Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE QUÍMICA EQO595 – TECNOLOGIA ORGÂNICA EXPERIMENTAL RELATÓRIO FINAL PRODUÇÃO DO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO Amanda Loreti Hupsel – 112042603 Felipe Pereira da Silva – 112188124 Gabriel Lopes Espíndola – 111309905 Nathany Lisbôa de Souza e Castro – 111473665 Rio de Janeiro, RJ 2016 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 7 3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 7 3.1. Materiais utilizados.................................................................................. 7 3.2. Metodologia ............................................................................................. 8 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 8 5. CONCLUSÃO ................................................................................................ 10 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 10 3 1. INTRODUÇÃO O ácido acetilsalicílico é um fármaco do grupo dos anti-inflamatórios não-esteroides, utilizado como anti-inflamatório, antipirético, analgésico e também como antiplaquetário. Comercialmente, é mais conhecido como aspirina. É uma substância sólida conhecida há mais de 100 anos, e é o medicamento mais conhecido e mais comercializado no mundo. Há 2400 anos o grego Hipócrates, denominado “pai da Medicina”, já sugeria às mulheres uma infusão de folhas de salgueiro para aliviar as dores do parto. Na segunda metade do século XVIII, o religioso Edward Stone, andando pelos campos do interior da Inglaterra, resolveu mascar a casca da árvore, esquecida desde aquela época. Imediatamente, identificou seu gosto com o da quina, planta originária do Peru, conhecida por seus poderes “milagrosos” no combate à febre da malária. Na verdade, a casca do salgueiro não servia para curar malária, mas, de acordo com as experiências que Stone realizou em cinquenta pacientes, ela era eficaz contra as dores do reumatismo, além de fazer baixar a febre. O estudo foi por ele apresentado à Real Sociedade de Londres em 1763, e seu princípio ativo, a salicina, foi isolado apenas sessenta anos depois. Avançando mais alguns passos, outro cientista, o italiano Raffaele Piria (1814-1865), acrescentou o ácido ao composto. Em 1859, o químico alemão Kolbe conseguiu sintetizar em laboratório o ácido salicílico – fato que evidenciou a ascensão da recém-criada química orgânica, possibilitando a síntese de novos compostos – processo chamado de síntese de Kolbe. Derivado da salicina, o ácido salicílico já estava bem próximo ao ácido acetilsalicílico, a aspirina como é conhecida hoje em dia. Isto aconteceu há cerca de um século, quando o químico alemão da companhia Bayer Felix Hoffman pesquisava um medicamento para ser usado no tratamento da artrite, doença de seu pai. O objetivo dele era encontrar uma droga para substituir o salicilato de sódio, medicamento usado naquela época, mas que exigia grandes doses diárias e provocava irritação e fortes dores estomacais nos pacientes. Hoffman conseguiu preparar o ácido acetilsalicílico conjugando quimicamente o acetato ao ácido salicílico. A nova droga tinha as mesmas propriedades do salicilato de sódio, conseguia melhorar a qualidade de vida dos portadores de artrite e gerava menos efeitos colaterais. O ácido acetilsalicílico, comercializado sob a marca registrada Aspirina, foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia e não recolhido na sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica. A aspirina era inicialmente distribuída para as farmácias na forma de pó em frascos de 250 gramas, que a vendia aos 4 pacientes em embalagens de papel de 1 grama. Mas tinha uma desvantagem - era pouco solúvel em água. Assim, a Bayer desenvolveu mais uma para resolver o problema: a aspirina passou a ser comercializada, em 1900, na forma de comprimidos com 500 gramas de ácido acetilsalicílico, sendo, portanto, um dos primeiros medicamentos do mundo a estar disponível em uma dosagem padronizada. Nesta época, o novo medicamento tinha sido objeto de mais de 160 artigos científicos, todos ressaltando seus efeitos benéficos, que iam muito além do tratamento do reumatismo. Era um poderoso remédio que tratava uma gama maior de outras condições, como por exemplo, dor de cabeça, dor de dente, nevralgia, gripe, indisposição alcoólica, artrite, amidalite e até febre e diabetes. Assim, acabou sendo um enorme sucesso de vendas. Em 1952, o Livro Guinness dos Recordes apontava a aspirina como o analgésico mais consumido do mundo. A partir dos anos de 1990, a Bayer passou a desenvolver inúmeras versões de aspirina específica para o alívio da dor de vários males. Em 1997, a aspirina atingiu a incrível marca de 17 bilhões de comprimidos vendidos no mundo. Hoje em dia, a aspirina é marca