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MATERIAL PARA MELHOR ACOMPANHAR NOSSAS AULAS, ISSO NÃO DISPENSA A LEITURA DE DOUTRINAS E DEMAIS INFORMATIVOS NA ÍNTEGRA PERTINENTES AO ASSUNTO.
Professora Ma. Matilde Mendes
DISCIPLINA: DIREITO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL II
(CONTEÚDO EM SEQUÊNCIA AO PLANO DE ENSINO POSTADO NO PORTAL UNESC E ENVIADO EMAIL DA TURMA).
A teia 
Na teia se tem sentidos 
Abrindo sonhos selando mundos 
Solarando o meu, ilumino o seu. 
A flecha da interculturalidade 
Sinaliza o caminho 
Cultura está dentro/fora 
Na parte, no todo, 
Separada se completa 
Bagagem do sentir 
Do olhar que se alonga 
No respeito ao diverso 
A teia tece culturas 
Cada linha um saber 
Que vão fazendo saberes 
Saberes que tecem a paz, 
 Que tecem os amanhãs. 
 Matilde Mendes
Direito Internacional dos povos indígenas: Convenção nº 169 da OIT e a Declaração das Nações Unidas sobre o Direito dos Povos Indígenas - ONU
Nos dizeres de Galvis e Ramires, apesar de alguns instrumentos internacionais de direitos humanos incluírem a proteção dos direitos dos povos indígenas, a maioria desses instrumentos não é suficientemente eficaz para proteger esses direitos, sobretudo porque focam em proteger os direitos individuais das pessoas indígenas. Os povos indígenas necessitam do reconhecimento de direitos coletivos específicos para buscar garantir a sua sobrevivência, bem-estar e dignidade como grupo humano.[1: 2 Grupo das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Diretrizes sobre as questões relativas aos povos indígenas,fevereiro de 2008. Disponível em: http://www2.ohchr.org/english/issues/indigenous/docs/UNDG-Directrices_pue- blos_indigenas.pdf]
Convenção nº 169 da OIT sobre os Povos Indígenas e Tribais em Países
Independentes
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é um órgão especializado da Organização das Nações Unidas (ONU). A OIT foi a primeira organização internacional a se interessar pela situação dos povos indígenas para melhorar suas condições de trabalho e de vida, já que, naquela época 
trabalho forçado afetava particularmente os povos indígenas. Em 1957, a OIT adotou a Convenção nº 107 sobre populações indígenas e tribais em países independentes. Essa Convenção foi o primeiro
instrumento internacional que consagrou os direitos dos povos indígenas e as correspondentes obrigações para os Estados que a ratificaram (A ratificação é um ato por meio do qual o Estado faz constar em âmbito internacional o seu consentimento em obrigar-se por um acordo).
No entanto, fez se necessário rever alguns pontos da Convenção nº 107/ 1957, uma vez que se trabalha sob o entendimento de que se deveria integrar os povos indígenas aos nacionais, mesmo contra a vontade dos povos ameríndios. A Convenção nº 169/2004 traz o direito do indígena individualmente ou de forma coletiva interagir com os não indígenas, resguardados os seus direitos originários. 
Passamos a destacar alguns dos princípios da referida Convenção para melhor desenvolvimento de nossos estudos, no entanto o acadêmico precisa ler esse instrumento na íntegra para melhor compreensão:
A Convenção nº 169 estabelece os seguintes direitos e princípios básicos:
■■ princípio da não-discriminação (artigos 3, 4, 20 e 24);
■■ direito dos povos indígenas à propriedade e à posse sobre as terras que tradicionalmente ocupam (arts. 14 e 18); 
■■ direito ao respeito a sua integridade, suas culturas e instituições (arts. 2, 5 e 7);
■■ direito a determinar sua própria forma de desenvolvimento (art. 7);
■■ direito a participar diretamente na tomada de decisão sobre políticas e programas que os interessem ou os afetem (arts. 6, 7 e 15);
■■ direito a serem consultados sobre as medidas legislativas ou administrativas que lhes possam afetar (arts. 6, 15, 17, 22 e 28).
Qual o poder vinculante da Convenção nº 169?
As disposições da Convenção nº 169 são de cumprimento obrigatório para os países que a ratificaram.
Consequentemente, os Estados devem adaptar a legislação nacional para desenvolver a Convenção dentro de seus países. Isto implica em revogar todas as regras que são contrárias à Convenção e adotar as que forem necessárias para implementá-la.
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas
Foram muitas as negociações até a formulação da DU (Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas) que perduraram por 20 (vinte) anos, e somente aos 13 de setembro de 2007, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, com o voto de 143 Estados. 
Conforme Galvis e Ramires a Declaração é um passo histórico para o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, na medida em que prevê, em âmbito universal, as normas mínimas para garantir a sobrevivência, a dignidade, o bem-estar e o respeito aos direitos dos povos indígenas. Sendo que a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas dispõe que:
“Afirmando que os povos indígenas são iguais a todos os demais povos e reconhecendo ao mesmo tempo o direito de todos os povos a serem diferentes, a considerarem a si
mesmos diferentes e a serem respeitados como tais.”
