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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO A PREPARAÇÃO DO CAVALO PARA MISSÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM por 1º Ten Cav EDUARDO DA COSTA SOEIRO RIO DE JANEIRO 2003 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO A PREPARAÇÃO DO CAVALO PARA MISSÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM por 1º Ten Cav EDUARDO DA COSTA SOEIRO RIO DE JANEIRO 2003 Projeto de pós- graduação do curso de instrutor de equitação da Escola de Equitação do Exército Dedico esta obra a todos aqueles homens que, como eu, com sangue, suor e lágrimas, se propõem verdadeiramente a perdurar o espírito real do Nobre cavalariano. Agradecimentos Agradeço, em primeiro lugar, a minha esposa e minha filha, por compreenderem a importância deste trabalho e abdicarem, junto comigo, de nossas horas de lazer e descanso para execução desta monografia. Em segundo lugar, aos meus companheiros das diversas Polícias Militares do Brasil, em especial o Sr Cap Shikuma ( PMSP) e ao 1º Ten Marcio Ferreira (PMSC), que muito se esforçaram e contribuíram para a realização deste trabalho. Por fim a todos aqueles que indiretamente contribuíram para o término deste trabalho. RESUMO Para bem preparar um cavalo que executará missões do tipo “polícia”, como controles de distúrbios, patrulhamento ostensivo e outros, é extremamente necessário a adoção de procedimento padronizados e que realmente funcionem. Conhecendo as características de uma tropa montada o comandante da fração poderá ter mais segurança quando planejar e executar suas missões de garantia da lei e da ordem, tendo, desta forma, a exata noção de suas deficiências e possibilidades. Uma seleção minuciosa e bem orientada às necessidades de um animal que irá cumprir missões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) possibilitará ao instrutor de equitação uma maior facilidade em cumprir o sistema de preparação do cavalo para as atividades a que se destina. Idade, constituição, conformação, altura e aprumos, são itens importantes a serem observados. Por fim será exposta aqui uma sugestão de trabalho para tornar o cavalo apto a cumprir os diversos tipos de missões de “GLO”, sem apresentar reações que cavalos comuns apresentariam quando expostos aos diversos estímulos que podem surgir no desenrolar da missão, como fumaça, bandeiras, bombas, tiros, obstáculos no chão e etc. LISTA DE ABREVIATURAS GLO – Garantia da Lei e da Ordem EsEqEx – Escola de Equitação do Exército RPMon – Regimento de Polícia Montada REsC – Regimento Escola de Cavalaria Pel Hipo – Pelotão Hipomóvel GC Hipo – Grupo de Combate Hipomóvel OM – Organização Militar PNR – Próprio Nacional Residencial CIG – Campo de Instrução de Gericinó Vtr - Viatura PMSP – Polícia Militar de São Paulo PMSC - Polícia Militar de Santa Catarina SUMÁRIO Cap I – Introdução................................................................................................................ 01 Cap II – Características da tropa montada............................................................................ 03 Cap III – Operações de garantia da lei a da ordem de tropas montadas............................... 06 3.1 Efetivo Empregado......................................................................................................... 3.2 Área de Patrulhamento e Tipo de Terreno e Ambiente................................................. 3.3 Período de atuação......................................................................................................... 3.4 Necessidades Logísticas ............................................................................................... 07 08 09 10 Cap IV – Seleção do cavalo para missões de GLO............................................................. 4.1 A Seleção do cavalo........................................................................................................ 4.2 Idade............................................................................................................................... 4.3 Constituição................................................................................................................... 4.4 Conformação.................................................................................................... 4.4.1 Altura........................................................................................................................... 4.4.2 Aprumos...................................................................................................................... 4.5 Considerações gerais...................................................................................................... 11 11 12 13 13 14 14 15 Cap V – Iniciação do cavalo para missões de GLO............................................................. 5.1 Trabalho a pé................................................................................................................. 5.2 Lição de montar.............................................................................................................. 5.3 Trabalho montado........................................................................................................... 5.3.1 Habilitação Física Sumária.......................................................................................... 5.4 Considerações finais....................................................................................................... 16 17 17 18 19 19 Cap VI – A preparação do cavalo para missões de GLO..................................................... 6.1 Preparação Básica........................................................................................................... 6.1.1 Trabalho de galope...................................................................................................... 6.1.2 Parar............................................................................................................................. 20 23 24 24 6.1.3 Virar............................................................................................................................. 6.1.4 Acostumar-se com a interferência de outros cavalos.................................................. 6.1.5 Permitir o uso da espada ou cacetete........................................................................... 