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1 
 
OS LIMITES DA TEORIA FINALISTA DA AÇÃO: OS 
CRIMES CULPOSOS 
 
 
ROGER MOKO YABIKU1 
FERNANDO DE MOURA2 
DIOGENIS BERTOLINO BROTAS3 
 
 
 
 
Resumo 
Trata-se de um estudo sobre o problema da teoria finalista da ação, Hans Welzel, na 
explicação dos delitos culposos. Os comentários de José Cerezo Mir sobre a crítica 
de Rodríguez Muñoz à concepção de culpa de Welzel e sua tentativa de explicar o 
crime culposo. Rodríguez Muñoz realiza um levantamento histórico do conceito de 
culpa de Welzel, até concluir que a teoria finalista da ação é suficiente para explicar, 
com sucesso, os crimes dolosos, mas não os culposos. 
 
Palavras-chave: Teoria finalista. Welzel, Crimes culposos. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho é uma análise do texto El concepto de la acción 
finalista como fundamento del sistema del Derecho Penal – una revisión de la 
crítica de Rodríguez Muñoz de la concepción de la culpa de Welzel, do livro 
Problemas fundamentales del Derecho Penal, de José Cerezo Mir. O texto 
analisado trata da polêmica entre o espanhol Rodríguez Muñoz e o alemão Hans 
Welzel sobre a tentativa da teoria finalista em explicar o crime culposo. Cerezo Mir 
faz breves comentários sobre a concepção de crime culposo por Welzel, tal como 
suas reformulações, e a pertinência as críticas de Rodríguez Muñoz, no sentido de 
 
1
 Advogado, jornalista e professor universitário. Bacharel em Direito e Jornalismo, Graduado pelo Programa 
Especial de Formação Pedagógica de Professores de Filosofia, Pós-Graduado (MBA) em Comércio Exterior, 
Pós-Graduado em Direito Penal e Direito Processual Penal, Mestre em Filosofia (Ética). E-mail: 
ryabiku@adv.oabsp.org.br . 
2
Advogado criminalista e professor de direito penal da CEUNSP, Pós –Graduado em Direito Constitucional. 
3
Especialista em Direito Tributário pela Universidade de Sorocaba – UNISO, Mestrando em Direitos Difusos e 
Coletivos pela Universidade Metropolitana de Santos – UNIMES, Professor no Centro Universitário Nossa 
Senhora do Patrocínio – CEUNSP (Salto/SP) e Procurador Autárquico. 
2 
 
avaliar se as mesmas ainda são cabíveis diante das mudanças realizadas por 
Welzel. 
 
A teoria finalista é eficiente ao explicar o dolo, porém, não satisfaz ao explicar 
a culpa. Em 1949, Hans Welzel, na obra Das deutsch Strafrecht in seine 
Grundzügen, conceituou a culpa como uma forma de ação completamente 
independente da ação dolosa. Assim, para Welzel, a ação em sentido estrito é 
dolosa, em sentido amplo, culposa. Pretendeu, o jurista alemão, manter a unidade 
do conceito de ação com o caráter comum de atividade final. Nos delitos dolosos, a 
atividade final é real. Nos culposos, há uma causa que poderia ser evitada diante de 
uma atividade final. Welzel equipara a atividade final real do dolo à atividade final 
meramente possível da culpa. Rodríguez Muñoz acredita não ser válido um conceito 
unitário da ação. Para o espanhol, a finalidade potencial não pode ser somente um 
critério jurídico-normativo, sendo uma atividade real. Então, a finalidade potencial 
representa um deslocamento da atividade da esfera ontológica para a esfera 
normativa (deontológica). 
 
Na sua reformulação, no livro Das neue Bild des Strafrechtssystems, Welzel 
abandona a idéia de finalidade potencial e a divisão formal do conceito de ação. A 
estrutura final da ação, prossegue Welzel, se apresenta somente na ação final 
(dolosa). Os tipos de delitos culposos, segundo revisão de Welzel, compreendem as 
ações que, devido suas conseqüências causais, não apresentam a medida mínima 
de direção final exigida juridicamente. As conseqüências seriam irrelevantes do 
ponto de vista jurídico-penal, não estando descritas nos tipos. Para Welzel, o tipo de 
injusto dos delitos culposos estaria na lesão ou perigo de um bem jurídico, 
produzidos de modo puramente casual por uma ação que não representa uma 
medida de direção final exigida no caminho da ação. Porém, Rodríguez Muñoz 
ressalta que a nova concepção de Welzel não resolve as dificuldades da teoria 
finalista em explicar os delitos culposos. 
 
 Feita uma breve explanação sobre o tema, expõe-se a estrutura deste 
trabalho. No item 2, explicam-se as origens e os fundamentos, de forma discreta, da 
teoria finalista e as influências do seu principal representante, Hans Welzel. Em 
seguida, há uma breve exposição do conceito de culpa no Direito Penal brasileiro 
3 
 
(item 3). No item 4, entra-se no tema do texto propriamente dito. No tópico 4.1 há 
considerações sobre a primeira e a segunda concepções de Welzel sobre a culpa, 
com as devidas críticas de Rodríguez Muñoz (item 4.1.1). No próximo tópico (4.2), 
dispõe-se sobre a terceira reformulação de culpa por Welzel e a nova crítica de 
Rodríguez Muñoz. Finalmente, no tópico 4.3, expõe-se a quarta e última 
conceituação de culpa por Welzel. 
 
