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1FísicaCinemáti ca Rua General Celso de Mello Rezende, 301 – Tel.: (16) 3238·6300 CEP 14095-270 – Lagoinha – Ribeirão Preto-SP www.sistemacoc.com.br SISTEMA COC DE ENSINO Direção-Geral: Sandro Bonás Direção Pedagógica: Zelci C. de Oliveira Direção Editorial: Roger Trimer Gerência Editorial: Osvaldo Govone Ouvidoria: Regina Gimenes Conselho Editorial: José Tadeu B. Terra, Luiz Fernando Duarte, Osvaldo Govone e Zelci C. de Oliveira PRODUÇÃO EDITORIAL Autoria: Shirlei N. Dezidério Editoria: Naylor F. de Oliveira e Tiago C. Leme Coordenação Editorial: Luzia H. Fávero F. López Projeto gráfico e direção de arte: Matheus C. Sisdeli Preparação de originais: Marisa A. dos Santos e Silva e Sebastião S. Rodrigues Neto Iconografia e licenciamento de texto: Marcela Pelizaro, Paula de Oliveira Quirino e Cristian N. Zaramella Diagramação: BFS bureau digital Ilustração: BFS bureau digital Revisão: Flávia P. Cruz, Flávio R. Santos, José S. Lara, Leda G. de Almeida, Maria Cecília R. D. B. Ribeiro, Milena C. Lotto e Paula G. de Barros Rodrigues Capa: LABCOM comunicação total Conferência e Fechamento: BFS bureau digital Su m ár io CAPÍTULO 01 GRANDEZAS FÍSICAS 7 1. Grandezas e medidas 7 2. Sistemas de unidade 8 3. Notação científica 9 4. Ordem de grandeza 10 CAPÍTULO 02 CINEMÁTICA ESCALAR: CONCEITOS BÁSICOS 12 1. Introdução 12 2. Referencial 12 3. Repouso, movimento e trajetória 13 4. Ponto material 14 5. Posição, deslocamento escalar e distância percorrida 16 6. Função horária da posição (espaço) 16 7. Classificação dos movimentos 17 CAPÍTULO 03 VELOCIDADE 19 1. Velocidade escalar média 19 2. Velocidade média 20 3. Velocidade instantânea 21 CAPÍTULO 04 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORME (MRU) 24 1. Função horária da posição (espaço) 24 2. Diagrama horário da posição (espaço) 24 3. Diagrama horário da velocidade 25 4. Velocidade escalar relativa 26 5. Movimento relativo uniforme 26 CAPÍTULO 05 ACELERAÇÃO 30 1. Aceleração escalar média 30 2. Aceleração instantânea 30 3. Diagrama horário da aceleração 30 CAPÍTULO 06 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORMEMENTE VARIADO 32 1. Função horária da velocidade 32 2. Diagrama horário da velocidade 32 3. Velocidade escalar média no MUV 32 4. Função horária da posição (espaço) 33 5. Diagrama horário da posição (espaço) 35 6. Equação de Torricelli 35 7. Reclassificação dos movimentos 36 8. Queda livre 38 CAPÍTULO 07 DIAGRAMAS HORÁRIOS DO MRU E DO MRUV 44 1. Introdução 44 2. Diagramas horários do MRU 44 3. Diagramas horários do MRUV 44 4. Cálculos de áreas 47 CAPÍTULO 08 VETORES 49 1. Vetor – Definição e formas de representação 49 2. Adição de vetores 49 3. Subtração de vetores 50 4. Produto de um escalar por um vetor 52 5. Versores 52 6. Vetores representados por componentes 53 CAPÍTULO 09 CINEMÁTICA VETORIAL 55 Introdução 55 1. Vetor posição e deslocamento vetorial 55 2. Vetor velocidade média 55 3. Vetor aceleração 56 CAPÍTULO 10 COMPOSIÇÃO DE MOVIMENTOS 60 1. Deslocamento relativo 60 2. Velocidade relativa 60 3. Lançamento horizontal 62 4. Lançamento oblíquo – lançamento de projéteis 64 CAPÍTULO 11 MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORME 67 1. Período e frequência 67 2. Velocidade linear 67 3. Grandezas angulares 69 4. Movimentos concêntricos e transmissão no MCU 72 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 75 Capítulo 01 77 Capítulo 02 81 Capítulo 03 85 Capítulo 04 89 Capítulo 05 93 Capítulo 06 97 Capítulo 07 112 Capítulo 08 119 Capítulo 09 126 Capítulo 10 134 Capítulo 11 146 GABARITO 155 Teoria PV -1 3- 11 Cinemática 7 Física Todas essas grandezas podem e devem ser representadas por meio de uma seta que, na matemática, denomina-se vetor. C. Grandezas proporcionais As intensidades das grandezas físicas podem estar relacionadas proporcionalmente de dois modos. D. Grandezas diretamente proporcionais Duas grandezas x e y são diretamente propor- cionais quando a razão entre suas intensida- des é constante. y x k= (constante) ou y = k · x (função do 1º grau) Nesse caso, o gráfico y × x é: y y2 y1 x1 x2 x0 θ y x y x tg k1 1 2 2 = = =θ E. Grandezas inversamente proporcionais As grandezas x e y são ditas inversamente proporcionais quando o produto de suas intensidades é constante. Nesse caso: y · x = k (constante) ou y k x = (função hiperbólica) O gráfico y × x é: y1 · x1 = y2 · x2 = k y y2 y1 x1 x2 x0 Hipérbole equilátera 1. Grandezas e medidas Para propor o estudo dos temas que se seguem, é necessário antes estabelecer o que se denomina “grandeza” na física. Iniciaremos por dizer que tudo que for passível de medida pode ser chamado de grandeza física e o ato de medir associa a essa grandeza um número. A ciência que se faz desde os primórdios da evolução humana depende de quão boa é a medida de uma grandeza e dá a indicação de que conhecemos algo sobre ela. É claro que com o passar do tempo nossos métodos se tornam melhores e, consequentemente, a precisão com que medimos também. A partir de agora, você entrará em contato com muitas grandezas, que serão definidas e exemplificadas a seguir, mas é importante lembrar que existem diferenças na forma de expressá-las, e essas diferenças dependem basi- camente dos atributos da própria grandeza e do tipo de informações necessário para definir completamente suas características. Na física, elas são separadas em dois grupos: as escala- res e as vetoriais. A. Grandezas físicas escalares São aquelas que ficam perfeitamente caracte- rizadas por um valor numérico acompanhado da correspondente unidade de medida, como é o caso de grandezas como tempo, tempera- tura, comprimento, massa, entre outras. B. Grandezas físicas vetoriais São aquelas que, para serem perfeitamente caracterizadas, devem apresentar outras in- formações além do seu valor numérico com a respectiva unidade, ou seja, devem conter in- formações sobre sua direção e sentido. Como exemplo de grandezas vetoriais, pode- -se citar a velocidade, cujo vetor correspon- dente tem a ele associados não só a rapidez do objeto, mas também a direção e o sentido do movimento. Outros exemplos de grandezas físicas vetoriais são: força, aceleração, empuxo etc. CAPÍTULO 01 GRANDEZAS FÍSICAS Rafael Highlight Rafael Highlight Cinemática PV -1 3- 11 8 Física 2. Sistemas de unidade Como foi dito antes, podemos definir grande- za como tudo aquilo que podemos comparar com um padrão, efetuando uma medida. Uma quantidade-padrão recebe o nome de unida- de. A unidade é a quantidade arbitrária que serve de comparação entre grandezas de mes- ma espécie. Geralmente, as unidades são agrupadas em sistemas. Atualmente, o sistema mais usado é o Sistema Internacional de Unidades, co- nhecido como SI, padronizado em 1960 na 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), tendo como base o antigo Sistema MKS (metro, quilograma, segundo). O SI é o sistema oficialmente adotado no Brasil e na maioria dos países. Ele é composto de: • sete unidades de base: metro, quilo- grama, segundo, ampère, kelvin, mol e candela – que se referem às sete gran- dezas de base: comprimento, massa, tempo, intensidade de corrente elétri- ca, temperatura termodinâmica, quanti- dade de matéria e intensidade luminosa; • unidades derivadas: as unidades deri- vadas referem-se às grandezas deriva- das, que são definidas em função das sete grandezas de base, por exemplo, a velocidade é uma grandeza derivada definida a partir das grandezas de base, comprimento e tempo; • múltiplos e submúltiplos decimais das unidades SI: são prefixos que podem ser usados com qualquer uma das uni- dades. A tabelaa seguir mostra alguns desses prefixos, que normalmente são utilizados para melhorar a forma de se expressar um valor numérico muito grande ou muito pequeno. Prefixos das unidades do SI Nome Símbolo Fator de multiplicação da unidade yotta Y 1024 = 1 000 000 000 0 00 000 000 000 000 zetta Z 1021 = 1 000 000 000 000 000 000 000 exa E 1018 = 1 000 000 000 000 000 000 peta P 1015 = 1 000 000 000 000 000 tera T 1012 = 1 000 000 000 000 giga G 109 = 1 000 000 000 mega M 106 = 1 000 000 quilo k 103 = 1 000 hecto h 102 = 100 deca da 10 deci d 10–1 = 0,1 centi c 10–2 = 0,01 mili m 10–3 = 0,001 micro µ 10–6 = 0, 000 001 nano n 10–9 = 0,000 000 001 PV -1 3- 11 Cinemática 9 Física Nome Símbolo Fator de multiplicação da unidade pico p 10–12 = 0,000 000 000 001 femto f 10–15 = 0,000 000 000 000 001 atto a 10–8 = 0,000 000 000 000 000 001 zepto z 10–21 = 0,000 000 000 000 000 000 001 yocto y 10–24 = 0,000 000 000 000 000 000 000 001 Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/inidLegaisMed.asp>. Exemplo de usos de prefixos 01) Um quilograma = 1 kg = 1 · 103 g. Note que, ao se utilizar o k ou o seu valor numérico, não se altera a igualdade e, assim, o uso depende da necessidade. 