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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Graduação em Direito Thais Lorrane de Souza PROPOSTA DE REFORMA TRABALHISTA Análise do Projeto de Lei nº 6.787/2016, que trata do Acordado Prevalecer sobre o Legislado. Betim 2017 Thais Lorrane de Souza PROPOSTA DE REFORMA TRABALHISTA Análise do Projeto de Lei nº 6.787/2016, que trata do Acordado Prevalecer sobre o Legislado. Monografia apresentada ao Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Cleber Lúcio de Almeida Área de concentração: Direito do Trabalho Betim 2017 Thais Lorrane de Souza PROPOSTA DE REFORMA TRABALHISTA Análise do Projeto de Lei nº 6.787/2016, que trata do Acordado Prevalecer sobre o Legislado. Monografia apresentada ao Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito do Trabalho Prof. Dr. Cleber Lúcio de Almeida (Orientador) – PUC Minas Prof(a). Prof(a) Betim, ___ de junho de 2017. AGRADECIMENTOS A minha família pelo incentivo para que eu me superasse cada vez mais. A todos que, de alguma forma, contribuíram para o meu crescimento. RESUMO O Projeto de Lei (PL) 6.787/16 altera diversos pontos relevantes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), se tratando das reformas trabalhistas. O objetivo do trabalho é demonstrar que a aprovação do referido PL impactará de forma relevante e gravosa as relações trabalhistas. Os conceitos utilizados abordam temas como as fontes do Direito do Trabalho, bem como as Convenções e Acordos Coletivos. Analisa, ainda, a história do sindicalismo no Brasil e seu declínio. O trabalho evidencia que a possível aprovação do PL 6.787/16, importa em grandes perdas para o trabalhador brasileiro. Palavras-chave: Projeto de Lei 6.787/16. Direitos trabalhistas. Sindicalismo. ABSTRACT The bill 6,787/16 changes more than one hundred points of the Consolidation of Labor Laws (CLT), when it comes to labor reforms. The objective of this academic work is to demonstrate that the approval of said bill will significantly and seriously affect labor relations. The concepts used address issues such as the sources of Labor Law, as well as Collective Agreements and Agreements. It also analyzes the history of trade unionism in Brazil and its decline. This work shows that the possible approval of PL 6.787/16, implies in large losses for the Brazilian worker. Keywords: Bill 6.787/16. Labor rights. Syndicalism. SUMÁRIO 15 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho objetiva não apenas cumprir com a exigência acadêmica, mas analisar os danos que serão causados ao trabalhador brasileiro com a possível aprovação do Projeto de Lei 6.787/16, também denominado de “reforma trabalhista”. O tema possui extrema relevância social, visto que referido PL deixa o trabalhador, parte hipossuficiente na relação trabalhista, mais vulnerável. Um dos principais pontos da Reforma, que será o assunto especificadamente abordado nesta monografia, abre a possibilidade para que negociações entre trabalhadores e empresas se sobreponham à legislação trabalhista, o chamado "acordado sobre o legislado". Ou seja, poderão ser negociados direitos garantidos do trabalhador, sobrepondo-se à lei. Os autores relevantes e que serão mais citados ao longo do presente estudo são: Mauricio Godinho Delgado (2014), Vólia Bomfim Cassar (2014) e Carlos Henrique Bezerra (2014). Ademais, será também fundamental para o presente trabalho, a análise do Projeto de Lei nº 6.787/16, que visa reformar as relações trabalhistas. Desta forma, trata-se de uma pesquisa jurídica, de vertente jurídico- sociológica, uma vez que pretende abordar posições doutrinárias frente às mudanças sociais no que se refere tanto ao declínio do poder sindical no Brasil, quanto à possível aprovação do PL supracitado. Fará uso do raciocínio dedutivo, uma vez que, em primeira fase abordará as Fontes do Direito do Trabalho, os institutos referente a ele, bem como a história do sindicato no Brasil. Já, numa segunda fase discorrerá sobre a permissão que o PL traz no sentido das negociações sobrepondo as leis. A pesquisa empreende uma investigação propositiva, visto que objetiva promover discussões sobre o dever do Direito e sua adequação aos fatos reais, de modo a proporcionar uma visão ampla do conceito das possíveis mudanças nas relações entre empregado e trabalhador, lesivas a este último. 16 17 2 FONTES DO DIREITO DO TRABALHO - A SOLUÇÃO DE CONFLITOS DE NORMAS NO DIREITO DO TRABALHO A presente monografia versa sobre a relação entre o direito do trabalho negociado e o direito do trabalho legislado, ou dito de outra, entre as normas constantes de ACT ou CCT e a lei. Deste modo, no presente capítulo serão definidas as fontes do direito do trabalho e os mecanismos de solução de eventuais conflitos entre elas. 2.1 Fontes As fontes são a origem do direito, princípios dos quais surgem o direito. Vólia Bomfim Cassar (CASSAR, 2014, PÁG 49.), define fonte como meio pelo qual o Direito do Trabalho se forma, se origina e estabelece suas normas jurídicas. De acordo com Maurício Godinho Delgado (DELGADO, 2014, PÁG.136), as fontes são temas decisivos, principalmente no Direito do Trabalho, tendo em vista que diferente dos demais ordenamentos jurídicos, este tem grande influência de regras oriundas de fonte privada, regras jurídicas procedentes da fonte estatal. O autor supracitado, além de demais doutrinadores, classifica ainda, as fontes jurídicas em dois blocos, conhecidos como fonte material e fonte formal. Diferencia estes blocos através de dois momentos, quais sejam a construção das regras de Direito, que são as fontes materiais, e o momento jurídico de regras já construídas que se propagam no mundo exterior, as então conhecidas, fontes formais. 