 No item 5, exploram-se os comentários de José Cerezo Mir acerca das 
críticas de Rodríguez Muñoz às formulações da culpa de Welzel. As conclusões de 
Cerezo Mir, dispostas nos tópicos do item 5, são as seguintes: 5.1. O delito culposo 
pressupõe uma ação final; 5.2. A relação entre o resultado e a ação final não pode 
ser incluída no plano ontológico; 5.3. A finalidade jamais deve ser incluída na esfera 
normativa; 5.4. O resultado real não pertence ao objeto da proibição, muito menos 
pode ser elemento constitutivo do injusto; 5.5. O resultado real está na culpabilidade. 
 
 
2. TEORIA FINALISTA – FUNDAMENTO NA DIGNIDADE HUMANA 
 
2.1. A ação como um acontecer final e não meramente causal 
 
 Para fins deste trabalho, restringe-se o exame à teoria finalista, sem maiores 
explicações a respeito das demais escolas metodológicas do Direito Penal, por 
motivos de delimitação do tema, tendo em vista que o finalismo é essencialmente 
uma teoria do dolo. Luiz Regis Prado ensina que a concepção finalista tem origem 
no livro Fundamentos da psicologia do pensamento, escrita pelo filósofo Richard 
Höniswald, e ainda nas obras dos psicólogos Karl Bühler, Theodor Erismann, Erich 
Jaensch, Wilhelm Peters e dos fenomenologistas P. F. Finke e Alexandre Pfänder.4 
Filosoficamente, escreve Prado, o finalismo é “uma síntese de complexa ordem 
ontognoseológica, fenomenológica e axiológica”5. 
 
4
 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro Vol. 1. 6ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo (SP): 
Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 99. Esclarece ainda o destacado professor que existe um equívoco em 
atribuir a origem da concepção finalista a Nicolai Hartmann. Hartmann, escreve Prado, contribuiu para a 
reformulação da concepção finalista no livro Naturalismus und Wertphylosophie im Strafrecht, e para a 
“utilização do termo mais familiar finalidade”. 
5
 Idem, ibidem. 
4 
 
O finalismo supera a separação entre os aspectos objetivos e subjetivos da 
ação e do injusto, converte o injusto naturalístico no injusto pessoal, segundo Cezar 
Roberto Bitencourt.6 De acordo com José Cerezo Mir, Hans Welzel – elaborador do 
conceito finalista, desenvolvida entre 1930 e 1960 – recebeu sugestões da 
psicologia do pensamento de Richard Honigswald. Então, a ação é um acontecer 
“final” e não meramente “causal”. “A finalidade ou o caráter final da ação baseia-se 
no homem que, graças ao seu saber causal, pode prever, dentro de certos limites, 
as conseqüências possíveis de sua conduta. Em razão de seu saber causal prévio 
pode dirigir os diferentes atos de sua atividade de tal forma que oriente o acontecer 
causal exterior a um fim e assim o determine finalmente. A atividade final – 
prossegue Welzel – e uma atividade dirigidaconscientemente em função do fim, 
enquanto o acontecer causal não está dirigido em função do fim, mas é resultante 
causal da constelação de causas existentes em função disso.” 7 A direção final de 
uma ação final está dividida em duas etapas: 
 
“1ª subjetiva (ocorre na esfera intelectiva): a) antecipação do fim que o 
agente quer realizar (objetivo pretendido); b) seleção dos meios adequados para a 
consecução do fim (meios de execução); c) consideração dos efeitos 
concomitantes relacionados à utilização dos meios e o propósito a ser alcançado 
(conseqüências da relação meio/fim); 2ª objetiva (ocorre no mundo real): execução 
da ação real, dominada pela determinação do fim e dos meios na esfera do 
pensamento.” (BITENCOURT, 2006, 274-275) 
 
 Trata-se o finalismo de uma concepção teórica para superar o positivismo, 
tarefa não levada a cabo pelo neokantismo. O neokantismo restringiu o conceito de 
verdade e objeto da ciência jurídica ao Direito Positivo, tal como o fez o positivismo. 
Em vez de abordar as falhas do positivismo, o neokantismo manteve e consolidou o 
conceito positivista de Direito.8 O finalismo faz uma consideração ontológica e 
valorativa dos problemas, deixando para segundo plano o positivismo formalista 
(lógico-abstrato) e o realismo axiológico. Contudo, corrige Prado, a teoria finalista 
não é meramente ontológica. Considera, ainda que de forma mais discreta, os 
aspectos axiológicos e normativos. 
 