6.1.6 Considerações finais.................................................................................................... 6.2 Preparação Avançada..................................................................................................... 6.2.1 Oficinas simples.......................................................................................................... 6.2.1.1 Trabalho com faixas e bandeiras.............................................................................. 6.2.1.2 Trabalho com fogos de artifício............................................................................... 6.2.1.3 Tiro montado............................................................................................................6.2.2 Oficinas mistas........................................................................................................... 6.2.2.1 Escolha do local....................................................................................................... 6.2.2.2 Escolha dos estímulos e obstáculos......................................................................... 6.2.2.3 Considerações finais................................................................................................ 25 26 27 27 28 29 30 33 34 36 37 37 39 Cap VII – Conclusão............................................................................................................ 40 Referencias Bibliográficas................................................................................................... 43 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – Meia volta, p. 25 FIGURA 02 – Invertida meia volta, p. 26 FIGURA 03 – Croqui de instrução, p. 31 LISTA DE FOTOS FOTO 01 – Visão do homem a pé, p. 4 FOTO 02 – Visão do homem a cavalo, p. 4 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO A muitos anos no passado um homem chamado GENGIS KHAN, pela 1ª vez, utilizou o cavalo para dar mais mobilidade e poder de choque a sua tropa durante investidas sobre seus adversários. Desta forma o cavalo atravessou séculos e séculos carregando sobre seu dorso ilustres heróis de nossa história, como Julio César, Alexandre “o Grande”, Napoleão, Andrade Neves, Osório e muitos outros, sempre com grande êxito no cumprimento de sua missão. Com o advento da guerra moderna o cavalo deixou de ser empregado como meio de combate e durante muito tempo os Pelotões Hipomóveis ficaram essencialmente voltados para o cerimonial militar (escoltas e etc) e guardas. Assim sendo, a preparação do Cavalo para o combate ficou um pouco abandonada. Com o crescimento desordenado da sociedade, o aumento da violência e a necessidade de preservar nossas áreas de instrução, o Exército começa a desempenhar com mais afinco uma de suas missões constitucionais: Garantir a Lei e a Ordem. Porém, esta mudança não foi acompanhada de um embasamento teórico de atualização de doutrina e os nossos cavalos não possuem mais as qualidades ideais para o cumprimento deste tipo de missão. Com um novo Teatro de Operações, montado sobre um “inimigo”, muitas vezes desconhecido, ambiente misto em campo e cidade, acabamos mais uma vez recorrendo às diversas qualidades do nosso nobre amigo. Tendo em vista as diversas dificuldades vivenciadas por este autor, no cumprimento das missões que lhe foram atribuídas quando comandante de Pelotão no Esquadrão Escola Hipomóvel do REsC, resolvi realizar este trabalho que tem por objetivo principal sugerir um plano de treinamento para o cavalo que executará missões de GLO. Partindo do ponto em que a tropa encontra-se adestrada, com armamento adequado e com um apoio logístico eficiente, passamos ao objetivo deste trabalho e que sem ele a missão estaria fadada ao insucesso: O treinamento do cavalo. Portanto, de nada adiantará todo o investimento direcionado à instrução do homem e à aquisição de equipamentos específicos, se o cavalo não estiver adequadamente preparado ao fim que se destina. Assim, torna-se imprescindível concentrar esforços na melhoria da qualidade do animal a ser empregado na atividade, através de treinamentos eficientes e eficazes que possibilitem o seu emprego em condições ideais. Para tanto, o trabalho abordará as diversas características de uma tropa montada para cumprir missões de GLO e mostrar como são executadas, hoje, as missões no REsC e como selecionar os animais destinados a este fim. Por fim, reafirmar e justificar a solene frase: “HAVERÁ SEMPRE UMA CAVALARIA”. CAPÍTULO II CARACTERÍSTICAS DA TROPA MONTADA Para nós cavalarianos pode parecer redundância falar sobre as características de uma tropa montada, porém cabe ressaltar que há muito o Exército Brasileiro trabalha em missões reais com tropas hipomóveis e pouco empregou nossas tropas em missões de GLO. Baseado neste contexto, pode-se colher diversos ensinamentos daqueles que no princípio aprenderam conosco, se auto- aperfeiçoaram e hoje dominam o assunto, os Regimentos de Polícia Montada. Dos diversos estudos realizados pelas polícias militares pode-se colher algumas das características de tropas montadas que justificam a utilização do cavalo para o cumprimento de algumas missões de garantia de lei e da ordem. Estas características têm sua eficácia comprovada nas ruas e, como prova disso, vemos que a tropa montada tem sido mantida nas maiores e mais desenvolvidas metrópoles do mundo, mesmo com todas as vantagens advindas do avanço tecnológico e científico. A simples presença do animal conduzindo sobre seu dorso um elemento fardado, impõe um efeito psicológico e um poder repressivo, devido a seu porte avantajado. O cavalo proporciona ao cavaleiro um maior campo de visão, uma grande mobilidade e ótima flexibilidade, isto resultará numa diminuição do efetivo a ser empregado, posto que o homem a pé se dissipa na multidão. Foto 01 - visão do homem a pé Foto 02 - visão do homem a cavalo O militar a cavalo denota uma grande ostensividade, seja pelo porte físico avantajado do animal, seja pela posição elevada e de destaque em que se situa o seu cavaleiro, aumentando seu campo de visão, ou, ainda, pelo contraste produzido por sua estranha presença em meio ao local onde atua, que pode ser vista de longe. Pelo seu próprio porte físico, o cavalo impõe respeito às pessoas, o que favorece o êxito nas ações preventivas e repressivas, diminuindo a possibilidade de confronto direto, pois o efeito psicológico do animal afasta baderneiros e delinqüentes. Em contra partida na mesma proporção em que assusta, o cavalo atrai pessoas de bem, pois elas