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A SURPREENDENTE HISTÓRIA DOS DABBAWALAHS DE MUMBAI AMBIENTE DA CIDADE DE MUMBAI Mumbai como cidade é única no mundo em vários aspectos. É frequentemente referida como a capital financeira da Índia. Mumbai contribui com 40% de toda a arrecadação de imposto de renda, 60% dos impostos alfandegários e 20% da receita com impostos sobre produtos manufaturados ( excise duty ) da nação, o que é um claro indicador de sua importância econômica para a Índia. Historicamente, sete ilhas de Mumbai foram ligadas, resultando em uma extensão de cerca de 436 quilômetros quadrados de área. A cidade é localizada na costa ocidental da Índia, que é banhada pelo mar da Arábia. Geograficamente ela é marcada por uma extensão longa em uma dimensão ( ver figura ). Mais de 15 milhões de pessoas de diferentes etnias vivem em Mumbai. Por um período de tempo a cidade se expandiu consideravelmente e isto criou uma pressão significativa sobre as facilidades civis e infraestrutura urbana. A população trabalhadora geralmente se desloca uma longa distância de seus lares para os locais de trabalho e em média consomem mais de uma hora no deslocamento. A população quase toda depende de transporte público para se deslocar, que é sofrível principalmente devido a congestionamentos de tráfego, falta de locais para estacionamento e condições das ruas e estradas não muito boas. Entretanto, a ferrovia local é a artéria principal de deslocamento para a cidade. As ferrovias oeste e central são os principais operadores e transportam mais de seis milhões de passageiros desta cidade metropolitana por dia. DABBAWALAHS DE MUMBAI Quem são estes Dabbawalahs ? As palavras dabbawalah ou tifinwalah significam pessoa que carrega embalagens de refeição. Os Dabbawalahs de Mumbai apresentaram para o mundo de negócios uma das mais surpreendentes redes de distribuição, que se conhece estar em operação desde a década de1890, tempo em que a Índia estava sob domínio britânico. Mumbai sempre atraiu pessoas de diferentes partes da Índia porque oferece muitas oportunidades de trabalho. Os indianos tradicionalmente amam a cozinha caseira. Pessoas de diferentes comunidades possuem gostos e preferências alimentares diferentes. Antigamente praticamente não existia a cultura de cantinas ou centros de “fast food”. O Sr. Mahadeo Havaji Bacche ( Mahadeo ) sentiu uma oportunidade aqui e desenvolveu serviços de entrega de marmitas de almoço com cerca de 100 desempregados, que eram denominados “dabbawalahs de Bombay”. Ao longo do tempo o nome desta cidade mudou para Mumbai, e a partir de então, os “dabbawalahs de Bombay” se tornaram “dabbawalahs de Mumbai”. Enquanto a população de Mumbai crescia, a operação dos dabbawalahs de Mumbai também se expandiu. O número de dabbawalahs se manteve aumentando, exceto no período 1980 – 1990, quando ocorreram fechamentos de algumas siderúrgicas em Mumbai. Em 1954 eles se organizaram com a formação de uma organização denominada “Nutan Mumbai Tiffin Box Suppliers Charity Trust”. No ano 2000 eles estavam entregando quase 2.000.000 de marmitas de almoço por dia. Se levarmos em conta a viagem de volta, 4.000.000 de transações comerciais manuais, com clientes a cada dia. O movimento total excede RS 36 crores ( unidade indiana representando 10 milhões ). Atualmente o sistema está operando com cerca de 5000 dabbawalahs, que são responsáveis pelo sucesso desta rede de suprimento. Em 1998, o interesse na rede de distribuição dos dabbawalahs de Mumbai veio à luz quando a Forbes Global Magazine qualificou seu desempenho operacional em nível de seis sigma, com escore de precisão de 99,999999. Isto em outras palavras significa que os dabbawalahs cometem um erro ou menos a cada seis milhões de transações. A Forbes Global Magazine ressaltou que os tiffenwalahs de Mumbai tinham atingido um nível de serviço com o qual o mundo dos negócios ocidental pode somente sonhar. “Organização eficiente” não é o