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Entendendo o modelo de saúde americano.output

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Cerca de 46 milhões de pessoas nos EUA não têm plano de saúde. Como não 
existe um Sistema Único de Saúde (SUS) no país, significa que, se essas pessoas 
ficarem doentes, precisarão vender o carro ou hipotecar a casa para pagar as 
contas do hospital. Despesas médicas são o principal motivo de falências pessoais 
no país. 
Parte dos americanos com mais de 65 anos ou portadores de deficiências está 
coberta por um sistema chamado Medicare, no qual o governo paga os hospitais e 
médicos que atendem o beneficiário. E parte da população de baixa renda entra 
no Medicaid, outro sistema bancado pelo governo. Mas grande parte da 
população - esses 46 milhões - está em um buraco negro. Muitos estão em uma 
faixa intermediária - não são tão pobres para receber o Medicaid, nem tão idosos 
para o Medicare -, não têm plano de saúde no emprego e não conseguem pagar 
um privado. 
Os segurados ou têm dinheiro para pagar um plano privado ou têm um emprego 
que oferece um plano de saúde. Nos EUA, as empresas podem despedir grávidas 
e até pessoas com câncer. Ter um plano de saúde tampouco garante que a pessoa 
não terá de pagar por seus tratamentos médicos. A maioria dos planos estabelece 
um limite de gastos anual e, em seguida, uma franquia que o seguro só começa a 
reembolsar depois que o paciente paga sua contrapartida. Os planos também 
podem se recusar a fazer seguro para pacientes com histórico de doença crônica 
ou pré-existente. 
Para completar, o sistema de saúde é uma bomba-relógio para as contas públicas. 
O Medicare, por exemplo, vai se tornar deficitário em oito anos. Os gastos com 
saúde crescem a uma taxa superior à inflação. Os EUA são o país que mais gasta 
com saúde - US$ 7 per capita, ou 16% do PIB -, mas está em 37º lugar em 
qualidade de atendimento, ao lado da Eslovênia, segundo o ranking da 
Organização Mundial de Saúde. 
Para que os 46 milhões de cidadãos sem plano de saúde passem a ter um, o 
governo precisará gastar US$ 1 trilhão ao longo de dez anos. O dinheiro viria de 
uma gestão mais eficiente do Medicare e do Medicaid e de um aumento de 
impostos sobre quem ganha mais de US$ 250 mil por ano. 
O presidente americano, Barack Obama, quer criar um mercado de trocas de 
planos de saúde, onde seguradoras privadas competiriam com a seguradora 
estatal ou cooperativas. Todos os americanos seriam obrigados a ter um plano de 
saúde e o governo subsidiaria aqueles que não pudessem pagar. A competição 
reduziria os preços. As seguradoras privadas estariam proibidas de fixar tetos 
para gastos e franquias, além de não poderem discriminar pacientes. Também 
haveria painéis para julgar a eficiência de tratamentos de saúde como forma de 
cortar custos. 
Muitos acham, porém, que esses painéis resultarão em um racionamento de 
assistência médica, que um grupo de burocratas poderá negar os tratamentos 
mais caros aos segurados. Os idosos são especialmente resistentes às reformas, 
porque a maioria já está coberta pelo Medicare. Além disso, as seguradoras e os 
defensores do livre mercado temem que a concorrência com o setor estatal ponha 
os preços tão baixos que levariam os planos privados à falência. 
No debate sobre a saúde, Obama precisa conquistar os moderados sem 
decepcionar a esquerda. Para ganhar apoio de democratas moderados e, com 
sorte, um ou outro republicano, ele pretende tornar o seguro de saúde estatal 
uma opção: só será adotado se os planos privados não baixarem os preços ou não 
ampliarem a cobertura. Resta saber se isso será suficiente para convencer os 
moderados, que criticam o preço do plano (US$ 1 tri). Ao mesmo tempo, não se 
sabe se a esquerda de seu partido aceitará a ausência do plano estatal, que 
desfiguraria a reforma e tiraria o interesse em sua aprovação.

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