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Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 1 Resumo--Este trabalho apresenta um modelo computacional desenvolvido com a utilização do software ATP/ATPDraw para a avaliação do desempenho de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas. O objetivo do trabalho é desenvolver uma ferramenta de estudo capaz de representar adequadamente os fenômenos eletromagnéticos necessários ao projeto de coordenação de isolamento de linhas de transmissão. Para isto deve ser considerada a influência das características individuais das ondas de sobretensão originadas por descargas atmosféricas, na suportabilidade das cadeias de isoladores. Particularmente, é apresentada a modelagem da dinâmica da disrupção para avaliar o desempenho de linhas de transmissão frente aos eventos de backflashover, originados pela incidência de descargas elétricas nas torres das linhas de transmissão. Os estudos contemplaram a avaliação da suportabilidade da cadeia de isoladores em linhas de 500kV, tanto na torre de incidência da descarga elétrica, quanto nas torres adjacentes. Foram determinadas as máximas sobretensões suportáveis pelo isolamento e as amplitudes de correntes críticas para cada caso. Adicionalmente, foi analisada a influência da resistência de pé de torre nos eventos de backflashover. Palavras Chave-ATPDraw, Backflashover, Coordenação de Isolamento, Desempenho de Linhas de Transmissão, Transitórios Eletromagnéticos, Sistemas Elétricos de Potência, TACS. I. INTRODUÇÃO S sobretensões originadas pela ocorrência de descargas atmosféricas são a principal causa de desligamentos em linhas de transmissão. Quando a amplitude das sobretensões de origem atmosférica supera a suportabilidade da cadeia de isoladores é estabelecido um arco elétrico ao longo do contorno de isolamento, configurando-se um evento de curto-circuito entre fase e terra. Portanto a avaliação do desempenho de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas requer o desenvolvimento de modelos capazes de representar adequadamente os mecanismos determinantes dos desligamentos desta natureza [1]. 1André Roger Rodrigues é professor efetivo do IFMG-Campus Formiga e aluno de doutorado do COPEL-UFU, Av. João Naves de Ávila, 2121- Santa Mônica-Uberlândia-MG-Brasil (e-mail: andre.roger@ifmg.edu.br). 2 e 3Geraldo Caixeta Guimarães (e-mail:gcaixeta@ufu.br) e Marcelo Lynce Ribeiro Chaves (e-mail:lynce@ufu.br) são professores titulares da UFU-Universidade Federal de Uberlândia, Av. João Naves de Ávila, 2121- Santa Mônica-Uberlândia-MG-Brasil. 4Wallace do Couto Boaventura é professor titular da UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG –Brasil (e-mail: wventura@cpdee.ufmg.br). Um projeto de coordenação de isolamento trata da seleção de distâncias de isolamento capazes de suportar as sobretensões estimadas para o sistema, neste caso, a linha de transmissão, baseando-se em critérios técnicos e econômicos. Os intervalos de isolamento entre a torre e os cabos fase apresentam uma probabilidade de falha associada a cada nível de tensão: não há como concluir, deterministicamente, se uma dada sobretensão provocará ou não a disrupção em uma estrutura [2]. Portanto, devem ser empregados métodos estatísticos para descrever a suportabilidade de um isolamento através de uma distribuição cumulativa normal ou gaussiana, analisando-se a probabilidade de falha e o desvio padrão associados [3]. Os cabos de blindagem desempenham a função de proteção contra desligamentos de linha devido ao fenômeno de flashover, ao evitar a ocorrência da descarga atmosférica diretamente sobre os cabos fase. As descargas atmosféricas diretas ou falhas de blindagem incidem sobre uma fase da linha, produzindo uma sobretensão ao longo da fase atingida, com probabilidade de disrupção ao longo da cadeia de isoladores. As descargas indiretas podem incidir tanto sobre os cabos pára-raios, também conhecidos como cabos de blindagem ou cabos-guarda, quanto sobre a torre, produzindo um arco elétrico de contornamento da cadeia de isoladores instalada entre a torre e uma fase da linha. Este fenômeno é conhecido como backflashover [4]. Neste último caso a impedância de aterramento da torre é determinante para a ocorrência ou não da falta, devendo ser adequadamente analisada. Os cabos de blindagem são conectados à terra a partir de estruturas aterradas que são, geralmente, as torres de transmissão. As correntes que percorrem os cabos