registrada da Bayer na Alemanha e em mais de 60 países ao redor do mundo. Calcula-se que o mundo consuma atualmente 216 milhões de comprimidos por dia (uma média de 2.500 unidades por segundo). De todas as drogas vendidas legalmente e sem receita, calcula-se que a aspirina responda por 35.8%. No Brasil, são mais de 100 milhões de comprimidos consumidos todos os anos. A síntese direta da aspirina (Figura 1) é classificada como uma reação de esterificação. O ácido salicílico é tratado com anidrido acético, um derivado ácido, causando uma reação química que transforma o grupo hidroxila do ácido salicílico num grupo éster. Este processo produz aspirina e ácido acético, que é considerado um subproduto desta reação. Pequenas quantidades de ácido sulfúrico (e ocasionalmente ácido fosfórico) são quase sempre utilizadas como um catalisador. Como na maioria das sínteses orgânicas, os cristais obtidos são geralmente impuros e necessitam de uma etapa posterior para a sua purificação, técnica conhecida como recristalização a partir de um solvente ou de misturas de solventes. Figura 1: Reação de síntese do ácido acetilsalicílico 5 O mecanismo desta reação proposto pela literatura apresenta-se na Figura 2: Figura 2: Mecanismo proposto para a reação de obtenção do ácido acetilsalicílico O processo industrial para produção do AAS depende de diversas matérias-primas, como demonstrado na Figura 3. Pela síntese de Kolbe-Schmidt, utiliza o fenol e o anidrido acético como matéria-prima principal e baseia-se em quatro fases, três para a síntese do ácido salicílico e uma para a acetilação deste, formando o ácido acetilsalicílico. Figura 3: Cadeia industrial envolvida na fabricação do AAS (Fonte: ABIQUIM 2009) O processo industrial é realizado principalmente em batelada. O primeiro passo é a fenolatação, tratamento do fenol com soda formando fenolato de sódio. Geralmente ocorre em um moinho de bolas aquecido a 130°C, à vácuo. A segunda fase consiste na carboxilação para formação do fenilcarbonato de sódio, com a injeção de CO2 a 5 bar e 150°C, que pode ser realizada em autoclaves. Por causa 6 desta fase é tão importante a retirada de água, pois a presença reduz o rendimento por protonação do fenolato,liberando hidróxido de metal alcalino, que converte o CO2 em carbonato com a regeneração da água. Por transposição molar, o fenilcarbonato de sódio se transforma no salicilato de sódio. A terceira fase consiste na acidificação com ácido sulfúrico, que forma diretamente o ácido salicílico. O salicilato de sódio bruto é dissolvido em uma mistura de água e um agente de descoloração (por exemplo, carvão ativado, alumínio ou pó de zinco). O ácido salicílico é então precipitado com ácido sulfúrico, numa cuba de madeira, para evitar a presença de ferro nesta etapa. Figura 4: Reações de obtenção do ácido salicílico a partir do fenol Figura 5: Síntese de Kolbe-Schmidt Por fim, a quarta fase consiste na acetilação com anidrido acético em grande excesso, à uma temperatura de 90ºC, dando origem ao ácido acetilsalicílico, mediante extração do excesso de ácido salicílico com benzeno. Essa reação pode ocorrer ou em um solvente (por exemplo, ácido acético, aromáticos ou hidrocarbonetos clorados), ou pela adição de catalisadores, tais como ácidos ou aminas terciárias. 7 Figura 6: Reação de obtenção da aspirina 2. OBJETIVOS Sintetizar em laboratório o ácido acetilsalicílico a partir da reação do ácido salicílico e do anidrido acético, com a utilização de ácido sulfúrico como catalisador, bem como realizar a purificação do produto através da técnica de recristalização. Identificar e estudar as reações de síntese do ácido, além de avaliar os aspectos visuais do produto e realizar o cálculo de rendimento da reação. 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Materiais utilizados Ácido salicílico; Anidrido acético; Ácido sulfúrico concentrado; Etanol; Água destilada; Agitador magnético com aquecimento; Barra magnética; Garras; Muflas; Recipiente para banho maria Termômetro; Condensador de refluxo; Balão de fundo redondo de 250 mL; Proveta; Vidro de relógio Kitasato; Funil de Buchner; Bécheres; Erlenmeyer de 250 mL; Bastão de vidro; Espátulas. 