2.1.1 Fontes Materiais As fontes materiais são o próprio direito material, consubstanciado nos fatospolíticos sociais, econômicos, culturais, éticos e morais. (LEITE, 2014). Maurício Godinho Delgado (2014, p. 137), divide as fontes materiais em econômicas, sociológicas, políticas e ainda, filosóficas. As fontes materiais econômicas estão ligadas a evolução do sistema capitalista e suas consequências. Já sob a perspectiva sociológica, dizem respeito à agregação de trabalhadores assalariados, em função do sistema econômico, nas 18 empresas, cidades e regiões do mundo ocidental contemporâneo. A crescente urbanização, a criação de grandes unidades empresariais, reuniões, debates, estudos e ações organizativas por parte dos trabalhadores. Sob o ponto de vista político, que segundo o autor, ainda que guarda forte relação coma perspectiva sociológica já examinada, diz respeito aos movimentos sociais organizados pelos trabalhadores, a dinâmica sindical. E, por fim, as fontes materiais sob o ponto de vista filosófico, que acomoda as ideias e correntes de pensamentos, que organizadas entre si ou não, interferem na construção e mudança no Direito do Trabalho. (DELGADO, 2014). Vólia Bomfim Cassar (2014, p. 52), afirma que a fonte material está em um estágio anterior às fontes formais, e que esta influencia na composição da norma jurídica. 2.1.2 Fontes Formais Alice Monteiro de Barros (2012, p. 82) defende que “as fontes formais traduzem a exteriorização dos fatos por meio da regra jurídica. Essa fonte pode ser imposta de forma coercitiva, obrigando de maneira geral.” (BARROS, 2012). São consideradas fontes formais, as normas positivadas, exteriorizadas de fatos e valores, elabora o direito conforme a formação de uma norma jurídica. Segundo Mauricio Godinho Delgado (2014): As fontes formais justrabalhistas classificam-se em heterônomas e autônomas. O Direito do Trabalho brasileiro constitui-se das seguintes fontes heterônomas: Constituição; leis(inclusive medidas provisórias);regulamentos normativos (expedidos mediante decretos do Presidente da República); tratados e convenções internacionais favorecidos por ratificação e adesão internas; sentenças normativas. Constitui-se, ainda, esse ramo jurídico especializado das seguintes fontes autônomas: costumes;convenções coletivas de trabalho; acordos coletivos de trabalho. (DELGADO, 2014, p.141). Sobre o tema, Evaristo de Morais Filho e Antônio Carlos Flores de Morais assim manifestam: Deixando de lado, por inexpressivo, o problema das fontes materiais do Direito do Trabalho, que se confunde com os seus próprios fundamentos e suas razões históricas, diretamente saídas do húmus social, podemos dividir as fontes formais do direito do trabalho em heterônomas(lei, regulamento, sentença normativa, regulamento de empresa, quando 19 unilateral) e fontes autônomas (de costumes, convenção coletiva e ainda regulamento de empresa, quando bilateral).(MORAIS FILHO, 2014, p.161). Conforme Cassar (2014), as fontes formais são normas positivadas, e ordenam os fatos segundo valores, não significa norma escrita e sim norma positiva, que tem força coercitiva sobre seus destinatários. As fontes formais se subdividem em autônomas e heterônomas, veja-se: As fontes formais dividem-se em autônomas e heterônomas. Autônomas diretas, não estatais ou primárias são elaboradas pelos agentes sociais, sem intervenção do Estado. Emergem da vontade dos sujeitos da relação de emprego. Ao contrário, as heterônomas, estatais ou imperativas são as emanadas do Estado ou aquelas em que intervém na sua elaboração. Resultam da atividade estatal. (CASSAR, 2014, p. 53). 2.2 As fontes do direito do trabalho São fontes do Direito do Trabalho, as leis, costumes, sentenças normativas, dentre outros, entretanto o presente trabalho enfatizará as fontes formais, ou melhor, os acordos e convenções coletivas. Conforme explica Alice Monteiro de Barros: No Direito do Trabalho, além das fontes formais que advêm da vontade do Estado, existem as que têm origem profissional ou autônoma, isto é, emanam da vontade das partes, manifestada em assembleia promovida pela entidade sindical. (BARROS, 2012, p.96). Neste sentido, dentre as fontes do direito do trabalho estão a CCT e o ACCT. Vólia Bomfim Cassar esclarece que: [...] o Direito Coletivo trata coletivamente dos conflitos e das formas de solução desses mesmos conflitos. Trata da organização Sindical e da forma de representação coletiva dos interesses da classe profissional e econômica. (CASSAR, 2014, p. 1213). Acordos e Convenções Coletivas do Trabalho, institutos diferentes, mas que comumente tratam das condições de trabalho que serão aplicadas aos contratos dos trabalhadores, tendo suas diferenças pautadas nos sujeitos envolvidos. O acordo Coletivo de Trabalho é realizado entre uma ou mais empresas e o respectivo sindicato da categoria profissional, enquanto a Convenção Coletiva de Trabalho é realizada entre o sindicato da categoria profissional do trabalhador, e o sindicato da categoria econômica. 20 A recomendação 98 da OIT, de 1951, traz em seu no art.4º, a seguinte redação: Artigo 4º - Deverão ser tomadas, se necessário for, medidas apropriadas ás condições nacionais, para fomentar e promover o pleno desenvolvimento e utilização dos meios de negociação voluntária entre empregadores ou organizações de empregadores e organizações de trabalhadores com o objetivo de regular, por meio de convenções os termos e condições de emprego. ” (SUSSEKIND, 1998). Segundo José Augusto Rodrigues Pinto, um conceito bastante correto para a OIT bem poderia ser o de agente universalizador das condições fundamentais das relações de trabalho subordinado, através das propostas de normatividade homogênea por todos os seus membros. (PINTO, 2002, p. 68). Conforme Arnaldo Sussekind: A partir de 1919, com a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as convenções e recomendações elaboradas por sua Conferência (Assembleia Geral) inovaram o Direito Internacional do Trabalho, tendo por alvo o Direito do Trabalho interno (nele, então compreendida a Previdência Social) dos Estados-membros e dos seus territórios dependentes, isto é, a internacionalização, tanto quanto possível uniforme, dos direitos do trabalhador. (SUSSEKIND, 1983, p. 18). Sendo assim, a importância da OIT, é decorrente da expansão que proporcionou no âmbito coletivo do trabalho. Para melhor entendermos a temática, abordaremos o instituto do Acordo Coletivo de Trabalho e Convenção Coletiva de Trabalho, separadamente, levando em conta suas peculiaridades. 