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Resumo do texto Adam Smith em Pequim (1)

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Resumo do texto “Adam Smith em Pequim” – Arrighi
Marx em Detroit, Smith em Pequim
A modernização chinesa possui características pragmáticas e grandiosas. Por muitos anos tentou-se defini-la como a transformação para um socialismo de mercado, porém tal conceito é bastante contraditório. Nos últimos anos a China entregou parte de seu monopólio estatal a grandes grupos de poder financeiro. A economia se dinamizou, contudo aumentou as desigualdades sociais no país. A existência de um Estado de direito imperfeito acaba levando à formação de uma economia de mercado elitista. Tem se tentado desenvolver uma solução para esses conflitos no âmbito prático. Já no âmbito teórico, Arrighi procura desenvolver algumas ideias.
Mario Tronti demonstrou que os partidos democráticos europeus tentaram criar uma real luta de classes em seus países, de acordo com o princípios marxistas. Nos EUA não havia muito espaço para a discussão marxista nos partidos, porém ali a classe trabalhadora ganhou força para pressionar o capital a se reestruturar. Marx vivia ideologicamente na Europa, mas nos EUA estavam as relações de capital e trabalho puramente marxistas. Por isso Tronti deu a seu livro o título de Marx em Detroit.
A discussão marxista rodou o mundo em meados do século XX e formou bases para os regimes cubano, chinês, angolano, entre outros. A volta da discussão para o 1º mundo se deu na prática nos EUA e nas relações de disputa entre capital e trabalho.
Marx previu que a interdependência das nações industriais levaria a uma redução de diferenças fundamentais no mundo industrial. Verifica-se ,contudo, um crescimento da divergência entre as nações. André Gunder Frank apresenta uma metáfora do desenvolvimento do subdesenvolvimento, para explicar tal divergência. São mantidas relações de exploração que permitem a expansão de apenas alguns no sistema. Tal metáfora foi bastante criticada por reduzir as relações de classe a um aspecto apenas de centro-periferia. Um desses críticos foi Robert Brenner, que concorda que a simples expansão do comércio e investimento não leva a um desenvolvimento econômico capitalista, porém as causas disso não se justificam pela tendência polarizadora da formação de mercados, e sim pela incapacidade de desenvolvimento capitalista num cenário em que o nível local não apresente condições sociais adequadas para isso. As condições sociais fundamentais seriam: 1) os que organizam a produção precisam ter perdido a capacidade de reproduzir a si mesmos e sua posição de classe estabelecida fora da economia de mercado. 2) Os produtores diretos precisam ter perdido controle dos meios de produção.
A primeira condição faz com que os organizadores da produção entrem na competição e busquem inovar e reduzir custos. A segunda condição permite que os produtores vendam sua força de trabalho e se submetam à disciplina dos organizadores. A ocorrência dessas condições depende da história social de cada país. Assim, o desenvolvimento que Marx previu no Manifesto não se concretizou, pois somente em alguns países a luta de classes criou as condições necessárias. Brenner compara seu modelo de desenvolvimento com o de Smith, no qual a riqueza de um país é função de sua especialização de tarefas produtivas. Na China não houve perda completa do controle do meios de produção por parte dos produtores. Assim, segundo as condições de Brenner, apesar da disseminação de trocas de mercado na busca do lucro, o desenvolvimento chinês não necessariamente capitalista. Também não é totalmente comunista. O socialismo foi derrotado por lá, mas o capitalismo ainda não venceu. 
A dinâmica do ressurgimento chinês pode nos levar a uma análise histórica do desenvolvimento da Europa e da China em conjunto. No século XVII e XVIII, a Europa e a China passavam pela mesma dinâmica smithiana de equilíbrio de alto nível, já no século XIX a Europa ultrapassou seus limites e alcançou um forte desenvolvimento. O enigma não é porque a China ficou presa numa armadilha de equilíbrio de alto nível, mas porque a Europa escapou dessa armadilha na Rev. Industrial. Smith não previu que a Rev. Industrial mudaria esse cenário, além disso o mercado de bens e fatores da Europa podia ser mais eficiente do que na China. Smith pode ter identificado uma maior implantação de um sistema de livre mercado na China e a interpretação da Riqueza das Nações pode ser feita segundo essa visão. 
