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FERREIRA, Marieta de Moraes. A reação republicana e a crise política dos anos 20

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,.., 
A REA AO REP LICANA 
" 
E A CRISE POLITICA 
1. Introdução 
omou-se comum nAS últimas dé­
cadas a crítica severa à história 
política e à chamada história éuénemerv 
tielle, caracterizada pela narmção dos 
eventos. Mais recentemente têm surgi­
do trabalhos que não só recuperam o 
papel da história política, como pro­
põem uma revisão do emprego da nar­
rativa histórica e novas formAS de enfo­
que para o estudo dos acontecimentos 
políticos. Neffla linha, Peter Burke pu­
blicou um artigo em que discute o renas­
cimento da nal"lutiva histórica e o rela· 
ciona com a "crescente desconfiança 
frente às explicações estruturais, que 
em muitos casos têm se caracterizado 
por um reducionismo e um determinis­
mo em suas análises",1 Por outro lado, 
muitos estudiosos consideram atual­
mente que a escrita da história tem sido 
empobrecida pelo abandono da nal mti-
DOS ANOS 20 
Marieta de Moraes Ferreira 
va, e apontam o desenvolvimento de 
novas fOI'IIiAS de nalT8tiva capazes de 
recuperar a relação entre os aconteci­
mentos e as estruturas. A proposta é 
construir urna narrativa densa o bas­
tante para lidar não apenas com a se 
qüência dos acontecimentos, e das in­
tenções conscientes dos atores envolVi.­
d06 nesses acontecimentos, mas tam­
bém com as estruturas, as instituições, 
os modos de pensar. 
Os historiadores franceses Serge 
Berstein e Odile Rudele, em seu recém­
publicado livro Le modele républicain, 2 
ao discutir novos modelos de anãlise 
para o estudo da cultura política france­
sa, chamam a atenção para a importân­
cia dos eventos políticos e indicam alter­
nativas de enfoque inovadoras. A focali­
zação de eventos particulares pode ser 
fundamenta! não pelo que eles expres· 
sam em si mesmos, mas pelo que podem 
revelar da cultura política em que estão 
inseridos. O acontecimento pode ser as-
Nota:. Este texto roi opf'C6Cnl.udo no Seminário "'CenlÍri08 de 22", realizado pelo CPDOC em 19 e 20 
de novembro de 1992 no Fundação Getíllio Vargas. 
E8tudo. Históricos. Rio de Janeiro, yol. 6, n. lI, 1993, P. 9·23. 
10 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1003/11 
tudado como um papel heliográfico que 
revela as estruturas e pode se constituir 
num evento criador (éuénement malr� 
ce).3 Assim, detel"nlinados eventos são 
chaves, mobiliza dores, simbólicos, na 
medida em que pel"mitem captar o com­
portamento e a cultura política de um 
sistema no seu todo oude alguIl.!? de seus 
segmentos sociais específicos.4 Minha 
proposta aqui é estudar a &>ação Repu­
blicana de acordo com esta diretriz. 
A sucessão presidencial de 1922 ,..,. 
vestiu-ee de um caráter peculiar, já que 
pela primeira vez o confronto entre os 
grandes estados e 08 estados interme­
diários se colocou claramente numa dis­
puta sucessória, revelando as tensões 
regionais interoligárquicas e desnudan­
do as contradições do federalismo brasi­
leiro. Esse confronto assumiu sua for­
ma plena através da formação da Re­
ação Republicana, em junho de 1921, 
movimento que lançou a candidatura 
dissidente de Nilo Peçanha em oposição 
à candidatura oficial de Artur Bernar­
des. Enquanto Bernardes contava com 
o apoio de Minas Gerais, São Paulo e 
pequenos estados, em torno da &>ação 
Republicana uniram-se Rio de Janeiro, 
Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco 
e Distrito Federal, tentando construir 
um eixo alternativo de poder. 
Evento político chave, a Reação Re­
publicana pode nos permitir captar a 
cultura política e o comportamento, as 
aspirações e demandas dos diferentes 
segmentos do sistema político brasileiro 
na República Velha. O estabelecimento 
da política dos governadoles havia ins­
taurado no país uma cultura política 
que se consolidou, congelando a compe­
tição, neutralizando as oposições e do­
mesticando os conflitos políticos.5 A Re­
ação Republicana representou exata­
mente um momento de contestação des­
se sistema, inaugurando um ciclo de 
questionamentos da ordem vigente. 
A década de 1920 foi um período de 
profundas transformações na socieda­
de brasileira, na medida em que então 
se manifestaram uma crise intra-oli­
gárqUiC8, uma demanda de maior par­
ticipação dos setores urbanos, uma in­
satisfação dos segmentos militares. 
Desenvolveram-se também novas for­
mas de pensamento e elaboração cul­
tural. Oanode 1922, em especial, aglu­
tinou uma sucessão de enventos que 
mudaram de forma significativa o pa­
norama político e cultural do país. A 
Semana de Arte Moderna, a criação do 
Partido Comunista do Brasil, o movi­
mento tenentista, a criação do Centro 
Dom Vital, a comemoração do Cente­
nário da Independência e a própria 
sucessão presidencial de 1922 foram 
indicadores importantes dos novos 
ventos que sopravam, colocando em 
questão os padrões culturais e políticos 
da Primeira República. 
A década de 1920em geral,e muitos 
dos acontecimentos acima citados, têm 
sido objeto de estudos aprofundados e 
consistentes. Até hoje, entretanto, a 
Reação Republicana náo foi alvo de 
nenhum estudo específico. As inter­
pretações a seu respeito aparecem in­
seridas em obras voltadas para temas 
mais gerais, ocorrendo assim uma la­
cuna historiográfica que deve ser su­
prida. Procuraremos trazer aqui a nos­
sa contribuição. 
2 - Interpretações sobre o 
sistema político oligárquico na 
Primeira República e a Reação 
Republicana 
Os cronístas contemporâneos que es­
creveram sobre a sucessão presidencial 
de 1922 atribuem a cisão política que 
deu origem à Reação Republicana à dis­
puta pela indicação do candidato a vice-
A REAÇÃO REPUBUCANA E A CRISE POLlTICA DOS ANOS 20 1 1 
presidente da República na chapa ofi­
ciai enca beçada por Artur Bernardes.6 
Para eles, o motor da crise política teria 
sido a impoesibilidade de acordo entre 
Bahia, Pernambuco e secundariamente 
Rio de Janeiro, que pleiteavam a indi­
cação do vice-presidente, e a frustração 
desses estados diante da escolha de 11m 
representante do Maranhão. 
