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Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 PARA QUE CHORASSEM LÁGRIMAS DE SANGUE. PODER RÉGIO E ALTERIDADE ENTRE ÁTILA E OS GERMANOS (SÉC. V) Otávio Luiz Vieira Pinto (Universidade Federal do Paraná – UFPR) 1 Resumo O presente artigo objetiva estabelecer uma nova possibilidade de análise historiográfica no que se refere ao estudo dos hunos na Antiguidade Tardia. A partir de criteriosa leitura de bibliografia e documentação primária, notamos uma forte influência por parte desse povo asiático na configuração política e cultural das Monarquias Romano- Germanas que se assentam no ocidente romano a partir do século V, servindo como “anti-modelo”, ou seja, elemento de alteridade pelo qual as aristocracias germanas iriam buscar fazer oposição e, assim, definir o que, neste momento, era legítimo e civilizado. Palavras-chave: Hunos; Átila; Monarquias Romano-Germanas; Etnogênese; Antiguidade Tardia. Abstract The present article aims to establish a new possibility of historiographical analysis in relation to the study of the Huns in Late Antiquity. From a careful reading of literature and primary documents, we note a strong influence on the part of this Asiatic people in the political and cultural setting of Germanic Kingdoms that emerge in the roman west in the fifth century, serving as "anti-model", i.e., an element of otherness by which the Germanic aristocracies would seek to oppose and thus define what, at this point, what was legitimate and civilized. Key-words: Huns; Attila; Germanic Kingdoms; Ethnogenesis; Late Antiquity *** I. “Barbarização”: o fim do Imperium Romanorum? Muito já se falou sobre o declínio e a queda do Império Romano. Estudiosos indagaram-se sobre os fatores que fizeram cair a grande Roma: desde Edward Gibbon, arquitetou-se a idéia de que as incursões de povos germanos causaram a desestruturação política, a partir de uma “barbarização” da moral e dos costumes civilizados i. Perpetua- se assim, na historiografia, uma visão simplista de se encarar este período da 1 Mestrando em História pela Universidade Federal do Paraná, sob orientação do Prof. Dr. Renan Frighetto. Bolsista CAPES e membro discente do Núcleo de Estudos Mediterrânicos (NEMED). Realiza pesquisa na área de História Tardo Antiga, em especial no que tange aos ostrogodos e sua relação com um Império Romano Tardio. E-mail para contato: rocha.pombo@hotmail.com. Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 Antiguidade Tardia, traçando causas simples para o fim político do Império, como num processo linear de causa e conseqüência. Alguns pesquisadores, porém, tem tentado contornar este cenário. Walter Goffart, ainda que tenha recebido diversas criticas à sua teoria, propõe uma paulatina desestruturação da política romana a partir de um sistema que mesclava acomodações de grupos estrangeiros e uma tributação excessiva, não condizente com a realidade tardo-imperial ii. Peter Heather, atualmente um dos mais prolíferos pesquisadores deste período, procura traçar um esquema mais complexo, que não encontra uma causa única para o fatídico 476, mas assiste a emergência de um novo contexto social, nascido de relação profunda entre culturas e práticas romanas, germânicas e cristãs. iii Ter noção deste debate é fundamental, uma vez que, neste trabalho, nossa proposta é notar justamente as relações entre romanos, germanos e hunos, sem que, para isso, simplifiquemos nossa análise ou generalizemos as perspectivas. Dentro de uma idéia de etnogênese iv , propomo-nos a delinear as práticas políticas, culturais e sociais que advém deste contato, que mescla uma força imperial, moral e legitimadora na figura dos romanos; uma força crescente e prática, na figura dos germanos; e uma vicissitude de poder ante este contexto, simbolizada nos hunos. v II. Hunos, romanos e germanos: contatos e relações Já no século IV, a relação entre romanos e “bárbaros” deveria ser repensada. Era inegável a presença de uma