A resistência de povos não indígenas para reconhecer o direito do Outro, apesar das orientações da DU tem sido um obstáculo para a promoção da paz e garantia de direitos que oportunizam a vida com dignidade nas comunidades indígenas.
O que reconhece e o que contém a Declaração?
A Declaração afirma que os povos indígenas e seus membros têm o direito de desfrutar plenamente de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados na Carta das Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e demais normas internacionais de direitos humanos.
A seguir alguns desses postulados humanitários para leitura e melhor compreensão da DU, no entanto recomendamos a leitura na íntegra da DU para uma visão ampla dessas recomendações, orientações, principalmente, aos países que tenham populações indígenas.
A Declaração é composta por 46 artigos que abrangem tanto direitos individuais, como coletivos:
■■ consagra os direitos das pessoas indígenas à vida, à integridade física e mental, à liberdade e à segurança pessoal (art. 7);
■■ consagra os direitos coletivos a viver em liberdade, paz e segurança com povos distintos, sem serem submetidos ao genocídio ou a outros atos de violência (art. 7);
■■ assinala que os indivíduos e os povos indígenas têm direito a desfrutar de todos os direitos estabelecidos no direito trabalhista internacional e nacional (art. 17);
■■ protege os direitos das pessoas indígenas tanto à educação do Estado, quanto àquela em sua própria língua e de acordo com a sua cultura (art. 14);
■■ protege o direito dos povos indígenas a usar seus medicamentos tradicionais e a manter suas práticas de saúde, bem como o direito de acesso a todos os serviços sociais e de saúde do Estado (artigo 24.).
Qual é a força vinculante da Declaração?
Para Galvis e Ramires a Declaração expressa o consenso atualizado da comunidade internacional (143 Estados) sobre as normas sociais mínimas de proteção internacional dos povos indígenas. Nesse sentido, orienta todos os Estados-membros da ONU a:
■■ atuar de boa fé para alcançar sua efetiva implementação no âmbito nacional;
■■ adotar novas leis ou modificar as existentes, de acordo com as orientações definidas na Declaração;
■■ transformar as práticas que sejam contrárias ao que dispõe a Declaração;
■■ implementar políticas públicas e programas sociais para o efetivo desfrute dos direitos humanos individuais e coletivos dos povos indígenas.
Qual é a importância da Declaração?
É importante levar em consideração que a grande virtude da Declaração não está em criar novos direitos, mas sim em consagrar e reunir em um instrumentoespecífico da Organização das Nações Unidas, sob a perspectiva dos povos e pessoas indígenas, um conjunto de direitos anteriormente reconhecidos em outros instrumentos que são juridicamente obrigatórios para os Estados, tais como o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, assim como outras convenções e regras de direito consuetudinário.[2: O direito consuetudinário refere-se a normas legais decorrentes de costume ou prática estabelecida de certas regrasde comportamento dentro de um grupo social ou um Estado.]
Direito à não-discriminação e à igualdade perante a lei
No entendimento de Galvis e Ramires tanto a Convenção nº 169 da OIT, quanto a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas indicam que os indígenas têm direito a exercer e desfrutar plenamente todos os direitos “direitos gerais da cidadania”, sem nenhum tipo de obstáculos ou discriminação, em especial, que derive de sua origem étnica. Esse direito é aplicável por igual a homens e mulheres (Convenção nº169 da OIT, art. 3; DU, preâmbulo e art. 2). Em particular, os indígenas têm direito ao acesso, sem discriminação alguma, à educação e à saúde (DU, art. 14 e 24). Também têm direito ao melhoramento de suas condições econômicas e sociais, em esferas tais como educação, habitação, saneamento, saúde, seguridade social, emprego e capacitação (DU, art. 21). Os Estados têm o dever de estender progressivamente os regimes da seguridade social aos povos indígenas e aplicá-los sem discriminação (Convenção nº 169, art. 24).
Os Estados devem adotar medidas especiais para combater o preconceito e eliminar a discriminação às pessoas e povos indígenas (DU, art. 15), assim como para garantir aos membros de todos os povos indígenas o mesmo nível de vida e oportunidades dos demais membros da sociedade. Essas 
medidas devem refletir as aspirações dos povos indígenas a proteger, manter e desenvolver suas culturas e identidades, costumes, tradições e instituições.
Da Discriminação contra indivíduos e coletivo de pessoas indígenas:
A professora doutora Mirian Lange Noal do centro de pesquisas sobre povos indígenas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Campo Grande) em sua tese de doutorado assim se manifesta:
Muitas vezes, no entanto, as sociedades indígenas não conseguem mais valorizar e reconhecer modos de vida importantes e peculiares às suas etnias e grupos. Tanto foram perseguidos/as e discriminados/as que uma parte acaba aceitando o fetiche da cidade e tudo que ela promete, mas que, de fato, não se viabiliza concretamente. Por outro lado – principalmente nas duas últimas décadas – há um nítido movimento de valorização dos conhecimentos que possuem e que conseguiram manter durante séculos. Essa valorização acontece internamente, entre os povos indígenas, como externamente, através de organizações governamentais e não governamentais (NOAL, 2006, p. 44).
