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GESTÃO DE PROJETOS DE MUDANÇA AULA 2 Profª Erika Gisele Lotz 2 CONVERSA INICIAL Olá! A mudança em grupos e organizações passa pela mudança das pessoas que nelas atuam, daí a importância de conhecermos filtros que influenciam o comportamento individual. Nesta aula, você estudará a mudança no nível do indivíduo, os mapas mentais e como eles influenciam a percepção do que é o mundo, conhecerá a natureza e alguns tipos de crenças e o modo pelo qual elas influenciam o comportamento, distinguirá as etapas do projeto de mudança; será municiado de ferramentas para a análise estratégica aplicada ao propósito da mudança pessoal e, por fim, compreenderá o papel da inteligência emocional na construção de competências comportamentais, tão importantes para a construção de resultados edificantes na vida pessoal e profissional. Desejo a você uma ótima e inspiradora jornada! Pesquise Durante esta aula, você vai se deparar com o importante papel da aprendizagem no processo de mudança. Como podemos saber que uma pessoa aprendeu? Qual é a relação entre aprendizagem e mudança? Vídeo Que tal começar sua investigação assistindo ao vídeo “Como Aprender a Aprender – Aprendizagem Acelerada”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jOcBMk5HxQc>. CONTEXTUALIZANDO As organizações funcionam em virtude da forma de pensar e agir das pessoas que nela atuam. Somente mudando a forma de pensar das pessoas é que se pode modificar políticas e práticas profundamente enraizadas e obter resultados diferentes (Senge, 2008). É muito comum encontrarmos pessoas muito aflitas pelos patamares atuais de resultados que experimentam em sua vida pessoal. Reconhecem que não estão no caminho que um dia sonharam e admitem que estão infelizes, insatisfeitas e pouco realizadas. Algumas atribuem seus resultados a outros e se sentem vítimas, permanecem olhando apenas para os problemas, e não 3 percebem que têm escolhas. Experimentam uma vida assinalada pela frustração e pela resignação. Outras, apesar de todas as intempéries e adversidades, escolhem olhar para as soluções e abrir o campo das possibilidades. Nutrem fortemente a crença na confiança e no otimismo e experimentam uma vida significativa. Segundo Senge (2008, p. 23), Temos a profunda tendência a ver as mudanças que precisamos efetuar como estando no mundo exterior e não no nosso interior. É desafiante pensar que, quando reconcebemos as estruturas manifestas de nossas organizações, precisamos também reconhecer as estruturas internas de nossos modelos mentais. A mudança de modelos mentais é o alicerce de todas as mudanças, seja no nível do comportamento individual, seja na forma de se relacionar com o outro, seja na forma de gerir empresas e adotar estratégias. Portanto, prepare- se, pois nossa caminhada vai começar! TEMA 1 – MODELOS MENTAIS Você sabia que as pessoas agem e reagem não com a realidade em si, mas de acordo com o que percebem e interpretam sobre o que consideram realidade? Sabia que o significado e o sentido que o indivíduo atribui às suas experiências e ao mundo são determinados, em grande medida, pela subjetividade (modo pelo qual um indivíduo percebe a realidade) e, em menor proporção, pelo mundo externo. Fatos e eventos em si? Isso mesmo! Por mais que pareça estranho, registramos a realidade não como ela é, mas pelas lentes do nosso modelo mental. Mas o que são modelos mentais? São representações internas ou mentais, é o modo pelo qual o indivíduo “re-presenta” internamente o mundo externo. As pessoas não captam o mundo exterior diretamente, elas constroem representações mentais (internas) do mundo (Moreira, 2001). Em outras palavras, Sartor, citado por Angeloni (2008, p. 153), explica que modelos mentais “são imagens, pressupostos e histórias que trazemos em nossas mentes acerca de nós mesmos, de outras pessoas, das instituições e diversos outros aspectos do mundo e da vida”. São influenciados por aspectos biológicos, sociais, culturais, econômicos, geográficos, tecnológicos, históricos entre outros. São nutridos por crenças e valores que operam desde o nascimento e se estendem ao longo da história de cada um, moldando os pensamentos acerca de como as coisas são e como operam (Angeloni, 2008). 4 O indivíduo percebe e registra o mundo por meio de seus sensores neuronais: visão, tato, olfato, paladar e audição. Os sensores neuronais enviam informações ao cérebro que são distorcidas, omitidas e generalizadas por nossas crenças, valores, sentimentos, bagagem cultural, entre outros. Observe a figura a seguir. Figura 1 – A construção da realidade individual Fonte: <https://image.slidesharecdn.com/comunicacaoefetivaeeficaz-130113071637- phpapp02/95/comunicacao-efetiva-e-eficaz-com-o-metamodelo-10-638.jpg?cb=1358062608>. A representação interna que o indivíduo faz da realidade externa influencia e determina o comportamento adotado por ele. Portanto, ele não reage a realidade objetiva, e sim a sua construção interna de realidade. Cada indivíduo, ao longo de sua vida, vai construindo e ampliando seu mapa mental por meio de suas experiências, seus aprendizados, entre outros. Wind, Crook e Gunther (2006, p. 36) advertem, portanto, que “uma de nossas ilusões mais persistentes – e talvez a mais limitadora – é a crença de que o mundo tal como visto por nós é o mundo real. Raramente colocamos em dúvida nossos modelos do mundo até que sejamos forçados a fazê-lo”. E confiamos cegamente em nossas sensações e percepções como se fossem reflexo fiel da realidade. Cada indivíduo reage aquilo que percebe e interpreta 5 e as percepções nem sempre refletem uma realidade objetiva. A figura a seguir ilustra este conceito. Figura 2 – Diferença entre realidade interna e realidade objetiva Fonte: <https://poderdaescolha.files.wordpress.com/2016/05/gato-espelho- leao.jpg?w=634&h=356>. Nas palavras de O’Connor (2004, p. 5), Não sabemos o que é realidade. Nossos sentidos, nossas crenças e nossa experiência passada