 
6
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral – 1. 10ª ed. São Paulo (SP): Editora 
Saraiva, 2006. p. 273. 
7
 Idem, ibidem. p. 92 
8
 PRADO, Luiz Regis. Op. cit. p. 99. 
5 
 
Para contrapor-se ao neokantismo, Hans Welzel, valendo-se do método 
fenomenológico, defendeu e elaborou um conceito de pressupostos pré-jurídicos de 
pressupostos materiais (como a conduta humana) anteriores à valoração do ser 
humano e, portanto, sem qualquer valoração jurídica. O homem, então, está inserido 
numa ordem real que corresponde a estruturas lógico-objetivas, negando a tese 
neokantiana do subjetivismo psicológico em que o ser humano, com suas categorias 
mentais, criaria a ordem do real.9 
 
2.2. Reação ao nazismo e limites ao Direito Positivo 
 
 O elemento basilar – e fundamento maior, nos termos da teoria finalista – está 
assentado num valor, o respeito à dignidade humana. Tem-se na dignidade humana 
um princípio de justiça intrínseco ao Direito, cuja validade é a priori, imponderável e 
intangível.10 Para Luiz Regis Prado, é dessa concepção de homem como “pessoa, 
capaz de agir, ser livre e responsável”11, que se vinculam o Direito e o conceito 
finalista da ação. Há quem veja que, ao fundamentar a finalidade na dignidade 
humana, o finalismo queira transbordar seu alcance, com a crítica ao positivismo, 
para o jusnaturalismo. A aproximação com o jusnaturalismo é uma maneira de 
legitimar a existência de certos direitos inalienáveis ao ser humano que existem 
independentemente do Direito Positivo, e que, sob pretexto algum, poderiam ser 
violados, pois são fundamentados na dignidade humana. Foi uma reação contra o 
positivismo jurídico “legitimador” do Estado nazista. 
 
“Com razão, admite Sérgio Moccia, que um dos grandes méritos do 
finalismo, reconhecido por penalistas do mundo inteiro reside no fato de, num 
período em que imperava um terrível positivismo jurídico, correspondente à 
onipotência do Estado nazista, ter favorecido a „busca de princípios e valores, que 
devem ser independentes da vontade estatal e que se tem de fazer-lhes 
oposição‟. Na mesma linha, reconhece Mir Puig que a limitação ontológica 
defendida pelo finalismo havia encontrado um ambiente favorável na Alemanha 
pós-guerra, quando se sentiu a necessidade de estabelecer limites ao poder que 
impedissem a repetição de excessos abomináveis com os do III Reich. Houve 
então na Alemanha, pode-se dizer, um certo renascimento do Direito Natural, 
como limite clássico ao Direito Positivo, e o ontologismo de Welzel buscou 
também na natureza das coisas limites à atuação do legislador.” (BITENCOURT, 
2006, p. 90-91) 
 
 
9
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit. p. 91. 
10
 WELZEL, Hans. O novo sistema jurídico-penal. Traduzido por Luiz Regis Prado. São Paulo (SP): Editora 
Revista dos Tribunais, 2001. p. 32. 
11
 PRADO, Luiz Regis. Op. cit. p. 100. 
6 
 
3. BREVE CONCEITUAÇÃO DE CULPA 
 
Culpa é a não observância do dever de “objetivo de cuidado manifesta numa 
conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente previsível”12, 
segundo Cezar Roberto Bitencourt. No tipo culposo, “pune-se a conduta mal dirigida, 
normalmente destinada a um fim penalmente irrelevante, quase sempre lícito (...) O 
núcleo de tipo de injusto nos delitos culposos consiste na divergência entre a ação 
efetivamente praticada e a que devia realmente ter sido realizada, em virtude de 
observância do dever objetivo de cuidado”.13 
 
Guilherme de Souza Nucci faz uma conceituação concisa a respeito. Para ele, 
culpa “é o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado 
objetivo, lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado, mas 
previsível, que podia ter sido evitado”.14 De acordo com Nucci, o dolo15 é a regra, 
sendo a culpa, exceção. Alguém só pode ser punido a título de culpa, se esta estiver 
descrita de modo expresso no tipo penal. Portanto, não existe culpa presumida, que 
deve ser sempre demonstrada ou provada pela acusação, quando for o caso. Ainda 
segundo Nucci, a culpa é um dos elementos subjetivos do delito, cuja natureza 
jurídica é psicológico-normativa. “Psicológico, porque é elemento subjetivo do delito, 
implicando na ligação de resultado lesivo ao querer interno do agente através da 
previsibilidade. Normativo, porque é formulado um juízo de valor acerca da relação 
estabelecida entre o querer do agente e o resultado produzido, verificando o 
magistrado se houve uma norma a cumprir, eu deixou de ser seguida.”16 
 
 A culpa por excelência é a culpa sem previsão do resultado, ou culpa 
inconsciente. “A culpa inconsciente caracteriza-se pela ausência absoluta de nexo 
 
12
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit. p. 347. 
13
 Idem, ibidem. p. 347-348. 
14
 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 5ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo (SP): Editora 
Revista dos Tribunais, 2005. p. 182. 
15
 O conceito de dolo está no artigo 18, I, do Código Penal Brasileiro, “quando o agente quis o resultado 
ou assumiu o risco de produzi-lo.” “Trata-se da consciência e vontade de realização da conduta descrita em um 
tipo penal. (...) é constituído por dois elementos: um cognitivo, que é o conhecimento do fato constitutivo da 
ação típica; e um volitivo, que é a vontade de realizá-la. O primeiro elemento, o conhecimento, é pressuposto do 
segundo, a vontade, que não pode existir sem aquele.” (BITENCOURT, 2006, p. 333) 
16
 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. cit. p. 182. 
7 
 
psicológico entre o autor e o resultado de sua ação.”17 Por outro lado, na culpa 
consciente, também conhecida como culpa com previsão, o agente prevê resultado 
previsível, mas acredita convictamente que este não vai ocorrer, deixando de 
observar com diligência o que estava obrigado.18 Para Nucci, os elementos da culpa 
são: 
 
