Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Coletânea de TextosColetânea de Textos Kilton da Silva Calvet Vladimir Bezerra de Oliveira Willian Mano Araújo 11 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 AS REDES SOCIAIS COMO FERRAMENTA EM EaD: UM ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK Cíntia Cargnin Cavalheiro Ribas1 RESUMO Nas últimas décadas a utilização da internet como meio de comunicação mundial aumentou significativamente, com isto, novas práticas mediadoras ao processo de ensino-aprendizagem passam a ser discutidas. Neste contexto, o presente estudo tem como principal objetivo analisar a utilização do Facebook como ferramenta no processo de ensino-aprendizagem em EaD, demonstrando os resultados pedagógicos obtidos a partir de tal recurso. Para isso, elencaram-se procedimentos, iniciando-se com o levantamento bibliográfico e documental e a análise de uma situação real de utilização do Facebook como um canal de comunicação entre alunos e instituição de ensino. O método de pesquisa utilizou-se num primeiro momento a pesquisa quantitativa, realizando uma análise subjetiva posteriormente, o que permitiu perceber que a rede social – Facebook foi utilizada pelos alunos da EaD como uma extensão da sala de aula, um “ponto de encontro” diário, que permitia a interação e a interatividade das informações, consequentemente, um ambiente propício ao processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Redes Sociais. Educação a Distância. Ensino-aprendizagem ABSTRACT In last decades the use of the Internet as a world communication media has increased significantly, so, new practices mediating the teaching-learning process are being discussed. In this context, the present study aims to analyze the use of Facebook as a tool in the teaching- learning process in distance education, showing the educational results obtained from such resource. To that end, procedures was listed, beginning with the bibliographic and documentary research and the analysis of a real situation of use of Facebook as a channel of communication between students and educational institution. The research method used at first, the quantitative research, making a subjective analysis later, allowing to realize that the social network Facebook was used by the students of distance education as an extension of the classroom as a daily "meeting point", allowing interaction and interactivity of information, therefore, an appropriate environment to teaching and learning process. Keywords: Social Networks. Distance Education. Teaching-learning 1 INTRODUÇÃO As redes sociais têm sido um dos meios de comunicação mais utilizados na atualidade, permitindo a integração e troca de informações e geração de conhecimento entre diferentes públicos, a partir da criação de grupos ou simples postagens em perfis. 1 Mestre em Desenvolvimento de Tecnologias, Especialista em EaD, Coordenadora do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET e professora da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. 12 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 Não obstante, a Educação a Distância (EaD) pauta-se no processo de ensino- aprendizagem sem “barreiras”, quer seja física, quer seja temporal. Com a EaD é possível a difusão do conhecimento através de ferramentas como as ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), vídeoconferências, vídeos-aula, etc. Neste contexto, as redes sociais podem ser utilizadas como ferramenta complementar ao processo de ensino-aprendizagem, tornando-se um ambiente propício às relações entre discente- discente, discente-docente, discente-docente-discente, onde os envolvidos podem realizar discussões, compartilhar informações e orientações e manter um contato menos formal do que o AVA, consequentemente, estreitando as relações entre alunos e instituição. Assim, o presente estudo tem como principal objetivo analisar a utilização do Facebook como ferramenta no processo de ensino-aprendizagem em EaD, demonstrando os resultados pedagógicos obtidos a partir de tal recurso. Para obtenção do objetivo geral, elencaram-se estratégias, iniciando-se com o levantamento bibliográfico e documental e a análise de um caso real de utilização do Facebook como um canal de comunicação entre alunos e instituição. 2 A GERAÇÃO DO CONHECIMENTO UTILIZANDO-SE DAS REDES SOCIAIS Pode-se dizer que a habilidade de comunicação foi desenvolvida há cerca de 5.000 anos devido à necessidade das sociedades primitivas de trocarem informações e relacionarem-se entre si. Segundo estudiosos sobre o assunto, em primeiro lugar a humanidade desenvolveu a fala, que passou das formas mais primitivas de grunhidos até a consecução da linguagem atual. Em segundo lugar, os seres humanos sentiram a necessidade de deixar registrada uma forma mais permanente do que acontecia nas suas comunidades e, por isso, criaram signos primitivos, o que mais tarde veio a tornar- se a escrita (ROBBINS, 2002). A comunicação pode ser definida como um processo de partilha de significados por mensagens simbólicas, que acontece quando duas pessoas ou mais têm um mesmo interesse ou um ponto comum, precisando envolver a transferência e a compreensão de mensagem. Os canais de comunicação são inúmeros, porém, nas últimas décadas a utilização da internet como meio de comunicação mundial aumentou significativamente, com isto, novas práticas mediadoras ao processo de ensino-aprendizagem passam a ser discutidas (LITTO; FORMIGA, 2009). Percebe-se, então, que cada vez mais os ambientes acadêmicos devem preparar para a vida, isto é, fazer associação de seus conteúdos específicos com a realidade é fundamental, objetivar a teoria da “não extensão do conhecimento” – conforme diz Paulo Freire. Os professores devem estar prontos para serem desafiados, para fazer os discentes pensarem, e – principalmente – refletir criticamente sobre os diferentes aspectos estudados. Nesta linha, é possível citar-se as palavras de Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia quando menciona que: 13 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. (FREIRE, p.86, 1996) As redes sociais – neste enfoque – passam a ser observadas como mais um desafio ao docente nesta busca pela autonomia dos discentes a partir de uma postura dialógica que permite a expressão real dos sentimentos, anseios e percepções dos alunos. Torna-se – também – um canal de comunicação aberta, proporcionando a interatividade e integração, consequentemente, um canal motivacional para os envolvidos no processo. 2.1 AS FUNÇÕES DA COMUNICAÇÃO E AS REDES SOCIAIS Segundo Robbins (2002), a comunicação, apresenta quatro funções básicas num grupo ou numa organização: controle, motivação, expressão emocional e informação, que podem ser observadas em sua totalidade na utilização das redes sociais. O controle recebe a ação da comunicação de diversas maneiras, como ocorrem nas organizações, que possuem regras a serem seguidas por seus componentes e também na informalidade como, por exemplo, num trabalho em grupo um dos integrantes não está atuando de acordo com as regras do mesmo e é advertido a segui-las. No caso da motivação, a comunicação facilita o processo, pois esclarece os objetivos, metas e avaliaçãode desempenho, indicando pontos onde o indivíduo deve melhorar. Ou seja, uma rede social bem utilizada acabará contagiando positivamente os componentes do grupo, facilitando o processo de comunicação e abrindo novos caminhos motivacionais para os envolvidos no processo, em conseqüência, efetivando o processo de ensino-aprendizagem. Por favorecer o atendimento das necessidades sociais, é por meio da comunicação que os indivíduos expressam seus sentimentos de forma verbal ou não- verbal. A comunicação proporciona a transmissão de informações que o grupo precisa para gerar conhecimentos, facilitando o processo de forma que os componentes do grupo percebam e avaliem alternativas. Entende-se que as redes sociais permitem a comunicação horizontal, isto é, sem hierarquias, fazendo com que as expressões e informações sejam compartilhadas livremente entre os alunos e professores, o que demonstra facilmente contextos mais próximos da realidade da relação aluno-instituição, aluno-aluno e professor-aluno. Estes vínculos desenvolvem a socialização e a afetividade, a integração e interação, bem como a formação de conhecimento individuais e coletivos. 