nos dão um mapa de mundo a partir do qual podemos operar, mas um mapa jamais pode ser inteiramente preciso, caso contrário, seria igual ao terreno que abrange. Não conhecemos o território, portanto para nós o mapa é o território. Alguns mapas são melhores do que outros para nos orientar pelo caminho. O mapa não é o território, pois as percepções são subjetivas. Cada um tem sua própria interpretação, e justamente por isso ela é tão passível de inexatidão. Rangé (1995, p. 37) afirma que “dependendo das interpretações específicas e momentâneas que um indivíduo faz de cada situação, o afeto e comportamento que apresenta são diferentes”. Por exemplo: se na ocorrência de um evento o indivíduo estiver triste, o registro daquela situação poderá ser completamente diferente se estivesse feliz. Ideias, experiências, valores, crenças, decisões, memórias linguagem, entre outros que são distorcidos, omitidos e generalizados e dão forma ao que o indivíduo registra da realidade. Epitectus, filósofo que viveu no séc. I., citado por (Magalhães, 2013), afirmava que “o que perturba o indivíduo não são os fatos, mas a interpretação que ele faz dos fatos”. A interpretação que faz dos fatos é fortemente influenciada 6 pelos filtros perceptivos: deleção, distorção e generalização. Observe o quadro a seguir e conheça detalhes sobre os filtros perceptivos. Quadro 1 – Filtros perceptivos Filtro Característica Deleções A percepção é seletiva. O cérebroescolhe registrar alguns aspectos da experiência e omitir outros. As deleções são análogas a pontos cegos. Distorções São as alterações do significado da experiência em virtude do modelo mental do indivíduo, o que favorece determinados aspectos dela em detrimento de outros. Generalizações O indivíduo generaliza a partir de uma experiência inusitada ou não representativa e passa a agir com base na expectativa de que experiências futuras se encaixem no mesmo padrão. O indivíduo generaliza de forma adequada, formula uma regra, mas deixa de considerar as exceções. Exceções derrubam regras. Fonte: Elaborado com base em O’Connor (2003). Os filtros da deleção, da distorção e da generalização são responsáveis pelas simplificações da percepção. Observe, a seguir, algumas das formas mais comuns de simplificações que podem ser facilmente identificadas na fala e no comportamento de uma pessoa. Quadro 2 – Simplificações da percepção Percepção seletiva: o indivíduo interpreta seletivamente aquilo que vê a partir de seus interesses, antecedentes, experiências e atitudes. Projeção: atribuição de características próprias a outras pessoas. A projeção é inconsciente. Reconhecê-la é um caminho para aceitar, compreender e aprender com a experiência. Enquanto ela não é reconhecida pela mente objetiva, o indivíduo seguirá creditando a outros aspetos de si mesmo. Efeito halo: construção de uma impressão geral a respeito de uma pessoa considerando apenas uma característica. Estereotipagem: julgamento tecido sobre alguém tendo em vista o grupo ao qual ele faz parte, é o juízo formulado a respeito de alguém segundo o critério de percepção própria do grupo ao qual essa pessoa pertence. Efeito de contraste: avaliação de uma pessoa comparada à outra. Fonte: Elaborado com base em Robbins (2002) e Soto (2002). Conhecer os filtros perceptivos que levam a simplificação da percepção possibilita ao indivíduo questionar suas crenças e comportamentos e identificar 7 diferentes prismas de observar a situação e, também, identificar diferentes possibilidades de comportamentos e escolhas. À medida que olhamos e compreendemos o que forma e qual a influência da estrutura interna na construção da realidade pessoal, vamos compreendendo comportamentos, ações, escolhas, decisões e os resultados obtidos não apenas pelo indivíduo, mas também pelos grupos e pelas organizações. Mas de que forma os modelos mentais se relacionam com o tema de gestão de mudanças em grupos e organizações? O modo pelo qual gestores e colaboradores interpretam a realidade (ameaças e oportunidades) tem impacto direto nos resultados das organizações. Será que adianta trabalhar com empenho em um projeto de mudança se as pessoas continuarem com as mesmas crenças, sentimentos e padrões de comportamento? Se continuarem a olhar a situação sempre sob o mesmo prisma, como vão encontrar possibilidades que só poderão ser avistadas se observadas por outros ângulos? Drucker, citado por Fernandes (2015), esclarece que “os resultados são obtidos através da exploração de oportunidades, não pela solução de problemas”. Saiba Mais Assista ao vídeo “O que é mindset” e observe a forma como o pensamento influencia diretamente os resultados obtidos pelo indivíduo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0iAUJ0ewYSI>. Curiosidade Assista ao vídeo “Os sete hábitos de pessoas altamente eficazes”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GFqxjWVy094>. 8 TEMA 2 – CRENÇAS, VALORES E MISSÃO PESSOAL Que tal começarmos este tema olhando por “ombros de gigantes”? Notáveis na história Biografia Afirmações Henry Ford Fundador da Ford Motor Company. Grande empreendedor e inventor estadunidense. Foi responsável pelo registro de 161 patentes nos Estados Unidos. O fracasso é a oportunidade de começar de novo, dessa vez de forma mais inteligente. Quer você acredite que pode, quer acredite que não pode, nos dois casos estará certo. Mahatma Ghandi Grande líder espiritual e pacifista indiano. Olho por olho, e o mundo acabará cego. Seja a mudança que quer no mundo. A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos. Steve Jobs Foi o fundador da Apple e um dos maiores empreendedores da história recente. Você pode encarar um erro como uma besteira a ser esquecida, ou como um resultado que aponta uma nova direção. A única maneira de fazer um bom trabalho é amando o que você faz. Se você ainda não encontrou, continue procurando. Não se desespere. Assim como no amor, você saberá quando tiver encontrado. Fonte: Elaborado com base em People