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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/287217328 Revista de Morfologia Urbana 3.2 Book · December 2015 CITATIONS 0 READS 281 2 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Urban Morphology. An Introduction to the Study of the Physical Form of Cities View project EVIDENCE: Re-inventing analysis, design and decision support systems for planning View project Vítor Oliveira University of Porto 79 PUBLICATIONS 280 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Vítor Oliveira on 18 December 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. 2015 Volume 3 Número 2 REVISTA DE MORFOLOGIA URBANA R e v i s t a d a R e d e L u s ó f o n a d e M o r f o l o g i a U r b a n a Editor: Vítor Oliveira, Universidade do Porto, Portugal, vitorm@fe.up.pt Editores Associados: Frederico de Holanda, Universidade de Brasília, Brasil Paulo Pinho, Universidade do Porto, Portugal Editores Assistentes: Cláudia Monteiro, CM Arquiteta, Portugal Mafalda Silva, Universidade do Porto, Portugal Consultores: Giancarlo Cataldi, Università degli Studi di Firenze, Itália Ian Morley, Chinese University of Hong Kong, China Jeremy Whitehand, University of Birmingham, Reino Unido Kai Gu, University of Auckland, Nova Zelândia Michael Conzen, University of Chicago, Estados Unidos da América Peter Larkham, Birmingham City University, Reino Unido Quadro Editorial: Isabel Martins, Universidade Agostinho Neto, Angola Jorge Correia, Universidade do Minho, Portugal José Forjaz, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique Judite Nascimento, Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde Luiz Amorim, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Manuel Teixeira, Universidade de Lisboa, Portugal Renato Leão Rego, Universidade Estadual de Maringá, Brasil Sandra Pinto, Universidade Nova de Lisboa, Portugal Sílvio Soares Macedo, Universidade de São Paulo, Brasil Stael de Alvarenga Pereira Costa, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nos textos publicados na ‘Revista de Morfologia Urbana’. Os Artigos (não deverão exceder as 6 000 palavras, devendo ainda incluir um resumo com um máximo de 200 palavras), as Perspetivas (não deverão exceder as 1 000 palavras), os Relatórios e as Notícias referentes a eventos futuros deverão ser enviados ao Editor. As normas para contributos encontram-se na página 2. Desenho original da capa - Karl Kropf. Desenho das figuras - Vítor Oliveira REDE LUSÓFONA DE MORFOLOGIA URBANA ISSN 2182-7214 REVISTA DE MORFOLOGIA URBANA Revista da Rede Lusófona de Morfologia Urbana Volume 3 Número 2 Dezembro 2015 83 Editorial 85 E. Barbosa e P. Fernandes Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 105 J. M. P. Silva, F. Lima e N. C. T. Magalhães Aplicação do conceito de Unidade Morfo-territorial nas escalas metropolitana, intraurbana e local Perspetivas 123 Transformação e permanência de formas urbanas: uma contribuição metodológica E. M. N. Mendonça 125 Porque importa a morfologia urbana? I. Samuels 127 Persistências, ruturas, dinâmicas: paradigmas dos estudos históricos de forma urbana S. M. G. Pinto 130 Estratégias para a renovação do edificado através das Gramáticas de Forma S. Eloy 132 Adaptabilidade, continuidade, flexibilidade e resiliência. Algumas considerações sobre as propriedades das formas urbanas T. Marat-Mendes 134 A forma física das cidades – uma análise do contributo luso-brasileiro para o debate internacional C. Monteiro 136 Indicadores Visuais A. Perdicoúlis Relatórios 102 Rede Lusófona de Morfologia Urbana (PNUM), 2014-15 T. Marat-Mendes 103 1st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology, Istambul, 2015 T. Ünlü 121 4ª Conferência da Rede Lusófona de Morfologia Urbana, Brasília, 2015 S. A. P.Costa Notícias 84 Urban Morphology 122 2º Workshop PNUM 137 ISUF Conference 2016: Urban morphology and the resilient city 138 PNUM 2016: Os espaços da morfologia urbana Normas para contributos para a Revista de Morfologia Urbana Os textos a submeter à ‘Revista de Morfologia Urbana’ deverão ser originais, escritos em Português, e não deverão estar em apreciação em nenhuma outra revista científica. Os textos serão aceites para publicação depois da avaliação favorável de, pelo menos, dois revisores independentes. Os artigos não deverão exceder as 6.000 palavras, devendo ainda incluir um resumo com um máximo de 200 palavras e até cinco palavras-chave. O título do artigo, o resumo e as palavras-chave deverão ser bilingue, em Português e em Inglês. Como a autoria dos textos não é revelada aos revisores, o(s) nome(s) e o(s) endereço(s) do(s) autor(es) devem constar de uma folha em separado. As ‘perspetivas’ (também sujeitas a ‘revisão por pares’) e os book reviews não deverão exceder as 1.000 palavras. Os artigos e as ‘perspetivas’ devem ser formatados em word e enviados por e-mail para o Editor (vitorm@fe.up.pt). Os book reviews deverão ser endereçados ao Editor dos Book Review (marat.mendes@gmail.com). Os textos deverão ser submetidos em formato de coluna única com margens largas. Os autores não deverão tentar reproduzir o layout da revista. Todas as medições devem ser expressas no sistema métrico. Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nos textos publicados na ‘Revista de Morfologia Urbana’. São ainda responsáveis por assegurar eventuais permissões para reprodução de ilustrações, citações extensas, etc. Referências Os autores deverão usar o sistema de referenciação Harvard, no qual o nome do autor (sem as iniciais) e a data são apresentados no corpo do texto – por exemplo (Whitehand e Larkham, 1992). As referências são apresentadas por ordem alfabética no final do texto, sob o título ‘Referências’, da seguinte forma: Conzen, M. P. (2012) ‘Urban morphology, ISUF and a view forward’, 18th International Seminar on Urban Form, Montreal, 26 a 29 de Agosto. Conzen, M. R. G. (1968) ‘The use of town plans in the study of urban history’, em Dyos, H. J. (ed.) The study of urban history (Edward Arnold, Londres) 113-30. Hillier, B. (2008) Space is the machine (www.spacesyntax.com) consultado em 9 Setembro de 2013. Kropf, K. S. (1993) ‘An inquiry into the definition of built form in urban morphology’, Tese de Doutoramento não publicada, University of Birmingham, Reino Unido. Moudon, A. V. (1997) ‘Urban morphology as an emerging interdisciplinary field’, Urban Morphology 1, 3-10. Whitehand, J. W. R. e Larkham, P. J. (eds.) (1992) Urban landscapes, international perspectives (Routledge, Londres). No caso de publicações com múltiplos autores, todos os nomes devem ser incluídos na lista de referências. Apenas as referências citadas devem ser incluídas na lista. Ilustrações e tabelas Os desenhos e as fotografias deverão ter a dimensão adequada à sua reprodução. Nesse sentido, a dimensão das páginas da revista deverá ser tida em consideração pelo autor ao desenhar as ilustrações. As ilustrações devem ser a preto e branco a menos que a cor seja essencial.Devem ser numeradas de forma consecutiva, referidas diretamente no texto e submetidas em formato JPEG ou TIFF. As ilustrações fotográficas deverão ter uma resolução de, pelo menos, 1200 dpi, e os desenhos de, pelo menos, 600 dpi. Todas as ilustrações devem ter uma designação. No final do texto, após a lista de referências, deve ser incluída uma lista das ilustrações, da seguinte forma: Figura 1. Análise metrológica de Lower Broad Street, Ludlow Deverá ser dedicada uma atenção especial ao layout das tabelas, devendo ser desenhada uma tabela por página. As tabelas deverão ser desenhadas com o mínimo recurso a normalizações quer na vertical quer na horizontal. Deverão ter margens largas em todos os lados. Página de título Numa página em separado deverá ser indicado o título do artigo e o nome, a filiação académica (ou profissional) e o endereço completo (incluindo e-mail) do(s) autor(es). Títulos Apenas na primeira letra e nos nomes próprios serão utilizadas maiúsculas. Os títulos deverão ser justificados à esquerda. Os títulos primários deverão ser a negrito e os secundários em itálico. Números Deverão ser usados algarismos para todas as unidades de medida, à exceção de quantidades de objetos e pessoas, quando estas se referirem a valores compreendidos entre um e vinte. Nesse caso, os números deverão escritos por extenso. Por exemplo: 10 dias, 10 km, 24 habitantes, 6400 m; mas dez pessoas, cinco mapas. Provas Durante o processo de publicação serão enviadas provas aos autores. Nesta fase, apenas serão corrigidos erros de impressão, não sendo aceitáveis alterações de fundo. Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(2), 83-4 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214 Editorial Permanência e transformação das formas urbanas Para quem estuda ou intervém sobre a forma física das cidades, não será nova ou surpreendente a constatação de que essa mesma forma está em permanente mudança. Certos autores comparam mesmo a cidade a um organismo vivo. Aliás, a morfologia urbana, enquanto ciência da forma urbana, tem como antecedente disciplinar a ‘morfologia’ (termo criado por Johann Wolfgang von Goethe) enquanto abordagem sistemática de observação e classificação da forma dos seres vivos. Os processos de mudança da forma física das cidades têm ritmos diferentes. Por um lado, algumas cidades transformam-se mais depressa do que outras. Por outro lado, a história urbana de qualquer cidade é marcada por períodos temporais em que a mudança é mais rápida e por outros em que a transformação ocorre de modo mais lento ou em que não há alterações significativas. Menos consensual será a ideia de que há vantagens em refletir, previamente e de um modo sistemático, sobre como essa transformação deve ocorrer e em definir regras para controlar ou, pelo menos, influenciar essa mudança. O que se conserva e o que se transforma? Quais os critérios que determinam a preservação de uma área urbana, de uma rua, de um quarteirão ou de um edifício (singular ou comum)? Pode, numa determinada área urbana, o ‘novo’ ser conservado e, em simultâneo, o ‘antigo’ ser transformado? Cinco das sete ‘perspetivas’ incluídas neste número da ‘Revista de Morfologia Urbana’ fornecem um conjunto de elementos para uma melhor compreensão desta temática. A definição de uma ou mais áreas como merecedoras de uma atenção especial ao nível da conservação da sua forma física é algo comum em muitas cidades. No entanto, o modo como essa área é definida, quais são as suas fronteiras e quais os elementos que se conservam, é algo que deverá merecer uma análise atenta. Um dos enfoques do texto de Eneida Mendonça incluído neste número (pp. 123-5) é a Lista de Património Mundial definido pela UNESCO (neste caso específico, a autora centra-se na recente classificação do Rio de Janeiro como Património Cultural da Humanidade, na categoria Paisagem Cultural). Apesar de uma série de vantagens associadas a esta iniciativa da UNESCO criada nos anos 70 (a conservação de um conjunto de sítios com um valor patrimonial de referência, a generalização de uma atitude de valorização do património e de participação ativa das populações na sua conservação, entre outros), a verdade é que mesmo neste caso importa questionar como se delimitam estas áreas. Numa análise da definição da área que suportou a classificação da UNESCO da cidade de São Petersburgo, na Rússia, Whitehand (2009) sublinha a frágil relação que existe entre a delimitação que foi proposta pelas autoridades locais, eventualmente com base em estudos inadequados, e uma delimitação sugerida por uma investigação morfológica detalhada que colocou em evidência um limite mais ‘óbvio’– a cintura periférica intermédia da cidade que segue o limite da área construída em São Petersburgo no final da Primeira Guerra Mundial. Importa contudo sublinhar que este exemplo da fragilidade na delimitação concreta das áreas da UNESCO está em linha com o modo como estas áreas são normalmente definidas pelas autoridades locais quando o propósito é, não a candidatura a uma classificação UNESCO mas, a gestão urbanística corrente. Refletir sobre uma ‘área de conservação’ implica também perceber aquilo que dentro dessa área deve ser preservado e aquilo que pode ser transformado. Ao revisitar a ‘lei da persistência do plano’, de Lavedan, e o conceito de palimpsesto, de Giovannoni, Sandra Pinto (pp. 127-9) lembra-nos que, por um lado, há elementos da forma urbana que são mais importantes que outros e que têm uma maior perenidade no ‘plano’ da cidade, e que, por outro lado, em cada período temporal da história urbana de uma cidade, por baixo das formas urbanas visíveis é possível encontrar as diversas ‘cidades’ anteriores, sobrepostas umas nas outras em diferentes camadas (Giovannoni, 1931; Lavedan, 1926). De modo complementar, e numa crítica à abordagem townscape (Cullen, 1961) desenvolvida a partir do início dos anos 60 com uma forte predominância na Grã-Bretanha, Ivor Samuels (pp. 125-7) alerta-nos para a necessidade de irmos além daquilo que é visual e explorarmos aquilo que é estrutural (e por vezes ‘invisível’ como é o caso das parcelas urbanas). Marat- Mendes (2015) oferece-nos uma classificação de quatro tipos de transformação urbana correspondente a quatro tipos de resposta das formas urbanas que sofrem essa transformação: adaptabilidade, continuidade, flexibilidade e resiliência. Sobre a possibilidade de conservação do novo 84 Editorial e de transformação do antigo, Mendonça (2015) refere um caso concreto de constatação de um certo interesse da população local em conservar um conjunto de edifícios novos, alertando sobre a necessidade de transformar uma série de edifícios antigos para viabilizar o uso. A este nível, o caso Brasileiro, e mais concretamente Brasilia, é paradigmático. A classificação do Plano Piloto da capital Brasileira como Património Mundial introduz uma série de constrangimentos à transformação de um ambiente urbano criado há apenas meio século. Por fim, as ‘perspetivas’ publicadas neste número sobre a temática da transformação permitem-nos ainda ter uma noção da importância de cada contexto específico: a rapidez do processo de transformação urbana de um país da América Latina que permite pouco tempo para a reflexão (Mendonça, 1015); um processo de transformação urbana mais lento, típico de uma capitalEuropeia, marcado pela disponibilidade de edificado para reabilitação (Eloy, 2015); e a discricionariedade do sistema de planeamento Inglês que conduz a uma certa desvalorização da regulação da transformação pelo plano urbanístico e das análises morfológicas que deveriam suportar a elaboração desse plano (Samuels, 2015). Referências Cullen, G. (1961) Townscape (Architectural Press, Londres). Eloy, S. (2015) ‘Estratégias para a renovação do edificado através das Gramáticas de Forma’, Revista de Morfologia Urbana 3, 130-2. Giovannoni, G. (1931) Vecchie città ed edilizia nuova (Unione Tipografico-Editrice Torinese, Turim). Lavedan, P. (1926) Introduction a une histoire de l’architecture urbaine (Definitions-Sources) (Éditeur Henri Laurens, Paris). Marat-Mendes, T. (2015) Adaptabilidade, continuidade, flexibilidade e resiliência. Algumas considerações sobre as propriedades das formas urbanas, Revista de Morfologia Urbana 3, 132-4. Mendonça, E. (2015) ‘Transformação e permanência de formas urbanas: uma contribuição metodológica’, Revista de Morfologia Urbana 3, 123-5. Pinto, S. M. G. (2015) ‘Persistências, ruturas, dinâmicas: paradigmas dos estudos históricos de forma urbana’, Revista de Morfologia Urbana 3, 127-9. Samuels, I. (2015) ‘Porque importa a morfologia urbana?’, Revista de Morfologia Urbana 3, 125-7. Whitehand, J. W. R. (2009) ‘The structure of urban landscapes: strengthening research and practice, Urban Morphology 13, 5-27. Vítor Oliveira Urban Morphology Foi publicado em Outubro o segundo número do volume 19 da revista Urban Morphology (http://www.urbanform.org/online_public/2015_2 .shtml). Este número inclui cinco artigos. No primeiro artigo, Stephan Marshall propõe um sistema para representar e analisar o plano de cidade (enquanto objeto geométrico) baseado no conceito de área estrutural. Recorrendo à abordagem histórico-geográfica, Thomas Kolnberger explora a continuidade entre formas rurais e formas urbanas, com um enfoque particular nas parcelas. O caso de estudo de Phnom Penh, no Cambodja, coloca em evidência a persistência de um conjunto de padrões de assentamentos rurais num contexto urbano específico. Borja Ruiz-Apinánez, Eloy Solis e José Ureña analisam a presença efectiva da morfologia urbana em 33 escolas de arquitetura Espanolas. A análise revela que apesar desta área do conhecimento estar aparentemente presente num conjunto de módulos de estudos urbanos, poucos são os que se dedicam a um estudo sistemático da forma urbana, o que se traduz num peso reduzido da morfologia urbana nos cursos de arquitetura. Este artigo, de algum modo, complementa o conjunto de ‘perspetivas’ publicadas no último número da Revista de Morfologia Urbana. O texto The study of urban form in Japan integra-se num conjunto de artigos inaugurados em 1998 por Vilagrasa Ibarz. Shigeru Satoh, Kenjirou Matsuura e Satoshi Asano estruturam a sua revisão sobre o estudo da forma urbana no Japão em cinco partes distintas, desde o estudo das tradicionais cidades muralhadas até à conceção de métodos de desenho e planeamento. Numa reflexão sobre as origens da morfologia urbana, enquanto área de conhecimento, Peter Larkham analisa o papel do geógrafo Americano John Leighly e em particular do seu livro The towns of Malardalen in Sweden, publicado em 1928. Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(2), 85-102 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Eliana Barbosa Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rua Caio Prado, 30-ap34, São Paulo CEP 01303-000, Brasil. University of Leuven, Kasteelpark Arenberg 1 – bus 2431. Leuven, Bélgica. E-mail: queirozeliana@outlook.com e Patrícia Fernandes University of Leuven, Kasteelpark Arenberg 1 – bus 2431, Leuven, Bélgica. E-mail: patricia.capanemaalvaresfernandes@asro.kuleuven.be Artigo revisto recebido a 26 de Setembro de 2015 Resumo. Este artigo resume pesquisa realizada em 2012/2013, na qual se usou o campo da morfologia urbana e seu instrumental para investigar relações entre urbanização e desenvolvimento em diferentes países do Sul Global. Trata-se de um estudo comparativo das cidades de São Paulo e Jacarta, e de Hanói e Belo Horizonte, em seus processos de desenvolvimento econômico e espacial, seus processos de planejamento urbano e sua resultante forma urbana. As políticas urbanas e formas urbanas resultantes foram comparadas em diferentes escalas nas quatro cidades, de acordo com abordagem proposta por Lamas (1993). São Paulo e Jacarta foram escolhidas pela importância e relevância econômica dentro de seus respectivos contextos, América do Sul e Sudeste Asiático, oferecendo a possibilidade de comparação com a finalidade de encontrar semelhanças. Hanói e Belo Horizonte apresentam posições análogas em relação aos seus contextos; ambas são cidades administrativas, com semelhante demografia, crescimento econômico e acelerada urbanização. Apesar das semelhanças, as cidades apresentam processos de crescimento e urbanização e aspectos culturais distintos, que foram destacados através da comparação. Assim, este estudo investiga a forma urbana dessas quatro cidades, explorando seus tecidos urbanos e tipos edificados, proporcionando uma melhor compreensão sobre como cada cidade lidou historicamente com processos econômicos e como operam hoje, abrindo possibilidades de discussões mais amplas acerca das lições que estas cidades podem oferecer umas às outras e a outras cidades em geral. Palavras-chave: morfologia urbana, tipologia edificada, hemisfério sul Este artigo é fruto de pesquisa realizada entre 2012/2013, na qual se usou o campo da morfologia urbana e seu instrumental para investigar relações entre urbanização e desenvolvimento em diferentes países do Sul Global. Trata-se de um estudo comparativo das cidades de São Paulo e Jacarta, e Hanói e Belo Horizonte, em seus processos de desenvolvimento econômico e espacial, de planejamento urbano e sua resultante forma urbana. A pesquisa em questão teve como objetivos explorar as semelhanças e diferenças entre os diversos contextos das quatro cidades mencionadas acima, a fim de explorar correlações dos processos de 86 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte desenvolvimento urbano e econômico e seu impacto na forma urbana. Foram estudadas quatro cidades em seus processos de urbanização, planejamento urbano e a forma urbana resultante desses processos. Como método, partimos da investigação de diversos padrões de forma urbana de São Paulo, Belo Horizonte, Jacarta e Hanói, expondo alguns de seus tecidos e tipos, alcançando um melhor entendimento de como estas cidades lidaram historicamente com processos econômicos e como elas operam hoje, abrindo possibilidades para discussões mais amplas sobre o que cada uma dessas quatro cidades pode aprender a partir das experiências observadas nas demais e como essas lições podem beneficiar outras cidades em geral. Na primeira parte do trabalho, a metodologia é definida, explicitando as diferentes escalas de comparação propostas – escala da cidade, do fragmento e da amostra. Posteriormente, as cidades são comparadas duas a duas em cada escala, de acordo com suas dimensões e semelhanças. A hipótese é deque processos similares de urbanização podem ter levado a semelhantes resultados espaciais, uma vez que as cidades são caracterizadas por semelhantes dicotomias. Portanto, fragmentos ‘formais’ e ‘informais’ e amostras de tecidos urbanos foram selecionados em cada cidade, com o objetivo de possibilitar a comparação desses diferentes fenômenos urbanos. Na segunda parte do trabalho, São Paulo e Jacarta são confrontadas. As cidades foram escolhidas graças à equivalente importância e relevância econômica em seus respectivos contextos específicos, América Latina e Sudeste Asiático, respectivamente. Suas dimensões e características – mega-cidade ou cidade-região – ofereceram a possibilidade de comparação que objetiva encontrar similaridades. Na terceira parte, Hanói e Belo Horizonte são comparadas, escolhidas por sua semelhante posição em relação aos seus contextos – Sul Asiático e Brasil, respectivamente. Ambas são cidades administrativas – capital do Vietnã e capital do estado de Minas Gerais – com população semelhante e atualmente sob processos de desenvolvimento econômico e rápida urbanização. Nas considerações finais, a experiência de comparar cidades e contextos tão distintos foi destacada; sugerindo novas abordagens para as dicotomias espaciais observadas, representadas nas noções de ‘formas espontâneas e induzidas’, em contraposição aos conceitos de ‘formal’ e ‘informal’ inicialmente aplicados. Metodologia Como Lamas (1993) defende, a forma física do espaço é uma realidade para a qual um número de fatores não-espaciais contribuem. Dentre esses fatores, o autor enfatiza a importância de condições sócio- econômicas, que se materializam na forma urbana, através de ações voluntárias no espaço, que partem de estéticas, ideologias, culturas, padrões de comportamento e sociabilidade diversos. Consequentemente, a cidade contemporânea contém fragmentos consolidados, cada um com uma forma urbana e processos de materialização específicos, sujeitos a avaliação. Para possibilitar a leitura, certos elementos podem ser usados para hierarquizar a forma, de acordo com diferentes áreas da cidade, revelando os múltiplos aspectos do espaço. Para tal, a ação envolve a identificação das partes (fragmentos) e suas articulações (estrutura) em lógica através da qual cada escala da análise possui características e questões próprias, que acabam por determinar diferentes elementos urbanos relevantes como base de seu instrumental analítico. Assim, um conjunto de escalas e elementos foi definido para revelar o resultado espacial dos referidos processos de urbanização e as particularidades de cada cidade: i) ‘escala da cidade’ – a área urbanizada, o espaço construído pelo homem que contrapõe elementos naturais e construídos, compostos pelos diferentes fragmentos e seus elementos de conexão, ou seja, a própria infraestrutura, como principais elementos de análise; ii) ‘escala do fragmento’ – os diferentes fragmentos da cidade, usando a malha, os espaços vazios (públicos e verdes), os monumentos e as referências urbanas como os principais Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 87 elementos de análise; e iii) ‘escala da amostra’ – amostra territorial como um recorte da escala do fragmento, delimitada por uma ‘janela’ de 400 x 400 metros, definida principalmente por cheios e vazios (figura-fundo), os tipos, acolhendo elementos secundários como mobiliário urbano, atividades e fluxos. Na escala da amostra os tipos são a chave para uma interpretação correta e global da cidade como estrutura espacial, uma vez que o agrupamento de tipos compõe os outros elementos da forma urbana (o quarteirão e, consequentemente, os fragmentos) dando também caráter para toda a composição da cidade. Os espaços livres contêm uma variedade maior de tipos, funções e elementos – fixos ou não – que alteram significantemente a experiência do espaço e, portanto, a percepção da forma. As atividades urbanas, os elementos urbanos não fixos, são responsáveis por uma transformação completa na experiência do espaço, modificando, portanto, a forma urbana, a variedade de formas, usos e fluxos dos vazios, consistindo em outro aspecto das características físicas do território. Assim, parte-se do entendimento de que a escala da cidade contém diversos fragmentos da cidade, composto por um conjunto de diversos outros elementos menores. No presente artigo usam-se esses elementos para realizar um estudo comparativo relacional (McFarlane, 2010), considerando a comparação dos elementos da cidade entre as diferentes escalas na mesma cidade, além de comparar diferentes cidades nas diversas escalas de análise propostas. Num primeiro momento foram escolhidos fragmentos formais e informais das cidades analisadas. Como fragmentos formais entendem-se os territórios que se formaram a partir de políticas de urbanização ou que foram elaborados e aprovados pelo poder público local, mediante regulação urbana vigente. Já os fragmentos informais representam territórios que se