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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Tecnologia de Produtos de Origem Animal – TPOA 2014 Prof. Pedro Leite TECNOLOGIA DO LEITE E DERIVADOS LEITE “Entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas.” RIISPOA, Art. 475. COMPOSIÇÃO DO LEITE: Em geral o leite apresenta: Água.................................................. 87% Extrato Seco Total : Gordura.............................................. 3,7% Extrato Seco Desengordurado: Lactose............................................... 4,8% Proteínas............................................ 3,5% Sais minerais...................................... 0,7% MICRO-ORGANISMOS DO LEITE O leite é um produto rico em proteínas, gordura, açúcar e sais minerais. Existem outros elementos chamados de micro -organismos, que podem pertencer ao grupo das bactérias, fungos, leveduras e vírus. Estes micro - organismos sempre estão presentes no leite, vivem em todos os lugares: no ar, na terra, na água, nos utensílios uti lizados para a ordenha, enfim, em todo o meio ambiente em que vivemos. Entre eles existem tipos que são bons ou benéficos para o homem e outros que são maus ou prejudiciais. No caso do leite, a quantidade de micro -organismos presentes é um somatório do estado de saúde do animal, do ambiente onde a vaca vive, do ordenhador e de toda higiene utilizada para a extração do mesmo. Como exemplos de micro-organismos bons ou desejáveis temos o Streptococus 2 lactis , Streptococus cremoris, Streptococus diacetilactis e Leuconostoc cremoris , que são conhecidos como “fermentos lácticos” e bastante utilizados na elaboração dos queijos e manteigas. O objetivo do seu uso é para melhorar sabor, aroma e ajudar na conservação destes produtos. Quando elaboramos um queijo ou outros produtos fermentados a partir de um leite pasteurizado, todos os micro - organismos bons presentes no leite e a totalidade de micro -organismos ruins serão mortos. Por isto, neste caso, se adiciona ao queijo “fermentos” que são os micro-organismos “bons” os quais irão ajudar na produção de um produto de boa qualidade. Para o homem algumas doenças frequentes podem ser transmitidas pelo consumo do leite cru: a tuberculose, a bru celose, salmonelose, etc. Por isso, é importante a pasteurização do leite. CLASSIFICAÇÃO DOS LEITES DE CONSUMO LEITE PASTEURIZADO – Pasteurização - Tratamento térmico, que visa eliminar a flora patogênica e saprófita, sem alteração sensível do equilíbrio químico, constituição física, elementos bioquímicos e propriedades sensoriais. Não é estéril LEITE ESTERILIZADO – Esterilização - Tratamento térmico que elimina todas as formas vegetativas das bactérias, o produto torna-se comercialmente estéril. TEOR DE GORDURA – Integral = 3,5% de gordura; Padronizado = 3,0% de gordura Semi-desnatado = 0,6 a 2,9% de gordura Desnatado = máximo de 0,5% de gordura De acordo com o Ministério da Agricultura (Instrução Normativa 51 de 2002) as instalações de ordenha, higiene de ordenha e armazenamento do leite, classifica o em três tipos: Leite tipo A – possuem sala de ordenha própria, de alvenaria e revestida (azulejos); a ordenha é mecânica, o leite resfriado imediatamente após a obtenção. Esse produtor pasteuriza e envasa o leite na própria granja. O leite está no comércio 12 h após a ordenha. Cada marca de leite tipo A é de uma única granja. Leite tipo B – também possuem sala de ordenha própria, azulejada, a ordenha é mecânica, o leite resfriado imediatamente após a ordenha. O leite é recolhido por caminhão-tanque, levado refrigerado até a usina. Lá é reunido com leites de outros produtores (B, também), pasteurizado e envasado. O leite está no comércio 24 h após a ordenha. Leite tipo C – não há necessidade de instalações especiais para a ordenha, que pode ser manual. Não é obrigatória a refrigeração imediata após a ordenha. O leite pode ser armazenado em latões. É levado à usina e pasteurizado. A Instrução nº 62 de 29 de dezembro de 2011, revoga os artigos II e III da IN 51/2002, que correspondem ao Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo B e C respectivamente e ainda altera os anexos I, IV, V e VI da mesma Normativa. 3 CONSERVAÇÃO DO LEITE FRIO – inibe a multiplicação bacteriana. CALOR - reduz os micro-organismos. 4 LEITE TIPO A LEITE TIPO B LEITE TIPO C ANTES DEPOIS ANTES DEPOIS ANTES DEPOIS UNIDADES FORMADORA DE COLÔNIAS – UFCs/ML 10.000 500 500.000 40.000 750.000 150.000 COLIFORMES TOTAIS E FECAIS AUSÊNCIA EM 1 mL DA AMOSTRA AUSÊNCIA EM 0,5 mL DA AMOSTRA AUSÊNCIA EM 0,2 mL DA AMOSTRA TEOR DE GORDURA INTEGRAL, PADRONIZADO, SEMIDESNATADO E DESNATADO INTEGRAL, PADRONIZADO, SEMIDESNATADO E DESNATADO INTEGRAL, PADRONIZADO, SEMIDESNATADO E DESNATADO ESTABELECIMENTO GRANJA ESTÁBULO FAZENDA 5 De acordo com a IN 62/2011, os requisitos microbiológicos passarão a ser: 6 Requisitos para o leite cru refrigerado (observando a diferença entre regiões do país). 7 PASTEURIZAÇÃO PASTEURIZAÇÃO LENTA – pasteurização baixa ou lenta, pequena quantidade, consiste no aquecimento do leite a 62-65°C/30 minutos, resfriamento (2-5°C). Desvantagens: grande consumo de vapor e água gelada e ser descontínua. A legislação brasileira não permite a utilização da pasteurização lenta, visando ao beneficiamento de leite “para consumo”, ficando restrita ao processamento de subprodutos, principalmente à fabricação de queijos. A eficiência da pasteurização lenta é de 95% na redução da carga bacteriana inicial. PASTEURIZAÇÃO RÁPIDA – alta ou curta duração, mesma finalidade, aquecimento do leite a 72-75°C/15-20 segundos, resfriamento (2-5°C). Vantagens: contínua, impossibilita desenvolvimento de flora termófila, economia de calor, frio, tempo. Efeitos: inativa flora patogênica e saprófita, não se deve observar caramelização do leite, não deve alterar cor, odor e sabor. O leite pasteurizado deverá ser transportado e vendido na temperatura de no máximo 5°C (leite refrigerado). A eficiência da pasteurização