O primeiro Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos e Liberdades Fundamentais dos Indígenas, Rodolfo Stavenhagen, assinalou que existem vários tipos de discriminação racial e étnica: 1) legal, 2) interpessoal, 3) institucional e 4) estrutural.
A discriminação legal: refere-se à discriminação nas normas, seja porque as regras consagram disposições discriminatórias, seja porque não consagram disposições que favoreçam o desfrute dos direitos humanos pelos povos indígenas. 
A discriminação interpessoal: se baseia nas atitudes de rejeição e exclusão em relação aos indígenas por parte da população não-indígena e também nas conversas e imagens difundidas pelos meios de comunicação sobre os indígenas. 
A discriminação institucional se manifesta na situação desfavorável dos indígenas na distribuição do gasto público e dos bens coletivos. A baixa participação dos indígenas na administração pública e nos órgãos políticos é um exemplo desse tipo de discriminação. 
A discriminação histórica é a base das anteriores e concretiza-se nos mecanismos de exclusão dos povos indígenas usados historicamente para privá-los dos recursos econômicos, políticos e institucionais necessários para viver em condições de equidade com o resto da população.[3: Nações Unidas, informe do Relator Especial sobre a situação dos direitos humanos e das liberdades fundamentaisdos indígenas, Sr. Rodolfo Stavenhagen. Doc. E/CN.4/2003/90/Add.2, 10 de fevereiro de 2003, parágrafos 16 a20.]
Há, na nossa legislação, instrumentos legais muito bem elaborados no intuito de prevenir e combater práticas de discriminação, por exemplo, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, promulgada no Brasil por força do Decreto nº 65.810, de 18 de dezembro de 1969:
Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial” significará qualquer distinção, exclusão restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano, (em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública (BRASIL, 1969).
	Na prática esses instrumentos legais não tem surtido a sua eficácia plena e em pleno Século XXI presenciamos grande índice de suicídio entre povos ameríndios com grande concentração dessas mortes em Mato Grosso do Sul local com reiterados conflitos por perda das terras indígenas para fazendeiros da região. A terra, como já mencionamos anteriormente, para as comunidades indígenas é o direito à continuidade da vida. 
A relação que estabelecem com a terra não é a mesma relação observada pela cultura de origem europeia, é um vinculo que vai muito além da posse, da propriedade, da função social da terra. A terra para o indígena é uma extensão dele próprio, para algumas etnias é onde mora os espíritos de seus antepassados e cuidam da aldeia, e o local da caça, da pesca, da coleta de alimentos na nossa região colhem castanhas do Brasil, coquinho de tucumã e outras diversidades de amêndoas, colhem mel, frutinhas, ervas medicinais, ervas para embelezamento e pinturas corporais. Coletam material para os adornos corporais e utensílios domésticos. Fazem suas roças tradicionais e na nossa região é comum o plantio de várias espécies de cará, de batatas doce, milho, mandioca dentre outros alimentos tradicionais, há comunidades que estão plantando café, banana e outras lavouras da cultura não indígena, e criação de aves, bovinos e coletam o látex para venda. O excedente ao consumo é vendido para suprir as necessidades que vieram após o contato com os não indígenas, dentre elas assistência à saúde, vestuário, energia elétrica (em algumas comunidades) locomoção, alimentos dentre outras necessidades.
Ao ser privado do direito originário à terra, a impotência perante o poder da cultura envolvente permeada pela discriminação, pelo racismo, muitos indígenas perdem a sua referência e muitas vezes entram em depressão e tiram a própria vida por ausências de políticas públicas que dê eficácia aos direitos desses povos que se encontram garantidos na nossa Carta Magna e principalmente pelo vazio que se estabelece nas sociedades contemporâneas em ver o Outro, o diferente, com desprezo, inferiorizado. Muito mais que políticas públicas, é visível a ausência de solidariedade em nossos tempos. Há um notório avanço para o Ter e o Ser passa a “Valer” cada vez menos. Vejamos:
No Brasil o artigo 231, parágrafos e incisos da Constituição Federal de 1988, dispõe que:
CAPÍTULO VIII
DOS ÍNDIOS
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas,as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. 
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
	A cultura indígena está intrinsecamente relacionada ao território em que habitam e a limitação da área de subsistência desses povos ameríndios tem trazido irreparáveis prejuízos às garantias individuais e coletivas sugeridas e protegidas nesses instrumentos legais internacionais e nacionais.
		Como podem perceber apesar da nossa Constituição Federal ter sido promulgada aos 05/10/1988 traz as linhas norteadoras do Direito Internacional, no entanto tramita no 
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.
	O próprio Artigo 232 da nossa Carta Magna está em consonância ao que se espera à Autodeterminação dos povos indígenas, esse dispositivo afasta a ideia de Tutela da pessoa física ou da comunidade indígenas, afastando de vez com o preconceito de que indígenas seriam semi-imputáveis. A Constituição reconhece aos indígenas a legitimidade para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, sendo assim e caso seja necessário poderão ingressar até contra a própria Fundação Nacional do Índio (FUNAÌ).[4: A Fundação Nacional do Índio – FUNAI é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro. Criada por meio da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, vinculada ao Ministério da Justiça, é a coordenadora e principal executora da política indigenista do Governo Federal. Sua missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil.]