3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS Inicialmente a pesquisa manteve seu foco na análise exploratória de dados e informações, consolidada pela fundamentação teórica e pesquisa documental. Tal 14 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 procedimento permitiu a formação do conhecimento necessário para a composição do embasamento teórico. Na seqüência, as demonstrações quantitativas permitiram colocar em prática a possibilidade de análise de dados e informações levantadas nas fases da pesquisa, permitindo observações sobre os construtos e variáveis aplicadas no protocolo de análise. Para representar a análise quantitativa, ilustraram-se os dados obtidos na pesquisa através de gráficos e tabelas. As ilustrações feitas a partir de dados ou informações qualitativas ressaltaram um complemento da pesquisa, principalmente quando se analisou resultados sob o ponto de vista da subjetividade (SILVA; MENEZES, 2001). Para melhor exemplificar a análise qualitativa, a pesquisa se fundamentou análises comparativas das variáveis pertencentes ao estudo, estabelecidas nos objetivos desta. Atentando-se ao objeto de pesquisa deste estudo, acompanhou-se durante quatro meses um grupo de alunos da mesma turma, ingressantes do curso Licenciatura em Pedagogia – Modalidade EaD de uma Instituição de Ensino Superior da Rede Privada de Ensino. Observou-se as interações dos alunos no Ambiente Virtual de Aprendizagem e num grupo criado no Facebook para comunicação entre os alunos, professores e coordenação de curso. Observou-se que o grupo se utilizou da rede social – ferramenta não formal – para trocar informações, fomentar discussões e lembrar um aos outros dos prazos para postagens de atividades, avaliações de aprendizagem e processos institucionais. Os professores e coordenação do curso participaram ativamente das interações, podendo realizar suas colocações e estreitar a relação com os alunos. Findado o semestre, a pesquisa direcionou-se para as informações quantitativas, ou seja, a análise do aproveitamento da turma que participou do grupo do Facebook e de mais duas turmas de ingressantes, sendo uma delas do mesmo Polo (Curitiba-PR) e outra de um Polo na cidade de Lauro de Freitas-BA. Para descrição dos dados coletados, utilizar-se-á a identificação descrita na tabela 1. TABELA 1: IDENTIFICAÇÃO DAS TURMAS DO ESTUDO TURMA IDENTIFICAÇÃO Turma que utilizou o Facebook para interação – Polo Curitiba-PR A Turma do Polo de Curitiba-PR B Turma do Polo de Lauro de Freitas-BA C Fonte: O Autor, 2013. 15 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 3.1 DADOS COLETADOS Realizou-se o levantamento das notas de todos os alunos matriculados em cada uma das turmas, sendo verificada a nota obtida nas atividades do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA e as obtidas nas avaliações de aprendizagem presenciais. A tabela 2 indica o número de matriculados por turma, que totaliza no geral 113 alunos. TABELA 2: NÚMERO DE ALUNOS POR TURMA TURMA MATRICULADOS A 40 alunos B 42 alunos C 31 alunos Fonte: Instituição de Ensino Superior da Rede Privada de Ensino, 2012. Calculou-se a média das notas obtidas pelos alunos da turma, obtendo-se a média por turma e por avaliação, que estão descritas na tabela 3. TABELA 3: MÉDIA DAS NOTAS POR TURMA TURMA NOTA AVA NOTA PROVA A 3,4 3,74 B 2,7 3,55 C 2,7 2,17 Fonte: O Autor, 2013. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Conforme descrito anteriormente, após o levantamento quantitativo de informações, realizou-se a análise subjetiva dos dados, isto é, uma visualização qualitativa da pesquisa. 4.1 A CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES Nas observações realizadas, foi possível perceber que a rede social – Facebook foi utilizada pelos alunos como uma extensão da sala de aula, um “ponto de encontro” diário, que permitia a interação e a interatividade das informações, que – conforme Litto e Formiga (2009) é obtida a partir de problematizações discutidas num grupo e das reflexões encontradas para a solução de um problema, quer seja individual, quer seja coletivo. Percebeu-se – também – o estreitamento da relação entre os discentes e docentes do curso, bem com a coordenação, visto que, tratava-se de um ambiente informal de comunicação. 16 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 Destaca-se ainda que os alunos e professores utilizavam o espaço não somente para tratar de assuntos relacionados às disciplinas ou organização do curso, mas – também – para marcar encontros, trocar referências de obras, estimular os colegas a permanecerem no curso, enfim, para relacionar-se diariamente e em vários momentos do dia. Este canal foi aproveitado pela coordenação do curso para acompanhar a satisfação dos alunos para com o curso e a instituição, já que pela informalidade da ferramenta, os discentes se expressavam livremente sobre qualquer assunto, permitindo feedbacks mais rápidos por parte da instituição. 4.2 O DESEMPENHO ACADÊMICO Para Vygotsky (1991), o processo de socialização contribui efetivamente para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo do indivíduo. O estudo realizado demonstra que tal aspecto impacta diretamente no processo de ensino-aprendizagem em EaD. Observado o desempenho acadêmico dos alunos demonstrado na Tabela 3 deste estudo, é possível verificar que os alunos envolvidos no grupo do Facebook tiveram a maior média entre as três turmas, o que demonstra que a utilização de tal rede social como ferramenta no processo de ensino-aprendizagem em EaD pode ser muito eficaz, visto que, o compartilhamento de informações, troca de experiências, conhecimentos, o estímulo mútuo dos alunos faz com que os prazos sejam cumpridos e as atividades realizadas de forma mais prazerosa e segura. Complementando a análise comparativa, os gráficos 1 e 2 demonstram a comparação entre as médias obtidas pelas turmas no AmbienteVirtual de Aprendizagem e na Avaliação de Aprendizagem (Prova Presencial e sem consulta), permitindo uma melhor visualização dos resultados. GRÁFICO 1: MÉDIA AVA 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 A B C Média AVA GRÁFICO 1: MÉDIA PROVA 17 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 A B C Média PROVA Com os dados analisados, foi possível verificar que a média do AVA obtida pela turma A foi 20,59% maior do que as médias obtidas pelas turmas B e C; a média da prova da turma A foi 5,1% maior em relação a da turma B e 41,98% maior em relação à turma C. Considerando-se a média geral – soma das médias do AVA e da prova – o desempenho da turma A em relação à turma B foi 12,46% maior e em relação à turma C, 31,79%, caracterizando a efetividade da utilização da rede social como uma ferramenta no processo de ensino-aprendizagem. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A comunicação é fundamental para os seres humanos e faz parte do processo de afetividade e interação entre diferentes pessoas e/ou grupos. As redes sociais demonstram em sua totalidade as funções da comunicação e sua contribuição no processo de ensino-aprendizagem. Com as pesquisas e estudos realizados, comprovou-se que as relações geradas a partir das redes sociais impactam diretamente no desempenho acadêmico dos alunos de EaD, isto é, contribuem positivamente como ferramenta no processo de geração do conhecimento. Compete, então, aos professores e instituições aceitarem os desafios da utilização das redes sociais e torná-las um espaço de extensão da sala de aula, afinal, um canal de comunicação informal permite aos alunos e professores maior liberdade de expressão, proporcionando um espaço reflexivo e sem barreiras temporais ou físicas, principal benefício da educação a distância: uma educação sem fronteiras. Destaca-se que este estudo não se finda nestas considerações, visto que, ainda há muitas perspectivas de pesquisa em relação ao tema proposto e sua relação com o processo comunicacional acadêmico, consequentemente, com a efetivação do processo de ensino-aprendizagem. 18 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Junho de 2015 REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1996. GATTI, Bernadete Angelina. A Construção da Pesquisa em Educação no Brasil. 3. ed. Série Pesquisa v. 1. Brasília: Liber Livro Editora, 2010. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. LITTO, Frederico; FORMIGA, Marcos (orgs.). Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Educacion do Brasil, 2009. LITTO, Frederico; FORMIGA, Marcos (orgs.). Educação a Distância: o estado da arte. v. 2. São Paulo: Pearson Educacion do Brasil, 2012. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996. SEABRA, Carlos. Tecnologias na escola. Porto Alegre: Telos Empreendimentos Culturais, 2010. SEIXAS, Carlos Alberto; MENDES, Isabel Amélia Costa. E-learning e educação a distância: guia prático para implementação e uso de sistemas abertos. São Paulo: Atlas, 2006. ROBBINS, Stephen Paaul. Comportamento organizacional. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia de pesquisa e elaboração de dissertação. 3. ed. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001. VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 1 O USO DE REDES SOCIAIS E TECNOLOGIA MÓVEL NA EAD NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR São Carlos - SP - abril - 2014 Helena Gordon Silva Leme - UFSCar - hgsleme@gmail.com Kenia Rosa de Paula Nazario - UFSCar - keniarosa.ead@gmail.com Classe: Experiência Inovadora Setor Educacional: Educação Superior Classificação das Áreas de Pesquisa em EAD - Nível Meso Desenvolvimento Profissional e Apoio ao Corpo Docente; Natureza do trabalho - Relatório de Estudo Concluído RESUMO O impacto do uso das redes sociais e da tecnologia móvel na atualidade tem- se apresentado como um desafio às novas reflexões no âmbito educacional, em especial na formação docente. Os professores, em especial na EaD, têm passado a refletir sobre dois aspectos - o uso da tecnologia e a familiaridade com propostas de trabalho colaborativo para a melhoria do processo de aprendizagem. Conhecer o potencial das redes sociais e suas possibilidades pedagógicas é um dos caminhos que pode contribuir para que os professores utilizem melhor esses recursos em sua prática pedagógica. O presente relato de experiência descreve aspectos do curso de formação continuada de professores com relação ao uso das redes sociais e da tecnologia móvel no apoio à aprendizagem na EaD. Pretende-se apresentar algumas propostas usadas a partir dos conceitos de PLE e M-learning, além de dados levantados sobre a perspectiva do professor no uso das mesmas na educação. Entende- se que cursos de formação continuada podem permitir aos docentes um aprofundamento de seus conhecimentos sobre as possibilidades pedagógicas de uso das mesmas, pretendendo que estas passem a ser incorporadas em suas respectivas disciplinas. Palavras chave: redes sociais; tecnologia móvel; propostas pedagógicas; EaD. 2 1 - Introdução Com a inovação da tecnologia móvel e do uso das redes sociais, as possibilidades de atualização da prática docente têm se alargado e novas formas de ensino e de aprendizagem têm sido propostas. Nesse sentido, cursos de formação continuada para docentes têm se mostrado necessários para promover uma reflexão sobre o potencial pedagógico de tais recursos como apoio à aprendizagem. São também espaços de atualização quanto ao uso das Tecnologias da Informação e comunicação Móveis e Sem fio (TIMS) no cenário formativo da nova geração (Saccol et al., 2011). Embora as redes sociais existam desde o início da humanidade nos relacionamentos sociais estabelecidos entre duas ou mais pessoas, o termo ‘rede social’ ganhou novo significado com o advento da tecnologia e, em especial nos dias atuais, com a tecnologia móvel. Segundo Mattar (2013), as redes sociais na internet se caracterizam pelas conexões entre pessoas em ambientes virtuais usando a tecnologia da Web 2.0. Nesse contexto, surgem novos meios de ensinar e aprender que envolvem os conceitos de Ambiente Pessoal de Aprendizagem (PLE) e Aprendizagem Pessoal em Rede (PLN). Estes se apresentam como contextos pessoais de aprendizagem aplicados ao mundo virtual e às redes estabelecidas entre os interagentes. A imagem abaixo foi adaptada da postagem “Anatomy of a PLE”, no blog de Wheeler (2010), e traz uma visão simplificada dessas relações. Figura 1 - Imagem adaptada - Anatomia do ambiente pessoal de aprendizagem (PLE). Fonte: http://steve-wheeler.blogspot.com.br/2010/07/anatomy-of-ple.html. 3 Os PLEs não envolvem apenas as ferramentas da internet (PWTs) e as redes de aprendizagem (PLNs), mas podem ser mais amplos ao levar em conta as experiências reais, bem como a aprendizagem em contextos formais. Na verdade, as PLNs (as pessoas com quem interagimos através das redes sociais) podemser mais importantes do que os próprios conteúdos de aprendizagem, porque mais importante, do que saber onde encontrar a informação, é saber onde (e com quem) conectar-se para obter a informação procurada (Wheeler, 2010). Ou seja, o bom uso das redes sociais (pessoas) e dos recursos da internet (ferramentas) viabiliza a construção de um bom PLE. De acordo com Simões (2010), "um PLE proporciona ao aprendente um espaço pessoal sob seu controlo que possibilita o desenvolvimento e partilha das suas opiniões". Em outras palavras, cada aprendiz desenvolve o seu próprio ambiente selecionando as ferramentas, bem como as redes de pessoas, que vão apoiar a sua aprendizagem. Moran (2013) afirma que "as tecnologias móveis trazem enormes desafios, porque descentralizam os processos de gestão do conhecimento: podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e de muitas formas diferentes”. Assim, a PLE se beneficia dessas tecnologias devido ao acesso constante às PLNs e à PTW. Se há alguns anos era impensável poder carregar um dispositivo pequeno e fácil de usar como um celular ou um tablet, atualmente os recursos que permitem a aprendizagem podem estar acessíveis na palma da mão através das TIMS nos dispositivos móveis. O novo paradigma da aprendizagem subjaz ao conceito de mobilidade (mobile) (Saccol et al., 2011). O conceito de mobile learning ou M-learning, portanto, retrata uma realidade que já é presente em nossos dias, “cuja característica fundamental é a mobilidade dos aprendizes, que podem estar distantes uns dos outros e também de espaços formais de educação" (SACCOL et al., 2011). Desta forma, há inúmeras possibilidades de aprendizagem, tanto para alunos como para professores, no uso dos recursos disponíveis online, que podem ser acessados via celular e tablet, como auxílios à aprendizagem e da construção de suas PLEs. Portanto, compreendemos o conceito de M-learning como suporte ao PLE nos tempos atuais. 4 2 – Sobre o curso O presente trabalho é um relato de experiência de aspectos de um curso oferecido dentro do programa de formação continuada, o Programa de Aperfeiçoamento e Capacitação Continuada (PACC), para os docentes dos cursos de graduação a distância da SEAD/UAB/UFSCar, desenvolvido no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) - Moodle. O curso intitulado "Redes sociais e tecnologias móveis e suas possibilidades de uso com o Moodle" foi realizado a partir de estudos sobre o uso da tecnologia móvel na área educacional e motivado pelas possibilidades de incorporação das mesmas na sala de aula, em especial na EaD. O curso foi planejado em duas unidades no período de quatro semanas, com carga horária de trinta horas. Na primeira unidade, o enfoque central foram os conceitos Personal Learning Environment (PLE) e Personal Learning Network (PLN) (Silva, 2012; Simões, 2010); ou seja, o uso de redes sociais e recursos tecnológicos usados pelos participantes do curso. Na segunda unidade, a discussão principal foi sobre o uso das TIMS e do conceito de M- learning. Foram propostas três atividades em cada unidade, além de algumas atividades opcionais. Todas as atividades desenvolvidas permitiram discutir os potenciais pedagógicos desses conceitos como práticas de aprendizagem. O curso teve 58 participantes, dos quais 53,4% foram aprovados pela participação ativa. O presente relato apresenta resultados parciais, uma vez que aborda apenas questões levantadas em um quiz elaborado para mapear a perspectiva dos participantes sobre o uso das redes sociais e da tecnologia móvel como apoio à aprendizagem. Outros dados do curso são discutidos em outro artigo das autoras (Leme e Nazário, 2014). 3 - Análise dos resultados Como indicadores de resultados obtidos no curso, podemos citar dados coletados através do Quiz - Tecnologia Móvel e M-learning, que apresentou os seguintes dados para 6 questões propostas, conforme os gráficos abaixo: Questão 1 - O conceito de M-learning é uma novidade para você? 5 Gráfico 1 - Dados Questão 1 Neste primeiro gráfico, os dados indicam que o conceito de M-learning foi tido como uma novidade para 42% dos participantes, e em parte por outros 41%, sendo que apenas 17% conheciam o conceito. Esses dados revelam que a aprendizagem através do uso de tecnologia móvel ainda é um conceito novo e desconhecido pela maioria dos participantes. Desse modo, a abordagem dada na unidade 2 foi apresentar o conceito e as diversas propostas pedagógicas como sugestões de atividades que utilizem as TIMS como apoio à aprendizagem. Questão 2 - Você tem seu plano de internet no seu smartphone? Gráfico 2 - Dados Questão 2 Quanto ao uso de tecnologia móvel, 69% dos participantes afirmaram usar um smartphone com plano de internet, mas apenas 48% utilizam o 6 smartphone com frequência. Enquanto 24% dos participantes disseram não possuir um smartphone, 7% consideram desnecessário ter esse dispositivo; ou seja, não utilizam a tecnologia móvel via celular. Destaca-se que não foi feito um levantamento sobre o uso de tecnologia móvel em tablets, por ter sido considerado apenas o modo mais básico de uso dessa tecnologia; ou seja, através de aparelhos celulares. Questão 3 - Você acessa recursos de aprendizagem pelo seu celular com que frequência? Gráfico 3 - Dados Questão 3 Constatou-se que há um empate entre os que utilizam recursos de aprendizagem pelo celular (24%) e os que raramente fazem esse uso (24%). Por sua vez, 21% acessam recursos de aprendizagem uma vez por semana, 10% de uma a três vezes por semana e 21% nunca o fazem. Entende-se que esses recursos de aprendizagem levam em conta não apenas os e-mails, como também algumas redes sociais pela conexão de internet. Questão 4 - Você recebe, envia e lê seus e-mails pelo celular? 