and Power (2016); La guia (2008); Exame (2016). Henry Ford, Mahatma Gandhi, Steve Jobs são apenas três dos milhares de pessoas notáveis que mudaram o rumo da história. O que há por detrás dessas inspiradoras afirmações? A resposta é simples: existe um conjunto de crenças que impulsionam para ações. Mas o que são crenças? Segundo Dilts (1983, p. 24), As crenças representam uma das estruturas mais importantes do comportamento... quando realmente acreditamos em algo nos comportamos de maneira congruente com essa crença. Existem vários tipos de crenças que precisam estar em seus devidos lugares para que a pessoa possa atingir o objetivo desejado. Um tipo de crença é a expectativa do objetivo alcançado, que ocorre quando a pessoa acredita que pode atingir o que almeja. E, quando isso ocorre, ela mobiliza todo um conjunto de comportamentos e faz o que é necessário para atingir o resultado. O contrário também é verdadeiro. A crença é poderosa, pois, quando a pessoa não acredita que algo seja possível, ela não tem força 9 suficiente para mobilizar seu comportamento em prol do que deseja (Dilts, 1983, p. 25). Para Diltis (1983, p. 27), “as crenças não se baseiam necessariamente numa estrutura lógica de ideias. Ao contrário, todos sabemos o quão pouco elas reagem à lógica. Não se pode esperar que elas coincidam com a realidade”. Edelmam (2014) ratifica essa ideia e afirma que “fatos e pessoas não nos fazem sentir bem ou mal – apenas proporcionam um estímulo... são as cognições pessoais que determinam como nos sentimos e qualquer dada situação e como reagimos a ela”. E por que isso ocorre? Porque as cognições criam crenças. As crenças são sentimentos de certeza que atuam como princípios operacionais, pois determinam o modo de pensar, de sentir e de agir. São geradas ao longo tempo e construídas por meio de experiências vividas na primeira infância, mensagens tácitas ou explícitas recebidas das figuras de autoridade, informações adquiridas, entre outros. Em grande medida, são processos não conscientes de pensamento organizado. Existem crenças sobre causas e significados, observe: crenças sobre causas – remetem a uma relação de causa e efeito. O que faz com que alguém seja bem-sucedido? O que faz com que uma pessoa não consiga perder peso? O que faz com que um indivíduo passe por torturantes tempestades na vida e, ainda assim, mantenha uma atitude positiva sobre ela? A resposta a cada uma das perguntas revelará uma declaração e crença. Por exemplo: Ana tira notas altas porque é inteligente. A palavra porque (implícita ou explicitamente) costuma indicar uma crença sobre causa. crenças sobre significados – promovem comportamentos congruentes com a crença.Por exemplo: se um gestor acredita que sua equipe é pouco confiável, tratará de fazer supervisões cerradas e ficará “em cima” para assegurar que o trabalho está sendo realizado. Mas, se acreditar que em sua equipe tem pessoas confiáveis, fatalmente dará liberdade de ação, pois confia que a equipe alcançará os resultados almejados. As crenças podem ser conscientes e não consciente. As conscientes são acionadas e identificadas pelo indivíduo, estão na esfera da mente consciente e podem ser facilmente expressas pelo pensamento e pela fala. As crenças não conscientes são aquelas das quais o indivíduo apercebe conscientemente a 10 existência, mas que, quando acionadas por determinado evento ou situação, determinam o comportamento do indivíduo, atuando como rotas predefinidas, um caminho que o indivíduo trafega sem conseguir experimentar novas possibilidades. As crenças também se distinguem em impulsionadoras e limitantes. As impulsionadoras são edificantes, nutrem emoções positivas, núcleos doadores de forças que incentivam a ação, atuam como força motriz que coloca o indivíduo em movimento rumo ao que deseja obter. Elas atuam fortalecendo e mobilizando o comportamento. Observe, na figura, que o peão se percebe como o rei. Isso faz com que seu comportamento seja mobilizado de acordo com o que ele acredita ser. Quando uma crença impulsionadora está atuante, o indivíduo é movido para o campo das possibilidades. As crenças limitantes, em contrapartida, debilitam a energia do indivíduo, comprometem a disciplina e a ação. Promovem um estado interno de desesperança, sabotam o comportamento por manter o foco na dificuldade ou no problema. Note que, ao contrário da figura apresentada anteriormente, aqui temos um rei, como toda a sua capacidade e possibilidade que se enxerga como um peão. E é como peão que certamente ele agirá. A crença limitante é uma gaiola de ferro que o indivíduo constrói ao redor de si mesmo. Tais crenças enfraquecem e debilitam a força de impulsão necessária para que o indivíduo possa colocar-se em movimento e, portanto, inibem fortemente a mudança. Em contrapartida, promovem elevados níveis de frustrações. As crenças (conscientes, não conscientes, limitantes ou impulsionadoras) podem ser de identidade, capacidade e merecimento e podem ser expressas tanto no nível individual quanto grupal/organizacional (por meio da cultura organizacional), conforme apresenta no quadro a seguir. 11 Quadro 3 – Crenças e suas características Crença Característica Impulsionadora Limitante Identidade É o que o indivíduo (grupo/ organização) tem como verdade sobre si mesmo; aquilo que o define; quem ele é. Eu sou criativo. Eu sou desorganizado. Somos uma empresa de vanguarda. A nossa empresa é reativa e refratária a qualquer processo de mudança. Capacidade Aquilo que o indivíduo (grupo/organização) tem como verdade sobre suas habilidades, sua destreza, flexibilidade. Se alguém já aprendeu isso, eu também consigo (Matemática). Eu não consigo aprender Matemática. A nossa equipe pode desenvolver estratégias criativas para chamar atenção do mercado. Jamais conseguiremos fazer algo melhor que a estratégia dos nossos concorrentes. Merecimento Aquilo que o indivíduo (grupo/organização) tem como verdade sobre seus méritos; aquilo que acredita merecer ou não. Eu mereço uma vida confortável. Eu não mereço mais do que eu tenho. A nossa equipe merece ganhar o prêmio destaque do ano. Precisamos nos dar por contentes de a equipe ter ficado em 5º lugar, é muito mais do que imaginávamos alcançar. Fonte: Lotz e Gramms (2014). Em grande parte dos casos, para que exista a mudança pessoal, é imprescindível que ocorra a mudança de crenças. Segundo Eker (2006, p. 20), “É o invisível que produz o visível... e, se você quiser mudar os frutos, primeiro tem que trocar as raízes – quando desejar alterar o que está visível, antes deve modificar o que está invisível!”