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Borges e Cassas Episódios emocionais com interações entre respondentes e operantes Cap. 4

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É comum a concepção de que o comporta-
mento é causado por aquilo que ocorre den-
tro da pele de uma pessoa (Skinner, 1953). As 
emoções costumam ser bons exemplos de 
causas internas do comportamento, e afirma-
ções como “eles brigaram porque estavam 
com raiva” ou “eu não consigo falar em públi-
co porque fico ansioso” são comumente ob-
servadas na sociedade atual.
De acordo com Skinner (1974), o Beha-
viorismo Radical postula que a natureza da-
quilo que ocorre den-
tro da pele não difere 
de qualquer compor-
tamento observável 
e, por isso, considera 
que a emoção não 
deve ter status causal. 
De qualquer forma, 
apesar de não ser vis-
ta como “causa”, a emoção não é negligencia-
da pela Análise do Comportamento. Ao con-
trário, é compreendida enquanto fenômeno 
complexo, a partir dos pressupostos dessa ci-
ência.
Para compreender a emoção do ponto 
de vista da Análise do Comportamento, é im-
portante identificar a interação entre com-
portamento respondente e operante, e, por 
isso, uma breve definição de conceitos rela-
cionados a estes se faz necessária.1
O comportamento respondente refere-
-se a uma relação entre organismo e ambien-
te, denominada “reflexo”, na qual a apresen-
tação de um estímulo elicia uma resposta. 
Neste, a resposta é controlada exclusivamente 
pelo estímulo antecedente, eliciador, ou seja, 
uma vez que o estímulo é apresentado, a res-
posta ocorrerá. Essa relação pode ser incondi-
cional (inata) ou condicional, produto de 
condicionamento respondente.
Já o comportamento operante refere -se 
a uma relação entre organismo e ambiente na 
qual a emissão de uma resposta produz uma 
alteração no ambiente (consequência), a qual, 
por sua vez, altera a probabilidade futura de 
 4 Episódios emocionais 
 como interações entre 
 operantes e respondentes
Cassia Roberta da Cunha Thomaz
ASSunToS do CAPÍTulo
> Compreensão analítico ­comportamental das emoções.
> Múltiplas funções de estímulos.
> O cuidado na aplicação de termos subjetivos, tais como ansiedade.
> Análise do comportamento complexo chamado ansiedade.
Apesar de não ser 
vista como “causa”, 
a emoção não é 
negligenciada pela 
análise do comporta‑
mento. Ao contrário, 
é compreendida 
enquanto “fenômeno 
complexo”.
Clínica analítico ‑comportamental 41
ocorrência de respostas da mesma classe fun-
cional. A consequência de uma resposta que 
aumenta a probabilidade futura de respostas 
da mesma classe é chamada de estímulo re-
forçador.
O reforçamento de uma resposta cos-
tuma ocorrer na presença de determinados 
estímulos – que pertencem a uma classe de 
estímulos antecedentes específica – e não em 
sua ausência. Esse reforçamento diferencial 
das respostas sob controle de estímulos ante-
cedentes é denominado treino discriminati-
vo e faz com que, futuramente, estímulos 
dessa classe de estímulos antecedentes pas-
sem a evocar respostas funcionalmente se-
melhantes àquelas que foram reforçadas em 
sua presença. Situações frente às quais as res-
postas foram contingentemente reforçadas 
passam, então, a exercer controle discrimi-
nativo, evocando respostas funcionalmente 
semelhantes àquelas que foram reforçadas 
em sua presença.