Direito à identidade e à integridade cultural
O direito à identidade e à integridade cultural se baseia no direito dos povos indígenas a determinar e proteger o sistema cultural e de valores sob o qual querem viver e não sofrer assimilação forçada ou destruição de sua cultura (DU, art. 8). Desta forma, o direito à identidade cultural implica na real possibilidade de manterem-se e perpetuarem-se como povos distintos (DU, art. 8). O direito à identidade e à integridade cultural supõe a proteção de seus costumes e tradições, suas instituições e leis consuetudinárias, seus modos de uso da terra, suas formas de organização social e sua identidade social e cultural (Convenção nº 169, art. 2).
Sobre o direito à identidade cultural, o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial, em sua Recomendação Geral nº 23, relativa aos direitos dos povos indígenas, insistiu aos Estados que “reconheçam e respeitem a cultura, a história, o idioma e o modo de vida dos povos indígenas” e a que “garantam que as comunidades indígenas possam exercer seu direito a praticar e reavivar suas tradições e costumes culturais, e preservar e praticar seu idioma”.
—(CEDT, Recomendação Geral nº 23 relativa aos direitos dos povos indígenas, 4.a e 4.e).
Direito à Livre Determinação
Tanto a Carta das Nações Unidas quanto os pactos de direitos civis e políticos e de direitos econômicos, sociais e culturais assim como a Declaração e Programa de Ação de Viena, estabeleceram o direito de todos os povos à auto determinação. Uma de suas manifestações é o direito dos povos indígenas a determinar livremente sua condição política e a buscar livremente seu desenvolvimento
econômico, social e cultural (DU, art. 3). No exercício de sua livre determinação, têm direito à autonomia ou ao autogoverno (DU, art. 4). O direito à autodeterminação permite aos povos indígenas perseguirem seu bem-estar e futuro de acordo com suas próprias práticas, modos de vida e costumes. Tal direito é muito importante pois garante a sobrevivência dos povos indígenas como povos distintos. 
Para assegurar que indígenas ao menos o seguinte:
e o desfrute deste direito seja efetivo, os Estados devem garantir aos povos
■■ Autonomia ou autogoverno nos assuntos internos e locais;
■■ Disposição de recursos para financiar suas funções autônomas;
■■ Reconhecimento formal das instituições tradicionais e de sistemas próprios de justiça;
■■ Reconhecimento do direito a determinar e a elaborar as prioridades e estratégias para o desenvolvimento de suas terras ou territórios, assim como dos recursos naturais que ali se encontram;
■■ Que serão consultados antes de decisões que possam afetá-los;
■■ Que se obterá seu consentimento antes da execução de projetos ou planos de investimento e que possam causar um impacto maior em seu povo;
■■Participação ativa na determinação dos programas de saúde, habitação e demais programas econômicos e sociais que os afetem;
■■ Participação plena e efetiva na vida pública.
Direito à propriedade da terra, do território e dos recursos naturais
Tanto a Convenção 169 da OIT, como a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas protegem o direito à propriedade das terras indígenas. A Convenção nº 169 estabelece dever dos Estados de reconhecer o direito à propriedade e à posse de terras que são tradicionalmente
o ocupadas e garantir sua efetiva proteção (art. 14). Por sua parte, a Declaração mostra que os povos indígenas têm direito às terras, territórios e recursos naturais que tradicionalmente tenham possuído, ocupado, utilizado ou adquirido e direito a possuir, utilizar, desenvolver e controlar as terras, territórios e recursos que possuem, ocupam ou utilizam de maneira tradicional, assim como aqueles que tenham adquirido de outra forma (DU, art. 26).
A Corte Interamericana de Direitos Humanos observou que quando os Estados impõem limitações
ou restrições ao exercício do direito dos povos indígenas à propriedade de suas terras, territórios e
recursos naturais, tais como as decorrentes de concessões para a realização de projetos de exploração
de recursos naturais, estes devem assegurar que:
■■ as situações em que se pode restringir ou limitar o uso e desfrute das terras, territórios e
recursos naturais estejam previamente consagradas em lei;
■■ a restrição ou limitação ao exercício do direito à propriedade da terra, território e recursos
naturais tenha por finalidade atingir um objetivo legítimo;
■■ a restrição ou limitação seja necessária para alcançar dito objetivo;
■■ a restrição imposta sobre o exercício do direito à propriedade comunitária seja proporcional
à realização do objetivo proposto;
■■ a limitação do exercício do direito não implique a negação da sobrevivência como povo.[5: Corte IDH, Caso do Povo Saramaka vs. Suriname, sentença de 28 de novembro de2007, Serie C No 172, parág.128.]