rápida é de 99,5% na redução da carga bacteriana inicial. Por exemplo: Leite 1: 1.000 bact./mL inicialmente e sobrevivem após a pasteurização 5 bact./mL; Leite 2: 1.000.000 bact./mL sobrevivem 5.000 bact./mL VANTAGENS : Evita transmissão de doenças; Reduz carga bacteriana do leite em 99,5%; Prolonga vida-de-prateleira do leite e derivados; Beneficia a tecnologia e qualidade dos laticínios DESVANTAGENS : Reduz as bactérias lácticas benéficas (fermentos naturais); Desnaturação das proteínas do leite A pasteurização rápida utiliza os pasteurizadores de placas. Consistem em um grupo de placas retangulares onduladas ou com nervuras, em número variável, colocadas em posição vertical, fechadas umas contra as outras, mas separadas por uma junta de borracha que deixa entre as placas um espaço de circulação. Por este espaço circula leite, vapor, água quente ou fria, podendo a circulação ser em contracorrente. O pasteurizador de placas é composto de três seções: seção de aquecimento; seção de resfriamento e seção de regeneração ou troca. O leite circula em fluxo contínuo, à pressão constante, na camada delgada de uma das superfícies das placas, e os meios de aquecimento e resfriamento ficam na outra parte,produzindo-se a pasteurização, o resfriamento e a recuperação. Entrando no pasteurizador, o leite frio vai-se aquecendo pelo leite pasteurizado que sai, produzindo um resfriamento 8 parcial do leite pasteurizado e o aquecimento do leite que está entrando. Com essas trocas, logra-se importante recuperação de calor (80-90%). O leite a ser pasteurizado, provindo do tanque de leite cru a 4ºC, desce por gravidade até o tanque de equilíbrio, o qual possui um flutuador que regula o fluxo de líquido que entra na bomba de leite. Através dessa bomba o leite é injetado no trocador de placas, onde permuta calor com o leite já pasteurizado e onde sua temperatura é elevada para, aproximadamente, 30º a 45ºC. Do trocador de calor, o leite segue para a desnatadeira centrífuga, onde ocorre a separação do leite e do creme, além das impurezas (a temperatura do leite deverá estar em torno de 38ºC para facilitar o desnate). A desnatadeira é regulada para que o teor de gordura seja adequado ao desejado (integral, padronizado, semi-desnatado e desnatado). Teor de gordura do leite: Integral: original da vaca variável entre 3-4% leite longa vida: integral = 3% (determinação mínima) Padronizado : 3% Semi-desnatado : 0,6 – 2,9% Desnatado : máximo de 0,5% Após o desnate (parcial ou total) o leite vai para o setor de aquecimento, onde sua temperatura é elevada a 75ºC pela troca de calor com a água quente em contra fluxo; nesta temperatura, o leite entra no retardador, onde tem sua velocidade reduzida e onde permanece por 15 a 20 segundos, com o objetivo de garantir a destruição dos micro- organismos patogênicos. Na saída do retardador, existe uma válvula de desvio de fluxo, controlada automaticamente pela temperatura do leite neste ponto. Se esta for inferior ao intervalo de 72- 75ºC, o leite retorna ao tanque de equilíbrio, através de uma válvula que se fecha. Se a temperatura for igual ou superior a 75ºC, o leite segue para o trocador de calor (seção de regeneração), agora para aquecer o leite frio que está entrando e resfriar parcialmente o leite pasteurizado (para 10ºC). Por último, o leite pasteurizado entra no setor de resfriamento, onde trocará calor inicialmente com água industrial (água gelada a 0ºC), ficando com uma temperatura em torno de 4ºC. Do pasteurizador o leite pode seguir dois caminhos: envase imediato ou conservação em silos isotérmicos. Fluxograma Tanque de leite cru = 4ºC; (bomba de leite) Trocador de placas [seção de regeneração] (30-45ºC); Desnatadeira; Setor de aquecimento (75ºC) contra fluxo; Retardador por 15 segundos; Válvula de desvio de fluxo; Trocador de calor [seção de regeneração]– leite frio que entra (aquece para 30º a 45ºC) e leite quente que sai (resfria para em torno de 10ºC); Setor de resfriamento (resfria o leite para 4ºC); Envase. 9 ESTERILIZAÇÃO É todo produto isento de microorganismos perniciosos à saúde e capazes de proliferar no leite. Ultra High Temperature (UHT) Temperatura Ultra-Elevada – Consiste no aquecimento do leite a 140°C /2-4”. Aquecimento direto por injeção de vapor no leite. Seleção rigorosa [menor tempo de ordenha, baixa carga original de microorganismo] para agüentar a temperatura, filtrar, padronizar ou não e esterilizar. A esterilização é realizada através de tubos concêntricos distribuídos em cinco seções, enrolados em forma de cinco serpentinas. 1ª – é o esterilizador de circuito, aquece as outras; 2 ª – aquece o leite a 65°C; 3 ª – aquece o leite a 130°C; 4 ª – aquece a 140°C/2-4 segundos, vai p/ um retardo e volta passando pela 4 ª, 3 ª e 2 ª serpentina p/ perder calor; 5 ª seção de resfriamento (20°C). VANTAGENS : Tem alta eficiência, elimina 99,99% das bactérias Conservação - não necessita de refrigeração Garante prazo mínimo de 8 semanas Custos menores de transporte e estocagem Ampliação do mercado de leite fluído 10 DESVANTAGENS: Alteração de cor, odor e sabor e da fração protéica. Não permite uso para derivados de leite CLASSIFICAÇÃO DOS DERIVADOS DO LEITE LEITE AROMATIZADO – mistura de leite, açúcar e flavorizantes esterilizados. Ingredientes: em tanque coloca-se leite, açúcar (6%), cacau em pó (1%) e fécula (0,5%) para estabilizar o cacau. Se for outro sabor, colocar essência de morango, caramelo, baunilha (0,3%), misturar e bombear para o esterilizador. Embalagem Tetrapak. LEITE GELIFICADO - leite tratado termicamente (Danete, Flan etc.) Ingredientes: leite desnatado (ou a 1%) à 70°C, fécula (0,5%), caragenato (0,5% - espessante), açúcar (20%) e essência (0,3%) ou cacau (1-2%), misturar e bombear para o pasteurizador (130°C/30 seg.), tanque (70°C), embaladora – copos de polietileno. CREME DE LEITE – “Entende-se por creme de leite, o produto lácteo, relativamente rico em gordura, retirado do leite por procedimento tecnológico adequado, que