. Ao modificar uma crença, o comportamento também é modificado. Nem sempre as restrições de contexto são os fatores que impedem um indivíduo de chegar até o que deseja, mas as cognições nutridas por ele. Mas e os valores, o que são valores e de que forma atuam no projeto de mudança pessoal? Valor é tudo aquilo que é importante (pessoa/organização). Os valores estão estreitamente atrelados à motivação, pois mobilizam a ação. Por exemplo: se para uma pessoa passar tempo com a família for importante, ela abrirá espaço na agenda para passar com seus entes queridos, por mais que este seja atribulado. Como eliciar os valores pessoais? A reposta é: perguntando! Uma breve reflexão acerca do que é importante ter no trabalho, na saúde, nos relacionamentos, na amizade, entre outros revelará os valores importantes de um indivíduo. 12 A vida é comporta de diversas áreas: saúde, lazer, relacionamento afetivo, vida social, carreira, desenvolvimento pessoal, finanças, entre outras. Cada uma tem um conjunto de valores característicos e que variam de pessoa para pessoa. Imagine que, para uma determinada pessoa, a segurança é um valor fundamental para se ter no trabalho, ao passo que para outra a oportunidade de crescimento é mais importante. Covey (2003) propõe um instigante exercício para eliciar valores. Observe: Exercício para eliciar valores Construa uma imagem mental da sua pessoa comparecendo ao enterro de um ente querido. Com os olhos da mente, observe enquanto guia até o local do velório, estaciona o carro e sai. Conforme entra no prédio, nota as flores, a música suave do órgão. Você repara nos rostos dos amigos e da família à medida que entra. Sente que todos compartilham a dor da perda e a alegria de terem conhecido aquela pessoa, tudo isso é irradiado pelo coração dos presentes. Quando você caminha pelo local e olha dentro do caixão, de repente dá de cara com você mesmo. Este é seu velório! Todas aquelas pessoas vieram homenageá-lo, demonstrar o amor e o carinho que sentem. Quatro pessoas pediram a palavra: o primeiro é alguém da sua família, o segundo é um de seus amigos, o terceiro é um colega de trabalho e o quarto pertence a sua igreja, ou organização comunitária à qual pertença. Agora, pense profundamente: O que dirão estes oradores sobre você e sua vida? Qual tipo de marido, esposa, pai ou mãe gostaria que fosse descrito? Que tipo de filho, filha ou primo? Que tipo de amigo? E de colega de serviço? Que tipo de caráter gostaria que eles tivessem descrito? Quais contribuições e conquistas gostaria de ver recordadas? Olhe cuidadosamente para as pessoas à sua volta. Qual papel gostaria de ter desempenhado na vida delas? Fonte: Covey (2003). Embora pareça um bocado estranho, esse exercício oportuniza ao indivíduo identificar o que, de fato, importa e, a partir daí, construir seu projeto de mudança pessoal caso identifique não estar agindo de forma congruente com seus valores. O conhecimento a respeito dos valores contribui para que o indivíduo construa e atue de forma congruente com sua missão pessoal. A missão pessoal oferece direção e objetivo de vida. É a filosofia de vida, a declaração de propósito, o credo pessoal (Barbosa, 2001). Conhecer os próprios valores e a missão pessoal permite ao indivíduo traçar sua rota, muito além dos aspectos relacionados ao trabalho ou carreira, mas abarcando todo seu projeto de vida, tendo em vista escolhas que possam contribuir com sua satisfação, realização e felicidade. 13 Saiba Mais Para saber como as crenças definem nossocomportamento, acesse o site <http://psicologofacil.com.br/as-crencas-definem-nosso-comportamento/>. Curiosidade Que tal investir um tempo para olhar seus valores? Acesse o site <http://loungeempreendedor.com.br/2014/04/13/identifique-os-seus-valores- pessoais/>. TEMA 3 – A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE MUDANÇA PESSOAL O autoconhecimento é a chave para o processo de mudança pessoal. E ouvir o diálogo interno é uma prática importante para alcançá-lo, podendo ser, até mesmo, o primeiro passo rumo a significativas mudanças de comportamentos e, por consequência, de resultados obtidos nas diversas esferas da vida. Mas o que é o diálogo interno e de que forma ele influencia o comportamento? O diálogo interno é tudo aquilo que falamos para nós mesmos, ele explicita nossas crenças acerca de nós mesmos, dos outros e do mundo. Revela o quanto as crenças são impulsionadoras ou limitantes. Está curioso para saber de que forma o diálogo interno influencia o comportamento? Segundo Brocket e Braun (1997), os pensamentos disparam os sentimentos, que acessam determinadas condições biológicas, que afetam nossa disposição para a ação. Pensamento: aprender Matemática é difícil! (crença limitante... se alguém já aprendeu Matemática, certamente você também pode). Eu não vou conseguir... Condições psicológicas: sensação de derrota, de desânimo, de medo e incapacidade. Condições biológicas: apatia, desânimo, ausência de vontade de se quer tentar. Disposição para a ação: ah, deixa isso pra lá! Vou fazer outra coisa. (comportamento). Muitas vezes, o diálogo interno assume papel de crítico interno, que não raras vezes é muito mais voraz, cruel e nada compassivo. Quando isso ocorre, 14 a pessoa não precisa de ninguém para colocá-la para baixo, pois o crítico interno, por meio do diálogo interno, já se encarrega