Segundo Todorov (1985), essa relação 
de dependência entre a situação em que a res-
posta é emitida, a resposta e a consequência é 
chamada de tríplice contingência. Um estí-
mulo antecedente teria, então, três funções: 
discriminativa, evocando respostas reforçadas 
em sua presença; reforçadora condicionada, 
aumentando a probabilidade futura de res-
postas que o antece-
dem; e eliciadora, em 
uma relação respon-
dente, uma vez que, 
conforme afirmam 
Darwich e Tourinho 
(2005), o reforça-
mento de uma res-
posta na presença de 
um estímulo não só 
o faz adquirir função 
discriminativa como 
também a de elicia-
dor condicionado 
das alterações corpo-
rais produzidas incondicionalmente pelo estí-
mulo reforçador. Também, a resposta respon-
dente eliciada pelo estímulo consequente 
pode tornar -se estímulo discriminativo para a 
classe de respostas operante, por acompanhar 
contingentemente o estímulo reforçador, 
conforme sugere Tourinho (1997).
O esquema a seguir, proposto por Da-
rwich e Tourinho (2005), pode ilustrar essas 
relações (Figura 4.1).
De acordo com Miguel (2000), há, 
também, eventos que aumentam momenta-
neamente a efetividade reforçadora de estí-
mulos, bem como a probabilidade de ocor-
rência de todas as respostas reforçadas por es-
figuRa 4.1 Inter ‑relações entre processos respondentes e operantes.
Fonte: Adaptado de Darwich e Tourinho (2005).
SA: estímulo antecedente à resposta operante; R1: resposta operante; SCons: estímulo consequente 
à resposta operante; SE1: estímulo eliciador incondicional ou condicional; R2: respostas fisiológicas 
respondentes; SD1: estímulo discriminativo presente no ambiente externo; SE2: estímulo eliciador 
condicional; SD2: estímulo discriminativo presente no ambiente interno
SD2
SA SD1
R1 SCons
R2
SE1
SE2 SE1
Um evento que 
tornou ‑se discri‑
minativo em uma 
relação operante 
discriminada possi‑
velmente adquiriu 
características que o 
possibilitam exercer 
função de reforçador 
condicionado para 
uma outra classe 
de respostas que 
o anteceda, bem 
como de eliciador 
condicionado para 
algumas relações 
respondentes.
42 Borges, Cassas & Cols.
ses estímulos. Tais eventos são chamados de 
operações estabelecedoras. Por outro lado, os 
eventos que diminuem momentaneamente a 
efetividade reforçadora de um estímulo e a 
probabilidade de ocorrência de respostas re-
forçadas na presença desses são chamados de 
operações abolidoras (Laraway, Snycerski, 
Michael e Poling, 2003).2
As informações supracitadas parecem 
indicar que olhar para os comportamentos 
respondente e operante separadamente teria 
um caráter principalmente didático, uma vez 
que um evento ambiental antecedente pode 
evocar respostas reforçadas em sua presença 
(função discriminativa ou evocativa), alterar 
a efetividade momentânea de um estímulo 
(função estabelecedora) e, ao mesmo tempo, 
eliciar respostas reflexas. Da mesma forma, 
um estímulo consequente, além de alterar a 
probabilidade futura de uma classe de respos-
tas, pode passar a ter função de estímulo eli-
ciador condicional em uma outra relação, 
respondente. A resposta respondente (priva-
da) eliciada por esse 
estímulo pode, tam-
bém, tornar -se um 
estímulo discrimina-
tivo privado para a 
classe de respostas re-
forçada por aquele 
estímulo consequen-
te. Analisar um fenô-
meno complexo, como a emoção, envolveria, 
então, olhar para essas múltiplas funções dos 
estímulos em conjunto, alterando a relação 
or ga nismo -ambiente como um todo.
> emoção e aNálise do 
compoRtameNto
Para a Análise do Comportamento, a emoção 
não se refere a um estado do organismo e sim 
a uma alteração na predisposição para ação 
(Skinner, 1953; Holland e Skinner, 1961), 
ou seja, a uma altera-
ção na probabilidade 
de uma classe de res-
postas sob controle 
de uma classe de estí-
mulos. Um estímulo, 
antecedente ou con-
sequente, também elicia respostas responden-
tes. As respostas respondentes presentes em 
uma emoção são aquelas dos músculos lisos e 
glândulas, afirma Skinner (1953). Portanto, 
o episódio emocional3 refere -se à relação en-
tre eventos ambientais e todas as alterações 
em um conjunto amplo de diferentes classes 
de respostas, não sendo redutível a uma única 
classe de respostas ou atribuível a um único 
conjunto de operações.