primeiro pensamento que vem à mente na Índia, mas quando se dá liberdade ao objetivo de lucro tudo é possível. Para apreciar melhor a eficiência indiana, observe os tiffenwalahs trabalhando.” Organização: A estrutura organizacional dos dabbawalahs de Mumbai é muito simples. Há treze posições superiores, partindo do presidente e seguindo-se pelo vice Presidente, secretário, tesoureiro, e nove diretores. No nível de campo, há cerca de 5000 dabbawalahs que são coordenados e apoiados por uns poucos Makadams. Eles auxiliam no treinamento dos novos dabbawalahs, resolvendo disputas, mantendo os registros de pagamento e recibo, recrutando e comunicando-se com novos clientes, e o mais importante, separando marmitas de almoço. Nunca houve uma greve de empregados, uma vez que eles são tratados como acionistas. Trabalho para eles é serviço a Deus. Ainda mais importante, o espírito de equipe e a coordenação são seu forte. Existem três regras de ouro para assegurar a disciplina no sistema: (i) todo dabbawalah tem que usar um chapéu branco durante o tempo de trabalho, (ii) Não se pode ingerir álcool durante o trabalho, e (iii) Todos devem portar carteira de identidade. O propósito é manter suas identidades claras e visíveis ao público. As pessoas de Mumbai são geralmente conhecedoras da importância e da urgência envolvidas no trabalho desses dabbawalahs. Nos cruzamentos de tráfego e embarque em trens eles têm apoio natural dos moradores. Durante o período de coleta, pela manhã, a estrada de ferro oferece para os dabbawalahs espaço para separação nas plataformas. Eles também tem espaço reservado nas ferrovias no período das 10:00 às 11:30 nos trens indo para o Sul. De um certo modo, o trabalho destes dabbawalahs está interligado com a cultura de Mumbai. Não há muitas situações paralelas deste tipo que possam ser encontradas nem no bem administrado mundo dos negócios. OPERAÇÕES DOS DABBAWALAHS DE MUMBAI Pessoas indo para o trabalho, estudantes e homens de negócios em Mumbai geralmente deixam a casa cedo pela manhã e viajam uma longa distância para atingir os respectivos locais de trabalho. A maioria deles prefere comida caseira para almoço. Os dabbawalah de Mumbai estão prontos para fazer o serviço de levar marmitas das casas para os pontos de trabalho e trazer de volta. A coleta das marmitas com comida caseira quente nas casas é por volta das 10:30. Então, inicia-se o modelo de excelência do sistema de distribuição dos dabbawalahs de Mumbai. Uma ilustração do movimento das marmitas é apresentado na figura, com os respectivos números demonstrados na tabela. As razões pelas quais os dabbawalahs são importantes residem nos cinco aspectos principais do seu funcionamento. Eles são: 1 – Custo de operação muito baixo, 2 – Distribuição de marmitas à prova de erro, 3 – O mais alto nível de satisfação do cliente, 4 – Força de trabalho altamente motivada; e 5 – Mínimo uso de tecnologia moderna. Não é difícil imaginar que estes cinco aspectos juntos podem sempre podem montar a combinação fatal necessária para o sucesso de qualquer negócio. Custo da operação: O custo de operação da rede de distribuição dos dabbawalah de Mumbai é surpreendentemente baixo. A tarifa mensal para um cliente é de cerca de RS 300 por marmita mais bônus anual durante a estação do festival. Em alguns casos, devido à longa distância coberta ou ao tamanho grande da marmita a taxa mensal pode ser um pouquinho maior. Apesar disto, a receita gerada é por volta de RS 360 Milhões. O baixo custo das operações auxiliou na sua expansão, retenção dos clientes, gerando em consequência, economia de escala. Os dabbawalahs não usam qualquer tipo de veículo a motor para a movimentação das marmitas. Para uma viagem de longa distância, digamos, por exemplo, coleta em Andheri e entrega no escritório em Churchgate ( ver figura ) são usados ostrens de subúrbio. O uso deste sistema de transporte em massa é muito econômico porque a tarifa para um passageiro nestes trens locais