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DIREITO CIVIL II RESUMO CONTRATOS

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DIREITO CIVIL 
CONTRATOS - RESUMO
 
O contrato tem uma função social, sendo veículo de circulação da riqueza, centro da vida dos negócios e propulsor da expansão capitalista.
Segundo Clóvis Beviláqua, contrato é "um acordo de vontades que tem por fim criar, modificar e extinguir direitos".
No sistema jurídico francês o contrato opera a transferência dos direitos reais. Já no direito alemão e no nosso direito, o contrato só cria obrigações.
O Estado intervém constantemente na relação contratual privada para assegurar a supremacia da ordem pública, prevalecendo o interesse público (a coletividade), razão do dirigismo contratual em certos setores.
 
contrato é uma das fontes das obrigações. 
Outra fonte das obrigações são os atos ilícitos. É uma responsabilidade extra-contratual (arts. 186 e 927 CC). 
Quando uma pessoa contrata outra, e esta deixa de cumprir com a obrigação, surge para o credor o direito de ajuizar uma ação, porque houve uma responsabilidade contratual (art. 389 CC).
	DIREITO SUBJETIVO
	DIREITO POTESTATIVO
	Existe um SUJEITO ATIVO, que é titular de um direito, e um SUJEITO PASSIVO, que tem um dever jurídico (dar, fazer, não fazer = direito obrigacional).
O SUJEITO PASSIVO pode descumprir com a obrigação, quando então surge a responsabilidade (e, em conseqüência, uma ação).
Existe, entre eles, uma RELAÇÃO JURÍDICA.
Um exemplo é o contrato de locação (que é um título executivo extrajudicial). O locador pode entrar com ação de despejo, ou então com ação de execução.
	Só existe o SUJEITO ATIVO. Não existe o SUJEITO PASSIVO, nem o dever jurídico.
Um exemplo é o sujeito que quer vender o seu imóvel. Outro exemplo é a promessa de recompensa (quando o fato se concretizar, passa a ser um direito subjetivo – uma relação jurídica).
Outros exemplos são a dissolução de sociedade, de condomínio, a rescisão de contrato de trabalho.
Com relação ao contrato, estamos diante de um DIREITO SUBJETIVO. 
O contrato cria, modifica ou extingue direitos.
	NEGÓCIO JURÍDICO
	ATO JURÍDICO
	Seus efeitos são provocados pelas partes, embora estejam na lei.
Exemplo: aluguel de um imóvel.
O direito é pós-existente.
Pode-se criar cláusulas no contrato, desde que não contrarie a lei.
	Seus efeitos são provenientes da própria lei.
Exemplo: reconhecimento da paternidade (registro de um filho); o pai passa a ter obrigação de mantê-lo.
O direito é preexistente.
A parte não pode criar direitos; a própria lei diz quais são os direitos.
	São diferenciados pelos seus EFEITOS (preexistentes/pós-existentes).
São diferenciados pelo Código Civil de 2003.
OBRIGAÇÃO DE MEIO – Ele só é obrigado a aplicar as diligências (a técnica). É o caso de um advogado. No entanto, se ele promete ganhar uma causa, a obrigação que era de meio passa a ser OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. Um cirurgião, ao realizar uma cirurgia reparadora, tem obrigação de meio; ao realizar uma cirurgia estética, tem obrigação de resultado.
 
I). PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO REGIME CONTRATUAL
AUTONOMIA DA VONTADE 
Ampla liberdade de contratar. A promessa deve ser comprida (pacta sunt servanda).
Art. 421 NCC.
As partes são livres para contratar. Não pode haver nenhuma coação, caso contrário o contrato será anulado.
Esta autonomia da vontade não é absoluta; ela é relativa: não é possível violar a norma, porque prevalece a supremacia da ordem pública (prevalece o interesse público). O Estado está sempre interferindo nas relações jurídicas para preservar o interesse público. Um exemplo é o CDC, a Lei de Economia Popular, a Lei de Locações, etc.
SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA
 