Para garantir que a limitação ou restrição do exercício do direito ao uso e desfrute da terra e do
território não implique na negação da sobrevivência como povo, os Estados devem:
■■ assegurar a participação efetiva dos povos, segundo seus usos e costumes, na decisão de
dar determinado uso para a terra, territórios e recursos dos povos, tais como a realização de
planos de desenvolvimento, investimento, exploração ou extração em seu território;
■■ garantir que os povos se beneficiem razoavelmente do plano ou projeto a ser executado
em seus territórios;
■■ garantir que nenhuma concessão será permitida no seu território antes que entidades independentes
e tecnicamente capazes realizem um estudo prévio de impacto social e ambiental[6: 7 Corte IDH, Caso do Povo Saramaka vs. Suriname, sentença de 28 de novembro de 2007, Serie C No 172, parágs.128, 129 e 130.]
Da demarcação das Terras Indígenas
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
Art. 67. A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição.
Observa-se que apesar do tempo transcorrido já se foram 24 (vinte e quatro) anos de 1993 a 2017 e muitos povos indígenas estão em movimentos para ver esse direito ser efetivado.
O que são Terras Indígenas?
A FUNAÍ esclarece que:
Terra Indígena (TI) é uma porção do território nacional, de propriedade da União, habitada por um ou mais povos indígenas, por ele(s) utilizada para suas atividades produtivas, imprescindível à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e necessária à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. Trata-se de um tipo específico de posse, de natureza originária e coletiva, que não se confunde com o conceito civilista de propriedade privada.
 O direito dos povos indígenas às suas terras de ocupação tradicional configura-se como um direito originário e, consequentemente, o procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas se reveste de natureza meramente declaratória. Portanto, a terra indígena não é criada por ato constitutivo, e sim reconhecida a partir de requisitos técnicos e legais, nos termos da Constituição Federal de 1988.
 Ademais, por se tratar de um bem da União, a terra indígena é inalienável e indisponível, e os direitos sobre ela são imprescritíveis. As terras indígenas são o suporte do modo de vida diferenciado e insubstituível dos cerca de 300 povos indígenas que habitam, hoje, o Brasil.
Terras Indígenas. Quantas são e onde se localizam?
 Atualmente existem 462 terras indígenas regularizada que representam cerca de 12,2% do território nacional, localizadas em todos os biomas, com concentração na Amazônia Legal. Tal concentração é resultado do processo de reconhecimento dessas terras indígenas, iniciadas pela FUNAI, principalmente, durante a década de 1980, no âmbito da política de integração nacional e consolidação da fronteira econômica do Norte e Noroeste do Pais.
 Sublinhe-se que aproximadamente 8% das 426 terras indígenas tradicionalmente ocupadas já regularizadas, inclusive algumas com presença de índios isolados e de recente contato, não se encontram na posse plena das comunidades indígenas, o que também impõe desafios a diversos órgãos do Governo Federal para a efetivação dos direitos territoriais indígenas, para que se proteja devidamente esse singular patrimônio do Brasil e da humanidade.
 A demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas se constitui com uma das principais obrigações impostas ao estado brasileiro pela Constituição Federal de 1988. No entanto, existem outros formatos de regularização fundiária de terras indígenas, além das tradicionalmente ocupadas, como as reservas indígenas e as terras dominiais. Existe também a figura da interdição de área para proteção de povos indígenas isolados.
Entenda o processo de demarcação das TIs 
Como é realizada a demarcação das terras indígenas?
 O processo de demarcação, regulamentado pelo Decreto nº 1775/96, é o meio administrativo para identificar e sinalizar os limites do território tradicionalmente ocupado pelos povos indígenas. Nos termos do mesmo Decreto, a regularização fundiária de terras indígenas tradicionalmente ocupadas compreende as seguintes etapas, de competência do Poder Executivo:
i) Estudos de identificação e delimitação, a cargo da Funai;
ii) Contraditório administrativo;
iii) Declaração dos limites, a cargo do Ministro da Justiça;
iv) Demarcação física, a cargo da Funai;
v) Levantamento fundiário de avaliação de benfeitorias implementadas pelos ocupantes não-índios, a cargo da Funai, realizado em conjunto com o cadastro dos ocupantes não-índios, a cargo do Incra;
vi) Homologação da demarcação, a cargo da Presidência da República;
vii) Retirada de ocupantes não-índios, com pagamento de benfeitorias consideradas de boa-fé, a cargo da Funai, e reassentamento dos ocupantes não-índios que atendem ao perfil da reforma, a cargo do Incra;
viii) Registro das terras indígenas na Secretaria de Patrimônio da União, a cargo da Funai; e
ix) Interdição de áreas para a proteção de povos indígenas isolados, a cargo da Funai.
 Em casos extraordinários, como de conflito interno irreversível, impactos de grandes empreendimentos ou impossibilidade técnica de reconhecimento de terra de ocupação tradicional, a Funai promove o reconhecimento do direito territorial das comunidades indígenas na modalidade de Reserva Indígena, conforme o disposto no Art. 26 da Lei 6001/73, em pareceria com os órgãos agrários dos estados e Governo Federal. Nesta modalidade, a União pode promover a compra direta, a desapropriação ou recebe em doação o(s) imóvel(is) que serão destinados para a constituição da Reserva Indígena.
