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2017 - 07 - 16 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 1 - Edição 2016 PARTE IV - PROCESSO CAPÍTULO 21. AUXILIARES DA JUSTIÇA Capítulo 21. Auxiliares da Justiça Sumário: 21.1 Noções gerais - 21.2 Regime Jurídico 21.1. Noções gerais Conquanto a prestação da jurisdição, como ato de poder, caiba exclusivamente ao juiz, é certo que, para o desempenho de suas funções, deva o magistrado contar com infraestrutura física e humana de apoio, esta última composta por diversos tipos de auxiliares da justiça e encarregada do exercício de atividades-meio, isto é, do desempenho de serviços auxiliares. Permite-se, assim, que o juiz dedique-se notoriamente à direção e gestão do processo e aos atos decisórios em geral, cabendo-lhe apenas supervisionar o desempenho das atividades de seus auxiliares. Os auxiliares, convém notar, são, em relação ao processo, terceiros desinteressados, que com as partes e com o próprio processo devem guardar imparcialidade. Assim como ocorre em todo tipo de atividade pública ou privada - por exemplo, as assessorias dos parlamentares ou os serviços auxiliares de um advogado - também a atividade do magistrado exige que diferentes atos sejam praticados, tanto prévia como posteriormente. Para que a petição inicial seja despachada, deverá ela ser registrada, autuada e encaminhada ao juiz. A ordem de citação que venha pelo juiz a ser dada, deverá ser instrumentalizada (num mandado de citação, por exemplo) e deverá, em seguida, ser cumprida. A tomada de depoimento de testemunha que desconheça o idioma nacional deverá ser realizada com o auxílio de tradutor. Se se tratar de depoimento de pessoa portadora de deficiência auditiva, cuja comunicação se faça por meio da Língua Brasileira de Sinais, deverá o juiz contar com o auxílio de intérprete dessa linguagem especial. Na tentativa de conciliação, diz o CPC de 2015, conciliadores judiciais prestarão seu serviço. O mesmo acontecerá com o mediador, caso tenha o magistrado optado por essa técnica de aproximação dos litigantes, para que dialoguem em busca de solução para a questão que os antagonize. Todas essas atividades, que são aqui postas a título de exemplo, exigem a realização de uma série de atos, a serem desempenhados por diferentes categorias de auxiliares da justiça, com diferentes habilidades técnicas e distintas formações. 21.2. Regime jurídico Não há regime jurídico único, do ponto de vista funcional, na medida em que o CPC de 2015, no art. 149, contém rol exemplificativo que contempla tanto os servidores públicos, sob regime jurídico próprio, que desempenham suas atividades permanente e continuadamente (o escrivão, por exemplo), quanto auxiliares eventuais, que trabalham mediante nomeação do juiz, em situações pontuais, para o desempenho de atividades para as quais serão remunerados pelas partes (o perito, por exemplo). Enquanto os primeiros são servidores do juízo, ou do Poder Judiciário, os segundos invariavelmente são profissionais do mercado, chamados para, esporadicamente, em razão da expertise que detenham nas respectivas áreas de formação, cumprir tarefas especiais. Sob o aspecto da responsabilidade pela prática dos atos que lhes são próprios, todos os auxiliares da justiça públicos, da carreira do Poder Judiciário, se sujeitam ao regime jurídico de direito público, que envolve uma série de princípios a serem observados pela administração pública, tais como o da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência, todos previstos no art. 37 da Constituição Federal, podendo, inclusive, responder por ato de improbidade administrativa. De sua vez, os auxiliares não vinculados permanentemente à administração pública judiciária, mas que desempenham atividade para a qual se exige imparcialidade, sujeitam- se às regras relativas ao impedimento ou à suspeição. Relativamente ao perito, por exemplo, o art. 466 prevê o dever de escrupuloso cumprimento de sua tarefa, podendo as partes arguir seu impedimento ou suspeição (art. 465, § 1.º, I). Ainda que não integrantes do quadro permanente da administração pública judiciária, esses auxiliares sujeitam-se, pontualmente, ao regime de direito público. Por exemplo, o engenheiro civil que é designado perito judicial incide no crime de corrupção, se pede ou aceita vantagem indevida em virtude da função (CP, art. 317). Isso significa que ele é tratado como agente público, para fins penais, relativamente aos atos que pratica no desempenho de sua função de auxiliar da justiça. É de se observar que as atividades dos auxiliares da justiça se desenvolvem permanentemente, em todos os tipos de processo, em todos os graus de jurisdição, inclusive junto ao STJ e STF, em menor ou maior grau. E isso é visível no Código de Processo Civil, pois há uma série de dispositivos que aos auxiliares fazem menção. Essa observação é útil para que se compreenda a relevância dos serviços auxiliares na prestação da tutela jurisdicional pelo Estado. Apenas a título de exemplo, vejam-se algumas referências legislativas: o art. 152 do CPC/2015 trata das incumbências do escrivão ou do chefe de secretaria, que são os responsáveis, nas respectivas áreas de atuação, pela documentação dos atos do processo e pelo desenrolar do procedimento. Veja-se, por exemplo, o que dispõe