7 Gráfico 4 - Dados Questão 4 Com relação ao uso do smartphone para acessar, receber e enviar e- mails, 62% dos participantes afirmam receber e enviar e-mails pelo celular, enquanto 10% fazem somente a leitura via celular e 28% não utilizam esse meio para acesso a e-mails. A maioria dos participantes relatou utilizar e-mails como recurso da web, mas ainda não tem o hábito de fazer o acesso usando a tecnologia móvel. Questão 5 - Você gostaria de usar recursos para M-learning com seus alunos? Gráfico 5 - Dados Questão 5 Quanto ao interesse em usar recursos tecnológicos da M-learning com os alunos, os participantes apresentaram as seguintes respostas: “Sim, 8 provavelmente em breve” (41%); “Sim, mas ainda tenho que aprender como” (55%); e “Não, não estou preparado(a) para isso” (4%), o que denota que há um interesse grande, mas ainda certa insegurança ou desconhecimento de uso da tecnologia móvel na educação. Questão 6 - Quais dos recursos abaixo, que podem ser usados para M- learning, você conhece? Gráfico 6 - Dados Questão 6 Dos recursos elencados como sendo úteis no M-learning, os participantes indicaram conhecer: Twitter (34%); Google Maps (31%); Podcasts (23%) e Quiz Creator (12%). Também foram oferecidas outras alternativas, que não foram apontadas, como Socrative, Mindomo e QRReader. Vários outros foram indicados na atividade de elaboração das PLEs na unidade1, mas no quiz as respostas ficaram limitadas àquelas indicadas acima. 4 - Conclusões Segundo os dados apresentados, ainda existe uma lacuna na formação docente com relação ao uso das TIMS e das redes sociais em sala de aula, pois ainda existem professores que não têm ou têm pouco contato com essas tecnologias. De acordo com Silva (2012),“o emprego dos PLEs pelos professores proporciona atualização contínua na área de formação, potencializa o acompanhamento de novas tecnologias e abordagens 9 metodológicas e estimula a participação em ambiente de colaboração e reflexão”. A análise dos dados mostrou que a maioria dos participantes considera o conceito de M-learning como uma novidade. Além disso, os docentes mostraram ter interesse no uso dos recursos tecnológicos com os alunos para a M-learning, desde que tenham a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre os recursos. Assim, observa-se que existe um desafio na formação docente com relação ao potencial de uso das redes sociais e outros recursos da M-learning na educação e uma necessidade de cursos que possam abordar esse tema com os docentes. Cursos de formação continuada com esse enfoque podem permitir aos docentes um aprofundamento de seus conhecimentos sobre as ferramentas da internet e as possibilidades pedagógicas de uso das mesmas, podendo ser incorporadas como recursos didáticos em suas respectivas disciplinas. Como Silva (2012) afirma, “estes aprendizados passam a ser incorporados nas atividades didáticas e, dessa forma, os alunos também começam a incorporar as ferramentas tecnológicas e seus mecanismos de comunicação e interação em suas atividades pessoais.” Conclui-se que é necessário realizar outros estudos mais aprofundados sobre o uso das redes sociais e da tecnologia móvel como apoio à aprendizagem, bem como articular esse tema na formação de professores como meio de potencializar o processo de ensino aprendizagem. Referências LEME, H. G. S., NAZÁRIO, K. R. P. As redes sociais na educação: a formação de professores e o desafio do uso da tecnologia móvel. Relato de experiência apresentado no II Congresso Nacional de Formação de Professores e XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores - UNESP, Águas de Lindóia/SP, 2014. Disponível para download em: http://www.geci.ibilce.unesp.br/logica_de_aplicacao/site/index_1.jsp?id_evento =31. 10 MATTAR, J. Web 2.0 e redes sociais na educação. São Paulo: Artesanato Educacional, 2013. MORAN, J. Tablets e netbooks na educação. Disponível em: http://www.eca.usp.br/moran/tablets.pdf. Acesso em 20 de novembro de 2013. SACCOL, A., Schlemmer, E., Barbosa, J. M-learning e u-learning: novas perspectivas das aprendizagens móvel e ubíqua. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. SILVA, S. Ambiente Pessoal de Aprendizagem (PLE) como recurso de aprendizagem para o professor. Revista GEINTEC. V. 2, no. 2. São Cristóvão/SE, 2012. p. 120-128. Disponível em: http://www.revistageintec.net/portal/index.php/revista/article/view/27/88. Acesso em 20 de novembro de 2013. SIMÕES, P. Ambientes pessoais de aprendizagem (PLE). Dissertação de mestrado, 2010. Disponível em: http://www.pgsimoes.net/blog/?p=5. Acesso em 20 novembro de 2013. WHEELER, S. Anatomy of a PLE. Postagem em blog, 11/07/2010. Disponível em: http://steve-wheeler.blogspot.com.br/2010/07/anatomy-of-ple.html?q=PLE. Acesso em 20 de novembro de 2013. REDES SOCIAIS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EAD Curitiba – PR - Setembro – 2014 Luís Fernando Lopes – Centro Universitário UNINTER – luis.l@grupouninter.com.br Cecília de Souza Pestana – Centro Universitário UNINTER – cecilia.c@grupouninter.com.br Renata Adriana Garbossa – Centro Universitário UNINTER – renata.g@grupouninter.com.br Anderon A. Makioszek – Centro Universitário UNINTER – anderon.a@gruouninter.com.br Thereza Cristina de S. Lima – Centro Universitário UNINTER – thereza.l@grupouninter.com.br Setor Educacional: Educação Superior Classificação das Áreas de Pesquisa em EaD: Interação e comunicação em redes de aprendizagem Natureza: Relatório de Estudo Concluído Classe: Investigação Científica RESUMO Este trabalho tem como objetivo principal analisar a utilização de redes sociais nos processos de ensino-aprendizagem na educação superior a distância. Para tanto, parte-se de uma reflexão sobre a relação educação e tecnologia focalizando as redes sociais e suas implicações nessa seara. Os aportes teóricos consideram principalmente as contribuições de Levy (1999), Phillips; Baird e Fogg (2012), Mattar (2012) e Moser e Alencastro (2013). Em seguida, apresentam-se os resultados de uma pesquisa de campo em que se aplicou um questionário a 500 alunos de um curso de licenciatura a distância. Por fim, analisam-se os resultados da pesquisa de campo à luz dos pressupostos teóricos anunciados. Os resultados apontam que as redes sociais apesar de sua grande penetração na sociedade de um modo geral, ainda são pouco utilizadas como ferramenta de apoio nos processos de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: educação a distância; redes sociais; ensino- aprendizagem. 1- Introdução Algumas afirmações sobre a relação educação e tecnologia já se tornaram tão comuns em nosso cotidiano que reafirmá-las conduz, de alguma 2 maneira, a incorrer em um repisado truísmo. No entanto, a grande quantidade de informações sobre o tema não significa necessariamente uma apropriação e utilização adequada dos recursos tecnológicos no campo educacional. Entre as muitas possiblidades que se apresentam, sobretudo, com as tecnologias digitais e o advento da cibercultura estão as redes sociais que hoje já passaram a fazer parte do nosso dia a dia. Diante desse fenômeno, é conveniente perquirir sobre a possibilidade de sua utilização como ferramentas de apoio nos processos de ensino-aprendizagem de um modo geral e, mais especificamente, na educação superior a distância. Assim, apresenta-se nesse artigo uma reflexão teórica inicial com base na literatura que versa sobre a temática e, em seguida, expõem-se os resultados obtidos por meio de análise de dados oriundos de uma pesquisa de campo, realizada com aplicação de questionário a um grupo de 500 estudantes de um curso superior de licenciatura na modalidade a distância de uma Instituição particular. 2- Educação e tecnologia: pressupostos teóricos Estudar e trabalhar são atividades que, cada vez mais, estão relacionadas à necessidade de estarmos conectados à internet. Para consultar informações que nos auxiliem em operações, das mais simples a mais complexas, o recurso aos dados disponíveis no ciberespaço é sem dúvida um meio eficaz. Para Lévy (1999, p. 11) “o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem”. Ainda segundo o pensador francês, é preciso explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano. É de valia ressaltar, também, a existência do facebook para educadores e líderes comunitários, cujos criadores afirmam que: A proliferação de tecnologias digitais, sociais e móveis criou uma cultura em que a juventude participa mais da criação e do 3 compartilhamento de conteúdo, mudando profundamente a maneira como os alunos se comunicam, interagem e aprendem. Em muitos casos, os alunos passam a mesma quantidade de tempo (ou mais) on-line em um ambiente de aprendizagem informal interagindo com colegas e recebendo comentários do que passam com seus professores na sala de aula tradicional (PHILLIPS, 1999, p.172). Diante dessas mudanças, um desafio constante fica ainda mais latente: Como manter as práticas pedagógicas atualizadas com esses novos processosde transação de conhecimento? Não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de comportamento, que leva a uma profunda reflexão acerca das formas institucionais, mentalidades e cultura dos sistemas educacionais tradicionais em que, sobretudo, são questionados os papéis de professor e de aluno (LÉVY, 1999, p.172). Nesse sentido, um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possibilidades a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas (LÉVY, 1999, p.75). A geração de hoje, criada em um mundo “sempre ligado” da mídia interativa, da Internet e das tecnologias