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Políticas Públicas no Brasil – Graduação em Administração Pública/UNESP-Araraquara
Semana 6 – 01 de abril de 2014
Prof. Bruno Souza da Silva
Doutorando em Ciência Política/UNICAMP
Referências Principais
LIMA, Trindade. et. ali (orgs.) Saúde e democracia: história e perspectivas do SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
CARVALHO, José Murilo de. A cidadania no Brasil: um longo caminho. São Paulo: Civilização Brasileira, 2001.
Objetivo da aula: compreender a estrutura do SUS e seus desafios. 
 Antecedentes mais importantes: 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986 – principais resultados: 1) lançamento dos princípios da Reforma Sanitária; 2) identificação da necessidade de ampliação do conceito de saúde; 3) discussões sobre a natureza que o novo sistema de saúde deveria possuir (ênfase na expansão do setor público); 4) debate sobre a unificação entre o Inamps e do Ministério da Saúde; 5) estrutura de financiamento do novo sistema a partir de recursos oriundos do Inamps em um primeiro momento e, garantindo-se a autonomia do sistema, fixação dos tributos que o manteriam e das competências entre os entes federativos.
Resultado mais importante: criação do SUDS (Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde) em 1987, através do qual o Inamps passa a estabelecer convênios com os governos estaduais (principalmente na figura dos Secretários estaduais de Saúde) a AIS é modificada, ganhando um caráter mais universalista através de ações mais estruturadas. Esses convênios pretendiam unificar as ações de saúde orientadas pelos três níveis de governo, em um arranjo no qual os municípios ficassem com a responsabilidade de aplicação das políticas de saúde e gestão dos recursos, e os estados auxiliassem nesta gestão e planejamento das políticas. É neste contexto que os secretários estaduais de saúde são “empoderados” pelo novo sistema. Os novos princípios básicos deste sistema passaram a ser: 
1. UNIVERSALIDADE (o acesso aos serviços de saúde deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda ou outras características sociais e pessoais);
2. EQUIDADE (princípio de justiça social que garante a igualdade da assistência à saúde sem preconceitos ou privilégios. A realidade de vida da população é que passa a ser definitivamente levada em conta);
3. HIERARQUIZAÇÃO (conjunto articulado de ações e serviços preventivos e curativos de caráter individual ou coletivo, possuindo ações em todos os níveis de complexidade do sistema);
4. DESCENTRALIZAÇÃO política e administrativa (obtida através da municipalização das ações de saúde, tornando o município gestor administrativo e financeiro do sistema);
5. PARTICIPAÇÃO POPULAR (democratização dos processos decisórios consolidado na participação dos usuários dos serviços de saúde nos chamados “Conselhos Municipais de Saúde”); 
Articulações políticas para a Constituinte: no mesmo momento em que é estabelecido o SUDS, o governo federal cria também, através de uma portaria interministerial, a Comissão Nacional de Reforma Sanitária (CNRS), a qual acabou ficando responsável por apresentar uma proposta de conteúdo de saúde que subsidiou a Constituinte, fora a apresentação de um projeto que culminaria na nova lei do sistema de saúde, tornando-se o SUDS, o atual SUS.
CF 1988: redefiniu as prioridades das políticas de saúde, agora assentadas em princípios totalmente universalizantes. Em termos de texto constitucional temos que: 
1) no capítulo VIII “Da ordem social”, na seção II referente à saúde, o art. 196, assegura que: “A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”; 
2) em relação ao SUS ele é definido no art. 198 do seguinte modo: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I. Descentralização, com direção única em cada esfera do governo;
II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III. Participação da comunidade
Parágrafo único – o sistema único de saúde será financiado, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes”.