sobre uma das incumbências do escrivão ou do chefe de secretaria, o inciso II do art. 152: "efetivar as ordens judiciais, realizar citações e intimações, bem como praticar todos os demais atos que lhe forem atribuídos pelas normas de organização judiciária"; o art. 206 dispõe a respeito do recebimento e autuação da petição inicial, assim como da numeração das folhas dos autos. Trata-se de outro conjunto de tarefas do escrivão ou do chefe de secretaria. No processo de execução, tanto de título extrajudicial quanto de título judicial, este último sob a forma de cumprimento de sentença (ou de decisão, em alguns casos), o oficial de justiça realiza atividade de extrema importância, que é por vezes definidora do sucesso ou do fracasso dos atos de constrição judicial de bens do patrimônio do executado. Veja-se, por exemplo, o que dispõe o art. 782 do CPC/2015. O art. 154, de sua vez, enumera as atribuições gerais do oficial de justiça, dentre as quais destaca-se a do inc. I: "fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais diligências próprias de seu ofício (...)". O perito, a seu turno, realiza atividade de auxílio técnico ao juiz, de modo eventual, sempre que a determinada qualificação técnica for exigida para que se possa eficazmente demonstrar algum fato relevante para a formação da convicção do juiz. Prevê o art. 156 que o juiz contará com a assistência de perito sempre que a "prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico". Atuação Exercício de atividade-meio Art. 149 do CPC/2015 Rol exemplificativo Estrutura Servidores do juízo Exercício das atividades permanente e continuadamente Regime próprio Auxiliares eventuais Nomeação pelo juiz Remuneração pelas partes Responsabilidade Auxiliares da justiça públicos - regimejurídico de direito público Legalidade Impessoalidade Moralidade Publicidade Eficiência Imparcialidade Art. 148, II, doCPC/2015 Impedimento Suspeição · Fábio Victor da Fonte Monnerat (Introdução..., p. 251/252) afirma que "para o exercício de seus deveres-poderes, o juiz não está sozinho, pois conta, dentro e fora da estrutura do Poder Judiciário, com auxiliares da Justiça, assim entendidos sujeitos que, apesar de não estarem dotados de poder jurisdicional, possuem competência para, sob o comando e supervisão do juiz, praticarem atos processuais voltados ao desenvolvimento do processo e à efetivação da prestação jurisdicional. Nesse sentido, o juiz dispõe de grande número de auxiliares, nem todos integrantes dos quadros permanentes do Poder Judiciário. Por esse motivo, pode-se dividir os auxiliaresda Justiça em dois grandes grupos: a) os auxiliares permanentes; b) os auxiliares eventuais. (...) Ademais, ganham relevo no atual modelo de Processo Civil brasileiro a figura de dois auxiliares da Justiça cuja função é basicamente tentar solucionar a lide por métodos consensuais, os mediadores e conciliadores cuja previsão e atribuições encontram-se definidas entre os arts. 165 a 175 do Código de Processo Civil.". · Humberto Theodoro Júnior (Curso..., vol. 1, 56. ed., p. 437) entende que "não é possível a realização da prestação jurisdicional sem a formação e o desenvolvimento do processo. E isso não ocorre sem a participação de funcionários encarregados da documentação dos atos processuais praticados; sem o concurso de serventuários que se incumbam de diligências fora da sede do juízo; sem alguém que guarde ou administre os bens litigiosos apreendidos etc.". Sobre as categorias de auxiliares, afirma que "permanentes são os que atuam continuamente, prestando colaboração em todo e qualquer processo que tramite pelo juízo, como o escrivão, o oficial de justiça e o distribuidor. Sem esses auxiliares, nenhum processo pode ter andamento. Há, porém, auxiliares que não integram habitualmente os quadros do juízo e só em alguns processos são convocados para tarefas especiais, como o que se passa com o intérprete e o perito. Esses são os auxiliares eventuais.". · Lúcio Delfino (Breves..., p. 484) ressalta que "apesar da importância do juiz, a quem incumbe dirigir o processo em conformidade com as disposições processuais (art. 139, CPC-2015), não se pode negar que sua atuação seria difícil sem o auxílio de terceiros (funcionários, servidores públicos ou cidadãos comuns investidos de munus público) com as mais variadas funções, a envolver, entre outras: i) a chefia e organização das secretarias; ii) a materialização dos autos num arranjo lógico de documentos, até a consumação mesma dos comandos judiciais; iii) o fornecimento ao juiz de subsídios para a formação de seu convencimento; iv) a tradução para a linguagem corrente de manifestações de vontade às quais o juiz deve considerar; v) o dever de guarda, vigilância e administração dos bens constritos judicialmente. Todos eles, juiz e auxiliares da justiça, compõem e fornecem os contornos daquilo que se denomina juízo e se empenham conjuntamente na instrumentalização da prestação jurisdicional, sempre atentos ao modelo previsto na Constituição Federal.". · Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo curso..., vol. 2, p. 71/72). Os autores descrevem que "além do juiz, das partes e dos terceiros que eventualmente podem intervir no processo, dele participam também os auxiliares do juiz (escrivão ou diretor de secretaria, oficial de justiça, mediadores, conciliadores, assessores, peritos, intérpretes e tradutores, arts. 149 e ss.), cuja função central é a de coadjuvar o juiz na condução do processo civil a fim de que se chegue a uma decisão justa em um prazo razoável (arts. 5.