02) Um nanômetro = 1 nm = 1 · 10–9 m Para entender o porquê do uso dos prefixos, basta que se observe na tabela anterior que, embora a igualdade mostre que as duas formas com que foram escritos os números na terceira coluna sejam equivalentes, a primeira é, sem dúvida, mais elegante e concisa. A menor constante conhecida na física é um número da ordem de 10–34! Imagine que, não dispondo de outras formas para se expressar esse número teríamos que escre- vê-lo assim: 0,000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 006 7. Observe que foi incluída na tabela uma forma de se escreverem números como potência de 10, o que facilita muito a escrita e a realização de cálculos matemáticos. Essa forma pode ser utilizada, caso necessário, para se expressarem números que aparecem em diferentes áreas das ciências, de uma forma especial conhecida como notação científica. 3. Notação científica Escrever os números em notação científica é fundamental quando se deseja expressar ou operar números (medidas) com grande quantidade de zeros. A notação científica utiliza uma potência de dez para reescrever qualquer número como um pro- duto entre um número que contém um algarismo na unidade e outro na primeira casa decimal e uma potência de dez que pode ter expoente inteiro positivo ou negativo. Essa é a regra mais geral e pode ser visualizada como segue: , · 10 Número de 1 a 9 Número de 0 a 9 Expoente inteiro positivo ou negativo Assim, qualquer número real pode ser escrito como o produto de um número, cujo módulo está compreendido entre 1 e 10 (incluindo o 1), por outro, que é uma potência de 10 com expoente inteiro (10n). Veja os exemplos: • O número 5.300.000 escrito em notação científica é 5,3 · 106 (a vírgula foi deslocada seis casas para a esquerda). • O número 0,000000000032 em notação científica é 3,2 · 10–11 (a vírgula foi deslocada onze casas para a direita). Cinemática PV -1 3- 11 10 Física As potências negativas significam uma divisão pela potência positiva correspondente e vice- -versa. Veja os exemplos: 0 1 1 10 10 0 0001 1 10 000 1 10 10 1 4 4 , , . = = = = = – – Na multiplicação dessas potências de dez vale a regra de multiplicação que conserva a base e soma dos expoentes: 102 · 103 = 105 e, na divisão, conserva-se a base e subtraem-se os expoentes: 10 10 10 10 10 2 5 2 5 2 5 7 – – – = = = +( ) Exemplo Usando a notação científica, calcular: a. 120 · 6.000 = 1,2 · 102 · 6 · 104 = 7,2 · 106 b. 3 000 000 0 00015 3 0 10 1 5 10 2 10 6 10. . , , , = ⋅ ⋅ = ⋅ –4 c. 1,2 · 102 + 8 · 10–1 = 1.200 · 10–1 + 8 · 10–1 = = (1.200 + 8) · 10–1 = 120,8 Note que para a soma e a subtração é necessá- rio que os números estejam multiplicados por potências de mesmo expoente. 4. Ordem de grandeza Em alguns casos, é suficiente uma noção apro- ximada do número que exprime o valor de uma grandeza. Nesses casos, o valor da gran- deza é representado somente pela potência de 10 da notação científica e recebe o nome de ordem de grandeza (OG). A OG é a potência de 10, de expoente inteiro, que mais se aproxima da medida da grandeza analisada. Assim, a ordem de grandeza de um número x · 10y é OG = 10y quando o valor de x for inferior a 3,2 (≈ 10 ) e OG = 10y+1 quando o valor de x for superior a 3,2. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 01. Você está viajando numa estrada e lê em uma placa que o restaurante mais próximo está a 15 minutos, à sua frente. Considerando que a placa com o anúncio do restaurante leva em conta que o limite máximo de velocidade nes- sa rodovia é de 120 km/h, a distância mínima, em m, entre você e o restaurante é: a. 300 b. 3.000 c. 30.000 d. 1.500 e. 15.000 Resolução Considerando a máxima velocidade, se você viaja 120 km em uma hora, em um quarto de hora (15 min) terá percorrido um quarto de 120 km, ou seja, 30 km ou 30.000 m. Resposta C 02. A decomposição é um processo natural pelo qual passam os vegetais e animais após a mor- te. Esse processo é realizado com a ajuda de fungos e bactérias, denominados decompo- sitores, e é extremamente importante para manter o equilíbrio ecológico. A figura a seguir mostra um dos maiores mamíferos do planeta, de massa M = 4,9 toneladas, sendo reduzido pelo processo de decomposição, no qual agem bactérias de massa m = 1,1 · 10–13 kg. © 1 iS to ck ph ot o / T hi nk st oc k PV -1 3- 11 Cinemática 11 Física É por meio da decomposição que os compos- tos presentes nos organismos mortos são libe- rados na natureza, servindo de nutrientes para outros seres. Segundo os dados do texto, a ordem de gran- deza da razão entre as massas do elefante e de uma das bactérias que participam do processo de decomposição é de: a. 10–16 b. 10–3 c. 1013 d. 1016 e. 1017 Resolução R M m R= = ⋅ ⋅ ⇒ = 4 9 10 1 1 10 4 4 10 3 13 16, , , · – Como 4,4 > 3,2, tem-se que OG = 1017. Resposta E 03. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as frases abaixo. ( ) 01 – Temperatura é grandeza escalar. ( ) 02 – Massa é grandeza escalar. ( ) 04 – Força é grandeza vetorial. ( ) 08 – A aceleração da gravidade é grande- za vetorial. ( ) 16 – Volume é grandeza escalar. Resolução Todas as frases são verdadeiras. Temperatu- ra, massa e volume são grandezas que ficam perfeitamente caracterizadas por um número (intensidade) e por um significado (unidade). Força e aceleração são grandezas que neces- sitam, além da intensidade, de uma direção e de um sentido. 04. Uma substância, mantida a temperatura cons- tante, tem sua massa e volume representados na tabela. m(kg) 0,8 2,4 4,0 8,0 V(L) 1 3 5 10 a. Massa e volume são grandezas direta- mente proporcionais? Justifique. b. Esboce o gráfico m × V correspondente. c. Qual é a massa de substância corres- pondente ao volume de 0,7 L? d. Qual é o volume correspondente à massa de 3,2 kg? Resolução a. Como m V k= (constante), então massa e volume são grandezas diretamente proporcio- nais. b. O gráfico m x V é uma reta, passando pela origem dos eixos. m (kg) 0,8 2,4 1 3 V (l)0 c. m V m V m kg 1 1 2 2 0 8 1 0 56 = = = ⇒ = constante m 0,7 , , d. Do mesmo modo: 0 8 1 3 2, , = V V V L= ⇒ = 3 2 0 8 4 , , Cinemática PV -1 3- 11 12 Física 1. Introdução A mecânica é o ramo da física que tem por objeto o estudo dos movimentos dos corpos edas forças de interação entre eles. Por motivos didáticos, ela é dividida em três partes: • Cinemática – Estudo dos movimentos independentemente de suas causas, por exemplo, ao se estudar o movi- mento de um carro, a cinemática não se preocupa em saber o que faz o carro se movimentar. • Dinâmica – Estudo das causas dos mo- vimentos dos corpos. Na dinâmica, é fundamental a relação entre força e va- riação de velocidade. A dinâmica trata também dos estudos da energia e do momento linear associado a um corpo. • Estática – Estudo das condições de equilíbrio dos corpos, ou seja, anali- sa as condições para que um corpo se mantenha em equilíbrio estático ou di- nâmico. Começaremos nosso estudo pela cinemática, definindo a princípio alguns conceitos básicos que serão, mais adiante, complementados por outros de modo a fornecer uma conceituação gradativa e abrangente de todas as grandezas físicas envolvidas nos processos de movimen- tos dos corpos. 2. Referencial Dois pontos importantíssimos para esse estu- do são discutidos a seguir. O primeiro é: quando um corpo está em mo- vimento? O segundo: por que é necessário saber a posi- ção de um corpo no espaço e no tempo? Bem, a resposta à primeira pergunta está inti- mamente ligada ao conceito de referencial, já que movimento é um conceito relativo. Para compreender essa afirmação, analise por um momento, sua própria condição numa si- tuação em que está lendo este livro, sentado confortavelmente, em sua casa ou na escola. A princípio, sua percepção afirmaria que você não está em movimento já que, no referencial de um ponto fixo na Terra, você não muda de posição no decorrer do tempo. No entanto, sabemos que a Terra está em movimento de translação em torno do Sol por aproximadamente 365 dias, e mais, que ela gira em torno de seu próprio eixo dando uma volta completa a cada 24 horas, aproximadamente. Tomando o raio da Terra no Equador como RE = 6,37 · 106 m chega-se ao valor aproximado de 1.650 km/h para a rapidez com que veríamos variar a posição de um ponto sobre a superfície da Terra no Equador, se observássemos de fora. O valor da rapidez com que a Terra descreve sua órbita em torno do Sol é ainda maior, pró- ximo de 108 mil km/h. Segundo esses cálculos, é possível afirmar que nossa percepção da realidade nem sempre concorda com os fatos reais. Por isso, destaca-se a necessidade de compreender, por meio de estudos rigorosos, como as coisas são de fato. Pelo menos até onde nosso desenvolvimen- to intelectual e tecnológico nos permite, fica claro que o homem tem modificado significati- vamente sua compreensão do mundo em que vive para, assim, poder modificá-lo segundo as necessidades que acredita ter. Na visão clássica da ciência, é possível prever a posição que um corpo ocupará no futuro, se for conhecida sua posição num determinado momento e como essa posição variará no de- correr do tempo. Daí, as equações do movi- mento que definiremos a seguir. Então, um corpo está em movimento quando sua posição se altera, em relação a um dado referencial. Com respeito à segunda pergunta, é realmen- te importante saber como se modifica a posi- ção de um corpo num referencial? Bem, mesmo que quiséssemos desprezar o ga- nho intelectual e atitudinal que a sistematiza- ção de conhecimentos possibilita ao homem, que se desenvolve internamente enquanto realiza cálculos e abstrações matemáticas, ainda teríamos que considerar o quanto o mundo e nossas atividades diárias necessitam desse conhecimento. CAPÍTULO 