21 3 CONVENÇÕES E ACORDOS COLETIVOS DE TRABALHO Delgado (2014) define Convenção e Acordo Coletivo do Trabalho como um privilégio em função da coletividade. E ainda diferencia a CCT, e o ACT. Que segundo ele, a CCT tem necessariamente a representatividade do sindicato, seja para os empregados ou empregadores, e o ACT não necessariamente há essa representatividade aos empregadores. O autor nos remete a narrativa do exercício da denominação Contrato Coletivo de Trabalho, desde os primórdios, antes da reforma de 1997, para constituir o diploma negocial coletivo que regulava, era aplicado o correspondente a Convenção Coletiva do Trabalho nos dias de hoje. Através do decreto-lei nº229, de 1967, afastou se então, a denominação Contrato Coletivo. A partir de então passou- se a diferenciar em dois institutos a Negociação Coletiva, sendo estes, a Convenção Coletiva De Trabalho, e o então recém-criado Acordo Coletivo de Trabalho. Delgado (2014), afirma ainda que: [...] esta expressão e figura jus coletivas ressurgiram no Direito brasileiro após a Constituição de 1988. Seu reaparecimento não guarda, entretanto, qualquer vinculação como velho instituto regulado pela CLT (arts. 611 e seguintes), antes da reforma de 1967. Aquele velho instituto era, em tudo, caudatário e afirmador do corporativismo das décadas de 1930 e 40, ao passo que o novo contrato coletivo de trabalho apareceu, mais recentemente, no país como contrapondo ao sistema corporativista, uma tentativa de se gestar um instrumento de negociação coletiva que fosse capaz de ultrapassar os limites da estrutura corporativista tradicional do Direito Coletivo no Brasil. (DELGADO, 2014, p.163). Considerando as afirmações de Orlando Teixeira da Costa, diante da perspectiva de uma ou mais empresas em situação conflitual: Tende-se a acomodar-se mediante procedimentos de transação, pelos quais se negociam condições de trabalho. Esse tipo de conduta é, hoje em dia, universal, sendo, entretanto, de uso mais frequente, nos chamados países industrializados de economia de mercado. A transação negocial estabelecida entre os interlocutores sociais acima recebe denominação de Negociação Coletiva e se concretiza através de instrumentos que recebem as mais variadas denominações. (COSTA,1991,p.149). O art. 611, caput da CLT dispõe o seguinte: Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das 22 respectivas representações, as relações individuais de trabalho. (BRASIL, 1943). Entabulado através de sindicatos representativos, a Convenção Coletiva resulta do acordo de vontade celebrado na presença do sindicato representativo de determinada categoria profissional. A CLT, trata ainda, em seu art. 611, §1º, do Acordo Coletivo de Trabalho: É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. (BRASIL, 1943). O Direito Coletivo visa as relações coletivas do trabalho, meios estes de proteção ao trabalhador. Revelando-se pós Revolução Industrial, momento em que os trabalhadores começam a mudar suas posturas em relação a seus empregadores. Tendo suas diferenças pautadas na atuação sindical, os Acordos Coletivos de Trabalho, são celebrados entre uma entidade sindical e uma ou mais empresas, enquanto a Convenção Coletiva de Trabalho é realizada entre sindicatos, o dos trabalhadores e o da respectiva categoria econômica. Instrumentos estes, previstos na CLT, bem como no art. 7º, XXVI da Constituição Federal de 1988. Conforme observamos, tanto o ACT quanto a CCT, são mecanismos de proteção ao trabalhador, não podendo suprimir direitos, nem contrariar algumas proibições, previstas na CLT: Art. 623 Será nula de pleno direito disposição de Convenção ou Acordo que, direta ou indiretamente, contrarie proibição ou norma disciplinadora da política econômico-financeira do Governo ou concernente à política salarial vigente, não produzindo quaisquer efeitos perante autoridades e repartições públicas, inclusive para fins de revisão de preços e tarifas de mercadorias e serviços. (BRASIL, 1943). A Constituição Federal apresenta em seu art. 7º, inciso XXVI, normas que não podem ser rompidas, normas que quando feridas não prevaleceram os Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho, nesse sentido: EMENTA TST: NORMAS COLETIVAS DE TRABALHO. LIMITE DE EFICÁCIA. CLÁUSULA PREJUDICIAL AO TRABALHADOR.[…] quando 23 ferido o caput do art. 7º, quando envolve direitos sociais que não foram inseridos pela Constituição no campo da negociação coletiva, quando desvirtua os princípios da ordem social e do direito ao resultado do trabalho, nem, sobretudo, quando de algum modo pretende sucumbir o direito constitucional de ação trabalhista dos trabalhadores perante esta Justiça Especializada do Trabalho. (TST - RO 91200701810001 DF 00091-2007- 018-10-00-1, Brasília (DF), 07 de maio de 2008. (Data de julgamento) ALEXANDRE NERY DE OLIVEIRA Juiz Relator Ciente p/Procuradoria Regional do Trabalho). O ACT e a CCT, deveriam viabilizar as relações de trabalho, mas jamais suprimir direitos. Neste sentido, mais a frente será abordado um dos pontos do Projeto de Lei que tramita no Senado Federal, o PL 6787/2016, que em sua proposta inicial, permite a supressão de diversos direitos trabalhistas. Dentro dessa estrutura, está presente uma figura de grande importância para o estudo do Direito Coletivo, figura esta que o trabalhador dispõe para fazer valer seus direitos, para melhor entendermos o Sindicato, atentaremos a sua trajetória adstrito a Convenção Coletiva e ao Acordo Coletivo de Trabalho, através da doutrina de José Augusto Rodrigues Pinto, Direito Sindical e Coletivo do Trabalho. 