de mídia social, é formada, muitas vezes, por alunos cujas expectativas e estilos de aprendizagem são diferentes das gerações anteriores. O uso abrangente de tecnologias sociais e móveis fornece a cidadãos de todas as idades uma oportunidade ímpar de usar ferramentas como o Facebook para criar comunidades de aprendizagem auto- organizadas ou redes de aprendizagem pessoal (PLN)(PHILLIPS, 2012, p. 13). Contudo, para que isso aconteça, faz-se necessário certa coadunação com a grade curricular. Esse desafio está também muito presente na educação superior, já que é necessário compreender e incorporar cada vez mais as oportunidades de aprendizagem digital considerando as necessidades dos alunos e seus diversos estilos de aprendizagem. Com a influência da Web sobre todas as facetas da vida contemporânea, a linha entre as realidades virtual e real está desaparecendo, o que possibilita novas oportunidades para os alunos de hoje adquirirem 4 conhecimento e compartilharem informações valiosas (FISHER, 2002 apud PHILLIPS; BAIRD; FOGG, 2012, p.16). Várias são as opiniões de acadêmicos sobre tal assunto. Para Moser e Alencastro (2014) há nas Redes Sociais um grande potencial para as atividades educacionais, desde que consigam ultrapassar a condição de local para diversão, como sites de relacionamento ou conversação, e passem a utilizar seus recursos para a troca de conhecimentos e aprendizagem coletiva (MOSER; ALENCASTRO, 2014, p. 99). Ainda segundo tais autores, a Educação a Distância (EAD), pelas suas próprias características, será afetada diretamente pelo processo de comunicação das redes sociais, porém, as facilidades de interatividade que elas proporcionam ainda não foram incorporadas em grande escala. Mattar (2014), menciona a pesquisa de Mazer, Murphy e Simonds, segundo a qual, perfis de professores no Facebook ricos de informações pessoais motivam previamente os estudantes, proporcionando maior credibilidade e aprendizado afetivo. O mesmo autor cita também a pesquisa de, Sturgeon e Walker que concluíram que os alunos têm mais vontade de se comunicar com seus professores se eles já os conhecem no Facebook. 3- Pesquisa de campo Com o objetivo de constatar, diretamente entre os estudantes de EAD, como se dá a utilização de recursos tecnológicos no processo de ensino aprendizagem na EAD em nível superior, realizamos uma pesquisa de campo, com alunos do curso de Pedagogia de 10 polos de apoio presencial de uma Instituição Brasileira para os quais foram enviados 500 questionários. Os Polos estão todos localizados no Estado do Paraná. Os estudantes receberam uma carta de aceite e um questionário com 15 perguntas objetivas. Dos 500 questionários enviados, foram recebidos 360 retornos, cujas respostas e análise serão apresentadas a seguir. A primeira questão procurou perquirir o tipo de Instituição na qual o estudante realizou o ensino médio. O resultado está expresso no gráfico a seguir, que será mais bem analisado posteriormente. 5 Gráfico 1. Em que tipo de instituição você realizou o ensino médio? Nota-se que a grande maioria dos estudantes (61%), é proveniente de escolas públicas. Em segundo lugar aparecem os alunos que estudaram parte do ensino médio em escolas públicas e parte no ensino particular (25%). Por fim, 14% dos alunos responderam que realizaram o ensino médio em escolas particulares. No que diz respeito ao tipo de curso realizado no Ensino Médio a grande maioria (64%) informou que cursou o ensino regular. Em seguida, aparecem os estudantes (14%) que cursaram o Ensino Supletivo. O restante se divide entre aqueles que fizeram cursos Técnicos, Magistério (22%) ou a prova do ENEM. Já com relação à modalidade em que o ensino médio foi realizado, 78% informaram que realizaram o ensino médio presencial. Os demais (22%) se dividem entre que participaram do ensino a distância e semipresencial. O questionamento seguinte diz respeito a que motivo levou o aluno a fazer um curso superior na modalidade a distância. Os respondentes podiam marcar mais de uma opção. O principal motivo apontado foi a questão do tempo (57%). Em seguida, vem o menor custo (20%), seguido do fato de ter filhos (2%) e, por fim, a indicação de amigos (6%). Os dados apresentados anteriormente confirmam uma das características muito reafirmadas com relação à Educação a Distância, que é o fato de possibilitar a democratização do acesso à educação, sobretudo, ao ensino superior. 6 Gráfico 2. Motivo que levou o aluno a fazer um curso superior na modalidade a distância (mais de uma opção) Sobre os respondentes terem computador com acesso à internet em casa, a maioria (94%) respondeu sim; os demais (6%) não possuem o serviço em suas residências. No que tange possuir endereço eletrônico, a grande maioria (89%) possui e-mail; porém, 11% não responderam. Ainda sobre o endereço eletrônico, foi questionado sobre a frequência do acesso. Os dados apontam a média de uma vez por dia, com 44% dos respondentes; por outro lado, pode-se observar que 42% dos discentes acessam a rede mais de três vezes ao dia. Já 8% e 6%, respectivamente, acessam a rede uma vez por semana e esporadicamente. Na pergunta sobre a frequência de acesso para fins de estudo, a grande maioria, ou seja, 44% dos alunos optaram pelo acesso à rede todos os dias; em segundo lugar, com 36%, há os que têm acesso uma vez por semana; 14% acessam apenas uma vez ou duas por mês e 6% somente para fazer prova. Gráfico 3. Com que frequência você acessa a internet para estudar? 7 No que concerne ao local onde o aluno acessa mais as informações sobre seu curso, a grande maioria (67%) respondeu computador pessoal em casa; em segundo lugar, bem abaixo, (14%) em horário permitido no trabalho. A terceira opção, no seu dispositivo móvel e computador no polo, apresentaram resultados semelhantes, com 8% e, por fim, com apenas 3% com tutores e colegas do curso. Gráfico 4. Onde você costuma acessar mais as informações sobre seu curso? Já sobre o cadastro em alguma rede social, a maioria (64%) dos respondentes escolheram o Facebook em primeiro lugar, seguido pelo Twitter com 17%. Não possuir cadastro em nenhuma rede social representou 11% e, por último, Instagram e Linkedin, com 6% e 2% respectivamente. Gráfico 5. Você possui cadastro em alguma rede social? Qual? Em seguida, sobre o acesso às redes sociais, questionou-se a frequência de acesso. Os dados apontam para 56%, que acessam 8 diariamente, 31% esporadicamente, 8% não se interessa por conteúdos da rede e 6% permanecem ansiosos conectados. A partir desses dados é possível afirmar que as redes sociais possuem um grande potencial paracolaborar no processo de interatividade na EaD. Conforme Mattar (2012), isso contribui para o aprendizado do estudante, uma vez que, ao mesmo tempo em que lhe fornece um feedback, também o motiva. Gráfico 6. Com que frequência você acessa redes sociais? Ainda sobre a utilização das redes sociais para obter informações do seu curso, a maioria respondeu 39% na opção esporadicamente; 22% afirmou não utilizar a rede social com essa finalidade, seguido de 19% que têm comunidade para compartilhar as informações do curso e 17% acessam todos os dias. Mesmo que a utilização das redes sociais para compartilhar informações sobre seu curso, não seja ainda uma característica marcante dos alunos, como expressam os dados, é possível apontar que a sua utilização pode colaborar para superação da sensação de isolamento por parte de alguns estudantes. Nesse sentido, para Villardi e Oliveira (2005, p. 46): O isolamento, uma das características mais marcantes do ensino a distância, e uma das causas de seus elevando índices de evasão, deve ser substituído, por meio da interveniência da tecnologia, pela possibilidade de aprender junto de construir coletivamente na Educação a Distância. Desta maneira, reafirma-se a concepção de EaD como práxis social da qual participam sujeitos históricos que realizam processos de ensino e aprendizagem com o apoio de suportes tecnológicos para efetivar a inter- relação entre ambos (LOPES e FARIA, 2013). 9 Sobre o Ambiente Virtual Aprendizagem utilizado no curso, metade, 50% o avaliou como bom; 33% o considera ótimo, 11% não respondeu, e uma pequena parte, ambas com 3% optaram pela escolha “outra” e às vezes não encontro o que procuro. Quanto ao domínio do ambiente virtual de aprendizagem que utilizam, 42% dos estudantes afirmaram ter um bom conhecimento em virtude de terem realizado anteriormente cursos básicos de informática, 28% o avaliaram como ótimo, pois têm muita facilidade com informática, 11% têm dificuldade e só o acessam com ajuda do tutor; 3% optaram por pedir ajuda a filhos, também 3% escolheram a opção “outros”, e, o mesmo número, 3%, selecionaram a opção referente à insistência, ou seja, tentam até conseguirem o que desejam. Sobre a participação em grupos de redes sociais que falem sobre sua área de estudo, 36% dos estudantes responderam que não participam desse tipo de grupo. Outros 50% afirmaram participar desses grupos, dos quais metade diz ser ativamente. 