Limita o princípio da autonomia da vontade, dando prevalência ao interesse público, razão da intervenção do Estado. São exemplos a Lei do Inquilinato (Lei 8245), o CDC e a Lei de Usura.
O interesse público prevalece sobre o interesse particular.
O conteúdo do contrato não pode violar a norma. A forma é livre, e as partes são livres para contratar, mas desde que não viole a norma, porque existe a supremacia da ordem pública.
Também não se pode contratar sobre um objeto impossível. O contrato tem que ser lícito, possível e determinado. Tendo estas características, surge a obrigatoriedade dos contratos.
FORÇA OBRIGATÓRIA (OBRIGATORIEDADE) – Pacta Sunt Servanda 
É a força vinculante das convenções. Pelo princípio da autonomia da vontade, ninguém é obrigado a contratar mas, se o fizerem, devem cumprir o contrato. Existe a necessidade da segurança dos negócios, por geraria a balbúrdia e o caos. Qualquer modificação no contrato terá que ser bilateral (todos os envolvidos têm que participar). Uma exceção a este princípio é a revisão dos contratos através da onerosidade excessiva (art. 478 CC).
Segundo a teoria da onerosidade excessiva, se a situação do fato modificar-se em razão de acontecimento extraordinário e imprevisível que torne excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer ao juiz que o isente da obrigação, parcial ou totalmente, e ainda podendo adequar o contrato. Um exemplo é o art. 6º, V, do CDC. É o caso das guerras, das calamidades públicas, do contrato de leasing atrelado ao Dólar.
Se não houver nenhuma violação da norma, prevalece a obrigatoriedade. Os pactos têm que ser cumpridos, mas desde que não violem a norma (desde que não tenham nulidades: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão , fraude).
O estado de perigo foi inserido no art. 156 do CC, e a lesão foi inserida no art. 157 do CC.
Mas há exceções quanto a este princípio:
TEORIA DA ONEROSIDADE EXCESSIVA – Quando ocorrer, após a elaboração do contrato, algum fato superveniente, imprevisível e extraordinário, que cause prejuízo a uma das partes, aquela parte prejudicada pode rever o contrato (onerosidade excessiva). Foi o caso dos contratos de leasing, feitos em Dólar. Nestes casos, este princípio pode ser quebrado. Esta teoria só pode ser argüida nas prestações continuadas. Além disso, para argüi-la, deve-se estar em dia com as obrigações.
TEORIA DA IMPREVISÃO – Alguns autores falam na cláusula rebus sic stantibus (Teoria da Imprevisão).
Outros autores dizem ainda que não há diferença nenhuma entre as duas teorias.
CONSENSUALIDADE OU CONSENSUALISMO 
O contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa.
Os contratos são, em regra, consensuais. Alguns, no entanto, são reais, porque se aperfeiçoam com a entrega da coisa. É o caso, por exemplo, do contrato de depósito, de comodato e de mútuo.
Os contratos se perfazem com o consenso. Não é preciso a entrega da coisa. Os contratos se aperfeiçoam sem a necessidade da entrega da coisa.
Há exceções, que são o DEPÓSITO, o MÚTUO e o COMODATO.
No caso da venda de um imóvel, tem que ser feito o registro da escritura (direito real). Atualmente a promessa de compra e venda é um direito real.
BOA-FÉ 
Exige que as partes se comportem de forma correta, clara, transparente, sem segundas intenções, não somente durante as tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato.
Se coaduna com o seguinte princípio de Direito: "ninguém pode beneficiar-se da própria torpeza".
Significa transparência, ética. As partes têm que ser transparentes desde as tratativas até o cumprimento do contrato.
RELATIVIDADE 
A força de lei que a convenção adquire somente se manifesta entre os próprios contratantes e seus sucessores. Há casos em que nem mesmo aos herdeiros se manifesta a força contratual. É o caso, por exemplo, dos contratos personalíssimos (cirurgião plástico famoso, cantor conhecido, advogado prestigiado, etc).
Somente as partes que contrataram podem pleitear alguma coisa (ou seus sucessores). Somente eles podem ter direitos e deveres. No entanto, se a obrigação for personalíssima (infungível), os sucessores não poderão pleitear nada.
PROBIDADE 
Significa honradez.
Este princípio, segundo o entendimento de alguns autores, está dentro do princípio da boa-fé.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
O contrato foi feito para gerar circulação de riqueza.II). PRESSUPOSTOS E REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO
PRESSUPOSTOS
São as condições sob as quais se desenvolve e pode desenvolver-se o contrato. Agrupam-se em três categorias:
Sujeitos 
É necessário que haja capacidade das partes (agente capaz).
A regra é que o nulo não convalece. No entanto, se o sujeito é absolutamente incapaz e ninguém reclama, o ato está produzindo efeitos (o nulo convalece).
Idoneidade do objeto 
É necessário que seja um objeto lícito, possível e determinável..
Não é possível que a herança de uma pessoa viva constitua objeto de contrato (art. 426 CC). Trata-se, neste caso, de um objeto ilícito. Também não é possível um contrato sobre o transporte de uma praia. Neste caso, o objeto é impossível PACTO CORVINA.
Legitimação das partes
Para exercer o direito de ação, não basta ao titular ser capaz. Requer ainda que seja parte legítima e tenha interesse a ser protegido. Uma pessoa não pode, por exemplo, dar em penhor uma coisa que não lhe pertence (sem que ela tenha poderes para isto).
REQUISITOS
São considerados elementos intrínsecos, indispensáveis à validade de qualquer contrato.
Consentimento
A declaração de vontade há de ser emitida em correspondência ao conteúdo do contrato que o declarante tem em vista. Muitas vezes ocorre divergência entre a vontade real e a declarada.
São vícios do consentimento:
O erro 
O dolo 
A coação 
A lesão (art. 157 CC)  novo! 
O estado de perigo (art. 156 CC)  novo!
Causa 
É a motivação econômica do contrato. É o que leva o contratante a perseguir seu objeto.
Objeto 
É a prestação das partes.
Forma
Vigora o princípio da forma livre. Os contatos formais ou solenes constituem exceção (art. 108 CC).
Há duas exceções ao fato da compra de imóveis exigir instrumento público. Em ambos os casos a compra pode ser feita por instrumento particular.
Compra de imóvel pelo Sistema Financeiro de Habitação. 
Compra de lote em loteamento.
NULIDADE
É a sanção por meio da qual a lei priva de eficácia o contrato que é celebrado contra preceito 
Pode ser total (atinge todo o contrato) ou parcial (atinge apenas uma ou algumas de suas cláusulas). 
Pode ser arguída por qualquer interessado. 
Não convalece pelo decurso de tempo.
 
III). FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
A formação do contrato nasce com a assinatura. O contrato é um direito obrigacional. Ao pegar o contrato de venda de um imóvel e levar a registro imobiliário, nasce um direito real (com a transcrição do contrato no registro imobiliário). No direito real há a necessidade da tradição. No caso dos bens imóveis, a entrega é o registro da escritura. No caso dos bens móveis a tradição é a entrega da coisa.
O direito real só se aperfeiçoa com a entrega da coisa. Já no direito pessoa (caso dos contratos), não há necessidade da entrega da coisa. Basta a formalização (a assinatura). Esta é diferença entre o direito real e o direito obrigacional.
O contrato consensual torna-se perfeito e acabado no momento em que nasce o vínculo entre as partes.
O contrato, como acordo de vontades, pressupõe uma proposta, denominada POLICITAÇÃO, feita pelo policitante ou proponente à outra parte, denominada oblato ou solicitado. Quando há aceitação, o oblato torna-se aceitante.
Os dois elementos imprescindíveis para a formação do contrato são:
A proposta e 
A aceitação
O vínculo contratual nasce quando a proposta e a aceitação se integram.
PROPOSTA
É a firme declaração receptícia de vontade dirigida à pessoa com a qual pretende alguém celebrar um contrato ou um ato público.
Deve conter todas as cláusulas essenciais, de modo que o consentimento do oblato implique a formação do contrato.
Para verificar o momento exato da formação do contrato é preciso distinguir os contratos entre presentes e entre ausentes. O contrato entre presentes é realizado por pessoas que estejam juntas ou mediante acordo telefônico. Já no contrato entre ausentes, também denominado contrato por correspondência (efetuado por carta, telegrama, fax), encontramos as teorias da:
Informação ou cognição 
Agnição ou declaração 
Expedição
TEORIA DA INFORMAÇÃO OU COGNIÇÃO
Considera-se aperfeiçoado o contrato epistolar (por correspondência) somente quando a aceitação chega ao conhecimento do proponente.
O inconveniente desta teoria é deixar ao arbítrio do proponente a formação e o momento do contrato, pois poderia, por exemplo, o proponente dizer que não recebeu a aceitação.
TEORIA DA AGNIÇÃO OU DECLARAÇÃO
Considera-se aperfeiçoado o contrato epistolar desde o momento em que o oblato aceitasse a proposta.
Uma crítica a esta teoria é o fato de que ela deixa ao arbítrio do aceitante a formação e o momento do contrato, pois o aceitante poderia alegar que não o aceitou.
TEORIA DA EXPEDIÇÃO
Considera-se aperfeiçoado o contrato epistolar no momento em que o oblato expedisse a aceitação.
O nosso Código Civil de 2003, em seu art. 434, acolheu a Teoria da Expedição. Mas os incisos do art. 434 apresentam exceções a esta teoria.
NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES
Antes de aceitar, uma das partes pode pretender apenas obter informações para saber se interessa ou não o contrato.
As indagações, apontamentos, minutas, visitas, troca de cartas para esclarecimentos, não vinculam as partes, não têm força vinculante, ou seja, não advém a obrigação de contratar. Estas etapas estão no âmbito das tratativas.
 