disso. Por isso, a mudança pessoal passa por reconhecer esse crítico interno, questioná-lo e desafiar suas falas limitantes. Observe o exemplo: Diálogo interno enfraquecedor diante de uma situação desafiadora: Você não faz nada direito mesmo! Diálogo interno fortalecedor diante de uma situação desafiadora: Como isso pode melhorar? Quais são as possibilidades? O que mais pode ser feito que ainda não considerei? Perceba que a mudança de diálogo interno retira o olhar e a mente do campo do problema e da limitação e abre a mente para o campo da possibilidade. Agora que você já está municiado de ferramentas que possibilitam conhecer, desafiar e transformar crenças limitantes, chegou a hora de trabalhar o projeto de mudança, um roteiro que vai funcionar como guia, permitindo que você conheça o ponto onde está e a rota a seguir. Muitas vezes, a pessoa enfrenta um problema e percebe que, se não empreender uma mudança em sua vida, poderá perder algo importante. Por exemplo: abandonar hábitos poucos saudáveis para conquistar mais vitalidade, saúde e energia; cursar uma faculdade para não perder o emprego; ser mais tolerante com o parceiro para evitar uma possível separação. Essas mudanças são consideradas reativas. As mudanças também podem ser proativas, que ocorrem a partir da identificação de oportunidades e da criação da visão do que deseja para seu futuro. Seja na mudança proativa ou reativa, o primeiro passo é saber o que você deseja e aonde pretende ir. A visão do que deseja obter, em vez do que deseja evitar, possibilita colocar em prática as habilidades de gestão: planejar, estabelecer metas, estratégias, recursos, aprendizagens, monitorar os resultados e corrigir a rota. O problema é que, muitas vezes, a pessoa sabe exatamente o que não quer (o que já é um começo), mas não tem ideia do que, de fato, quer. Quando isso ocorre, é como se o motorista dirigisse olhando sempre pelo retrovisor. A construção da mudança pessoal convida a olhar para aquilo que se deseja, e não para aquilo que se deseja evitar. Quando o foco é colocado naquilo que não 15 se quer, é como dirigir olhando para o retrovisor. É um movimento de afastamento do que se deseja evitar. A mudança pessoal será edificante à medida que nutrir a visão positiva (aquilo que se deseja, e não aquilo que se quer evitar). A imagem mental da aproximação – o que o indivíduo quer – instala na tela mental o desejo que dá prazer e felicidade. E por que isso é importante? Porque a imagem mental é uma fonte impulsionadora do comportamento. A definição do que se deseja alcançar permite canalizar energia para escolhas congruentes com o objetivo e pode fortalecer o indivíduo na construção da disciplina necessária para se manter no caminho. O projeto de mudança pessoal, assim como todo projeto, requer a tomada de consciência do estado atual e a criação da visão do estado desejado. Para ir de um ponto a outro, é importante trabalhar as etapas descritas no quadro a seguir. Quadro 4 – Projeto de mudança pessoal Etapas Características Estabelecer o foco Criar uma imagem mental clara do que se pretende atingir, em vez do que se deseja evitar; definição de objetivos (formulados em termos positivos, mensuráveis; alcançáveis e relevantes). Estabelecer estratégias Escolher os caminhos e as ações a serem tomadas para chegar aonde se deseja. Monitorar resultados Acompanhar os resultados obtidos e avaliar se estão de acordo com o planejado e, se for o caso, identificar o que precisa ser modificado na estratégia. Melhoria contínua Capitalizar os resultados (desejados ou não) para aprender continuamente. O aprendizado muda o comportamento, que muda o resultado obtido pelo indivíduo. Ao olharmos com atenção o quadro apresentado, percebemos a importância da clareza dos objetivos, da flexibilidade para traçar caminhos e da correção de rota sempre que necessário, tendo em vista o que se deseja atingir, o acompanhamento dos resultados e a aprendizagem contínua. No projeto de mudança pessoal, é aclarador manter em mente que não existem fracassos, e sim resultados. Se estão distantes dos desejados, é o momento de olhar as estratégias, as ações e os pensamentos, a fim de identificar o que, se alterado, promoverá resultados diferentes. Conforme Publilius Syrius (escritor latino do séc. I a.C.), citado por Villamarin (2000, p. 194), “tolo é aquele que tendo naufragado duas vezes os seus navios continua culpando o mar”. Então, mãos à obra! 16 Saiba mais Leia o texto sobre a importância da mudança pessoal, disponível em: <https://carreiras.empregos.com.br/seu-emprego/a-imperiosa-necessidade-da- mudanca-pessoal-e-profissional/>. Curiosidade Assista ao vídeo a seguir e obtenha informações sobre o diálogo interno: <https://www.youtube.com/watch?v=OlW9RmvgMrM>. TEMA 4 – SWOT PESSOAL E O PROJETO DE MUDANÇA PESSOAL Você deve estar pensando: Ok! Compreendi a importância de conhecer o estado atual (o ponto que me encontro hoje) e o estado desejado (o ponto a que desejo chegar). Mas existe alguma ferramenta que permita lançar luz a elementos direcionadores para quais estratégias proativas posso escolher e quais estratégias reativas seriam importantes adotar no projeto de mudança pessoal? Em resposta a essa pergunta, observe a análise SWOT: Figura 3 – Análise SWOT A análise SWOT, desenvolvida na década de 1960 na Universidade de Stanford, é uma ferramenta do planejamento estratégico que identifica as forças e fraquezas do ambiente interno e as oportunidades e ameaças do ambiente 17 externo à organização. A denominação SWOT é composta das palavras strenghts (forças), weaknesses (fraquezas),opportunities (oportunidades) e threats (ameaças). Você sabia que essa ferramenta também é altamente eficaz para o planejamento estratégico da mudança pessoal? Observe o quadro a seguir. Quadro 5 – Matriz SWOT Quadrante Características Forças São os pontos fortes, tais como conhecimentos, habilidades, características, atributos pessoais que impactam de maneira positiva no alcance