4- Considerações Finais O advento da informática tem trazido grandes mudanças no mundo atual, inclusive na área educacional. Diante dessa realidade, a presente investigação buscou realizar uma reflexão acerca do uso de redes sociais na nos processo de ensino-aprendizagem na EAD em nível superior. Os resultados alcançados apontam que a grande maioria desses alunos provém do ensino médio público presencial, optou pela educação a distância por falta de tempo, utiliza corretamente o AVA e tem acesso frequente a correspondências eletrônicas em casa por meio de computador pessoal. Em relação a acessá-lo para estudo, o fazem diariamente ou semanalmente. Destacou-se o facebook como rede social mais utilizada, porém, apenas uma minoria o utiliza diariamente para fins de estudo. Por meio desses dados, infere-se que embora as redes sociais possam vir a se constituir como uma grande contribuição para a metodologia EAD, os alunos ainda não a utilizam como instrumento de apoio à aprendizagem, apesar de o fazerem como meio de comunicação social. Sugere-se, portanto, 10 uma maior ênfase dos docentes nesse aspecto, bem como, maiores pesquisas sobre o tema, pois se acredita que se trata de um meio eficaz de interatividade. Referências FISHER, 2002 apud PHILLIPS; BAIRD; FOGG, 2012, p.16). . Facebook para Educadores. Disponível em: <http://educotraducoes.files.wordpress.com/2012/05/facebook-para- educadores.pdf> Acesso em: 15/ abr. 2014. LÉVY, P. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999, p. 11. ______. ______. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999, p.172. LOPES, Luís Fernando; FARIA, Adriano Antônio. O que e o quem da EAD: História e Fundamentos. Curitiba, Intersaberes, 2013. MATTAR, J. Facebook em e Educação. (2012) Disponível em: http://joaomattar.com/blog/w2rse/ Acesso em: 26/abr.2014. MATTAR, J. Tutoria e interação em educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2012. MOSER, A.; ALENCASTRO, M. S. C. Considerações acerca da aprendizagem pelas redes sociais. Revista Intersaberes. Edição Especial. Vol. 8 nº. 1, 2013, p. 99. Disponível em: http://www.grupouninter.com.br/intersaberes/index.php/intersaberesedicaoespe cial/article/view/541 Acesso em: 28/abr. 2014 PHILLIPS, Linda Fogg; BAIRD, Derek E.; FOGG, B. J. Facebook para Educadores. (2012, p.3). Disponível em: <http://educotraducoes.files.wordpress.com/2012/05/facebook-para- educadores.pdf> Acesso em: 15/ abr. 2014. ______. ______. (2012, p. 13). Disponível em: <http://educotraducoes.files.wordpress.com/2012/05/facebook-para- educadores.pdf> Acesso em: 15/ abr. 2014. VILLARDI, R. e OLIVEIRA, E. G. de. Tecnologia na educação: uma perspectiva socio-interacionista. Rio de Janeiro: Dunya, 2005. 1 WEBCONFERÊNCIA: AUXILIANDO NA DIMINUIÇÃO DA DISTÂNCIA TRANSACIONAL NA EAD Pelotas – RS – maio 2012 Gabriela Jurak de Castro – UCPel – gabrielajurak@ucpel.tche.br Taísa da Silva Bastos – UCPel – tbastos@ucpel.tche.br Letícia Marques Vargas – UCPel – lvargas@ucpel.tche.br Categoria C Setor Educacional: 3 Classificação das Áreas de Pesquisa em EaD: Macro: D Meso: H Micro: N Natureza: C Classe: 1 Resumo O uso de novas tecnologias na Educação a Distância tem contribuído para a diminuição da distância transacional. Esta é uma teoria desenvolvida por Michael Moore e presente tanto EaD, como também na educação presencial. Estudos revelam que a afetividade é fator determinante no aprendizado e, sendo o homem social, a necessidade de interação para a construção do conhecimento é fator que deve ser discutido e analisado. Nesse contexto a webconferência surge como uma ferramenta de áudio, vídeo e compartilhamento capaz de proporcionar presencialidade síncrona. Ao se conhecer o potencial pedagógico da webconferência é possível utiliza-a de forma mais efetiva, desenvolvendo atividades que envolvem o uso de suas ferramentas e proporcionando um espaço de interação professor-aluno mais construtivo e dinâmico. Palavras-chave: EaD, Distância Transacional, Webconferência 2 Introdução A Educação a Distância, em conjunto com a evolução tecnológica e a inclusão digital, tem crescido em números exponenciais. Os crescentes avanços tecnológicos geram um grande impacto nas organizações empresariais e na sociedade como um todo. A globalização da economia e a consciência ecológica, a formação de blocos econômicos e os padrões tecnológicos são tendências que começaram a ser consolidadas no final do século XX. As mudanças ocasionadas pelos avanços tecnológicos e pela revolução da informação estão transformando a sociedade industrial em sociedade da informação. A Tecnologia da Informação (TI), fortalecida a cada dia, é a base dos pilares desta nova sociedade. A TI vem sendo cada vez mais utilizada nas organizações e a sua não utilização se tornou praticamente impossível. Tendo em vista que a TI é cada vez mais relevante na obtenção de competência e competitividade, a sua administração deve estar entre os principais focos de toda a estratégia organizacional.As organizações bem-sucedidas, de qualquer setor, baseiam suas estratégias no uso dessas tecnologias, que permitem inovação, melhoria na qualidade e novas abordagens de relacionamentos com seu público-alvo. A nova era tecnológica afeta também a educação, trazendo novas possibilidades de aprendizado e expandindo o alcance da aprendizagem através do Ensino a Distância. As instituições estão buscando alternativas, substituindo formas tradicionais de ensino, bem como, os meios convencionais de formação acadêmica, buscando soluções mais eficazes com ajuda das novas tecnologias. Estudos acadêmicos indicam a existência de uma interdependência entre o estado emocional e a aprendizagem, independente da modalidade de ensino, ou seja, tanto presencial quanto a distância percebe-se uma interferencia da emoção no processo educacional. Nesse contexto, a interatividade torna-se um elemento essencial, tendo o professor a distância um papel social, auxiliando no desenvolvimento do senso de comunidade da turma, uma das características esperadas de um aluno de EaD. 3 Contexto Pedagógico A Educação a Distância não é novidade no âmbito educacional mundial. No Brasil, o marco inicial da EaD foi o ensino por correspondência que surgiu com o Instituto Monitor em 1939, seguido pelo Instituto Universal Brasileiro sete anos mais tarde. Ao analisar a linha evolutiva da educação encontram-se diversos projetos na modalidade à distância nos mais diferentes formatos e localidades. Para garantir a qualidade dos inúmeros modelos de EaD, o Ministério da Educação (MEC) definiu referenciais de qualidade para educação superior a distância que envolvem aspectos pedagógicos, recursos humanos e infraestrutura. De acordo com o MEC, entre os tópicos principais do projeto de um curso superior a distância devem estar: concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem; sistemas de comunicação; material didático; avaliação; equipe multidisciplinar; infraestrutura de apoio; gestão acadêmico-administrativa e sustentabilidade financeira. A internet destaca-se na Educação a Distância e a característica principal que impulsionou a sua aplicação na EaD foi a possibilidade de manter, de forma fácil e rápida, a interação professor-aluno. A troca de informações pode ocorrer de forma síncrona, em que o professor e aluno devem estar utilizando o recurso no mesmo instante, e de forma assíncrona, em que a interação ocorre independente da presença de ambos, podendo ser realizada em momentos distintos. As ferramentas síncronas têm como vantagem a possibilidade de interação em tempo real, não sendo necessário esperar para obter respostas ou realizar discussões. Entretanto, sua utilização é limitada, porque existe incompatibilidade de horários entre alunos e professores e os recursos tecnológicos são mais complexos. Como síncronas, podem ser citadas as ferramentas de chat (bate-papo) e de conferências. As ferramentas de interação assíncronas, como e-mail (correio- eletrônico), fóruns e websites, não exigem a presença dos atores do processo ensino-aprendizagem no mesmo momento, então torna-se mais flexível a interação entre eles. O aluno pode enviar suas dúvidas a qualquer momento e o professor poder respondê-las sem a preocupação da iminência do final da aula. 4 A combinação destas ferramentas torna a internet um meio flexível e dinâmico para o desenvolvimento da EaD. A tecnologia permite personificar o ensino, ou seja, é possível construir o conhecimento face a face, uma vez que as tecnologias disponíveis na internet permitem reconstruir virtualmente a interação que ocorre na educação tradicional e presencial. Tecnologias de informação na educação A constante evolução de demandas organizacionais e tecnológicas exige que as estratégias de aprendizagem também evoluam para incorporar tudo o que a Tecnologia da Informação proporciona. A tecnologia traz a possibilidade de maior desenvolvimento da aprendizagem e comunicação, entretanto, para que as Tecnologias da Informação, efetivamente cumpram o seu papel como um recurso para a educação, o processo pedagógico tem que ser revisto e atualizado e se tornar compatível com os momentos atuais. A criação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem possibilita