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A relação entre Direito e Economia

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A relação entre Direito e Economia
by Maiquel Zimann | out 30, 2015 | Colunas e artigos | 0 comments
Introdução ao Direito Econômico
O Direito sempre foi essencialmente uma ciência normativa, isto por consequência implica em conhecimento predominantemente escrito, distinto da Economia, que é a ciência da escassez envolvendo a matemática. A Economia busca sua afirmação por meio de resultados empíricos, o Direito se utiliza da hermenêutica. À ciência econômica é dada a dura missão de revelar os custos, a ciência jurídica de impor os limites da legalidade. Embora pareçam longínquos esses campos do conhecimento buscam objetivos como a coesão, estabilidade e a eficiência da ordem social.
O diálogo entre juristas e economistas não é algo tranquilo. É justamente o oposto, conturbado e bastante problemático. Entretanto, foi necessário romper com esse cenário isolacionista do mundo jurídico, principalmente no Brasil em que a resistência à interdisciplinaridade do Direito com as demais ciências foi bastante forte. Quebrar o casulo das normas e introduzir outros campos do conhecimento foi fundamental para estabelecermos novos formas de analisar a realidade. E a constatação foi que, afinal, existe vida além do Direito.
Contudo, não gostaria de passar a falsa impressão de que estou privilegiando a Economia em detrimento do Direito. Definitivamente não é isto. Procuro defender o equilíbrio entre as duas áreas, uma vez que acredito que a principal função do Direito Econômico é apontar as melhores escolhas normativas para resolução de problemas da esfera jurídica. Não se pode jamais ter uma visão reducionista de acreditar que os problemas que são apresentados no dia a dia serão sanados exclusivamente pela Economia, ou pelo Direito.
A Economia como ferramenta do Direito
Uma das primeiras coisas que aqueles que pretendem operacionalizar o direito no futuro, (ou que já operam no cotidiano) devem ter em mente, é a compreensão de que o direito é aparato instrumental. Ou seja, o direito é meio mas, nunca um fim em si mesmo (direito tratado neste sentido como sistema ou ordenamento, mas evidentemente que existem os direitos como fins, é o caso da vida, que é um fim do direito, e também um direito). Portanto, existem formas e maneiras de instrumentalizá-lo de modo que o torne mais eficiente. É justamente isso que se aduz da Economia como uma ferramenta do Direito.
Na obra: ‘‘Economia e Sociedade’’ de Max Weber, o autor faz um apontamento a existência de critérios de discernimento na vetorialização das normas jurídicas, estas por sua vez são submetidas ao que podemos chamar da colimação com a economia. É a partir disso que encontramos os fundamentos base aos ramos do direito com as outras disciplinas, como o caso do; Direito Econômico, Direito Financeiro, Direito Empresarial, Direito Tributário, Direito Administrativo.
Portanto, há uma constatação de que quanto mais Economia mais se necessita do Direito. Isso não é difícil de ser compreendido, pois quanto mais os bens tornam-se escassos, sobretudo os bens econômicos, em decorrência por exemplo do aumento populacional, ou pelo aumento do interesse dos indivíduos sobre esses bens (casa, carro, terra, comércios, mercadorias, produtos, serviços), isso induz a necessidade de uma quantidade maior de normas jurídicas para tutelar esses interesses. É em função disso que decorre a origem das leis, para regular a concorrência, o meio ambiente, as fronteiras, os contratos, os bancos, os investimentos, comércio, indústrias, transações, relações de consumo, e esse papel é atribuído ao Direito Econômico.
A existência do aparato procedimental é garantida pelo aparato instrumental. Em linhas gerais podemos dizer que é como se a Economia subsidiasse esses ramos do Direito, alimentando-os por meio de análises microeconômicas e macroeconômicas. O Direito torna-se parte de uma grande orquestra sinfônica em que ele é executado pelos músicos (juristas), mas necessita de bons instrumentos (economistas) para atingir os resultados desejados (música perfeita). Através da interpenetração destas duas áreas é possível garantir esses resultados, como irei abordar no próximo tópico.
Direito e Economia nos parâmetros normativos e positivos
Richard Posner, professor da Universidade de Chicago, o texto, “The Economic Approach to Law”, analisa de modo sintético o Direito Econômico como: ‘‘a aplicação das teorias e métodos empíricos da economia para instituições centrais do sistema jurídico’’. Isso denota um caráter centralizador da Economia sobre o Direito de acordo com o autor, tendo como objetivo analisar a formação estrutural dos processos e o impacto econômico das leis e das instituições jurídicas. Inclusive existe uma adoção dos modelos de expectativa racional no comportamento dos indivíduos para buscar compreender os possíveis efeitos que irão surgir em virtude das diferentes normas.