Ma ;a recentemente foram apresen· 
tados novoe subsídios para o estudo da 
Reação Republicana. Boris Fausto, ao 
analisar a problemática econômico-fi­
nanceira da Primeira República, levan­
tou argumentos que encaminham a dis­
cussão no sentido de explicar a cisão 
como produto de divergências mais pro­
fundas. A Reação Republicana revela­
ria na verdade uma intensificação das 
dissidências int.eroligárquicas provoca­
da por aqueles setores que não estavam 
diretamente ligados à cafeicultura e se 
mostravam insatisfeitos com a política 
de desvalorização cambial e de endivi­
damento externo destinada a garantir a 
telCéira valorização do café. O conflito 
refletiria assim, basicamente, o enfren­
tamento de interesses opostos no tel"l e 
no econômico, diretamente ligados à 
terceira política de valorização do café, 
em debate em 1921.7 
Urna terceira proposta de interpreta­
ção localiza na Reação Republicana o 
primeiro ensaio de populismo no país, e 
enfatiza o papel das camadas urbanas 
cariocas e das 81188 articulações com 
Nilo Paçanha, visto como um percursor 
das lideranças populistas8 
Em primeiro lugar, a despeito da 
existência de inúmeras divergências 
que dividiam a elite política dominante 
quanto à implementação de medidas 
de defesa da cafeicultura, 9 este não 
pode ser considerado um fator deter­
minante para a ocorrência da cisão 
política e o surgimento da Reação Re­
publicana. O comportamento das ban­
cadas dos estados de segunda grande-
za por ocasião da discllssão na Câmara 
Federal, a partir de 1920, dos projetos 
de defesa do café não demonstrou cla­
ramente uma posição coesa contrária 
às propostas encaminhadas pelo eixo 
Minas-São Paulo. Se, em relação à 
bancada pernambucana, foram explí­
citas as críticas às propostas emissio-. 
tas I ' - d ,- 10 nlB para a va orl.zaçao o cale, o 
mesmo não pode ser dito em relação às 
demais bancadas.Os baianos não se 
manifestaram em praticamente ne­
nhuma discussão acerca do tema, en­
quanto a bancada gaúcha, liderada por 
Otávio Rocha, numa posição concilia­
tória, propôs a transfo/"lllação do proje­
to de defesa permanente da produção 
do café num projeto de defesa da pro­
dução nacional. Em seus diversos dis­
cursos, diferentemente doe pernambu­
canos, 05 gaúchos não combateram o 
tratamento especial dado ao café dian­
te doe demais gêneros, voltando suas 
críticas mais para as prátiCAS emissio­
nistas embutidas no projeto de valori­
zação.l1 
A bancada fluminense, por sua vez, 
caracterizada por urna atusção inex­
pressiva nesses debates, seguiu a orien­
tação de Nilo Paçanha e acompanhou a 
posição dos gaúchos, que acabaram por 
ver aprovada (ainda que com restriçÔe8 
de Pernambuco) a transfo/"lnação do 
projeto de criação do Instituto de Defesa 
do Café no do Instituto de Defesa da 
Produção Nacional, destinado a susten­
tar também a produção da bOI I acha, do 
cacau, do algodão, do fumo, do açúcar, 
do mate e de produtos pecuários.12 A 
JX>Stura inexpressiva dos fluminenses 
nessas discU8SÔes pode ser interpretada 
como a conseqüência da neoessidade de 
acompanhar as posiçÔe8 de Nilo, ainda 
que a bancada não estiveSAA- plenamen­
te de acordo com elas. Tradicional de­
fensor da diversificação da produção e 
adepto da ortodoxia financeim, Nilo Pe­
çanha não via realmente com s.impatia 
• 12 ESTUDOS HISroRlCOS - 1993/11 
as medidas de proteção ao café. Diante 
desse quadro, pode..,e concluir que o 
engajamento das forças situacionistas 
fluminenses na Reação Republicana 
não passou diretamente por divergên­
cias em relação às medidas de defesa da 
cafeicultura tomadas pelo governo fede­
ral, e sim pela adesão às posições de um 
grupo de adeptos de Nilo Peçanha e 
principalmente pela perspectiva de ob­
ter ganhos políticoe através de alianças 
e acordos com outras forças estaduais 
que questionavam a hegemonia do eixo 
Minas-São Paulo. Pode-se argumentar, 
por fim, que no momento da articulação 
de um esquema de resistência ao nome 
de Bernardes ainda não haviam se con­
figurado com clareza os conflitos em 
torno das questões econômico-Cmancei­
raso A votação do projeto relativo à ter­
ceira valorização do café em março de 
1921, embora tenha sido objeto de críti­
cas, não levantou resistências mais sé­
rias. Foi somente no segundo semestre 
de 1921 que as divergências se explici­
taram com clareza. Tudo isso daria mar­
gem para concluir que as divergências 
em torno da terceira valorização do café 
não teriam sido o motor da cisão politi­
ca, mas poderiam, ao contrário, ter re­
sultado dela. 
Quanto à interpretação segundo a 
qual a Reação Republicana teria resul­
tado de uma disputa em torno do vice de 
Artur Bernardes, há sérios argumentos 
que se combinam para invalidá-la. Em 
primeiro lugar, o exame da trajetória 
política de Nilo evidencia que suas aspi­
rações à presidência eram antigas, ten� 
do.., inclusive levado a desenvolver es­
tratégias claramente vinculadas a um 
projeto de ascensão nacional. Além dis­
so, a cOl'l'espondência oontida em seu 
arquivo relativa ao período que passou 
na Europa não fornece qualquer indica­
ção de que estivesse comprometido com 
a candidatura Bernardes. Por seu tur­
no, a coJTespondência do arquivo de 
Raul Soares, principal articulador do 
candidato mineiro no Rio de Janeiro, 
ilustra bem os temO! es e desconfianças 
• 
sentidos em relação a Nilo. E significa-
tivo o número de cartas que alertam 
para articulações de bastidores entre 
importantes forças políticas em favor do 
lançamento de sua candidatura, bem 
como para a montagem de esquemas 
destinados a desestabilizar o nome de 
Bernardes.13 
Antes portanto do surgimento da dis­
puta pela vice-presidência, já se deli­
neava um conjunto de fatores que indi­
cavam, de um lado, a dificuldade de 
consenso em torno de Bernardes, e, de 
outro, a articulação da candidatura Nilo 
Peçanha. De toda forma, a escolha do 
companheiro de chapa de Bernardes 
veio trazer novos elementos para com­
plicara quadro sucessório e bons pretex­
tos para as forças que se opunham ao 
candidato mineiro. Intensas disputas se 
manifestaram em torno do nome que 
seria escolhido como candidato à vice­
presidência, travando-se a partir de en­
tão debates infmdáveis. Visava-se com 
isso criar um pretexto para aumentar 
as dificuldades para a consolidação da 
candidatura de Bernardes, e ao mesmo 
tempo abrir brechas para o nome de 
. Nilo Peçanha, candidato pattocinado 
pelos estados dissidentes. 
No dia 8 de junho de 1921 a conven­
ção para a escolha do candidato a pre­
sidente se reuniu sem a presença dos 
representantes de Pernambuco, Ba­
hia, Rio Grande do Sul e Estado do Rio, 
o que demonstrava que a cisão oligá r­
quica estava consumada, e que o cami­
nho para o lançamento da Reação Re­
publicana estava aberto. 
A razão invocada pelos dissidentes 
e por Nilo para não comparecerem à 
convenção era o próprio processo de 
escolha do candidato, que seria indica­
do pelo mesmo poder que posterior­
mente iria verificar a legitimidade da 
• 
A REAÇÃO REPUBUCANA E A CRISE POLÍTICA DOS ANOS 20 13 
investidura. A questão da disputa pela 
vice-presidência ficava absolutamente 
secundarizada. 
Finalmente, a proposta que enfatiza 
as relações entre a Reação Republica­
na e as massas urbanas cariocas tam­
bém deve ser relativizada. Ainda que 
se reconheça a importância das rela­
ções da Reação Republicana, em espe­
cial de Nilo Peçanha, com a cidade do 
Rio de Janeiro, essa rede de relações 
estava muito mais centrada nas elites 
cariocas do que nas massas urbanas. 