apresenta uma forma de emulsão de gordura de água.” RIISPOA, Art. 546. O creme ele tem dois destinos, indo para o creme de mesa (consumo direto – usado muito em culinária, para preparo de sobremesas, bolos etc., apresentando um teor de gordura de 25%), ou pode ser utilizado também como creme de indústria (creme utilizado na fabricação de manteiga e outros). O creme de indústria pode ser classificado como: EXTRA – creme produzido até 48 horas após a ordenha, acidez máxima de 35°Dornic; PRIMEIRA QUALIDADE – creme produzido até 72 h – acidez máxima de 50°D; SEGUNDA QUALIDADE – creme produzido até 84 h – acidez máxima de 65°D; MANTEIGA “Entende-se por manteiga, o produto gorduroso obtido exclusivamente pela bateção e malaxagem, com ou sem modificação biológica do creme pasteurizado, derivado exclusivamente do leite de vaca, por processos tecnologicamente adequados. A matéria gorda da manteiga deverá estar composta exclusivamente de gordura láctea.” RIISPOA Art. 568. A manteiga apresenta a seguinte composição média: 83% de gordura, 16% de água; 0.4% de lactose. Para efeito de destino comercial, são adotados dois tipos de manteiga: Mesa - (Extra, 1ª e 2 ª qualidade); Cozinha – não satisfaz os padrões de mesa (+ ácida) MESA: EXTRA – creme extra, sem corante, acidez máxima de 2 ml do soluto alcalino normal em 100 ml de matéria gorda na fábrica e até 3 ml no consumo, com até 2% de sal. 11 PRIMEIRA QUALIDADE - creme de primeira qualidade, acidez máx. de 3 ml na fábrica e 5 ml no consumo, com até 2,5% de sal. SEGUNDA QUALIDADE - creme de segunda qualidade, acidez máx. de 5 ml na fábrica e 8 ml no consumo, com até 3% de sal. DE COZINHA – não atende outras exigências, acidez máx. de 10 ml na fábrica e 12 ml no consumo. FLUXOGRAMA DA PRODUÇÃO DA MANTEIGA RECEPÇÃO E SELEÇÃO – é importante, pois é o início do processo, onde se realiza as análises sensoriais e físico-químicas do creme. PADRONIZAÇÃO OU DILUIÇÃO – faz-se a diluição do creme com água para facilitar o fluxo do creme na tubulação, pois os cremes concentrados podem apresentar gosto de queimado na troca de calor na pasteurização. DESACIDIFICAÇÃO – Adição de substâncias alcalinas (bicarbonato de sódio, cal hidratada etc.), melhora características sensoriais, assegura termo estabilidade protéica na pasteurização e aumenta rendimento industrial, promovendo aglomeração dos glóbulos de gordura durante a bateção. PASTEURIZAÇÃO: 90°C/15 segundos (rápida). RESFRIAMENTO – Rápido, evita formação de cristais grandes de gordura (18 a 20°C) BATEÇÃO - Transforma creme em manteiga- aglomera os glóbulos de gordura, elimina substâncias não gordurosas - leitelho. LAVAGEM – Água com temperaturaentre 4 a 8°C, ajuda a eliminar restos de leitelho. MALAXAGEM - Espremedura da manteiga – une os grãos de manteiga, regula o teor de umidade. SALGA – desenvolve o saboroma ACONDICIONAMENTO – Papel pergaminho impermeável ou potes plásticos. ESTOCAGEM - 5°C, com Umidade Relativa do ar de 75% (duração 3 meses) ou a -10°C, com UR de 75% (duração de 1 ano). QUEIJOS “Entende-se por queijo, o produto fresco ou maturado que se obtêm por separação parcial do soro do leite ou leite reconstituído ou soro lácteos, coagulados pela ação física do coalho, enzimas específicas, de ácidos orgânicos, isolados ou combinados, todos de qualidade apta para uso alimentar, com ou sem agregação de substâncias alimentícias e/ou especiarias e/ou condimentos, aditivos especificamente indicados, substâncias aromatizantes e matérias corantes.” RIISPOA, Art. 598. A caseína é a principal proteína do leite, representando cerca de 80% do total de 3,5% de proteína média do leite. Essa proteína é a que sofre ação do coalho utilizado na fabricação dos principais queijos e, portanto, é a principal proteína concentrada nos queijos. Também está presente no leite um grupo denominado de proteínas do soro, as quais apresentam excelente valor nutricional. Elas não sofrem ação do coalho tradicional, mas são coaguladas pelo calor associado a um ácido (ácido lático, acético ou cítrico). Essas proteínas do soro, são representadas principalmente pela lactoglobulina e lactoalbumina. 12 A renina ou quimosina (fonte tradicional é o abomaso de ruminantes jovens lactentes) é uma enzima protease que adicionada ao leite produz a primeira etapa da formação do queijo. A enzima converte partículas de caseinato de cálcio do leite no relativamente insolúvel paracaseinato de cálcio, que na presença de íons cálcio coagula. Esse é um método de fabricação mais tradicional, mas atualmente as indústrias estão utilizando bactérias transgênicas, criadas para funcionar como “usinas” produtoras de quimosina. CLASSIFICAÇÃO – os queijos podem ser classificados quanto a sua obtenção, consistência e teor de gordura: OBTENÇÃO DA MASSA Massa obtida por coalho (prato, parmesão, mussarela, minas etc.) Massa extraída do soro (ricota) Massa obtida por fusão (fundidos ou pasteurizados) CONSISTÊNCIA MOLES –(55% de água) Frescos – Minas Frescal, Ricota, Requeijão, etc. Maturados – Roquefort, Camembert, Brie, Gorgonzola, etc. SEMIDUROS – (45% de água) Minas Padrão, Prato, Edam, Gouda, Emmental, Mussarela e outros DUROS – (35% de água) Parmesão, Cheddar, Provolone, etc. CAMEMBERT O queijo Camembert, é denominado de pasta mole, casca aveludada, fabricado com leite de vaca, sabor intenso característico e textura suave. Trata-se de um queijo de origem francesa. Sua produção é feita a partir de pequenos volumes de leite com cuidados bastante artesanais. Geralmente se apresentam em formas cilíndricas pequenas com diâmetro entre 10 a 12 cm e altura em torno de 3 cm. Depois de enformados, os queijos são pulverizados externamente por fungos do gênero Penicillium, especificamente as espécies P. camemberti e P. candidum, são mantidos em câmaras, sobre prateleiras adequadas (com fios de aço inox ou alumínio). Após 6 ou 7 dias começa a aparecer uma fina camada de mofo branco. Os queijos então são virados cuidadosamente, para que o mofo cresça homogêneo