formaram sem estar inseridos em políticas urbanas ou regulação urbana específicas. Tratam-se de ocupações contemporâneas ou seculares, nas quais existem conflitos em relação à posse e propriedade tanto da terra quanto dos imóveis nela construídos. Figura 1. Localização das cidades estudadas. A análise inicialmente contemplou uma leitura extensa das diferentes escalas espaciais e trajetórias de cada cidade através de revisão bibliográfica. Em um segundo momento, houve um processo de mapeamento, trabalho de campo e coleta de dados primários, seguida finalmente da compilação dos materiais e comparação relacional, através da avaliação dos elementos e das escalas espaciais acima mencionadas. A evolução urbana das quatro cidades Para abordar a escala da cidade, apresenta-se brevemente a evolução urbana das quatro cidades analisadas (Figura 1), bem como os principais planos para elas traçados, como forma de introduzir os fragmentos urbanos que serão comparados. São Paulo A cidade de São Paulo que se observa hoje se espalhou, cresceu e continua crescendo em direção à Serra da Cantareira, a norte, e rapidamente engolindo o território das Represas, a sul (Figura 2). Esse padrão de espraiamento da mancha urbana deu-se em consequência às contínuas limitações de densidade impostas no planejamento – através da constante restrição do coeficiente de aproveitamento e das sucessivas crises habitacionais, nas quais não foram produzidas unidades habitacionais suficientes – por iniciativa pública ou privada – para a crescente demanda. Planos existiram, entretanto não foram completamente seguidos ou implantados por vários motivos, incluindo ausência de vontade política. Ao longo do tempo, 88 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Figura 2. Evolução da mancha urbana versus crescimento demográfico em São Paulo (fonte: Barbosa et al., 2013). Figura 3. Sequência de planos para São Paulo: Plano de Avenidas (1930), Plano Diretor de 1957 e Plano Diretor de 1961 (fonte: Barbosa et al., 2013). Figura 4. Sequência de planos para São Paulo: Plano Urbanístico Básico (1965), Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 1971, PlanoDiretor de 1988 e Plano Diretor de 2002 (fonte: Barbosa et al., 2013). grandes projetos de restruturação territorial foram previstos e posteriormente descartados, tendo como resultado a constante expansão da infraestrutura viária, dada a espontânea expansão territorial e o urbanismo rodoviarista (figuras 3 e 4). Jacarta Consecutivas tentativas de descentralização nos sentidos leste e oeste e a construção de infraestrutura modal a norte-sul guiaram o desenvolvimento urbano de Jacarta ao longo do século XX (Figura 5). Ao comparar a forma final da cidade e os planos dos anos 1960 e 1970 (figuras 5 e 6), podemos afirmar que essas iniciativas obtiveram certo sucesso ao confrontar o eixo histórico de desenvolvimento norte-sul, entretanto em uma escala diferente da inicialmente proposta. Os planos mais recentes de Jacarta reconhecem que a cidade – assim como nas décadas anteriores – sofre ainda com graves passivos ambientais, mobilidade ineficiente e congestão dado o crescente número de veículos. O que mudou com a democracia foi a visão acerca do planejamento urbano como uma ferramenta para desenvolvimento social através de participação popular. Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 89 Figura 5. Evolução da área urbanizada versus a expansão demográfica em Jacarta (fonte: Barbosa et al., 2013). Figura 6. Sequência de planos para Jacarta: Plano Diretor de 1965-1985, Plano Regional Jabotabek 1973, Plano estrutural de Jacarta 1985-2005, Plano Regional 1985, Plano Diretor 2010 (fonte: Barbosa et al., 2013). Hanói Acompanhando a evolução urbana de Hanói, pode-se observar várias áreas urbanas construídas em diferentes temporalidades, formando camadas históricas alinhadas e, às vezes, sobrepostas umas às outras. A área urbana consolidada, a antiga Hanói antes da expansão dos limites em 2008, consiste na somatória de diferentes quadrantes históricos. As camadas históricas mais recentes de Hanói não são tão compactas quanto as anteriores. Estão misturadas com outras camadas históricas e com muitas vilas tradicionais. Antes periferia da grande Hanói, essas vilas agora se encontram centrais. Observando os planos elaborados para a cidade (Figura 8) pode-se dizer que apesar das diretrizes de expansão da cidade em certas direções, foi apenas com a economia liberalizada que o desenvolvimento espacial se iniciou de fato, seguindo todos os possíveis eixos viários. São as políticas recentes que, sobrepondo-se em cada vez mais curtos períodos, representam esse dinamismo e a hibridez desse território. Belo Horizonte De acordo com Amorim (2007), a paisagem urbana de hoje é resultado de políticas de uso e ocupação do solo da década de 1980. A cidade cresceu com a verticalização e concentração das atividades econômicas. Os planos de 1990 e 1996, realizados e aprovados depois da Constituição de 1988, mostraram objetivos mais democráticos (figuras 9 e 10), com o objetivo de transformar a estrutura espacial da cidade, criar novas centralidades, melhorar as condições de habitabilidade dos assentamentos informais, descentralizando os investimentos públicos e promovendo equilíbrio ambiental, abrindo a possibilidade para participação pública. Atualmente ainda existe a tendência de expansão urbana para a área sul da região metropolitana, com o desenvolvimento do 90 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Figura 7. Evolução da mancha urbana versus crescimento demográfico em Hanói (fonte: Barbosa et al., 2013). Figura 8. Sequência de planos para Hanói: Plano 1956-1960, Plano 1968-1976 , Revisão 1982, Revisão 1992, Revisão 1998 , Plano 2011 (fonte: Barbosa et al. (2013). município Nova Lima (Costa, 2006; Villaça, 2001), apesar das tentativas históricas do poder municipal de induzir o desenvolvimento em direção a outras áreas. A maior parte das atividades comerciais e ligadas ao setor terciário ainda se concentra na área central e ao longo das grandes vias, formando centralidades lineares (Figura 9). A mobilidade, os padrões de crescimento desiguais e os diferentes padrões de densidade foram historicamente questões na cidade, agravadas pelo seu desenvolvimento ao longo do tempo. De acordo com PBH/SMURBE (2009) sempre houve um desacordo entre os processos de parcelamento e ocupação, bem como o desenvolvimento habitacional; criando um ciclo especulativo contínuo, corroborado pela política urbana, tendo como resultado uma metrópole dispersa e de relativa baixa densidade, tendo suas áreas remanescentes ocupadas – formal e informalmente – por processos e tipologias heterogêneos, variando desde grandes condomínios fechados a pequenas fábricas e galpões, aumentando a fragmentação do espaço da metrópole contemporânea. Entendendo as dinâmicas que formaram a forma urbana atual, parte-se para a abordagem dos fragmentos, comparando as cidades duas a duas. Comparando São Paulo e Jacarta Na escala da cidade, São Paulo e Jacarta mostraram processos de desenvolvimento e urbanização bem semelhantes. Ambas as cidades alternaram períodos de crescimento econômico intenso, atraindo imigrantes de outras partes do país, no qual um progressivo espraiamento urbano ocorreu (em São Paulo nas décadas de 1950 e 1960 e em Jacarta depois da década de 1970) sem a devida oferta de serviços, habitação e infraestrutura, processo que define sua configuração espacial das cidades até hoje (Barbosa, 2011; Santoso, 2009). Ambas as cidades Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 91 Figura 9. Evolução da mancha urbana de Belo Horizonte (fonte: Barbosa et al., 2013). Figura 10. Sequência de planos para Belo Horizonte: Plano de Aarão Reis de 1895, Plano Diretor de 1975, Lei de uso e ocupação do solo de 1976, PDDI de 1996 e Plano Diretor de 2010 (fonte: Barbosa et al., 2013). apresentam uma infraestrutura simbólica proveniente de períodos ditatoriais que marcam sua estrutura espacial, projetadas para simbolizar a modernidade. Em São Paulo existe o Elevado Costa e Silva, construído entre 1969 e 1970, como exemplo de infraestrutura viária que fissura parte de bairros tradicionais em nome da eficiência e fluidez no trânsito. Já em Jacarta, o próprio Thamrin Boulevard, também uma infraestrutura viária, foi construído como grande eixo simbólico de desenvolvimento. Apesar de semelhança na forma urbana na escala da cidade – sendo ambas megalópoles – a análise revelou fragmentos bem distintos. Os fragmentos ‘formais’ escolhidos foram o Bairro dos Jardins em São Paulo e o eixo representado pelo Thamrin Boulevard em Jacarta, e os escolhidos para representar a urbanização ‘informal’ em cada cidade foram Heliópolis, em São Paulo, e Kebon Kacang, em Jacarta. Todos os fragmentos escolhidos estão localizados