Passemos então à nossa própria 
proposta. Nosso interesse ao estudar a 
Reação Republicana insere-se numa 
discussão mais ampla sobre a natureza 
dos conflitos políticos e o papel do Es­
tado na Primeira República. Aqueles 
que estudam o Estado segundo o mo­
delo de representação de interesses, 
em geral sustentam que os interesses 
cafeeiros de São Paulo e Minas eram 
detel minantes na orientação da JXllíti­
ca republicana. A conseqüência dessa 
linha de interpretação é uma superva­
lorização do papel desses estados no 
jogo político oligárquico, e um silêncio 
sobre o papel e a trajetória dos estados 
de segunda grandeza. Nossa intenção, 
ao contrário, é destacar a complexida­
de do pacto oligárquico e buscar um 
melhor desenho do sistema político do 
país. Por isso mesmo iremos enfatizar 
a atuação dos grupos oligárquicos re­
gionais de segunda grandeza e sua ten­
tativa de construção de um eixo alter­
nativo de poder. Alguns estudos têm 
sido produzidos nessa direção, propon­
do uma revisão do papel do eixo domi­
nante Minas-São Paulo.14 Ao relativi­
zar o papel hegemônico de São Paulo, 
ao buscar novas explicações para a as­
censão de Minas Gerai s no jogo político 
nacional e ao rediscutir as teses que 
interpretam o Rio Grande do Sul como 
foco desestabilizador, essas contribui­
ções perIni tem repensar 05 esquemas 
de funcionamento da política oligár-• qUIca. 
Um fato fundamental é que desde o 
início o esquema de dominação São 
Paulo-Minas abriu espaço para o sur­
gimento de conflitos no seio da classe 
dominante. A insatisfação dos estados 
de segunda grandeza diante das defor­
mações do federalismo, que limitavam 
grandemente sua autonomia no cam· 
po político e subordinavam seus inte­
resses econômico-financeiros aos inte­
resses mineiros e paulistas, deu ori­
gem a iniciativas de contestação que 
não podem ser ignoradas. Embora es­
sas iniciativas nem sempre fossem cla­
ramente delineadas e explicitadas, e se 
caracterizassem por uma instabilida­
de dos atores-estados nelas engajados, 
é possível identificá-las ao longo de 
toda a República Velha. 
Pernambuco, Bahia e Rio de Janei­
ro, por exemplo, eram estadosque ha­
viam ocupado posições-chave na sus­
tentação do Estado Imperial.15 Com a 
proclamação da República e o agI ava­
mento da crise de suas economias, fo­
ram relegados a um papel secundário. 
No federalismo, ocupavam portanto 
posições equivalentes e tinham poten­
cialmente o objetivo comum de ampliar 
seu poder de barganha frente ao eixo 
Minas-São Paulo. O Rio Grande do 
Sul, JX>r seu lado, embora desfrutasse 
de uma posição privilegiada em rela­
ção aos pernambucanos, baianos e flu­
minenses, ressentia-se da dominação 
mineiro-paulista, tendo seus interes­
ses inúmeras vezes prejudicados. 
A meta das facções dominantes des­
ses estados era assim a maior participa­
ção no sistema federalista implantado 
com a Constituição de 1891, o que só se 
tornaria viável através da melhor re­
partição do poder entre os diferentes 
grupos regionais. A articulação desse 
projeto alternativo, entretanto, não re­
presentava uma ruptura com o modelo 
14 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1993/11 
oligárquico em vigor, e conseqüente­
mente suas propostas não extrapola­
vam aqueles limites. AIl demandas dos 
estados de segunda grandeza centra­
vam-se em grande parte numa distri­
buição mais igualitária das benesses 
clientelíst;cas federais, embora não dei­
xassem também de trazer embutidas 
algumas críticas ao modelo aglário�­
portador.16 Quanto ao Distrito Federal, 
fortemente controlado pelo governo fe­
deral. sua ambição era ampliar sua au­
tonomia política. Isto levava parte de 
seus segmentos sociais, em algumas 
ocasiões, a manifestar seu desagrado 
frente a aspectos do sistema político 
li, . . te 17 o garqwco Vlgen . 
A articulação desses interesses iria 
se concretizar de maneira mais visível 
em 1921, com a formação da Reação 
Republicana. Para se falar em Reação 
Republicana é preciso falar em Nilo 
Peçanha, líder fluminense que desde 
as primeiras décadas da República 
buscou uma projeção no cenário nacio­
nal. O período de dominação nilísta no 
Estado do Rio, que se estendeu de 1904 
a 1922, é de fato caracterizado pela 
busca de uma maior margem de mano­
bra para os grupos dominantes flumi­
nenses no contexto da política dos go­
vernadores. Se é verdade que em di­
versa. oportunidades Nilo Peçanha 
fitluoU acordos, articulou-se e mesmo 
submeteu-se às oligarquias mineira e 
paulista, isso não impediu que sua p0-
sição e de seu grupo divergisse das 
orientações traçada. pelos dois gran­
des estados, evidenciando tentativas 
de aproximação com Bahia e Pernam­
buco, e em alguns momentos com o Rio 
Grande do Sul,na busca de aFsio para seu projeto político nacional. 8 
Apesar de fluminense, Nilo Peça­
nha também tinha uma longa expe­
riência de militáncia política no Distri­
to Federal. Ao longo dos anos 1890 
criou laços de grande proximidade com 
as massas cariocas, através do movi­
mento jacobino. Após a denota desse 
movimento, com a instauração da polí­
tica dos governadores, tornou-se a 
principal liderança no Estado do Rio 
durante quase vinte anoe. Ao longo 
desse tempo sempre buscou construir 
uma rede de alianças com diferentes 
setores cariOCAS, principalmente atra­
vés das figuras de Mauricio de lacer­
da, José Eduardo de Macedo Soares, 
Edmundo Bittencourt e lrineu Macha­
do. Em fins de 1921, obteve o apoio de 
Paulo de Frontin, senador, ex-prefeito 
e principal liderança política do Distri­
to Federal naquele momento.19 
AIl manifestações populares ocorri­
das por ocasião do desembarque de Nilo 
no Rio de Janeiro, vindo da Europa, no 
dia 6 de junho de 1921, demonstram a 
eficácia desses esforços. O evento é des­
crito da seguinte maneira: "A multidão 
comprimia-se no cais do porto, rompen­
do os cordões de isolamento aos gritos 
de 'Viva Nilo Paçanha, o futuro presi­
dente da República!' ." 20 A despeito do 
inegável prestígio de Nilo, existem en­
tretanto indicações de que essa mani­
festação não era exatamente fruto do 
espontaneísmo da população carioca e 
fluminense. Na verdade, os órgãos mais 
expreesivoe da imprensa carioca, lide­
radoe pelo CoTTeio da. Manhã e O Im­
parcial, foram fundamentais para con­
fOI'mar a opinião pública a favor de Nilo. 