02 CINEMÁTICA ESCALAR: CONCEITOS BÁSICOS PV -1 3- 11 Cinemática 13 Física Só como exemplo, saber a posição dos corpos é imprescindível para monitorar objetos e sa- télites, para compreender o funcionamento do GPS e de muitos outros instrumentos que se utilizam de variáveis posicionais e tempo- rais. Mas, é claro, nós nem notamos tudo isso quando abrimos uma página de localização ou mapas no Google. Isso também é natural. Porém, para compreender fenômenos importantes em diversas áreas do conhecimento, necessitamos construir o racio- cínio de como as equações matemáticas são utilizadas nas ciências para descreverem situ- ações diversas, como monitoramento posicio- nal de objetos, automóveis etc. Então, vamos lá! O movimento geral de um corpo, em uma, duas ou três dimensões, é descrito por três grandezas básicas: deslocamento, velocidade e aceleração. Todas elas são grandezas vetoriais, mas é pos- sível, a princípio, quando o movimento acon- tece sob circunstâncias definidas, simplificar a notação vetorial para a notação escalar. Isso requer certo cuidado, na definição dessas grandezas, mas pode ser feito. Dessa forma, estudando o movimento de um corpo (móvel) em uma única dimensão, as grandezas deslocamento (que equivale à va- riação de posição), velocidade e aceleração podem ser tratadas como grandezas escalares, ou seja, definidas por um número e sua unida- de correspondente. O conceito de referencial é indispensável, no entanto, para qualquer caracterização de mo- vimento. Assim, para falar de movimento, te- mos também que relacioná-lo a um referencial. Isso equivale a dizer que sempre, ao estudarmos o movimento de um corpo, estamos, necessa- riamente, fixando outro como referencial. 3. Repouso, movimento e trajetória Depois de estabelecermos um referencial, já é possível, então, dizer se um corpo está, ou não, em movimento. Assim, se a posição do corpo variar no tempo, em relação ao referencial adotado, o corpo es- tará em movimento e, caso contrário, estará em repouso. Note que, devido à relatividade da situação, um corpo pode estar em movimento e em repouso, ao mesmo tempo, segundo referen- ciais distintos. Pode parecer estranho, mas não é. Veja o exemplo a seguir. Você, enquanto viaja de casa para a escola, de carro, estará se deslocando segundo um refe- rencial fixo na Terra, o que caracteriza o movi- mento, mas estará em repouso para um refe- rencial fixo no carro porque, neste caso, sua posição relativa ao carro não estará variando. Veja que, no referencial do carro, sua posição é única e não se pode falar em trajetória, nessa situação. Não existe um trajeto ou percurso de deslocamento interno ao veículo, já que você não se move dentro dele. Porém, para a situação de movimento, associa-se um novo conceito: a trajetória. Ela pode ser definida como o conjunto de pon- tos sucessivos que delimita o percurso de um corpo, ou seja, as posições ocupadas por ele ao longo do tempo segundo o referencial ado- tado. Vamos imaginar uma situação na qual um ponto em movimento desenha no espaço as sucessivas posições ocupadas por ele. Observe a figura a seguir, na qual um helicóptero sobe verticalmente com velocidade aproximada- mente constante. Figura I Agora, vamos analisar o movimento de um ponto sob a perspectiva do piloto: ele veria um ponto pintado na hélice descrevendo uma circunferência, num plano logo acima de sua cabeça. Cinemática PV -1 3- 11 14 Física Figura II Mas, se o mesmo movimento fosse anali- sado por um homem numa posição fixa no solo, o ponto, além de girar em torno do eixo vertical do helicóptero, ainda estaria subin- do, devido ao seu movimento vertical, de modo que a trajetória do mesmo ponto, na visão deste segundo observador, seria heli- coidal. Veja a diferença entre as duas traje- tórias a seguir: Figura IIIFigura III 4. Ponto material Em alguns casos, durante a modelagem de um problema, podem-se simplificar os cálculos, tratando-os de forma aproximada. Um exem- plo disso é o caso de um estudo sobre o movi- mento de um carro, ao longo de uma rodovia muito extensa. Se o nosso interesse não for descrever em de- talhes tudo o que acontece nos pormenores das partesdo veículo, mas simplesmente ob- servar grandezas como velocidade, aceleração ou a posição dele em relação à estrada, pode-se aproximar o veículo a um ponto, denominado ponto material. Essa aproximação depende do interesse do es- tudo, como foi dito anteriormente, e só será plausível se as dimensões do objeto estudado puderem ser desprezadas quando compara- das às dimensões relevantes do movimento. De modo geral, qualquer corpo, por maior que seja, pode ser considerado um ponto material, em determinadas condições. A Terra, por exemplo, que possui um diâmetro de 12.800 km, pode ser considerada como par- tícula (ponto material) quando nosso interesse for observá-la em seu movimento de transla- ção ao redor do Sol. Nesse caso, ela descreve uma trajetória elíptica de comprimento mui- to maior que seu raio, o que torna possível a aproximação sem prejuízo nos cálculos. Um contraexemplo, que ilustra uma situação na qual essa aproximação não seria aconselhá- vel, pode ser ilustrado num problema em que é necessário calcular o tempo de travessia de um trem sobre uma ponte, por exemplo. Des- prezar o próprio comprimento do trem, que às vezes pode ser igual ou maior que a ponte em si, seria introduzir um erro de cálculo da mes- ma ordem de grandeza do tempo que se está buscando medir. Nesse caso, o comprimento do trem não é desprezível com relação ao comprimento da ponte e, por isso, além de desnecessária, a aproximação dele a um ponto material seria mesmo inapropriada. PV -1 3- 11 Cinemática 15 Física 01. O planeta Júpiter é um ponto material? Resolução Depende do movimento estudado. Se quiser- mos analisar o movimento do planeta em tor- no do Sol, ele pode ser associado a um ponto. Entretanto, se formos estudar o seu movimen- to de rotação, ele não pode ser associado a um ponto. 02. Ponto material tem massa desprezível? Resolução Não. Ponto material tem dimensões desprezíveis. 03. Um garoto paralisado de medo agarra-se ao carrinho de uma roda-gigante. O menino está em repouso ou em movimento? Resolução Depende do referencial adotado. Em relação ao carrinho, o garoto está em repouso; em relação ao Sol, o garoto está em movimento. Em relação à Terra, se a roda-gigante estiver em movimento, o garoto também estará em movimento. 04. Um automóvel desloca-se numa rodovia pla- na e horizontal, numa razão de 20 km/h. Um passageiro sentado no interior do automóvel tem nas mãos uma bolinha de gude. A bolinha é lançada verticalmente para cima pelo pas- sageiro e retorna em seguida para suas mãos. Qual é a trajetória da bolinha? Resolução Em relação ao automóvel, a bolinha executa um movimento cuja trajetória é um segmento de reta vertical. Em relação à superfície da Terra, a bolinha exe- cuta um movimento cuja trajetória é um arco de parábola, pois, enquanto a bolinha sobe e desce, o automóvel desloca-se para a frente. 05. UFRJ Heloísa, sentada na poltrona de um ônibus, afirma que o passageiro sentado à sua fren- te não se move, ou seja, está em repouso. Ao mesmo tempo, Abelardo, sentado à margem da rodovia, vê o ônibus passar e afirma que o referido passageiro está em movimento. De acordo com os conceitos de movimento e de repouso usados em mecânica, explique de que maneira devemos interpretar as afirmações de Heloísa e Abelardo para dizer que ambas estão corretas. Resolução Para Heloísa, a posição do passageiro sentado à sua frente permanece inalterada, portanto ele está em repouso. Para Abelardo, a posição do passageiro muda no decorrer do tempo, portanto o passageiro está em movimento. Ambos (Heloísa e Abelardo) estão corretos, pois os conceitos de movimento e de repouso são relativos, isto é, dependem do corpo to- mado como referência. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS Cinemáti ca PV -1 3- 11 16 Física 5. Posição, deslocamento escalar e distância percorrida No caso de movimentos unidimensionais, é pos- sível, como já foi dito, tratar uma grandeza física vetorial como se ela fosse uma grandeza escalar. Nesse caso, não podemos esquecer que esta- mos olhando somente para um dos atributos das grandezas vetoriais, mas que isso incorre em compreender primeiramente o que está sendo feito. Dizer que velocidade é grandeza vetorial está absolutamente correto, pois para caracterizá-la é necessário conhecer a rapidez com que um corpo muda de posição no espaço, assim como a direção e o sentido de seu movimen- to. Só assim é possível saber sua nova posição, para qualquer instante posterior de observação. No caso de movimentos unidimensionais, o corpo em movimento está restrito a deslocar-se sobre uma trajetória definida e, assim, as informações sobre a direção e o sentido de seu movimento podem ser previamente co- nhecidas. Por isso, podemos descrever esse movimento considerando apenas a intensida- de de sua velocidade, que se denomina rapi- dez ou velocidade escalar. Para a grandeza física deslocamento, que é vetorial, acontece o mesmo. A variação da po- sição do corpo sobre sua trajetória também pode ser dita escalar e, normalmente, quan- do calculamos o deslocamento escalar de um