em áreas consolidadas da cidade, ou seja, cujo processo de formação e transformação encontra-se relativamente estabilizado, contendo algum tipo de significância na incidência de suas tipologias mais comuns (Waisman, 2013), apesar do dinamismo e das constantes transformações tipológicas observadas nesse contexto e em todos os estudos de caso. Fragmentos formaisA análise da escala do fragmento exemplifica diferentes formas de desenvolvimento quando se trata do tecido urbano. No primeiro caso, temos uma malha ortogonal composta por quarteirões regulares. No segundo caso, apresenta-se uma malha fortemente fragmentada, que, apesar de ortogonal, é composta por quarteirões de dimensões muito irregulares e dependentes de um eixo central (Figura 11). A diferença da hierarquia do sistema viário em ambos é evidente. Apesar de observarmos eixos estruturadores em ambos os casos, o Thamrin Boulevard apresenta-se como um eixo central estruturador do restante do tecido urbano. Já o tecido urbano nos Jardins se desenvolve em malha ortogonal, graças às características de seu 92 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Figura 11. Tecido urbano – fragmentos Jardins em São Paulo e Thamrin Boulevard em Jacarta. Figura 12. Malha viária – fragmentos Jardins em São Paulo e Thamrin Boulevard, Jacarta. parcelamento inicial, tendo passado por subsequentes substituições dos tipos originais, de casas unifamiliares para torres de altura média. Em Jacarta, a abertura do Boulevard deu origem a uma faixa de desenvolvimento imobiliário linear na década de 1960, eixo que persiste até os dias de hoje (Figura 12). Conceitualmente, o fragmento dos Jardins pode ser interpretado como uma versão espraiada do densificado Thamrin Boulevard, que por sua vez exemplifica o urbanismo à moda de Las Vegas strip (Venturi et al., 1977), presente por toda Jacarta. Ao mesmo tempo, a amostra territorial observada revela discrepâncias no que respeita às proporções do tipo edificado dominante. Em ambos os casos o tipo mais comum é o do edifício em altura, apesar do exemplo asiático mostrar uma dramática aglomeração de subsequentes intervenções no mesmo lote, com o adensamento das estruturas originais, acoplando edifícios em compostos multifuncionais hiper-densos e extremamente altos, enquanto nos Jardins o tamanho e projeção vertical do lote original permanecem intocados, apesar da alternância de tipos no tempo e no espaço. Ambas amostras funcionam como amplas colagens – de tipos e funções – operando, entretanto, em diferentes escalas, na escala do bairro (Jardins) e na escala do lote (Thamrin Boulevard). Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 93 Figura 13. Figura-Fundo – amostras Jardins em São Paulo e Thamrin Boulevard em Jacarta. Figura 14. Esquema representando os tipos edificados predominantes: Jardins e Thamrin Boulevard. Amostra formal Apesar das diferenças relacionadas à malha urbana e à escala das tipologias predominantes (figuras 13 e 14), os dois fragmentos se desenvolveram livremente de acordo com as tendências do mercado imobiliário, induzidos pela criação e desenvolvimento da infraestrutura. No caso de São Paulo, houve a transformação dos tipos predominantes do início do século XX (casas e sobrados) em edifícios verticais, em um processo de verticalização (Somekh, 1987) que mantém as estruturas do parcelamento original, modificando as dimensões dos lotes. Já em Jacarta, a sobreposição tipológica é mais frequente, em atuação cumulativa do mercado imobiliário, densificando um mesmo lote, criando o que é chamado de superblock (Santoso, 2007). Apesar de serem ‘formais’, eles não foram planejados ou projetados, densificaram-se ao longo do tempo, tendo hoje excedido sua capacidade de carga em termos de infraestrutura urbana. 94 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Figura 15. Tecido urbano – fragmentos Heliópolis em São Paulo e Kebong Kacang em Jacarta. Figura 16. Malha viária – fragmentos Heliópolis em São Paulo e Kebong Kacang em Jacarta. Fragmentos informais Os fragmentos informais selecionados revelam diferenças similares quanto à escala. Heliópolis (São Paulo) é consideravelmente mais espraiado do que Kebon Kacang. Seu tecido urbano dispõe-se como um labirinto, graças a sua ocupação progressiva, a implantação de equipamentos públicos e às características originais do sítio (Padiá, 2013). O tecido de Kebon Kacang foi manipulado ao longo do tempo, aparecendo hoje como uma malha quase ortogonal, com uma distinta hierarquia de vias internas. As amostras (figuras 15 e 16) mostram similaridades na escala e caráter das tipologias. Kebon Kacang, anteriormente uma vila agrícola agora engolida pela Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 95 Figura 17. Figura-fundo – amostras Heliópolis em São Paulo e Kebong Kacang em Jacarta. Figura 18. Esquema representando os tipos edificados predominantes: Heliópolis e Kebong Kacang. urbanização, continha inicialmente casas unifamiliares que foram densificadas. Heliópolis, uma área ilegalmente parcelada e ocupada por migrantes passou por uma considerável transformação tipológica nas últimas décadas, melhorando a qualidade construtiva e densificando as casas originais. Amostra informal Como resultado, Heliópolis, com suas grandes dimensões e alta densidade, é um fragmento distinto da compacta ‘vila urbana’ que é Kebon Kacang. Como conclusão parcial, ao analisar e entender seu processo de urbanização através da análise dos fragmentos e amostras de tecido urbano (figuras 17 e 18), percebe-se que São Paulo oferece uma forma urbana atual que pode ser considerada inteiramente espontânea, onde a única diferença entre um fragmento e outro são os atores que iniciaram o processo espontâneo de ocupação, independente da ação do poder público. Jacarta, apesar dos projetos de modernização da década de 1960, também pode ser considerada como um resultado espacial de um processo espontâneo, primeiro pela ocupação dos Kampungs e depois pelas transformações de iniciativa privada e aglomerações do mercado imobiliário. Comparando Hanói e Belo Horizonte Quando comparadas na escala da cidade, com seus planos e processos, pode-se dizer que iniciativas enfatizando a soberania política e processos de modernização 96 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Figura 19. Tecido urbano – fragmentos de Lihn Dam em Hanói e de Belvedere III em Belo Horizonte. Figura 20. Malha viária – fragmentos de Lihn Dam em Hanói e de Belvedere III em Belo Horizonte. guiaram o desenvolvimento espacial de Hanói e Belo Horizonte. Em ambos os casos, em períodos distintos, o planejamento urbano foi utilizado como disciplina que se propunha a ordenar seu futuro. Porém, a política urbana contemporânea apresenta diferentes processos e resultados espaciais em cada cidade, como exemplificado na análise dos fragmentos. De um lado, uma área altamente controlada pelo estado é exemplificada por Lihn Dam e de outro, o Belvedere III surge como uma área altamente orientada pelo mercado. Fragmentos formais Os tecidos urbanos abordados exemplificam suas diferenças espaciais, uma vez que Lihn Dam foi inteiramente planejada com um rígido controle da forma urbana e o Belvedere III, inicialmente parcelado paraacomodar residências unifamiliares horizontais, hoje apresenta um processo intenso de verticalização, devido às pressões Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 97 Figura 21. Figura-fundo – amostras de Lihn Dam em Hanói e do Belvedere III em Belo Horizonte. Figura 22. Esquema representando os tipos edificados predominantes: amostras de Lihn Dam em Hanói e do Belvedere III em Belo Horizonte. de mercado que acabaram por manipular regulações urbanas (figuras 19 e 20). Amostra formal A escala da amostra evidencia resultados tipológicos semelhantes, uma vez que ambas contém edifícios verticais como tipo predominante (figuras 21 e 22), porém, em Lihn Dam há uma repetição de escalas enquanto no Belvedere III o resultado formal é completamente espontâneo (Figura 21), dadas as diferenças de dimensionamento dos lotes e a multiplicidade de atores, gerando empreendimentos de portes distintos. Em Lihn Dam há uma hierarquia de espaços bem clara, representada por eixos de uso misto, com atividades comerciais no térreo e torres corporativas marcando as esquinas. O Belvedere III concentra principalmente condomínios fechados com poucas interações e aberturas no nível da rua, exceto por um incipiente eixo comercial. Os fragmentos informais urbanizados são representados pelo dinâmico e diversificado bairro ‘Jardim Canadá’ (Região Metropolitana de Belo Horizonte, município de Nova Lima) e Van Quan (Hanoi), uma melancólica urban village em Hanoi, engolida por novos empreendimentos em um dos eixos de expansão urbana. Ambos foram 98 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Figura 