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DIREITO CIVIL I - AULA 11 Defeitos nos Negócios Jurídicos: Para que o negócio jurídico seja válido é necessário que a vontade seja manifestada livre e espontaneamente. Se a vontade se manifesta com algum vício o negócio é anulável. O negócio pode estar inquinado de algum vício, são os chamados defeitos do negócio jurídico, que podem ser vícios de consentimento ou vícios sociais. Os vícios de consentimento ocorrem quando a vontade, que é exteriorizada, não corresponde ao íntimo e verdadeiro intento do agente. Nos vícios sociais a vontade é exteriorizada em conformidade com a intenção do agente. No entanto, há uma deliberada vontade de prejudicar terceiro ou burlar a lei. Ex.: fraude a credores. O prazo para pleitear a anulação do negócio jurídico é de 4 (quatro) anos - Art. 178, CC. Erro ou ignorância: É o resultado de uma falsa percepção, noção, ou mesmo da falta de percepção sobre a pessoa, o objeto ou o próprio negócio. Quando o agente, por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias, age de um modo que não seria sua vontade, se conhecesse a verdadeira situação; diz-se que procede em erro. O erro há de ser o motivo determinante do ato. No erro o agente incorre sozinho em lapso, sem qualquer ação de terceiro ou da parte contrária. Se houver indução em erro, caracterizar-se-á o dolo. Não é qualquer espécie de erro que anula o negócio jurídico, somente o erro essencial e real. Erro Essencial (substancial): é o que recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio jurídico. É o que constitui causa determinante do ato. Art. 139, CC: Erro substancial: É o que interessa à natureza do negócio, hipótese de alguém que imagina estar realizando compra e venda, quando na verdade está praticando doação; O que interessa ao objeto principal da declaração, Ex.: comprador que adquire imóvel em uma rua imaginando se tratar de outra rua homônima; ou do antiquário que adquire um relógio de bolso na convicção de que pertenceu a D. Pedro II, quando jamais pertenceu ao Imperador. Diz respeito às qualidades essenciais ou identidade de determinada pessoa (error in persona), Ex.: testador que deixa benefício patrimonial para alguém imaginando ser seu filho, quando se trata de prole de outrem; Concerne ainda a quantidade do objeto da negociação (error in quantitate), como no exemplo do colecionador que adquire uma coleção de relógios composta por 50 peças, depois descobre que originariamente a coleção continha 60 unidades. O erro deve ser também real, ou seja, deve ser efetivo produzindo um prejuízo, para o interessado. No CC/1.916 existia o erro escusável, exigia-se que o agente tivesse atuado com as cautelas normais exigidas quando da realização do ato. Era mister que o declarante não tivesse contribuído com conduta desidiosa. No CC/2.002 não há mais a exigência da escusabilidade, é que o novel adotou o princípio da confiança, corolário da boa-fé objetiva nas relações jurídicas. Basta que o declarante tenha se comportado eticamente. E.12 da Jornada de Direito Civil “Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.” Se o equívoco recair sobre qualidades secundárias, ter-se-á o chamado erro acidental que não afeta a validade negocial. Ex.: disposição testamentária que se refira a uma pessoa, estabelecendo em sua qualificação que é casada, quando na verdade é solteira. O erro nesta hipótese é insuficiente para invalidar o negócio. O falso motivo, em regra, não vicia o negócio jurídico, salvo se nele figure como razão determinante ou essencial do negócio (art. 140, CC). Dolo: O agente é induzido a se equivocar em razão de manobras astuciosas, ardilosas e maliciosas perpetradas por outrem. O dolo nada mais é do que um erro provocado por terceiro. O dolo é todo artifício empregado por uma das partes ou por terceiro com o fito de induzir outrem à prática de um ato. Para que possa servir de causa anulatória do negócio, o dolo, tal como o erro, deve ser essencial, caracterizado como elemento necessário para a realização do negócio, ou seja, como sua causa determinante. Sem o dolo a parte não realizaria o negócio, sendo ele essencial à sua celebração. Se a parte realizaria o negócio com ou sem dolo, tem-se então o dolo acidental, que não serve para anulação, apenas obriga perdas e danos. Dolus bonus e dolus malus: O dolus bonus não pode ser invocado