dos objetivos desejados. Fraquezas São as oportunidades de melhorias, os pontos relativos a conhecimentos, atributos, características que demandam atenção, acompanhamento e desenvolvimento. Oportunidades São as condições externas à pessoa, portas que podem se abrir tendo em vista seus conhecimentos, habilidades e características. Permitem construir cenários positivos e traçar estratégias para se preparar para eles. Ameaças São condições externas à pessoa que podem levantar barreiras ou obstáculos para o alcance dos objetivos desejados. Mas como levantar informações para alimentar a matriz? A chave está nas perguntas a serem feitas, conforme demonstrado no quadro a seguir. Quadro 6 – Perguntas para construir a análise SWOT FORÇAS Quais são seus pontos fortes? Quais são seus talentos? O que você faz que te dá muito prazer? Que recursos destacam você em relação a outras pessoas? O que as pessoas apreciam em você? OPORTUNIDADES Que oportunidades você pode obter com seus pontos fortes? Que possibilidades de atuação você pode abrir por meio dos seus talentos? Como seus talentos podem contribuir para você obter os resultados desejados na vida pessoal e na vida profissional? Como seus pontos fortes podem ser utilizados para contribuir com o resultado de outras pessoas/seus colegas/sua organização? (continua) 18 (continuação do Quadro 6) FRAQUEZAS – OPORTUNIDADES DE DESENVOLVIMENTO O que você pode melhorar? Quais conhecimentos precisam ser aprofundados? Que comportamentos podem ser adotados para ganhar oportunidades? O que te faz perder oportunidades (pensamentos, crenças, atitudes, estados emocionais, ações)? O que as pessoas apontam que você poderia melhorar? O que você pode perder no médio e longo prazo se continuar assim como está? AMEAÇAS Que oportunidades você pode obter com seus pontos fortes? Que possibilidades de atuação você pode abrir por meio dos seus talentos? Como seus talentos podem contribuir para você obter os resultados desejados na vida pessoal e na vida profissional? Como seus pontos fortes podem ser utilizados para contribuir com o resultado de outras pessoas/seus colegas/sua organização? Fonte: Elaborado com base em Lotz e Gramms (2014). Uma vez levantado o maior número de informações para cada quadrante, chegou a hora de realizar a análise. Os cruzamentos dos quadrantes oportunizam a reflexão sobre como os pontos fortes e os pontos fracos estão influenciando na ocorrência das oportunidades ou ameaças. A partir daí, são estabelecidas as estratégias do projeto de mudança pessoal, que pode ser ofensiva, defensiva, de reforço ou de confronto. Vamos conhecer cada uma delas! Quadro 7 – Cruzamentos e tipos de estratégias Estratégia Cruzamento Característica Ofensiva Pontos fortes × Oportunidades Tem por objetivo nutrir e desenvolver os pontos fortes que contribuirão para que as oportunidades ocorram. Defensiva Pontos fracos × Ameaças Tem por objetivo minimizar impactos e perdas tendo em vista as fraquezas. É o cenário mais crítico que leva o indivíduo a estabelecer caminhos que permitam lidar com a ocorrência iminente de uma ameaça. Reforço Pontos fracos × Oportunidades Tem por objetivo trabalhar as fraquezas, que nada mais são do que oportunidades de melhorias, a fim de minimizar a ocorrência de ameaças. Confronto Pontos fortes × Ameaças Tem por objetivo identificar como as forças podem minimizar a ocorrência das ameaças. Por meio da análise SWOT, a pessoa realiza uma importante reflexão sobre seus pontos fortes, núcleos doadores de forças, oportunidades de aprimoramento que resultam em oportunidades ou ameaças. Tal reflexão 19 permite a projeção de cenários, visões de futuro, o que impacta na tomada de decisões, tendo em vista o que deseja alcançar em seu projeto de vida. Segundo William G. Ward, teólogo e matemático inglês, “há os que se queixam do vento. Os que esperam que ele mude. E os que procuram ajustar as velas”. A análise SWOT permite não somente ajustar as velas, mas também criar oportunidades rumo a uma vida com significado, em congruência com os valores e a missão pessoal, tornando-a edificante e realizadora. Saiba Mais Leia o artigo “Todo mundo quer mudanças, mas ninguém quer mudar a si mesmo”, disponível em: <http://exame.abril.com.br/carreira/todo-mundo-quer- mudancas-mas-ninguem-quer-mudar-a-si-mesmo/> Curiosidade Assista ao vídeo O poder de pequenos hábitos, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=BONW4sFP-EU>. TEMA 5 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS Quando tratamos da mudança pessoal, um aspecto bastante relevante é que a chave para que ela ocorra está no campo do comportamento. Afinal, de nada adianta uma pessoa traçar uma belíssima estratégia de mudança e “bater na trave” por não ter disciplina, equilíbrio emocional, flexibilidade, olhar apreciativo sobre os resultados, mesmo quando os obtidos não tiverem sido exatamente os planejados. E sobre o que estamos falando? Sobre inteligência emocional! É bastante comum pessoas alegarem “esse é o meu temperamento, eu nasci assim e vou morrer assim”. Será? O renomado escritor estadunidense Goleman (1995, p. 13), não concorda com essa prerrogativa determinista e ensina que “nossa herança genética nos dota a cada um com uma série de pontos-chave que determinam nosso temperamento. Mas os circuitos cerebrais envolvidos são extraordinariamente maleáveis; temperamento não é destino”. Eis uma excelente notícia! A inteligência emocional é o modo pelo qual o indivíduo trata as próprias emoções e as emoções dos outros. É a união das inteligências intrapessoal (voltada para o conhecimento de si mesmo) e interpessoal (voltada para os 20 relacionamentos). Goleman (1995) ensina que a inteligência emocional apresenta cinco importantes dimensões: autoconscientização (conhecer as próprias emoções) – habilidade de reconhecer um sentimento quando ele ocorre; compreender os próprios humores, emoções e necessidades e como estes impactam no outro. autocontrole (lidar com