Após o estabelecimento do SUS ficou ainda pendente a regulamentação do funcionamento do Sistema: No ano de 1989 o desafio por parte do governo foi o de regulamentar o sistema a partir de uma lei complementar. A aprovação desta lei complementar é que daria as bases operacionais para a completa reforma do sistema. A discussão sobre metodologias e ações operacionais do SUS foi tema de Congressos importantes na época, como o III Congresso Paulista de Saúde Pública e o II Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Os reformistas que haviam atuando junto ao movimento sanitarista no período anterior puderam contribuir nestas discussões, que culminaram na aprovação em 1990 da lei complementar nº 8.080 de 1990, conhecida como a Lei Orgânica da Saúde (LOS) no governo Collor. Neste contexto ainda, é importante frisar que o Ministério da Saúde passa a ser a arena decisória mais importante para as políticas de saúde no país ao mesmo tempo em que se torna o principal ator que orienta as políticas na área. 
Principais pontos abordados na LOS/1990: 1) ela oferece as diretrizes e princípios que norteiam o SUS (sintetizados anteriormente); 2) estabelece que a saúde é um direito fundamental de todo cidadão brasileiro, sendo o Estado responsável por prover as condições indispensáveis à garantia da integridade física, mental e social dos cidadãos; 3) responsabiliza as pessoas, a família, as empresas e a sociedade a atuarem junto com o estado para garantir o direito fundamental à ações e serviços de saúde; 4) regula a participação do setor privado na área de saúde, o qual tem possibilidade de atuar em caráter complementar aos serviços e atendimentos oferecidos pelo SUS; 5) define o que é o SUS em termos organizacionais – “Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público.”; 6) estabelece um conceito de saúde amplo, englobando ações políticas que digam respeito à: i) vigilância sanitária; ii) vigilância epidemiológica; iii) saúde do trabalhador; iv) assistência terapêutica integral, inclusive a farmacêutica; 7) reforça a importância dos controles sociais através da participação popular no sistema; 8) após mudanças na legislação no final dos anos 1990 e anos 2000, são incluídos capítulos à lei que definem “subsistemas” que compõe o conjunto de ações do sistema de saúde, como a atenção à saúde 
indígena, atendimento e internação domiciliar, saúde da mulher (como acompanhamento durante o trabalho de parto e pós-parto imediato e o papel das novas tecnologias de saúde; 9) regulamenta o financiamento do sistema de saúde, apontando que a destinação dos recursos é originária do orçamento da seguridade social de acordo com a receita estimada prevista pela direção nacional do sistema e pelos órgãos da Previdência Social e da Assistência Social, sempre tendo em vista as prioridades estabelecidas na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias nacional), podendo se ter outras fontes ainda de financiamento. Embora não esteja designado na lei, a fonte destes recursos vem de impostos pagos ao governo federal – especialmente o COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), o CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e o CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira); 10) trata da gestão financeira dos recursos, mostrando que cabe ao Ministério da Saúde a responsabilidade dealocação dos recursos financeiros através do Fundo Nacional de Saúde (FNS). 
Lei complementar nº 8.142/1990: esta lei também entra como parte da legislação complementar do SUS e diz respeito à participação da comunidade na gestão de recursos do sistema e sobre as transferências de recursos entre os níveis governamentais. Alguns pontos de destaque: 1) obrigatoriedade de instâncias colegiadas em todas as esferas de governo – a Conferência de Saúde (obrigatoriedade de reunião a cada 4 anos; representação de diversos segmentos sociais e objetivo de avaliar a qualidade das ações e serviços prestados e propor diretrizes para a formulação de políticas na área) e o Conselho de Saúde (que possui um caráter permanente e deliberativo, deve ser composto basicamente por i) representantes do governo, ii) prestadores de serviço, iii) profissionais da saúde, iv) usuários do sistema, seu objetivo principal é atuar na formulação de estratégias e no controle da execução das políticas na área em cada instância correspondente; 2) estabelece que o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e o Conasems (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde) possuem representação no Conselho Nacional de Saúde.; 3) define as regras básicas para alocação dos recursos do FNS.
Estrutura institucional e decisória do SUS;
Próxima aula: fechamento do tema das políticas de saúde e início da discussão sobre montagem do sistema de proteção social no Brasil.

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