Edmundo Bittencourt, dono do Correio 
da.Manhãe possuidor de inegáveis qua­
lidades jornalísticas e de lima extmor­
dinãria capacidade de despertar o inte­
resse popular,juntamente com o nilista 
José Eduardo de Macedo Soares, pro­
prietário de O Imparcial, vinha desde 
algum tempo bombardeando a candida­
tura Bernardes e exaltando as qualida­
des políticas e pessoais do líder flumi­
nense. Naquela conjuntura, Nilo em 
um dos poucos que poderiam ser lança­
doe contra Bernardes. Além de ser um 
A REAÇÃO REPUBUCANA E A CruSE POLITICA 005 ANOS 20 15 
político de expressão nacional, era,jun­
tamente com Rui Barbosa, um dos úni­
cos líderes ainda sobreviventes dos pri­
mórdios da República, o que llie conferia 
uma autoridade especial. 
3. A formação e a campanha da 
Reação Republicana 
No dia 24 dejunho de 1921, um grupo 
de políticos reunidos no Centro Rio­
Grandense, no Rio de Janeiro, lançou 
um manifesto oficializando a chapa Nilo 
Peçanha.J.J.Seabra e criando o movi­
mento da Reação Republicana. Os pon­
tos básicos do manifesto eram a crítica 
ao processo adotado pelos grandes esta­
dos para a escollia do candidato à presi­
dência, a reivindicação de maior auto­
nomia para o Legislativo frente ao Exe­
cutivo e a e>tigência de maior credibili­
dade para as Forças Annadas, que no 
último governo, de Epitácio Pessoa, ha­
viam sido afastadas da chefm das pas­
tas militares. Do ponto de vista econô­
mico, o manifesto defendia princípios 
financeiros ortodoxos e elegia o equili­
brio do orçamento federal e o equilibrio 
b· I ,=- t ' 21 caro ta como queswu:l cen ra15. . 
Colocadas de maneira vaga no mani­
festo de lançamento, essas idéias foram 
Assumindo contornos mais nítidos ao 
longo da campanha eleitoral. Em seu 
primeiro discurso já como candidato, 
Nilo defuúu a Reação Republicana como 
um movimento "de defesa dos princípios 
republicanos", organizado para que as 
"decisões políticas nacionais saiam do 
terreno das conveniências regionais pa­
ra horizontes mais iluminados de crítica 
e liberdade, e que do choque das idéias 
postas a serviço da emancipação política 
dos estados se possa caminhar para a 
formação de partidos que serão a alma 
da República". Partindo desses pontos 
de vista, Nilo aprofundava as críticas ao 
funcionamento do regime federalista, 
que beneficiava os grandes estados em 
detrimento dos demais, chamava a 
atenção para a importãncia da institu­
cionalização dos partidos ejá anunciava 
suas preocupações com a situação de 
desprestígio que vinham enfrentando 
os militares. 
Entretanto, dentro dos padrões po­
líticos vigentes na República Vellia, ser 
candidato da oposição significava en­
frentar todo tipo de dificuldade. AB re­
gras de funcionamento da política dos 
governadores garantiam a perpetua­
ção das situações no poder, e a sorte das 
candidaturas oposicionistas parecia já 
estar traçada antes mesmo da disputa 
eleitoral. Ainda assim, as forças dissi­
dentes acreditavam dispor de um espa­
ço considerável para neutralizar as di­
ficuldades. O nome de Bernardes en­
contrava ampla resistência em diver­
sos setores e estados, e isso seria sufi­
ciente, na sua concepção, para quebrar 
a regi a clássica de funcionamento da 
política oligárquica, que estabelecia o 
apoio automático às forças da situação. 
A Reação Republicana acreditava po­
der equacionar esse desafio através do 
uso de diferentes eslratégias: a coopta­
ção de chefes políticos municipais e 
estaduais descontentes com as forças 
bernardistas, a propaganda eleitoral e 
a busca de apoio militar. 
De acordo com a avaliação feita pela 
Reação Republicana em junho de 1921, 
tomando por base uma massa eleitoral 
de 500 milelei!!,,, es, os bernardistas 
contavam com 300 mil votos e os nilistas 
com 200 mil. A despeito de todas as 
desvantagens que enfrentava, a Reação 
Republicana contava poder diminuir 
essa diferença não só garantindo suas 
posições nos estados aliados, como am­
pliando sua influência nos estados do­
minados pelos bernardistas.22 Para 
atingiressa previsão,a Reação Republi­
cana pretendia desenvolver uma políti-
• 
16 ESTIJDOS H1STORlCOS - 1993111 
ca de cooptação de lideranças estaduais 
e locais descontentes com as situações 
dominantes em SUAS áreas de atuação. 
A correspondência relativa à Reação 
Republicana encontrada no arquivo de 
Nilo Paçanha fornece informações in­
teressantes sobre os procedimentos 
adotados. É abundante o nÚmero de 
cartas oriundas dos mais diversos mu­
nicípios do país traçando um quadro 
detalhado e minucioso da situação po­
lítica daquelas localidades e apontan­
do as lideranças passíveis de serem 
cooptadas pelos nilistas. Detectados 
esses aliados potenciais. eram inicia­
das as negociações com vistas ao com­
promisso político. O envio de recursos 
para a abertura de comitês de propa­
ganda e alistamento eleitoral selava o 
acordo. 
Em troca do apoio à candidatura 
Nilo seriam concedidos favores e me­
lhores posiçóes nos estados nilistas, e 
privilégios futuros nos estados contro­
lados pelas forças bernardistas. 
A despeito do uso em larga escala da 
fraude, e das inúmeras possibilidades 
de manipulação do processo eleitoral, os 
articuladores da Reação Republicana 
atribuíam um papel importante à mobi­
lização do eleitorado. Acreditando na 
possibilidade de reverter em seu favor 
as vantagens que beneficiavam o candi­
dato mineiro, Nilo Peçanha adotou as­
sim uma segunda estratégia, a propa­
ganda eleitoral, procedimento até então 
praticamente inédito entre as práticas 
l-t' . tes - 23 O d po 11M3 vlgen no paIS. uso esse 
novo estilo de campanha tinha como 
objetivo promover uma mobilização p0-
lítica mais ampla que pudesse angariar 
o apoio de segmentos das oligarquias 
secundárias, descontentes com o funciir 
namento do sistema oligárquico e do 
federalismo, bem como das populações 
urbanas, ansiosas por obter o direito a 
uma maior participação política. 
Ainda que o emprego desse tipo de 
procedimento tivesse 8119S limitações 
reconhecidas, e não fosse ser necessa­
riamente traduzido em votos, em virtu­
de do caráter formal de que se revestia 
o processo eleitoral,24 havia interesse 
em promover através da propaganda a 
mobilização da opinião pública, um 
trunfo capaz de tornar menos desigual 
a posição das forças oposicionistas. Con­
tando com essa mobilização, a Reação 
Republicana passava a dispor de um 
cacife que poderia ser utilizado para 
intimidar as forças da situação no uso 
da fraude e da violência política, bem 
como para sensibilizar as Forças Arma­
das a seu favor. Em última instãncia, os 
dissidentes pensavam com isso poder 
dispor de um meio de pressão capaz de 
levar à retirada da candidatura minei­
ra, o que chegou a ser tentado em algu­
mas ocasiões, sem contudo atingir os 
resultados desejados. 
O plano de propaganda eleitoral da 
Reação Republicana consistiu na cria­
ção de comités eleitorais estaduais e 
municipais, e na organização de uma 
lournée que percorreria grande núme­
ro de estados do país, dirigindo-se di­
retamente ao eleitorado. A Nilo cabe­
ria visitar os estados do Amazonas, 
Maranhão, Pernambuco, Bahia, Espí­
rito Santo, Distrito Federal e São Pau­
lo, e a J.J. Seabra, Alagoas, São Paulo, 
Paraná e Rio Grande do SuL Alguns 
estados seriam visitados por ambos. 