são conduzidas para o solo através dessas estruturas metálicas. Ao percorrer a impedância do cabo, a corrente elétrica de surto atmosférico produz uma onda de sobretensão que propaga ao longo da linha, em direção às torres adjacentes. Ao atingir a torre vizinha, esta sobretensão pode superar o nível de isolamento da linha, dando origem a um arco elétrico ao longo dos isoladores que separam o cabo fase da parte metálica da torre, estabelecendo-se um curto-circuito fase-terra, caso a tensão de operação da rede seja capaz de sustentar o arco após o fluxo da corrente de descarga. O sistema de proteção da linha, que tem seus relés sensibilizados pelo fluxo da corrente de curto-circuito, comanda o desligamento desta. O contexto apresentado acima motivou a realização deste trabalho no intuito de determinar o surto de tensão no Análise de Desempenho de Linhas de Transmissão Frente a Descargas Atmosféricas aplicada à Coordenação de Isolamento A. R. Rodrigues1, Msc., IFMG, G. C. Guimarães2, Phd., UFU, M. L. R. Chaves3 , Dr., UFU, W. C. Boaventura4 , Dr., UFMG A Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 2 condutor fase para a condição de descarga indireta, quando da incidência de uma descarga atmosférica na torre da linha de transmissão. A representação adequada da impedância característica da torre da linha de transmissão e o valor da resistência de aterramento, utilizada na modelagem computacional, são parâmetros determinantes da amplitude das sobretensões de origem atmosférica que produzem a disrupção sobre a cadeia de isoladores. Para tanto, foi conduzido um estudo para avaliar a influência destas grandezas na amplitude destas sobretensões através do desenvolvimento de um sistema de controle modelado com componentes disponíveis na rotina TACS do software ATPDraw. Tal sistema é capaz de registrar o instante de tempo e a amplitude das sobretensões que provocam a disrupção na cadeia de isoladores devido ao backflashover. II. MODELAGEM DA DESCARGA ATMOSFÉRICA A descarga atmosférica foi representada utilizando-se uma fonte de corrente tipo 15, bi-exponencial, disponível no ATPDraw [5]. A corrente elétrica injetada pela fonte possui forma de onda padronizada para ensaios de impulso atmosférico, com tempo de frente igual a 1,2 µs e tempo de cauda igual a 50 µs [6]-[7]. A corrente de descarga atmosférica sofreu acréscimos contínuos em sua amplitude de forma a identificar os valores críticos de corrente de surto. A forma de onda da corrente produzida pela fonte é mostrada na Fig. 1, com o eixo de tempo deslocado de 0,5 µs para a esquerda do zero para permitir a visualização completa da forma de onda. Fig. 1. Forma de onda da corrente elétrica produzida pela fonte de surto. Neste trabalho foi considerada somente a situação de descarga simétrica, ou seja, uma situação particular na quala descarga elétrica atinge simultaneamente os pontos de ligação dos dois cabos pára-raios na torre. III. MODELAGEM DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO A configuração geométrica de uma linha de transmissão determina a suportabilidade do isolamento entre os cabos fase e os cabos pára-raios, e influencia nas amplitudes de sobretensões resultantes da incidência de descargas atmosféricas. Devido a grande variedade de torres existente, neste trabalho foi utilizada uma torre do tipo convencional de 500 kV, com circuito simples, extraída de [1]. As fases estão dispostas em feixes simétricos compostos por quatro sub-condutores GROSBEAK 636 MCM, CAA, espaçados de 0,4 m. Os dois cabos de blindagem são do tipo EHS 3/8", classe C, posicionados consoante o perfil de torre mostrado na Fig. 2. Fig. 2. Geometria da torre do tipo convencional de linha trifásica de 500 kV. Os dados contendo as especificações elétricas e mecânicas dos cabos utilizados na torre convencional estão relacionados na tabela I. TABELA I Dados Elétricos e Mecânicos dos Cabos Nome do Cabo Grosbeak EHC 3/8" Tipo CAA EHS Classe C Comprimento do Vão (m) 600 600 Flechas (m) 25,67 22 Seção do Cabo (mm2) 374,30 195,00 Diâmetro Interno (cm) 0,93 0,00 Diâmetro Externo (cm) 2,51 0,91 Resistência em CC (Ω) 0,101 3,36 Os parâmetros da linha de transmissão foram calculados utilizando-se o modelo JMarti do programa ATPDraw, levando-se em consideração a sua dependência com a frequência [7]. Para o cálculo dos parâmetros das linhas de transmissão foi considerada uma freqüência inicial de 10 Hz e uma frequência da matriz de transformação de 250 kHz, observando-se