IV). LUGAR DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
O contrato reputa-se celebrado onde foi proposto, nos termos do art. 435.
Entre pessoas presentes, o contrato se forma onde elas se encontram.
Entre pessoas distantes uma da outra, o contrato se forma no lugar em que foi proposto.
Interessa saber onde os contratos se formam para determinar o foro competente.
 
V). FORMA E PROVA DOS CONTRATOS
Aplica-se à prova dos contratos o disposto em relação aos atos jurídicos em geral.
Algumas vezes há necessidade de escritura pública (caso de venda de imóvel de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no país).
Quando não há exigência legal quanto à forma, pode o contrato tanto ser verbal como por escrito, realizando-se por documento particular ou público.
Segundo o art. 107, a regra geral é que os contratos são de forma livre, salvo quando a lei exigir.
O art. 108 dispõe sobre a escritura pública de direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo do país. Se um imóvel for comprado por escritura particular, não se poderá fazer o registro (no registro de imóveis). Este direito é pessoal (obrigacional), e não real. É um direito pessoal entre as partes.
Há exceções: se a compra foi feita pelo Sistema Financeiro de Habitação, ou se a compra é de um lote, esta pode ser feita por instrumento particular (e pode-se registrar no RGI). Mas pode ser feita por instrumento público.
Mesmo tratando-se de um contrato verbal, nada impede que a prova seja feita mediante a apresentação de um documento denominado "começo de prova por escrito". Exemplo: um contrato verbal de locação pode ser provado pelo recibo dado pelo locador ao locatário, complementando-se com a prova testemunhal.
O valor da prova testemunhal é limitado aos contratos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior valor de referência do salário mínimo, conforme dispõe o art. 401 do CPC.
Sendo o valor maior que 10 vezes o salário mínimo, a prova não pode ser exclusivamente testemunhal.
Há de ser feita uma interpretação sistemática (Código Civil + CPC).
É admissível a prova testemunhal em negócios jurídicos de maior valor existindo começo de prova por escrito.
Se um locatário faz o pagamento dos alugueres mediante cheque nominal ou depósito em conta corrente do locador, neste caso ocorrerá uma inversão do ônus da prova, cabendo ao locador provar que as quantias recebidas correspondiam a outro negócio existente entre as partes (aplicação do CDC, por analogia).
 
VI). INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS
Toda manifestação de vontade necessita de interpretação para que se saiba o seu significado, tendo em vista a falta de técnica com a qual são feitosos contratos.
São aplicáveis os princípios gerais de interpretação da lei, havendo normas próprias de hermenêutica. Ou seja, são aplicáveis a interpretação literal, histórica, sociológica, sistemática e lógica.
No Direito brasileiro, o Código Civil fixa os princípios de hermenêutica contratual nos seus arts. 112 (intenção das partes), 113 (boa-fé e usos do lugar), 114 (interpretação estrita) e 819 (não admite a interpretação extensiva da fiança; além disso, este contrato acessório também tem que ser por escrito):
Encontramos o princípio do respeito à intenção das partes no art. 112. 
Encontramos o princípio da boa-fé e do uso do lugar onde ocorreu a celebração no art. 113. 
Encontramos a interpretação restritiva dos contratos benéficos em geral no art. 114, e da fiança, onde não se admite interpretação extensiva, no art. 819.
OBSERVAÇÃO:
O contrato de fiança tem vênia conjugal (os dois cônjuges têm que assiná-lo). Denomina-se outorga uxória. Alguns julgadores entende que somente um dos cônjuges assinou, ele só responderá pela parte dele.
Com relação ao CDC, devemos dar importância aos arts. 46 e 47:
O art. 46 impõe a ineficácia para os contratos não comunicados previamente de seu conteúdo ao consumidor, e redigidos de modo obscuro. 
O art. 47 assevera que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
O CDC também prevê a inversão do ônus da prova: cabe ao fornecedor provar tudo aquilo que o consumidor está afirmando.
 