Como exemplo, suponha -se que uma 
pessoa perdeu um jogo em função de um erro 
do juiz. Ela dirá que “está com raiva”. Do 
ponto de vista de um analista do comporta-
mento, isso possivelmente significa que
 1. respostas que produzam dano ao outro, 
como xingar, reclamar, gritare socar terão 
sua probabilidade aumentada;
 2. respostas reflexas, como aumento dos bati-
mentos cardíacos, enrubescimento, o ofe-
gar serão eliciadas pela punição/extinção 
característica da condição da perda do 
jogo;
 3. a efetividade reforçadora de outros estí-
mulos, como a presença da família, pode-
rá diminuir, e a pessoa poderá relatar que 
“precisa ficar sozinha”.
A raiva, então, não seria somente o que 
a pessoa sente, mas toda esta alteração no re-
pertório total do indivíduo.
Essa situação pode ser ilustrada como 
mostra a Figura 4.2 a seguir.
Skinner (1953) sugere que algumas emo-
ções, como “simpatia” e “embaraço”, envolvem 
alteração somente em parte do repertório de 
um organismo, enquanto outras, como “raiva” 
Analisar um fenôme‑
no complexo, como a 
emoção, envolveria, 
então, olhar para 
essas múltiplas 
funções dos estí‑
mulos em conjunto, 
alterando a relação 
organismo ‑ambiente 
como um todo.
Emoção refere ‑se 
a relações em que 
há alterações em 
um conjunto amplo 
de comportamentos 
e de operações 
ambientais.
Clínica analítico ‑comportamental 43
e “ansiedade”, alte ram -no totalmente. Entre-
tanto, sugere que esses termos cotidianos de-
vem ser usados com 
parcimônia, pois po-
dem mascarar o fenô-
meno que deveria ser 
considerado em um 
episódio emocional, 
uma vez que o mes-
mo nome pode ser 
usado sob controle de 
diferentes contingên-
cias. Além disso, con-
dições corporais fisio-
logicamente iguais es-
tão presentes em 
diferentes episódios emocionais, o que as torna 
insuficientes para caracterizá -los. Por exemplo, 
o termo “raiva” poderia ser usado tanto por 
uma pessoa que não consegue escrever uma 
carta por não ter caneta quanto por outra que 
sofreu inúmeras pu-
nições no trabalho e 
interage de forma 
agressiva com esposa 
e filhos ao chegar em 
casa. No entanto, es-
sas são relações dife-
rentes; agrupá -las sob 
o mesmo nome pode 
fazer com que as des-
crições não corres-
pondam às contin-
gências.
Com relação a 
isso, Darwich e Tou-
rinho (2005) suge-
rem que a definição 
ou nomeação de um episódio emocional de-
veria ser produto não só da discriminação das 
condições corporais momentâneas como 
também da relação de contingência entre os 
A aplicação de 
termos como 
“simpatia”, “em‑
baraço”, “raiva”, 
“ansiedade”, etc., 
devem ser usados 
com parcimônia em 
uma análise, pois 
podem mascarar 
o fenômeno que 
deveria ser conside‑
rado, uma vez que o 
mesmo nome pode 
ser usado sob con‑
trole de diferentes 
contingências.
Condições corporais 
fisiologicamente 
iguais estão presen‑
tes em diferentes 
emoções, o que as 
torna insuficientes 
para caracte‑
rizar episódios 
emocionais.
A emoção deve 
ser analisada em 
termos de relações 
entre organismo 
e ambiente e 
não se restringir 
às condições 
corporais 
momentâneas.
figuRa 4.2 Representação de inter ‑relação entre processos respondentes e operantes num exemplo de raiva.