é muito baixa. Não somente o custo, mas também o tempo de viagem é o mínimo possível comparado com os outros modos de transporte. O movimento das marmitas de casa para a mais próxima estação ferroviária de trens suburbanos é feita de bicicleta, carrinhos de madeira puxados ou em muitos casos, os dabbawalahs carregam as marmitas empacotadas em suas bolsas de mão. A maioria desses dabbawalahs são semi-analfabetos ou analfabetos com uma média de qualificação nível oito. Eles ganham cerca de RS 5000 a RS 8000 por mês através de um sistema que eles chamam de divisão de lucros. Em acréscimo, eles tem bônus Deepawali ( um importante festival na Índia ) que recebem de seus clientes. Distribuição à prova de erro: Como é possível atingir um nível quase sem erros dentro desta complexa rede ? Quando falamos de erro no contexto de seis sigma ele se refere a CTQs ( Critics to Quality ). CTQs para os dabbawalahs de Mumbai são aquelas características de qualidade do serviço que são importantes para o cliente. Há três importantes CTQs. Todos gostariam de receber a sua marmita e não a de ninguém mais. Segundo. Ela não deve ser entregue nem muito cedo nem muito tarde. Se entregue muito cedo, a comida não permanecerá aquecida. Se entregue muito tarde, a hora do almoço terá sido perdida. Terceiro, o custo desse serviço deve ser baixo porque custos elevados desestimularão os clientes a usar o serviço. Entrega à prova de erros tem sido atingida com o auxílio de um sistema único de codificação de marmitas. Sistema de codificação para as marmitas: Como ilustração, a figura 2 apresenta o código de Vile Parle para Churchgate. O sistema é original , muito simples e informal, mas serve aos seus propósitos. O código representa um fluxo lógico que assegura rastreabilidade completa e define direções em ambas as situações: logística direta e reversa das marmitas. Mesmo um dabbawalah analfabeto com pequeno treinamento pode reconhecer as coordenadas do escritório de destino e estação de origem através de uma combinação simples de código de letras, números e cores. O fluxo lógico da codificação é simples, mas efetivo. No ponto de agregação e separação, um símbolo A, B, C, D .... indica o nó ponto de partida para a distribuição direta. Por exemplo, no ponto de agregação e separação D, todas as marmitas das casas tendo estação residencial D serão entregues. Na logística reversa, ou viagem de volta, quando as marmitas vazias estão retornando dos escritórios para casa, este código se torna automaticamente o código de destino. A distribuição no fluxo direto possui um código de destino para distribuição. Isto é indicado por zonas de destino. Projeto da rede de distribuição: o sistema de codificação efetivamente se torna operacional através de uma combinação original dos tipos de redes de distribuição “milk-run” e “hub-and-spoke”, que às vezes se assemelha ao sistema “Just-in-time”. Como ele funciona como vantagem em custo e eficiência operacional ? Pense sobre a coleta de marmitas pela manhã – a primeira atividade da cadeia. Por exemplo, um dabbawalah vai às casas a ele alocadas, uma após a outra. Ele quase corre quando está entre uma casa e outra. As donas de casa geralmente tem as marmitas prontas porque os dabbawalah nunca estão prontos para esperar. Um dabbawalah coleta cerca de 20 marmitas. Aqui, o desafio é cobrir uma grande área, porque cada ponto de coleta pode ser um pouco distante do anterior ou sucessor. Então, isto implica em cobertura extensa, utilização ótima da capacidade dos dabbawalah, flexibilidade de tempo no início das operações por cada dabbawalah de modo a atender às necessidades da coleta e facilidade de operação. Se compararmos este processo com o do leiteiro fazendo entregas ou de um jornaleiro entregando jornais em um condomínio residencial, a abordagem é similar. Intuitivamente, eles adotam o caminho mais curto para cobrir todas as casas, com partida em sua própria casa para um término ou destinação final, que