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Resenha Mydral cap 2-4

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DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
MYRDAL, Karl Gunnar. “Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas” (Capítulos 2 a 4)
Os capítulos 2, 3 e 4 do livro de Myrdal giram em torno de uma intensa discussão envolvendo o mecanismo popularmente conhecido como “círculo vicioso”, um processo pelo qual dados fatores exercem pressão sobre outros que, em reação, aplicam o mesmo efeito sobre os primeiros fatores, os quais, por sua vez, tornam a pressionar os outros fatores, e assim sucessivamente. Ou seja, é um processo caracterizado por uma forte interdependência entre os elementos. O autor aponta a existência de vários “processos acumulativos” como esse na economia, que ocorrem inclusive em direções opostas, e destaca que eles podem vir a servir de base para a visão de uma teoria geral do desenvolvimento e do subdesenvolvimento.
Myrdal aponta que a amplamente difundida hipótese de um “equilíbrio estável” não se aplica à realidade social, não sendo verificada na prática. A transformação de um fator não resulta, em nenhum momento posterior, em efeitos – nem mesmo indiretos - que compensem os que foram gerados inicialmente. Pelo contrário, a tendência é de que os efeitos posteriores reforcem o resultado de mudanças ocorridas anteriormente. Ou seja, o sistema se afasta, e frequentemente em uma velocidade cada vez maior, de uma posição de equilíbrio. Segundo o autor, após um choque, somente forças exógenas - na forma de interferências políticas, por exemplo – podem ser capazes de recolocar o sistema em uma situação estável.
Sendo verdadeiro o princípio de acumulação presente no processo em questão, o autor argumenta que os efeitos resultantes de um choque sobre um sistema são muito superiores aos esforços e aos custos que poderiam ser exigidos do governo de um país, por exemplo, para gerar aquele mesmo choque. Esta informação fala a favor do uso desse mecanismo na elaboração de políticas públicas.
Para o autor, o passo inicial a ser dado quando da elaboração de políticas seria a decomposição do sistema abordado nos vários fatores que o compõem e a quantitatização das respectivas capacidades de influenciar e de serem influenciados por outros fatores ou forças externas. Tudo isso deveria ser feito tendo-se em mente, desde o começo, que a busca de um fator que predomine sobre os outros seria infrutífera, dado que todos os fatores se afetam mutuamente, de modo circular e interdependente. A partir daí, de acordo com o resultado desejado, escolher-se-iam os fatores em que se aplicar força. Myrdal acrescenta, nessa linha, que o estudo do desenvolvimento e do subdesenvolvimento deve se estender a fatores não econômicos, e que dificilmente a pressão sobre um único fator terá efeitos satisfatórios.
 O autor, em dado ponto, cita um exemplo abstrato de como o processo acumulativo pode ajudar no desenvolvimento de uma região. A instalação de uma indústria em uma comunidade eleva os índices de emprego e as rendas locais, além de incentivar o estabelecimento de novos negócios e o crescimento dos antigos em função do aumento da demanda por seus produtos e serviços. Afinal, as oportunidades de expansão atraem a mão-de-obra, o capital e a iniciativa de outros locais. Além do mais, a elevação dos lucros proporciona o aumento da poupança e - em uma escala ainda maior - do investimento, algo que, por sua vez, torna a expandir os lucros e a demanda.
No entanto, Myrdal argumenta que deixar a economia ser operada pelo jogo de forças do mercado tende a criar processos acumulativos que aumentam a desigualdade regional. Afinal, as mesmas vantagens competitivas que atraem determinadas atividades econômicas para uma determinada região retiram de outras, além das próprias atividades, a mão-de-obra, o capital e o comércio necessários ao desenvolvimento destas, o que muitas vezes torna essas outras regiões condenadas à estagnação ou à regressão. A razão disto se encontra na ocorrência, nessas regiões, do mesmo processo descrito no parágrafo anterior, porém no sentido oposto. Assim sendo, a industrialização dessas regiões é continuamente desencorajada, fazendo-as permanecer essencialmente agrícolas e mantendo baixo o nível de produtividade de suas atividades em geral. Ressalta-se que, contido nesse processo, está o fato de que a baixa renda de tais regiões não permite que elas consigam manter a qualidade de seus serviços públicos, desestimulando ainda mais sua competitividade.