8 3.2. Metodologia Em um bécher, foram pesados 5g de ácido salicílico, que foram transferidos para um balão de 250 mL. Com o auxílio de uma proveta, 10 mL de anidrido acético foram medidos e colocados no balão. Agitou-se manualmente com bastão de vidro até formação de uma mistura homogênea. Em seguida, foram adicionadas 8 gotas de ácido sulfúrico concentrado. Um condensador de refluxo foi adaptado no balão e o mesmo foi colocado em um recipiente contendo água, onde ficou em aquecimento e agitação constante. A temperatura foi controlada para que se mantivesse entre 45 e 50°C. Após o tempo de 20 minutos, o sistema foi resfriado com a adição de água destilada gelada e o material foi filtrado a vácuo em sistema com Kitasato e funil de Buchner. O produto bruto foi então transferido para um bécher, onde foi dissolvido em 60 mL de etanol previamente aquecido. Após a completa dissolução, a solução foi vertida em 150 mL de água destilada quente contida em erlenmeyer de 250 mL. O erlenmeyer foi mantido em repouso para que houvesse lento resfriamento e recristalização. Após completo resfriamento, o erlenmeyer foi transferido para um banho de gelo, onde ocorreu o início da precipitação. Para garantir uma boa e completa precipitação do produto final, o erlenmeyer foi mantido em repouso à temperatura ambiente por um tempo de 7 dias. Após esse tempo, foi novamente colocado em banho de gelo para garantir completa precipitação. Os cristais obtidos foram então filtrados a vácuo em sistema com Kitasato e funil de Buchner, e transferidos para um vidro de relógio, onde mantiveram-se em repouso à temperatura ambiente por mais 7 dias, para garantir a secagem completa. Após este tempo, o produto final foi pesado em balança. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir de 5 gramas de ácido salicílico, obteve-se 1,08 gramas de ácido acetilsalicílico (Figura 7). 9 Figura 7: Cristais produzidos de ácido acetilsalicílico Observa-se que os cristais obtidos não precipitaram em formato de agulha, apresentando-se em formato mais irregular. Isto pode indicar que, apesar do repouso para o lento resfriamento, o tempo de resfriamento antes da inserção do erlenmeyer no banho de gelo possa ter sido curto, contribuindo para que o resfriamento não tenha sido realizado no tempo adequado, o que resulta na formação de uma rede cristalina irregular. A partir da massa obtida e com os dados a seguir, pode-se calcular o rendimento da reação através de cálculos simples. Dados: Massa molar do ácido salicílico = 138 g/mol Massa molar do ácido acetilsalicílico = 180,157 g/mol Massa utilizada na reação = 5 g Massa de produto obtida = 1,08g Estequiometria 1 mol ácido salicílico : 1 mol ácido acetilsalicílico 1 mol de ácido salicílico ----- 138 g x mol ------------------- 5 g x = 0,0362 mol de ácido salicílico 1 mol de ácido acetilsalicílico --------------- 180 g 0,0362 mol de ácido acetilsalicílico --------- y g y = 6,516 g de ácido acetilsalicílico para rendimento teórico de 100% 10 Como o tempo de repouso para precipitação dos cristais (7 dias) foi longo o suficiente para que houvesse completa precipitação, o baixo resultado do rendimento pode ter sido causado pelo tempo de reação, que pode ter sido muito curto para que todo o ácido salicílico reagisse. Para evitar este problema, de acordo com a literatura sugere-se um teste de confirmação com solução de FeCl3 de tempos em tempos durante o tempo de refluxo, que poderia ter sido realizado para que não houvesse interrupção da reação antes que o consumo do ácido salicílico não tivesse sido completo. 5. CONCLUSÃO Conclui-se que apesar de os cristais não tenham se apresentado no formato ideal e o rendimento da reação tenha ficado abaixo do desejado, foi possível obter o ácido salicílico através da rota sintética escolhida. Melhores resultados poderiam ter sido obtidos com modificações do experimento realizado, como o teste de confirmação com FeCl3 e um maior tempo de resfriamento no momento da recristalização. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAÇAIRA, A.M.P. et al. Manual de práticas de Química Orgânica Experimental II. Instituto de Química – Departamento de Química Orgânica, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIAS QUÍMICAS. Aspirina. 2009 Super Interessante, A aspirina. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/a-aspirina/>. Acesso em: 13 nov. 2016. Wikipedia, Aspirin. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Aspirin>. Acesso em: 13 nov. 2016. AURELIO SANZ ARRANZ, J., INDÚSTRIA FARMACÊUTICA: obtenção de ÁCIDO SALICÍLICO e ASPIRINA. Disponível em:< http://classroom.orange.com/pt/acido- salicilico.html>. Acesso em: 13 nov. 2016. 6,516 g ácido acetilsalicílico ----------------- 100% 1,08 g ácido acetilsalicílico obtidos --------- Rendimento (%) Rendimento = 16,5 % 11 Mundo das Marcas, Aspirina. Disponível em: <http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2006/05/aspirina-always-for-you- there.html>. Acesso em:13 nov. 2016. CARLOS MASSABNI, Antonio, Aspirina. Disponível em: http://www.crq4.org.br/quimica_viva__aspirina>. Acesso em: 13 nov. 2016. HREVE, R. N.; BRINK JR, J. A. Indústrias de processos químicos. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1974. BOULLARD, O.; LEBLANC, H.; BESSON, B. Ullmann’s Encyclpediaof Industrial Chemistry. Salicylic acid. 6 ed. CD-ROM. Wiley-VCH, 2002.
Compartilhar