no caso dos dabbawalah é a plataforma da estação ferroviária de origem. Esta porção da rede de distribuição dos dabbawalah de Mumbai lembra um sistema “milk-run”. Do ponto para a estação ferroviária de destino, o movimento é em trens suburbanos. Isto resulta em vantagem de custo, economia de tempo, contorno de congestionamento de ruas segurança e facilidade de movimentos na longa distância envolvida. O sistema de transporte de massa como ferrovia é geralmente muito eficiente em custos quando comparado com outras opções. E a distribuição após a estação ferroviária de destino ? Todas as marmitas que foram embarcadas no trem em estações diferentes, mas codificadas para uma determinada estação, digamos, Vile Parle, são descarregadas lá. Desta estação ferroviária, a distribuição das marmitas é feita de maneira semelhante àquela do sistema “hub-and-spoke”. Isto suporta flexibilidade de volume, facilidade operacional, tempo de resposta curto e vantagem em custo. A plataforma ferroviária de destino é agora o hub de distribuição e dabbawalahs diferentes recebem suas cargas de marmitas para edifícios de escritórios diferentes. Geralmente, vários escritórios são localizados em um único edifício. Consolidação da distribuição é agora necessária. Todas as marmitas de um edifício de muitos andares ou escritórios vizinhos são separados de acordo com o sistema de código das marmitas. Ele apresenta o código do edifício ou escritório com muito destaque. ( ver figura ). Este elemento do código das marmitas é a base do movimento subsequente. Os caminhos a serem seguidos lembram os raios em diferentes direções, emanando do ponto de descarga na plataforma. Curiosamente, a adaptação destas configurações não é o resultado de um projeto elegante, mas de intuição e de experiência. Nada pode substituir completamente a intuição e a experiência em uma decisão de negócios. Provavelmente, um modelo matemático muito complexo e bem desenvolvido teria também minimizado os quatro objetivos, que os dabbawalahs conseguiram – custo total de transporte, tempo total gasto na entrega das marmitas, rate de falhas ou entrega errada no sistema, e distância total percorrida no plano total de movimentação. Com as mudanças dinâmicas no número de clientes e seus requisitos, limitações de rotas, etc. os dabbawalahs geralmente acertam na melhor solução de compromisso para um problema da vida real, que frequentemente lida com objetivos múltiplos. Uso de tecnologia moderna: Tradicionalmente, o emprego de tecnologia moderna é quase ausente no acompanhamento do movimento das marmitas. Não há uso de veículos motorizados para transporte. O sucesso de tal rede de distribuição complexa nas rotas em forma de teia de aranha de Mumbai sem computadores e sistemas de informação gerencial tem certamente algumas lições., que um gerente de cadeia de suprimentos deve aprender. O investimento em tecnologia e sua manutenção deve ser comparado com os benefícios não somente para os usuários, como os dabbawalahs, mas deve-se enxergar ao benefício total definitivo e custo para os clientes. Não é, portanto surpresa que uma vez que as chamadas recebidas são gratuitas na Índia e que a maioria dos fornecedores de serviços oferecem conexão permanente de entrada com preços iniciais apenas decorativos, os dabbawalahs estão se adestrando neste modo de comunicação. Mais recentemente, introduziram agendamento de entrega por SMS e seu website. Isto envolve despesas operacionais negligíveis, mas eles ainda usam carrinhos os ortodoxos carrinhos de empurrar, bicicletas e carregadores de cabeça para distâncias locais porque qualquer outro modo aumentaria os custos substancialmente. Ocomprometimento, a amistosidade e a orientação para o cliente são a marca registrada da eficiência operacional do sistema de distribuição dos dabbawalahs de Mumbai, que reflete perfeitamente no crescimento sem precedentes e na fidelidade dos clientes.
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