emoções) – habilidade que se desenvolve e fortalece na autoconsciência. É a capacidade de confortar-se, de lidar com emoções como a raiva, a tristeza e o medo sem deixar se incapacitar por elas; aprender com os resultados, desejados ou indesejados, entre outros. É a capacidade de compreender que entre um estímulo (um evento) e uma resposta (um comportamento) existem escolhas. automotivação (motivar a si mesmo) – habilidade de nutrir o diálogo interno positivo, impulsionador e otimista; de manter o foco nas possibilidades, na solução, e não no problema; de perseguir, mesmo com as adversidades ou restrições que possam se desenhar ao longo do caminho. empatia (reconhecer as emoções nos outros) – habilidade de “ir para os sapatos do outro”, de olhar para a situação na perspectiva do outro; é a capacidade de levantar a intenção positiva que está por trás de um comportamento (que pode não ser tão positivo assim) e compreender o sentimento do outro; ter compaixão (inclusive por pessoas das quais não nutre simpatiaou afinidade). habilidade social (lidar com relacionamentos) – lidar com as emoções do outro; criar e manter relacionamentos saudáveis, rede de apoio. O desenvolvimento da inteligência emocional contribui para que o indivíduo rompa com a “cultura da vitimização”, a busca por justificativas, a atribuição de responsabilidades a terceiros pelos resultados obtidos. Permite identificar o lócus de controle e, se necessário, modificá-lo. Mas o que é lócus de controle? Locus, palavra de origem latina, significa “local”. Controle é o comando, quem está na direção. Esse constructo foi desenvolvido na psicologia social, em 1954, pelo psicólogo estadunidense Julian Rotter. O autor aborda o lócus de controle sob duas perspectivas: lócus de controle externo e lócus de controle interno (Luz, 2011). 21 As pessoas com lócus externo percebem seus resultados como fruto de fatores diversos, que independem de sua vontade, sejam estes sorte ou outras pessoas e situações. Lotz (2013, p. 13) explica “[...] quem está no comando é sempre o outro, e a responsabilidade pelos resultados e pelo desempenho será sempre atribuída a terceiros. A pessoa coloca-se sempre como vítima da situação, não identifica as escolhas comportamentais e está mais inclinada à acomodação e à frustração”. As pessoas com predisposição ao lócus de controle interno acreditam que a medida de seus esforços e competências é a principal fonte do seu sucesso ou fracasso (resultado). Adotam comportamentos proativos e muito embora recebam toda a sorte de influências dos estímulos externos, não permitem que elas determinem suas escolhas (Lotz; Gramms, 2014). Que tal olharmos os conceitos apresentados sobre inteligência emocional e lócus de controle à luz da criação, do desenvolvimento e da manutenção da carreira? Você já parou para pensar como a inteligência emocional está diretamente atrelada as competências comportamentais? E o quanto as competências comportamentais são basilares para que o profissional conquiste e mantenha seu espaço no mundo do trabalho? Já se deu conta que as pessoas entram para as organizações por suas competências técnicas e muitas são desligadas em virtude da ausência de competências comportamentais? Profissionais altamente qualificados, mas que não conseguem obter resultados satisfatórios por ausência de equilíbrio emocional ou competências que favoreçam o trabalho em equipe podem comprometer suas carreiras a médio e longo prazos. Bem, para entrar no campo das competências, vamos, primeiramente, conceituá-las. De acordo com Bitencourt (2010, p. 17), competência é “a capacidade de combinar recursos incorporados à pessoa, como conhecimento, habilidade, experiências, capacidades cognitivas, recursos emocionais entre outros e os recursos presentes no meio”. Para Durand (1998), a construção de uma competência envolve o conhecimento, a habilidade e a atitude, necessários para atingir determinados objetivos. De acordo com o modelo: 22 CONHECIMENTO Saber 1. É aquilo que o indivíduo aprende ao longo de sua história, nos livros, na escola e por meio das experiências de vida. HABILIDADE Saber fazer 2. É o know-how desenvolvido pelo indivíduo por meio da prática. ATITUDE Querer fazer 3. São as intenções manifestas por meio dos comportamentos; é a ação que leva ao resultado. Fonte: elaborado com base em Durand (1998). Competências são sinergias, nas quais o todo é muito maior que a soma das partes, é a combinação de saberes, conhecimentos, valores, atitudes e habilidades que se deparam e se ampliam conjuntamente (Dutra, 2001). As competências comportamentais são atreladas aos aspectos emocionais cujas bases se encontram na inteligência intrapessoal (conhecimento de si mesmo) e na inteligência interpessoal (relacionamento com os outros). A capacidade de trabalhar sob pressão, organização, gestão do tempo, comunicação, gerir conflitos, tolerar frustrações, disciplina, atenção, criatividade, flexibilidade são exemplos de competências comportamentais. O desenvolvimento das competências comportamentais pode ser um grande chamado para o desenho do projeto de mudança pessoal. Saiba Mais Assista ao vídeo O hábito faz de você um sucesso, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=GFqxjWVy094>. Curiosidade Assista ao vídeo sobre a inteligência emocional nas redes sociais, disponível em <https://www.tvgazeta.com.br/videos/inteligencia-emocional-nas-redes- sociais/>. TROCANDO IDEIAS Em tempos de tantas redes sociais, responda: Você já parou para pensar sobre o conteúdo que posta? De que forma tem apresentado sua imagem? Quais valores pessoais são expressos em suas publicações? O que publica contribui para que os outros construam uma imagem positiva sobre você? Será que o 23 conteúdo dessas postagens pode oferecer riscos à sua carreira? Quais mudanças pode implementar para fortalecer a imagem positiva tanto no campo pessoal quanto profissional? Para contribuir com suas reflexões, visite os seguintes sites: <http://www.deducao.com.br/index.php/a-importancia-da-imagem- pessoal-nas-redes-sociais/>. <http://marketingdeconteudo.com/marketing-pessoal-nas-redes- sociais/>. NA PRÁTICA Joana está absolutamente revoltada. Ela acaba de ser desligada do quarto emprego no prazo de um ano. Não se conforma com o fato e acredita fortemente que não tem sorte na vida. Tem sempre alguém para lhe puxar o tapete. As pessoas têm inveja dela e, por isso, fazem de tudo para prejudicá-la! A equipe não dizia a ela o que fazer. Ninguém nunca informava os prazos das entregas dos relatórios. Como podia cumprir prazos. Ela tinha que adivinhar!? Eles não se organizavam e a culpa era dela? Só os puxa-sacos recebiam promoções. Acreditava que, dessa forma, não dava pra ser profissional! As pessoas não estavam mesmo preparadas para reconhecer os talentos dela. Protocolo de resolução da situação proposta 1. Leia atentamente as considerações, especialmente as apresentadas nos temas 2, 4 e 5. 2. Identifique no texto o tipo de crenças e o lócus de controle. 3. Como seria se ela “virasse a chave” para o lócus interno de controle e utilizasse a experiência como uma oportunidade de melhoria? 4. Faça uma reflexão a respeito de como as perspectivas individuais influenciam o comportamento e os resultados colhidos pela pessoa. Resolução do caso O caso em questão apresenta uma tendência ao lócus externo de controle. Ela atribui a responsabilidade sempre aos outros, e não se detém a olhar para de que forma seus comportamentos contribuíram para que ela fosse novamente demitida. Uma pessoa com predisposição ao lócus interno de 24 controle provavelmente se perguntaria: Como posso melhorar? O que posso fazer de diferente da próxima vez? Tal comportamento contribuiria para a detecção de oportunidades de melhorias, as quais trariam resultados diferentes tanto para a vida pessoal quanto profissional. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos temas que envolvem a construção da realidade e como essa construção influencia no comportamento e nos resultados individuais. Vimos a importância da mudança de modelos mentais, padrões de pensamentos e comportamentos. Estudamos que os modelos mentais são formados pelo conjunto de crenças, valores, experiências, fatores biológicos, culturais e sociais que funcionam como filtros e lentes pelos quais as pessoas interpretam a realidade. E que crenças são cognições (pensamento + sentimentos), sentimentos de certeza sobre nós mesmos, sobre o outro, sobre o mundo. Existem crençasconscientes e outras inconscientes, e elas podem ser limitantes ou impulsionadoras. Em diversas situações, para que exista a mudança, há, primeiramente, que mudar a crença que influencia o comportamento. Em outras palavras, quando mudamos uma crença, modificamos o comportamento atrelado a ela. Você também conheceu a análise SWOT, uma ferramenta da qualidade que permite identificar os pontos fortes e os que requerem melhorias, as ameaças e as oportunidades. Estudou a inteligência emocional como alicerce das competências comportamentais, tão importantes para colher resultados edificantes na vida pessoal e profissional. 25 REFERÊNCIAS ANGELONI, M. T. (Org.). Organizações do conhecimento: infraestrutura, pessoas e tecnologia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. COVEY, S. Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes. São Paulo: Best Seller, 2003. DESIDÉRIO, M. 30 frases de Steve Jobs para você se inspirar. Exame.com Disponível em: <http://exame.abril.com.br/pme/30-frases-de-steve-jobs-para- voce-se-inspirar/>. Acesso em: 14 abr. 2017. FERNANDES, A. B. 10 frases de Peter Drucker que podem mudar a sua percepção de mundo. Jornal do Empreendedor, 2015. Disponível em: <https://jornaldoempreendedor.com.br/destaques/inspiracao/10-frases-de- peter-drucker-que-podem-mudar-a-sua-percepcao-de-mundo/>. Acesso em: 6 jul. 2017. FORD, H. The Amazing Legacy of Henry Ford. People and power. Disponível em: <http://peopleandpowerngr.com/2016/05/the-amazing-legacy-of-henry- ford/>. Acesso em: 6 jul. 2017. GANDH, M. Biografia de Mahatma Gandhi. Disponível em: <http://www.laguia2000.com/india/biografia-de-mahatma-gandhi>. Acesso em: 6 jul. 2017. LOTZ, E. G.; GRAMMS, L. C. Coaching e mentoring. Curitiba: Intersaberes, 2014. MOREIRA, M. A. Modelos mentais. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/N3/moreira.htm#numero_1>. Acesso em: 6 jul. 2017. SARTOR, V. B. Modelos mentais e a gestão do conhecimento. In: ANGELONI, M. T. (Org.). Organizações do conhecimento: infraestrutura, pessoas e tecnologia, São Paulo: Saraiva, 2003. VILLAMARIN, A. J. G. Como superar a barreira do vestibular. A metodologia ideal para os candidatos realmente decididos a vencer. Porto Alegre: Age, 2000. 26 LEITURA OBRIGATÓRIA DA DISCIPLINA CHUNG, T. Qualidade começa em mim. São Paulo: Novo Século, 2005. GASPARINI, C. 5 competências que a faculdade (ainda) não ensina. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/carreira/5-competencias-que-a- faculdade-ainda-nao-ensina/>. Acesso em: 2 jul. 2017. LUCAS, M. Guia completo para implementar qualquer mudança na sua vida. Disponível em: <http://www.escolapsicologia.com/guia-completo-para- implementar-qualquer-mudanca-na-sua-vida/>. Acesso em: 2 jul. 2017. MEU FUTURO e o meu projeto de vida. Guia prático para a construção de um projeto de vida. Disponível em: <http://www.dersv.com/PEI_PV_Cartilha.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2017. MIORANZA, G. et al. Modelos mentais: estudo de suas implicações no desempenho organizacional. VIII Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos11/2614530.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2017. TORRES-CORONA, T.; VIDAL-BLASCO, M. O papel da inteligência emocional (traço) na previsão do comportamento em rede. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbgn/v19n63/1806-4892-rbgn-19-63-00030.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2017.
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