aristocracia germana já atuante em algumas esferas da administração de Roma – situação que fica clara quando notamos o discurso propagado pelos círculos pagãos, descontentes com o descaso em relação aos antigos costumes, ao mos maiorum vi. Neste sentido, alguns grupos étnicos, como os visigodos, passam a ter outra definição: passam a ser foederati, ligados oficialmente ao Império por meio de acordos e diplomacias vii . Ainda assim, uma série de agrupamentos menores permanecia à margem deste poder imperial, enxergando-o como uma distante aura de “civilidade”, enquanto estes próprios continuariam imersos em sua própria “barbárie”. A percepção de si próprio viii, aqui, passa a sofrer uma série de mudanças: se, na tradição clássica, a idéia de civilizado e bárbaro era, ainda que atrelada ao aspecto político, baseada num claro distanciamento cultural, num momento em que separar o “romano” do “germano” é cada vez mais difícil, a civilização e a barbárie passam a estar atreladas Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 a outros elementos de coesão cultural, como o cristianismo ix (que pode, de alguma forma, estender a universalidade imperial romana para diversas etnias – vai-se, paulatinamente, da “romanidade” para a cristandade), e este elemento contribui, também, para a legitimação política. Dessa forma, o exercício político esta ligado à idéia de civilização e barbárie, e suas definições sofrem mudanças na mesma medida em que sofrem estes conceitos. III. A Confederação Huna: diplomacia huno-germânica Ainda no século IV, godos precipitam-se sobre os limites da Moésia, numa movimentação que provavelmente seria, se não motivada, incentivada pelo avanço de um grupo nômade vindo das estepes. Por volta do fim do século IV, este grupo passa para a história sob a designação de huni x: Porém, a semente e a origem de toda a ruína [...] nós descobrimos ser esta. O povo dos Hunos, mas pouco se sabe dos relatos antigos; vivendo além do mar da Meótica, próximo ao oceano de gelo, excedem todos os graus de selvageria. [...] não se submetem a qualquer mando real, mas são contentes com o governo desordenado de seus homens importantes, e guiados por eles, forçam seu caminho através de qualquer obstáculo. xi A partir desta rede de movimentação, a historiografia tradicional passou a ver o elemento huno como catalisador de um processo de “invasões” dentro do Imperium Romanorum. Ainda que esta imagem de pressões sucessivas, iniciada com os hunos no oriente e culminada com a batalha de Adrianópolis, em 378, seja questionada atualmente, é inegável que, já aí, temos um sistema de relações entre hunos e germanos, num molde ainda pouco desenvolvido, baseado provavelmente em razias e saques xii , evidenciando o aspecto tribal tanto dos godos como dos hunos – isto é, mesmo com a existência de um líder a frente destes grupos, o poder era desenvolvido dentro de sistema próprio, sem a necessidade de uma legitimação aos moldes romanos, baseada nos preceitos da ciuilitas xiii . No decorrer do século V, as tribos hunas passam a estruturar mais e mais seu esquema político e, ainda que não o façam de forma institucionalizada,logo emergem quatro líderes principais: Oebarsio, Mundzuk, Octar e Rugilas. Este esquema, que se Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 assemelha a uma tetrarquia, aos moldes de Diocleciano, provavelmente era uma tentativa de estabilizar as crises internas e aproximar as tribos hunas de um mesmo centro de poder; esta idéia pode torna-se ainda mais tangível quando notamos que, após a morte de Rugilas, seus sobrinhos Átila e Bleda (filhos de Mundzuk) assumem a liderança do grupo, e a mudança de uma “tetrarquia” para uma “diarquia” evidencia o crescente controle destes líderes – de fato, o aumento nos ataques à pars orientalis e na tributação exigida por Átila e Bleda revela que, neste momento, os hunos já se estabeleciam como um núcleo de poder digno da atenção imperial. É quando Átila reina sozinho, porém, a partir de 444 (ou 