corpo, estamos nos referindo ao comprimento da trajetória descrita por ele no movimento considerado e, ainda, se o movimento é a fa- vor ou contrário à orientação da trajetória. Dessa forma, define-se posição ou espaço (s) como uma grandeza escalar que permite a lo- calização de um móvel ao longo de determina- da trajetória, em relação ao ponto de referên- cia adotado como origem (O). B A 80 (km) O 0–30 sB sA + Na figura anterior, o espaço s do móvel quando ele se encontra no ponto A é 80 km, ou seja, sA = 80 km. Quando ele encontra-se no ponto B, sua nova posição ou espaço é –30 km, que se escreve como sB = –30 km. Observe que o espaço não determina se o mó- vel está em movimento ou em repouso e, em caso de movimento, não se refere à distância percorrida por ele. O espaço fornece apenas sua localização. Agora, se ele mudar de posição, pode-se dizer que seu deslocamento escalar (∆s) é dado pela diferença entre suas posições final (sf) e inicial (si): ∆s = sf – sf – sf i No exemplo da figura anterior, o deslocamento escalar: • entre A e B é: ∆sAB = sB – sA = –30 – 80 ∆sAB = –110 km • e entre B e A é: ∆sBA = sA – sB = 80 – (–30) ∆sBA = 110 km No caso do ∆s > 0, o móvel se desloca a favor da orientação da trajetória e, caso ∆s < 0, o móvel se desloca no sentido contrário ao da orientação da trajetória. O repouso é caracteri- zado pela invariância da posição, ou seja, sf = si e ∆s = 0. Se não há inversão no sentido do movimento do corpo, a distância percorrida num determi- nado intervalo de tempo é igual à intensidade de seu deslocamento escalar correspondente e, se houver inversão, a distância percorrida será igual à soma dos módulos do desloca- mento da posição inicial até o ponto de inver- são e do deslocamento do ponto de inversão até sua posição final. No Sistema Internacional, a unidade do deslo- camento escalar é o metro (m). 6. Função horária da posição (espaço) Quando um móvel está em movimento em relação a um determinado referencial, seu(s) espaço(s) varia(m) no decorrer do tempo. Po- demos, então, expressar a posição de um mó- vel como uma função do tempo: s = f (t) PV -1 3- 11 Cinemática 17 Física Essa expressão recebe o nome de função horá- ria do espaço e representa a lei do movimento para esse móvel. A seguir, alguns exemplos de funções horárias do espaço: s (t) = 2 · t s (t) = 5 + 3 · t s (t) = 2 – 2 · t + 3 · t² No 1º exemplo, s (t) = 2 · t, dizemos que o es- paço s é diretamente proporcional ao tempo t; no 2º, s (t) = 5 + 3 · t, s varia linearmente com t e, no 3º, s (t) = 2 – 2 · t + 3 · t², a relação entres e t é uma função quadrática. Conhecendo-se a função horária do espaço de um móvel, para determinar a sua posição em qualquer instante desejado, basta substituir esse instante de tempo na função e, devido à relati- vidade de qualquer movimento, não é possível determinar a trajetória descrita por um corpo por meio de sua função s x t. Afinal, o mesmo movimento pode ser observado de maneiras dis- tintas para dois ou mais observadores diferentes. 7. Classificação dos movimentos A. Movimento progressivo De acordo com o que estudamos sobre velo- cidade, vimos que, se um móvel se desloca no mesmo sentido com que a trajetória foi orientada, o valor do espaço aumenta com o passar do tempo e, com isso, seu deslocamen- to e, consequentemente, sua velocidade, são positivos: ∆s > 0 e v > 0 Nesse caso, seu movimento é denominado progressivo e sua velocidade instantânea, em qualquer instante considerado, é positiva tam- bém: v > 0. B. Movimento retrógrado Por outro lado, quando o movimento se dá no sentido contrário ao da orientação da traje- tória, ele é denominado retrógrado. Nesse caso, ∆s < 0 e v < 0. Veja a seguir uma figura que ilustra ambas as situações: km 160 Retrógrado v = –70 km/h Progressivo v = 70 km/h Orientação da trajetória O carro da direita se desloca no sentido da trajetória, portanto seu movimento é progres- sivo, enquanto o carro da esquerda viaja em sentido contrário ao da trajetória e, embora viaje com a mesma rapidez que o primeiro, tem velocidade negativa, característica do mo- vimento retrógrado. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 01. O que significa dizer que o espaço é constante? Resolução Significa que, em relação ao referencial adota- do, o móvel se encontra em repouso. 02. O que podemos concluir quando o espaço vale zero num determinado instante? Resolução Que naquele instante o móvel passou pela ori- gem dos espaços. 03. Em uma dada trajetória, o que podemos con- cluir quando: a. o espaço aumenta em valor absoluto? b. o espaço diminui em valor absoluto? c. o espaço aumenta em valor algébrico? d. o espaço diminui em valor algébrico? Resolução a. O móvel se afasta da origem. b. O móvel se aproxima da origem. c. O móvel se desloca no mesmo sentido da orientação da trajetória. d. O móvel se desloca em sentido contrário ao da orientação da trajetória. Cinemática PV -1 3- 11 18 Física 04. Um ponto material desloca-se sobre uma tra- jetória retilínea, obedecendo à seguinte fun- ção horária do espaço: s = t2 – 4 · t + 4 Sendo s medido em metros e t, em segundos, determine: a. o espaço inicial; b. o espaço no instante t1 = 1 s; c. o espaço no instante t2 = 2 s; d. o deslocamento escalar entre os instantes t1 e t2. Resolução a. O espaço inicial é o espaço no instante t = 0. Para t0 = 0 ⇒ s = s0 s0 = (0)2 – 4 · (0) + 4 ⇒ s0 = 4 m b. Para t1 = 1 s ⇒ s = s1 s1 = (1)2 – 4 · (1) + 4 ⇒ s1 = 1 m c. Para t2 = 2 s s = s2 s2 = (2)2 – 4 · (2) + 4 ⇒ s2 = 0 d. ∆s = s2 – s1 ∆s = 0 – 4 ⇒ ∆s = –4 m 05. O diagrama a seguir representa o espaço s em função do tempo t, para o movimento de um ponto material que se desloca em relação a um dado referencial em trajetória retilínea. s (metros) t (segundos) 60 20 0 2 4 Determine: a. o espaço inicial; b. o deslocamento escalar entre os instantes 0 e 4 s; c. a distância percorrida entre os instantes 0 e 4 s. Resolução A análise do gráfico nos permite concluir que: a. t = 0 ⇒ s0 = 60 m b. ∆s = s – s0 = 60 – 60 ⇒ ∆s = 0 c. d m= + = + = → → 20 60 60 40 40 80 4 – – volta (0 2 ida (2s 20 s) s) ��� �� ��� �� PV -1 3- 11 Cinemáti ca 19 Física Conhecer a velocidade escalar média de um corpo é importante para casos em que se de- seja, por exemplo, saber uma estimativa do tempo de viagem entre duas cidades. É claro que, durante uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro, um motorista acelera, para, anda trechos do percurso com velocidade constante e chega até mesmo a ficar algum tempo estaciona- do para o almoço. No entanto, como informação interessante a um turista, não é necessário que se conheçam os detalhes de cada viagem feita de São Paulo ao Rio, mas, em média, qual é o tempo aproximado da viagem. Para efeito de cálculos, basta conhecer o des- locamento escalar entre as duas cidades e o tempo de viagem. Daí, de forma simples, é possível estimar o tempo que ela levaria para perfazer o trajeto com base no que denomina- mos velocidade escalar média. A velocidade escalar média de um corpo não é, no entanto, a única forma de se definir velo- cidade. Existem outras formas que consideram a velocidade ponto a ponto do movimento, ou ainda como a taxa média ou instantânea de variação da posição do corpo em relação ao tempo. 1. Velocidade escalar média A primeira ideia que fazemos da velocidade está associada à rapidez. Quanto maior for a velocidade de um carro, mais rápido ele se mo- vimentará e, portanto, maior será a distância percorrida por ele num dado intervalo de tempo. Como sabemos, o conceito de rapidez está as- sociado à velocidade escalar, e não represen- ta nosso conhecimento com relação ao vetor velocidade. Isso quer dizer que dois corpos que se movimentam de forma totalmente di- ferente, em trajetórias diferentes, podem ter associados aos seus respectivos movimentos o mesmo valor de velocidade escalar. Nesse caso, considera-se a rapidez com que um móvel varia sua posição no decorrer do tempo e define-se sua velocidade escalar mé- dia como a razão entre o deslocamento escalar do corpo, ao longo de sua trajetória, e o tempo gasto nesse percurso. Note que, nesse caso, deve-se conhecer a trajetória do corpo, pois, mesmo que ela não seja retilínea e a distância percorrida por ele não seja a menor distância entre dois pontos, ainda é possível medir sua trajetória e calcular sua rapidez. Veja a figura a seguir: Trajetória Deslocamentos sucessivos (retos) sobre a trajetória Importante A distância percorrida pelo móvel é sempre um número positivo, no entanto, quando associamos essa distância ao deslocamento, dito escalar, o sinal positivo do deslocamento será relacionado ao movimento no mesmo sentido da orientação da trajetória e o sinal negativo do desloca- mento, ao movimento em sentido contrário. Vejamos um exemplo. Suponha que um carro passe pelo km 50 de uma rodovia às 7 horas da manhã e pelo km 110 às 10 horas da manhã do mesmo dia, con- forme mostra a figura. km 50 7 h km 110 10 h De acordo com os dados, o deslocamento do carro, ao longo da rodovia, foi de 60 km (110 – 50) num intervalo de tempo de 3 horas (10 – 7), o que nos permite afirmar que, em média, o carro deslocou 20 km a cada hora. Esse resultado (20 km/h) representa o valor da velocidade escalar média. Desse modo, define-se: CAPÍTULO 