3.1 Evolução Sindical É a figura do Sindicato que vai intermediar essa relação coletiva de trabalho, essa organização profissional mais antiga do que imaginamos, como explica José Augusto (2002), que já poderia ser observado desde a antiguidade remota. Na Idade Moderna, surgem as corporações de ofício, que ensejaria na formação do sindicato mais tarde. Essas corporações se perdem, uma vez que reunia companheiros e aprendizes, o que se tornou insustentável. Após, surge uma nova organização social, desencadeando novas ideias e fortalecendo o mercado burguês, onde se mantinham associações de defesa de grupo. Posteriormente, tem início a utilização das máquinas como fator de produção, dando início a Revolução Industrial que substituiria o trabalho manual humano. A partir da Revolução Industrial, em um cenário de pressão e poder econômico sobre o assalariado, surge o proletariado como classe social e que tem grande influência no Direito do Trabalho, em meio aos maus-tratos aos trabalhadores, condições desumanas e uma carga de trabalho extensa e exaustiva, 24 o Direito do Trabalho tem destaque, tendo início o aspecto de direito individual, firmado em acordo também individual de vontades. (PINTO, 2002). Neste sentido: […] o Direito do Trabalho, destacou-se do Comum e teve seu primeiro crescimento pela vertente do direito individual firmado em acordo também individual de vontades, no qual se tornava fácil ao empregador exercer pressão econômica sufocante da manifestação livre da vontade do empregado. (PINTO, 2002, p.40). Iniciados os centros industriais, novas cidades foram crescendo aos arredores, e este processo trouxe junto a insatisfação da classe operária e a necessidade de defesa do domínio capitalista, despertando assim uma consciência coletiva, chegando à conclusão que além de seus trabalhos, seus interesses também eram coletivos, passando o Direito inicial individual a ser coletivo. (PINTO, 2002). Neste seguimento, “podemos sustentar, pois, com firme certeza, que da coletivização dos trabalhadores, precipitada pelo fato de urbanização da sociedade industrial, se originou o ramo interno coletivo do Direito do Trabalho” (PINTO, 2002 p.43). Nessa linha de entendimento, continua o autor a indagar a importância do Direito Coletivo no objeto da relação jurídica, e quem deveria ser atingido, e a partir daí, com a classe operária mais conscientizada, teve início a necessidade de representatividade para as reivindicações. Portanto, na mesma medida em que essa consciência gerou o Direito Coletivo Do Trabalho, gerou também o sindicato moderno e o movimento que o impôs à aceitação relutante dos empregadores e do próprio poder público, o sindicalismo. O sindicalismo, movimento destinado a dar configuração a força aos sujeitos das relações entre categorias profissionais e econômicas, foi uma terceira e importantíssimaconsequência da Revolução Industrial. (PINTO, 2002, p.43). Havia apenas algumas manifestações esparsas e incipientes que não permitiam a formação de um movimento sindical organizado e forte. No final do século XIX, influenciado por imigrantes, no Estado de São Paulo, surgiam as primeiras associações. No fim do século XX e início do século XXI, em um período identificado como Revolução Tecnológica, vem a grande questão de qual o rumo tomaria o 25 movimento sindical e o sindicato, dele resultante. Com essa nova era, vem a globalização, a classe trabalhadora em sua totalidade, vendem sua força de trabalho, surge segundo Marx, o consumo de trabalho como valor de uso e não como troca. Após acontece um enfraquecimento sindical, e o autor discorre das ideias de autores que “a sociedade construída pela globalização doentia desse capitalismo selvagem, entre as quais a de sindicatos europeus mais combativos, com uma crítica a postura atual do movimento sindicalista” (PINTO, 2002, p.52). Esta se resume à omissão dos sindicalistas na Europa. Após o autor remete a estratégia de defesa dos direitos coletivos, principalmente nos países mais desenvolvidos. Desta forma, “o Direito Coletivo do Trabalho não sobreviveria sem sua sustentação sindical.” (PINTO, 2002, p.55). No período imperial que corresponde à 2º fase da evolução do Direito do Trabalho e seu ramo interno de Direito Sindical e Coletivo, já que nessa época acontece a independência política, deixamos de ser colônia, e adotamos o status de monarquia parlamentarista. Temos ainda fortes acontecimentos como abolição da escravatura em 1988 e a proclamação da república em 1889. O autor supracitado afirma que nesse período, as relações de trabalho se mantiveram estáveis, porém, por trás, ocorriam fatos importantes que influenciariam no surgimento do sindicalismo, dentro do Direito do Trabalho. A primeira constituição republicana, promulgada em 1891, esta que abriu as portas para as organizações sindicais através das correntes migratórias de trabalhadores europeus, que se iniciava, estes que vieram “embebidos do triunfo do sindicalismo”. (PINTO, 2002, p.67). O sindicato e o sindicalismo tornam atenção prioritária da OIT, “um exemplo, é 174 convenções e 181 recomendações internacionais do trabalho em 1919 1 1993, sendo as mais conhecidas, as Convenções nº 87 e 98, sobre liberdade sindical” (PINTO, 2002, p. 69). Deixando para trás a República Velha, em 1930 inicia se um período de preocupação com a estrutura econômica, e não um suposto momento de preocupação com o trabalho, mencionado pelo autor, como o “trabalhismo de vargas” como conhecido, mas daí surgem fatores importantes, já que a economia está ligada ao Direito do trabalho, em 1931 cria-se a primeira lei sindical brasileira. 26 No tocante a Constituição de 1934, esta apresenta conflitos entre o Direito Sindical e o Direito Coletivo, esta constituição consagrava a pluralidade sindical e sua autonomia, enquanto a Carta de 1937 estabelecia a unicidade sindical, condicionado seu funcionamento à autorização do Estado. Em 1931, Vargas já havia editado um decreto que adotava a unicidade sindical, durante toda era Vargas houve intensa atividade estatal, o que acabou por gerar grandes intervenções, vindo a culminar em repressão a qualquer manifestação por leis próprias em relação ao movimento operário. Assim, gerou-se minuciosa organização do sistema trabalhista. A ditadura implementada em 1937 subtraiu qualquer resistência à estratégia político jurídica do Estado. Nessa época destaca-se a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e do Departamento Nacional do Trabalho na área administrativa. No tocante a estrutura sindical, foi implementada a estrutura oficial que determinou a unicidade sindical, ale de submeter a criação dos sindicatos á aprovação do Estado de modo que ficaram conhecidos, na