Retoma-se a daí a questão dos fatores não econômicos. Myrdal argumenta que vários deles participam dos processos acumulativos, dando como exemplo a saúde e a educação da população, determinantes para a produtividade, e o caráter supersticioso e pouco racional das populações mais pobres, que as tornam menos ambiciosas e progressistas que outras regiões.
Um processo acumulativo que gerou desigualdade regional no Brasil se exemplifica pelo grande surto de industrialização que o Brasil passou a partir dos anos 50, com o Plano de Metas, que, ao concentrar seus esforços principalmente nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, causou uma grande onda de migração das outras regiões para lá. Como conseqûencia, mão-de-obra e capital, antes melhor distribuídos pelo Brasil, passaram a se acumular nessas regiões, o que as fortaleceu ao mesmo tempo em que enfraqueceu continuamente as regiões Norte e Nordeste. O resultado disso foi um grande atraso relativo dessas regiões, que só aos poucos está sendo revertido.
Tais efeitos adversos decorrentes de processos acumulativos são chamados, pelo autor, de “efeitos regressivos”. Para fazer oposição a eles, Myrdal apresenta o conceito de “efeitos propulsores” (centrífugos), que podem se apresentar em regiões localizadas tanto no entorno de um centro dinâmico – na forma de melhorias em infraestrutura, aumento de renda e de demanda e criação de mais e melhores postos de trabalho, entre outros - quanto em regiões mais distantes desse centro dinâmico – na forma, por exemplo, de benefícios oriundos de seu papel de fornecedoras de insumos produtivos. Estas regiões, ao experimentarem um aumento de demanda, de produção e de renda, podem ser transformadas em novos centros dinâmicos, que por sua vez que tornarão a causar efeitos em outras localidades.
Fatos empíricos observados no Brasil corroboram a argumentação do autor. A transformação da cidade de Betim em um grande centro produtor automotivo, por exemplo, causou impactos nos demais municípios em seu contorno, com destaque para o município de Contagem, com suas indústrias, e até mesmo para municípios distantes fornecedores de insumos para as fabricantes de autopeças.
De modo análogo, porém em nível nacional, a industrialização do Estado de São Paulo causou inúmeros efeitos propulsores em regiões do seu entorno, tais como o Sul de Minas e Rio de Janeiro, assim como em diversas regiões do país que atuam como fornecedoras de insumos à indústria.
Por fim, o autor apresenta duas conclusões inesperadas retiradas de uma análise feita pelo “Economic Survey of Europe” publicada pelas Nações Unidas em 1955, a saber: i) as desigualdades regionais são maiores nos países mais pobres da Europa Ocidental do que dos países ricos; ii) as desigualdades regionais apresentam queda nos países ricos e aumento nos países pobres da mesma região. Para Myrdal, os dois fenômenos servem de exemplos empíricos de efeitos regressivos e propulsores.
Outro ponto de destaque, que auxilia na explicação das duas conclusões acima, é o papel do Estado na condução de políticas que fomentem os efeitos propulsores e neutralizem os efeitos regressivos. Para Myrdal, as forças de mercado podem provocar ambos os efeitos e cabe ao Estado conduzir a nação ao desenvolvimento econômico. O autor destaca que os países pobres também adotaram políticas de fomento aos efeitos propulsores, mas não obtiveram sucesso devido à causação circular segundo a qual “a pobreza torna-se sua própria causa”. Em outras palavras, as características presentes em uma nação pobre tornam praticamente impossível a adoção de políticas nacionais que estimulemo desenvolvimento, já que é necessário que as regiões ricas financiem, por um intervalo de tempo, políticas que incentivem os efeitos propulsores, como acontece nas nações ricas.
Por conseguinte, o desenvolvimento econômico leva, também, a uma maior estabilidade política e a uma democracia mais sólida, tendo em vista que uma nação mais desigual elimina boa parte de suas dificuldades e conflitos internos, criando, segundo o autor, uma condição segundo a qual a manutenção do desenvolvimento passa a ser praticamente automática (uma ideia semelhante à fase pós-decolagem, de Rostow)

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