 Especificamente nos casos de povos isolados, a Funai se utiliza do dispositivo legal de restrição de uso para proteger a área ocupada pelos indígenas contra terceiros, amparando-se no artigo 7.º do Decreto 1775/96, no artigo 231 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e no artigo 1.º, inciso VII da Lei nº 5371/67, ao mesmo tempo em que se procedem os estudos de identificação e delimitação da área, visando a integridade física desses povos em situação de isolamento voluntário.
 Em suas ações, o órgão indigenista prima pela publicidade e legalidade do procedimento e zela para não gerar ou intensificar conflitos fundiários locais, contribuindo ainda com o ordenamento territorial em escala local e regional, por meio de sistematização de informações de natureza fundiária a serem disponibilizadas para os órgãos fundiários e ambientais afetos.
  
DO DIREITO À CONSULTA PRÉVIA
Consentimento
prévio, livre e informado.
 As normas internacionais são claras ao estabelecer diretrizes sobre como devem ser realizados os processos de consulta aos povos indígenas. Assim, determinam que as consultas devem ser prévias (antes de aprovar a lei, a medida administrativa, plano de desenvolvimento ou projeto de exploração ou aproveitamento), livres (sem pressão ou ressalvas) e informadas (sobre as consequências do projeto, plano, lei ou medida); deve ser feita através de procedimentos culturalmente adequados, ou seja, de acordo com suas próprias tradições e através de suas instituições representativas. Além disso, a consulta deve ser de boa-fé e realizada de forma a obter o consentimento livre, prévio e informado das comunidades indígenas.
 A Corte Interamericana de Direitos Humanos também se pronunciou sobre o dever dos Estados de consultar, determinando que para garantir a participação efetiva dos membros do povo nos planos de desenvolvimento ou de investimento no seu território, o Estado tem o dever de consultar ativamente a comunidade, de acordo com seus costumes e tradições.
Direito ao consentimentoPadrões internacionais vigentes sobre os direitos dos povos indígenas permitem identificar as circunstâncias em que a obtenção do consentimento prévio, livre e informado dos povos indígenas é obrigatória, de modo a constituir um verdadeiro direito dos povos indígenas25:
■■ quando se tratar da transferência das terras que ocupam e da realocação (Convenção 169, art. 16.2 e DU, art. 10);
■■ no caso de depósito ou armazenamento de materiais perigosos em terras ou territórios indígenas (DU, art. 29);
■■ quando se tratar de execução de planos de desenvolvimento ou de investimento em grande escala, que gerem um impacto maior no território de um povo indígena (Caso Saramaka, parág. 135).
Direito a seus próprios sistemas de justiça
Os povos indígenas têm o direito de promover, desenvolver e manter suas estruturas tradicionais, incluindo os seus próprios sistemas de justiça. Esses sistemas devem ser reconhecidos pelo Estado, desde que sejam coerentes com as normas internacionais de direitos humanos. O direito à vida, a proibição absoluta da tortura e o devido processo não podem ser ignorados pelos sistemas de justiça próprios dos povos indígenas (Convenção nº 169, arts. 8.2 e 9.1).
Direito à reparação
O direito internacional estabelece que todas as pessoas têm direito a receber uma reparação efetiva quando seus direitos forem violados como consequência do não cumprimento das obrigações internacionais dos Estados. O direito à reparação consiste no ressarcimento dos danos e prejuízos causados pela violação de direitos. A reparação do prejuízo pode assumir distintas formas, quais sejam: restituição, indenização ou satisfação. Os povos indígenas têm direito a receber uma reparação justa, imparcial e equitativa, sempre 
que:
■■ tenham sido privados, sem seu consentimento livre, prévio e informado ou em violação de suas leis, tradições e costumes, dos bens culturais, intelectuais, religiosos e espirituais (DU, art. 11.2); ■■ tenham sido privados de seus meios de subsistência e desenvolvimento (DU, art. 20.2); ■■ tenham sido confiscados, tomados, ocupados, utilizados ou prejudicados, sem seu consentimento livre, prévio e informado, territórios e recursos que tenham possuído, ocupado ou utilizado tradicionalmente ou de outra forma (DU, art. 28.1);
■■ sejam realizados projetos que afetem suas terras ou territórios (DU, art. 32.3).
Obs.: O Brasil recepcionou na íntegra a Convenção 169 OIT, pelo Decreto nº 5.051/2004.
Direito originário 
Em que consiste o direito originário dos povos indígenas às terras que ocupam?