O programa da Reação Republica­
na, divulgado durante a campanha, 
reeditava inúmeros pontos defendidos 
por Nilo Peçanha desde seu primeiro 
governo no Estado do Rio. Ao lado dos 
problemas locais enfatizados nos dis­
cursos proferidos em cada lugar, dois 
grandes temas foram desenvolvidos: a 
solução da crise econômica que o país 
atravessava e a regeneração dos costu­
mes políticos brasileiros. Em relação 
ao primeiro, era colocado como ponto 
• • 17 A REACAO REPUBlJCANA E A CRISE POlJTICA DOS ANOS 20 
primordial a defesa da agricultura: "A 
lavoura é tudo, é o eixo em torno do 
qual gira o mundo dos negócios, o cen­
tro de gl avitação do sistema financei­
ro, a força que aciona a engrenagem 
econômica e a retarda e a acelera, con­
forme o movimento da força motriz," 25 
A partir da defesa da agricultura 
eram ressaltadas a importância da di­
versificação e a necessidade de auto­
suficiência na produção de alimentos. 
Como meio de atingir esses objetivos 
propunha-se a redução dos fretes de 
transporte, a tributação dos produtos 
estrangeiros similares aos de produção 
nacional, e a diminuição progressiva 
dos impostos sobre a produção em tro­
ca da implantação do imposto territo­
rial. No tocante à agricultura de expor­
tação, embora reconhecesse que "o café 
era a espinha dorsal da economia", Ni­
lo Peçanha chamava a atenção para a 
necessidade de serem amparadas as 
demais culturas como o cacau, a bOlTs­
cha, o açúcar etc. No plano financeiro, 
como adepto da ortodoxia, Nilo mani­
festava-se contra a inflação e a favor da 
conversibilidade da moeda e dos orça­
mentos equilibrados. A despeito de 
seu compromisso oligárquico, criticava 
igualmente a estrutura administrati­
va marcada pelo empreguismo e pelo 
clientelismo. 
Na esfera política, as questões abor­
dadas referiam-6e às "distorções do fe­
deralismo" e ao uimperialismo dos 
grandes estados". A esse respeito Nilo 
declarava: "h poderosas unidades da 
federação já não basta o privilégio odio­
so da eleição do presidente da Repúbli­
ca; elas influem até na constituição das 
bancadas dos estados mais fracos, ora 
fazendo incluir representantes seus, 
ora escolhendo dentre os eleitos e cons­
tantes, os delegados de sua política de 
avassalamento e distorção." 
Além .das propostas voltadas para 
os grupos oligárquicos dissidentes, a 
Reação Republicana estava interessa­
da em mobilizar as massas urbanas, 
Para atender a esse objetivo, a campa­
nha se revestiu de um a pelo popular, 
pregando a urgência. "de ar! ancar a 
República das mãos de alguns para as 
mãos de todos". Nesse sentido, Nilo 
Peçanha declarava: ''0 mundo não po­
de ser mais O domínio egoístico dos 
ricos, e ( ... ) só teremos paz de verdade, 
e urna paz de justiça, quando nas nos­
S85 propriedades ( ... )e nas nossas cons­
ciências, sobretudo, forem tão legíti­
mos 08 direitos do trabalho como os do 
capital. Não é mais possível a nenhum 
governo brasileiro deixar de respeitar, 
dentro da ordem, a liberdade, a liber­
dade operária, o pensamento operá­
rio." 26 O destaque dado a essa questão 
estava ligado à intensa agitação operá­
ria que marcou os últimos anos da 
década de 1910 e colocou em evidência 
o debate acerca da questão social. Nilo 
advogava igualmente a extensão da 
instrução pública para acabar com o 
analfabetismo e como alternativa para 
ampliar a participação política dos seg­
mentos desprivilegiados. A despeito 
desse discurso progressista, nenhuma 
proposta concreta que propiciasse uma 
maior democratização foi entretanto 
apresentada. O voto secreto, por exem­
'pio, já reivindicado por expressivos 
segmentos urbanos, não era objeto de 
discussão. 
Ainda que com uma platafol'ma tão 
limitada em termos de propostas con­
cretas para os interesses das populações 
urbanas, Nilo conseguiu obter uma con­
siderável penetração nesse contingente 
eleitoral, em especial no Distrito Fede­
ral. O noticiário dos jornais nilistas in­
sistia na penetração do candidato da 
Reação Republicana no seio do eleitora­
do urbano, e até mesmo as forças oposi­
cionistas reconheciam temerosas esse 
fato. Um infol'mante escrevia a Raul 
Soares relatando: "A recepção ao Nilo 
18 ESTUDOS HISTÓRICOS -1993/11 
esteve muito concorrida, mas dizem Ur 
dos havia 60% de curiosos, 35% de re­
voltados contra tudo e contra Uxlos e 
apenas 5% de nilistas." A seguir alerta­
va: 'T..stam08 marchando para a anar­
quia na capital( ... ). O Epitácio parece 
indiferente às de�redações e atentados . . ,"7 a IlO5SOS JornaIS. � 
Era inegável, naquele momento, a 
penetração do nome de Nilo junto às 
camadas urbanas do Distrito Federal. 
Isto pode ser explicado não só em função 
de suas características pessoais, pois 
era um excelente orador, com gl ande 
capacidade de comunicação, mas tam� 
bém pelas próprias características e an­
seios dos grupos urbanos. Numa sacie­
dadeem que esses segmentos achavam­
se marginalizados da participação polí­
tica, o simples fato de o discurso nilista 
considerá-los como interlocutores dig­
nos de atenção já era em si uma inicia­
tiva mobilizadora. 
Porém, se no Distrito Federal Nilo 
conseguia encantar as massas urba­
nas, fazendo de seu comício de outubro 
de 1921 um grande acontecimento po­
pular, como admitiu um correligioná­
rio de Bernardes, as populações das 
cidades fluminenses mostravam·se re­
sistentes ao fascínio nilista. Com exce­
ção de Campos, tena natal de Nilo, Os 
principais centros urbanos no Estado 
do Rio, Niterói, Petrópolis e Nova Fri­
burgo, eram áreas onde as oposições 
fluminenses rnovimentavam....se com 
mais desenvoltura e onde a política 
nilista tinha maiores dificuldades de 
exercer seu controle. Na verdade, en­
quanto no Distrito Federal e em oub as 
capitais do país Nilo apresentava um 
discurso mais progressista, no seu es­
tado natal, onde residiam suas princi­
pais bases, seu papel era o do oligarca 
típico, que promovia perseguições polí­
ticas, fraudava eleições, enfim, lança­
va mão de todas as práticas caracterís­
ticas do coronelismo. 
A despeito das diferentes práticas 
adotadas visando a ampliar as possibi­
lidades de vitória da chapa da Reação 
Republicana, o desenrolar da campa­
nha sucessória e a a proximação do 
pleito evidenciavam os limites dessas 
estratégias. A cooptação dos elementos 
dissidentes não era fácil de ser efetiva­
da, e muitas adesões esperadas não se 
concretizaram. As práticas políticas 
vigentes na República Velha, baseadas 
no compromisso coronelista, implica­
vam uma postura de reciprocidade em 
que cada parte tinha algo a oferecer. 