por toda a superfície. Após 12 a 15 dias em média, podem então ser embalados em papel especial de alumínio, que mantêm intacta sua aveludada superfície branca. O Camembert é originado do queijo Brie que tem formato triangular. GORGONZOLA O Queijo Gorgonzola, italiano, é conjuntamente com o francês Roquefort um dos queijos com maior notariedade no planeta, elaborado a partir de leite de vaca. Conhecido genericamente como queijo azul, pelo abundante crescimento do mofo Penicillium roqueforti, de tonalidade azul-esverdeado, com sabor e aroma característico, tendendo ao picante. O crescimento do mofo se completa por volta dos 30 dias de maturação, momento em que normalmente o queijo é embalado em papel alumínio, inteiro ou em fatias, armazenado sob refrigeração até o momento ideal de sua degustação, que deve ocorrer 13 normalmente por volta de 45 a 50 dias (momento no qual a ação proteolítica e lipolítica, promovida pelas enzimas secretadas pelo Penicillium, se encontra estabilizada). Neste queijo, assim como em todos os queijos azuis, no processo de maturação, são injetados fungos, que fazem com que tenha veias verde-azuladas e que lhe dão um sabor especial. Neste caso, injeta-se o Penicillium roqueforti. ROQUEFORT O queijo Roquefort é produzido com leite de ovelha não-pasteurizado ao qual é adicionado o mofo característico, Penicillium roqueforti. A umidade e a quantidade de ar no local de maturação, necessárias para que o mofo se desenvolva no queijo, são rigorosamente controladas. Originário da região de Rouergue, França, tem forma cilíndrica e pesa de 2 a 3 quilos. A casca é pegajosa de cor marfim bem clara e a textura é macia, com um aroma característico e sabor que pode ser mais ou menos picante de acordo com o grau de maturação. Fica excluído da obrigação de ser submetido à pasteurização ou outro tratamento térmico o leite higienizado que se destine à elaboração dos queijos submetidos a um processo de maturação a uma temperatura superior aos 5º C, durante um tempo não inferior a 60 dias. FLUXOGRAMA GERAL Recepção do leite = filtração = padronização (3% de gordura ou desnatado no caso de queijo magro) = pasteurização do leite (72-75°C/ 15-20 seg.) = resfriamento (28 a 35°C – a depender do tipo de queijo a ser fabricado) = tanque de queijo (adição de fermento, cloreto de cálcio (que tem a finalidade de repor as concentrações de cálcio perdidas durante a pasteurização), coalho e corante (urucum) no caso do queijo prato) = coagulação após 40 a 60 minutos = corte horizontal e vertical (através das liras) = desoragem e mexedura (saída do soro) [quanto maior for o tempo de mexedura maior será a desoragem e menos umidade terá o queijo] = enformagem = prensagem, utilizada em alguns tipos de queijo (acelera saída de soro e regula a umidade) = salga, pode ser realizada na massa, salga seca (esfregando o sal no queijo, durante a enformagem ou através de salmoura [20%]) (responsável pelo sabor e conservação) = maturação ou cura (utilizados também em alguns tipos de queijo) = embalagem. FABRICAÇÃO DO QUEIJO MINAS FRESCAL 1. Dissolver o coalho (10-12mL/10L de leite – a depender do fabricante) em pequeno volume de água limpa, de boa qualidade e fervida (para inativar o cloro); 2. Cloreto de cálcio (25g/100L leite ou 0,5 mL/litro de leite – a depender do fabricante), 3. Aquecer o leite a 35ºC e adicionar a solução ao leite, o coalho sempre é adicionado por último, agitar por 2 min. 4. Deixar o leite em repouso por 60 min. e fazer o teste de corte da massa; 5. Cortar a coalhada em vários sentidos (1,5cm), deixar em repouso por 10 minutos e iniciar a mexedura por 20 a 40 min. (observar a cor do soro = amarelo esverdeado). 6. Coletar a massa e transportá-las para formas plásticas perfuradas lateralmente; 7. Virar os queijos após 15 min. e salgar, espalhando o sal na superfície; 8. Aguardar 30 min. e virar novamente e salgar a outra face; 9. Repouso em refrigeração por 24h. 10. Proporção 6L = 1kg 14 FABRICAÇÃO DO QUEIJO COALHO 1. Aqueça o leite, já pasteurizado a 35ºC. 2. Dissolver o Cloreto de cálcio (0,5mL/Litro de leite ou 25g/100L de leite) e adicionar ao leite; 3. Dissolver o coalho (10-12mL/10L) em peq. vol. de água sem cloro e adicionar ao leite; 4. Realizaruma mexedura em forma de oito por 1 minuto. 5. Deixar o leite em repouso por 60 min.; 6. Cortar a coalhada em vários sentidos (1,5cm), repouso (10 a 15min.). 7. Realizar a 1ª mexedura por 10min., deixar em repouso por 5 min. E efetuar a 2ª mexedura, repouso; 8. Retirar 50% do soro e aquecer a 85ºC; 9. Retornar o soro aquecido para a massa (cozimento); 10. Retira-se o excesso de soro e adiciona o sal 11. Coletar a massa e transportá-las para formas plásticas; 12. As formas são prensadas por 24h. FABRICAÇÃO DA RICOTA Soro proveniente de qualquer tipo de queijo; RENDIMENTO – 4-5% do soro; Aquece a 65ºC (constante agitação) e adiciona 10% de leite ao soro; Continuar aquecendo até 85ºC e adicionar lentamente 0,1% de ácido láctico ou 0,2% de vinagre branco (20mL para 10L de leite) ou 0,4% de ácido cítrico (suco de limão); Aquece até 95ºC; As proteínas se precipitam formando uma camada grossa esbranquiçada; Deixar em repouso por 20 min.; Coletar a massa e enformar; Deixar algumas horas escorrendo; Temperar (orégano e outros) e salgar. Apresenta uma vida de prateleira curta (10 a 15 dias). FABRICAÇÃO DE MUSSARELA – queijo de origem italiana e de massa filada Aquecer a 35ºC; Adicionar 15% de fermento láctico; Adicionar coalho (10-12mL/10L de leite – a depender do fabricante) em pequeno volume de água limpa, de boa qualidade e fervida (para inativar o cloro); Acrescentar o cloreto de cálcio (25g/100L leite ou 0,5 mL /litro de leite – a depender do fabricante) e agitar por 2minutos; Deixar o leite em repouso por 50 min. para que se processe a coagulação; Cortar a coalhada nos diversos sentidos; Iniciar a 1ª mexedura (5 min.)- deixando a massa em repouso por 3’; Após 20 minutos do corte, fazer um aquecimento até 40ºC; Inicia-se então a 2ª mexedura (5 min.)