mencionada época como órgãos colaboradores do Estado. O sistema de solução judicial dos conflitos trabalhistas foi feito inicialmente através das Comissões Mistas de Conciliação e Julgamento. Em cinco de julho de 1939, é sancionado o Decreto-lei nº 1.402 que legitimaria a associação em sindicatos. Em seguida, vem o Estado Novo, onde é editada nossa CLT, a qual prevê em seu art. 516 que “não será reconhecido mais de um sindicato representativo da mesma categoria econômica ou profissional, ou profissão liberal, em uma dada base territorial.” (BRASIL, 1943). Pinto (2002) nos atenta a reconhecer a real intensão de Vargas que era alterar a economia brasileira de rural para industrial. Ainda na era Vargas, numa troca com o governo norte-americano, foi instalada bases militares fundamentais para as operações bélicas dos Estados Unidos, em nosso território, em contrapartida da instalação da primeira grande siderúrgica do país, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda. Assim, a evolução sindical e coletiva continuou até o movimento político militar em 1964, entre 1946 e 1934 cresceu as lideranças sindicais em grandes indústrias. O papel dos trabalhadores mais organizados foi essencial para o enfraquecimento político de 1964. (PINTO, 2002). 27 Fundada na unicidade sindical, nossa legislação não previa a organização de centrais sindicais, representativa de grupos profissionais distintos, entretanto foram constituídas com consentimento dos governos militares como símbolo da resistência ao regime político da época. A primeira central foi a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT). Mais tarde surge outra, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 1957, no governo JK, instalou-se em São Paulo a indústria automobilística. Iniciando a expansão industrial e geração de empregos indústrias, veio também a urbanização da sociedade, cresceu a concentração operária e a formação da consciência coletiva dos trabalhadores. Se em, em termos de sindicalismo e direito coletivo ele se iniciou com as distorções de nascimento dos nossos sindicatos, dentro dele mesmo teve começo a mudança de condições para sua correção, mediante a passagem do sindicato do Estado para o sindicato dos trabalhadores, na medida em que corresponde a uma clara compreensão por estes da arma que representa, em termos de pleitos operários, e da força para negociá-los com os empregadores como direito, não como favor. (PINTO, 2002, p. 77). Fundada na unicidade sindical, nossa legislação não previa a organização de centrais sindicais, representativa de grupos profissionais distintos, entretanto foram constituídas com consentimento dos governos militares como símbolo da resistência ao regime político da época. Por fim, na Constituição Federal de 1988, segundo o autor vem os pontos conflituosos, com os avanços que aconteceram, um dos pontos seria a unicidade sindical como já abordado. Em meio a toda essa narrativa extraída da revista do autor José Augusto Rodrigues Pinto (2002), notamos a importância da figura do Sindicato nas relações do Direito Coletivo. No entanto, cabe ressaltar que por mais importante que sejam, os sindicatos brasileiros não possuem, ainda, uma estrutura suficiente que abarque as necessidades dos trabalhadores. A grande questão que será abordada a seguir é como esse sistema passível de fraudes, não representativo e defasado poderá intermediar um acordo de vontades que vai insurgir sobre a letra da lei. Desta forma, observa-se que os Sindicatos necessitam urgentemente de reforma no que se refere a sua atuação, visto que, um meio que deveria ser de 28 proteção ao trabalhador, tem se tornado apenas um artifício para se obter vantagens. Neste sentido, discorre Arnaldo Sussekind: É preciso considerar que o Brasil é desigualmente desenvolvido, onde regiões plenamente desenvolvidas convivem comoutras em vias de desenvolvimento e com algumas preocupantemente subdesenvolvidas. Ora, só existem sindicatos fortes, capazes de negociar em posição de equilíbrio com importantes empresas nacionais e multinacionais, onde há espirito sindical. E esse dado sociológico emana espontaneamente das grandes concentrações operárias, as quais se formam onde há desenvolvimento econômico, sobretudo no setor industrial. (SUSSEKIND, 2002, p.7). No mesmo contexto, José Ricardo Ramalho discute em sua publicação: [...], por exemplo, a formulação de novas estratégias que possibilitem a combinação de ações defensivas e reivindicativas com políticas propositivas orientadas para um conjunto mais amplo de trabalhadores, incluindo os setores desorganizados. E há um reconhecimento de que o movimento sindical tem de transpor os limites de suas ações e reivindicações específicas, não apenas por uma questão de solidariedade para com os excluídos, mas como condição para manter e ampliar sua base de apoio, seu poder de representação e a possibilidade de novas conquistas. (ANTUNES, 2002, p. 98). Voltando nos Acordos Coletivos e convenções Coletivas de Trabalho, vamos adentrar aos fundamentos para solução, de possíveis Conflitos Coletivos de Trabalho. No que se refere ao tema, Delgado (2014) afirma que a hierarquia estabelece as regras do Direito, ou seja, “a fixação de uma ordem, uma gradação, de uma prevalência entre as regras jurídicas - o estabelecimento, pois, de uma hierarquia - confere sistematicidade, coerência e harmonia ao Direito”. (DELGADO, 2014, p. 1487). 29 4 A SOLUÇÃO DE CONFLITOS ENTRE AS FONTES DO DIREITO DO TRABALHO O ordenamento jurídico como um todo, é um complexo que abrange regras, princípios e institutos regulatórios da sociedade em determinado segmento ou Estado. Conforme explica Delgado (2014), a hierarquia das fontes tem extrema relevância, vez que estabelece as regras do Direito. Desta forma, o presente capítulo abordará uma análise das fontes materiais e formais do direito do trabalho, bem como suas hierarquias, se fazem extremamente necessárias, pelo fato das mesmas possuírem determinados conflitos. 