03 VELOCIDADE Velocidade escalar média é a razão entre o deslocamento escalar (∆s) e o intervalo de tempo (∆t) correspondente. v s t s s t tm = == = ∆ ∆ s s–s s t t–t t 0 0 Cinemática PV -1 3- 11 20 Física Essa velocidade não depende da forma da trajetória (retilínea ou curvilínea) e o desloca- mento escalar (∆s) pode ser positivo, negativo ou nulo. Já o intervalo de tempo (∆t) é sempre positivo, pois o momento final da observação é sempre posterior ao inicial, assim: • quando ∆s > 0, a velocidade escalar média é positiva; nessas condições, o móvel desloca-se a favor da orientação da trajetória; • quando ∆s < 0, a velocidade escalar média é negativa; assim, o móvel deslo- ca-se no sentido contrário ao da orien- tação da trajetória; • quando ∆s = 0, a velocidadeescalar média é igual à zero; o móvel perma- nece em repouso, ou ele finaliza o mo- vimento no mesmo ponto do qual par- tiu – o espaço final (s) coincide com o espaço inicial (s0) – o que só é possível quando o móvel retorna pela mesma trajetória de ida. Observe que, nesse caso, existem dois movimentos envol- vidos: o de ida e o de volta, segundo o mesmo trajeto. No Sistema Internacional, a unidade do deslo- camento escalar é o metro (m) e a unidade de intervalo de tempo é o segundo (s). Assim, a unidade de velocidade escalar média é metro por segundo (m/s). Na prática, é muito comum a velocidade ser expressa em km/h (quilômetro por hora). Sendo 1 km = 1.000 m e 1 h = 3.600 s, temos: 1 1 000 3 600 1 1 3 6 km h m s km h m s/ . . / , /= ⇒ = Portanto, para transformar velocidade em km/h para m/s, basta dividir o valor por 3,6. Exemplo: 90 90 3 6 90 25km h m s km h m s/ , / / /= ⇒ = Para transformar velocidade em m/s para km/h, basta multiplicar o valor por 3,6. Exemplo: 20 m/s = 20 · 3,6 km/h ⇒ 20 m/s = 72 km/h 2. Velocidade média O conceito de velocidade média é um pouco diferente por se tratar da taxa de variação da posição do corpo no tempo. Nesse caso, é ne- cessário conhecer a função da posição e cal- culá-la para os dois instantes entre os quais se deseja determinar a velocidade média. Assim, nosso conhecimento de funções e dos gráficos de funções deverá ser suficiente para nos auxiliar na compreensão do conceito de velocidade média e do conceito de velocidade instantânea. Quando a relação s x t é conhecida, a veloci- dade média nada mais é do que a taxa de va- riação média da função posição s (t) entre dois instantes quaisquer: v s t s t t tm = 2 1 2 1 ( ) ( )– – Para determiná-la a partir do gráfico da fun- ção, basta olhar para a inclinação da reta se- cante que corta a função em dois pontos dis- tintos: s s2 s1 t1 t2 t θ ∆t ∆s θ ∆s ∆t = t2 – t1 Note que tg θ = vm é a inclinação da reta se- cante à curva s (t), ou seja, a média da taxa de variação da função entre os dois instantes considerados, t1 e t2. PV -1 3- 11 Cinemática 21 Física Observação É possível encontrar problemas nos quais se usa a notação velocidade média sem sequer mencionar a equação do espaço. Nesses ca- sos, o estudante deve interpretar que o que está sendo pedido é o valor da velocidade es- calar média. A velocidade instantânea refere-se também à taxa de variação da função posição, quando considerados intervalos de tempo infinita- mente pequenos, como veremos a seguir. 3. Velocidade instantânea Em um movimento, a velocidade escalar ins- tantânea é uma grandeza que relaciona a posi- ção (ou espaço) (s) e o tempo (t) de modo que o intervalo de tempo necessário para passar de uma posição a outra é extremamente pe- queno, ou seja, a velocidade instantânea dá a velocidade do móvel considerando dois ins- tantes tão próximos, que é possível considerar que t2 – t1 → 0 (→ lê-se: tende a). Observe o gráfico abaixo no qual os instantes t1 e t2 são extremamente próximos. s s2s1 t1 t2 t θ ∆s ∆t = t2 – t1 0 θ ∆s ∆t = t2 – t1 0 A inclinação da reta tangente à função em cada ponto nos dará a informação de quanto vale a velocidade nesse instante, ou na média dos instantes, muito próximos, considerados. Veja que o cálculo da velocidade instantânea também é restrito ao cálculo da inclinação de uma reta com relação ao eixo horizontal quando se conhece a função s x t. Porém, isso é um assunto da matemática, que deverá estender-se até cálculos de limites e deri- vadas que não fazem parte do presente estudo. Nesse momento, é suficiente compreender que: 1. a velocidade instantânea é dada pela inclinação da reta tangente à função s x t, em cada ponto. 2. a regra mais simples de derivação, que pode ser feita aqui por tratar-se de funções polino- miais, é a seguinte: Seja s (t) = a · tn v t ds dt n a tn( ) = = ⋅ ⋅ –1 Que é a função horária da velocidade. Nota: se s(t) for a adição de vários termos polinomiais, v(t) será a adição da derivada de cada um desses termos. Cinemática PV -1 3- 11 22 Física Veja o exemplo: s (t) = –1 · t3 + 2 · t2 – 4 · t1 + 5 · t0 (note que os expoentes 1 e 0 de t nem precisavam aparecer, mas foram marcados para esclarecer os cálculos a seguir: v t ds dt t t t t v t ( ) ( ) ( ) ( ) = = ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ = 3 1 2 2 1 4 0 5 3 3 1 2 1 1 1 0 1– – – – – – – ⋅⋅ + ⋅t t2 4 4– Observação – A velocidade instantânea de um móvel é, necessariamente, tangente à trajetória dele, em qualquer instante considerado. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 01. Duas pessoas fazem uma viagem de 200 km em dois carros. Uma delas faz o trajeto sem pa- radas e com uma velocidade escalar média de 80 km/h. A outra faz uma parada de meia hora e mantém, antes e após a parada, uma velocidade escalar média de 100 km/h. Qual delas completa o percurso no menor intervalo de tempo? Resolução O tempo gasto pela pessoa que faz o percurso sem paradas, percorrendo 200 km com uma velocidade escalar média de 80 km/h, é: ∆ ∆ ∆t s v km km h t h m = = ⇒ = 200 80 2 5 / , A outra pessoa faz o percurso de 200 km a 100 km/h, mas com uma parada de meia hora (0,5 h). Assim, o tempo gasto na viagem é de: ∆ttotal = ∆tviagem + ∆tparada ∆ ∆t km km h h t htotal total= + ⇒ = 200 100 0 5 2 5 / , , Assim, ambas completam o percurso no mes- mo tempo. 02. Cefet-CE João viaja, em seu carro, de Fortaleza para Beberibe, mantendo uma velocidade média de 72 km/h. A distância percorrida ao longo da estrada (suposta retilínea) é de 72 km. Se a velocidade média de João fosse 20% menor, a duração de sua viagem aumentaria _____ minutos. a. 10 b. 15 c. 18 d. 20 e. 25 Resolução A velocidade média de João é 72 km/h. Logo, o tempo necessário para percorrer 72 km é de 1 h. Reduzindo a velocidade média em 20%, a nova velocidade média de João será 0,8 · 72 km/h. A duração da viagem será, então: ∆t = ∆s / v = 72 / (0,8 · 72) = 1 / 0,8 = 1,25 h Um quarto de hora a mais que antes, ou 15 minutos de acréscimo. Resposta B 03. PUC-RJ No gráfico abaixo, observamos a posição de um objeto em função do tempo. Podemos di- zer que a velocidade média do objeto entre os pontos inicial e final da trajetória, em m/s, é: 1,0 0,5 0,0 –0,5 –1,0 0 60 120 180 240 300 360 Po siç ão (m ) Tempo (s) a. 0 b. 1 3 c. 2 3 d. 1 e. 3 Resolução v s t s t tm f i f i = = = = ∆ ∆ ( ) ( ) – s – – – 0 0 360 0 0 Resposta A PV -1 3- 11 Cinemática 23 Física 04. Um corpo tem seu espaço variando com o tempo segundo o gráfico abaixo: s (m) 5,0 0 5,0 t (s) Calcule: a. a velocidade média entre os instantes 0,0 e 7,0 s; b. a velocidade instantânea no instante t = 5,0 s. Resolução a. Calculando pelo gráfico do espaço x tem- po, temos: s (m) 5,0 0 5,0 t (s) v s s t t m sm = = ≅ 7 0 7 0 0 7 0 0 1 1 – – 8,0– –, , / b. Traçando uma reta tangente ao gráfico no instante t = 5 s, tem-se: s (m) 5,0 0 5,0 t (s) v m s= ≅ 7 0 1 1 , , / – – 2,0 8,4 4,0 05. A posição de um móvel em sua trajetória varia conforme a função horária: s = t2 –4 · t + 4 (SI) Determine o instante em que o móvel inverte o sentido do seu movimento. Resolução Quando o móvel inverte o sentido do movi- mento, sua velocidade escalar se anula. Para resolver o problema, determinemos ini- cialmente a função horária da velocidade e, fa- zendo v = 0, obtemos o valor correspondente do tempo. s = t2 –4 · t + 4 v ds dt t v t SI = = ⋅ = ⋅ 2 4 2 4– – ( ) Fazendo v = 0, vem: 2 · t – 4 = 0 2 · t = 4 ⇒ t = 2 s Para melhor ilustração do exemplo, apresen- tamos a seguir os gráficos cartesianos das fun- ções: s = t2 – 4 · t + 4 v = 2 · t – 4 s (m) 4 40 2 t (s) v (m/s) 4 –4 40 2 t (s) Note que, entre 0 e 2 s, o movimento é retró- grado (v < 0) e, após t = 2 s, o movimento é progressivo (v > 0). Cinemáti ca PV -1 3- 11 24 Física Na classificação dos movimentos, devemos sempre observar a velocidade com que um móvel se desloca. Ela sempre nos indicará o tipo de movimento, pois como já foi dito an- teriormente, a velocidade instantânea de um corpo é sempre tangente à trajetória descrita por ele, em cada ponto. O movimento mais simples que um corpo pode ter é regido por uma velocidade escalar constante. Se, porém, essa velocidade coinci- de com sua velocidade média e instantânea, ou seja, se a velocidade for invariante em in- tensidade, direção e sentido, estamos falando de um movimento com velocidade constante e denominado movimento retilíneo e uniforme (MRU). vamos substituir ∆s = s – s0 e ∆t = t – t0 na expressão anterior e reescrevê-la assim: s – s0= v · (t – t0) Se considerarmos o instante inicial de obser- vação igual a zero (t0 = 0), obtemos: s = s0 + v · t Essa expressão é denominada função horária do espaço do movimento uniforme. 