querem ver o animal de perto, aumentando desta forma a confiança da população neste tipo de missão. O militar montado tem sua mobilidade aumentada posto que, mesmo ao passo, pode percorrer áreas com maior rapidez, e se necessário pode utilizar-se de andaduras mais rápidas como o trote e o galope, podendo se mover com facilidade em qualquer terreno e para qualquer direção. Cabe ressaltar que todo este sucesso depende de fatores como, adestramento do cavalo, adestramento do cavaleiro, entrosamento do conjunto e o fiel cumprimento de uma doutrina atualizada e eficaz. Todas as características citadas acima, extraídas do “Manual de tropa montada” da Polícia Militar de São Paulo e da vivência profissional de diversos militares. proporcionam a tropa montada atuar com uma área de responsabilidade maior, com um número bem mais reduzido de patrulheiros e com uma economia de meios considerável, justificando e reforçando mais uma vez a necessidade da presença de nosso nobre amigo em nossa Força. CAPÍTULO III OPERAÇÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM DE TROPAS MONTADAS. Independente de como, onde e que missão vamos cumprir, devemos saber utilizar o cavalo como meio de locomoção e como arma de dissuasão. Para tanto se deve proporcionar à tropa montada um treinamento e condicionamento para sua ação específica. O simples emprego e treinamento do cavalo e cavaleiro para operações de GLO contribui em muito para o cumprimento de outras missões peculiares de um Regimento de Guardas,pois trabalha o animal em terrenos variados, em ambiente de intensa movimentação e utiliza-se de diversas formações, melhorando não só o desempenho operacional como também testando materiais e equipamentos. Normalmente, tropas hipomóveis do EB, são empregadas em missões preventivas, vulgarmente conhecidas por “Operação presença”, o que a polícia chama de policiamento ostensivo. O ambiente de atuação varia de acordo com a OM que executa e pode ser rural, urbano ou misto. Assim, poderá ser empregada preventivamente, em possíveis casos de tentativas de invasão de áreas e onde se presumam concentrações não desejáveis de manifestantes e transeuntes. O emprego de militares em atividades deste tipo evita a ociosidade da tropa e a longa permanência do homem no quartel, e torna nossa tropa mais adestrada e operacional. A própria preparação antes de partir para a missão já é um excelente exercício para a tropa. A apresentação individual deve ser esmerada e a apresentação da montada vai desde o cuidado com a saúde do animal, limpeza, toalete e condições do arreamento, deixando o militar sempre preocupado com o bem estar do animal e obrigando o comandante de pelotão a manter seus homens sempre adestrados a cavalo e seus cavalos sempre em condições de cumprir missão. 3.1 Efetivo Empregado A Polícia Militar do Estado de São Paulo adota os seguintes efetivos para o cumprimento de suas missões, de acordo com seu Manual de Tropa Montada: A Esquadra Hipo Constitui a menor fração de tropa em Ações de Choque, tendo a seguinte composição: a) 01 (um) Cabo Cmt de Esquadra; b) 05 (cinco) Soldados O Grupo Hipo É constituído de duas Esquadras Hipo, tendo em seu efetivo: a) 01 (um) Sgt Cmt de Grupo; b) 02 (dois) Cabos Cmt de Esquadra; c) 10 (dez) Soldados O Pelotão Hipo É a Unidade Básica Operacional da Tropa Montada em Ações de Choque, sendo constituído, a princípio, por dois Grupos Hipo. Efetivo: a) 01 (um) Tenente PM Cmt de Pel; b) 02 (dois) Sargentos PM Cmt de Grupo; c) 04 (quatro) Cabos PM Cmt de Esquadra; d) 20 (vinte) Soldados PM. Caso a situação exigir e após avaliação da missão pelo Comando, o Pelotão Hipo poderá ter sua composição adaptada, podendo ser constituído por três Grupos Hipo. Para missões de policiamento ostensivo a patrulha montada é a unidade elementar do policiamento e é constituída, a princípio, de três homens, sendo um cabo comandante, um guarda- cavalo de mão e um patrulheiro. Este efetivo pode ser aumentado de acordo com a necessidade Normalmente o REsC utiliza um GC Hipo comandado por um oficial, porém a organização da tropa nem sempre é fixa e não segue uma padronização. Os militares são escolhidos dentro de uma escala controlada pelo Sargenteante do Esqd, sem se preocupar com a integridade tática da tropa. Os cavalos são designados pelo comandante da tropa que vai executar a missão, seguindo orientação do Cmt Pel a quem o animal pertence. 3.2 Área de Patrulhamento e Tipo de Terreno e Ambiente Geralmente o local de atuação se restringe ao Campo de Instrução de Gericinó, que normalmente é fracionado para o cumprimento da missão e às proximidades dos PNR dos Cabos, ST e Sgts na rua São Pedro de Alcântara. O CIG é um ambiente bastante peculiar, pois consiste em uma porção de terras cercada de favelas em suas duas laterais Leste e Oeste, a entrada do campo na frente e ao norte a Serra do Mendanha. O terreno é delimitado por muros de no máximo 2,5 metros de altura em alguns pontos, por cercas de arame em outros e por nada em sua extensão Norte. Existem ainda locais onde o muro encontra-se em construção (lado oeste). As vias são em sua maior parte estradas de chão batido e campo, o que torna precário o acesso de viaturas após períodos de chuvas intensas. Apenas em um ponto é encontrado asfalto, lado leste na região chamada de Chatuba. Possui muitas elevações inclusive nas divisas. Em alguns pontos encontra-se matas densas. As favelas ao redor do CIG são dominadas pelo tráfico de drogas e oferecem um certo risco durante as operações que são executadas em suas proximidades. Na Rua São Pedro de Alcântara o local de atuação se estende do início da vila dos Cabos onde termina o conjunto habitacional PROMORAR até o fim da vila residencial dos St/Sgt. São encontradas, neste local, apenas ruas de asfalto e áreas residenciais. A finalidade é diminuir o numero de roubo de automóveis nas proximidades e afastar a presença de estranhos do local. 3.3 Período de atuação O período de atuação varia de acordo com a missão, normalmente no CIG as missões duram um dia, sem pernoite. E na R. São Pedro de Alcântara no máximo meia jornada. 