- repouso de 60’; Realizar a dessoragem, o soro escoado pode ser guardado para utilizar na fabricação da ricota; 15 Para que ocorra a fermentação a massa deve ser deixada em repouso em temperatura ambiente por aproximadamente 20h; Após esse período, proceder o teste de filagem para observar se já deu o ponto de fermentação (cortar um pedaço e mergulhar em água a 75-80ºC e esticar, se arrebentar a massa não tem acidez suficiente para ser filada, deverá ser deixada em repouso por mais tempo); Realizar a Filagem: cortar a massa em pedaços de 2 cm e mergulhar em água a 75- 80ºC, agitar a massa com auxílio de uma espátula por 5 min. e realizar a filagem (esticar a massa); A massa é então trabalhada até que sua aparência seja plástica e de grande elasticidade. Uma vez que a massa esteja bem filada, será moldada e enformada ou em realiza tranças, nós etc.. Salga em salmoura a 20% por aproximadamente 24 h a depender do tamanho. FABRICAÇÃO DO QUEIJO PRATO Aquecer o leite a 32ºC; Adicionar o corante urucum (5-10mL/100L), 1% de fermento, coalho (10- 12mL/10L de leite), cloreto de cálcio (25g/100L de leite ou 0,5 mL/ litro de leite – a depender do fabricante); Coagulação (repouso de 30-40’); Corte; 1ª mexedura por 10’ Delactosagem (que consiste em retirar 20% do soro formado na mexedura e substituir por água limpa na mesma proporção) com o objetivo de lavar a massa e deixá-la com sabor mais suave; Realizar o aquecimento a 42ºC, e então proceder a 2ª mexedura; Deixar por 25’ em repouso; Realizar a dessoragem (retirada do soro); Enformar a massa; Colocar na prensa e proceder a viragem, na prensa, nos tempos de: 10’, 1h e 5h.; Colocar em salmoura (20%) por 16h; Embalagem a vácuo; Cura em câmara fria por 3 semanas. LEITE CONCENTRADO – utilizado para transporte entre indústrias, onde é reconstituído. LEITE CONDENSADO – retirada parcial da água do leite fluido = padronização (3% de gordura) = pré-aquecimento (80°C) = adição de xarope de açúcar (60%) = homogeneização = condensação a vácuo = resfriamento (30°C - cristalização) = acondicionamento em latas. A [ ] de açúcar no prod. final é de 15-16%. 16 DOCE DE LEITE - cocção do leite com açúcar ou flavorizantes, podendo ser pastoso ou duro. Seleção = filtração = pesagem e resfriamento = neutralização da acidez (12-13°D – bicarbonato de sódio) = adição de ingredientes (15-20% no pastoso e 25-35% no de corte) = cocção por aproximadamente 2 h. = verificação do ponto de doce de leite (gotejamento em copo de água a massa deve descer íntegra até o fundo do copo, significando que o doce já está no ponto), deixa esfriar e realiza o envase = embalagem em latas, copos plásticos ou tabletes. A concentração de açúcar no produto final não deve passar de 55%. LEITE FERMENTADO Entende-se por Leites Fermentados os produtos adicionados ou não de outras substâncias alimentícias, obtidas por coagulação e diminuição do pH do leite, ou reconstituído, adicionado ou não de outros produtos lácteos, por fermentação láctica mediante ação de cultivos de micro-organismos específicos. IN nº 46/2007 Compreende vários tipos: Iogurte, Leite acidófilo, Coalhada, Leite fermentado ou cultivado. LEITE ACIDÓFILO: Leite Acidófilo ou Acidofilado: entende-se por Leite Acidófilo ou Acidofilado o produto incluído na definição, cuja fermentação se realiza exclusivamente com cultivos de Lactobacillus acidophilus. (IN nº 46/2007). LEITE FERMENTADO OU CULTIVADO: entende-se por Leite Fermentado ou Cultivado o produto incluído na definição, cuja fermentação se realiza com um ou vários dos seguintes cultivos: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium sp, Streptococus salivarius subsp thermophilus e/ou outras bactérias acido-lácticas que, por sua atividade, contribuem para a determinação das características do produto final. (IN nº 46/2007). COALHADA: entende-se por Coalhada o produto incluído na definição, cuja fermentação se realiza por cultivos individuais ou mistos de bactérias mesofílicas produtoras de ácido láctico. (IN nº 46/2007). IOGURTE: Iogurte, Yogur ou Yoghurt: Entende-se por Iogurte, Yogur ou Yoghurt daqui em diante o produto incluído na definição, cuja fermentação se realiza com cultivos protosimbióticos de Streptococcus salivarius subsp. thermophilus e Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus. (IN nº 46/2007). “Entende-se por iogurte, o produto obtido pela fermentação láctea através da ação do Lactobacillus bulgaricus e do Streptococcus thermophilus sobre o leite integral, desnatado ou padronizado” (RIISPOA – Art. 682). 17 Existem hoje no mercado vários tipos de iogurte classificados de acordo com o processo de elaboração, adição de ingredientes, composição, consistência e textura: Classificação: Iogurte tradicional: no qual o processo e fermentação ocorre dentro da própria embalagem, não sofre homogeneização e no resultado é um produto firme, mais ou menos consistente; Iogurte batido: o processo de fermentação ocorre em fermentadeiras ou incubadoras com posterior quebra do coágulo; FABRICAÇÃO DO IOGURTE O leite utilizado para fabricação do iogurte deve apresentar boa qualidade físico-química e não deve ser utilizado congelado, a fim de evitar defeitos na textura do produto. Para a fabricação de um produto mais consistente, deve-se aumentar a matéria seca do leite pela adição de 2 a 4% de leite em pó. No caso de utilizar açúcar, este deve ser adicionado ao leite antes do aquecimento, na proporção de 8 a 12%. Deve-se utilizar sempre leite pasteurizado ou pasteurizá-lo antes do processamento tecnológico do iogurte. Aquecer o leite entre 41-45ºC (ideal a 42ºC) e adicionar 1 a 2% de fermento láctico(cultura ou isca) preparado previamente. O fermento deve ser homogeneizado, de forma que todos os grumos sejam dissolvidos. Após a adição do fermento no leite, o conjunto deve ser novamente homogeneizado por cerca de 2 minutos. Após a adição do fermento, o leite deve permanecer em completo repouso por aproximadamente 6 horas, a uma