23. Tecido urbano – fragmentos Van Quan em Hanói e Jardim Canadá em Belo Horizonte. Figura 24. Malha viária – fragmentos Van Quan em Hanói e Jardim Canadá em Belo Horizonte. escolhidos por sua relativa distância dos centros das referidas cidades e por exemplificar fenômenos de transformação recente: a contração das vilas tradicionais e a expansão da metrópole. Fragmentos informais Van Quan é uma vila tradicional que foi pressionada e incorporada pela expansão oeste da cidade de Hanoi, distante demais do Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 99 Figura 25. Figura-fundo – amostras Van Quan em Hanói e Jardim Canadá em Belo Horizonte. Figura 26. Esquema representando os tipos edificados predominantes: Van Quan em Hanói e Jardim Canadá em Belo Horizonte. centro para manter vivacidade. O orgânico e ‘leve’ tecido urbano de Van Quan se apresenta limitado por avenidas expressas e ameaçado por novos empreendimentos planejados ao longo das avenidas (figuras 23 e 24). Os tipos antigos também foram densificados ao longo do tempo, enquanto poucas atividades comerciais ainda são vistas. Formalmente parcelado, o bairro Jardim Canadá passou por um processo de subdivisão informal de seu loteamento inicial, densificando seus lotes e não seus tipos (Figura 23). Apesar de seu isolamento em relação às áreas urbanas de Belo Horizonte e Nova Lima, o bairro funciona como uma centralidade comercial para outras áreas da região metropolitana de Belo Horizonte, recebendo espontaneamente uma série de atividades comerciais, seguida da ocupação pelos trabalhadores de baixa renda, que, também informal e espontaneamente começaram a transformar sua forma planejada oficialmente. Amostra informal Essas amostras, em Van Quan e Jardim Canadá, demonstram como distintos processos econômicos globais recentes – como os diferentes processos de industrialização asiática e latino-americana – foram canalizados no espaço da periferia destas duas cidades, gerando diferentes formas urbanas (figuras 25 e 26): Hanoi com um resultado altamente controlado, que se dá sem considerar as preexistências; e Belo Horizonte com um modelo privatizado guiado pelo mercado, responsável por gerar novos arranjos nos parcelamentos pré- existentes (Figura 25). 100 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte Considerações finais Este trabalho apresentou os resultados de uma pesquisa comparativa que, usando a morfologia urbana como uma ferramenta metodológica, objetivou revelar os resultados espaciais do desenvolvimento urbano e de processos de urbanização em quatro cidades. Para tal, São Paulo e Jacarta, e Hanói e Belo Horizonte foram selecionadas e comparadas em diferentes escalas, de acordo com o enquadramento fornecido pela morfologia urbana, estabelecendo analogias entre seu tecido urbano e tipos edificados mais frequentes. A comparação mostrou resultados espaciais dos fragmentos bem diversos, apesar de semelhantes (i) processos de urbanização – que se apoiam na expansão da infraestrutura modal baseada no uso do automóvel; (ii) paradigmas de planejamento urbano – que se apoiam na promoção de planos abstratos de desenvolvimento; e (iii) processos de inserção regional na economia global. Esses resultados espaciais foram influenciados tanto por regulações urbanas (que influenciaram a dimensão dos empreendimentos) e o planejamento urbano – ou a falta deste. Relacionam-se com a oferta de serviços públicos e infraestrutura, que altera a maneira através da qual os habitantes se apropriam dos espaços livres. Os tipos observados, entretanto, mostram algumas semelhanças, uma vez que o tipo mais comum das áreas formais analisadas é o edifício em altura (figuras 12 e 14) – variando de 8 a 40 andares. Nos fragmentos informais observam-se principalmente residências baixas e densificadas, ‘uni’- ou ‘multi’-familiares (figuras 18 e 26). São Paulo e Jacarta provaram ser semelhantes mega-cidades nos seus processos de desenvolvimento espacial espontâneo, apesar de distintas na forma – cada uma com sua colcha de retalhos de fragmentos característicos. Hanói e Belo Horizonte tiveram seus fragmentos periféricos, e de recente transformação, comparados com o objetivo de realçar suas singularidades, revelando mais do que diferenças em suas formas distintas, mas também nos seus processos de transformações em andamento, ambos dinâmicos. O referencial teórico tradicional da morfologia urbana – parcelamento, quarteirão, lote e tipo (Solà-Morales, 1997) – não se adequou completamente às condições urbanas contemporâneas que se enfrentou durante a pesquisa de campo. Considerando a sequência de quarteirão, lotes, equipamentos urbanos e tipos, espera-se que a leitura de um superblock de Jacarta – entendido como quarteirão, lote e tipologia simultaneamente – seja diferente da leitura de uma torre residencial em São Paulo, mesmo sendo ambos parte de um fragmento formal. Não há leitura sem diálogo, um pré- conceito, uma implícita comparação entre o que está sendo lido e o repertório do interprete. A riqueza da metodologia proposta foi a visão compartilhada e a combinação da leitura das diferentes pesquisadoras com experiências distintas, baseadas no mesmo material espacial e experiência in loco. A pesquisa comparativa ofereceu esta variedade de condições propiciando um melhor entendimento das questões pertinentes às cidades do Sul Global, quanto à industrialização tardiae rápida urbanização, explicitando alguns de seus resultados espaciais contemporâneos. De acordo com McFarlane (2010) uma nova abordagem sobre estudos urbanos pode emergir de comparações norte-sul se os conceitos paradigmáticos de ‘cidades do norte’ e ‘cidades do sul’ são deixados de lado por um instante enquanto o urbanismo e a cidade, como conceitos simples sem preconceitos, são discutidos. De acordo com o autor, a comparação pode agir tanto como uma ferramenta de aprendizado como uma estratégia para mudança, adaptando conceitos identificados num diálogo de tradução. Portanto, a comparação, neste cenário, pode levar à formação colaborativa de (novos) objetos ou conceitos. Mais do que um simples estudo comparativo, a pesquisa se apresenta como uma oportunidade para remodelar conceitos e termos, instigando um debate etimológico. Apesar da necessidade de uma terminologia mais adequada para explicitar a diversa gama de condições urbanas, aqui, a discussão etimológica é levantada em relação Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte 101 à morfologia urbana e o fragmento da cidade do sul contemporânea. Para auxiliar o diálogo entre diferentes cidades e pesquisadores os termos formal e informal foram inicialmente propostos para determinar e classificar os fragmentos urbanos e amostras nas cidades selecionadas. A experiência no campo provou que esses termos estão desatualizados para qualificar os diferentes fragmentos, não se relacionando com a dinâmica e experiência urbana atual. Os termos formal / informal, legal / ilegal, planejado / não planejado envolvem noções e preconceitos que não são necessariamente relevantes ao lidar com a forma urbana. Um território formal como o Jardim Canadá, em Belo Horizonte, pode ser considerado com menos qualidades espaciais do que o informal Kebon Kacang em Jacarta. Tais termos estão relacionados com direitos de propriedade e regulações urbanas, que por sua vez não qualificam o espaço e não definem seu processo formal. Mesmo dentre as pesquisadoras envolvidas neste artigo não houve um acordo sobre o que exatamente estes termos significavam considerando a realidade de cada território estudado: i) o formal é necessariamente planejado?; ii) o não planejado é necessariamente informal?; iii) podemos falar de pós-informal?; iv) vernacular é necessariamente informal? O trabalho de campo compartilhado foi decisivo para mostrar que a classificação tradicional formal / informal não estava adequada para lidar com as condições urbanas e espaciais com as quais lidamos, nem com os processos que se pretende abordar. Portanto, apresenta-se como contributo para o debate, além do exercício comparativo em si, os termos ‘fragmento espontâneo’ e ‘fragmento induzido’ para especificar e distinguir os tipos de fragmentos urbanos com os quais lidamos, abrindo a possibilidade para futuros debates etimológicos. Fragmentos espontâneos representam territórios formados a partir de processos espontâneos de formação e ocupação, não tendo sido provocados por políticas ou regulações urbanas específicas. Fragmentos induzidos, ao contrário, representam territórios que foram induzidos ou se apresentam como resultado direto de políticas e regulação urbana. Acredita-se que as noções de ‘forma espontânea’ e ‘forma induzida’ estão mais relacionados a processos de ocupação e transformação de territórios, dialogando de modo mais adequado com dinâmicas culturais e com o caráter da paisagem, observados nessas latitudes. Nota Uma versão prévia deste artigo foi apresentada no 21st International Seminar on Urban Form realizado no Porto entre 3 e 6 de Julho de 2014. Agradecimentos Este artigo pretende sintetizar uma pesquisa conduzida com o apoio financeiro da Global Development Network (GDN) e ‘Banco Interamericano de Desenvolvimento’ (BID) como parte do GDN Working Paper Series ‘Urbanization and development: delving deeper into the nexus’ realizada entre 2012 e 2013, elaborado em parceria entre as autoras deste artigo e a pesquisadora baseada em Hanói, Nguyen Tu. O relatório completo da pesquisa pode ser encontrado em: www.gdn.int/html/workingpapers.php. Referências Amorim, F. 