um tempo de crista de 1 μs, uma vez foi utilizada uma fonte de corrente impulsiva do tipo 1,2x50 μs. A resistividade do solo foi assumida sendo igual a 1000 ohm.m [1]-[8]. IV. MODELAGEM DA DISRUPÇÃO NA CADEIA DE ISOLADORES A modelagem da disrupção na cadeia de isoladores foi baseada na curva de suportabilidade TensãoxTempo [9] descrita por (1): ( ) ( )0,75t710W400W tV += (1) onde: t – instante de tempo de disrupção em µs (time to breakdown); V – tensão aplicada a cadeia de isoladores em kV; W – comprimento da cadeia de isoladores em m. A cadeia de isoladores é composta por 26 isoladores do tipo padrão com comprimento igual a 14,605 cm [10]. A amplitude do surto de tensão ao qual a cadeia de isoladores fica submetida durante a descarga atmosférica foi medida através da ligação de uma chave entre a torre e a fase da linha de transmissão, representada no sistema elétrico simulado. Esta chave é do tipo controlada por pulso de disparo, disponível na TACS. Desta forma a diferença de Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 3 potencial entre os terminais da chave controlada, representa a sobretensão imposta a cadeia de isoladores durante o surto atmosférico. A curva de suportabilidade de tensãoxtempo descrita pela equação (1) e medida no sistema elétrico implementado no ATPDraw é mostrada na Fig 3 (a). Para fins de validação, esta curva foi comparada com a curva de TensãoxTempo obtida experimentalmente em [10], para uma cadeia de isoladores também formada por 26 isoladores. (a) Curva TensãoxTempo implementada no ATPDraw. (b) Curva de TensãoxTempo para Ocorrer a Descarga para Impulso 1,2x50 µs. Fig. 3. Curva de suportabilidade Vxt da cadeia de isoladores. Ressalta-se que embora a curva C mostrada na Fig. 3 (b) seja referente a ensaios de torres de 765 kV e 500 kV utilizadas no sistema de Furnas, as diferenças de geometria para a torre de 500 kV, implementada computacionalmente na Fig. 3(a), não representaram discrepâncias significativas nas duas curvas. V. SISTEMA ELÉTRICO SIMULADO O sistema elétrico implementado neste trabalho está representado na Fig. 4. Foram representadas três torres ao longo da linha de transmissão trifásica. A fonte de surto denominada Isurge é ligada aos cabos de blindagem localizados no topo da torre central (torre 2). No sistema elétrico foram representados 4 vãos de linhas. As linhas das extremidades possuem comprimentos de 10 km. O vão a esquerda da torre central possui comprimento de 500 m enquanto que o vão a direita possui comprimento de 600 m. A altura das torres é de 44,7 m. As torres foram representadas por dois trechos de linha de transmissão monofásicas, ligados em série, com comprimentos proporcionais a 2/3 (29,8 m) e a 1/3 (14,9 m) da altura da torre, conforme [11]. Cada um dos dois trechos de linha de transmissão possui impedância de surto de 200 Ω. Os trechos de linha de transmissão monofásicos utilizados para modelar a impedância das torres, foram representados pelo modelo Transposed Lines (Clarke), com parâmetros distribuídos, do ATPDraw. A velocidade de propagação da onda eletromagnética na torre é considerada, em média, igual a 85% do valor da velocidade da luz [12]. As chaves instaladas entre os nós denominados VTORR1 e os condutores fases (VFA1VA, VFB1VA e VFC1VA), da Torre 1, registram as amplitudes das sobretensões resultantes impostas à cadeia de isoladores de cada fase. Neste sistema, a chave controlada por TACS é fechada quando a diferença de potencial existente entre os seus terminais supera a suportabilidade dos isoladores. A mesma modelagem foi adotada para as torres 2 e 3. VI. SISTEMA DE CONTROLE DA DISRUPÇÃO Na modelagem computacional desenvolvida, a disrupção foi representada através do uso de uma chave da rotina TACS, comandada pela diferença de potencial à qual a cadeia de isoladores é submetida. O sistema de controle está representado na Fig. 5. Basicamente o sistema de controle da chave da TACS que representa a disrupção utiliza a seguinte lógica: i. As sobretensões existentes entre a torre 1 (VTORR1) e as fases (VFA1VA, VFB1VA e VFC1VA) são aplicadas às entradas de um dispositivo somador, sendo utilizadas para o cálculo das diferenças de potenciais impostas às cadeias de isoladores de cada fase desta torre. O módulo desta sobretensão é então calculado. ii. No instante de tempo no qual o módulo das sobretensões torna-se maior ou igual à curva de suportabilidade Vxt, um comparador gera os pulsos (DISP1A, DISP1B e