 Informado pela FUNAÍ. Ainda no século XVII, a Coroa Portuguesa havia editado diplomas legais que visavam coadunar o processo de colonização com o resguardo de direitos territoriais dos povos indígenas, a exemplo do Alvará Régio de 1680, primeiro reconhecimento, pelo ordenamento jurídico do Estado português, da autonomia desses povos, seguido da Lei de 06 de junho de 1755, editada pelo Marquês de Pombal. Juntos, esses diplomas reconheceram o caráter originário e imprescritível dos direitos dos indígenas sobre suas terras, compondo o que o Direito Brasileiro dos séculos XIX e XX chamou de instituto do indigenato, base dos direitos territoriais indígenas posteriormente consagrados no art. 231 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB). O Alvará Régio de 1º de abril de 1680 assim consignava:
[...] E para que os ditos Gentios, que assim decerem, e os mais, que há de presente, melhor se conservem nas Aldeias: hey por bem que senhores de suas fazendas, como o são no Sertão, sem lhe poderem ser tomadas, nem sobre ellas se lhe fazer moléstia. E o Governador com parecer dos ditos Religiosos assinará aos que descerem do Sertão, lugares convenientes para neles lavrarem, e cultivarem, e não poderão ser mudados dos ditos lugares contra sua vontade, nem serão obrigados a pagar foro, ou tributo algum das ditas terras, que ainda estejão dados em Sesmarias e pessoas particulares, porque na concessão destas se reserva sempre o prejuízo de terceiro, e muito mais se entende, e quero que se entenda ser reservado o prejuízo, e direito os Índios, primários e naturais senhores delas.
 Tal direito – congênito e originário – dos indígenas sobre suas terras, independente de titulação ou reconhecimento formal, consagrado ainda no início do processo de colonização, foi mantido no sistema legal brasileiro, por meio da Lei de Terras de 1850 (Lei 601 de 1850), do Decreto 1318, de 30 de janeiro de 1854 (que regulamentou a Lei de Terras), da Lei nº 6.001/73, das Constituições de 1934, 1937 e 1946 e da Emenda de 1969.
 Todavia, até os anos 1970, a demarcação das terras indígenas, amparada na Lei 6001/73 (Estatuto do Índio) pautava-se pelo modelo da sociedade dominante, qual seja, a moradia fixa associada exclusivamente ao trabalho agrícola, desconsiderando que a subsistência de vários povos baseia-se na caça, na pesca e na coleta, atividades que exigem extensões mais amplas que o contorno imediato das aldeias. Desse modo, a perspectiva etnocêntrica e assimilacionista vigorou na tradição do direito até 1988 quando, devido à luta do movimento indígena e de amplos setores da sociedade civil, em meio ao processo de redemocratização do país, foi sancionado na nova Constituição o princípio da diversidade cultural como valor a ser respeitado e promovido, superando-se definitivamente o paradigma da assimilação e a figura da tutela dos povos indígenas.
 Nos anos 1990, a garantia do direito originário dos povos indígenas às suas terras passou a se alicerçar sobre o estudo minucioso da territorialidade dos diferentes povos indígenas, considerando-se não apenas seus usos passados e presentes, mas também a perspectiva de uso futuro, tudo isso "segundo seus usos, costumes e tradições", conforme o artigo 231 do texto constitucional.
Bases legais 
 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e o Decreto 5051/04, que ratifica a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho no Brasil, garantem aos povos indígenas a posse exclusiva de seus territórios e o respeito às suas organizações sociais, costumes, línguas, crenças e tradições, consolidando o Estado Democrático e Pluriétnico de Direito.
 O texto constitucional trata de forma destacada este tema, apresentando, no parágrafo 1º do artigo 231, o conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, definidas como sendo aquelas "por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições". Estas, segundo o inciso XI do artigo 20 da CRFB, constituem bens da União e, segundo o §4º do art. 231, são "inalienáveis e indisponíveis e os direitos sobre elas, imprescritíveis". Nessa esteira, define-se o respeito à diversidade cultural e à peculiar relação dos povos indígenas com suas terras, o que não se confunde com o conceito civilista de propriedade, por se tratar de direito coletivo, base para a garantia de existência desses povos com modos de vida diferenciados.
 Outrossim, embora os povos indígenas detenham a posse permanente e o "usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos" existentes em suas terras, conforme o parágrafo 2º do Art. 231 da Constituição, elas constituem patrimônio da União, ou seja, são bens públicos de uso especial. Por esse motivo, além de inalienáveis e indisponíveis, essas terras não podem ser objeto de utilização de qualquer espécie por outros que não os próprios índios.
 Neste sentido, compete à União demarcar as terras indígenas, protegê-las e fazer respeitar todos os seus bens, conforme determinação constitucional. Cabe à Funai, órgão federal coordenador e executor da política indigenista brasileira, garantir aos povos indígenas a posse plena e a gestão de suas terras, por meio de ações de regularização,monitoramento e fiscalização das terras indígenas, bem como proteger os povos indígenas isolados e de recente contato. Para tanto, a instituição conduz os estudos necessários à identificação e delimitação de terras indígenas, com base no artigo 231 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Lei 6.001/73, Decreto 1.775/96, Portaria MJ 14/96 e Portaria MJ 2498/2011, além de articular junto aos órgãos ambientais e de segurança pública a proteção das terras indígenas.