para anular o negócio jurídico, é aquela malícia tolerada pelo meio social. Não há intenção de lesar ou prejudicar o outro sujeito. O dolus malus não é tolerável na relação de consumo por força da propaganda enganosa, prevista no art. 37, CDC. Dolo Positivo (comissivo) ou Dolo Negativo (omissivo): Dolo Positivo: se caracteriza por uma ação perpetrada pelo agente Dolo Negativo: se caracteriza pelo silêncio intencional de uma das partes sobre fato ou qualidade do objeto sobre o que repousa a declaração de vontade. Elementos caracterizadores do Dolo: Finalidade de conduzir à prática do Direito; Gravidade dos artifícios utilizados; Ser a causa determinante da declaração de vontade, viciando-a; Ser realizado pela outra parte do negócio ou seu procurador e, se realizado por terceiro que a parte contrária, a quem o dolo aproveite, tenha ciência dele ou devesse ter. Coação: Art. 151, CC. É toda pressão física ou moral exercida contra alguém, de modo a forçá-lo à prática de um determinado negócio jurídico, contra a sua vontade, tornando defeituoso o negócio. É um fator externo apto a influenciar a vítima no sentido de realizar o negócio jurídico. No erro, o declarante se engana sozinho, espontaneamente, no dolo é levado a equivocar-se por força de manobras ardilosas, na coação o agente sofre intimidação moral. Divide-se em: Coação Física (vis absoluta): caracterizada por uma pressão resultante de uma força exterior suficiente para tolher os movimentos do agente, fazendo desaparecer sua vontade. Coação Moral (vis compulsiva): caracterizada pela existência de uma ameaça idônea (séria) de algum dano (de ordem material ou moral) a ser causado ao declarante ou à pessoa efetivamente ligada a ele, viciando a sua vontade. No caso de vis absoluta o negócio é inexistente porque não há sequer declaração de vontade, já na vis compulsiva o negócio é anulável, porque houve um defeito na declaração de vontade. Requisitos para configuração da coação: Gravidade: ameaça de um dano sério a ser imposto à vítima ou a terceiro a quem se vincule. Seriedade: a coação terá que ser idônea para assustar a vítima. Iminência ou atualidade: Nexo causal entre a coação e o ato extorquido: o negócio só foi realizado por conta da coação. Que o ato ameaçado seja injusto. Na coação há a análise das circunstâncias subjetivas, como o sexo, a idade, a formação intelectual e profissional. Art. 153, CC: Não são causas da anulação do negócio jurídico por coação a ameaça de exercício regular de direito (salvo se houver exercício abusivo de direito ou se houver constrangimento da parte contrária) e o temor reverencial. A coação exercida por terceiro vicia o negócio jurídico se dele tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a quem aproveite, respondendo esta, solidariamente com o terceiro por perdas e danos - arts. 154 e 155, CC. A expressão “família” prevista no art. 151, CC é em sentido amplo, não envolvendo apenas as pessoas unidas por laços de parentesco, mas por igual, pessoas atadas por laços afetivos – art. 151, § 1º, CC, o juiz decidirá. Lesão: Art. 157, CC. Configura-se quando alguém obtém lucro exagerado, desproporcional, aproveitando-se da falta de malícia (inexperiência) ou da situação de necessidade do outro contratante. Prende-se à ideia de justiça contratual. A lesão cumpre a função social de promover uma igualdade substancial entre os contratantes. A desproporcionalidade entre as prestações deve ocorrer no momento da declaração da vontade, no instante da contratação. Se a desproporção for superveniente não poderá se socorrerda lesão, devendo invocar a onerosidade excessiva – nos termos dos arts. 478 a 480, CC. Dois (02) Elementos Fundamentais: Um de ordem objetiva: desproporção, disparidade entre as prestações estabelecidas no negócio. Um de índole subjetiva: inexperiência (condições pessoais: situação social, cultural ou educacional); premente necessidade (impossibilidade de evitar o negócio). Basta que a parte se beneficie da situação de inferioridade, sendo desnecessária a intenção do agente em obter lucro – art. 157, § 2º, CC. É lícito a revisão contratual com base na lesão. E. 149 “Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, CC.” E. 291 “Nas hipóteses previstas no art. 157, CC, pode o lesado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço.”
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