“a) concentração na análise da conduta voluntária do agente: o mais 
importante na culpa é a análise do comportamento, e não do resultado; b) 
ausência do dever de cuidado objetivo, significando que o agente deixou de seguir 
as regras básicas de atenção e cautela, exigíveis de todos que vivem em 
sociedade;c) resultado danoso involuntário: é imprescindível que o evento lesivo 
jamais tenha sido desejado ou acolhido pelo agente; d) previsibilidade: é a 
possibilidade de prever o resultado lesivo, inerente a qualquer ser humano normal. 
Ausente a previsibilidade, afastada estará a culpa, pois não se exige da pessoa 
uma atenção extraordinária e fora do razoável. O melhor critério para verificar a 
previsibilidade é o critério objetivo-subjetivo, ou seja, verifica-se, no caso concreto, 
se a média da sociedade teria condições de prever o resultado, através da 
diligência e da perspicácia comum, passando-se em seguida à análise do grau de 
visão do agente do delito, vale dizer, verifica-se a capacidade pessoal que o autor 
tinha para evitar o resultado; (...) e) ausência de previsão (culpa inconsciente), ou 
seja, não é possível que o agente tenha previsto o evento lesivo ou previsão do 
resultado, esperando, sinceramente, que ele não aconteça (culpa consciente), 
quando o agente vislumbra o evento lesivo, mas crê poder evitar que ocorra; f) 
tipicidade: há especial atenção para esse ponto, pois, como já foi mencionado, o 
crime culposo precisa estar expressamente previsto no tipo penal; (...) g) nexo 
causal: somente a ligação, através da previsibilidade, entre a conduta do agente e 
o resultado danoso pode constituir o nexo de causalidade no crime culposo, já que 
o agente não deseja a produção do evento lesivo.” (NUCCI, 2005, p. 182-183) 
 
 
4. CONCEPÇÃO DE CULPA NO FINALISMO DE WELZEL 
 
4.1. A primeira e a segunda concepções de Welzel sobre a culpa 
 
Feitas as considerações requeridas para a contextualização deste trabalho, 
adentra-se agora na análise do texto El concepto de la acción finalista como 
fundamento del sistema del Derecho Penal – Una revisión de la crítica de 
Rodríguez Muñoz de la concepción de la culpa de Welzel, do livro Problemas 
fundamentales del Derecho Penal, de José Cerezo Mir. Segundo Cerezo Mir, 
Rodríguez Muñoz estudou extensivamente as diversas tentativas de Hans Welzel 
em elaborar uma concepção de culpa em conformidade com os princípios 
 
17
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit. p. 359. 
18
Idem, ibidem. p. 358. 
8 
 
fundamentais da teoria finalista. “A conduta culposa foi concebida primeiramente 
como uma forma „circunstanciada‟ da atividade humana final, como „uma forma 
defeituosa‟ da conduta dolosa. Essa tentativa de definir a conduta culposa partindo 
da conduta dolosa foi objeto de críticas severas. Era impossível incluir a conduta 
culposa num conceito de ação, cujo caráter essencial era o direcionamento do fim 
pela vontade.”19 Devido às falhas nesse primeiro conceito, diz Cerezo Mir, Welzel 
viu-se forçado a corrigir suas opiniões e, ainda, deduzir as conseqüências – que são 
necessárias às premissas teóricas -, inclusive no aspecto terminológico. 
 
 De acordo com Cerezo Mir, foi no livro Das deutsch Strafrecht in seinen 
Grundzügen (1949) que Welzel converteu a ação culposa numa forma de ação 
completamente independente da ação dolosa. Nessa concepção, Welzel associa 
ação em sentido estrito às ações dolosas e as ações em sentido amplo em ações 
culposas. Para Cerezo Mir, Welzel pretendeu manter a unidade do conceito de ação, 
mantendo o caráter comum – da ação dolosa e da ação culposa – de “atividade 
final”. “Nos delitos dolosos, a atividade final é real. Nos delitos culposos existe uma 
causa que era evitável mediante uma atividade final. A atividade real é equiparada à 
atividade final meramente possível.”20 
 
 
4.1.1. A reação de Rodríguez Muñoz à concepção de culpa de Welzel 
 
 A crítica de Rodríguez Muñoz à equiparação da atividade final real à atividade 
final meramente possível para manter a unidade do conceito de ação é contundente. 
Para o espanhol, sequer é possível, por essa construção teórica de Welzel, se atingir 
ao conceito de unidade da ação. Rodríguez Muñoz corrige: a conduta culposa seria, 
certamente, evitável por meio de uma atividade final, porém, não é, em si, uma 
atividade final real, pois a finalidade potencial é um critério jurídico-normativo, e só 
 