Toda esTa relação = episódio emocional denominado raiva
s condicional
Perda do 
jogo/injustiça 
do juiz.
sd
Condição 
para emissão 
R agressão.
oe
Para 
efetividade do 
dano ao outro 
enquanto SR+.
oa
Para efetividade de 
outros S, como contato 
com a família, como SR+
r
Xingar, reclamar, 
gritar, socar.
sr+
Dano ao outro.
r condicional
Taquicardia, enrubescer, ofegar.
44 Borges, Cassas & Cols.
estímulos (públicos e privados) e as respostas, 
isto é, da predisposição para ação.
De qualquer forma, os episódios emo-
cionais que implicam o repertório comporta-
mental geral, nos quais as condições ambien-
tais alteram o organismo como um todo de 
tal forma que há uma interação entre o com-
portamento operante e respondente, referem-
-se a um episódio emocional descrito como 
“emoção total” (Skinner, 1953, p. 166). Ge-
ralmente, essas são as emoções que aparecem 
como queixa clínica, e, por isso, parece im-
portante ao clínico analítico -comportamental 
saber analisar essas contingências de forma a 
identificar toda a alteração comportamental 
presente em um episódio emocional.
A “ansiedade” é um exemplo de episó-
dio emocional que implica todo o repertório 
comportamental e, por isso, será discutida a 
seguir.4
> aNsiedade
Na Análise do Comportamento, o termo an‑
siedade se refere a um episódio emocional no 
qual há interação entre comportamento ope-
rante e respondente. 
Zamignani e Banaco 
(2005) afirmam que 
o episódio emocio-
nal denominado an‑
siedade refere -se não 
só a respostas respon-
dentes de taquicardia, sudorese, alteração na 
pressão sanguínea, etc., eliciadas por estímu-
los condicionais, como também a respostas 
operantes de fuga e esquiva de estímulos aver-
sivos condicionados e incondicionados, e a 
uma interação dessas contingências respon-
dentes e de fuga/esquiva com outro compor-
tamento operante que poderia estar ocorren-
do no momento em que se apresenta o estí-
mulo aversivo/condicional. Sugere -se que, 
quando sua emissão é possível, as respostas de 
fuga e esquiva aumentam de probabilidade e, 
quan do não o é, o efeito do estímulo condi-
cional cessa a emissão de outras respostas ope-
rantes.
Esse último caso se refere à “supressão 
condicionada”, proposta inicialmente por Es-
tes e Skinner (1941). No estudo desses auto-
res, ratos privados de 
alimento foram ex-
postos a uma condi-
ção operante na qual 
respostas de pressão à 
barra foram conse-
quenciadas com ali-
mento em esquema 
de reforçamento in-
termitente (intervalo 
fixo). Paralelamente, choques inescapáveis 
eram antecipados por um som, desligado si-
multaneamente à apresentação do choque. 
Inicialmente, observou -se que as apresenta-
ções do som e/ou do choque não alteraram o 
padrão operante, mas, após sucessivas exposi-
ções, a taxa de respostas durante a apresenta-
ção do som foi reduzida e, após o choque, au-
mentada.
Os dados iniciais indicaram que tanto o 
som quanto o choque, isoladamente, não afe-
taram a frequência de respostas de pressão à 
barra (de sempenho operan te) mantidas por 
alimento. Com o passar do tempo, o estímulo 
aversivo condicional 
– a sinalização do 
choque (e não o estí-
mulo aversivo incon-
dicional – o choque) 
foi capaz de afetar o 
desempenho operan-
te mantido por refor-
çamento positivo, de-
monstrando como o desempenho operante 
pode ser comprometido pela apresentação de 
um estímulo aversivo condicionado. O cho-
que, em uma relação respondente, elicia inú-
meras respostas incondicionais. A partir do 
O termo ansiedade 
se refere a um 
episódio emocional 
no qual há interação 
entre comporta‑
mento operante e 
respondente.
Na ansiedade, 
quando sua emissão 
é possível, respostas 
de fuga e esquiva 
aumentam de pro‑
babilidade e, quando 
não o é, o efeito do 
estímulo condicional 
cessa a emissão de 
outras respostas 
operantes.