VII). CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Os contratos dividem-se, quanto aos efeitos, em:
CONTRATOS UNILATERAIS 
CONTRATOS PLURILATERAIS
Não devemos confundir o ato jurídico unilateral com o contrato unilateral.
Na classificação dos atos jurídicos atende-se o número de declarações de vontade. Ocorre ato jurídico unilateral quando só há uma única declaração de vontade. Exemplo: testamento, promessa de recompensa.
Quando ocorre mais de uma declaração de vontade, o ato jurídico passa a ser bilateral, podendo ou não ter natureza contratual.
O ato jurídico bilateral torna-se contrato quando cria, extingue ou modifica obrigações, de conteúdo exclusivamente patrimonial (exemplo: locação, compra e venda, etc).
Quando ocorre a doação de um bem, seu conteúdo é exclusivamente patrimonial.
Não é contrato quando cria, modifica, extingue direitos ou deveres sem conteúdo patrimonial (exemplo: adoção, casamento – são atos jurídicos bilaterais). O casamento e a adoção criam deveres jurídicos sem conteúdo patrimonial (existe dever de assistência moral, educacional, etc, mas falta o conteúdo exclusivamente econômico).
 
VIII). CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS BASEADA NO NÚMERO DE PARTES CONTRATANTES SOBRE AS QUAIS RECAI O DEVER JURÍDICO
Se somente um dos contratantes tiver dever jurídico em virtude do contrato, este será unilateral. Um exemplo é a adoção pura: somente o doador se obriga, devendo entregar ao donatário a coisa doada, inexistindo qualquer obrigação por parte do donatário.
Já nos contratos bilaterais, ambas as partes têm dever jurídico, ou seja, gera obrigações para ambos os contratantes – obrigações recíprocas, denominados contratos sinalagmáticos. Este termo tem origem na palavra grega sinalagma, que significa reciprocidade de prestações. Um exemplo é o contrato de compra e venda (art. 481) – o comprador deve pagar o preço e o vendedor deve entregar a coisa. O mesmo ocorre na locação de coisas, onde o locador cede o uso e gozo (fruição) do objeto, e o locatário deve pagar o aluguel.
No momento da formação do contrato de compra e venda o comprador não adquire a coisa. Ele adquire um mero direito obrigacional (pessoal), ou de crédito. Ele só será o proprietário da coisa quando houver a tradição. A tradição, na coisa móvel, se dá com a entrega da coisa. Na coisa imóvel, se dá com a inscrição da estrutura no registro imobiliário. Numa compra e venda, a simples formação do contrato, com preço pago, não gera para o comprador a propriedade (não cria para ele um direito real). Ele só passa a ser proprietário da coisa com a tradição. Se a promessa de compra e venda for registrada, ela é considerada como direito real.
 
CONTRATOS UNILATERAIS IMPERFEITOS
Alguns autores os denominam contratos bilaterais imperfeitos.
É uma categoria intermediária entre os contratos unilaterais e os contatos bilaterais, ou seja, sendo unilateral, torna-se bilateral em virtude de uma modalidade ou cláusula contratual.
Um exemplo é o contrato de doação (unilateral por excelência) com a criação de um encargo para o donatário, obrigando-o a construir um monumento, uma praça, uma escola, etc. A doação com encargo importa em transformação do contrato em bilateral. A doação com encargo é um contrato unilateral imperfeito (enquanto que a doação pura é um contrato unilateral).
A doação é um contrato, enquanto que o testamento, por sua vez, é um ato jurídico unilateral.
Parece absurdo denominar-se um contrato de unilateral, porque todo contrato resulta, no mínimo, de duas manifestações de vontade.
Sob o critério da formação, o contrato é sempre bilateral, pois somente se constitui mediante concurso de vontades.
Sob os efeitos que acarreta, os contratos se classificam em unilaterais e bilaterais.
Os que geram obrigações recíprocas são bilaterais (contratos sinalagmáticos – geram obrigações recíprocas), e os que criam obrigações unicamente para um dos contratantes são chamados unilaterais.
 