No caso da Reação Republicana, pou­
cos eram os trunfos que podiam ser 
usados para obter o apoio eleitoral dos 
oligarcas e coronéis do interior, já que 
a máquina federal não podia ser usada 
na distribuição de privilégios e favores. 
Por outro lado, a campanha eleitoral, 
por mais sucesso que obtivesse, não era 
capaz de definir o pleito. Ainda que 
sem abrir mão dessas iniciativas, tor­
nava-se fundamental contar com alter­
nativas mais eficazes: era preciso en­
contrar um novo parceiro político ca­
paz de antepor-se às oligarquias domi­
nantes. Os militares eram o segmento 
ideal. 
Os conflitos entre os militares e o 
governo federal já haviam marcado vá­
rios momentos da política republicana. 
A posse de Epitácio Pessoa e a posterior 
escolha de civis para ocupar as pastas 
militares durante seu governo só fize­
ram acu. ar as dificuldades. 28 O retorno 
de Hellnes da Fonseca da Europa em 
novembro de 1920 rec. udesceu os anta­
gonismos, e sua eleição para presidente 
do Clube Militar em 1921 abriu novas 
articulações em tomo de seu nome, que 
chegou a ser cogitado para a sucessão 
presidencial. A não concretização de sua 
candidatura veio aumentar ainda mais 
a insatisfação dos militares, o que 05 
tornava aliados em potencial das oligar­
quias dissidentes. De fato, desde o lan-
- . 
19 A REAÇAO REPUBUCANA E A CRISE POLITlCA DOS ANOS 20 
çamento do manifesto da Reação Repu­
blicana no Rio de Janeiro ficaram claras 
"" preocupaÇÕES de obter uma aproxi­
mação com 08 militares, através da crí­
tica à posição secundária que lhes vinha 
sendo atribuída pelo governo federal. 
Também nos estados a campanha elei­
toral procurou a adesão e a simpatia dos 
elementos militares distribuídos pelas 
, 
. . -varIAS regtoes. 
O arquivo de Nilo Peçanha traz iIÚor­
mações significativas acerca de suas li· 
gaÇÕES com os militares ao longo de todo 
o segundo semestre de 1921. São inú­
meras as cartas de militares provenien­
tes de diferentes estados do país decla­
rando seu apoio a Nilo e relatando suas 
iniciativas para a criação de comitês 
eleitorais. A imprensa nilista também 
fazia questão de enfatizar o apoio dos 
militares ao candidato oposicionista, c0-
mo o demonstra a notícia publicada em 
novembro de 1921 por O Imparcial: "Ni­
lo Peçanha desce de bordo do Iris nos 
braços de um general e de um almirante 
-
O Exército e a Armada se confraterni­
zam com o povo para glorificar o grande 
lider democrático",29 
O ponto culminante desse processo 
de aproximação se deu com o episódio 
das chamadas "cartas falsas", suposta­
mente enviadas por Bernardes a Raul 
Soares, contendo referencias desrespei­
tosas aos militares. A publicação desses 
documentos pelo Correio da Manhã vi­
sava claramente incompatibilizar o 
candidato situacionista com os milita­
res e envolvê-los defmitivamente na 
ca1Jss dissidente. 
4. A eleição de Artur Bernardes 
e a crise político-militar 
A despeito do clima de intensa agi­
tação política que marcou os primeiros 
meses de 1922, as eleições presiden-
ciais realizaram-se na data prevista, 
em l' de março. Os resultados eleito­
rais, controlados pela máquina oficial, 
deram a vitória a Bernardes, com 466 
mil votos, contra 317 mil de Nilo Peça-
nh 30M ' l' a. 815 uma vez o esquema e el-
toral vigente na República Velha fun­
cionou para garantir a posição do can­
didato ofical. Diferentemente dos plei­
tos anteriores, porém, não houve lima 
aceitação dos resultados eleitorais pela 
oposição. A Reação Republicana não 
reconheceu a den ata e, além de reivin� 
dicar a criação de um Tribunal de Hon­
ra que arbitrasse o processo eleitoral, 
desencadeou uma campanha visando 
de uma lado manter a mobilização po­
pular, e de outro aprofundar o processo 
de aciJ'l amento dos ânimos militares. 
Ao longo de todo o primeiro semestre 
de 1922, e em especial após as eleições, 
a imprensa pró-Nilo ASSUmiU uma pos­
tura panfletária, denunciando diaria­
mente as punições e transferências 50� 
fridas pelos tenentes antibernardistas. 
Além de denunciar as perseguições fei­
tas pelos bernardistas aos militares, as 
lideranças da Reação Republicana radi­
calizavam 5UaS posições, abrindo espa� 
ço para a possibilidade de intervenção 
armada na decisão do conflito político. A 
esse respeito J.J. Seabra declarava: "Se 
não for aceita essa solução patriótica e 
honrosa do Tribunal de Arbitramento, 
teremos a luta e a sangueira:.31 Nesse 
clima de intensa agitação política, os 
militares começaram a passar do pro­
testo à rebeldia e a intervir de fato em 
disputas políticas locais em favor de 
seus aliados civis, como aoonteceu no 
Maranhão. Paralelamente, começavam 
a aparecer os primeiros sinais de tenta­
tivas de levantes no Distrito Federal e 
em Niterói. 
As lideranças políticas de Minas e 
São Paulo não se deixaram entretanto 
intimidar diante das declarações alar­
mistas dos militares sobre a ameaça de 
20 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1993/11 
revolta das tropas, e nem a idéia do 
Tribunal de Honra nem a proposta con­
ciliadora de Epitácio foram considera-
, 
das. As advertências militares, segun-
do O Estado, Raul Soai .... teria respem­
dido: "Se as classes armadas se acham 
no direito de fazer a revolução, nós n08 
achamos no dever de debelá- la." Carlos 
de Campos, lider da bancada paulista 
na Câmara Federal, assumia posição 
semelhante ao declarar. ''Não cogita­
mos de acordo, nem é possível aceitá-lo. 
A atitude de São Paulo é definidae 
definitiva.'.32 
Em conformidade com essa orienta­
ção, ao ser realizada em maio de 1922 
a eleição para a mesa da Câmara Fe­
deral e para as diversas comissões par­
lamentares, foram excluídos todos os 
deputados dissidentes. A disposição 
clara das forças bernardistas de não 
fazer nenhum tipo de negociação con­
duziu a uma radicalização maior das 
cor. entes oposicionistas. Com o afasta­
mento de seus partidários de todas as 
comissões da Câmara e dos trabalhos 
de reconhecimento eleitoral, Nilo Pe­
çanha e J.J. Seabra lançaram um ma­
nifesto que declarava: "A dissidência 
retira-se do Congresso e só a este cabe­
rá a responsabilidade do que acontecer 
de hoje em diante.'.33 Totalmente mar­
ginalizadas no cenãrio político nacio­
nal e sem nenhuma possibilidade de 
acordo, as forças dissidentes não ti­
nham outra alternativa senão o apro­
fundamento das relações com 05 mili­
tares. 