445) xiv, que as relações entre esta tríade de poder – hunos, romanos e germanos – se acirram e ganham aspectos mais ideológicos, preocupados com sua legitimação frente a este contexto que, dominado ainda pela força moral e cultura romana, esta imerso numa realidade que pressupunha uma coesão civilizada a partir da οἰκουµένη (o equivalente grego da ciuilitas) xv . Essa necessidade de justificação do poder nos termos clássicos greco- romanos evidencia uma intenção (e, em casos mais práticos, mesmo uma tentativa) de pertença, de integração neste universo considerado civilizado. Neste século V, portanto, com a presença e a prática efetiva de novos poderes (hunos e germanos, além dos romanos), temos uma “estética política”xvi própria, baseada na definição social, política e cultural do grupo em questão, e que fica evidenciada quando analisamos seus esquemas de relações e a polarização destes poderes. O contato que aqui intentamos analisar é, fundamentalmente, parte de uma representação política do que se pretendia de uma “sociedade ideal”. xvii Durante o período de Átila, configura-se uma força político-militar que se convencionou chamar de “Confederação Huna”. Esta “Confederação” representava, antes de mais nada, uma afirmação do poder de Átila a partir de uma coesão inédita entre todas as tribos hunas xviii. Numa segunda instância, porém, esse agrupamento liderado pelo rei huno tornava-se mais e mais um núcleo de poder estabelecido e realmente fundamentando, de forma que o historiador Herwig Wolfram considera-o uma “alternativa de poder” xix, ou seja, uma vicissitude política e militar diante da universalidade imperial, e a ela caberia agregar os agrupamentos germanos – a estes, por sua vez, dois poderes se apresentariam, portanto, no Ocidente: o Império Romano e a alternativa do “Império” huno. A “Confederação” era, de certa forma, uma espécie de Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 plataforma política que Átila intentava estabelecer para elevar-se como um centro de poder que sobrepujaria romanos e teria sob seu mando, germanos. Assim, ainda que não houvesse uma verdadeira coesão administrativa e política sobre os diversos “grupos” bárbaros xx, Átila procurou uma unidade com as aristocracias germanas, e submeteu sobre seu mando séqüitos vândalos, burgúndios, turíngios, hérulos, ostrogodos, gépidas, lombardos, entre outros xxi. Houve, então, no período de Átila, uma polarização de poder: ele pretendia centrar o comando em sua imagem a partir do mando exercido sobre uma sorte de grupos germanos. Os hunos, bárbaros do leste, selvagens até mesmo para os olhos dos não-romanos, passavam a procurar sua elevação pela guerra, mas também pela diplomacia. Talvez uma das melhores formas de se compreender a presença desta relação entre hunos e germanos seja notar a indelével caracterização de Átila na tradição destes últimos; a atuação huna no nascedouro desta Europa Tardo-Antiga ganha ecos medievais, e cantares bastante posteriores lembram os feitos deste momento: tem-se o Atli da Völsungasaga na literatura islandesa, o Ezele (Etzel) da Nibelungenlied, na tradição germânica, o Attila de Waltharius, no mundo aquitano-visigodo e o Ætla de Waldere, no ambiente anglo-saxão xxii . Todo este corpus literário conta com a presença de Átila de forma substancial, retratando-o como um rei extremamente rico e poderoso, mas que perece sob a mão pesada dos reinos romano-germanos, mais civilizados – seja pelo cristianismo ou pela herança romana – que os hunos, em sua perspectiva. Esta perspectiva, inclusive, fundamenta o outro lado de nossa análise: o ponto de vista germano de sua relação com os hunos. A partir dessa ressonância literária (ou mesmo de fontes como Isidoro de Sevilha xxiii), podemos inferir que os hunos foram tomados, na perspectiva germana, não apenas como uma vicissitude de poder, mas, principalmente a posteriori, como a ameaça que exaltou o valor e a força de reinos que estavam por nascer, e viram sua autonomia ameaçada por uma universalidade menos “civilizada” que aquela exercida pelo Imperium Romanorum, ou seja, o estabelecimento de um centro de poder huno, alheio à legitimação fornecida pela idéia de ciuilitas, representaria, na tradição oral e num processo que a historiografia alemã chama de selbsverständigungprozess xxiv , uma verdadeira ameaça à monarquias que pretendiam- se, justamente, civilizadas e herdeiras da bagagem romana – a “Confederação huna” seria, assim, uma espécie de “anti-império”, logo, poder nocivo para o verdadeira império e para aqueles que ideológicamente o seguiam. Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 Assim como o imperium romanorum e, posteriormente, as monarquias romano- germanas tiveram sua base ideológica fundamentada, basicamente, na perspectiva da civilidade, este “anti-império”, esta “Confederação” huna não se deteve na legitimação tradicional e clássica: seu poder baseava-se na praticidade e abrangência de seu mando, que não necessitou, em seu desenvolvimento, de uma justificativa teórica ou da manutenção de uma ideologia – ainda que Átila esteja envolto, em fontes posteriores como Jordanes, em lendas e construções mitológicas (como aquela que afirma ter possuído este a Espada de Marte e, por isso, tornava-se um vencedor em todas as guerras) xxv, a coesão conseguida entre hunos e também sobre germanos parece ser suficiente, aos olhos do rei dos hunos, para que este possa ser elevado ao nível de um imperator. Porém, ainda que o contato huno-germano tenha este caráter fundamentalmente delicado, baseado por um lado na relação hierárquica entre seus reis, e por outro, na imagem elaborada na tradição monárquica germana que apresenta o poder huno como uma ameaça aos sistemas políticos civilizados, não podemos ignorar as influências mútuas que os três pólos de poder do século V causaram entre si, e que transcendem os âmbitos políticos: os nomes Átila, Bleda, Rugilas ou Mundzuk, por exemplo, são germanos (ou germanizados). xxvi IV. O “Império” de Átila: entre a civilização e a barbárie Numa certa medida, estabelecer a idéia de um “Império” huno como uma vicissitude ao lado do Império Romano significa estabelecer uma idéia historiográfica ambiciosa: quando dizemos que os hunos, sob a égide de Átila, constituíram uma Confederação que se pretendia um Império inferimos que opróprio Átila pretendia inserir-se num mundo Civilizado ou, mais ainda, forjar ao redor de si mesmo uma aura de ciuilitas. Obviamente, a palavra imperium, ou a expressão imperium hunnorum não estão presente nas fontes, e Átila é sempre denominado como rex, e nunca como imperator xxvii. Portanto, o uso do termo “Império” é de nossa responsabilidade. Átila olhava para o imperator romano e, como aponta Prisco, via um igual: Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 Então que no momento do brinde, quando os bárbaros exaltavam Átila e não o Imperador, Vigilas disse que não se devia comparar um Deus com um homem, intentando dizer que Átila era um homem, e Teodósio era um Deus. xxviii Assim, Átila pretendia inserir-se neste contexto de civilização, mas não buscou a legitimação necessariamente de uma bagagem clássica, mas baseou-se muito mais no poder meteórico que adquiriu não apenas entre as tribos hunas, mas principalmente entre os germanos. Assim, apontamos o imperium da mesma forma que Wolfram aponta a “alternativa”: não houve, por parte dos hunos, uma intenção de destruição de Roma, mas de elevação pessoal de Átila ao trono mais alto. Não à toa, ele arquiteta um casamento com a irmã do imperator, Honória, e exige, como dote, meio império, a pars occidentalis . xxix A relação entre hunos e germanos, neste contexto, representa, portanto, a constituição deste poder que, de tão abrangente, poderia ser uma alternativa inclusive à universalidade romana. Na mesma medida em que Roma negociava, mais e mais, de forma institucional com os germanos, Átila procurava se estabelecer como um chefe político e militar com poderes também