CONTRATOS GRATUITOS OU BENÉFICOS
São contratos em que apenas uma das partes aufere benefício ou vantagem. Para a outra parte, só há obrigação, sacrifício. É o caso da doação pura.
CONTRATOS ONEROSOS
Ambos os contratantes obtêm proveito, ao qual corresponde um sacrifício. É o caso da compra e venda.
Na compra e venda, o vendedor tem a vantagem ou benefício de receber o preço, e tem o sacrifício de entregar a coisa. Já o comprador tem a vantagem ou benefício de receber a coisa, e tem o sacrifício de pagar o preço.
Há uma reciprocidade entre vantagem e sacrifício.
Na doação pura, o doador só tem sacrifício, enquanto que o donatário só tem vantagem (ele apenas tem que ir ao cartório dizer que aceita a doação).
Na doação, pode-se reservar para si o usufruto daquilo que está sendo doado. Pode-se também colocar uma cláusula de reversão (doar para o filho e colocar cláusula de reversão para o caso da morte do filho).
A doação pura é diferente da doação com gravame.
Os contratos onerosos subdividem-se em COMUTATIVOS e ALEATÓRIOS. Comutativos são aqueles de prestações certas e determinadas, onde as partes podem antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se eqüivalem porque não envolvem nenhum risco. É o caso da compra e venda.
Há, porém, contratos tipicamente comutativos, como a compra e venda, que, em razão de certas circunstâncias, tornam-se aleatórios e, por isso, denominam-se CONTRATOS ACIDENTALMENTE ALEATÓRIOS. Estes são de duas espécies:
VENDA DE COISAS FUTURAS – Caracteriza-se quando alguém vende a colheita futura declarando que a venda ficará perfeita e acabada haja ou não safra. 
VENDA DE COISAS EXISTENTES MAS EXPOSTAS A RISCO – 
Os CONTRATOS ALEATÓRIOS caracterizam-se pela incerteza para ambas as partes, com relação às vantagens e sacrifícios que um deles pode advir, pois a perda ou lucro dependem de um fato futuro que significa sorte, risco, acaso. Um exemplo são os contratos de jogo, as apostas e o seguro.
 
CONTRATOS PARITÁRIOS
São os contratos do tipo tradicional, em que as partes discutem livremente as condições, porque se encontram em pé de igualdade. Um exemplo é o contrato de compra e venda. Esta é a regra mas, no entanto, algumas vezes não ocorre assim, como no caso do contrato bancário.
 
CONTRATOS DE ADESÃO
Não permitem esta liberdade, devido à preponderância da vontade de um dos contratantes, que elabora todas as cláusulas. O outro adere ao modelo previamente confeccionado, não podendo modificá-lo. São exemplos o seguro, o consórcio, o contrato bancário, o contrato com concessionárias de serviço público (água, energiaelétrica, etc).
Alguns autores incluem como exemplo o transporte coletivo (que é um contrato verbal).
Alguns autores entendem que o assalto a ônibus é um fato fortuito externo, enquanto que outros entendem que é uma responsabilidade objetiva (é um fato previsível, pelo menos nas garnde cidades (Curitiba, São Paulo, BH, POA, Rio de Janeiro).
	RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
	RESPONSABILIDADE OBJETIVA
	Dano 
Nexo causal 
Culpa (lato sensu – abrange também o dolo)
	Dano 
Nexo causal
 
IX). MOMENTO EM QUE OS CONTRATOS DEVEM SER CUMPRIDOS
CONTRATOS DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA OU IMEDIATA 
Estes contratos se consumam num só ato, sendo cumpridos imediatamente após a sua celebração. Um exemplo é a compra e venda à vista.
CONTRATOS DE TRATO SUCESSIVO OU DE EXECUÇÃO CONTINUADA 
Estes contratos são aqueles que se cumprem por meio de atos reiterados. São exemplos a compra e venda a prazo e o contrato de locação (pagamento do aluguel).
O Princípio da Onerosidade Excessiva só se aplica a estes contatos.
CONTRATOS DE EXECUÇÃO DIFERIDA
Devem ser cumpridos em um só ato, mas a entrega da coisa se dá em momento futuro. Um exemplo é um contrato onde fica pactuado que a entrega da coisa será em data futura (uma colheita, por exemplo).
 
