controlam em Tartus, no 
litoral sírio. Tanto o apoio do Hezbollah 
e das milícias iranianas quanto os bom-
bardeios mais recentes realizados pelas 
forças russas têm sido fundamentais 
para a sobrevivência do regime de Assad.
GRUPOS REBELDES Umas das primeiras 
forças a mergulhar na guerra foram os 
grupos sunitas que lutam para derrubar 
a ditadura de Assad. Entre os chamados 
“rebeldes moderados”, que recebem esse 
nome por não serem adeptos do radi-
calismo islâmico, a maior expressão é o 
Exército Livre da Síria (ELS). A organi-
zação conta com o respaldo das potências 
ocidentais, lideradas pela Europa e EUA. 
Também recebem apoio da Turquia e da 
Arábia Saudita, principais inimigos de 
Assad na região. É por isso que a guerra 
na Síria, além de ser uma disputa interna 
de poder, reflete a rivalidade entre dois 
países-chave no Oriente Médio: Irã e 
Arábia Saudita (veja mais adiante).
33GE ATUALIDADES | 1º semestre 2016 
MA
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ÍRIOS F
UGIU PARA PAÍSES PRÓXIMOS
A atual instabilidade no Oriente Médio é fruto de antigas rivalidades e intervenções externas. Veja como se posicionam os principais atores regionais
SÍRIA
O regime de Bashar al-Assad passou a 
ser combatido em 2011 por grupos 
rebeldes armados, sustentados por 
EUA, Arábia Saudita e Catar. Para se 
defender, o governo sírio conta com o 
apoio do Irã e do grupo libanês 
Hezbollah, além da Rússia. Numa 
situação de caos criada pelo conflito, 
o EI ocupou metade do território sírio. 
Os curdos, etnia que habita o norte 
do país e luta por um estado 
independente, ajudam indiretamente 
Assad, ao combater os rebeldes e o EI
TURQUIA
Integra a coalizão internacional contra o 
EI, mas sua preocupação central é evitar a 
ascensão dos curdos, que estão presentes 
em seu território e em outros países da 
região e que lutam pela criação de um 
Estado próprio. Por isso, o regime turco 
fez vistas grossas à passagem de jihadistas 
por suas fronteiras em direção às regiões 
controladas pelo EI, já que o grupo 
combate os curdos. Antigo aliado sírio, a 
Turquia foi um dos primeiros países a 
voltar-se contra Bashar al-Assad assim que 
começaram as revoltas na Síria, em 2011
ISRAEL
Desde sua criação, em 1948, o país vive 
um conflito com os árabes palestinos 
que ocupavam a região. Fortemente 
financiado e armado pelos

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