3.4 Necessidades Logísticas A logística das operações a cavalo se complica à medida que aumenta o tempo de permanência no local de atuação. Um minucioso planejamento é essencial. Tendo em vista a proximidade do aquartelamento com as áreas de emprego da tropa e as características do terreno, alguns meios podem não ser mobilizados. Porém devemos ter em mente que algumas necessidades são imprescindíveis para o bom cumprimento da missão. a) Um esquema de segurança para atender os casos de acidente envolvendo o militar ou o cavalo, é extremamente necessário. b) Necessidades de alimentação e forragem devem ser previstas. c) Apoio de veterinários e ferrageamento não podem comprometer o desenrolar da missão. d) Material para substituição deve estar previamente selecionado e em condições de ser utilizado. Por fim, cabe ressaltar que as características de nossas missões a cavalo não diferem em demasia das operações realizadas pelas Polícias Militares e que podemos adaptar seu modo de trabalho ao do Exército. CAPÍTULO IV SELEÇÃO DO CAVALO PARA MISSÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM O emprego de tropa montada em missões de GLO necessita de pré-requisitos para obter êxito, dentre alguns, cabe ressaltar a importância de uma tropa com boa preparação psicológica, bem adestrada a cavalo, com bom embasamento teórico voltado para execução e planejamento das missões e conhecimento de leis e direitos. Estes fatores propiciam atuar sem hesitação. Para tanto o assunto será abordado buscando ressaltar as características necessárias para que o animal esteja em condições de receber um treinamento específico e obter sucesso nele. 4.1 A Seleção do cavalo Este procedimento é de fundamental importância para o sucesso da missão, uma vez que animais mal condicionados ou medrosos podem comprometer o êxito da missão. Os animais adquiridos ou advindos da Coudelaria de Rincão devem ser selecionados considerando-se a índole própria de cada animal, assim poderão ser identificados eqüinos com características favoráveis e desfavoráveis para a missão de GLO. A raça pouco importa desde que executem com facilidade as andaduras regulamentares, passo, trote e galope. Contudo não se deve descartar todos os cavalos que apresentem problemas, pois estes poderão ser corrigidos com trabalhos mais específicos. Dentre os animais escolhidos deve-se evitar cavalos indóceis, que dificultem o ferrageamento ou necessitem de repetições constantes do treinamento. Cabe ressaltar que todos estes cavalos podem e devem participar das diversas instruções realizadas no período de instrução do aquartelamento. 4.2 Idade Conforme é realizado na PMSP, para iniciar ou preparar o cavalo para missões de policiamento o animal deve ter no mínimo 3 anos e no máximo 8 anos. Animais mais velhos já existentes na OMpodem ser aproveitados desde que obtenham aproveitamento no processo de desencibilização, e atendam requisitos como preparação física, docilidade e outros. Uma idade limite não pode ser amarrada, porém devemos respeitar a individualidade biológica de cada animal para decidir quando aposenta-lo. 4.3 Constituição De acordo com o Manual de Hipologia de Luiz Antonio Pereira da Costa a constituição é resultado do conjunto do organismo e das relações existentes entre suas partes, das quais depende o comportamento do animal. Durante a escolha deve-se procurar animais com boa constituição, ou seja, que suporte condições adversas dentro de um certo limite. Dentre as opções, a ideal seria a de um cavalo robusto, que deve possuir as seguintes características: cabeça larga e olhos expressivos; narinas bem abertas; pescoço, peito e tórax amplos; musculatura bem desenvolvida e rija; aparência saudável e bom apetite; ossatura forte e seca; pele flexível e elástica; pêlos em cobertura uniforme, bem apresentados e brilhantes; boas ligações entre as regiões do corpo; temperamento dócil, porém enérgico, e resistênte às influências desfavoráveis do ambiente. 4.4 Conformação A conformação é dada pela configuração das regiões do corpo do animal e pelo seu conjunto, abrangendo proporções, dimensões e relações entre as diversas regiões. 4.4.1 Altura A altura do animal não pode ser menor que 1,55 m, independente se potro ou não. A altura é um fator determinante para que o conjunto tenha um forte efeito psicológico e um campo de visão considerável. Animais com mais de 1,72 m devem ser bem avaliados de forma que sua altura não prejudique sua agilidade, transporte, manejo e etc. 4.4.2 Aprumos Os membros dos cavalos servem para sustentar e impulsionar a massa do corpo, e para bem cumprir esta dupla finalidade seus membros devem seguir uma direção geral, referida a certas linhas verticais, que é conhecido como aprumo. Os aprumos, segundo o Manual de Hipologia de Luiz Antonio Pereira da Costa, podem ser regulares ou irregulares. Quando regularmente aprumados, os membros do animal, vistos de perfil, encobrem-se dois a dois. Vistos de frente ou de trás conservam-se em planos perto da vertical, igual e firmemente apoiados. Atenção especial deve ser dada aos potros, pois alguns problemas de aprumos podem ser corrigidos e podem também ser agravados por falta de conhecimento ou negligência. Os aprumos regulares proporcionam ao cavalo bom equilíbrio, firme sustentação, forte impulsão, amortecimento normal dos impactos e belas andaduras e devem ser objeto de avaliação na seleção de qualquer cavalo. A avaliação dos aprumos deve ser acompanhada de alguém com experiência no assunto ou de um veterinário. 4.5 Considerações gerais Além dos aspectos supracitados não podemos deixar de considerar o estado de saúde do animal e seus vícios. Vícios são difíceis de serem plotados sem o contato diário, portanto devemos separar os animais que possuam essas más qualidades morais. Os vícios mais graves que devem ser evitados são: bolear, corcovear, escoicear, manotear, morder, negar estribo, disparar, entre outros que poderão comprometer e dificultar o treinamento e execução da missão. CAPITULO V INICIAÇÃO DO CAVALO PARA OPERAÇÕES DE GLO Partindo-se de um animal já iniciado, em especial observando o método preconizado pela EsEqEx, podemos sem maiores problemas iniciar a preparação específica para as operações de GLO. Cabe ressaltar que devemos respeitar a individualidade do amadurecimento de cada animal, para que este não seja prejudicado. Deste ponto podemos passar ao próximo capítulo: A preparação do cavalo para missões de GLO. CAPÍTULO VI A PREPARAÇÃO DO CAVALO PARA MISSÕES DE GLO O cavalo, como todos os animais, apresenta reações inesperadas perante situações por ele desconhecidas. Originariamente o cavalo sempre foi presa. Andando sempre em grupos fugiam ao menor sinal de perigo. Nos grandes centros urbanos, o cavalo encontra um grande desafio à manutenção de sua tranqüilidade: adaptar-se à agressão visual e sonora, própria da vida moderna, tão desconhecida e distante de sua natureza animal. Porém, para nosso trabalho, esta adaptação irá mais a fundo, buscando situações que só encontrará no árduo cumprimento de sua missão. Assim, o cavalo, ao ser selecionado para integrar as missões peculiares de GLO, com o objetivo de auxiliar no cumprimento desta missão constitucional, na manutenção da segurança de nossas áreas, face às suas qualidades incontestáveis, deve ser submetido a um processo constante de adaptação e treinamento, que permita, a seu cavaleiro, utilizá-lo com desembaraço, explorando ao máximo as vantagens que ele propicia. A preparação de nossos animais para emprego operacional deve começar logo após o período de iniciação. O 1º passo é ensina-los a marchar um ao lado do outro, já que quase sempre serão empregados em conjunto. Desta forma estaremos acostumando os animais com a intervenção de outros cavalos. Depois de algum tempo com o cavalo já realizando, de forma simples, as formações previstas pela equitação militar, preconizada pela EsEqEx, é de suma importância que sejam colocados em seu arreamento todo o material que será utilizado no cumprimento da missão, bornais, mochilas e etc. E o cavaleiro já deve conduzir seu armamento, espada, cacetete ou lança para que o animal acostume-se. Posteriormente, devem ser expostos a estímulos visuais e auditivos semelhantes àqueles que possivelmente receberão durante a execução do patrulhamento. É comum o cavalo se assustar com sacos, plásticos, fumaça, tampas dos bueiros das vias públicas, papéis arrastados pelo vento, multidões, barulho provocado pelo estouro do escapamento de veículos, fogos de artifício e tiros. Conforme acontece no dia a dia das diversas polícias, durante as operações a tropa possivelmente terá de enfrentar manifestantes ou invasores que avancem em sua direção, munidos de diversos artefatos, com objetivo de reagir ao confronto, fazendo barulho e atirando tudo que vêem pela frente. Portanto, tanto quanto possível, deve-se reproduzir tais situações nos treinamentos internamente realizados. A criatividade é fator fundamental para aproximar a encenação da realidade. Alguns aspectos, porém, devem ser observados durante os treinamentos: a) as exigências devem ser do mais simples para o complexo, pois traumas dificilmente são esquecidos, e, muitas vezes, permanecem sob a forma de acuamento e covardia; b) o emprego de animais mais velhos e valentes na linha de frente encoraja os demais evitando que a covardia de um cavalo em fuga contagie os demais; c) recompensas devem ser dadas imediatamente após a resposta positiva, acariciando o animal ou mesmo, terminando o trabalho antecipadamente; d) o trabalho no exterior deve ser realizado periodicamente, pois ele colabora em muito com a franqueza e desenvolvimento muscular do cavalo; e) não se pode estimular um cavalo a enfrentar as causas que o retém, sem que ele se submeta às ajudas das mãos e, principalmente, nesses casos, das pernas, portanto jamais podemos esquecer do adestramento. Enfim, somente um trabalho progressivo, constante, consciente e criativo trará bons resultados, permitindo que o cavalo se adapte às exigências e a tropa montada possa cumprir com eficiência e eficácia as missões que lhe são atribuídas. 6.1 Preparação básica A preparação básica busca tornar o cavalo dono de sua massa. O treinamentose direciona para desenvolver no cavalo, diversas das características e qualidades de um cavalo de pólo. Para tanto utilizaremos, nesta fase parte do trabalho do cavalo de pólo, previsto na apostila de Pólo da EsEqEx, acrescidos de algumas modificações. Os objetivos a serem alcançados são: a) saber galopar; b) saber parar; c) saber virar d) acostumar-se com a interferência de outros cavalos; e e) permitir o uso da espada ou cacetete. 6.1.1 Trabalho de galope O objetivo do trabalho de galope é dar ao animal, calma, fôlego e equilíbrio. Trabalhando ao galope em círculos devemos exigir que o cavalo trabalhe unido, equilibrado e calmo, aumentando a obediência a rédea militar, posto que durante o cumprimento da missão o animal utilizará o freio como embocadura e este tipo de rédea (militar ou contrária) dá mais controle ao cavaleiro que utiliza apenas uma mão na s rédeas. Os círculos devem ser amplos e as rédeas frouxas no início e sem abusar da velocidade. Este trabalho não visa ensinar o cavalo a correr, ele será um suporte para que, junto com o trabalho de parar e virar o cavalo aprenda a trabalhar sempre bem engajado, aumentando seu equilíbrio e estando pronto para responder às solicitações do cavaleiro. 6.1.2 Parar O trabalho de alto visa obter um forte engajamento do animal, busca fazer com que ele pare “sentado sobre seus posteriores”. Para se desenvolver esta qualidade devemos utilizar todos os recursos que a “escola das ajudas” nos fornece. Nas primeiras sessões o alto deve ser feito através de ações de perna, assento e elevando a mão, obrigando o cavalo a levantar a frente, não deixando que este pare sobre o antemão. Posteriormente, se as respostas não são satisfatórias, devemos tentar o mesmo procedimento em rampas descendentes. Caso ainda não consigamos um alto de boa qualidade, podemos usar o muro ou a parede de um picadeiro, galopando na direção da parede e fazendo o alto. Logo após cada alto devemos afrouxar as rédeas e recompensar o animal. 6.1.3 Virar Ensinar o cavalo a virar é um trabalho que busca tornar o cavalo dono de sua massa, fazendo com que se mova em pronta resposta às ações de rédeas do cavaleiro. É um trabalho que exige do animal muito equilíbrio, engajamento e força muscular, portanto a preocupação com o grau de exigência deve lembrar a máxima: “Não solicitar ações para qual o cavalo não esteja preparado”. Para alcançar este objetivo o local ideal de trabalho seria um picadeiro com parede ou muro. Para virar admite-se que o cavalo faça um alto, e pivoteie sobre seus posteriores. Possivelmente este não será o resultado da primeira tentativa de virar e reações irão surgir, são elas: o cavalo foge de garupa ou se debruça sobre os anteriores. Se o cavalo foge de garupa devemos trabalhar junto a parede do picadeiro, ao galope, e executar uma meia volta, este trabalho impede o cavalo de jogar sua garupa para fora pois esta encontrará uma barreira, obrigando-o, desta forma, a girar sobre os posteriores. Se o cavalo se debruça sobre os anteriores o objetivo a ser buscado