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SÍNTESE ESQUEMATIZADA Direito e Moral Compilação organizada pelo professor Nivaldo Sebastião Vícola A análise comparativa entre Direito e Moral costuma ser destaca pela doutrina como de importância fundamental para a compreensão do fenômeno jurídico. Cristiano Thomasius (1655-1728) o primeiro a efetuar tal distinção. 1) Teoria de Thomasius Para Thomasius, são 3 as fontes do bem: honestidade; decoro e justiça. Enquanto a honestidade (cujo oposto é a torpeza) e o decoro denotam ações internas (de foro íntimo), tendo em vista que não nos obriga em face dos outros, mas de nós mesmos; a justiça refere-se a uma obrigação externa (de foro externo). Referida doutrina separa as ações humanas em internas (foro íntimo) e externas (foro externo), e segundo Thomasius, o direito só devia cuidar da ação humana depois de exteriorizada. Ou seja, enquanto a ação da Moral se processa no plano da consciência individual (foro íntimo), o Direito só deveria cuidar da ação humana depois de exteriorizada (foro externo). Não haveria, segundo ele, qualquer possibilidade de invasão recíproca nos campos. Representando-se tal teoria por meio de círculos, como faz a doutrina dominante, teríamos: Mundo do Direito Mundo da moral Sérias foram as críticas à teoria de Thomasius, especialmente porque, embora sendo verdade que tutele as ações externas, projetadas no plano social, não é menos verdade que, em diversas situações, o direito leva em conta o elemento intencional. Assim é que: a) No Direito Penal tem significativa importância a distinção de crime doloso ou culposo. Nessa caracterização está em jogo a intenção do agente; b) No direito civil a anulabilidade do negócio jurídico está ligada à intenção das partes (erro, dolo, coação, simulação ou fraude); c) Na interpretação dos contratos se atenderá mais à intenção consubstanciada, do que o sentido literal da linguagem (Art. 112 CC); d) Os negócios jurídicos devem ser interpretados segundo as regras da boa- fé (Art. 113) – a boa-fé não existe sem a intenção. Também foi objeto de crítica o fato da redução da moral ao elemento interno, isto porque, embora no ato moral seja significativa a intenção, tal ação deve ser realizada (na prática). Direito Moral 2) Teoria do mínimo ético Idealizada por Georg Jellinek (1851-1911) referida teoria sustenta que o direito representa o mínimo de moral declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Assim, segundo os defensores dessa teoria, o Direito deriva da moral, reduzindo-se a uma esfera moral diminuta. Nesse sentido afirma-se: tudo o que é Direito é moral. A representação gráfica dessa teoria sugere: Círculos concêntricos. As críticas à teoria do mínimo ético repousam no fato de que nem tudo o que é direito é moral. Embora algumas normas jurídicas sejam eivadas do princípio moral: respeito à vida, à saúde, à integridade física, existem atos lícitos que, sob o ponto de vista moral, são imorais. Ex.: regra de trânsito. O fato de hoje as regras de trânsito determinarem que se obedeça a mão direita, na direção, não implica em imoralidade caso, amanhã, o legislador altere a mão de transito (mão esquerda). 3) Teoria dos círculos secantes Proposta por Claude du Pasquier Referida teoria propõe que o direito e a moral possuem campos distintos, porém, que, em algumas situações são comuns. Moral Direito É a teoria mais aceita na atualidade. Para alguns renomados juristas, como é o caso de Del Vecchio o Direito e Moral são conceitos que se distinguem, mas não se separam. Daí a recepção da teoria dos círculos secantes, cuja representação gráfica é: Círculos secantes Enquanto a moral visa à realização plena da pessoa humana, à sua perfeição última, mediante a ação livre, o Direito busca a realização da justiça na vida social, através da instauração de uma ordem social justa. II – Direito e Moral: forma Sob o aspecto formal, conforme afirmamos acima, o Direito e a Moral se distanciam em virtude de alguns elementos que, presentes na norma jurídica, inexistem na norma moral. São eles: a) heteronomia; b) coercibilidade; e c) bilateralidade atributiva. Analisemos, pois, cada um desses elementos. a) Heteronomia: Nas lições e teorias acima expostas sobressai o caráter externo da norma jurídica. Este, aliás, conforme tivemos oportunidade de frisar em nossa primeira aula, é um dos aspectos importantes, destacados por Nicola Abbagnano da doutrina de Kant, ou seja, o caráter externo, logo imperfeito, da norma de Direito e, por conseguinte, o caráter imperfeito e incompleto da ação legal em relação à ação moral. Enquanto a norma moral se processa no plano da consciência individual, a norma jurídica é produzida e se materializa no plano exterior ao sujeito. Moral Direito Nesse sentido afirma-se, com Miguel Reale, que o Direito é exterior, ou heterônomo, “visto ser posto por terceiros aquilo que juridicamente somos obrigados a cumprir”. Esse terceiro, de que nos fala Reale é o Estado, através de seu Poder competente para elaborar a lei, em regra, o Legislativo. O cumprimento da norma jurídica, no entanto, ocorre além do querer do destinatário. Desse modo é possível afirmar, ainda com Miguel Reale, que, goste-se, ou não, da norma jurídica, deve-se viver em conformidade com ela. b) Coercibilidade: A coercibilidade é, segundo a doutrina dominante, o elemento essencial da norma jurídica. O mesmo não pode, por certo, ser afirmado em relação ao agir moral. Ninguém pode ser coagido a cumprir um preceito moral contra a sua vontade. Importa lembrar sempre, porque oportuno, que a coercibilidade não se confunde com a coação. Embora ambas signifiquem força, a primeira representa uma força “em potência”, ou seja, “a possibilidade de vir a ser”. Assim, quando afirmamos que o Direito é coercível significa dizer que existe no Direito a “possibilidade de invocar o uso da força, se necessário for”. Nesse sentido afirma-se que o Direito “é a ordenação coercível da conduta humana”. c) Bilateralidade atributiva: Segundo Miguel Reale, por bilateralidade atributiva devemos entender “uma proporção intersubjetiva, em função da qual os sujeitos de uma relação ficam autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente algo”. Da definição acima, merecem destaque: i) o fato da relação jurídica ser intersubjetiva (dai a bilateralidade); ii) que a relação entre os sujeitos deve ser objetiva, sem arbitrariedade de uma das partes, ou seja, uma das partes não pode ficar à mercê da outra; iii) da proporção estabelecida deve decorrer a atribuição de pretender, exigir ou fazer alguma coisa;; e iiii) da relação jurídica resulta a atribuição que vincula as partes e garante uma pretensão ou ação. Um exigir garantido. Referências: BITTAR, Eduardo C.B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do direito. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2011. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006803/cfi/6/54!/4@0 :0 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006803/cfi/6/98!/4@0 :0 Exercícios de fixação: Pode-se afirmar que tudo é que direito é moral e vice-versa? Quais elementos diferenciam direito e moral?
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