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Veja 20170913 Quem Vigia MP

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Os procuradores podem ser questionados pela sociedade
il*
MAÍLSON DA NÓBREGA
A OPERAÇÃO Lava-Jato, condu­
zida pelo Ministério Público com a 
participação da Polícia Federal, é 
o mais bem-sucedido esforço de 
combate à corrupção e à impuni­
dade no Brasil. Ela tem permitido 
o que parecia impossível, isto é, a 
condenação de grandes empresá­
rios, políticos influentes, ex-minis- 
tros e até de um ex-presidente da 
República.
A operação beneficiou-se de no­
vas realidades. No país, surgiram 
aprimoramentos para a detecção 
de m ovim entações financeiras 
suspeitas e a regulação da colabo­
ração premiada. Ao mesmo tem­
po, a tecnologia digital facilitou o 
acesso a imagens e o registro, in­
clusive por smartphones, da práti­
ca de corrupção.
No exterior, pressões de nações 
ricas levaram países antes avessos 
à abertura do sigilo bancário a for­
necer valiosas informações. A coo­
peração com autoridades america­
nas parece ter sido igualm ente 
fundamental para o trabalho dos 
procuradores.
Relevante foi também a autono­
mia concedida pela Constituição de 
1988 ao MR Antes vinculado ao 
Executivo, como em outros países 
democráticos, o MP conquistou ca­
pítulo especial na nova Carta. Ga­
nhou inédita independência admi­
nistrativa e Financeira. Submete ao 
Congresso o seu orçamento e salá­
rios, o que gerou privilégios.
O MP tornou-se na prática um 
quarto poder. Não se subordina ao 
Legislativo, nem ao Executivo 
nem ao Judiciário. Passou a dis­
por de discricionariedade inco- 
mum a atores não eleitos. T rans­
formou-se em organização inco- 
mum na democracia.
Essa inovação não foi acompa­
nhada, entretanto, de vigilância 
adequada. O MP não é monitorado. 
O controle é exercido pelo Conse­
lho Nacional do Ministério Público, 
presidido pelo procurador-geral da 
República e composto basicamente 
de procuradores, ou seja, dos pró­
prios pares. Isso é inusitado.
Some-se a isso o processo sem 
paralelo no mundo para a escolha 
de seu líder. Procuradores elegem 
três nomes e esperam que o chefe 
do governo indique um deles ao 
Senado. A escolha deveria caber 
exclusivam ente a quem detém 
mandato eleitoral, o presidente. É 
assim na indicação de ministros 
do Supremo Tribunal Federal, da 
d iretoria do Banco Central e de 
outras agências.
2 13
MflÍLSON DA NÓBREGA
O MP parece te r assum ido a 
missão de promover uma “refor­
ma m oral” para “salvar” o país 
de vícios do sistema político. Is­
so é autoritário e perigoso, além 
de traze r “m arcas de golpismo 
em vários p roced im en tos dos 
procuradores”, que julgam pos­
suir “a certeza trazida pela boa- 
fé subjetiva”, como disse o p ro ­
fessor R oberto Romano em ju ­
nho passado no jo rnal O Estado 
de S. Paulo.
O MP corre riscos. O prestígio ad­
vindo dos avanços da Lava-Jato tem 
instigado procuradores a agir como 
se detivessem o monopólio de uma 
ação transformadora que nos salva­
rá da corrupção. Essa percepção ar­
rogante e distorcida pode acarretar 
efeitos contraproducentes, entre eles 
a erosão de sua autoridade.
Há que criar mecanismos de con­
trole do MP que evitem o seu repú­
dio pela sociedade e o esgotamento 
de tão nobres funções. ■
3|3

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