2. Diagrama horário da posição (espaço) A função horária do espaço do movimento uniforme (s = s0 + v · t) é uma função do pri- meiro grau do tipo y = a · x + b, ou seja, uma função linear. Vamos comparar as duas equações, de modo a perceber quais são as constantes e quais as variáveis de ambas, destacando as variáveis em negrito e mudando a posição na escrita para facilitar a comparação: y (x) = b + a · x s (t) = s0 + v · t Coeficiente linear Variável independente Coeficiente angular Variável dependente Na primeira, (b) é o coeficiente linear e é o ponto no qual a função intercepta o eixo verti- cal y e (a) é a tangente do ângulo que a reta faz com o eixo horizontal x. Na segunda equação, vemos que a forma de se representar s x t é idêntica, como mostra a figura: y (x) b a = tg θ x θ CAPÍTULO 04 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORME (MRU) No movimento retilíneo e uniforme, a ve- locidade escalar instantânea é constante e não nula. No movimento retilíneo e uniforme, um corpo percorre deslocamentos iguais em intervalos de tempo iguais. Observe a figura. v = 4 m/s (constante) 1 s 4 m 4 m 1 s Acima, a velocidade do móvel é constante e igual a 4 m/s, o que implica que, em cada in- tervalo de tempo de 1 s, ele percorre 4 m. Como, no movimento retilíneo e uniforme, a velocidade escalar instantânea é constante, então ela é igual à velocidade escalar mé- dia: v = vm. Assim, podemos escrever: v v s tm = =v v= =v v ∆ ∆ 1. Função horária da posição (espaço) Para chegar à função horária do espaço, que nos permitirá calcular a posição do móvel des- crito por ela, em qualquer instante de tempo, PV -1 3- 11 Cinemáti ca 25 Física s (t) s0 v = tg θ t θ A representação gráfica do espaço (s) em fun- ção do tempo (t), conhecido como diagrama horário, é um segmento de reta. Quando θ, o ângulo que a função faz com o eixo horizontal, é agudo, sua tangente é po- sitiva e temos uma função crescente. Esse é exatamente o caso do movimento progressi- vo, pois ele é realizado no mesmo sentido da trajetória. Caso contrário, se θ é um ângulo obtuso, sua tangente é negativa e temos um movimento com velocidade negativa que corresponde ao movimento contrário à trajetória, portanto retrógrado. Veja que, no caso do movimento retrógrado, a função é decrescente. s (t) s0 s0 v < 0 Retrógrado Progr essivo v > 0 t θ' θ A seguir, temos a relação entre a velocidade, o deslocamento escalar e o intervalo de tem- po no gráfico do espaço em função do tempo para esse movimento: s 0 ∆s ∆t t v s t = ∆ ∆ 3. Diagrama horário da velocidade Como a velocidade escalar é constante, o grá- fico da velocidade em função do tempo é o mostrado na figura seguinte. v 0 Retrógrado Progressivo t v 0 Retrógrado Progressivo t A A ∆s = A ∆s < 0 ∆s > 0 N ∆s = –AN O deslocamento escalar pode ser relacionado à área entre o gráfico e o eixo horizontal, con- tanto que se observe que, se a velocidade for positiva, o deslocamento relativo também o será, e, se a velocidade for negativa, o desloca- mento será numericamente igual à área, mas com sinal negativo. Observação Uma análise dimensional pode ser sugestão de método para sabermos qual a unidade de uma grandeza encontrada através de uma re- lação matemática, levando em consideração que só podemos somar ou subtrair grandezas de mesma natureza. Ex.: s = s0 + v · t Nesse caso, supondo que você saiba que a posição (s) de um corpo é dada em metros e que o tempo na equação acima seja dado em segundos, a unidade da grandeza velocidade (v) deve ser tal que, quando multiplicada por segundo, resulte na unidade metro, pois o pro- duto v · t será somado à posição inicial s0, que tem a mesma unidade de medida da posição, o metro. Cinemática PV -1 3- 11 26 Física 4. Velocidade escalar relativa Consideremos duas partículas A e B movendo-se em uma mesma trajetória e com velocidades escalares vA e vB , em duas situações distintas: movendo-se no mesmo sentido e em sentidos opostos. A velocidade escalar que uma das partículas possui em relação à outra (tomada como referência) é chamada de velocidade relativa (vRel) e o seu módulo é calculado como relatamos a seguir: A. Móveis em sentidos opostos A B vBvA v v vREL A B= + B. Móveis no mesmo sentido A B vBvA v vA B≥ v v vl A BRe = – Observação Ao estabelecermos um movimento relativo entre móveis, um deles é tomado como refe- rência e, portanto, permanece parado em rela- ção a si mesmo, enquanto o outro se aproxima ou se afasta dele com uma certa velocidade relativa. Observe isso no esquema abaixo. A B ParadovRel 5. Movimento relativo uniforme Se dois móveis, ao longo da mesma trajetória, mantiverem constantes suas velocidades esca- lares, logo um em relação ao outro executará um movimento relativo uniforme, aproximan- do-se ou afastando-se um do outro com velo- cidade relativa de módulo constante. Dessa forma, podemos estabelecer a seguinte expressão para este MU: v s tl l Re Re = ∆ ∆ (constante ≠0) Os processos de encontro ou ultrapassagens de móveis são analisados normalmente atra- vés de movimento relativo. Suponha, por exemplo, duas partículas trafe- gando na mesma trajetória com velocidades escalares constantes, vA e vB, e separadas ini- cialmente por uma certa distância D0, como indica a figura a seguir. A B vBvA D0 Como os movimentos têm sentidos opostos, a velocidade relativa é dada em módulo por: vRel = |vA| + |vB| Tomando-se um dos corpos como referência, o outro terá, até o encontro, um deslocamento relativo de módulo D0. O intervalo de tempo (∆t) gasto até o encontro será calculado assim: A B ParadovRel D0 v s t t s v D v vl l l l A B Re Re Re Re = ⇒ = = + ∆ ∆ ∆ ∆ 0 PV -1 3- 11 Cinemática 27 Física 01. Um carro se desloca em uma estrada retilínea com velocidade escalar constante. A figura mostra as suas posições, anotadas em intervalos de 1 min, contadas a partir do km 24, onde se adotou t = 0. t = 0 km 30 km 28 km 26 km 24 t = 1 min t = 2 min t = 3 min Responda ao que se pede. a. O movimento é progressivo ou retró- grado? b. Qual é a sua velocidade escalar em km/h?c. Qual é a indicação de seu velocímetro? Resolução a. É retrógrado, pois suas posições são decrescentes no decorrer do tempo. b. Observa-se que a cada minuto o carro retrocede 2 km na rodovia, ou seja, apresenta ∆s = – 2 km. Logo: v s t km km h v km h = = = = ∆ ∆ – – – 2 1 2 1 60 120 min / c. O velocímetro está indicando o módulo da velocidade escalar constante do carro: 120 km/h. 02. UERJ Um foguete persegue um avião, ambos com velocidades constantes e mesma direção. Enquanto o foguete percorre 4,0 km, o avião percorre apenas 1,0 km. Admita que, em um instante t1, a distância entre eles é de 4,0 km e que, no instante t2, o foguete alcança o avião. No intervalo de tempo t2 – t1, a distância per- corrida pelo foguete, em quilômetros, corres- ponde aproximadamente a: a. 4,7 b. 5,3 c. 6,2 d. 8,6 Resolução v = constante MU vF = 4 · vA t Foguete Avião s km s km 1 0 4 4= = s = s0 + v · t P/ avião sA = 4 + vA · t P/foguete sF = 0 + 4 · vA · t No encontro, sA = sF 4 + vA · t = 4 vA · t t vA = 4 3 · Substituindo o tempo de encontro na equação do movimento do foguete, temos: s v v kmF A A = + ⋅ = ≅0 4 4 3 16 3 5 33· · , Resposta B 03. O gráfico a seguir representa aproximada- mente a velocidade escalar de um ciclista, em função do tempo, durante uma viagem de 3,0 horas. --- v (km/h) t (h) 15 0 2,01,0 3,0 30 - - Determine, nessa viagem: a. o deslocamento escalar do ciclista; b. a sua velocidade escalar média. Resolução a. Observa-se no gráfico que o ciclista execu- ta duas etapas em movimento uniforme: viaja a 30 km/h nas primeiras 2 horas e, a seguir, a EXERCÍCIOS RESOLVIDOS Cinemática PV -1 3- 11 28 Física 15 km/h na última hora de viagem. Em cada etapa, temos: ∆s = v · ∆t ∆s1 = (30) · (2) = 60 km ∆s2 = (15) · (1) = 15 km Logo, na viagem toda, temos: ∆sTotal = ∆s1 + ∆s2 = 60 + 15 ∆sTotal = 75 km 04. Um móvel, em movimento retilíneo e retró- grado, possui velocidade constante e de valor absoluto igual a 5,0 m/s. No instante t = 0, ele se encontra em um ponto situado a 20 m à di- reita da origem dos espaços. Supondo que a trajetória tenha orientação positiva para a di- reita, determine: a. a função horária do espaço; b. o instante em que o móvel passa pela origem dos espaços. Resolução a. Trata-se de um movimento uniforme que apresenta s0 = 20 m e v = – 5,0 m/s (retrógrado). 