A partir disso é possível traçar as duas dimensões do estudo do Direito e Economia – a primeira é a dimensão positiva (descritiva) e a outra é a dimensão normativa (ou prescritiva). Sendo estas distintas e independentes entre si. O Direito Econômico Positivo parte da premissa de que os conceitos da microeconomia são úteis para analisar o direito, portanto, esse ramo de estudo está preocupado com os mecanismos de oferta/demanda, preços, equilíbrio de mercado, modelo de concorrência, impactando sobre o arcabouço jurídico. Numa concepção diametralmente oposta, encontra-se o Direito Econômico Normativo, em que a relacionalidade agora busca-se por meio do ideal de justiça a sua real efetivação por meio dos conceitos econômicos visando a maximização do bem-estar dos indivíduos.
Importância da eficiência para o Direito
Como demonstrado acima, uma das preocupações centrais do estudo do Direito Econômico está estruturado em torno do termo: eficácia. A minimização dos custos e das perdas é essencial para a seara jurídica. As pessoas visam garantir a maximização racional que melhor atenda aos interesses individuais, pois é sempre importante lembrar, as pessoas não são altruístas. Portanto, há uma pertinente ligação entre os meios jurídicos e os fins normativos, e é justamente está a finalidade do Direito e Economia no aspecto positivo.
Partindo da constatação de que vivemos em uma democracia haverá proposições legislativas de diversos grupos de interesse com o intuito de garantir certos objetivos, mas para que haja de fato um debate acerca da aplicabilidade de uma futura norma jurídica que está sendo proposta, é necessário reafirmar a confiança no aparato jurídico, isto é, por meio de uma análise de calcada na maximização racional e na eficiência do direito, poderá ser aludido se de fato aquela proposição atenderá os resultados desejados.
Mas se enseja também analisar a eficácia pela ótica do Direito e Economia no que tange seu caráter normativo. Novamente entende-se que é necessário desperdiçar o mínimo de recursos possíveis dada sua escassez, isto gera a necessidade da convergência entre eficácia e justiça. Segundo Posner, a riqueza bem como sua maximização tem uma função ética para o Direito, portanto, para este importante autor, as instituições e as normas jurídicas devem estar focalizadas no desenvolvimento máximo da riqueza. Essa é a síntese da função primordial do Direito.
No entanto, o próprio Richard Posner alterou essa visão simplista do Direito, optando por uma leitura que podemos chamar de programática, ou até em certo sentido pragmática. Na minha leitura, uma das funções principais do Direito Econômico é a maximização do bem-estar, a defesa de valores democráticos, liberdades e garantias individuais que não podem ser ultrapassadas pelo ‘‘eficienticismo’’. Portanto, o Direito e a Economia devem responder os anseios de mudanças no tecido social e utilizar-se da construção da gramática normativa como instrumento para tornar a sociedade mais livre tanto no aspecto econômico quanto político-social.
Direito Econômico as perspectivas de um novo ramo no Brasil
A proposta de interdisciplinar o Direito juntode outras áreas é recente no Brasil, contudo, os resultados já começar a surgir. Na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná surgimento de grupos de estudos como o GELD – Grupo de Estudos Liberalismo e Democracia, vem a calhar nesta nova fase de ebulição do desenvolvimento desta área do conhecimento. Inexoravelmente a contribuição da Economia é sempre no sentido propositivo, o Direito carece de maior imbricação com outras ciências. Consigo enxergar nesta potencialidade de estudo um elemento transformar da realidade social.
Inclusive, gostaria de ressaltar que no caso de países como o Brasil a utilização racional dos recursos com seu máximo aproveitamento, reduzindo ao mínimo o desperdício deve ser objetivo comum de qualquer pessoa que esteja preocupada de fato com o bem-estar da sociedade. Para isso é necessário pesquisar, desenvolver e analisar de forma tangível os instrumentos jurídicos capazes de alçar a resolução conflitiva dos problemas desta ordem afim de garantir essa proposição finalística evidenciada pelo texto.
Do ponto de vista prático há muito tempo vem sendo aplicado a Economia ao Direito. Segundo professor Fábio Nusdeo, cerca de 90% do Código Civil é constituído por elementos de cunho econômico, é o caso dos contratos, regime de bens no matrimônio, sucessões, propriedade, obrigações, ou seja, regimes jurídicos que implica na relação com bens econômicos escassos.
Além disso, os órgãos como o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, agência responsável autorizar e regular as fusões dos conglomerados empresariais, impedir a formação de cartéis e monopólios, fiscalizar leis antitrustes, mantém uma estrutura jurídica indispensável para o funcionamento da economia, são exemplos práticos da aplicabilidade do Direito Econômico no cotidiano.
Isso gera confiabilidade por parte do mercado que têm a segurança jurídica necessária para o desenvolvimento de novos negócios, inovando, criando, revigorando o cenário tecnológico e científico, sendo imprescindível a garantia máxima da livre iniciativa como indutor do desenvolvimento numa sociedade.

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