19
 Tradução livre do original em espanhol: “La conducta culposa fue concebida primeramente como 
„forma minuciada‟ de la actividad humana final, como „una forma defectuosa‟ de la conducta dolosa. Este 
intento de definir la conducta culposa partiendo de la conducta culposa fue objeto de severa crítica. No era 
posible incluir la conducta culposa en un concepto de la acción, cuyo carácter esencial era el señalamiento del fin 
por la voluntad.” (CEREZO MIR, 1982, p. 16) 
20
 Tradução livre do original em espanhol: “En los delitos dolosos la actividad final es real. En los delitos 
culposos existe una „causación que era evitable mediante una actividad final‟. A la actividad final real es 
equiparada la actividad final meramente posible.” (Idem, ibidem) 
9 
 
isso.21 Acrescenta, nas palavras de Cerezo Mir: “A finalidade potencial representa 
um deslocamento da finalidade da esfera ontológica para a esfera normativa. A 
possibilidade de evitar o resultado não querido por uma atividade final não pode ser 
fundamentada num plano objetivo, ontológico (porque se assim o fosse, todo 
resultado seria evitável), mas só no plano do dever ser. A constatação dessa 
possibilidade concreta implica, certamente, num juízo de culpabilidade.”22 
 
4.2. A terceira concepção de culpa de Welzel e a nova crítica de Rodríguez 
Muñoz 
 
 Na primeira e segunda edições do livro Das neue Bild des Strafrechtssystems, 
Hans Welzel abandonou a idéia de finalidade potencial e a divisão formal do 
conceito de ação. Nessa nova concepção, Welzel diz que os delitos culposos 
compreendem as ações que, devido suas conseqüências causais, não apresentam o 
mínimo de direção final exigida juridicamente. Dessa forma, as conseqüências 
dessas ações referentes aos delitos culposos são jurídico-penalmente irrelevantes, 
não sendo descritas, portanto, nos tipos culposos.23 Aliás, o tipo de injusto24 dos 
delitos culposos consiste na lesão ou perigo de um bem jurídico25. Estes seriam 
produzidos de um modo puramente casual por uma ação que não representa a 
intenção da direção final exigida na sua execução, ou caminho.26 
 
 
21
 CEREZO MIR, José. Problemas fundamentales del Derecho Penal. Madrid (España): Tecnos Ed., 1982. p. 16. 
22
 Tradução livre do espanhol: “La finalidad potencial es sólo un criterio jurídico-normativo. La finalidad 
potencial representa un desplazamiento de la finalidad de la esfera ontológica a la normativa. La posibilidad de 
evitar el resultado no querido mediante una actividad final no puede ser fundamentada en un plano objetivo, 
ontológico (porque entonces todo resultado sería inevitable), sino sólo en el plano del deber. La constatación de 
esa posibilidad concreta implica ya, sin embargo, el juicio de culpabilidad.” (CEREZO MIR, 1982, p. 16-17) 
23
 Idem, ibidem. p. 17. 
24
 O tipo do injusto compreende elementos que fundamentam a ilicitude, ensina Luiz Regis Prado. Ou 
seja, é a ação ou omissão típica e ilícita. “O tipo de injusto, composto pelo desvalor da ação e do resultado, é a 
reunião de elementos que fundamentam o injusto específico de uma determinada figura de delito. Vale dizer: é a 
descrição terminante das partes que caracterizam a própria conduta delitiva. Por isso, não pode ser entendido 
como descrição da matéria proibida, visto que o tipo de injusto vai além da matéria do mandato ou da proibição.” 
(PRADO, 2006, p. 344) 
25
 O bem jurídico não se confunde com o objeto da ação, nem com o seu substrato. Luiz Régis Prado 
explica: “1. Bemjurídico é um ente (dado ou valor social) material ou imaterial haurido do contexto social, de 
titularidade individual ou metaindividual reputado como essencial à coexistência e desenvolvimento do homem 
e, por isso, jurídico-penalmente protegido. 2. Objeto da ação é o objeto real atingido diretamente pelo atuar do 
agente e pode ser corpóreo ou incorpóreo. 3. Substrato do bem jurídico é a ordenação axiológica da realidade 
social que forma o suporte do bem jurídico. Esse substrato pode ser algo material (dotado de um significado), 
ideal, ou não se apresentar de forma aparente.” (Idem, ibidem, p. 255) 
26
 CEREZO MIR, José. Op. cit. p. 17. 
10 
 
 Rodríguez Muñoz declara que a nova solução de Welzel não resolve o 
problema, pois o alemão afirma que não existe outra ação final que não seja a 
dolosa, além de reconhecer a incapacidade da teoria finalista em compreender a 
essência dos delitos culposos. O espanhol defende que, evidentemente, o delito 
culposo também tem, como os delitos dolosos, uma ação final. Contudo, para 
Rodríguez Muñoz, explica Cerezo Mir, a ação do delito culposo e todos os 
elementos ontológicos que a integram são irrelevantes para o Direito punitivo. Aliás, 
destaca Rodríguez Muñoz, o que é importante para o Direito punitivo está fora da 
ação. O finalismo nega a si mesmo, salienta Rodríguez Muñoz, quando Welzel 
deslocou a problemática da esfera ontológica para a esfera normativa 
(deontológica). Quer dizer, o autor do delito culposo é penalizado por um resultado 
causado, mas a causa do resultado não é uma ação.27 
 