DISP1C) com amplitude igual a 5; iii. Os pulsos gerados pelos comparadores do passo anterior são aplicados aos dispositivos Sample&Track que registram o instante de tempo em que estes tornam-se positivos e geram os pulsos de disparo (VGAT1A, VGAT1B e VGAT1C), com amplitude igual a 5, para as chaves controladas das fases A, B e C, respectivamente, da torre 1. iv. As chaves da TACS mostradas no sistema elétrico da Fig. 4 são controladas pelos pulsos gerados no passo anterior. Quando os pulsos forem positivos (>0), situação na qual a sobretensão na cadeia supera a curva Vxt, as chaves são fechadas simulando a disrupção através da cadeia de isoladores. Com os pulsos VGAT1A, VGAT1B e VGAT1C aplicados às chaves das fases A, B e C da torre 1, ocorre a injeção de corrente de curto-circuito nas fases da linha de transmissão trifásica. Este sistema de controle foi também aplicado as torres 2 e 3. VII. RESULTADOS Neste item serão analisadas as amplitudes das sobretensões que determinam a ocorrência de disrupções devido ao fenômeno de backflashover. É identificado o valor de pico e a forma de onda do surto de tensão no condutor fase. Também é apresentada uma análise da influência da impedância de pé de torre na ocorrência da disrupção. Para tanto a impedância de pé de torre foi representada por meio de resistores, conforme mostrado na Fig. 4,para valores de resistências iguais a 30 Ω e 60 Ω [13]. Para cada caso estudado foram identificados os valores de corrente crítica de descarga atmosférica, ou seja, o menor valor de corrente capaz de produzir um fenômeno de backflashover. Ressalta-se que nos casos estudados a linha de transmissão não está energizada. Caso 1 – Torre de descarga com resistência de terra igual a 60 ohms. Neste caso foi considerada uma resistência de aterramento da torre de descida da descarga igual a 60 Ω. As Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 4 Fig. 4. Sistema elétrico implementado para estudos de desempenho de linhas de transmissão. Fig. 5. Sistema de controle da chave da TACS que representa a disrupção sobre a cadeia de isoladores. torres adjacentes têm resistências de pé de torre iguais a 1000 Ω. Portanto, avalia-se a influência somente da resistência de aterramento da torre 2, atingida pela descarga. A Fig. 6 mostra as sobretensões impostas às cadeias de isoladores das três torres do sistema elétrico. Devido a geometria da linha de transmissão modelada, as sobretensões observadas nas fases A e C são muito similares. A fase B ficou submetida aos maiores níveis de sobretensão. Dessa forma, foram analisadas somente as fases A e B de cada uma das torres. Fig. 6. Sobretensões atmosféricas para resistência de terra igual a 60 ohms. Neste caso, a disrupção ocorreu no instante de tempo igual a 2,62 μs, quando a sobretensão na cadeia de isoladores da fase B da torre 3, atingiu o valor de 2,8292 MV. A amplitude da corrente crítica foi de 90,06 kA. Pode -se perceber que a sobretensão na cadeia de isoladores da fase B, da torre 1, atingiu o limiar da suportabilidade no instante de tempo igual a 5,65 μs. Caso 2 – Torre de descarga com resistência de terra igual a 30 ohms. Neste caso foi considerada uma resistência de aterramento da torre 2, atingida pela descarga, igual a 30 Ω, sendo mantida a amplitude da corrente de descarga igual ao valor de corrente crítica de 90,06 kA, obtida no Caso1. Desta forma analisou a influência da redução da resistência de aterramento no fenômeno de backflashover. As torres adjacentes têm resistências de aterramento iguais a 1000 Ω. A análise da Fig. 7 permite concluir que não ocorre nenhuma disrupção neste caso. A disrupção ocorreu para um valor de corrente crítica de 94,31 kA. Com este valor de corrente de descarga, a disrupção aconteceu no instante de tempo de 2,43 μs, quando a sobretensão na cadeia de isoladores da fase B da torre 3 atingiu o valor de 2,9052 MV. Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 5 Observa-se que a redução do valor da resistência de aterramento da torre de incidência da descarga, produz sobretensões resultantes com amplitudes bastante amortecidas, quando comparadas aos valores obtidos no Caso 1. Fig. 7. Sobretensões atmosféricas para resistência de terra igual a 30 ohms. Nos casos 3 e 4 serão avaliadas as influências das resistências de aterramento das torres adjacentes nas amplitudes máximas das correntes críticas e sobretensões suportáveis. Nestes casos a resistência da torre de descarga foi mantida igual a 30 Ω e as resistências das torres adjacentes, à esquerda e à direita, sofreram variações, possibilitando a análise de suas influências individuais nas amplitudes máximas das correntes críticas. Em ambos os casos a amplitude da corrente de descarga permaneceu igual a 90,06 kA. Caso 3 - Resistência de aterramento da torre a esquerda igual a 30 Ω e resistência de aterramento da torre a direita igual a 1000 ohms. A Fig. 8 mostra a forma de onda das sobretensões nas fases A e B da linha de transmissão para este caso. Observa-se que a amplitude das sobretensões resultantes na torre 1 foram bastante reduzidas, em comparação aos Casos 1 e 2. No entanto, a corrente crítica permaneceu igual a 94,31 kA, mesmo valor obtido no Caso 2, uma vez que a disrupção ocorre na fase B da torre 3, cuja resistência de aterramento permaneceu inalterada. Portanto a redução da resistência de aterramento somente da torre 1 não foi suficiente para determinar uma melhoria no desempenho da linha de transmissão frente a descargas atmosféricas. Fig. 8. Sobretensões atmosféricas nos isoladores para o Caso 3. Para este valor de corrente crítica, a sobretensão na cadeia de isoladores da fase B da torre 3, atinge o valor de 2,9052 MV, no instante de tempo t = 2,43 µs. Caso 4 - Resistência de aterramento das torres adjacentes iguais a 30 ohms. As amplitudes das sobretensões foram fortemente reduzidas quando comparadas ao Caso 3, conforme mostrado na Fig. 9. Esta condição apresenta o melhor desempenho elétrico da linha de transmissão frente a descargas atmosféricas. A amplitude da corrente crítica observada foi de 138,751 kA. Fig. 9. Sobretensões atmosféricas nos isoladores para o Caso 4. Com a ocorrência da corrente crítica, a disrupção ocorre quando a sobretensão na cadeia de isoladores da fase B, da torre 3, atinge o valor de 2,9635 MV, no instante de tempo igual a 2,3 µs. A observação dos resultados obtidos nos casos 3 e 4 demonstra que um alto valor de resistência de aterramento de uma das torres adjacentes à torre de incidência da descarga, pode provocar uma redução considerável nos valores de corrente crítica suportável pela linha de transmissão, frente a sobretensões de origem atmosférica, quanto ao fenômeno de backflashover. VIII. CONCLUSÕES Este trabalho apresentou os resultados de estudos de coordenação de isolamento para sobretensões originadas por descargas atmosféricas indiretas em linhas de transmissão. Foi apresentada uma modelagem da dinâmica da disrupção na cadeia de isoladores através da implementação de um sistema de controle que utiliza dispositivos da TACS, permitindo tanto o registro do instante de tempo de ocorrência da disrupção quanto das amplitudes das sobretensões impostas às cadeias de isoladores, ao longo da linha de transmissão. Os resultados obtidos nos Casos 1 e 2 comprovam que a redução da amplitude da resistência de aterramento das torres provoca uma atenuação das sobretensões nos isoladores, para o evento de backflashover. Consequentemente, linhas com menores valores de resistência de aterramento suportam correntes de descarga atmosférica com maiores amplitudes, contribuindo para a melhoria do desempenho elétrico de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas. Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 6 A análise dos resultados obtidos nos Casos 3 e 4 permite concluir que as resistências de aterramento das torres adjacentes à torre de incidência da descarga, também apresentam grande influência no desempenho elétrico de linhas frente a descargas atmosféricas. Maiores valores de corrente crítica foram observados quando as torres adjacentes possuem resistência de aterramento com valores próximos ou menores do que o valor da resistência da torre de descida da descarga. Tal fato contribui para a redução do número de desligamentos e para a melhoria do desempenho elétrico de linhas de transmissão. Os diferentes comprimentos de vãos adjacentes à torre de incidência da descarga, determinam a ocorrência de valores de pico de sobretensõesem instantes defasados no tempo. Dessa forma, o projeto de coordenação de isolamento também deve considerar os comprimentos dos vãos para avaliar o desempenho de linhas de transmissão frente a surtos atmosféricos, de forma a otimizar o comprimento das cadeias de isoladores e reduzir o número de desligamentos. IX. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o suporte financeiro da FAPEMIG- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais e também o apoio científico fornecido pelas instituições de ensino envolvidas neste trabalho (IFMG, UFU e UFMG). X. REFERÊNCIAS [1] L. C. Rocha, "Desempenho de linhas de transmissão EAT e UHT frente a descargas atmosféricas: Influência da ruptura em meio vão," Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. [2] A.R.Hileman, Insulation coordination for power systems, New York: Marcel Dekker, Inc, 1999. [3] R. R. Nunes, "Coordenação de Isolamento para Transitórios de Manobra considerando a Forma de Onda das Sobretensões," Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. [4] S. Visacro, Descargas Atmosféricas: Uma Abordagem de Engenharia, vol. I. São Paulo. Ed. Artliber, 2005. [5] LÁSZLO PRIKLER, HANS KR. HOIDALEN, “ATPDRAW for Windows 3.1x/NT”, User´s Manual, version 1.0, Release Nº1.0.1, November 1998. [6] S. Visacro, “A Representative Curve for Lightning Current Waveshape of First Negative Stroke”, Geophys. Res. Lett., vol. 31, L07112,2004. [7] M. P. Pereira Filho, J. A. – “Curso básico sobre a utilização do ATP”, CLAUE, Novembro/1996. [8] A.C. S. Lima, M. P. Pereira, O. Hevia, “Cálculo de Parâmetros de Linhas de Transmissão”, Revista Iberoamericana Del ATP, Ano3. Vol.2, Número 3, Setembro, 2000. [9] LIMA, A. B. ; Boaventura, Wallace do Couto ; PAULINO, J. O. S. . The Use of a Special Grounding Arrangement to Improve the Lightning Performance of Transmission Line. In: SBSE 2012 - Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, 2012, Goiânia. Anais do SBSE 2012 - Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, 2012. [10] D'Ajuz. Ary, Transitórios elétricos e coordenação de isolamento - aplicação em sistemas de potência de alta tensão. Rio de Janeiro. FURNAS. Niterói. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE/EDUFF. 1987. [11] P.C. A. Mota, "Um estudo sobre tensões induzidas por descargas atmosféricas em linhas de transmissão." Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia, 2001. [12] L. C. Zanetta Júnior, Transitórios Eletromagnéticos em Sistemas Elétricos de Potência, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, pp 638. [13] L. V. Cunha, "Desempenho de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas: Influência do efeito corona na ruptura a meio de vão." Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Minas Gerais, Julho de 2010. XI. BIOGRAFIAS André Roger Rodrigues nasceu em Patos de Minas, MG, Brasil, em 1979. Concluiu a graduação e o mestrado em Engenharia Elétrica nos anos de 2004 e 2007, respectivamente, pela Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atualmente é aluno do curso de doutorado do COPEL-UFU, atuando no núcleo de Dinâmica de Sistemas Elétricos. Desde 2008, é professor do IFMG-Instituto Federal Minas Gerais - Campus Formiga. Suas áreas de interesse são: transitórios eletromagnéticos, conversão de energia, dinâmica de sistemas elétricos e geração distribuída. Geraldo Caixeta Guimarães é graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em 1977. Obteve o título de mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1984 e de Doutor (PhD), em Engenharia Elétrica pela University of Aberdeen, Aberdeen, Reino Unido, em1990. Atualmente é professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da UFU, e suas pesquisas se concentram na área de energia eólica, geração distribuída, dinâmica e controle de sistemas elétricos, fluxo de carga, estabilidades transitória e de tensão. Walace do Couto Boaventura nasceu no Brasil em 1965. Ele tem graduação e mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Brasil, em 1988 e 1990, respectivamente. Obteve o título de Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Campinas, Campinas, Brasil, em 2002. É professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG desde 1992. Suas áreas de pesquisa incluem compatibilidade eletromagnética e processamento de sinais aplicados aos sistemas elétricos de potência. Marcelo Lynce Ribeiro Chaves nasceu em Ituiutaba, MG, Brasil em 1951. Obteve o título de Doutorado em 1995 pela Unicamp, Campinas, Brasil. O título de Mestrado foi obtido em 1985, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Graduação em Engenharia Elétrica obtido em 1975, também pela Universidade Federal de Uberlândia. É professor titular na Universidade Federal de Uberlândia. As suas áreas de interesse são: acionamentos elétricos, transitórios eletromagnéticos e modelagem de transformadores.
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