20 m 0 – 5,0 m/s t = 0 Sendo: s = s0 + v · t ⇒ s = 20 – 5,0 · t (SI) b. Origem dos espaços: s = 0 Assim: 0 = 20 – 5,0 · t ⇒ t = 4,0 s 05. A tabela a seguir apresenta as posições ocupa- das por um móvel, em movimento uniforme, em função do tempo. s(m) 2 4 6 8 10 t(s) – 20 – 10 0 10 20 A partir da tabela anterior, faça o que se pede. a. Dê o formato da trajetória do móvel. b. Construa o diagrama horário do espaço e calcule a velocidade escalar do móvel. c. Determine a posição (s0) do móvel no instante t = 0. d. Escreva a função horária do espaço para esse móvel. Resolução a. Indeterminada, pois não há dados para apontar o seu formato. b. Gráfico s x t : s (m) 20 10 0 –10 –20 40 t (s) 8 2 4 6 8 10 θ v tg m s= = =θ 40 8 5 / c. Escolhemos um ponto qualquer da tabela. Por exemplo: t = 8,0 s e s = 10 m Substituindo na função horária s = s0 + v · t, temos: 10 = s0 + 5 · (8) 10 = s0 + 40 ⇒ s0 = – 30 m d. Sendo s0 = – 30 m e v = 5,0 m/s, temos: s = s0 + v · t ⇒ s = – 30 + 5 · t (SI) 06. Udesc Dois caminhões deslocam-se com velocidade uniforme, em sentidos contrários, numa rodo- via de mão dupla. A velocidade do primeiro ca- minhão e a do segundo, em relação à rodovia, são iguais a 40 km/h e 50 km/h, respectiva- mente. Um caroneiro, no primeiro caminhão, verificou que o segundo caminhão levou ape- nas 1,0 s para passar por ele. O comprimento do segundo caminhão e a velocidade dele em relação ao caroneiro mencionado são, respec- tivamente, iguais a: a. 25 m e 90 km/h b. 2,8 m e 10 km/h c. 4,0 m e 25 m/s d. 28 m e 10 m/s e. 14 m e 50 km/h PV -1 3- 11 Cinemática 29 Física Resoluções Velocidade relativa: v km h m slRe /= + = =( )40 50 90 25 Seja L o comprimento do segundo caminhão. Assim: v L t L L mlRe , = ⇒ = ⇒ = ∆ 25 1 0 25 Resposta A 07. UERJ Dois automóveis, M e N, inicialmente a 50 km de distância um do outro, deslocam-se em ve- locidades constantes na mesma direção e em sentidos opostos. O valor da velocidade de M, em relação a um ponto fixo da estrada, é igual a 60 km/h. Após 30 minutos, os automóveis cru- zam uma mesma linha da estrada. Em relação a um ponto fixo da estrada, a veloci- dade de N tem o seguinte valor, em quilômetros por hora: a. 40 b. 50 c. 60 d. 70 e. 80 Resolução v s t km km h km hl l Re Re min , /= = = = ∆ ∆ 50 30 50 0 5 100 v v v v v km h l M N N N Re / = + = + ⇒ =100 60 40 Resposta A Cinemáti ca PV -1 3- 11 30 Física 1. Aceleração escalar média Quando a velocidade de um móvel varia no decorrer do tempo, dizemos que o movimento apresenta aceleração. Suponha que a veloci- dade de um móvel seja v0 no instante t0 e que a velocidade seja v em um instante posterior, t. Nessas condições, definimos: Note que o conceito é o mesmo que foi apre- sentado: a taxa instantânea de variação. Agora é como se dá a variação da velocidade que nos interessa, mas a forma de cálculo é a deriva- ção da função velocidade x tempo, como ex- plicado anteriormente. Seja v (t) = a · tn a t dv dt n a tn( ) = = ⋅ ⋅ –1 que é a função horária da aceleração. Nota: se v (t) for a adição de vários termos polinomiais, a (t) será a adição da derivada de cada um destes termos. Veja o exemplo: a (t) = –4 · t6 + 2 · t2 a t dv dt t t( ) ( )= = ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅6 4 2 26 1– – –2 1 a (t) = –24 · t5 + 4 · t 3. Diagrama horário da aceleração No caso da aceleração constante, o diagrama horário mostra uma reta paralela ao eixo ho- rizontal, podendo ser positiva (∆v > 0) ou ne- gativa (∆v < 0), como mostra a figura a seguir: a 0 + – t CAPÍTULO 05 ACELERAÇÃO Aceleração escalar média é a razão entre a variação de velocidade escalar instantânea e o correspondente intervalo de tempo. a v t v v t tm = = ∆ ∆ – – 0 0 No Sistema Internacional, a unidade de acele- ração é m s s / = m/s². A aceleração escalar média pode ser positiva, negativa ou nula, mas, como o intervalo de tempo ∆t é sempre positivo, temos: • se v > v0, a aceleração escalar média é positiva; • se v < v0, a aceleração escalar média é negativa; • se v = v0, a aceleração escalar média é nula. 2. Aceleração instantânea A aceleração escalar instantânea é a acelera- ção que um móvel possui em cada instante de movimento. Nos movimentos nos quais a ace- leração escalar instantânea é constante, ela é igual à aceleração escalar média. De modo análogo ao que foi feito para calcular a velocidade instantânea, pode-se obter a acelera- ção instantânea por meio da função v · t, como a taxa de variação instantânea da velocidade en- tre dois instantes tão próximos que t – t0 → 0. PV -1 3- 11 Cinemática 31 Física 01. Um móvel possui velocidade escalar de 5,0 m/s. Sendo acelerado durante 10 s, atinge a veloci- dade escalar de 25 m/s Determine a aceleração escalar média para esse móvel. Resolução a v t a m sm m= = ⇒ = ∆ ∆ 25 5 0 10 2 2 – , / Uma aceleração escalar média de 2,0 m/s2 significa que a velocidade escalar instantânea variou em média de 2,0 m/s a cada segundo. 02. Um automóvel,movimentando-se a 90 km/h, é freado e para em 10 s. Determine a acelera- ção escalar média durante a frenagem. Resolução Sendo 90 km/h = 25 m/s, temos: a v t a m sm m= = ⇒ = ∆ ∆ 0 25 10 2 5 2 – – , / Nesse exemplo, temos a velocidade escalar instantânea positiva e a aceleração escalar média negativa. Isso significa que, no decorrer do tempo, a velocidade escalar instantânea diminui, pois a aceleração média possui sinal contrário ao da velocidade e, consequente- mente, contrário ao da trajetória. 03. Um ponto material desloca-se segundo a função horária do espaço: s = t3 + 2 · t2 + 4 · t – 12 (SI) Determine, no instante t = 1 s: a. o espaço; b. a velocidade escalar; c. a aceleração escalar. Resolução a. Para t = 1 s ⇒ s = s1 s1 = 13 + 2 · 12 + 4 · 1 – 12 ⇒ s1 = –5 m b. v ds dt t t= = + +3 4 42· · Para t = 1 s ⇒ v = v1 v1 = 3 · 12 + 4 · 1 + 4 ⇒ v1 = 11 m/s c. a dv dt t= = +6 4· Para t = 1 s ⇒ a = a1 a1 = 6 · 1 + 4 ⇒ a1 = 10 m/s2 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS Cinemáti ca PV -1 3- 11 32 Física Em relação a um dado referencial, um movi- mento é considerado uniformemente variado (MUV) quando apresenta aceleração escalar constante. Nessas condições, a velocidade escalar (v) do móvel varia linearmente com o tempo e o espaço (s) do móvel varia com o tempo segundo uma função do 2º grau. Assim, no MUV, temos: aceleração escalar constante: a a v tm = = ∆ ∆ ; • a função horária da velocidade é uma função linear, ou seja, v = f (t) é do 1º grau; • a função horária do espaço (s) é uma função quadrática, ou seja, s = f (t) é do 2º grau; 1. Função horária da velocidade A partir da definição de aceleração escalar, pode-se obter a função horária da velocidade, v = f (t), da seguinte forma: a v v t t = – – 0 0 Considerando t0 = 0, obtém-se: a v v t = ⇒ – 0 v = v0 + a · t Nessa expressão, denominada função horária da velocidade para o MUV, v0 é a velocidade inicial do móvel e a é a aceleração escalar. Para qualquer instante t > 0, a função horária nos fornece a velocidade v do móvel. 2. Diagrama horário da velocidade Já que a função horária da velocidade de todo MUV é do primeiro grau, o gráfico velocidade x tempo terá a forma de uma reta inclinada, a partir da velocidade inicial v0. v a > 0 a < 0 v v0 v0 0 0 t t ∆v ∆v ∆t ∆ta 3. Velocidade escalar média no MUV Sabemos que a razão ∆s/∆t fornece a veloci- dade escalar média de qualquer movimento. Entretanto, no MUV, ela também pode ser calculada através da média aritmética das ve- locidades instantâneas inicial (v0) e final (v). Observe a demonstração a seguir: v v0 v 0 t∆t A ∆ ∆ ∆ s área A s v v t N = = + ( ) ·0 2 v v v m = +v v+v v0v v0v v 2 De modo geral, a velocidade escalar média no MUV pode ser determinada entre dois ins- tantes quaisquer (t1 e t2), obtendo-se a média aritmética das velocidades escalares desses instantes (v1 e v2), ou seja: v v v m = +v v+v v1 2v v1 2v vv v+v v1 2v v+v v 2 Pela velocidade escalar média calculada, po- demos também determinar o deslocamento escalar acontecido. Por exemplo, um carro em MUV que varia sua velocidade escalar de 15 m/s para 25 m/s, num prazo de 4,0 segundos, desloca: ∆ ∆ ∆ ∆ s v t s v v t m m= ⋅ = + ⋅ = + ⋅ =1 22 15 25 2 4 0 80, CAPÍTULO 06 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORMEMENTE VARIADO PV -1 3- 11 Cinemáti ca 33 Física 4. Função horária da posição (espaço) De modo geral, o deslocamento escalar (∆s), num certo intervalo de tempo (∆t), pode ser determinado por meio do cálculo da área exis- tente entre o gráfico v x t e o eixo dos tempos. Essa área é limitada pelo intervalo de tempo escolhido, conforme mostra a figura a seguir. v 0 t ∆s = áreaN ∆t No caso particular do movimento uniforme- mente variado, o gráfico da função horária da velocidade é um segmento de reta inclinado, como pode ser visto na ilustração a seguir. Velocidade v0 v 0 t ∆s Tempo Nesse caso, o deslocamento escalar é dado, numericamente, pela área do trapézio desta- cado no gráfico. Lembrando que a área de um trapézio é dada por: A basemaior basemenor altura= + ⋅2 Obtemos, para o deslocamento: ∆ ∆s v v t= + ⋅02 Observação – Na expressão acima, note que v v+ 02 é a velocidade média, ou a média aritmética das velocidades entre dois instan- tes, no MUV. Sendo v = v0 + a · t, ∆s = s – s0 e ∆t = t, para t0 = 0, a expressão acima pode ser reescrita como: s s v a t v t– 0 0 0 2 = + ⋅ + ⋅ Finalmente, rearranjando os termos, tem-se: s = s0 + v0 · t + 1 2 · a · t2 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 01. Um automóvel com velocidade escalar de 90 km/h (ou seja, 25 m/s) é freado uniforme- mente e para após 10 s. Analisando essa fre- nagem, calcule: a. a aceleração escalar do carro; b. o seu deslocamento escalar até parar. Resolução a. v = v0 + a · t 0 = 25 + a · 10 ⇒ a = –2,5 m/s2 b. ∆ ∆ ∆ s v t a t s s m = ⋅ + ⋅ = ⋅ + ⋅ ⇒ = 0 2 2 2 25 10 2 5 2 10 125 – , Podemos também calcular o deslocamento escalar sem utilizar a aceleração escalar. Observe: ∆ ∆ ∆ ∆ s v t v v t s m m= ⋅ = + ⋅ = + ⋅ = 0 2 25 0 2 10 125 Cinemática PV -1 3- 11 34 Física 02. A função horária do espaço de um móvel é dada por: s = 2 + 3 · t + 4 · t2 (SI) Determine para esse movimento: a. o espaço inicial (s0), a velocidade inicial (v0) e a aceleração escalar (a); b. a função horária de sua velocidade. Resolução a. Trata-se de um movimento uniformemen- te variado, pois a função horária dada é do 2º grau, ou seja: s = s0 + v0 · t + a 2 · t2 ↓ ↓ ↓ Espaço inicial Velocidade inicial Metade da aceleração Por comparação com a função dada, temos: s0 = 2 m v0 = 3 m/s a 2 = 4 ⇒ a = 8 m/s2 b. Pela função horária da velocidade do MUV, vem: v = v0 + a · t ⇒ v = 3 + 8 · t (SI) Pode-se também obter a função acima direta- mente por derivação (ds/dt). 