Um desempenho 
operante pode ser 
comprometido pela 
apresentação de um 
estímulo aversivo 
condicional. Assim, 
é preciso consi‑
derar a interação 
respondente‑
‑operante.
Clínica analítico ‑comportamental 45
condicionamento respondente entre som e 
choque, o som se tornou um estímulo condi-
cional, sendo capaz de eliciar respostas condi-
cionais que possivelmente interferiram no de-
sempenho operante.
Esse paradigma parece destacar aquilo 
que é importante na compreensão de um epi-
sódio emocional: a interação entre o compor-
tamento respondente e o comportamento 
operante, uma vez que demonstra experi-
mentalmente o fato de que um estímulo (no 
caso, o som), ao mesmo tempo, elicia respos-
tas respondentes e compromete o desempe-
nho operante.
Amorapanth, Nader e LeDoux (1999) 
afirmam que a supressão do comportamento 
operante em vigor, apesar de ser considerada 
uma medida indireta deparalisação (freezing) 
eliciada por estímulos condicionais (CS), po-
deria ser produto também de outro processo 
comportamental. Para provar essa hipótese, 
submeteram ratos ao procedimento clássico 
de supressão condicionada e, posteriormente, 
a uma lesão na região Periaqueductal Gray 
(PAG) do cérebro.5 Como resultado, esses 
autores identificaram que os animais subme-
tidos somente ao condicionamento choque 
(US) – som (CS) apresentaram maior freezing 
e menor supressão do que aqueles submeti-
dos também à lesão na área PAG. A partir 
desses resultados, Amorapanth, Nader e Le-
Doux (1999) sugeriram que processos distin-
tos estariam envolvidos na eliciação de free‑
zing por estímulos condicionais e na supres-
são de respostas operantes.
A pesquisa de Amorapanth, Nader e 
LeDoux (1999) parece indicar que a apre-
sentação de um estímulo aversivo condicio-
nal – no caso, o som – não só eliciaria res-
postas respondentes como também alteraria 
a efetividade momentânea de reforçadores. 
Se isso, de fato, ocorre, é possível que a apre-
sentação de um estímulo aversivo condicio-
nal também funcione como uma operação 
abolidora,6 aumentando as relações organis-
mo/ambiente a ser consideradas em um epi-
sódio emocional.
De qualquer forma, o paradigma da su-
pressão condicionada parece indicar que, ao 
se analisar um episódio emocional, não se 
pode considerar somente respostas respon-
dentes; há outras al-
terações no desem-
penho operante do 
organismo que de-
vem ser considera-
das na análise.
Para ilustrar as 
relações aqui pro-
postas, suponha que 
uma pessoa diz ficar 
muito ansiosa para 
falar em público e 
que tem que apre-
sentar um seminário 
no trabalho no final 
do dia. Ela afirmará 
que, com o passar 
do tempo, sente -se 
cada vez mais ansio-
sa e que iria embora, 
se pudesse. Relata taquicardia, sudorese, res-
piração ofegante e, na hora do almoço, diz 
que não vai comer porque perdeu o apetite. 
Quando seus colegas vêm conversar com ela e 
contar piadas, não se diverte com a compa-
nhia deles e quer distância de pessoas. Na 
hora do seminário, gagueja, treme e olha para 
baixo. Nesse episódio, pode -se supor que 
ocorram
 1. uma alteração na predisposição para res-
ponder – respostas que reduzam ou evi-
tem contato com público terão maior pro-
babilidade de ocorrência, enquanto res-
postas que produzam aproximação de 
pessoas terão menor probabilidade de 
ocorrência;
 2. eliciação de respostas respondentes, suar, 
ofegar e ter taquicardia;
Em alguns casos de 
queixa de ansiedade 
é possível verificar 
que: respostas que 
reduzam ou evitem 
contato com o 
estímulo “ansióge‑
no” são evocadas; 
ocorre eliciação de 
respostas respon‑
dentes e há uma 
alteração no valor de 
estímulos apetitivos 
e/ou aversivos. 