“Embora pudesse e devesse evitar o resultado, tal diligência é somente 
uma exigência normativa. Outro exemplo é o abandono do ponto de vista subjetivo 
em favor do ponto de vista objetivo („o cuidado necessário na execução‟) mostra a 
incapacidade da doutrina da ação finalista em resolver o problema dos delitos 
culposos; (...) 
Os finalistas exigem somente que no delito culposo haja um nexo causal 
entre a ação final e a regulação do tipo. Este ponto é – segundo Rodríguez Muñoz 
– que o conceito da ação finalista coincide com o conceito de ação causal. 
(...) Com o deslocamento da culpa da esfera ontológica para a esfera 
normativa do tipo do injusto, a situação segue praticamente a mesma de quando 
Welzel quis explicar os delitos culposos através do conceito de finalidade 
potencial. A doutrina da ação finalista se viu forçada, para poder fundamentar o 
finalismo ou justificar o discurso do finalismo – a recorrer ao elemento da 
antijuridicidade, já que em outro caso a solução não seria possível. A situação 
seria formalmente a mesma se se admitisse, como Maihofer, que o dever de 
cuidado é subjetivo; então, a valoração da culpabilidade seria de novo antecipada. 
Mas, caso se admita a natureza objetiva do dever de cuidado, a situação seria 
essencialmente a mesma porque o critério aplicado seria sempre um critério 
jurídico-normativo. O conceito de ação não teria nos dois casos uma pureza 
metodológica absoluta.”
28
 
 
27
 Idem, ibidem. 
28
 Tradução livre do espanhol: “Quizá pudo y debió evitar el resultado, pero esto es sólo una exigencia 
normativa. También el abandono del punto de vista subjetivo a favor del objectivo („el cuidado necesario en el 
tráfico‟) muestra la incapacidad de la doctrina de la acción finalista de resolver el problema de los delitos 
culposos; (...) 
 Los finalistas exigen sólo en el delito culposo el nexo causal entre la acción final y la regulación del 
tipo. En este punto es, pues, evidente – dice Rodríguez Muñoz – que el concepto de la acción finalista coincide 
con el concepto de la acción causal. (...) 
 (...) Con el desplazamiento de la culpa de la esfera ontológica a la normativa del tipo de lo injusto, la 
situación sigue siendo esencialmente la misma que cuando Welzel quería explicar los delitos culposos mediante 
el concepto de la finalidad potencial. „La doctrina de la acción finalista se ve forzada, para poder fundamentar o 
finalismo ou para poder hablar aquí de finalismo, a recurrir al elemento de la antijuridicidad, pues en otro caso la 
solución no sería posible. La situación sería formalmente la misma si se admitiese con Maihofer que el deber de 
cuidado es subjetivo; entonces, la valoración de la culpabilidad sería de nuevo antecipada. Pero, incluso si se 
admite la naturaleza objetiva del deber de cuidado, la situación sería esencialmente la mista porque el criterio 
11 
 
 Como se verifica, o finalismo para se justificar, com relação aos delitos 
culposos, recorre ao elemento da antijuridicidade. Antijuridicidade, para Cezar 
Roberto Bitencourt, é uma qualidade da forma de conduta injusta. É a contradição 
em que se encontra com o ordenamento jurídico.29 Ilicitude e antijuridicidade, 
segundo Luiz Regis Prado, são sinônimos. De acordo com este, a antijuridicidade 
“exprime a relação de contrariedade de um fato com todo o ordenamento jurídico 
(uno e indivisível), com o Direito positivo em seu conjunto.”30 Feitos os comentários 
sobre a terceira versão de Welzel e sua relação com a antijuridicidade, parte-se para 
a quarta concepção finalista de culpa. 
 
 
4.3. A quarta concepção de culpa de Welzel 
 
 Hans Welzel reconstruiu sua concepção de culpa pela quarta vez na terceira 
edição do seu livro Das neue Bild des Strafrechtssystems e também na sexta edição 
da sua obra Das deutsche Strafrecht. Nessa nova concepção, ações culposas 
seriam as ações finais com conseqüências acessórias não-finais, puramente 
casuais, que poderiam ser evitadas com uma melhor direção final da ação e mais 
adequada escolha e aplicação dos meios, incluindo o próprio movimento corporal.31 
Welzel reitera a ação culposa como uma ação final, sempre. Desta maneira, a ação 
culposa só pode ser explicada a partir do conceito da ação finalista. E, para a teoria 
finalista, o fim na ação culposa é irrelevante do ponto de vista jurídico-penal. No 
entanto, na visão de Cerezo Mir, Welzel considera a vontade com relação ao meio 
aplicado e a forma da sua aplicação como sendo juridicamente relevantes. Nesse 
contexto, a culpa seria um defeito na direção real da vontade na escolha e aplicação 
dos meios com relação à medida mínima de direção final exigida na execução, na 
finalidade de evitar conseqüências acessórias indesejáveis.32 
 
 Cerezo Mir ensina que, para Welzel, os delitos culposos são compostos por 
resultado (lesão ou perigo a um bem jurídico) e uma ação final, que causa aquele 
 
aplicado sería siempre un criterio jurídico-normativo. El concepto de la acción no tendría en los dos casos una 
pureza metodológica absoluta.” (CEREZO MIR, 1982, p. 18) 
29
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit. p. 365. 
30
 PRADO, Luiz Regis. Op. cit. p. 379. 
31
 CEREZO MIR, José. Op. cit p 18. 
32
 Idem, ibidem. p. 19. 
12 
 
resultado de forma não dolosa e não adequada ao mesmo. “A lesão (ou perigo) de 
um bem jurídico e a não observância do cuidado objetivamente exigido são 
momentos constitutivos do injusto dos delitos culposos. A lesão do bem jurídico deve 
ter sido causada, especificamente, pela não observância do cuidado objetivamente 
exigido. Tanto o desvalor da ação quanto o desvalor do resultado são decisivos.”33 
 