º, LXXVIII, da CF, e 4.º e 6.º do CPC). Porque a ordem jurídica reconhece a cada um dos participantes do processo um complexo de direitos, poderes, faculdades, ônus e deveres ao longo do procedimento, diz-se que o processo civil pode ser encarado como uma comunidade de trabalho (Arbeitsgemeinschaft) - vale dizer, como um procedimento em que a atividade coordenada de todos que nele tomam parte está constitucional e legalmente direcionada à justa resolução do conflito apresentado pelas partes ao juiz.". · Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentário..., p. 624) em comentário ao art. 150, afirmam que "a nomenclatura juízo tem significado preciso em direito. Corresponde à célula mínima de jurisdição que, no organograma do Estado, permite o exercício do poder jurisdicional. Na justiça comum estadual e federal, o juízo corresponde à vara. A cada juízo corresponde, no mínimo, um ofício de justiça, que é chefiado pelo escrivão ou chefe de secretaria, ou secretário. Um mesmo juízo pode ter mais de uma secretaria a seu serviço, caso em que se deve identificar cada um dos ofícios ligados ao mesmo juízo. O escrivão é o serventuário público encarregado da chefia dos ofícios de justiça". · Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 293), sobre os auxiliares, afirmam que "Os auxiliares da Justiça, de forma geral, são terceiros não interessados na lide que prestam serviços em cooperação com o magistrado para a realização da função jurisdicional. A Jurisdição, a toda evidência, não se realiza pelo trabalho solitário do juiz. Este depende do apoio de agentes públicos ou particulares (investidos de múnus público) que o auxiliam tanto na realização de serviços voltados à administração da justiça (por exemplo, a documentação dos autos, a comunicação às partes e a certificação de atos), como no exame de questões para as quais não possui conhecimento ou habilitação adequada (traduções e perícias). Mesmo quando não possuem vínculo funcional com o Estado, os auxiliares da Justiça estão submetidos ao regime jurídico de direito público, © desta edição [2016] sendo subordinados e supervisionados pelo magistrado no exercício das suas funções. Seus atos são dotados de fé-pública (presunção de legitimidade), eventuais danos causados no exercício da sua função ensejam a responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, § 6.º, da CF) e podem ser réus em ação de improbidade administrativa (art. 2.º da Lei Federal nº 8.429/92). Devem, ainda, atender aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, tal como consagrados no art. 37, caput, da CF.". · Zulmar Duarte (Teoria..., p. 506), sobre o impedimento e suspeição do auxiliar da justiça, dispõe que "os auxiliares da justiça são considerados, tanto quanto o juiz, sujeitos imparciais do processo, já que não podem e devem ter interesse algum no resultado da demanda. Aplicam-se a eles, por isso, os motivos de impedimento e de suspeição (arts. 144 e 145 do CPC/2015) dos juízes. A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 dias e facultando a produção de prova, quando necessária. Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1.º será disciplinada pelo regimento interno.". Fundamental Fábio Victor da Fonte Monnerat, Introdução ao estudo do direito processual civil, São Paulo, Saraiva, 2015; Fernando da Fonseca Gajardoni, Luiz Dellore, Andre Vasconselos Roque e Zulmar Duarte de Oliveira Jr., Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 2015: parte geral, São Paulo, Forense, 2015; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, 56. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2015, vol. 1; Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, São Paulo, Ed. RT, 2015, vol. 2; Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao código de processo civil, São Paulo, Ed, RT, 2015; Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas (coord.), Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil, São Paulo, Ed. RT, 2015; _____, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello, Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo, São Paulo, Ed. RT, 2015. Complementar Ana Rita Carneiro Baptista Barretto Santiago, O tradutor público e intérprete comercial e sua contribuição ao judiciário, RePro 194/415; Edgard Fernando Barbosa, Da efetivação do papel do conciliador e da arbitragem na estrutura do juízo cível, Revista dos Tribunais 792/82; Fabiano Caribé Pinheiro, Os oficiaisde justiça no exercício de suas atribuições o modus procedendi em ações que tramitam sob segredo de justiça. Análise detalhada, RePro 193/421; Ricardo Hasson Sayeg, Limites da responsabilidade do administrador judicial na recuperação judicial convolada em falência, Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais 67/291; Vitor Carvalho Lopes, Breves considerações sobre os elementos subjetivos da mediação: as partes e o mediador, Revista de Arbitragem e Mediação 26/85, jul. 2010, Doutrinas Essenciais Arbitragem e Mediação vol. 6, p. 975, set. 2014.
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