que os alunos se relacionem, trocando informações e experiências. Os professores têm a possibilidade de realizar trabalhos em grupos, debates, fóruns, dentre outras formas de tornar a aprendizagem mais significativa. Ambiente de aprendizagem é aquele que propicia ou potencializa a aprendizagem, tendo como elementos constitutivos: a estrutura física (concreta ou virtual); as metodologias empregas, possibilitadas pelo ambiente;bem como as condições de socialização; todos esses elementos devem estar articulados e não justapostos como se fossem aspectos isolados. [1] Os modelos pedagógicos que suportam tais tecnologias ainda estão sendo desenvolvidos, porém os bons resultados que estão sendo obtidos permitem a geração de grande quantidade de conteúdos educacionais de qualidade, em formato digital, com um amplo potencial de aproveitamento, proporcionando a redução de custos e viabilizando a inclusão digital, permitindo o acesso do indivíduo excluído e carente aos meios de aprendizagem. A construção do próprio conhecimento depende da infraestrutura e da vontade de cada indivíduo, sendo influenciada pelas crenças pessoais, emoções e habilidades de cada um. 5 A educação e o treinamento à distância surgiram de forma inovadora e a internet tem um papel fundamental neste contexto. Assim, o ensino a distância vem sendo implantado como uma proposta de sistema de educação do futuro, que se adapta às mudanças que vêm ocorrendo no mundo e consequentemente ao estilo de vida das pessoas. Há instituições que oferecem exclusivamente a Educação a Distância, como a Open University da Inglaterra ou a Universidade Nacional a Distância da Espanha. Entretanto, a maioria das instituições que oferece cursos à distância também oferece cursos presenciais, como é o caso das universidades brasileiras. Para ofertar cursos à distância são necessárias adaptações, não basta repetir os mesmos procedimentos dos cursos presenciais. As mudanças vão desde a linguagem que deve ser mais clara e objetiva, até o papel do professor que é completamente diferente, ele é mais um orientador de informações e promotor de temas para reflexão e discussão. A transmissão de informações pode ser realizada através de diversos ambientes virtuais de aprendizagens, que devem ser analisados com a finalidade de se identificar qual possui os recursos necessários para o alcance dos objetivos da instituição. Interação e Interatividade na Educação a Distância A busca pela interatividade na execução de um projeto educativo a distância deve ser item primordial durante a elaboração do mesmo. A previsão de meios de comunicação que garantam a interatividade deve receber atenção dos gestores, de forma a criar uma via de mão dupla, ou seja, não basta disponibilizar os meios sem existir uma capacitação eficiente e um uso adequado de todos os agentes envolvidos. O computador e a internet permitem a união de diferentes tecnologias, as quais atendem as necessidades individuais dos discentes, tendo nesse sentido papel social e integrador, permitindo que pessoas dos mais variados mundos interajam e construam comunidades educacionais antes dificultadas pela distância. Nesse cenário, e principalmente em um ambiente de educação a distância, o papel do professor torna-se mais complexo, pois além dos desafios ordinários deincentivo, construção e circulação de conhecimento, apresenta-se 6 o elemento distância física, mas conectada através de uma nova configuração social e cultural desenvolvida ao longo dos últimos anos. Levando-se em consideração a teoria construtivista de Piaget, e tendo como base a percepção de que o aprendizado do ser humano se dá basicamente pela observação do mundo que o cerca, percebe-se que a interação é elemento fundamental no desenvolvimento educacional humano. A interação professor-aluno só é positiva quando a necessidade de ambos é atendida, quando há uma cumplicidade, quando os interlocutores são parceiros de um jogo; o jogo da linguagem, do diálogo, que é algo fundamental. É casar interação com conversação. [2] Na Educação a distância, a tecnologia deve fazer o papel de mediadora da comunicação discente-docente. Toda a interação se torna válida ao se utilizar as ferramentas adequadas para a interatividade. Distância Transacional A teoria da Distância Transacional, de Michael Moore, é um conceito pedagógico que trata da relação professor - aluno na educação, quando esses estão separados no espaço e/ou no tempo, sendo considerada uma teoria unificadora da sua Teoria sobre a Autonomia do Aluno. O conceito de transação deriva da definição da interação entre os indivíduos e o meio, sendo essa relativa ao espaço educacional, ou seja, uma interatividade social. A distância transacional varia de acordo com o nível de envolvimento proporcionado pelo curso, independente da modalidade. Vale ressaltar que a distância geográfica é apenas um agravante desta condição psicológica de solidão, não se trabalha com o conceito de transacionalidade apenas na EaD, esta pode estar muito bem instalada em cursos presenciais. Aulas sem dialogo sempre caracterizarão uma grande distância transacional, enquanto que, discussões síncronas desenvolvem pequena distância transacional. Na EaD, o uso da tecnologia como mediador da comunicação professor- aluno, exige a concepção de ambientes diferenciados, em que a interação é um elemento chave, incrementa a relação do educando - educador e afasta o fantasma da evasão. (..) a distância transacional não interessa a distância física entre professor e aluno, ou mesmo entre os alunos, mas sim as relações pedagógicas e psicológicas que se estabelecem na EAD. Portanto, 7 independentemente da distância espacial ou temporal, os professores e os alunos podem estar mais ou menos distantes em EAD, do ponto de vista transacional. [3] Michael Moore trabalha a distância transacional na EaD como sendo aquela que ocorre entre os alunos e seus professores, inseridos em um espaço geograficamente separados mas tecnologicamente conectados. A educação deve ser vista como uma prática essencialmente social, na qual o professor deve transpor os muros escolares e as barreiras geradas pela separação física. Apesar desta distância geográfica, a interação através das TIC permite a construção de um espaço psicológico propício ao desenvolvimento cognitivo e consequentemente a diminuição da distância transacional. A interação dialógica e positiva, portanto, passa a ter papel fundamental na Educação a Distância na medida em que se torna determinante na construção do conhecimento em um curso on-line. Usualmente, os conceitos de diálogo e interação são utilizados como sinônimos, entretanto, segundo Moore: [...] uma distinção pode ser feita. O termo ‘diálogo’ é usado aqui para descrever uma interação ou série de interações que possuem qualidades positivas que outras interações podem não ter. [...] Pode haver interações negativas ou neutras; o termo diálogo é reservado para interações positivas, onde o valor incide sobre a natureza sinérgica da relação entre as partes envolvidas. O diálogo em uma relação educacional é direcionado para o aperfeiçoamento da compreensão do aluno .[4] Percebe-se a importância da interação, diálogo, entre todos os agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem a distância. Os meios de comunicação, utilizados para promover a interação, compõe o conjunto de ferramentas disponíveis aos educadores na busca pela ampliação do diálogo e, consequentemente, diminuição da distância transacional. Webconferência As tecnologias atuais permitiram o avanço da presencialidade independentemente da posição geográfica dos indivíduos. Nesse cenário desenvolve-se o conceito de reunião ou conferência virtual, a qual se caracteriza por ser um encontro realizado através da internet, em tempo real, 8 com a utilização de aplicativos/equipamentos com recursos de compartilhamento de voz, vídeo, textos e arquivos. Esta tecnologia desenvolveu-se a partir do uso do áudio como meio de comunicação a longa distância, a inserção de imagem e voz democratizou o acesso a reuniões e diminuiu as distâncias geográficas. Existem diferentes tipos de conferência, sendo a vídeo e a web as mais utilizadas atualmente. A videoconferência permite estabelecer uma interação entre duas ou mais pessoas em localidades distantes geograficamente, através de dispositivos específicos, gerando a impressão de estarem todos no mesmo ambiente. No entanto este sistema não é tão comum por possuir um alto custo de implementação. Na Internet, a videoconferência traz ao modelo de EAD alguns avanços relacionados à tão criticada impessoalidade existente nas demais ferramentas. Ela permite estabelecer um contato visual entre o alunos e professores, deixando este de ser um mero referencial simbólico que faz contato por cartas eletrônicas para desenvolver a personificação dos indivíduos envolvidos na interação. [5] O termo webconferência deriva do inglês web conferencing, que é a realização de apresentações e/ou encontros remotamente através da internet. Os termos web conferencing e computer conferencing são frequentemente utilizados para definir discussões