X). TIPOS DE CONTRATO
CONTRATOS PERSONALÍSSIMOS OU INFUNGÍVEIS OU INTUITO PERSONA 
São os celebrados em atenção às qualidades pessoais de um dos contratantes. Por isso, o obrigado não pode fazer-se substituir por outrem. São intransmissíveis aos sucessores, e não podem ser objeto de cessão.
É o caso de um contrato feito com um cantor famoso, com um cirurgião plástico famoso, com um advogado famoso (desde que a procuração não tenha poderes para substabelecer, quando então o contrato deixa de ser personalíssimo).
CONTRATOS IMPESSOAIS 
São aqueles cujas prestações podem ser cumpridas pelo obrigado ou por um terceiro. O que importa é que seja executado. Um exemplo é o contrato com um pintor de parede, com uma oficina mecânica, com um empreiteiro, etc.
CONTRATOS PRINCIPAIS 
São os que têm existência própria e não dependem de qualquer outro. São exemplos o contrato de compra e venda, o contrato de locação e o comodato.
CONTRATOS ACESSÓRIOS 
São os que têm uma existência subordinada à do contrato principal. Eles seguem o destino do principal: nulo este, nulo também será o negócio acessório. São exemplos a fiança (cujo contrato principal é o contrato de locação) e a cláusula penal.
Art. 184.
CONTRATOS DERIVADOS OU SUB-CONTRATOS 
São os que têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato, denominado principal. São exemplos a sublocação e a sub-empreitada.
Se o contrato não permite a sublocação e o locatário subloca, há uma infração contratual, e a ação é de despejo. Com relação ao sublocatário, ele deverá ser notificado (para constituir em mora), com prazo para desocupação (se ele não desocupar, se configurará o esbúlho possessório, que enseja uma reintegração de posse). Ou então, na petição inicial da ação de despejo, deve-se discriminar o locador ou terceiros ocupantes.
CONTRATOS SOLENES 
São os que devem obedecer à forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem. Quando a forma é exigida como condição de validade do negócio, constitui a substância do ato. Um exemplo é a escritura de compra e venda de imóvel cujo valor seja superior a 30 salários mínimos (art. 108); esta é a regra, mas existem exceções no caso da compra de imóveis pelo Sistema Financeiro de Habitação e no caso da compra de lotes – em ambos pode ser utilizado instrumento particular.
CONTRATOS NÃO SOLENES 
São os contratos de forma libre, bastando o consentimento para a sua formação. Pode ser verbal ou escrito. Em regra, os contratos têm forma livre. São exemplos o contrato de locação e o contrato de comodato.
CONTRATOS CONSENSUAIS 
São os que se aperfeiçoam, com o consentimento, independentemente da entrega da coisa (art. 482).
O contrato de compra e venda, de modo geral, é consensual.
CONTRATOS REAIS
São os que exigem, para se aperfeiçoarem, além do consentimento, a entrega da coisa que lhes serve de objeto. São exemplos o comodato, o depósito e o mútuo.
Nos contratos bilaterais nenhum dos contratantes pode, antes de cumprir a sua obrigação, exigir a do outro, conforme dispõe o art. 476. Nesta hipótese, tem direito de invocar a EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO, visto que a essência dos contratos bilaterais é o sinalagma (reciprocidade das obrigações).
A exceção de inadimplemento somente pode ser oposta quando a lei ou o próprio contrato não determinar a quem cabe primeiro cumprir a obrigação.
Com relação ao art. 477, as prestações têm que ser simultâneas. Se forem sucessivas não cabe a aludida exceção.
Se não foi estipulado o momento da execução, entendem-se simultâneas as prestações.
Em homenagem ao princípio da autonomia da vontade, é válida a cláusula contratual que restringe o direito das partes de se utilizarem do art. 476. Trata-se de cláusula solve et repete, pela qual obriga-se o contratante a cumprir a sua obrigação mesmo diante do descumprimento da do outro, podendo, posteriormente, voltar-se contra a outra parte para pedir o cumprimento da prestação ou as perdas e danos.
Esta cláusula é encontrada nos contratos administrativos, considerando o princípio da continuidade dos serviços públicos.
 