é levantar a frente do animal. Para tanto deve-se executar invertidas meia voltas, junto a parede do picadeiro, impedindo, desta forma, que o cavalo se debruce. Figura 02 - invertida meia volta 6.1.4 Acostumar-se com a interferência de outros cavalos Este é um trabalho que já vem sido executado a algum tempo desde as primeiras sessões de exterior e outras instruções. Este trabalho pode ser feito de diversas maneiras e todas as instruções em grupos podem e devem ser aproveitadas em prol deste objetivo. Os trabalhos em exterior além de buscar todos os benefícios que já se conhece, quando realizados em duplas, ou coluna por dois, buscando, gradativamente, a proximidade entre os animais contribuirá para que os cavalos acostumem-se com a presença de outros cavalos. As instruções práticas sobre equitação militar talvez sejam as mais eficazes e que mais contribuam para alcançar este objetivo. A entrada em forma, as mudanças de formação, montar e apear nas diversas formações, os desfiles, comandos a voz ou clarim e todos os movimentos em forma, são de fundamental importância para esta adaptação. O próprio dia-dia da Unidade, formaturas, escoltas, carrossel, podem ser aproveitados como instrução. Até os cavalos se acostumarem com a presença de outros, diversos problemas irão surgir e devem ser combatidos no exato momento. O ato de coicear ou morder deve ser imediatamente coibido pelo cavaleiro, de forma enérgica, verbalmente ou com chicote, e sempre no movimento para frente. Se o animal sai de forma, devemos colocá-lo no meio de outros cavalos, nunca na ponta, de preferência junto a um animal mais experiente. E procurar não deixar que ele saia utilizando a rédea militar e ação de perna isolada contra o movimento do animal. 6.1.5 Permitir o uso da espada ou cacetete. Este trabalho pode ser iniciado tão logo o cavalo aceite o cavaleiro e a presença da espada na sela. Não necessita de sessões especialmente voltadas p/ isso, pode ser incluída após um trabalho de galope, como volta a calma, ou durante as instruções de ordem unida a cavalo. Ao manusear o armamento o cavaleiro deve atentar para não se apoiar nas rédeas. Embainhar e desembainhar espada durante outras instruções. Pode, também, ser feito trabalho com taco de pólo, executando meias tacadas ao passo, porém se este for o trabalho deve-se proteger os membros dos animais. 6.1.6 Considerações finais Os trabalhos acima sugeridos servem como base para o próximo trabalho a ser executado, proporcionando ao cavalo as mínimas condições de equilíbrio, calma, franqueza e confirmação da submissão às ajudas. Ao cavaleiro possibilita conhecer mais intimamente sua montada, e manusear seu armamento com tranqüilidade. Cabe ressaltar que, como todo trabalho com cavalos, a recompensa deve ser um fator primordial no processo de ensino do cavalo, posto que acelera o aprendizado e estimula respostas de forma agradável ao animal. Caso não exista na OM uma fração destinada exclusivamente aos trabalhos de GLO, estes trabalhos podem, naturalmente, ser inseridos nos QTS destinados aos Pel, e todos os cavalos podem participar de outras instruções, sem prejuízo do que já foi aprendido. Este trabalho não se destina somente a cavalos novos ou sem trabalho, pode ser executado por todo animal que atenda os critérios de seleção já citados. De acordo com o grau de instrução do cavalo, este pode até não participar de alguma das instruções, ou ser incluído no meio do plano de treinamento. Ao fim deste período de preparação básica, o Cmt de Esqd pode, auxiliado por pessoas com experiência equestre, realizar novamente uma seleção, desta vez mais direcionada ao trabalho, destacando os animais que apresentarem melhor adaptação e vocação para este fim. 6.2 Preparação avançada A preparação avançada consiste basicamente em retirar ou diminuir ao máximo os medos do cavalo. O sucesso deste processo, somado às qualidades desenvolvidas anteriormente, garantirá à tropa montada segurança e tranqüilidade na execução de sua missão. Dentre as fontes pesquisadas como PMSP e PMSC é consenso que este trabalho, como um todo, não necessita ser executado mais de duas vezes ao ano se os cavalos são utilizados periodicamente. Somente deve-se repetir além do necessário as sessões, quando algum animal voltar a apresentar reações diante de situações que ele já deveria estar insensível. Animais que não foram submetidos aos trabalhos depreparação básica podem ser selecionados para realizar este trabalho, e podem, com certeza, obter êxito, pois a preparação básica não é pré-requisito para realizar a preparação avançada e sim para a formação de um excelente cavalo. Os trabalhos desta fase de preparação serão divididos em dois tipos: Oficinas simples e Oficinas mistas. As oficinas simples são aquelas onde, no máximo dois estímulos diferentes são apresentados ao animal e as oficinas mistas são aquelas onde deve-se usar toda criatividade para compor uma seqüência de situações que causem medo aos cavalos. Os meios auxiliares são diversos e podem ser confeccionados de formas simples. Instruir a figuração é de suma importância no treinamento, para que o trabalho não surta o efeito contrário. O objetivo principal do cavaleiro deve ser o movimento para frente. As instruções devem conter um efetivo mínimo de 5 e no máximo 15 cavalos, para facilitar o controle do instrutor, e com uma proporção (não obrigatória, porém muito útil) de 1 cavalo antigo para cada 4 inexperientes, inserido no grupo, conforme executado na PMSC, para que todos os cavalos possam ter um “cavalo madrinha” por perto. 6.2.1 Oficinas simples O trabalho em oficinas simples tem por objetivo apresentar ao cavalo poucos estímulos para que o animal tenha capacidade de sobrepujar seus medos um a um, adquirindo franqueza e transmitindo confiança ao seu cavaleiro. É um pré-requisito para iniciar o trabalho de oficinas mistas, pois sem o primeiro, traumas irreversíveis poderão ocorrer, estragando qualquer trabalho anterior realizado. Os estímulos ao qual devemos submeter os animais nesta fase são aqueles que possivelmente eles encontrarão em uma situação de conflito, tais como: faixas e bandeiras; cortinas; fumaça; fogo; sirenes; tiros, fogos de artifício; obstáculos no chão; multidões e etc. Todas as instruções buscam transmitir ao cavalo o máximo de confiança para que perca o medo e avance para o obstáculo. Caminhando sempre do mais fácil para o mais difícil mostrarei alguns exemplos de instrução e as recomendações a serem seguidas, como modelo, pois as outras devem seguir o mesmo padrão. 