temperatura entre 41 - 45ºC. Após o repouso de 6 horas a coalhada deverá ser resfriada a temperatura de 7-10ºC por 12h. O próximo passo será a quebra da coalhada com agitação, visando obter uma massa de textura homogênea. Realiza então a embalagem e o resfriamento do iogurte. O resfriamento tem o objetivo de inibir o desenvolvimento das bactérias e, consequentemente, interromper a produção de ácido. A redução da temperatura da massa deve atingir a temperatura de 10ºC. O aparecimento do sabor característico do iogurte ocorre durante as 12 horas de resfriamento, proporcionando as características finais de um bom iogurte. A temperatura de armazenamento deve ser de 2 a 5ºC para conservar e melhorar a consistência do iogurte, que deve ser consumido à temperatura de 10 a 12ºC, na qual o sabor torna-se mais apreciável. ADITIVOS EMPREGADOS NA FABRICAÇÃO DE IOGURTE Edulcorantes – açúcar refinado ou cristal (8-12%) produtos diet (aspartame, sacarina, estévia e ciclamato); Aromas e corantes – (0,02 a 0,15%) corantes naturais originados da beterraba, carmim de cochonilha, carotenóides e urucum corantes artificiais – amarelo crepúsculo, laranja GGN, tartazina e vermelho 40 Polpa de frutas Proporção 0,5 a 5% 18 Geléias de frutas [açúcar] Conservantes – 300mg/kg de ácido sórbico Espessante – prevenir a sinérese (sabor neutro, solubilidade, não apresentar cor, estável em pH ácido) [Amido, caragena, goma xantana (1%)] BEBIDA LÁCTEA Produto lácteo resultante da mistura do leite (in natura, pasteurizado, esterilizado (UHT)) e soro de leite (líquido, concentrado e em pó) adicionado ou não de subst. Alimentícias. A base láctea representa pelo menos 51% do total de ingredientes do produto. FABRICAÇÃO DE BEBIDA LÁCTEA ADICIONE 4,5 LITROS DE SORO DE LEITE EM UMA PANELA, ACRESCENTE 300 GRAMAS DE AÇÚCAR E 150 GRAMAS DE CHOCOLATE EM PÓ; AQUEÇA A 75ºC SOB CONSTANTE AGITAÇÃO; COE A MISTURA UTILIZANDO UM FILTRO DE NYLON OU DE TECIDO; ADICIONE 1 A 2 LITROS DE LEITE PASTEURIZADO; ACRESCENTE 10 GOTAS DE BAUNILHA; MISTURE OU BATA NO LIQUIDIFICADOR; RESFRIE A BEBIDA. (DEVE SER CONSUMIDA EM ATÉ TRÊS DIAS. TECNOLOGIA DE PESCADO E DERIVADOS A atividade da pesca é tão antiga quanto o homem, já que ele a utilizava para seu próprio sustento e de sua família. Com o desenvolvimento, essa atividade evoluiu e a necessidade de novas técnicas de captura, armazenagem e distribuição foi crescendo. O Brasil, devido à suas características territoriais, possui grande capacidade para expansão da atividade pesqueira, mas não conseguiu desenvolver o seu potencial pesqueiro, devido a principalmente ao baixo consumo e pouco hábito que nós brasileiros temos em relação a carne de peixe. Em um estudo realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), revelou que temos maior tendência para deixar de lado o peixe do que aumentar o consumo. Os fatores negativos apontados foram: falta de acesso regular do produto ao consumidor, preconceitos com a comercialização, perecibilidade e competição com produtos afins pelo sistema de preços. Mesmo que o pescado esteja barato o suficiente para competir com outras proteínas, terá pouca saída. Nutricionalmente falando, a importância do pescado está baseada em seu conteúdo de proteínas de alto valor biológico, vitaminas (principalmente A e D) e na qualidade da fração lipídica, rica em ácidos graxos poliinsaturados e com baixo teor de colesterol (não ultrapassando 2%). 19 A produção de pescado no Brasil é de 750.000 toneladas. A mais recente avaliação do consumo feita pelos técnicos do IEA de São Paulo mostra um consumo de apenas 8,7 kg/capita/ano. O consumo no Japão é de 86 kg/capita/ano, na Irlanda 80 kg, na Inglaterra 52 kg, na Espanha 35 kg, em Portugal 29 kg e na França 24 kg. A exportação de pescado no Brasil é de 53.000 toneladas, (Camarões congelados; Lagostas congeladas; Peixes frescos ou refrigerados; Conservas de atum; Atuns brancos congelados) e a importação é de 36.000 toneladas, (Bacalhau salgado e seco; Cavalas, pescado, corvina congelados; Filé de Merluza; Salmões, trutas frescas, congeladas e defumadas e Sardinha). O Potencial pesqueiro do Brasil estimada pela FAO, considerando a extensa costa marítima, os vários rios navegáveis, as represas das hidrelétricas e os 20% do total de água do mundo na região amazônica, é de ordem de 4 milhões de toneladas. DEFINIÇÃO A denominação genérica “Pescado” compreende os peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos, de água doce, salgada, usados na alimentação humana.” RIISPOA, Art. 438. CLASSIFICAÇÃO – os pescados podem ser classificados quanto a dois aspectos: do ponto de vista da pesca e captura e do ponto de vista industrial. Pesca e captura Pelágicos - vivem na superfície ou próximos a ela, ainda que, ocasionalmente, possam descer para desova ou caça. Ex: sardinha, tainhas, arenques, etc. Dimersais - vivem no fundo do mar ou próximos a ele. Ex: bacalhau, linguado, camarão, etc. Industrial Gordos = mais de 8% de gordura Semi-gordos = de 3 a 8% de gordura Magros = de 2 a 3% de gordura Os lipídios da carne de pescado apresentam grandes oscilações, o que faz com que se diferenciem fundamentalmente peixes gordos e magros. Estes teores dependem da idade, estado biológico, tipo de alimentação, estado de nutrição do pescado e temperatura da água. 20 COMPOSIÇÃO DO PESCADO Possui todos os aminoácidos essenciais (alto valor biológico e de alto valor nutritivo); Conteúdo protéico varia de 15-24% e apresenta alta digestibilidade (entre 90 e 95%), superando a carne de bovino, que é de 87%; Possui gordura rica em ácidos Graxos poliinsaturados com estruturas ω3 em peixes marinhos e ω6 em peixes de água doce; Boa fonte de vitaminas: A, D, E e B; Minerais: cálcio, iodo, fósforo, e ferro, sendo mais rica em iodo. PESCADO FRESCO “Entende-se por fresco o pescado dado ao consumo sem ter sofrido qualquer processo de conservação, a não ser a ação do gelo.” RIISPOA, Art. 439 §1°. 