Assim, a ansie‑
dade não se trata 
daquilo que ocorre 
dentro da pele do 
sujeito, mas sim da 
relação que envolve 
a situação “ansióge‑
na” e das alterações 
no repertório global 
do sujeito.
46 Borges, Cassas & Cols.
 3. uma diminuição na efetividade reforçado-
ra de outros estímulos, como alimento e 
companhia dos amigos.
Para um analista do comportamento, a 
ansiedade não seria aquilo que ocorre dentro 
da pele do sujeito, mas sim toda a relação que 
envolve tanto a situação “ansiógena” quanto 
as alterações no repertório do sujeito produ-
zidas nesta situação.
A relação exposta anteriormente pode 
ser ilustrada como mostra a Figura 4.3 a se-
guir.
Em situações “ansiógenas”, observa -se, 
quando possível, além do descrito anterior-
mente, maior incidência de respostas de fuga 
e/ou esquiva. Na fuga, a resposta ocorre sob 
controle de eliminar o estímulo aversivo (no 
caso, a situação “an-
siógena”) e, na esqui-
va, sob controle de 
adiá -lo (ou evitá -lo). 
O estímulo que ante-
cede a resposta de es-
quiva é considerado 
também um aversivo 
condicional.
Zamignani e 
Banaco (2005) des-
tacam que um estí-
mulo pode tornar -se aversivo condicional 
não só via condicionamento direto com o es-
tímulo aversivo incondicional. Isso seria pos-
sível também por meio de transferência de 
função de estímulos, por generalização de es-
tímulos e/ou via formação de classes de estí-
figuRa 4.3 Representação de inter‑relações entre processos respondentes e operantes num exemplo de ansiedade.
Toda essa relação = episódio emocional denominado ansiedade
s condicional
s condicional
Passagem do 
tempo 
– proximidade 
do seminário.
Seminário 
(público)
oe
Para 
efetividade do 
contato social 
como SR ­.
oe
Para 
efetividade do 
público 
enquanto SR ­.
oa
Para efetividade de outros S, como 
alimento e piadas, como SR+.
r
Esquiva do 
contato social.
r
Olhar para baixo.
sr ‑
Diminuição do 
contato com 
outras pessoas.
sr ‑
Diminuição de 
contato com 
público.
r condicional
Empalidecer, suar, ofegar, ter taquicardia.
r condicional
Tremer.
Na fuga, a respos‑
ta é emitida sob 
controle de eliminar 
o estímulo aversivo 
(no caso, a situa‑
ção “ansiógena”) 
e, na esquiva, sob 
controle de adiá ‑lo 
(ou evitá ‑lo). O estí‑
mulo que antecede a 
resposta de esquiva 
é considerado 
também um aversivo 
condicionado.
Clínica analítico ‑comportamental 47
mulos equivalentes. 
Também, respostas 
do episódio emocio-
nal podem passar a 
fazer parte de outras 
classes de respostas 
(mantidas por aten-
ção social, por exem-
plo) e passarem a ser 
controladas pelos es-
tímulos que controlam estas outras classes. 
Assim, é preciso considerar toda a complexi-
dade do episódio emocional quando a ideia 
for com preendê -lo.
mais detalhadas sobre estes temas, veja os Capítulos 
1 e 2 deste livro e Skinner (1953).
 2. Para um maior aprofundamento, sugere -se a leitura 
do Capítulo 3.
 3. O termo “episódio emocional” será aqui utilizado 
como sinônimo de emoção e refere -se à alteração no 
repertório comportamental que envolve interações 
entre desempenho operante e respondente.
 4. O presente capítulo não tem por objetivo esgotar a 
discussão a respeito da ansiedade. Esta aparece aqui 
como um exemplo de possibilidade de análise de 
episódio emocional. Para uma discussão mais por-
menorizada do tema, veja Banaco (2001); Zamig-
nani e Banaco (2005).
 5. Lesões na área PAG, de acordo com Amorapanth e 
colaboradores (1999), costumam bloquear o freezing 
e manter outras respostas operantes inalteradas.