 Diante da quarta e última formulação de Hans Welzel a respeito da culpa, 
Cerezo Mir indaga se a crítica de Rodríguez Muñoz foi superada. A resposta é: “no 
meu entender, apenas parcialmente”.34 A seguir, os comentários de Cerezo Mir 
acerca da evolução do conceito de culpa de Hans Welzel e as as observações de 
Rodríguez Muñoz.5. COMENTÁRIOS DE CEREZO MIR À POLÊMICA ENTRE WELZEL E 
RODRÍGUEZ MUÑOZ 
 
 
5.1. O delito culposo pressupõe uma ação final 
 
 Sem dúvidas, assevera Cerezo Mir, o delito culposo pressupõe uma ação 
final. Nisso concorda com Hans Welzel, pois considera juridicamente irrelevante a 
atividade final de ir a um determinado local. Contudo, são juridicamente relevantes o 
meio empregado ou a forma de utilização. Assim, Cerezo Mir rechaça a tese de 
Rodríguez Muñoz de que os elementos ontológicos na ação final dos delitos 
culposos são irrelevantes, porque os meios empregados ou a sua forma de 
utilização são juridicamente relevantes. Da mesma maneira, Cerezo Mir contradiz 
Rodríguez Muñoz, ao dizer que é errado afirmar que tudo que tem relevância para o 
Direito está fora da ação final.35 
 
 
33
 Idem, ibidem. Tradução livre do original em espanhol: “La lesión (o el peligro) de un bien jurídico y la no 
observancia del cuidado objetivamente exigido son momentos constitutivos de lo injusto de los delitos culposos. 
La lesión del bien jurídico tiene que haber sido causada precisamente a causa de la no observancia del cuidado 
objetivamente exigido. El disvalor de la acción, no sólo el disvalor del resultado, es también aquí decisivo.” 
34
 Idem, ibidem. 
35
 Idem, ibidem. p. 19-20. 
13 
 
 No entanto, observa Cerezo Mir, o resultado causado – um elemento 
essencial na maioria dos crimes culposos – não está contido na ação final. Mas o 
resultado, indubitavelmente, tem relevância jurídica. Welzel, explica Cerezo Mir, 
concebe o resultado não como uma simples concepção de punibilidade, mas como 
elemento constitutivo do injusto. O resultado não é compreendido, nem previsto 
(culpa inconsciente) pela vontade do autor, explica Cerezo Mir. Entretanto, sem que 
se determine se o resultado pertence, ou não, à ação final não tem como se 
determinar a importância do tipo de um delito culposo num caso concreto. A doutrina 
finalista encontra dificuldade em explicar o delito culposo pois a conduta e o seu 
objeto não pertencem, sobretudo, à ação final. “Não estão compreendidos pela 
vontade de realização do autor e a possibilidade da sua presença não necessita, 
sequer, ser prevista pelo mesmo. Nesse sentido, a crítica de Rodríguez Muñoz 
permanece pertinente.”36 
 
 
5.2. A relação entre resultado e ação final não pode ser incluída no plano 
ontológico 
 
 Cerezo Mir afirma que Hans Welzel não pode estabelecer na esfera 
ontológica a relação entre resultado e ação final. Afinal, não há como se incluir 
uma conseqüência produzida de modo meramente casual no âmbito da ação final, 
no plano ontológico, justamente porque a conseqüência não é querida e, em muitos 
casos, sequer é prevista. Assim, todas ações finais nos delitos culposos têm 
conseqüências acessórias não-finais, meramente casuais, que não lhe integram, 
mas que poderiam ser evitadas diante de uma melhor direção final, desde que 
objetivamente previsíveis, na teoria de Welzel. Contudo, essa conceituação não 
responde o problema, aponta Cerezo Mir.37 
 
 No entendimento de Cerezo Mir, as conseqüências acessórias produzidas de 
modo meramente casual, mesmo que objetivamente previsíveis, não pertencem à 
ação final, então, a previsibilidade objetiva, ou a prevenção objetiva, não pode ser 
 
36
 Idem, ibidem. p. 20. Tradução livre do original em espanhol: “No están comprendidas por la voluntad de 
realización del autor y la posibilidad de su presencia no necesita ni siquiera ser prevista por el mismo. En este 
aspecto la crítica de Rodríguez Muñoz sigue vigente.” 
37
 Idem, ibidem. p. 20-21. 
14 
 
determinada no plano ontológico.38 “Esta determinação pressupõe um juízo cujo 
critério – o nível de conhecimentos – é de natureza histórica. A fixação do nível de 
conhecimentos que servir de critério de tomada de juízo só é possível por uma 
valoração.”39 
 
 
5.3. A finalidade jamais deve ser transferida para a esfera normativa 
 
 De acordo com Cerezo Mir, a teoria finalista não consegue explicar a relação 
entre ação e resultado, no delito culposo, no próprio conceito de ação. Por isso, 
deve estabelecer a relação entre ação e resultado na esfera axiológica, assim, o 
problema é transferido para a esfera normativa. Entretanto, para Cerezo Mir, jamais 
a finalidade pode ser deslocada da esfera ontológica para a normativa, já que a ação 
final real – nos seus elementos ontológicos, a vontade de realização – passa a ser 
jurídico-penalmente relevante, pois os meios escolhidos e a forma escolhida de sua 
utilização não tem correspondência com a direção final.40 O autor também corrige 
Rodríguez Muñoz: “Assim, o conceito de ação finalista não coincide jamais com o 
seu valor funcional para os delitos culposos com o conceito causal da ação, como 
afirmava Rodríguez Muñoz, com relação à concepção anterior de Welzel.”41 
 