21 CARACTERÍSTICAS DO PESCADO FRESCO FRESCOS DETERIORADOS SUPERFÍCIE Brilhante, com muco transparente, fino e uniforme. Sem brilho e cor, com muco espesso e grosso. OLHOS Protuberantes, brilhantes e vivos. Fundos murchos, pupilas turvas e córnea opaca. GUELRAS Vermelhas e sem muco. Marrom acinzentada, muco gosmento e espesso. CARNE Firme, com consistência característica, elástica e sem eliminar líquido. Sem brilho e elasticidade e com coloração desbotada. ODOR Característico de algas. Pútrido. DECOMPOSIÇÃO DA CARNE O pescado, pela sua composição, é um dos alimentos mais perecíveis, necessitando de cuidados adequados na manipulação, desde a captura até o consumo, passando pela industrialização. Com o avanço da decomposição, os pescados vão perdendo suas propriedades sensoriais características. O início do processo caracteriza-se pela liberação de muco através de glândulas situadas no interior da pele. Este meio é constituído principalmente por mucina, que é um excelente substrato para o crescimento bacteriano, por isso deve ser retirado por simples lavagem. Outro processoque influi na decomposição é a digestão química que ocorre no trato gastrointestinal pelos sucos ácidos secretados pelas glândulas digestivas. Após a morte do animal, estes sucos promovem a destruição das paredes intestinais, atingindo o tecido muscular e causando queimaduras abdominais, além de espalhar o conteúdo intestinal. O processo de autólise é a desintegração espontânea das células, pela ação de suas próprias enzimas. Como conseqüência da autólise, pode ser produzida substâncias com odores desagradáveis. A proteólise, um dos tipos de autólise é a forma predominante nos músculos de peixes mantidos à temperaturas acima de 10°C. Os produtos resultantes são ainda utilizáveis, não podendo ser considerada, portanto, a proteólise como deterioração. A lipólise, que é um outro tipo de autólise, que passa a desempenhar um papel mais importante em temperaturas abaixo de 0°C. A decomposição bacteriana apresenta-se como um dos principais fatores para a deterioração do pescado. Com a morte do animal, as defesas naturais deixam de atuar e as bactérias começam a invadir o pescado. As bactérias intestinais e as das guelras penetram com certa facilidade na carne. As bactérias do limo superficial encontram alguma resistência devido à pele e às escamas. 22 CONSERVAÇÃO O objetivo da conservação é torná-los disponíveis por mais tempo com o mínimo de modificações nas suas qualidades nutricionais e sensoriais. Para atingir este objetivo, as mudanças químicas, enzimáticas e bacterianas que irão promover alterações, deverão ser evitadas, ou pelo menos retardadas. O pescado é um alimento altamente perecível, exigindo, portanto, manipulação, armazenamento, conservação, transporte e comercialização especiais. CONSERVAÇÃO PELO FRIO – o uso do frio é necessário para retardar as reações químicas e a atividade enzimática e para retardar ou inibir o crescimento e a atividade dos micro-organismos. Quanto mais baixa for a temperatura utilizada, mais reduzidas serão as alterações nos alimentos. De acordo com o RIISPOA, Art. 439, o pescado em natureza pode ser: Fresco = somente ação do gelo; Resfriado = (-0,5 e - 1°c); Congelado = (obtido a -25°c e acondicionado a -15°c). REFRIGERAÇÃO – na refrigeração deve ser promovida a redução da temperatura da musculatura à níveis próximos à 0°C, já que o a -1°C inicia-se a congelação. Pode-se utilizar 3 tipos de processos de refrigeração: emprego de gelo (pescado fresco), emprego de líquido refrigerante e de gelo/câmara de refrigeração(pescado resfriado). Gelo: é o processo mais usado para armazenamento do pescado nos barcos e no comércio, sendo econômico e eficiente se usado com técnica. O gelo deve estar no tamanho e espessura adequados, para que o processo de diminuição da temperatura ocorra o mais rápido possível. Gelo muito grosseiro, além de danificar mecanicamente o pescado, diminui a área de contato e transmissão de calor. A proporção gelo:pescado (1:1 é o ideal) também influi no tempo de resfriamento. Outros fatores que influem são a espessura do pescado e a distribuição da camada gelo-pescado. Líquido refrigerante: é utilizada uma salmoura ou a própria água do mar. O coeficiente de transmissão de calor é maior, além de não haver possibilidade de existência de bolsões de ar. Este processo pode ser iniciado como fase inicial da refrigeração, e depois de atingida a temperatura desejada ± 1°C, o pescado é acondicionado em gelo, que tem a função de manter a temperatura e a umidade superficial. Câmaras de refrigeração: não é muito utilizada, devido à desidratação superficial que provoca. O seu emprego normalmente limita-se ao armazenamento de produtos resfriados ou por outros processos. CONGELAMENTO – O pescado congelado mantém as características originais do pescado in natura, devido à inibição dos agentes deteriorantes pela baixa temperatura e pela transformação de grande parte de sua água de constituição em gelo. No pescado, a congelação inicia-se em -1 e -2°C, dependendo da espécie. A maior parte da água solidifica-se entre -1 e -5°C para obter um produto de qualidade, é importante que a faixa de temperatura entre -1 e -5°C seja ultrapassada o mais rápido possível. É esta faixa que define a velocidade de congelação. 23 Congelação lenta – na congelação lenta, os cristais de gelo formados no espaço intercelular crescem de tamanho, à medida que a temperatura é reduzida. Poucos cristais se formam no interior das células. À medida que os cristais aumentam de volume no espaço intercelular, o fluido deixa o interior das células através de suas membranas e vai se congelar no espaço intercelular. Desta forma, as massas de gelo formadas no espaço intercelular causam pressão ou rompimento nas membranas das células e estas se deformam. Congelação rápida – na congelação rápida, os cristais de gelo formam-se também no fluido interior das células. Pela rápida redução da temperatura, não há tempo para os fluidos das células saírem para o espaço intercelular. Desta forma, formam-se cristais pequenos e numerosos, tanto dentro como fora das células. Assim, não se observa depressão nem rompimento celular em tão alto grau como no produto congelado lentamente. Não se distingue visualmente o pescado congelado lentamente do congelado rapidamente. Só é possível distinguir no descongelamento, já que o fluído que havia saído no interior das células na congelação lenta é perdido, resultando em um produto de características sensoriais inferiores. 