 6. Essa é uma hipótese ainda incipiente levantada pelo 
presente capítulo. Há necessidade de mais investi-
gações experimentais para que seja fortalecida.
> RefeRêNcias
Amorapanth, P., Nader K., & LeDoux J. E. (1999). Lesions 
of periqueductal gray dissociate conditioned freezing from 
conditioned supression behavior in rats. Learning & 
Memory, 6(5), 491-499.
Banaco, R. A. (2001). Alternativas não aversivas para trata-
mento de problemas de ansiedade. In M. L. Marinho, & V. 
E. Caballo (Orgs.), Psicologia clínica e da saúde (pp. 192-
212). Londrina: Atualidade Acadêmica.
Catania, C. (1998). Aprendizagem: Comportamento lingua‑
gem e cognição. Porto Alegre: Artmed.
Darwich, R. A., & Tourinho, E. Z. (2005). Respostas emo-
cionais à luz do modo causal de seleçãos por consequências. 
Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 
7(1), 107-118.
Estes, W. K., & Skinner, B. F. (1941). Some quantitative 
properties of anxiety. Journal of Experimental Psychology, 29, 
390 -400.
Holland, J. G., & Skinner B. F. (1961). The analysis of beha‑
vior: A program for selfi nstruction. Nova York: McGraw -Hill.
Laraway, S., Snycerski, S., Michael, J., & Poling, A. (2003). 
Motivating operations and terms to describe them: some 
further refinements. Journal of Applied Behavior Analysis, 
36, 407-414.
Miguel, C. F. (2000). O conceito de operação estabelece-
dorana análise do comportamento. Psicologia: teoria e pes‑
quisa, 16(3), 259-267.
Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. São Paulo: 
Editorial Psy.
Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. Nova 
York: Macmillan.
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Vin-
tage Books USA.
Um evento pode se 
tornar um aversivo 
condicional não só 
por pareamento com 
um aversivo, mas 
também através de 
transferência de fun‑
ção de estímulos por 
generalização e/ou 
através de equiva‑
lência de estímulos.
Na clínica
Espera ­se que o conteúdo apresentado te­
nha deixado clara a complexidade do epi­
sódio emocional, principalmente o fenô­
meno popularmente conhecido como an­
siedade. Geralmente, as emoções apare­
cem como queixa clínica, e o clínico pode 
cair em erro ao considerá ­las apenas do 
ponto de vista respondente e programar 
intervenções que alterem esse aspecto da 
emoção. 
Outro erro poderia ser optar por um 
tratamento exclusivamente medicamen­
toso – o que, talvez, alteraria o padrão res­
pondente –, pois não se ensinaria um de­
sempenho operante de enfrentamento, 
nem aumentaria a efetividade de outros 
estímulos como reforçadores positivos.
Olhar para ansiedade ou qualquer ou­
tra emoção como um fenômeno comporta­
mental complexo envolve avaliar todas as 
alterações comportamentais envolvidas no 
episódio emocional e, com isso, programar 
intervenções clínicas que modifiquem toda 
a relação organismo ­ambi en te característi­
ca do episódio emocional.
> Notas
 1. O presente capítulo não tem por objetivo aprofun-
dar conceitos teóricos. Para definições e discussões 
48 Borges, Cassas & Cols.
Todorov, J. C. (1985). O conceito de contingência tríplice 
na análise do comportamento humano. Psicologia: teoria e 
pesquisa, 1, 140 -146.
Tourinho, E. Z. (1997). Privacidade, comportamento e o 
conceito de ambiente interno. In R. A. Banaco (Org.), 
Sobre comportamento e cognição (vol. 1). Santo André: 
Arbytes.
Zamignani, D. R., & Banaco, R. A. (2005). Um panorama 
analítico -comportamental sobre os transtornos de ansie-
dade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cogni‑
tiva, 7(1), 77-92.
	PARTE I - As bases da clínica analítico-comportamental
	4. Episódios emocionais como interações entre operantes e respondentes

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