 De acordo com o Decreto nº 1.775/96, é responsabilidade da Funai realizar os estudos multidisciplinares – de natureza etno-histórica, ambiental, cartográfica e fundiária – necessários à identificação dos limites das terras indígenas, assegurando a participação do poder público e o direito ao contraditório dos interessados, nos termos das normativas vigentes; demarcar fisicamente as terras indígenas, por meio da materialização dos limites declarados pelo Ministro da Justiça, com a abertura de picadas e colocação de marcos e placas indicativas; pagar as indenizações consignadas no §6º do Art. 231 aos ocupantes considerados de boa-fé das terras indígenas; providenciar o registro da terra indígena na Secretaria de Patrimônio da União e no Cartório de Registro de Imóveis da comarca onde ela se localiza, após expedição de Decreto da Presidência da República.
CONSIDERAÇÕES SOBRE POVO INDÍGENA PAITER SURUÍ, TERRA INDÍGENA SETE DE SETEMBRO, RONDÔNIA, MUNICÍPIO DE CACOAL. O artigo científico encontra-se na íntegra publicado na Revista Científica da Universidade Federal de Mato Grosso. Autoria Dr. Alceu Zoia e Ma. Matilde Mendes, site nas referências.
Protagonismo PaiterSuruí: práticas político-pedagógicas e suas relações com os etnoconhecimentos.
Alguns aspectos histórico-sócio-culturais dos nossos protagonistas Esses protagonistas se autodenominam Paiter, que pode significar ser humano, humanidade, conforme apontam Pappiani e Lacerda (2016). E, também, gente de verdade, para Suruí (2011). Essas denominações já eram utilizadas por esse povo antes do contato com os não indígenas. São falantes da língua materna Paiter Suruí, do tronco Tupi e família linguística Mondé. A população é de, aproximadamente, 1.450 pessoas; por sua vez, seu território faz fronteiras com sudeste de Rondônia e noroeste de Mato Grosso na Terra Indígena PaitereyKarah (Sete de Setembro), em uma área de 247.869 ha. 
Para Cardozo (2014), a governança política e social desse povo é clânica e organiza-se em metades compostas por grupos exogâmicos patrilineares: cada clã, além do nome específico, tem um nome relacionado à natureza, seguindo uma ordem de criação: G̃apg̃ir (marimbondo amarelo); G̃amep (marimbondo preto); Makor (Taquara); Kaban (mirindiba: frutinha vermelha). O contato oficial com esse povo ocorreu muito recentemente, no ano de 1969, permeado por lutas e massacres entre ameríndios e não indígenas nas disputas pelo etnoterritório e acometido por doenças: sarampo, gripe e pneumonia, trazidas pelos yaraey, os brancos, que avançavam pelos territórios de subsistências das populações indígenas, incentivados pelo governo federal e local nas frentes de colonização nas décadas de70 a 80 do Século XX. Esse povo quase foi totalmente dizimado: de 5.000 pessoas restavam, naquela época, em torno de 250 pessoas (SURUÍ et al., 2014).
 Para Freire (1992, p. 16, grifos do autor): A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como ‘seres para si’, não teria significação. Esta somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é, porém, destino dado, mas resultado de uma ‘ordem’ injusta que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos. Conforme o narrador G̃aami Anine Suruí sobre o tempo presente: “Os antigos já diziam que um dia haveria muita destruição, que os brancos iam acabar com todo o povo Suruí para se apoderarem da terra” (PAPPIANI; LACERDA, 2016, p. 148).
 Ainda nesse sentido, “A presença indígena é a continuidade do passado americano no presente, mesmo que essa presença seja constantemente exorcizada de nossa história oficial, para não deixar ver a verdadeira face da América” (BERGAMASCHI, 2005, p. 103).
 O conflito e o contato são marcas profundas na Nação Paiter Suruí. A dor é muito presente e falar do passado faz os olhos encherem de lágrimas. Pudemos perceber isso, as feridas ainda estão expostas e, no momento, há um silêncio, pelo medo do que ainda pode estar por vir. Apesar de a terra estar demarcada, a vida pós-contato não tem sido fácil, as alterações no modo de subsistência têm provocado necessidades que não existiam antes e, para isso, precisam de dinheiro. A vida de hoje para G̃asalab Suruí é assim: 
Já hoje, para os que acham que, por termos direitos garantidos, temos vida fácil, posso dizer o seguinte: é muito mais difícil hoje! Vivemos com doenças desconhecidas para as quais não temos cura, temos que pagar por tudo o que comemos, temos que pagar para buscar a cura de doenças. Somos limitados, impedidos de viver livres, cercados por yaraey. É doloroso saber que tudo acabou, ver nosso fim. Conhecemos a pobreza, a necessidade, já não somos felizes. É assim. (PAPPIANI; LACERDA, 2016, p. 100).
 	O povo encontra-se num território reduzido para retirar a subsistência para toda população, como acontecia na forma anterior ao contato. O assédio provocado por garimpeiros, madeireiros e pastagens nas Terras Indígenas tem se intensificado, o que tem provocado nos mais velhos uma desilusão com o tempo presente e pouca perspectiva futura. Por outro enfoque, percebemos durante diálogos e seminário sobre sustentabilidade com mais jovens dessa etnia uma busca por ver reconhecida sua afirmação identitária. Eles buscam nos estudos uma forma de compreender os conhecimentos da cultura não indígena e fazer uso desses instrumentos na defesa de suas garantias constitucionais e humanitárias.

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