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Os procuradores podem ser questionados pela sociedade il* MAÍLSON DA NÓBREGA A OPERAÇÃO Lava-Jato, condu zida pelo Ministério Público com a participação da Polícia Federal, é o mais bem-sucedido esforço de combate à corrupção e à impuni dade no Brasil. Ela tem permitido o que parecia impossível, isto é, a condenação de grandes empresá rios, políticos influentes, ex-minis- tros e até de um ex-presidente da República. A operação beneficiou-se de no vas realidades. No país, surgiram aprimoramentos para a detecção de m ovim entações financeiras suspeitas e a regulação da colabo ração premiada. Ao mesmo tem po, a tecnologia digital facilitou o acesso a imagens e o registro, in clusive por smartphones, da práti ca de corrupção. No exterior, pressões de nações ricas levaram países antes avessos à abertura do sigilo bancário a for necer valiosas informações. A coo peração com autoridades america nas parece ter sido igualm ente fundamental para o trabalho dos procuradores. Relevante foi também a autono mia concedida pela Constituição de 1988 ao MR Antes vinculado ao Executivo, como em outros países democráticos, o MP conquistou ca pítulo especial na nova Carta. Ga nhou inédita independência admi nistrativa e Financeira. Submete ao Congresso o seu orçamento e salá rios, o que gerou privilégios. O MP tornou-se na prática um quarto poder. Não se subordina ao Legislativo, nem ao Executivo nem ao Judiciário. Passou a dis por de discricionariedade inco- mum a atores não eleitos. T rans formou-se em organização inco- mum na democracia. Essa inovação não foi acompa nhada, entretanto, de vigilância adequada. O MP não é monitorado. O controle é exercido pelo Conse lho Nacional do Ministério Público, presidido pelo procurador-geral da República e composto basicamente de procuradores, ou seja, dos pró prios pares. Isso é inusitado. Some-se a isso o processo sem paralelo no mundo para a escolha de seu líder. Procuradores elegem três nomes e esperam que o chefe do governo indique um deles ao Senado. A escolha deveria caber exclusivam ente a quem detém mandato eleitoral, o presidente. É assim na indicação de ministros do Supremo Tribunal Federal, da d iretoria do Banco Central e de outras agências. 2 13 MflÍLSON DA NÓBREGA O MP parece te r assum ido a missão de promover uma “refor ma m oral” para “salvar” o país de vícios do sistema político. Is so é autoritário e perigoso, além de traze r “m arcas de golpismo em vários p roced im en tos dos procuradores”, que julgam pos suir “a certeza trazida pela boa- fé subjetiva”, como disse o p ro fessor R oberto Romano em ju nho passado no jo rnal O Estado de S. Paulo. O MP corre riscos. O prestígio ad vindo dos avanços da Lava-Jato tem instigado procuradores a agir como se detivessem o monopólio de uma ação transformadora que nos salva rá da corrupção. Essa percepção ar rogante e distorcida pode acarretar efeitos contraproducentes, entre eles a erosão de sua autoridade. Há que criar mecanismos de con trole do MP que evitem o seu repú dio pela sociedade e o esgotamento de tão nobres funções. ■ 3|3
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