institucionais para lidar com estes – faltava-lhe, porém, a justificativa e a legitimação que a efemeridade de seu comando não permitiu ser elaborada; a mesma legitimação que a teoria política dos reinos romano-germanos procurou construir: a idéia de civilização e barbárie. Assim, afirmamos que Átila procurava essa inserção na civilidade (ou a criação de uma própria civilidade) porque lhe faltava justamente a institucionalização de seu poder sob sua Confederação; institucionalização aos moldes romanos, ao molde da idéia de uma imitatio imperii. Tais pretensões hunas, porém, provavelmente não se baseariam somente numa mimesis da tradição imperial romana, visto que, como afirmamos, a bagagem clássica não foi o ponto pelo qual Átila procurou a legitimação de seu poder: Roma não seria, portanto, um exemplo teórico e moral, mas forneceria, para o rei huno, uma perspectiva muito mais prática e eficiente, uma perspectiva que postulava para o civilizado não necessariamente a tradição, mas o poder. Átila miraria não à glória das letras e da tradição, mas a glória de um Império que dominara o mundo ocidental. Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Fontes: AMMIANO MARCELINO. Res Gestae. New York: Loeb Classics, 1988. ISIDORO DE SEVILHA. Las historias de los godos, vandalos y suevos de Isidoro de Sevilla. ALONSO, Cristóbal Rodríguez (Edit.). León: Centro de Estudios e investigación “San Isidoro”. Arquicho Historico diocesano. Kaja de Ahorros y Monte de Piedade de León, 1975. PRISCO DE PÂNIO. Fragmenta. Trad. Fritz Bornmann. Florença: Le Monnier, 1979. Bibliografia consultada: BURY. J. B.. The Invasion of Europe by the Barbarians: A Series of Lectures. 1928. Distribuido pela Northvegr e A. Odhinssen em CD-ROOM. CAMERON, Averil. The Mediterranean World in Late Antiquity. Londres; NovaIorque: Routledge, 2001. FONTANA, Josep. “A Invenção do Progresso”. In: A História dos Homens. Bauru: EDUSC, 2004. FRIESINGER, Herwig; POHL, Walter; WOLFRAM, Herwig (org.). 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HIDALGO DE LA VEGA, María José. “Algunas reflexiones sobre los limites del olkoumene en el Imperio Romano”. In: Gerión, vol. 23, nº.1, Madri, 2005. HOPPENBROUWERS, Peter. “Such Stuff as People are Made on: Ethnogenesis and the Construction of Natiohood in Medieval Europe”, in: The Medieval History Journal. Londres: Sage Publications, v.9, n.2. 2006. MAENCHEN-HELFEN, Otto J. The World of the Huns: Studies in their History and Culture. Berkeley: University of California Press, 1973. MAN, John. Átila o Huno: o rei bárbaro que desafiou Roma. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. MUSSET, Lucien. The Germanic Invasions: The making of Europe – 400-600 A.D.. New York: Barnes & Nobles Books, 1975. PEREIRA, Maria Helena da Rocha. “Idéias morais e políticas dos romanos”. In: Estudos de História da Cultura Clássica. II volume – Cultura Romana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2002. Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 PINTO, Otávio Luiz Vieira. “Do Flagelo à Majestade: a representação de Átila nas tradições germânicas”. In: Atas da VII Semana de Estudos Medievais. Edição Especial. Rio de Janeiro: Programa de Estudos Medievais, 2008. POHL, Walter. “Conceptions of Ethnicity in Early Medieval Studies”. In: Debating the Middle Ages: Issues and Readings. edited by Lester K. Little and Barbara H. Rosenwein. Oxford: Blackwell Publishers, 1998. WENSKUS, Reinhardt. Stammesbildung und Verfassung: Das Werden der frühmittelalterlichen gentes. Ndr. Stuttgart 1977. WOLFRAM, Herwig. The Roman Empire and its Germanic People. California: University of California press, 1997. i Para a obra de Gibbon, cf. GIBBON, Edward. The Decline and Fall of the Roman Empire. Londres: Penguin Books, 1982. Para a sua teoria historiográfica/filosófica de Progresso e Declínio, cf. FONTANA, Josep. “A Invenção do Progresso”. In: A História dos Homens. Bauru: EDUSC, 2004, pp. 143 – 170. ii Para um sólido estudo de Goffart acerca de