Alguns autores tentam explicar os diferentes percursos do equilíbrio smithiano de Europa e China. Para alguns, a explicação permanece apenas na existência de carvão como suprimento energético abundante na Europa. Outros autores ampliam a discussão, atentando a fatores endógenos também. Frank entende que houve excesso de mão de obra e escassez de capital na China, enquanto houve excesso de mão de obra e excedente de capital na Europa. Por fim, há historiadores que dão importância à existência de colônias provedoras de matéria prima e alimentos, e consumidoras de manufaturas, como a América. Arrighi demonstrou que a hipótese de que a abundância de carvão levou a Inglaterra à Revolução Industrial é fraca, visto que a China é igualmente farta em jazidas.
A partir dessas críticas, Brenner enfatiza sua teoria de que a dependência dos agentes em relação ao mercado como condição de concorrência mútua, força a todos a se especializarem, inovarem e investirem. Mas nesse ponto, o autor considera alterou sua visão sobre o crescimento smithiano, que antes era auto limitante, mas depois o considerou autossustentável. Já Huang entende que a crise que conteve a China não se iniciou apenas pelas limitações de subsistência da região, mas também pelo fato de haver crescente dependência dos agentes econômicos em relação ao mercado. 
Arrighi, por fim, considera que o Modelo da Grande Divergência, que tenta explicar essa diferenciação de China e Europa Ocidental, não deve apenas revelar a origem desse sistema, mas sua evolução ao longo do tempo.
Em relação ao impacto populacional e da proporção homem-terra, Kaoru Sugihara considerou importante pensar como a explosão demográfica do Leste Asiático decorreu da absorção da mão de obra pelos inúmeros setores intensivos em mão de obra, que reagiam contra as restrições de recursos naturais. 
O conceito de Revolução Industriosa foi lançado por Hayami Akira, em referência ao Japão no período Tokugawa, quando houve fim da servidão, fortalecimento da agricultura familiar e escassez de terra arável. Nessas condições, surgiu um modo de produção baseado fortemente no investimento de mão de obra humana. Esse conceito foi utilizado para a Europa Ocidental no sentido da crescente demanda das famílias rurais por bens de mercado. No caso da China, a Revolução Industriosa não foi considerada como preâmbulo à Revolução Industrial, mas como desenvolvimento baseado no mercado. De todo modo, essa tendência asiática em aproveitar os recursos de mão de obra a fim de consolidar um modelo de produção foi bem sucedida. No início do século XX, a competitividade dos produtos japoneses foi bastante elevada pela utilização intensa de mão de obra. Contudo, até o fim da 2ª Guerra, essa relação de aproveitamento de mão de obra abundante na Ásia permaneceu limitada. Com o fim da Guerra houve o estabelecimento da Guerra Fria e uma investida americana na criação de complexos industriais militares. O Japão logo aproveitou essas oportunidades, aproveitando a demanda por setores intensivos em trabalho e também setores intensivos em tecnologia. Houve uma mudança substantiva industrial japonesa e sua inserção mais firme no mundo rico. Portanto, o ressurgimento asiático se deu não pelo direcionamento para a indústria intensiva em capital e em energia, mas para uma combinação desse modelo como modelo asiático, intensivo em mão de obra e poupador de energia. A Rev Industriosa inaugurou esse caminho e foi um “milagre de distribuição”. Esse milagre só pode continuar se o caminho ocidental mantiver sua convergência, iniciada em meados do século XX, para o caminho oriental. É notável que apartir dessa convergência, as diferenças de participação no PIB do Ocidente e Oriente diminuíram.

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