4.1 Meios clássicos de solução de conflitos entre normas São utilizados como forma de resolução de conflitos de acordo com a doutrina majoritária, os mecanismos de autocomposição, heterocomposição e autodefesa. Institutos estes que abordaremos separadamente de acordo com alguns doutrinadores. Conforme articula Jorge Luiz Souto Maior (2008, p.98), os mecanismos de solução de conflitos coletivos de trabalho, são divididos em autocomposição, heterocomposição e autodefesa, os quais seriam respectivamente conciliação ou mediação, arbitragem ou processo e greve. A autocomposição é o procedimento, em que a solução encontrada não é imposta as partes. Sendo na esfera Coletiva, exemplos de autocomposição dos conflitos Coletivos Trabalhistas, a Negociação Coletiva e a Mediação. O Acordo Coletivo, resultante da negociação entre sindicato representante da classe trabalhista e uma ou mais empresas, poderão conter cláusulas obrigacionais, direcionada aos agentes em negociação e clausulas normativas que criam novas condições de trabalho. (SOUTO MAIOR, 2008, p.98). A heterocomposição, é a solução imposta as partes por um terceiro, este que terá limites de atuação, e de acordo com o art.114 da CF, é facultativa. E, por fim a autodefesa, que é a solução imposta por um conflitante ao outro. Desta forma, “a ordem jurídica trabalhista conferiu aos trabalhadores, no choque de interesses com o empregador, o direito de buscarem melhores condições de trabalho,recriando, a partir da solução dada, a própria ordem jurídica.” (SOUTO MAIOR, 2008, p.101). 30 Com relação ao tema abordado, Maurício Godinho Delgado afirma: A diferenciação essencial entre tais grupos encontra-se nos sujeitos envolvidos e na sistemática operacional do processo de solução do conflito. E que nas duas primeiras modalidades (autotutela e autocomposição), apenas os sujeitos originais em confronto é que tendem a se relacionar na busca da extinção do conflito, o que dá origem a uma sistemática de análise e solução da controvérsia autogerida pelas próprias partes (na autotutela, na verdade, gerida por uma única das partes). (DELGADO, 2014, p.1535). Já Vólia Bonfim Cassar, define que a CLT: tentou desenhar e traçar procedimentos prévios para a resolução dos impasses,sistematizando alguns atos [...] Todos estesprocedimentos estão previstos como requisitos necessários para a validade da negociação prévia para a realização de acordo ou convenção coletiva de trabalho. (CASSAR, 2014, p.1299). Numa perspectiva instrutiva, vimos que quais os mecanismos mais adotados para solução de conflitos coletivos de trabalho. Tendo em vista as posições doutrinárias, para melhor entendermos este instituto, vamos embasar os fundamentos para essa solução de conflitos no “Princípio da Norma Mais Favorável”. 4.2 A solução do conflito entre normas no direito do trabalho: Princípio da Aplicação da Norma Mais Favorável Segundo a doutrina de Maurício Godinho Delgado (2014), o Princípio Da Norma Mais Favorável, dispõe que o operador do direito deve optar pela regra mais favorável ao trabalhador em três dimensões distintas, quais sejam, em um primeiro momento na elaboração da regra, no contexto de confronto entre as regras e na sua interpretação. O autor afirma ainda que não poderão operador jurídico exceder os critérios impostos pela hermenêutica jurídica. O artigo 620 da CLT prevê que as condições estabelecidas em Convenção Coletiva de Trabalho, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo Coletivo de Trabalho. Esse dispositivo consagra o princípio da Aplicação da Norma Mais Favorável ao empregado. 31 São exceções as hipóteses de flexibilização dos Direitos Trabalhistas, o princípio da Aplicação da Norma Mais Favorável, de acordo com o art.7º, VI,XIII e XIV da Constituição Federal: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: VI – irredutibilidadedo salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva (BRASIL, 1988). Vale ressaltar ainda que, o Princípio da Norma Mais Favorável não se aplica se empregado laborar no estrangeiro, situação elencada na súmula 207 do TST. Neste sentido, a aplicação da norma mais favorável baseia-se no contexto vivido, e foca na parte hipossuficiente da relação trabalhista, esta norma voltada ao trabalhador, aplica a norma mais favorável ao empregado independente de hierarquia entre as normas. A grande questão é como resolver as questões propostas pelo Projeto de Lei, nº 6.787/2016, uma vez que deve prevalecer a norma mais favorável, e este nada é favorável. Apesar da redação do Projeto de Lei, alterar a redação do art. 611 da CLT, permanecerá intacta a nossa constituição, assim nasce a grande questão, já que o objetivo é uma mudança substancial e não mero conflito. Assim sendo, tendo em vista o supracitado princípio que rege as relações trabalhistas, diante da situação que temos, verifica-se a atrocidade de uma Convenção ou Acordo Coletivo, ter força de lei, quando não somos dotados de meios eficazes para essas negociações. Tal ponto se evidencia no sentido de que temos uma insignificante representatividade dos trabalhadores, por sindicatosque, atualmente, estão debilitados e não cumprem o seu papel de forma coerente, representando o trabalhador com dignidade, fazendo prevalecer o Direito Coletivo do Trabalho. 32 33 5 A PROPOSTA DE REFORMA TRABALHISTA E O NEGOCIADO VERSUS LEGISLADO. Nos capítulos anteriores foram abordados os conceitos, tendo por base correntes doutrinárias, das fontes do Direito do Trabalho, das Convenções e Acordos Coletivos e da função dos sindicatos com relação à defesa dos interesses coletivos dos trabalhadores. Assim, o presente capítulo visa analisar a proposta de reforma trabalhista invocada pelo PL 787 de 2016, especificadamente no que se refere a possibilidade da negociação se sobrepor à lei, permitindo a supressão de direitos trabalhistas garantidos constitucionalmente. 