realizadas através de mensagens, geralmente, assíncronas. Entretanto estes termos fazem menção a sistemas que permitem a comunicação síncrona. Na webconferência, cada participante utiliza seu próprio computador, sendo a conexão com outros usuários realizada através de um sistema, que pode ser um aplicativo instalado no computador do cliente ou aplicações on- line, em que o usuário acessa um site e se conecta ao sistema. Através de conferências é possível a realização de atividades totalmente à distância, sem perder a qualidade de interação e comunicação. Existem diversas ferramentas com as quais é possível diminuir a distância transacional, como chat, fórum e wiki, contudo a webconferência é a aplicação mais completa. O uso da webconferência facilita o processo de comunicação entre educador e educando, permitindo a construção do conhecimento mais profunda e abrangente. O diálogo entre os envolvidos se torna mais dinâmico, a 9 ferramenta permite a interação e integração de ideias de forma síncrona. Essa forma de interatividade favorece não só aquele aluno extrovertido que costuma dominar as discussões no ambiente escolar, mas também aquele estudante mais reflexivo que encontra um espaço propício para o compartilhamento de ideias. O uso de webconferência na EaD ainda esbarra em questões técnicas como, por exemplo, a velocidade da internet em determinadas localidades e equipamentos defasados. Para que a ferramenta seja utilizada de forma totalmente eficiente é necessário que as partes envolvidas possuam um bom acesso a internet e um equipamento com as configurações mínimas exigidas. Nesse aspecto destaca-se a importância dos polos de apoio presencial espalhados por todo o país.Metodologia Frente aos questionamentos de quais são as potencialidades educacionais da webconferência e como esta pode ser associada à prática docente, foi realizada uma análise do uso desta ferramenta baseada em experiências de outras instituições. Durante a análise percebeu-se que o uso da webconferência motiva positivamente os estudantes e os professores envolvidos. Na Educação a Distância esta motivação e interação entre os agentes proporcionam a diminuição da distância transacional e evita a evasão. Segundo Antônio Severino (2007) [6], a pesquisa bibliográfica é realizada a partir de dados trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados em livros, artigos e teses. Já a pesquisa documental possui um leque mais amplo, onde não só documentos impressos são utilizados como fonte, jornais, fotos, filmes, documentos legais e gravações também podem ser utilizados. A investigação cientifica realizada no presente artigo é baseada em buscas bibliográficas e um estudo caso-controle, analisando experiências de outras instituições que já utilizam a ferramenta a fim de compor as respostas almejadas. Diferentemente dos estudos de coorte e dos ensaios clínicos, os estudos de caso-controle são retrospectivos. São estudos ex-post- 10 facto, ou seja, feitos de trás para frente, depois que os fatos ocorreram. [7] Materiais esparsos, como tutoriais e cursos sobre o assunto também auxiliaram a análise para compreender o suporte oferecido aos professores e estudantes no uso da ferramenta e como esta auxilia na diminuição da distância transacional na EaD. Potencialidades e perspectivas A webconferência proporciona um espaço de interação entre todos os agentes envolvidos, promovendo uma motivação a mais dos estudantes ao terem contato face a face com seus professores. O uso desta ferramenta proporciona uma ampliação das discussões e um aprofundamento das temáticas estudadas que talvez não haveria se fosse utilizado apenas o ambiente virtual de aprendizagem tradicional. A utilização da webconferência para a orientação e socialização de trabalhos de conclusão de curso é uma das vertentes a serem implementadas na instituição, permitindo a aproximação dos estudantes localizados nas diferentes unidades de apoio com seus professores e tutores. Neste ponto vale ressaltar a importância do uso das ferramentas de áudio, vídeo e texto em um mesmo espaço para a construção e socialização dos conteúdos pelo professor. Esta mistura de recursos proporciona um alcance cognitivo mais abrangente e facilita o processo de ensino- aprendizagem. Estamos frente a uma mudança do modo de ensinar, a prática docente deve ser modificada de forma a permitir a transição entre a sala de aula presencial e a sala conectada em tempo real, na qual temos interação síncrona entre pessoas que estão geograficamente distantes. A webconferência permite o compartilhamento do conhecimento de forma conectada e dinâmica. Conclusão O avanço tecnológico e a expansão do acesso a internet propiciaram um aumento exponencial dos cursos a distância no país. As peculiaridades da Educação a distância exigem uma atenção diferenciada em relação a forma 11 com a qual o conteúdo é disponibilizado aos estudantes e a maneiro com a qual a comunicação professor-aluno é realizada. Não se deve definir a Educação a Distância como sendo aquela realizada distante geograficamente. Esta separação física pode, e deve ser transposta com o uso de diferentes ferramentas tecnológicas existentes. Levando-se em consideração a teoria da distância transacional, um curso na modalidade EaD poderá ser mais distância que outro de acordo com o grau de interatividade introduzido na estrutura do mesmo, ou seja, quanto mais comunicação síncrona de qualidade existir entre educadores e educandos menor será o sentimento de solidão e abandono desses. A webconferência é uma das ferramentas mais completas disponíveis para auxiliar na diminuição da distância transacional na Educação a Distância. É importante que a instituição, em conjunto com a equipe de professores, esteja atenta a necessidade de presencialidade, mesmo que virtual, nos cursos a distância como forma de minimizar os efeitos da distância psicológica. Ao aumentar a interação diminui-se a distância transacional e, consequentemente, a evasão. O uso da webconferência como ferramenta de ensino na Educação a Distância não é novidade, mas percebe-se a necessidade de uma maior discussão sobre o tema, já que muitas vezes a ferramenta é subutilizada e acaba por não alcançar total eficiência. A diminuição da distância transacional com o uso da webconferência é questão a ser debatida no meio acadêmico. É importante conhecer as potencialidades da ferramenta e os fatores que levam a existência deste sentimento de isolamento pelo aluno EaD para a correta adaptação do aplicativo ao curso a distância. Independente do curso ou metodologia aplicadas a webconferência é uma ferramenta de grande potencial que deve ser inserida e utilizada em todos os ambientes educacionais. Referências [1] ALLEGRETTI, Sonia. Diversificando os ambiente de aprendizagem na Formação de professores para o desenvolvimento de uma nova cultura. Tese de doutorado, PUC/SP, 2003. 12 [2] CHALITA, G. 2002 [online]. P ,. Disponível em <http://www.educacao.sp .gov.br>. Acesso em 10 mai.2012. [3] MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD – A educação a distância hoje . 1° ed. Editora Pearson; São Paulo. 2007. [4] MOORE, Michael G. Teoria da Distância Transacional. In: KEEGAN, D. Theoretical Principles of Distance Education. London: Routledge, 1993. p. 22- 38. Traduzido por Wilson Azevêdo, com autorização do autor. Revisão de tradução: José Manuel da Silva. [5] BRITO, Mário Sérgio da Silva. Tecnologias para EAD – Via Internet. In: ALVES, Lyan; NOVA, Cristiane (Orgs). Educação e tecnologia: trilhando caminhos. Salvador: Editora da UNEB, 2003. [6] SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho científico. 23° ed. São Paulo: Cortez Editora, 2007. [7] GIL, Antônio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 5° ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010. CURSO: USO DE WEBCONFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA TEXTO COMPLETO 1 PPAACCCC 1 Curso Uso da Webconferência em Educação a Distância Este curso, fomentado pela CAPES, no Programa Anual de Capacitação Continuada, foi criado a partir de experiências com webconferência em Educação a Distância realizadas pela equipe de formação do PACC/UAB/UFABC. Autores do curso Coordenadora do curso Prof. Dra. Silvia Dotta silvia.dotta@ufabc.edu.br Professora pesquisadora Érica Jorge Tutores Camila Areias de Oliveira Lays Batista Fitaroni MsC. Paulo Henrique Lopes Aguiar Regina Carteano Bandeira Ronaldo Tedesco Silveira Colaboradores Prof. Dra. Juliana Braga Prof. Dr. Edson Pimentel Prof. Dra. Lúcia Franco PACC – Programa Anual de Capacitação Continuada Curso: Uso da webconferência em EaD, de Dotta, S (Coord.), Aguiar, P.; Areias, C. Carteano, R. Fitaroni, L; Jorge, É. Oliveira, C.A.; Tedesco,, R., é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 3.0 Não-Adaptada. Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponíveis em http://uab.ufabc.edu.br. CURSO: USO DE WEBCONFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA TEXTO COMPLETO 2 PPAACCCC 2 Sumário Unidade 1: Fundamentos da Comunicação Virtual ............................................ 3 Unidade 2:
Compartilhar