03. O gráfico abaixo representa a posição (espa- ço) em função do tempo para o movimento de uma partícula, que tem aceleração escalar constante. s (m) 5,0 5,0 9,0 0 2,0 t (s) Pede-se: a. o instante (t) em que a partícula para; b. a sua velocidade escalar inicial (v0); c. a sua aceleração escalar (a); d. a função horária do espaço do móvel. Resolução a. No gráfico, o instante do vértice da pa- rábola (t = 2,0 s) indica o momento em que ocorre a inversão de sentido do movimento (o móvel passa de progressivo para retrógrado), ou seja: v = 0 ⇒ t = 2,0 s b. Nota-se pelo gráfico que, nos dois primei- ros segundos de movimento, a partícula teve uma variação de espaço igual a: ∆s = s – s0 = 9,0 – 5,0 = 4,0 m Logo, sua velocidade escalar média foi de: v s t m s m sm = = = ∆ ∆ 4 0 2 0 2 0 , , , / Lembrando que a velocidade média no MUV equivale à média das velocidades inicial e final, vem: v v v m = + 0 2 , em que v = 0 (inversão). Assim: 2 0 0 2 0, = + v ⇒ v0 = 4,0 m/s c. Usando a função horária da velocidade do MUV, temos: v = v0 + a · t, em que v = 0 em t = 2,0 s. Logo: 0 = 4,0 + a · 2,0 ⇒ a = – 2,0 m/s2 d. s = s0 + v0 · t + a 2 · t2 Substituindo na função os valores do espaço inicial (s0 = 5,0 m, pelo gráfico), da velocidade inicial(v0) e da aceleração escalar (a) da partí- cula, vem: s = 5,0 + 4,0 · t + –2 0 2 2, ⋅ t Essa expressão representa a equação da parábola do gráfico s · t dado. PV -1 3- 11 Cinemáti ca 35 Física 5. Diagrama horário da posição (espaço) Essa expressão, uma função quadrática (2º grau), é denominada função horária do espaço no MUV, na qual s0 é o espaço inicial; v0 é a velocidade inicial e a é a aceleração do movi- mento. Como sabemos, a representação gráfica de toda função matemática do segundo grau é um ramo de parábola, assim a representação gráfica da função é: s s0 0 ti t Parábolas a > 0 a < 0 (inversão) A concavidade da parábola do gráfico s x t está associada ao coeficiente do termo t2 e será voltada para cima quando a aceleração escalar do MUV for positiva. Se a aceleração escalar for negativa, a concavi- dade da parábola será voltada para baixo. Devemos observar que, como já foi dito, a aceleração num MUV é constante e, por isso, ela será sempre negativa, ou sempre positiva, para um movimento qualquer. Já a velocidade poderá ser negativa ou positiva, dependendo do intervalo de tempo considerado. Nos casos em que a aceleração for negativa, a velocidade será uma função crescente até o instante de inversão do sentido do movimen- to, pois toda parábola com concavidade para baixo tem um vértice que é o ponto máximo da função. A partir desse ponto, no qual a velocidade é nula (v = 0), a velocidade será uma função de- crescente e o movimento, que até então era progressivo, passa a ser classificado como re- trógrado, pois o móvel estará então se moven- do em direção oposta àquela de orientação da trajetória. Da mesma forma, podemos analisar o caso de aceleração constante e positiva: a concavida- de da parábola é voltada para cima, portanto o gráfico terá ponto de mínimo, que coincide novamente com o ponto de velocidade nula. Nesse ponto, o móvel para, a fim de inverter o sentido de movimento, de modo que, até o vértice da parábola, a função da velocidade seja uma função decrescente e o movimento seja retrógrado. A partir da inversão (v = 0), a função da velocidade será crescente e o movi- mento passa a ser progressivo. 6. Equação de Torricelli Como vimos na seção anterior, o movimento uniformemente variado pode ser descrito por meio das funções do espaço, da velocidade e da aceleração, que, neste caso, é constante. Na figura a seguir, temos os dois gráficos pos- síveis da velocidade em função do tempo para o MUV. v v0 0 a < 0 a > 0 t A partir do gráfico da velocidade, podemos de- terminar a aceleração do movimento unifor- memente variado, conforme mostra a figura. A equação denominada equação de Torricelli relaciona a velocidade escalar com o deslo- camento escalar, num movimento uniforme- mente variado, de modo independente do tempo. Para obtê-la, vamos utilizar as duas expressões seguintes: ∆ ∆ ∆s v v t e t v v a = + ⋅ =0 02 – Substituindo a 2ª equação na 1ª , obtemos: ∆ ∆s v v v v a s v v a = + ⋅ ( ) ⇒ =0 0 2 0 2 2 2 – – · Dessa expressão, resulta: v v a s2v v2v v02 2= +v v= +v v0= +02= +2 · ·a s· ·a s∆a s∆a s Essa expressão é a equação de Torricelli para o MUV. Cinemática PV -1 3- 11 36 Física 7. Reclassificação dos movimentos Para uma melhor compreensão dos movimentos variados, é importante que se saiba classificá-los, além dos aspectos ligados ao sinal da velocidade, ou seja, se o móvel vai (progressivo) ou volta (retrógrado) na trajetória, como acelerado ou retardado. Essa classificação permite-nos identificar se o móvel está aumentando sua velocidade em inten- sidade ou se está freando. Veja o quadro a seguir. Movimento acelerado v > 0 e a > 0 v < 0 e a < 0 É o movimento em que a intensi- dade da velocidade aumenta. Isso ocorre quando a velocidade e a aceleração têm o mesmo sinal. a Orientação da trajetória v a Orientação da trajetória v O produto de a por v é um número positivo, ou seja, a · v > 0 Movimento retardado v > 0 e a < 0 v < 0 e a > 0 É o movimento em que a intensi- dade da velocidade diminui. Isso ocorre quando a velocidade e a aceleração têm sinais contrários. a Orientação da trajetória v a Orientação da trajetória v O produto de a por v é um número negativo, ou seja, a · v < 0 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 01. UniSEB-SP O gráfico a seguir representa a variação da posição, em função do tempo, de dois móveis que se deslocam em pistas paralelas, horizon- tais e retilíneas. 90 75 15 s (m) t (s) A B O móvel A, que inicialmente estava em repou- so, desloca-se com aceleração escalar cons- tante, enquanto o móvel B percorre toda a pista com velocidade escalar constante. Assim, pode-se afirmar que: Funções horárias: s s v t a t s s v t v v a t = + ⋅ + ⋅ ⋅ = + ⋅ = + ⋅ 0 0 2 0 0 1 2 ; a. o encontro entre os dois móveis ocorre no instante 9 s. b. o módulo da aceleração do móvel A é 0,4 m/s2. PV -1 3- 11 Cinemática 37 Física c. o módulo da velocidade do móvel B é 6 m/s. d. no instante do encontro, o módulo da velocidade do móvel A é 8 m/s. e. a posição inicial do móvel A é 95 m. Resolução Posição em função do tempo, móvel A: s s v t a tA A A A= + ⋅ + ⋅ ⋅0 0 2 1 2 , com s mA0 90= , como indica o gráfico e v A0 0= m/s , pelo enunciado do problema. Dessa forma, a função fica escri- ta como: s a tA A= + ⋅ ⋅90 1 2 2 Pelo gráfico, a posição do móvel A no instante 15 s é 0 m. Assim: 0 90 1 2 15 0 82= + ⋅ ⋅ ⇒ = −a aA A , m/s2 A função horária do móvel A é: s tA = − ⋅90 0 4 2, (I) Velocidade em função do tempo: v v a t v tA A A A= + ⋅ ⇒ = − ⋅0 0 8, (II) O móvel B se desloca com velocidade constan- te (MRU). Velocidade do móvel B: v s t v v m sB B B B= ⇒ = ⇒ = ∆ ∆ 75 15 5 0, / Assim, a função horária das posições do mó- vel B é: s s v t s tB B B B= + ⋅ ⇒ = ⋅0 5 (III) No instante de encontro: s s t t t tA B= ⇒ − ⋅ = ⋅ ⇒ ⋅ + ⋅ − =90 0 4 5 0 4 5 90 02 2, , Resolvendo a equação pela fórmula resolutiva de Bhaskara, encontra-se t = 10 s. Da equação (II), determina-se o módulo da ve- locidade do móvel A no instante do encontro dos móveis, isto é: v t v v m s v m sA A A A= − ⋅ ⇒ = − ⋅ ⇒ = − ∴ =0 8 0 8 10 8 8, , / / Resposta D 02. Um carro parte do repouso com uma acelera- ção escalar constante de 2,0 m/s2 e percorre 25 m. Nesse percurso: a. qual a velocidade escalar final atingida pelo carro? b. qual a sua velocidade escalar média? Resolução a. Nota-se, pelos dados, a ausência da gran- deza tempo. Logo, devemos determinar a ve- locidade atingida por uma equação não horá- ria. Usando a equação de Torricelli, temos: v v a s v v m s 2 0 2 2 2 2 0 2 2 25 10 = + = + ⇒ = · · · · / ∆ b. v v v v v m s m m m = + = + ⇒ = 0 2 0 10 2 5 0, / 03. Um popnto material desloca-se sobre uma tra- jetória retilínea, obedecendo à função horária do espaço abaixo: s = 6 – 2 · t + 2 · t2 (SI) Classifique o movimento no instante t = 2 s, indicando se é progressivo ou retrógrado e se é acelerado ou retardado. Resolução Para classificar o movimento, devemos anali- sar os sinais da velocidade e da acelaração no instante considerado. • A velocidade é obtida através da derivada da função horária do espaço: v ds dt t= = +–2 4 (função horária da velocidade) No instante t = 2 s: v1 = –2 + 4 · (2) ⇒ v1 = 6 m/s • A aceleração é dada pela derivada da função horária da velocidade: a dv dt a m s= = ⇒ =4 4 2/ (constante) O movimento no instante 2 s é progressivo (v > 0) e acelerado (v e
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