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(2010) ‘The comparative city: 102 Formas espontâneas e induzidas: comparando São Paulo, Jacarta, Hanoi e Belo Horizonte knowledge, learning, urbanism’, International Journal of Urban and Regional Research 34, 725-42. Padiá, V. (2013) ‘Heliópolis: as intervenções públicas e as transformações na forma urbana da favela (1970-2011)’, Tese de Mestrado não publicada, Universidade Mackenzie, Brasil. Santoso, J. (2009) The fifth layer of Jakarta (Graduate Program of Urban Planning Centropoli, Jakarta). Solà-Morales, M. (1997) Las formas de crecimiento urbano (Ediciones UPC, Barcelona). Somekh, N. (1987) ‘A (des)verticalização de São Paulo’, Tese de Mestrado não publicada, Universidade de São Paulo, Brasil. Venturi, R., Brown, D. S. e Izenour, S. (1977) Learning from Las Vegas: the forgotten symbolism of architectural form (MIT Press, Cambridge). Villaça, F. (2001). Espaço intra-urbano no Brasil (Studio nobel, São Paulo). Waisman, M. (2013) O interior da história (Perspectiva, São Paulo). Tradução do título, resumo e palavras-chave Spontaneous and induced urban forms: comparing São Paulo, Jakarta, Hanoi and Belo Horizonte Abstract. This paper gathers research, developed in 2012/2013, in which urban morphology was used as an investigating tool to study the relations between urbanization and development, producing a comparative study of spatial and economic development, planning processes and the resulting urban forms of four cities: São Paulo and Jakarta, and Hanoi and Belo Horizonte. Planning policies and urban forms were compared at different scales in these four cities, using the approach proposed by Lamas (1993). São Paulo and Jakarta were chosen due to their importance and economic relevance on their respective contexts, Latin America and South East Asia, offering the possibility of comparison aiming at finding relevant similarities. Hanoi and Belo Horizonte have similar positions regarding their contexts; both are administrative cities with similar characteristics in terms of demography, economic growth and rapid urbanization. Despite these similarities, the cities present distinct processes of growth and urbanization, as well as cultural aspects; both were highlighted in this comparison.This study investigates the patterns of urban form of these four cities, exploring their urban tissues and building types, aiming at a better understanding on how these cities have coped with economic processes and how they work today, opening the possibility of broader discussions on which lessons can be drawn both to these case studies and to cities in general. Keywords: urban morphology, building typology, southern hemisphere Rede Lusófona de Morfologia Urbana (PNUM), 2014-15 A criação de uma rede Portuguesa (PNUM) integrada no International Seminar on Urban Form (ISUF) teve lugar em 2010, durante a 17ª Conferência do ISUF. A proposta de criação do PNUM (bem como a sua Constituição) foi apresentada no ISUF Council dessa mesma conferência em Agosto de 2010. No meu primeiro relatório do PNUM, na qualidade de Presidente, gostaria de aproveitar a oportunidade para reconhecer o trabalho e a energia investida no PNUM pelo presidente antecessor, Vítor Oliveira. Este relatório é um resumo das principais atividades do PNUM, incluindo a indicação de conferências, workshops e publicações realizadas no âmbito da rede, entre Julho de 2014 e Julho de 2015, e uma breve consideração sobre futuras atividades. O interesse que tem sido depositado na Rede Lusófona de Morfologia Urbana, inclusive pelos colegas do Brasil, é muito gratificante. A recente mudança na designação de ‘Rede Portuguesa de Morfologia Urbana’ para ‘Rede Lusófona de Morfologia Urbana’, conforme aprovado no Conselho Científico do PNUM em Julho de 2014, reforça a aliança Portuguesa-Brasileira construída ao longo dos últimos anos. A quarta edição da conferência promovida pelo PNUM, ‘Configurações urbanas e os desafios da urbanidade’, teve lugar em Brasília, Brasil, em Junho último, constituindo a primeira Relatórios 103 edição da conferência do PNUM fora de Portugal. Esta última conferência contou com a participação de 250 pessoas. Atualmente, o PNUM integra mais de um milhar de membros oriundos de 15 países: Angola, Austrália, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Itália, Moçambique, Portugal, Espanha, Suíça e Vietnam. O rápido crescimento do PNUM deve- se sem dúvida à realização das suas conferências anuais, que têm proporcionado um importante espaço de reflexão e de debate para a temática da morfologia urbana. A quinta conferência do PNUM, terá lugar no próximo ano, em Guimarães, Portugal, e a sua organização é coordenada por Jorge Correia e Miguel Bandeira da Universidade do Minho. Foi durante o presente ano que o PNUM testemunhou a organização do seu primeiro Workshop, com o tema ‘Diferentes abordagens ao estudo da forma urbana’. Um segundo workshop está a ser preparado para 2016 (p. 122 deste número). Para além da organização de conferências e workshops, o PNUM pretende continuar a promover o estudo da forma urbana em Portugal também através de publicações. Já no seu quinto número, a ‘Revista de Morfologia Urbana’, editada por Vítor Oliveira, constitui um importante contributo para a publicação de perspetivas e artigos reportando resultados de investigação na área da morfologia urbana. A inclusão de traduções portuguesas de trabalhos seminais, originalmente publicados em Inglês na revista Urban Morphology, constitui outro contributo notável da Revista. Uma publicação entretanto disponível durante o ano de 2015 e com interesse para os vários membros do PNUM e leitores da ‘Revista de Morfologia Urbana’ é o livro ‘O estudo da forma urbana em Portugal’, editado por Vítor Oliveira, Teresa Marat-Mendes e Paulo Pinho, com prefácio escrito por Jeremy Whitehand. Este livro integra um conjunto de perspetivas sobre o estudo da forma urbana, dadas por 14 investigadores portugueses, na sua maioria membros fundadores do PNUM. É desejo do Conselho Científico continuar a promover as atividades do PNUM junto de todos aqueles que reconhecem no estudo da forma urbana, em Portugal e nos países lusófonos, uma característica cultural comum que merece maior atenção e enfoque. Investigações comuns entre os diferentes países que participam no PNUM serão bem-vindas: por exemplo, entre Espanha e Portugal, cujas origens históricas dotaram a Península Ibérica de um um sistema regional de individualidade marcante, e que marcou fortemente um sistema de abertura à comunicação com o exterior, conforme defendido pelo notável geógrafo M. R. G. Conzen (2004). Finalmente, gostaria de convidar todos os membros do PNUM e todos aqueles interessados no estudo da forma urbana em Portugal a visitarem o nosso website, em http://pnum.fe.up.pt/, e a enviarem novas sugestões de atividades que julguem oportunas serem realizadas pelo PNUM. Referência Conzen, M. R. G. (2004) ‘The historical urbanization regions of medieval Europe’, em Conzen, M. P. (ed.) Thinking about urban form: papers on urban morphology 1932-1998 (Peter Lang, Oxford) 197-235. Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET-IUL, Departamento de Arquitectura e Urbanismo, Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal. E-mail: teresa.marat-mendes@iscte.pt 1 st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology, Istambul, 2015 Com base na decisão tomada no Foundation Workshop que teve lugar a 11 de Abril de 2014, o 1st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology, acolhido pelo Centre for Mediterranean Urban Studies, Mersin University, na Turquia, foi organizado a 22 e 23 de Outubro de 2015. Diferentes abordagens no estudo da forma urbana foram discutidas ao longo de duas sessões plenárias e uma série de sessões paralelas durante dois dias. Atraindo 56 participantes de 19 universidades, o simpósio incluiu 35 artigos sobre diferentes tópicos como métodos e técnicas em morfologia urbana, planeamento, arquitetura e desenho, e a sua relação com a forma urbana, 104 Relatórios crescimento urbano, cinturas periféricas, história da forma urbana, agência em morfologia, espaço público, tipo-morfologia, aplicações computacionais em morfologia urbana e space syntax. Na primeira sessão plenária, Tolga Ünlü e Yener Baş, da Mersin University, fizeram uma apresentação sobre a transformação do espaço urbano da cidade de Mersin ao longo de um século, desde as primeiras décadas do século XX até aos dias de hoje. Com base numa abordagem histórico-geográfica e no método morfogenético, os autores revelaram os padrões de desenvolvimento urbano a uma escala macro, através de uma investigação sobre a formação e os processos de modificação das cinturas periféricas. Seguidamente, apresentaram os ciclos de desenvolvimento e os ‘tipos morfogenéticos’ explorando detalhadamente a transformação das parcelas e edifícios. A sessão plenária subsequente incluiu dois artigos sobre diferentes perspetivas e métodos do estudo da forma urbana. Ayşe Sema Kubat, da Istanbul Technical University, discutiu a utilização da space syntax como um método de investigação da relação entre organização espacial e estruturas sociais, com enfoque nos espaços exteriores através de vários exemplos de diversas cidades turcas. Cana Bilsel, da Middle East Technical University, discutiu a contribuição da investigação em morfologia urbana para os estudos de história urbana. Recorrendo a exemplos do contexto internacional (França e Grã-Bretanha), focou-seno desenvolvimento de uma estrutura metodológica para estudos de história urbana, explorando a conformação do espaço urbano. Após duas sessões plenárias, o primeiro dia foi concluído com uma sessão especial sobre diferentes abordagens e métodos no estudo da forma urbana. Nesta sessão, abordagens histórico-geográficas, configuracionais e de análise espacial, foram discutidas, juntamente com a sua implementação em diferentes contextos. Para além disso, foi discutido um método da ‘morfologia paramétrica’ como uma ferramenta para relacionar investigação morfológica e prática de planeamento e desenho urbano. O segundo dia incluiu sessões paralelas nos tópicos ‘Processos morfológicos nos centros históricos’, ‘História da forma urbana’, ‘Crescimento urbano e cinturas periféricas’, Space Syntax, ‘Agentes morfológicos’ e ‘Investigação morfológica e prática de planeamento e desenho urbano’. O 1st Symposium of the Turkish Network of Urban Morphology revelou que existe um potencial substancial de investigadores no estudo da forma urbana, provenientes de diferentes disciplinas (planeamento, arquitetura e geografia), acomodando diferentes abordagens e métodos. Apesar de poder considerar-se o número de participantes relativamente restrito, muitas discussões produtivas estenderam-se durante o simpósio, de algum modo garantindo aos participantes a antecipação de um futuro prometedor. Na sessão de encerramento, os participantes discutiram a estrutura do TNUM – organização, princípios – e possíveis colaborações de investigadores dentro do TNUM e com outras redes locais. Os participantes concordaram que o TNUM será uma organização abrangente para investigadores de diferentes disciplinas desenvolverem os seus estudos sobre forma urbana. O Centre for Mediterranean Urban Studies na Mersin University irá servir como ‘secretário geral’, de forma a organizar a disseminação de conhecimento entre os membros. No entanto, a organização está decidida a desenvolver-se de forma flexível, sendo que cada simpósio será organizado bienalmente por diferentes universidades em diferentes cidades. Os próximos dois simpósios serão realizados na Istanbul Technical University, em Istambul em 2017, e na Middle East Technical University, em Ankara em 2019. Os participantes concordaram em desenvolver um vocabulário de morfologia urbana, partilhado, em língua Turca. Uma vez que o vocabulário de morfologia urbana está desenvolvido em Inglês, existe uma necessidade urgente de encontrar traduções para Turco. Em paralelo à discussão, foi ainda admitido desenvolver a discussão sobre o lugar da morfologia urbana na educação em planeamento e arquitetura. Os workshops, organizados num conjunto de tópicos especiais, facilitarão a elaboração de termos Turcos que sejam comummente aceites. Como a agenda do primeiro simpósio foi abrangente e desafiante, os tópicos abordados continuarão a ser explorados nos próximos simpósios, em Istambul e Ankara em 2017 e 2019. Embora os participantes sejam maioritariamente das disciplinas de planeamento e arquitetura, antecipa-se que haverá uma maior participação de outras disciplinas, como a geografia, a história e a arqueologia, nos simpósios seguintes. Tolga Ünlü, Department of City and Regional Planning, Mersin University, Yenisehir, Mersin 33343, Turkey. E-mail: tolgaunlu@gmail.com Revista de Morfologia Urbana (2015) 3(2), 105-20 Rede Lusófona de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214 Aplicação do conceito de Unidade Morfo-territorial na escalas metropolitana, intraurbana e local Jonathas M. P. Silva, Fernanda Lima e Natalia C. T. Magalhães PUC-Campinas – Pontifícia Universidade de Campinas – PosUrb – Pós-graduação em Urbanismo; Rodovia Dom Pedro I, Km 136 - Parque das Universidades, Campinas - SP, 13086-900, Brasil. E-mails: jonathas.silva@puc-campinas.edu.br, fernandalima.fcl@gmail.com, nataliacristina.tripoli@gmail.com Artigo revisto recebido a 17 de Setembro de 2015 Resumo. A forma urbana contemporânea observada na Região Metropolitana de Campinas, resultante do processo de dispersão e fragmentação, necessita ser melhor estudada. O presente artigo apresenta métodos de análise provenientes de diferentes áreas: morfologia, ecologia e estudos da paisagem urbana. Os conceitos, métodos e procedimentos aqui apresentados tiveram a contribuição da rede de pesquisadores chamada QUAPÁ-SEL (Quadro do Paisagismo – Sistema de Espaços Livres) que estuda a relação entre o sistema de espaços livres e a forma urbana. Adota-se uma abordagem de análise em três diferentes escalas: i) região metropolitana, formada por 20 municípios; ii) bairros, constituídos de diferentes tecidos urbanos; e iii) quadra urbana, onde o espaço edificado e o espaço livre de edificação geram o espaço urbano. Nas três escalas o sistema de espaços livres é o protagonista da análise. O resultado apresentado indica os ganhos que os procedimentos de leitura e análise oferecem na compreensão do processo de fragmentação e dispersão urbana. O método adotado busca aproximar técnicas de análise de diferentes campos do conhecimento integrando os procedimentos adotados nos estudos morfológicos às técnicas utilizadas no campo da ecologia e nos estudos sobre a paisagem urbana. Palavras-chave: morfologia urbana, forma urbana, paisagem, ecologia O presente artigo é produto do esforço coletivo da rede QUAPA-SEL criada em 1993 que é coordenada por Sílvio Soares Macedo (FAUUSP) envolvendo diversas universidades em diferentes estados brasileiros. No estado de São Paulo a PUC- Campinas, Pontifícia Universidade Católica, por meio do PosUrb – pós-graduação em urbanismo e a USP, Universidade de São Paulo, por meio de suas duas unidades: a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAUUSP) e o Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos (IAU) participam de um projeto de pesquisa comum. Nos últimos anos a referida rede de pesquisa QUAPA-SEL procura estabelecer a relação entre a forma urbana e o sistema de espaços livres de edificação considerando a presença ou ausência de políticas de solo urbano. Acredita-se que o valor da terra estabelece padrões de ocupação que irão induzir paisagens urbanas com diferentes características. É por conta do valor do solo que a população acaba assumindo um maior ou menor deslocamento. É também no solo, onde se concretizam os diferentes interesses na expansão da malha urbana. Procura-se portanto incorporar o valor do solo urbano na análise da forma urbana. Cabe ressaltar que a nova constituição brasileira introduziu o conceito da ‘função social da propriedade’ que, lograria ser implementado, por meio de instrumentos urbanísticos de regularização do solo e de recuperação de mais valia do solo urbano. 106 Aplicação do conceito de Unidade Morfo-territorial nas escalas metropolitana, intraurbana e local Estes instrumentos foram regulamentados pela lei federal 10.257 de 2001, que ficou conhecida como Estatuto da Cidade. Entretanto depois de 14 anos de sua aprovação poucos efeitos tiveram estes instrumentos no sentido de implantar a função social do solo urbano. Desta forma, o livre mercado irá tratar o solo como mercadoria sem haver um controle que faça prevalecer o interesse público. Mapear o processo de valorização do solo urbano pode indicar relações constitutivas da forma das cidades estudadas. Parte-se de bases teóricas longamente
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