XI). EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
Os contratos se extinguem normalmente por sua execução voluntária. O cumprimento é o fim normal do contrato. Os contratos em geral têm um ciclo: nascem do acordo de vontades, produzem os efeitos que lhes são próprios e extinguem-se.
A extinção dá-se , em regra, pela execução, seja instantânea, diferida ou continuada. O cumprimento da prestação libera o devedor e satisfaz o credor.
Algumas vezes o contrato extingue-se antes de ter alcançado o seu fim, ou seja, sem que as obrigações tenham sido cumpridas voluntariamente.
Exemplos:
CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS (extinção dos contratos por anulação)
Defeitos decorrentes do não preenchimento de seus REQUISITOS SUBJETIVOS (capacidade das partes e libre consentimento), de seus REQUISITOS OBJETIVOS (objeto lícito e possível) e de seus REQUISITOS FORMAIS (forma prescrita em lei), que afetam a validade do negócio. Em conseqüência, acarreta a nulidade absoluta ou a nulidade relativa.
NULIDADE ABSOLUTA
Decorre de transgressão a um preceito de ordem pública, e impede que o contrato produza efeitos desde a sua formação (ex tunc).
NULIDADE RELATIVA (anulabilidade)
Advém de imperfeição da vontade. Ela ou é emanada de um relativamente incapaz não assistido ou então contém algum dos vícios de consentimento (erro, dolo, coação, fraude, lesão).
Como pode ser sanada, e até mesmo não argüida no prazo prescricional, não extinguirá o contrato enquanto não se ajuizar uma ação que a decrete, sendo ex nunc os efeitos da sentença.
CONDIÇÃO RESOLUTIVA
Pode ser EXPRESSA quando convencionada para a hipótese de inadimplemento, ou TÁCITA. Em todo contrato bilateral há uma cláusula resolutiva TÁCITA, autorizando o lesado pelo inadimplemento a pleitear a resolução do contrato com perdas e danos (arts. 474 e 475 CC, art. 53 CDC).
DIREITO DE ARREPENDIMENTO
Quando expressamente previsto no contrato, autoriza qualquer das partes a rescindir o ajuste mediante declaração unilateral da vontade, sujeitando-se à perda do sinal (art. 420).
CAUSAS SUPERVENIENTES À FORMAÇÃO DO CONTRATO
RESOLUÇÃO 
Decorre de comportamento culposo de um dos contratantes, causando prejuízo ao outro. Produz efeitos ex tunc. É o remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial.
Possui uma modalidade, que é a redibição (existência de vício redibitório como, por exemplo, na compra de um terreno que, na escritura, reza ter 1000m2 e, quando se faz a medição, observa-se que tem 850 m2).
Admite-se como causa de resolução dos contratos comutativos de execução diferida, continuada ou periódica, a excessiva onerosidade que, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, sobrevenham, dificultandoo cumprimento da obrigação por parte de um dos contratantes.
A prestação não deve ser excessivamente onerosa apenas em relação ao devedor, mas a toda a qualquer pessoa que se encontra naquela mesma posição (caso do leasing, por exemplo).
Não é cabível a onerosidade excessiva nos contratos aleatórios.
RESILIÇÃO
Modo de extinção dos contratos por vontade de um ou dos dois contratantes.
Emprega-se também o vocábulo RESCISÃO.
RESILIÇÃO BILATERAL
As próprias partes deliberam dissolvê-lo, mediante o negócio extintivo. O modo normal da resilição bilateral é o DISTRATO.
RESILIÇÃO UNILATERAL
Pode ocorrer somente em determinados contratos, pois a regra é a impossibilidade de um contratante romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade.
Um exemplo é uma execução continuada cujo contrato seja por prazo indeterminado (qualquer uma das partes pode romper).
Outro exemplo é o MANDATO (que pode ser revogado).
CONCLUSÃO: 
Resolução é o meio de dissolução do contrato em caso de inadimplemento culposo ou fortuito. Quando há descumprimento do contrato, ele deve ser tecnicamente resolvido. 
Rescisão é uma palavra com plurissignificados, podendo inclusive ter o significado de resolução em caso de inadimplemento. Há também o sentido de ser a extinção do contrato em caso de nulidade (lesão ou estado de perigo). 
Resilição é o desfazimento de um contrato por simples manifestação de vontade, de uma ou de ambas as partes. Ressalte-se que não pode ser confundido com descumprimento ou inadimplemento, pois na resilição as partes apenas não querem mais prosseguir. A resilição pode ser bilateral (distrato, art. 472, CC) ou unilateral (denúncia, art. 473, CC).

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