As possibilidades de subversão da 
ordem e de intervenção militar torna­
vam--se por sua vez cada vez mais con­
cretas. Ainda em meados de maio, 
Dantas Barreto, já suspeitando da cri­
se que h'ia eclodir em Pernambuco, 
telegrafou a Nilo declarando: 'Tribu­
nal de Honra ou revolução." A rebelião 
eclodiu finalmente em 5 de julho de 
1922 e contou com a participação das 
guarnições de Campo Grande, Niterói 
e Distrito Federal 
A tentativa de revolta fracassou d..,­
de o começo, sendo logo sufocada pelas 
forças federais. O movimento não obte­
ve a ad..,ão de segmentos militar.., ex­
pressivos, e as oligarquias dissidentes, 
que tanto haviam contribuído para acir­
rar os ânimos militares, não se dispuse­
ram a um engajamento mais efetivo. 
Epitácio pediu imediatamente a decre­
tação do estado de sítio no Estado do Rio 
e no Distrito Federal, e gi ande número 
de deputados dissidentes do Rio Grande 
do Sul, Bahia e Pernambuco votaram a 
favor da medida, demonstrando um re­
cuo das oligarquias e a desarticulação 
completa da Reação Republicana. 
Nos meses seguintes, a repressão 
desencadeada pelo governo fortalecido 
de Epitácio determinou inúmeras pri­
sões e instaurou vários processos. Em­
bora arrolado no inquérito policial co­
mo envolvido na revolta, Nilo Peçanha 
não teve as acusações comprovadas. 
Entretanto, inúmeros políticos flumi­
nenses e jornalistas foram presos e 
processados. 
Por ocasião da posse de Bernardes, 
em novembro de 1922, Nilo Peçanha 
voltaria a se pronunciar publicamente 
lançando um manifesto à nação.34 Es­
se documento. além de resumir 05 pon­
tos básicos do progl ama da Reação Re­
publicana, defendia a regeneração da 
República. Nilo não só retomava idéias 
centrais defendidas desde o começo de 
sua cal"l eira política - como a diversi­
ficação da agricultura e uma política 
econômico-financeira ortodoxa - mas 
também se engajava na defesa de no­
vos pontos como a refol"ma constitucio­
nal e o voto secreto para todos 05 cida­
dãos alfabetizados. Finalmente, criti­
cava com vigor as distorções do federa­
lismo, advogando uma representção 
mais igualitária dos estados no Con­
gt esso, que atenuasse a preponderân-
A REAÇÃO REPUBUCANA E A CRISE POLíTICA DOS ANOS 20 21 
eia que a antiga divisão das províncias 
do Império havia determinado em fa­
vor dM grandes unidades, e que torna­
va cada dia mais precário o equilíbrio 
da federação. 
Contudo, qualquer que fosse sua p0-
sição naquele momento, Nilo Paçanha 
não iria alterar sua sorte política. A 
Reação Republicana já estava comple­
tamente diluída, e as oligarquias dissi­
dentes tentavam se rearticular com a 
situação dominante de forma a evitar as 
intervenções federais. Se a posição do 
Rio Grande do Sul garantiu o controle 
do estado para o Partido Republicano 
Rio-Grandense de Borges de Medeiros, 
a Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro 
sofreram alterações significativas nas 
suas políticas internas, com a troca dos 
grupos dominantes. Especialmente no 
Estado do Rio, esse processo de reveza­
mento de grupos no controle do estado 
BssunlirÍB um caráter radical. 
Passados OS momentos mais agudos 
da crise de 1922, a recomposição do 
pacto oligárquico parecia completa, rei­
naugurando um novo monumento de 
estabilidade. Essa possibilidade, entre 
tanto, se mostrou pouco duradoura, e no 
Cmal da década novamente a cisão intra­
oligárquica se manifestou fortemente 
fazendo eclodir a Revolução de 30. 
5. Conclusão 
Do exposto pode-se dizer que a Re­
ação Republicana não foi resultado di-
o reto das divergências em torno da ter­
ceira política de valorização do café, 
nem da disputa pela vice-presidência 
da República, nem da insatisfação das 
camadas urbanas cariocas. 
A Reação Republicana resultou da 
insatisfação das oligarquias de segunda 
grandeza ante a dominação do eixo Mi­
nas-São Paulo. Aresistência dos estados 
do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, 
Rio Grande do Sul e do Distrito Federal 
não era um fenômeno novo, ]X>is em 
várias ocasiões pode-se detectar uma 
busca de articulação entre essas oligar­
quias estaduais com o objetivo de au­
mentar seu poder de negociação frente 
aos estados dominantes. A Reação Re­
publicana foi um momento expressivo 
dessa luta. Não devem ser esquecidas 
entretanto as formas de articulação 
buscadas pelos integrantes da Reação 
Republicana com os setores urbanos, 
em especial do Distrito Federal, e com 
05 militares. 
Deve ser ressaltado também que a 
Reação Republicana constitui um even­
to chave para a melhor compreensão do 
desenho do sistema político da Primeira 
República e do funcionamento do pacto 
oligárquico brasileiro. 
Notas 
1. Peter Burke. liA história dos aconte­
cimentos e o renascimentD da narrativa", 
em A escrita da hislórilL· Il.Ova,s perspecti­
vas, São Paulo, Unesp, 1992, p.339. 
2. Serge Berstein e Odile Rudele, Le 
modek r"plLblicaill, Paris, PUF, 1922. 
3. Le Roy Ladurie, Le lerriloire de l'his­
torie.", Paris, Gallimard, 1973, p.169-186. 
e Peter Burke, op.cit., p.239. 
4. Serge Berstein, ''L'historien et la cul­
ture poli tique", Wltgtieme Si(�cle-RêvlLe 
c/'Ilistoir., juil.{sept. 1992, p.67-77. Esta­
mos trabalhando com o "conceito de cultura 
política como um sistema de repre­
sentações, fundado sobre uma certa visáo 
de mundo, sobre uma leitura significante 
do passado histórico, sobre as escolhas de 
um sistema institucional e de uma socieda­
de ideal , conforme os modelos retidos, e que 
se exprimem JXlr um discurso de símbolos, 
ritos, que evocam sem que uma outra me­
diação seja necessária"(p.71). 
22 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1993/11 
6. Renato Lessa,A invenção republic� 
na, São Paulo, Vértice,1989. 
6. Ver Xisto Apulcro,A verdade históri­
ca: da CC/IUeIlÇão dejwúw de /92/ à revo­
lução de juU,o de /922, Rio de Janeiro, 
S.C.P. 1922; Bruno de Almeida Magalhães, 
Al·tur Bemardes, "m estadista da R,públi­
ca, Rio de Janeiro, José Olympio, 1973; 
Hermes da Fonseca Filho, Mw-ecJwl Her­
mes, Rio de Janeiro, IBGE, 1961; José To­
lentino, Ni.lo Peçw,ha; sua vida pública, 
Rio de Janeiro, Armando Martins, 1930; 
Laurita Pessoa Raja Gabagiia, Epitácio 
Pessoa, Rio cleJaneiro,José Olympio, 1951, 
2v.j Mozart Lago, A convenção naeional de 
1921, Rio de Janeiro, Pimenta de Melo, 
1921, e Sertório Castro, A República q"e a 
revolução destruiu., Rio de Janeiro, 1932. 
7. Borls Fausto, "Expansão do café e 
política cafeeira", em História geral da 
civilizaçeio brasileira, tomo 3: O Brasil 
l'epublicCUlO, v. I, São Paulo, DireI, 1982. 