sua visão sobre o assentamento e a acomodação germana na Antiguidade Tardia, cf. GOFFART, Walter. Barbarians and Romans: A.D. 418-584. Nova Jersei: Princeton University Press, 1980. iii Entre uma série de artigos e trabalhos específicos, destacamos uma obra que, com caráter mais amplo e geral, tende a versar sobre a questão da desestruturação política de Roma e as migrações germanas comoum todo, cf. HEATHER, Peter. The Fall of the Roman Empire: a New History of Rome and the Barbarians. Oxford, Nova Iorque: Oxford University Press, 2007. iv O processo de Etnogênese, como proposto por Reinhardt Wenskus na segunda metade do século XX, propõe que a identidade de um grupo (aqui entendida como etnicidade), na Antiguidade Tardia, é um fator cultura e ideológico, e não racial. Assim, as aristocracias (Traditionskern, ou seja, “Núcleos de Tradição”), detentoras de uma suposta tradição ancestral, criavam mecanismos identitários para se estabelecer politicamente de uma forma legitimada perante outros grupos. Etnogênese, dessa forma, é o estudo dessas construções identitárias a partir dos próprios termos em que os círculos que as gestam as concebem, ou seja, a partir do auto-conhecimento e da alteridade. Cf. WENSKUS, Reinhardt. Stammesbildung und Verfassung: Das Werden der frühmittelalterlichen gentes. Ndr. Stuttgart 1977; GALK, Andreas. Ethnogenese und Kulturwandel – Der Versuch einer Begriffsklärung. Munique: Grin, 2008; FRIESINGER, Herwig; POHL, Walter; WOLFRAM, Herwig (org.). Typen der Ethnogenese unter besonderer Berücksichtung der Bayern. 2 Vol. Viena: VÖAM, 1990. v Vicissitude de poder, aqui, retoma a idéia de Herwig Wolfram, que afirma ser a “Confederação” huna uma alternativa de poder frente ao imperium romanorum: os pequenos grupos germanos poderiam, se desejassem adentrar o contexto político do século V, filiar-se aos romanos ou aos hunos que, no período de Átila, representavam uma força coesa e cada vez mais estruturada. Cf. WOLFRAM, Herwig. The Roman Empire and its Germanic People. California: University of California press, 1997. Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 vi Nos séculos IV e V, principalmente, os costumes ancestrais (e legitimadores), o mos maiorum, era simbolizado pelos círculos pagãos, que, fundamentalmente, representavam o grupo senatorial e postulavam para si a herança do passado glorioso de Roma, glória essa cada vez mais deturpada por bárbaros e cristãos. Cf. POHLMANN, Janira Feliciano. “A defesa do mos maiorum em tempos de fortalecimento do cristianismo: o caso de Symmachus (século IV)”. Texto apresentado no “III Ciclo Internacional de Estudos Antigos e Medievais e X Ciclo de Estudo Antigos e Medievais” na UNESP – Assis/SP, maio 2008. Artigo a ser publicado. vii HEATHER, Peter. The Goths. Oxford: Blackwell Publishes, 2002, pp. 130-138. Acerca das relações políticas, cf. FRIGHETTO, Renan. “Algumas considerações: o poder político na Antiguidade Clássica e na Antiguidade Tardia”. In: Revista Stylos - Instituto de Estudios Grecolatinos Francisco de Novoa, vol. 13, Buenos Aires, 2004. viii Aqui, referimo-nos à “percepção de si próprio” como uma construção teórica e ideológica decorrente do discurso de uma determinada elite, responsável pela administração e pela legitimação da base política. ix Cf. PINTO, Otávio Luiz Vieira & & POHLMANN, Janira Feliciano. Bárbaros, hereges e pagãos: uma análise das definições sócio-religiosas nos séculos IV e V. Artigo inédito. x Amm.marc. Res Gestae. XXXI, II 1 – 12. xi “totius autem sementem exitii et cladum originem diuersarum [...] hanc comperimus causam. Hunorum gens monumentis ueteribus leuiter nota, ultra paludes Maeoticas glacialem oceanum accolens, omnem modum feritatis excedit. [...] aguntur autem nulla seueritate regali, sed tumultuário primatum ductu contenti, perrumpunt quicquid inciderit.”