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Beverly Silver - Parte II

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Beverly Silver – As forças do trabalho
A partir de 1930, as mobilizações de trabalhadores da indústria automobilística se deslocaram da América do Norte em direção à Europa Ocidental, logo após para países de industrialização tardia. Para onde o capital foi os conflitos se tornaram presentes e mais fortes, sendo que o seu deslocamento apenas adiou a crise. As montadoras japonesas, entretanto, escolheram um caminho diferente do fordismo, com subcontratação com múltiplos estratos. Dessa maneira, era possível garantir o emprego da força de trabalho principal e manter com ela relações cooperativas, assim como conseguir materiais a baixo custo e flexibilidade da parte dos estratos inferiores da rede de fornecedores. O Japão representou uma exceção, na medida em que conseguiu escapar dos conflitos operários e, nos anos 70, com corte de custos (produção enxuta) pôde triunfar na competição global.
O processo de produção enxuta japonês se espalhou e diminuiu bastante com o poder de barganha dos trabalhadores, por volta dos anos 80 e 90. Mas a adaptação pós fordista do modelo enxuto não garantiu estabilidade no emprego, o que talvez tenha aumentado o poder de barganha no local de trabalho. De fato, todos os picos de movimentações trabalhistas na indústria automobilística possuem a característica da rapidez com que ganharam força e conseguiram resultados. Normalmente, elas também representaram uma virada nas relações capital trabalho em cada país que ocorreram e aconteceram de forma direta por meio de greves.
Da crise de 29 até 1958, aproximadamente, a não conversibilidade da moeda na Europa atrapalhou a rota de fuga do capital dos EUA. No entanto, assim que a Europa se estabilizou, as multinacionais do EUA a invadiram com investimentos. Grande parte da mão de obra dos dois lugares era composta por migrantes de regiões periféricas próximas e eram eles os responsáveis pelas mobilizações mais tarde do processo. No caso da Europa, havia uma diferença profunda entre as greves do nordeste e do sudoeste, já que estas últimas utilizavam mão de obra migrante do mesmo país, o que tornava as reações menos flexíveis e mais explosivas, assim como de maior consequências sociopolíticas. No início dos anos 80, atitudes foram tomadas com relação ao capital e os trabalhadores perderam sua força nas montadoras da Europa.
O Brasil surgiu como meio alternativo à Europa por apresentar características como: golpe militar que instalou um regime repressivo do movimento sindical e da classe operária. No final dos anos 70, uma nova onda de greves cresceu no mundo e o Brasil era um dos pilares principais, pelo poder que os trabalhadores conseguiram adquirir da importância que o setor automobilístico representava no Brasil. Em todos estes casos, as reclamações surtiram efeito e trouxeram ganhos para os operários, principalmente, de salário. Em fins de 60 e início dos 70, a África do Sul se tornou alvo de investimentos estrangeiros. As leis racistas garantiam mão de obra barata. A história novamente se repete com intensificação do poder de barganha dos trabalhadores, que não foram suprimidos, e levaram a saída de capitais da África do Sul em fins de 80.
A Coréia do Sul passou a receber mais investimentos de montadoras estrangeiras a partir dos anos 80, coincidindo com a época em que este capital fugia do Brasil e da África do Sul. Também ocorreu durante um regime autoritário que baniu os sindicatos. Esta expansão favoreceu o ambiente de produção para Hyundai, Kia e Daewoo que são três montadoras nacionais. A instalação das montadoras estrangeiras se deu por meio de joint venture. Em fins de 80, as agitações começaram e conseguiram trazer vitórias rápidas e dramáticas. Os trabalhadores não puderam ser contidos pela força do Estado. A resposta das montadoras passou a ser cada vez mais a automação da produção. A Coréia incentivou a expansão das montadoras nacionais no próprio país e fora dele. Um novo pico de militância ocorreu em 1996 e 1997 (crise financeira asiática), demonstrando que os movimentos operários apenas se fortaleceram neste período. Neste contexto, o México e a China passam a ser os novos alvos.
Quando perceberam que o deslocamento de capital não representava uma solução estável de longo prazo, as grandes montadoras europeias e estadunidenses mudaram a estratégia. A concorrência japonesa que começou a partir de 1980 reforçou a necessidade de mudança no processo de produção, que afetou profundamente a relação capital trabalho nesta indústria. São as transformações orgnizacionais pós fordistas. Seletivamente, as montadoras copiaram o esquema de produção japonesa, adotando entregas Just in time, trabalho em equipe, círculo de qualidade e uso de produtos e serviços terceirizados, porém não ofereciam estabilidade no emprego. O modelo enxuto foi, então, adotado mas de forma cruel. O sistema de terceirização Just in time, ao contrário do que se pensa, não enfraqueceu o poder dos trabalhadores de fazer greves na fábrica.
Alguns analistas perceberam que havia o problema da falta de cooperação na produção enxuta e cruel, devido a condições de salário, estabilidade e de trabalho. A terceirização em múltiplas camadas adotada pelo Japão favoreceu a mão de obra principal e garantiu fornecimento de recursos a baixo custo e flexibilidade. Evitando as demissões, a Toyota e outras montadoras conseguiram evitar o embate com militantes. No Japão, a classe trabalhadora inferior estava associada ao exército de reserva da zona rural e às mulheres. Em fins dos anos 90, fabricantes dos EUA e da Europa Ocidental começaram a adotar atitudes que se aproximavam do modelo enxuto e dual do Japão, com a cooperação dos trabalhadores. Durante a década de 60, o toyotismo evidenciava as contradições com o escasseamento do exército de reserva e com o aumento do poder de barganha dos trabalhadores inferiores. A solução foi: a riqueza do Japão permitiu uma estabilidade maior e salários melhores para os fornecedores, os estratos inferiores do fornecimento foram deslocados para países de baixos salários e a valorização do iene facilitou este processo. Porém, essa adaptação tem o limite de que em outros países, a atitude passiva dos trabalhadores não deverá ser verificada.

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