5.1 Negociado e legislado O principal objeto da presente monografia, o Projeto de Lei, nº 6.787/2016, melhor identificado como “Proposta de Reforma Trabalhista”, que atualmente aguarda apreciação do Senado Federal, pretende modificar alguns aspectos da nossa legislação trabalhista, Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 – CLT, além das várias alterações, está a preponderância do negociado sobre o legislado, mudança esta que através de valorização de Negociações Coletivas, permite que as mesmas prevaleçam sobre a letra da Lei. Atualmente, a Justiça do Trabalho costuma não entender como válidos os acordos para sobrepor a letra da lei. Entretanto, decisões do STF, já deram força de lei a tais acordos. Este texto, permite que o acordado entre sindicatos prevaleça sobre a letra da lei, ou seja, tenha força de lei. Sua redação tem como alvo a supressão de diversos direitos trabalhistas, como redução de salário, parcelamento de férias, banco de horas e jornada, dentre outros. Este Projeto de Lei, lesiona visivelmente as garantias fundamentais previstas na Constituição Federal de 1988, claramente prejudicial à classe trabalhadora. Conforme apontado em Nota Técnica do Ministério do Trabalho de nº 5: a aprovação de medidas que alteram substancialmente a legislação trabalhista sem que outras perspectivas sejam materialmente consideradas, em nada contribui para a construção de um ambiente de pacificação social no país. Nesse sentido, é importante recordar do preâmbulo da Constituição 34 da OIT, quando afirma que a paz para ser universal e duradoura deve assentar sobre a justiça social. (FLEURY, 2017). A proposta do Negociado prevalecer sobre o Legislado, está definida no Projeto de Lei, nº 6.787/2016, segundo o qual: Art. 611-A. A convenção ou o acordo coletivo de trabalho tem força de lei quando dispuser sobre: I - parcelamento de período de férias anuais em até três vezes, com pagamento proporcional às parcelas, de maneira que uma das frações necessariamente corresponda a, no mínimo, duas semanas ininterruptas de trabalho; II - pacto quanto à de cumprimento da jornada de trabalho, limitada a duzentas e vinte horas mensais; III - participação nos lucros e resultados da empresa, de forma a incluir seu parcelamento no limite dos prazos do balanço patrimonial e/ou dos balancetes legalmente exigidos, não inferiores a duas parcelas; IV - horas in itinere; V - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos; VI - ultratividade da norma ou do instrumento coletivo de trabalho da categoria; VII - adesão ao Programa de Seguro-Emprego - PSE, de que trata a Lei no 13.189, de 19 de novembro de 2015; VIII - plano de cargos e salários; IX - regulamento empresarial; X - banco de horas, garantida a conversão da hora que exceder a jornada normal de trabalho com acréscimo de, no mínimo, cinquenta por cento; XI - trabalho remoto; XII - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado; e XIII - registro de jornada de trabalho. § 1º No exame da Convenção ou Acordo Coletivo, a Justiça do Trabalho analisará preferencialmente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil., balizada sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva. § 2º É vedada a alteração por meio de convenção ou acordo coletivo de norma de segurança e de medicina do trabalho, as quais são disciplinadas nas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho ou em legislação que disponha sobre direito de terceiro. § 3º Na hipótese de flexibilização de norma legal relativa a salário e jornada de trabalho, observado o disposto nos incisos VI, XIII e XIV do caput do art. 7º da Constituição, a convenção ou o acordo coletivo de trabalho firmado deverá explicitar a vantagem compensatória concedida em relação a cada cláusula redutora de direito legalmente assegurado. § 4º Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de acordo ou convenção coletiva, a cláusula de vantagem compensatória deverá ser igualmente anulada, com repetição do indébito. (BRASIL, 2016). O projeto de lei em seu art. 611-A, inciso IV, prevê que a convenção coletiva ou o acordo coletivo tem força de lei quando nos casos previstos acima. Neste sentido, a título de exemplo, pode-se observar a decisão do STF com repercussão geral sobre a proibição de cobrança de taxas assistenciais por sindicato, previstas em instrumentos coletivos. Se o negociado prevalece sobre o legislado conforme entendimentos do próprio STF, porque a cobrança de taxa assistencial não pode prevalecer sobre a CLT, quando negociada via acordos coletivos? Ou seja, o negociado só vai 35 prevalecer sobre o legislado para usurpar direitos trabalhistas, através de medíocres acordos coletivos que só reduzem direitos trabalhistas. A grande questão é: como tomar por base acordos, para sobrepor as normas trabalhistas, resolvendo questões de interesse social através de mecanismos que não possuímos. Neste contexto, no que se refere aos mecanismos, é necessário voltar à Constituição de 1934, que dispunha em sua redação, o pluralismo sindical, representativo, que não demorou ser substituído pela unicidade sindical que vivemos atualmente, um sindicato único por região como já abordado, não representativo, com uma estrutura defasada, e uma organização sindical arcaica. A nota técnica Nº 5 de 17 de abril de 2017, da Secretaria de Relações Institucionais do Ministério Público do Trabalho (MPT), assim menciona: [...] fica evidente que autorizar o rebaixamento de direitos por meio da negociação coletiva não fortalece as tratativas entre trabalhadores e empregadores. Muito pelo contrário, enfraquece e coloca em descrédito diante da sociedade esse importante instrumento de pacificação dos conflitos coletivos de trabalho. (FLEURY, 2017). Conforme explica Georgenor de Sousa: Essas possibilidades de alteração podem ser, em tese, prejudiciais ao trabalhador, e teremos o conflito com algumas normas trabalhistas protetivas: os arts. 9º e 468 da CLT proíbem adotar atos ou condições que resultem em prejuízo, direto ou indireto, para o trabalhador. Condição assim é declarada nula pela Justiça do Trabalho, se provocada, valendo lembrar que o projeto veda modificar normas de segurança e medicina do trabalho, mas não foram incluídas proibição de alterar as regras sobre saúde e higiene do trabalho (não se confunda segurança e medicina com saúde e higiene). Tudo isso gira em torno de um aspecto pouco vivenciado no Brasil: a autonomia privada coletiva. E por quê? Porque nossos sindicatos, na maioria, são fracos, sem poder de barganha. Na Constituição, é consagrada a unicidade sindical (um sindicato por categoria por município). Na verdade, temos uma pluralidade sindical oblíqua, comquase vinte mil sindicatos que negociam qualquer favor, salvo raras exceções.”