. Idem, XXXI, II 1 & 7. Tradução livre. xii Para uma descrição sucinta e geral da entrada dos hunos nos limites do imperium romanorum e sua relação com a onda de invasões, ver: MUSSET, Lucien. The Germanic Invasions: The making of Europe – 400-600 A.D.. New York: Barnes & Nobles Books, 1975, pp. 30 – 33. xiii A ciuilitas era, fundamentalmente, o círculo de civilização, ou seja, o ambiente moral e social daqueles que detinham a humanitas (semelhante à idéia de παιδεια grega, ou seja, dizia respeito à formação intelectual, política, à tradição e caracterizava, portanto, o homem civilizado). Cf. PEREIRA, Maria Helena da Rocha. “Idéias morais e políticas dos romanos”. In: Estudos de História da Cultura Clássica. II volume – Cultura Romana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2002. xiv Maenchen-helfen nota uma série de divergências na data da morte de Bleda e das campanhas contra a pars orientalis, que, de historiador para historiador, variam entre 442 e 447. MAENCHEN-HELFEN, Otto J. The World of the Huns: Studies in their History and Culture. Berkeley: University of California Press, 1973, pp. 112 – 118. xv A οἰκουµένη, a principio, seria o mundo habitado. Este aspecto universal, porém, acaba ganhando contornos de civilização e, assim, passa a definir não apenas o mundo habitado, mas o mundo civilizado. Para uma ótima análise deste conceito universal, cf. HIDALGO DE LA VEGA, María José. “Algunas reflexiones sobre los limites del olkoumene en el Imperio Romano”. In: Gerión, vol. 23, nº.1, Madri, 2005, pp. 271-285. xvi Chamamos de “estética política” a construção e a conseqüente interpretação da representação de uma realidade (no caso, política), partindo de discursos de um determinado grupo. O uso desta denominação, de nossa parte, é inspirado nos métodos de Kulturgeschichte e Kulturwissenschaft – uma kultur, ou seja, uma concepção de cultura que fundamenta também segmentos políticos, econômicos e sociais. xvii A instabilidade política da Antiguidade Tardia forçou uma série de autores a elaborar teorias e ideologias que legitimassem e buscassem uma harmonia social, visando a estabilidade administrativa e o bem comum. Um bom exemplo são as sententiae, de Isidoro de Sevilha, que eram, fundamentalmente, conselhos para um corpo régio e nobiliárquico. Revista Litteris - Ciências Humanas - História Novembro de 2010 Número 6 Revista Litteris – www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983- 7429 xviii MAN, John. Átila o Huno: o rei bárbaro que desafiou Roma. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, pp. 130- 132. xix Cf. WOLFRAM, Herwig. Op. cit.. xx POHL, Walter. “Conceptions of Ethnicity in Early Medieval Studies”. In: Debating the Middle Ages: Issues and Readings. edited by Lester K. Little and Barbara H. Rosenwein. Oxford: Blackwell Publishers, 1998, p.16. xxi HEATHER, Peter. Op. cit.(The fall of the Roman...), p. 523 xxii A representação de Átila nos cantares e lendas de tradição germana pode ser encontrado em um trabalho de nossa autoria, cf. PINTO, Otávio Luiz Vieira. “Do Flagelo à Majestade: a representação de Átila nas tradições germânicas”. In: Atas da VII Semana de Estudos Medievais. Edição Especial. Rio de Janeiro: Programa de Estudos Medievais, 2008, pp. 132 – 138. xxiii Referimo-nos aqui a historia gothorum, de Isidoro de Sevilha, onde o bispo faz uma referência aos hunos como parte constituinte dos primórdios da história goda. Isid. de Sev. Historia Gothorum. 27. xxiv Cf. HOPPENBROUWERS, Peter. “Such Stuff as People are Made on: Ethnogenesis and the Construction of Natiohood in Medieval Europe”, in: The Medieval History Journal. Londres: Sage Publications, v.9, n.2. 2006. xxv Jord. Getica. xxvi BURY. J. B.. The Invasionof Europe by the Barbarians: A Series of Lectures. 1928. Distribuido pela Northvegr e A. Odhinssen em CD-ROOM, p. 70. xxvii Prosp. Aquí. Epitoma chronicon. 1367.; Hyd. Chronicon. XXVIII.II, 740-750.; Greg Tours. Historiae. IV, 29.; Jord. Getica. XXIV, 122.; Prud. Contra Symmachus. II, 808. xxviii Prisc. Fragmenta. VIII, 28. Tradução livre. xxix MAN, John. Op. cit., pp. 190-191.
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