3 modos para se obter congelação: contato em placas, ar frio e fluidos criogênicos: Contato em placas – o material a congelar é acondicionado em caixas e colocado em armários de placas móveis, que tocam o produto por cima e por baixo. A retirada do calor do alimento é por condução (usado em filés). Ar frio – é empregado em túneis de congelamento – é menos eficiente devido ao baixo coeficiente de transmissão de calor do ar (usados em grandes postas ou em peixes inteiros). Fluídos criogênicos (líquidos puros ou salmoura saturada) – o coeficiente de transmissão de calor é 10x maior que o ar. O produto pode estar protegido ou não por envoltório ao ser imerso na solução. Após a congelação, se o pescado não estiver previamente embalado, deve-se fazer o glazeamento, que consiste em uma rápida imersão ou aspersão de água fria, para se formar uma camada de gelo superficial para proteger o produto contra a desidratação. CONSERVAÇÃO PELO CALOR Consiste na inativação, pelas altas temperaturas, de enzimas e micro-organismos. O produto difere da matéria-prima in natura, tanto no aspecto como nas propriedades sensoriais, não perdendo sua qualidade. Basicamente, o pescado submetido à conservação pelo calor é enlatado. [armazenamento por longo tempo]. No processo de enlatamento pode haver perda de até 25% de água, devido a desnaturação das proteínas, fazendo com que os músculos adquiram consistência, o que é desejável. Esta água deverá ser eliminada antes da esterilização, caso contrário, ficará depositada na lata, diminuindo o padrão de conserva. A maior parte dos lipídios é fundida durante o pré-cozimento, o que impede a formação de ranço. CONSERVAÇÃO PELO CONTROLE DA UMIDADE Os alimentos são submetidos à processos que diminuem sua atividade de água, não permitindo condições para o desenvolvimento de agentes deteriorantes. PESCADO CURADO – o sal retarda ou inibe o crescimento bacteriano. A principal característica da salga consiste na eliminação parcial da umidade. 24 Os principais tipos de pescado curado são: pescado salgado [50% de umidade nas espécies gordas, tolerando-se mais 5% nas magras] (salga secaou salmoura); prensado [45% de umidade] (salga e prensagem), defumado (salga e defumação), dessecado salgado seco [40% de umidade] (salga e dessecação natural ou artificial) e dessecado seco [35% de umidade] (dessecação natural ou artificial). Salga seca: não é recomendado para pescado gordo, porque o processo promove um maior contato da gordura com o ar, possibilitando a formação de ranço. Camadas alternadas de sal e pescado e a salmoura que é produzida não é aproveitada; a depender do produto a [ ] varia de 10 a 40% de sal e o tempo varia de 2 a 20 dias. Salga úmida: o produto é obtido mergulhando-se o pescado em salmoura saturada (26% de sal); produto obtido é de qualidade superior e a rancificação diminuída, pois o pescado não entra em contato com o ar. Salga mista: combinação dos dois processos, onde a salmoura natural que se forma é retida no próprio recipiente de salga. É usada para bacalhau. TRANSPORTE DE PESCADO Aquaviário – barco que pesca faz o transporte. Exportação em containeres. Ferroviário – exportação pelo trem da morte (Bolívia). Aéreo – para exportação, pescado acondicionado em isopor. Rodoviário – caro, mas é responsável por 99% da produção nacional. Caminhões com carrocerias isotérmicas (com isopor para isolamento). Quando a câmara não possui unidade de frio, o transporte é feito em caixas na proporção 3kg de pescado : 1 kg de gelo [500km máx.]. Unidade de frio (- 18 °c) [viagem pode ter duração de até 3.000km]. 25 PROCESSAMENTO DO ATUM Recepção – no cais da empresa ou através de caminhões frigoríficos. Se necessário faz-se estocagem em câmaras de espera (24h no gelo) ou congelamento (-18°C), estocagem na própria câmara fria e descongelamento em tanques com água hiperclorada (5-7ppm) em temperatura ambiente. Classificação – na própria esteira, por tamanho, para obter uma padronização. Evisceração – é manual e na esteira. Esterilização 121°C/ 60’ Quarentena 102 °C/85-90’ 26 Pré-cozimento – é feito em bandejas metálicas sobre prateleiras com rodas e colocadas em fornos com vapor na temperatura de 102°C por 85 a 90 minutos. A finalidade é a quebra de glóbulos de gordura, retirada de água e para facilitar a retirada de carne da coluna vertebral e retirada de pele. Limpeza – retirada de pele e musculatura abdominal, que não vão para o consumo humano. Enlatamento – pode ser atum ralado ou sólido. Faz-se adição de sal em quantidade padrão. Molho de cobertura – normalmente é feito com uso do óleo de soja na temperatura de 50°C. Recravação – fechamento das latas – lavagem para retirar o excesso de óleo e enviar as latas para a autoclave. Esterilização – é feito nas autoclaves, com temperaturas de 121°C / 60 minutos. As latas saem com temperaturas de 40°C. Quarentena – a inspeção separa 10% das latas da partida e incuba por 10 dias à 37°C. A expedição só é feita após o resultado. Revisão final – as caixas de papelão são colocadas de cabeça para baixo, para observar se há vazamento de óleo. Distribuição – é feita após todos os resultados. De acordo com o Art. 459, RIISPOA – as conservas de pescado são consideradas fraudadas: Quando forem elaboradas com pescado diferente da espécie declarada no rótulo; Quando contenham substâncias estranhas à sua composição; Quando apresentem determinadas substâncias em proporções acima das permitidas neste regulamento.
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