(FRANCO FILHO, 2017). De acordo com uma publicação de Almiro Eduardo de Almeida, na revista LTr, de fevereiro de 2017, revista de volume nº81, a proposta de reforma trabalhista, ao tentar fazer prevalecer a negociação coletiva sobre a lei para suprimir direitos não é nova, uma vez que em 2001, Fernando Henrique Cardoso enviou proposta no mesmo sentido. 36 Uma virada jurisprudencial no STF e TST sobre o negociado prevalecer sobre o legislado. Em dezembro de 2016, em juízo rescisório, foi desconstituída decisão com fundamento na tese de que através de Negociação Coletiva, a empresa pode compensar com outros benefícios o tempo que o trabalhador permanece a disposição da empresa, que no caso é computado com o tempo que trabalhador gasta para ir e voltar ao local de trabalho, Teori Zavascki decidiu que a empresa pode compensar com outros benefícios esse tempo, sem ser em dinheiro, assim, entende e determina o TST. Para sustentar a tese da prevalência do negociado sobre o legislado, Zavascki, expõe que a própria Constituição admite que as normas coletivas de trabalho disponham sobre salário (art.7º, VI) e jornada de trabalho (arts. 7º, XII e XIV), reduzindo temporariamente remuneração e fixando jornada diversa do constitucionalmente estabelecida. Almiro Eduardo de Almeida, faz então suas considerações a respeito da manifestação de Zavascki: muito embora a constituição efetivamente admita que norma coletiva disponha sobre salário e sobre jornada de trabalho, autorizando, inclusive, de forma excepcional, a redução de salário, em nenhum momento admite que parte da jornada seja simplesmente desconsiderada, Constituição Federal autoriza tão somente a redução da jornada ou compensação. Além disso, há de se lembrar de um velho preceito hermenêutico, certamente conhecido pelos ministros do STF, o qual o direito não se interpreta em tiras, frase esta do Ex Ministro do STF, Eros Grau. (ALMEIDA, 2017). Assim, impossível permitir que sejam suprimidos direitos que já foram garantidos na Constituição Federal, com fundamento em modernização a legislação Trabalhista, justificando este retrocesso como precaução a uma possível precarização das leis de trabalho que viria a impedir a criação de postos de trabalho. Parlamentares ainda ousam dizer que não está sendo proposto a revogação de direitos, a partir da aprovação desse Projeto de Lei. Mas dessa maneira podemos afirmar que o direito caminha para uma precarização das leis do trabalho. Este projeto fortalece sim a Negociação Coletiva, mas em contrapartida enfraquece a classe trabalhadora. Assim, a proposta de reforma trabalhista evidencia uma triste realidade, vez que pequena parcela da população brasileira tem noção das consequências da aprovação do PL analisado, que prejudicará, principalmente, a classe dos 37 trabalhadores. Ademais, observa-se que a mídia apoia a aprovação do PL, manipulando a sociedade, de forma que acreditemos que a reforma é necessária e mais benéfica para as relações trabalhistas. No que se refere aos Sindicatos, que deveriam ser parte interessada na não aprovação do projeto de lei, não observamos ações congruentes neste sentido, não agem conscientizando trabalhadores de que suas férias poderão ser parceladas em até três vezes ao ano, seus salários reduzidos. Essa é a nossa realidade, temos o poder de reivindicar, mas como o fazer, se a maioria desconhece dessa realidade, ou desistiu da luta. Dessa forma, com a possível aprovação do PL 787/16, é nítida a revogação de direitos. Não há como não reconhecer que este projeto impactará nas relações trabalhistas da pior forma possível, ou seja, a aprovação desse projeto será o início de um grande retrocesso. 38 39 6 CONCLUSÃO O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como o PL 6.787/16 impacta nas relações trabalhistas, principalmente de maneira gravosa ao trabalhador. Foi possível perceber que referido Projeto de Lei sobrepõe as negociações coletivas à lei. Além disso, pela debilitação dos sindicatos no Brasil, sua aprovação levaria à redução, inclusive à perda de direitos historicamente conquistados. Ao fazer uma análise das fontes do Direito do Trabalho, bem como das Convenções e Acordos Coletivos presentes em nosso ordenamento jurídico, ficou evidenciado que o chamado “acordado sobre o legislado” proporciona ao empregador a prerrogativa de parcelar as férias, alterar a jornada de trabalho além do permitido pela legislação atual e, ainda, a redução de salário e o banco de horas. Dada a importância do assunto, tendo em vista a possibilidade de serem suprimidos direitos trabalhistas garantidos constitucionalmente, torna-se necessário o desenvolvimento de análises críticas no que é pertinente, principalmente, ao funcionamento dos sindicatos no Brasil. Os sindicatos devem proteger os interesses dos trabalhadores, cumprindo o seu papel de promover uma justiça coletiva. A aprovação do PL 6.787/16 também atingirá consideravelmente a força do movimento sindical. Neste sentido, o presente trabalho monográfico demonstrou que a possível aprovação do PL acima citado causará danos ao trabalhador, considerando que direitos fundamentais poderão ser suprimidos. O estudo mostrou que o PL 787/16 pretende, entre outros aspectos fortalecer mais ainda o empregador na relação trabalhista, espera-se, no entanto, que a possível aprovação do projeto de lei não legitime o abuso patronal. 40 41 REFERÊNCIAS BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. – São Paulo: LTr, 2012. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho (1943): Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. BRASIL. Constituição (1988). Constituição de República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. Brasília/DF, Disponível em: <http://portal.mpt.mp.br/wps/wcm/connect/portal_mpt/c6d5ffb6-5285-4f96-87f3- 6a02340ded33/notatecnica_76-2017.pdf?MOD=AJPERES > Acesso em: 01, mai. 2017. 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