 
5.4. O resultado real não pertence ao objeto da proibição, muito menos pode 
ser elemento constitutivo do injusto 
 
 Na última concepção de Welzel, os tipos de injusto podem compreender tanto 
o bem como o desvalor da atividade final, como nos delitos dolosos, ou também 
como uma conseqüencia puramente casual, que está fora da ação final. 
Contraditoriamente, isto está em desacordo com os princípios fundamentais do 
finalismo, salienta Cerezo Mir. A causa do resultado, versam os princípios da 
 
38
 Idem, ibidem. p. 21. 
39
 Idem, ibidem. Tradução livre do original em espanhol: “Esta determinación presupone um juicio cuyo criterio 
– el nivel de conocimientos – es de naturaleza histórica. La fijación del nivel de conocimientos que ha de servir 
de criterio del enjuiciamiento no es posible sin una valoración.” 
40
 Idem, ibidem. p. 22. 
41
 Idem, ibidem. p. 22-23. Traduzido do original em espanhol: “Con ello el concepto de la acción finalista no 
coincida ya más en su valor funcional para los delitos culposos con el concepto causal de la acción, como 
afirmaba Rodríguez Muñoz en relación con la concepción anterior de Welzel.” 
15 
 
doutrina finalista, não pode ser proibida. O Direito, explica Cerezo Mir, pode vetar 
somente as ações dirigidas pela vontade de realizar um resultado ou que carreguem 
consigo a possibilidade (perigo) de causar um resultado.42 Assim, sendo: “O 
resultado real não pode pertencer, como se vê neste último caso, ao objeto da 
proibição (tipo). O resultado real no delito culposo não pode ser, portanto, segundo 
os princípios fundamentais da doutrina da ação finalista um elemento constitutivo do 
injusto. Esta dificuldade poderia ser resolvida somente se a equiparação do tipo e da 
proibição do objeto pudesse ser eliminada, de modo que o resultado pertencesse ao 
tipo (e com ele, ao injusto), mas não ao objeto da proibição. Não é possível prever 
ainda, se esse seria o caminho mais viável para a doutrina da ação finalista.”43 
 
 
5.5. O resultado real está além da culpabilidade 
 
 O conceito causal da ação também encontra notáveis dificuldades de 
explicação devido ao posicionamento do resultado na estrutura do delito culposo. 
Para Cerezo Mir, a relação entre o resultado do delito culposo com o conceito de 
culpabilidade é problemática. A culpabilidade, seja concebida como noção do injusto 
na mente do autor ou como reprovabilidade na formação antijurídica da vontade, não 
tem relação com o resultado do delito culposo. A reprovabilidade na formação 
antijurídica da vontade é a mesma, quer seja produzido o resultado, quer não seja 
produzido o resultado. Então, a causa do resultado do delito culposonão encontra 
resquícios na mente do autor, não sendo querida, muito menos prevista. Na culpa 
consciente44, explica Cerezo Mir, se tem uma mera previsão de possibilidade, mas 
não a certeza em causar um resultado. Aliás, se pudesse determinar com segurança 
a causa e um resultado, tratar-se-ia de delito doloso. Dessa forma, o resultado real 
está além da culpabilidade. 
 
42
 Idem, ibidem. p. 23. 
43
 Idem, ibidem. p. 23. Traduzido do original em espanhol: “El resultado real no puede pertenecer, sin embargo, 
en último caso, al objeto de la prohibición (tipo). El resultado real en el delito culposo no puede ser, por tanto, 
según los principios fundamentales de la doctrina de la acción finalista, un elemento constitutivo de lo injusto. 
Esta dificultad podría ser resuelta sólo si la equiparación de tipo y objeto de la prohibición pudiese ser eliminada, 
de modo que el resultado pertenciera al tipo (y con ello a lo injusto) pero no al objeto de la prohibición. No es 
posible prever aún, sin embargo, si este camino sería viable para la doctrina de la acción finalista.” 
44
 Também conhecida como culpa com previsão. O agente prevê resultado, desde que seja objetivamente 
previsível, mas acredita convictamente que este não vai ocorrer, deixando de observar com diligência o que 
estava obrigado. (BITENCOURT, 2006, p. 358) 
16 
 
9. BIBLIOGRAFIA 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral – 1. 
10ª ed. São Paulo (SP): Editora Saraiva, 2006. 
CEREZO MIR, José. Problemas fundamentales del Derecho Penal. Madrid 
(España): Tecnos Ed., 1982. p. 15-24 
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 5ª ed. rev. atual. e 
ampl. São Paulo (SP): Editora Revista dos Tribunais, 2005. 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro – Volume 1. 6ª ed. São 
Paulo (SP): Editora Revista dos Tribunais, 2006. 
WELZEL, Hans. O novo sistema jurídico-penal. Traduzido por Luiz Regis 
Prado. São Paulo (SP): Editora Revista dos Tribunais, 2001.

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