Ver também Maria Cecília Forjaz, 'lCnen­
tiS1nO e políliccc tcnenlismo e cantCldas mé­
diaB urbanas na crise da Primeira 
R(�plÍ.blica, Rio de Janeiro, Paz e Thrra, 
1977; Afonso Arinos de Mello Franco, Um 
estadista da República; A{rémio de Mello 
FrwUXJ e seu. tempo, Rio de Janeiro, José 
Olympio - Edusp, 1973; e Celso Peçanha, 
Nilo PeçW,h(L e a revoluç{w brasileira, Rio 
de Janeiro, CivilizaçãoBrasileira, 1969. 
8. Michael Conniff, Urbwl politias iIL 
Brazil: th" raise o{popu/i8m, 1925-1945, 
Pittsburg, University of Pittsburg Press, 
1981. 
9. Ver Winston Fritsch, Aspectos da 
política econômica brasileira na Primeira 
Repriblica, Cambridge, 1983 (tese de dou­
torado), e 441924", Pesquisa e Plwtejamen­
to EcolLômico, IPEA, dez. 1980, p.713-774. 
10. Ver discurso de Correia de Brito em 
Docunum.tos parlwlteJ'tares; ",eio ciJ'Culwl-­
te (emissão de 1920), vol. 12, p. 93-98; dis­
cursos de Sousa Filho em lJcx;ruucntos 
parlcu"ellüu'es; meio circulrude ( 1921-
1922), vaI. 14, p. 185-188, e Anais da Cá, 
mara Federal, 1921, vol. 17, p. 553-557; e 
ainda discurso de Gonçalves Maia em Dt; 
cu.me/dos pw·llUuc/daJ'C$; meio ci1'culm,te 
(1921-1922), vaI. 14, p. 181-182. 
1 1 . A pesquisa realizada nos diversos 
volumes dos Auais da, Câmara Federal de 
1921 não encontrou referências à partici­
pação e ao posicionamento da bancada 
baiana. Ver discursos de Otávio Rocha em 
Documentos pW'llUnentw'es; meio circu­
IWlte (1921-1922), vol. 14, p. 59-60, e 
An.ais da Câmara Federal, 1921, vol. 17, 
p. 597-607. 
12. Ver discurso de Maurício de Medei­
ros emAlLai. da Câmw'aFederal, 1921, vol. 
16, p. 530. Ver também o p:>aicionamento 
da bancada fl1lminense na votação do pro­
jeto de criação do Instituto de Defesa Per­
manente da Produção Nacional, em Anais 
da Câmw'a Federal, 1921, vol. 16, p. 67-88; 
vol. 17, p. 312, e vaI. 18, p. 876-882. 
13. Para lima estudo da questão suces­
s6ria de 1922 com base nos arquivos Nilo 
Peçanha e Raul Soares, ver Marieta de 
Moraes Ferreira, Conflito regional e c,.ise 
política: a Reação Repll.blicw,a no Rio de 
Jall-eil'o, Rio de Janeiro, CPDOC, 1988 
(Textos CPDOC). 
14. Winston Fritsch, uSobre as inter­
pretações tradicionais da lógica da políti­
ca econômica na Primeira República", 
Estudos Econômicos, São Paulo, 15(2). 
15. José Murilo de Carvalho, A COll.8-
trução da ol'de.m, Rio de Janeiro, Campus, 
1980. 
16. Ver Sônia Regina Mendonça, Ru­
ralismo: agricultu,.a, poder e Estado na 
Primeira Repllblica, São Paulo, USP, 
1989 (tese de doutorado). 
17. Ver Paulo Sérgio Pinheiro, "Clas­
ses médias urbanas: formação, natureza, 
intervenção na vida política", em História 
geral da ciuilizaçãn brasileira, tomo 3: O 
Drnsil l'epllblicano, vol.2, São Paulo, Difel, 
1977, p.26. O autor discute os limites da 
atuação das classe médias urbanas, cha­
mando a atenção para sua dependência 
frente aos grupos oligárquicos. 
18. Para o acompanhamento da trajetó­
ria e da rede de articulações de Nilo Peça­
nha com outras oligarquias regionais, ver 
Maneta de Moraes Feneira (coard.), A Re­
pllblica na Velha Província, Rio de Janeiro, 
Rio Fundo, 1989. 
A llEAÇÁO llEl'UOUCANA f: A CRISE POLfT1CA DOS ANOS 20 23 
19. Amérioo Freire, A l)(lHemla fi.'(ú.�'aJ. 
carioca e a Uearão Repuúlic(mrr., 
IFCS/UFRJ, 1988(mimeo). 
20. Celso Peçanha, Nilo Pt'.çonha e a 
rcuoluçào úrasileira. op.cit. 
21. Ver O Estado, 25/6/1921. 
22. Ver a correpondência relativa à 
Reação Republicana, de junho de 1921 a 
março de 1922, no Arquivo Nilo Peçanha. 
23. Anteriormente os candidatos limi­
tavam-se a apresentar sua pIa taforma elei­
toral no Distrito Federal. A Campanha 
Civilista. lançada por Rui Barbosa na su­
cessão de 1910, apresentou alguma inova­
ção ao promover conferências no Rio de 
Janeiro e na Bahia. Foi o próprio Nilo, na 
sucessâo estadual fluminense de 1914, que 
inaugurou um estilo de campanha que o 
levou a percol'ler os principais municípios 
fluminenses fazendo oomícios eleitorais. 
24. Essa discussão acerca da importân­
cia e das limitações do voto na República 
Velha pode ser acompanhada em Vítor Nu­
nes Leal. Co,.mw.lismo. enxada e uole. São 
Paulo, Alfa Omega, 1975, p.I9-25; Paul 
Cammack., "O roronelismo e o rompromisso 
roronelista: wna crítica''. Cadernos DCP, 
Belo Horizonte, nOS, mar.1979, p.1-20, e 
José Murilo de Carvalho, verbete I'Corone­
lismo", em Dicionál'io hilJlórico-biográftro 
brasileiro, 1930- /983, org. Israel Beloch e 
Alzira Abreu, Rio de Janeiro, Forense Uni-
versitária, CPDOC/FINEP, 1984, v.2, p. 
932-934. 
25. Nilo Peçanha, Política, economia e 
finw'ças - Q. campw,ha pre.sideJu:ial de 
/92/-1922, p. 45. 
26. Idem ib., p.7. 
27. Carta de Lopes Martins a Raul 
Soares em 7/11/1922, Arquivo Raul Soa­
res. 
28. Ver José Murilo de Carvalho, uAE. 
Forças Armadas na Primeira República: o 
poder desestabi lizador", em Hi8wriageral 
da civilização brUlJileil'a, tomo 3: O BrUlJil 
repnblicwUJ, vo1.2, op.cit. 
29. O Imparcial, 6/11/192l. 
30. Ver Edgar Carone, A República 
Velha (evolução política), São Paulo, Difel 
Editora, 1971, p. 345. 
31. O Estado, 27/4/1922. 
32. Idem, 6/5/1922. 
33. Idem, 6/5/1922. 
34. Nilo Peçanha, Mmâ(esto à nação, 
em 14/11/1922. Arquivo Nilo Peçanha. 
(RC<1ôidtJ para publicação ern março de ) 993) 
Marieta de Moraes Ferreira é pesqui­
sadora do CPDOC e professora do 
Departamento de História da UFRJ.

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