6.2.1.1 Trabalho com faixas e bandeiras Conforme pesquisa realizada junto a PMSC, segue um exemplo de condução de instrução. Material utilizado: - sacos vazios de ração - pedaços de tecidos - varas de bambu ou cabos de vassouras Pessoal empregado (figuração): - no mínimo um homem a pé para cada dois animais Local e dispositivo: - o local deve ser, de preferência, conhecido e familiar aos cavalos; - deve comportar toda a escola; - deve existir espaço para a figuração recuar(10 m); - deve evitar fuga de cavalos sem controle; - a tropa deve estar em uma fileira, 15 a 20 metros da figuração, que também estará em linha. Figura 03 Condução da instrução: O instrutor comanda “em frente, ao passo, marche!”, então a tropa avança em direção a figuração que em primeiro momento apenas recua (10 m), sem balançar as bandeiras ou sacos, quando a tropa se aproxima cerca de 3 a 4 metros. Então o instrutor comanda “alto!”. Numa segunda passagem o procedimento se repete, desta vez com as bandeiras em movimentos não muito bruscos. Estes procedimentos devem ser repetidos até o cavalo não mais se assustar com a figuração. Conforme a resposta dos animais, aumenta-se a dificuldade, realizando movimentos mais acentuados, aos gritos e com a figuração fora da formação em linha. Recomendações à figuração: a) não se deve bater nos cavalos em hipótese alguma; b) se o cavalo recuar diante de um dos homens, este deve diminuir a intensidade de suas ações de modo a encorajar o animal a avançar, pois o objetivo é que o animal perca o medo. Recomendações aos cavaleiros: a) manter o cavalo em forma; b) recompensar e incentivar o animal a cada passo e resposta positiva; c) estimular sempre o movimento para frente através de ações de perna; d) corrigir o animal com o movimento para frente. Recomendações ao instrutor: a) Não permitir que a instrução pareça diversão p/ a figuração; b) Mudar a posição de um cavalo para perto de um mais experiente, para obter melhor resultado, caso algum animal apresente deficiência; c) A cada passagem destinar um tempo para a recompensa, e estimular os cavaleiros à sempre recompensar seus animais; d) Trabalhar sempre em grupos, pois os mais corajosos encorajam os covardes; e) Lembrar que a memória é uma das maiores qualidades de um cavalo e que traumas dificilmente são esquecidos; f) Caso algum animal demonstre reações excessivas, deve-se voltar ao princípio, respeitando a individualidade do cavalo, porém sem prejudicar o andamento da instrução. g) Um tempo de instrução é suficiente, caso o objetivo não seja alcançado em um tempo destina-se outro tempo em dia diferente para dar continuidade ao trabalho. O mesmo trabalho deve ser realizado para, fumaça, fogo, cones e outros obstáculos no chão, com as seguintes observações: Para o trabalho com fumaça devemos utilizar uma fumaça densa e de diferentes cores, claras e escuras, pretas e brancas. Para o trabalho com fogo deve-se tomar as medidas preventivas contra incêndio e contra acidentes. Deve-se dispor os latões para fazer o fogo em forma de um corredor. Os obstáculos no chão devem ser variados, faixas coloridas, pontes de madeira, troncos e degraus, buracos, e podem ser incluídos em uma sessão como a citada acima nos intervalos entre a figuração e a tropa. As cortinas podem ser feitas com lona preta cortadas em tiras e suspensas acima da altura do cavaleiro montado até o joelho do animal. Podem anteceder um corredor de latões de fogo ou de uma cortina de fumaça. 6.2.1.2 Trabalho com fogos de artifício Dificilmente um cavalo não se assusta com o estampido de fogos, tiros, tambores e “panelaços”, porém nosso objetivo, com esta sessão, é diminuir um pouco deste susto e estimular o cavalo a avançar sempre para frente. O trabalho a baixo descrito é baseado no trabalho desenvolvido pela PMSC. Esta instrução deve iniciar nos mesmos moldes da primeira apresentada, porém sem as bandeiras, pois desta vez o obstáculo a ser vencido é sonoro. Inicialmente apenas os estampidos dos fogos de artifício serão utilizados, posteriormente podemos incluir um “panelaço” ou tambores. Os primeiros fogos devem ser disparados com a tropa a pé segurando cavalo à mão, e desde já a recompensa deve ser aplicada àqueles que responderem satisfatoriamente. Após alguns disparos o instrutor comanda: “a cavalo!” e com a tropa em uma fileira e parada realiza-se outro disparo. Em seguida com a tropa em movimento indo ao encontro da figuração, diversos disparos são executados até que o instrutor comande “alto!”. Durante os estouros diversas reações ocorrerão e as correções devem ser imediatas da seguinte forma: Se o cavalo sai de forma o cavaleiro deve colocá-lo de volta em forma e depois recompensá-lo. No início, com os cavalos parados, o instrutor deve evitar novos disparos quando houver animais fora de forma. Progressivamente, à medida que os cavalos não mais se sensibilizem, devem ser incluídos mais sons a instrução. É importante que o instrutor tenha ao seu alcance, meios de aumentar as dificuldades de acordo com a progressão dos cavalos, e deve também ter a sensibilidade de parar antes se necessário. 6.2.1.3 Tiro montado Dificilmente ocorrem situações onde a tropa montada se envolve em tiroteios ou que obrigue a realizar tiro montado. Isto se deve ao fato de o tipo de operações que o EB realizaterem normalmente caráter preventivo. Entretanto, não se pode descartar a possibilidade de precisarmos utilizar o armamento, devendo estar, para isso, devidamente treinado, e o cavalo, condicionado a ouvir o estampido de disparos de armas de fogo muito próximo. Inicialmente, os cavaleiros são exercitados, nessa espécie de tiro, com cartuchos de festim, atirando em alvos colocados em diversas direções, para que os cavalos se habituem com o estampido da arma. É de fundamental importância que os cavalos que forem participar desta instrução já tenham passado pela oficina anterior, de trabalho com fogos de artifício, pois a sensibilidade aos estampidos estará diminuída. Somente deve-se levar para a instrução de tiro montado, aqueles animais que obtiveram sucesso na sessão anterior. Estando montado, o cavaleiro para atirar com sua pistola, deve primeiramente fazer alto, manter a boca do cano à direita ou à esquerda do animal, braço estendido, na direção do alvo, como se realiza um tiro de pé, sem apoio, com uma mão. O tiro, depois de bem treinado, pelo cavaleiro e bem aceito pelo cavalo, pode ser executado, também, em marcha, em qualquer direção, porém, sempre à curta distância do objetivo e só em caso de extrema necessidade. Além disso, se o cavaleiro estiver com a espada desembainhada, deve embainhá-la antes de fazer uso do armamento. Ao executar o tiro montado, o cavaleiro e o instrutor deverão seguir algumas todas as normas de segurança referentes ao tiro e proceder da seguinte forma: a) Manter o perfeito ajuste das rédeas, para aumentar o controle efetivo do animal; b) estar com uma perfeita posição a cavalo, objetivando absorver as reações do cavalo e o recuo do tiro; c) não direcionar a arma próximo à cabeça do eqüino, pois, uma reação involuntária do animal pode se tornar um grande perigo, e acabar acertando o cavalo; d) nunca montar ou apear com a arma na mão, a fim de evitar um disparo acidental; e) os disparos montados são de pouca precisão, portanto, somente devemos atirar quando o alvo estiver isolado, para que um tiro não atinja um inocente; f) um homem a cavalo tem sua silhueta bastante destacada, realizar o tiro desta forma chama a atenção e faz do cavaleiro um alvo mais fácil, portanto, se atirar for necessário, deve-se pensar na possibilidade de apear para realizar um tiro abrigado, mais seguro e preciso. g) Um local seguro deve ser previsto para a cavalhada; h) Este trabalho deve ser feito com cavaleiros com experiência e desembaraço a cavalo; i) As distancias até os alvos devem ser curtas, 15 metros no máximo, e na linha de tiro deve haver apenas um animal. j) Lembrar que a instrução é, inicialmente voltada para o ensino dos cavalos e o número de tiros realizados deve atender a resposta do animal; k) Nunca esquecer de estimular o cavaleiro a recompensar seu animal sempre que a resposta for positiva; 6.2.2 Oficinas mistas O trabalho em oficinas mistas busca mesclar as oficinas simples, tentando aproximar o treinamento da realidade. Quando novo ou recém iniciado neste tipo de trabalho o cavalo não deve participar desta instrução sem antes ter sido submetido às instruções anteriores, haja visto os problemas que um trauma pode causar. A montagem (seqüência dos estímulos ou obstáculos) das instruções pode ser direcionada às deficiências encontradas na fase anterior, à problemas ocorridos durante o cumprimento da missão, para a reciclagem de animais que ficaram parados por muito tempo ou para completar o treinamento básico. 6.2.2.1 Escolha do local Durante a escolha do local para a instrução o instrutor deve preocupar-se com a extensão do percurso a ser montado, certificando-se de que todos os obstáculos caberão no local. De preferência, o local deve se parecer com um corredor ou uma rua estreita para evitar que o cavalo se esquive do obstáculo e realmente seja exposto ao estímulo. Se possível balizado em suas laterais. Deve ter apenas uma entrada e uma saída. Deve ter acesso fácil aos animais e pessoal, e ainda permitir a evacuação de Vtr. 6.2.2.2 Escolha dos estímulos e obstáculos A escolha da seqüência de estímulos e obstáculos a ser seguida, com já foi dito, deve ser objetiva e direcionada. É importante que sejam apresentados ao cavalo de forma educativa e progressiva, lembrando que o objetivo é ensinar o cavalo à não ter medo e avançar frente ao obstáculo. Para melhor entendimento segue um exemplo de oficina mista com uma seqüência recomendável: a) Escolher um local compatível com o número de obstáculos; b) Os obstáculos podem estar dispostos de 3 a 5 metros um do outro e os estímulos sonoros podem estar junto dos diversos obstáculos; c) O trajeto em si não importa se é reto, curvo, em subida ou descida, coberto ou não, o que importa é que comporte os obstáculos; d) Obstáculos e estímulos: 1º obstáculo: deve ser simples e não deve estar acompanhado de nenhum estímulo sonoro. Pode ser uma faixa estendida no chão, uma ponte simulada, um tronco. 2º obstáculo: uma cortina feita com lona preta com uma fenda, que permita a passagem do animal, mas não dê visada para o próximo obstáculo. Este tipo de obstáculo visa fazer com que o cavalo avance mesmo sem saber o que vem pela frente. 3º obstáculo: uma seqüência de dois ou três latões com fogo, um de cada lado do “corredor”, a uma distância segura p/ os animais, mas que não omita o estímulo ao cavalo. 4º obstáculo: um espaço de 7 a 10 metros para que sejam lançados fogos de artifício ou “bombinhas” se o local escolhido for coberto, os fogos podem ser substituídos por tiros de festim ou tambor. Este obstáculo pode ser acrescido de silvos de apito. 5º obstáculo: uma seqüência se cones, em uma coluna com uma distância de 2 metros entre eles, para obrigar o cavalo a fazer o contorno. A este obstáculo podemos acrescentar uma sirene e homens atirando pequenas bolas de papel. 6º obstáculo: uma faixa de lona colorida estendida no chão, seguida de homens balançando bandeiras e fazendo barulho. 7º obstáculo: um pequeno labirinto feito com paraflancos, simulando um estacionamento de carros. 8º obstáculo: uma seqüência de varas no chão, outra faixa, uma pequena vala ou degraus. 6.2.2.3 Considerações finais As oficinas mistas devem ser bem planejadas, com objetivos bem traçados e com especial atenção aos procedimentos de segurança. As diversas observações feitas, direcionadas a cada trabalho, se seguidas com rigor, aumentam a chance de sucesso. Por fim a criatividade e a versatilidade do instrutor podem melhorar as oficinas, tornando-as mais reais e fáceis de montar. Diversas seqüências podem ser montadas, porém o instrutor deve testar previamente e acompanhar o andamento e resultado da instrução para que possa intervir quando necessário. CAPITULO VII CONCLUSÃO Este trabalho foi formulado como uma sugestão para a solução de um problema que aparentemente não ocorre. Diversos foram os relatos colhidos e os fatos vividos a respeito das dificuldades encontradas para bem cumprir nossas missões a cavalo. Esporadicamente estes problemas aparecem e são tratados como fatos isolados por não causarem problemas mais graves. Porém, para que os pelotões possam trabalhar com seriedade, acreditando na missão que foi atribuída e bem cumprir estas missões, um trabalho anterior deve ser proporcionado aos nossos homens e cavalos, pois sem este a missão pode não ser cumprida, a tropa pode se tornar desmotivada e desacreditada por seus superiores. A máxima do adestramento que diz: “nãodevemos solicitar ao cavalo aquilo para qual não está preparado”, se encaixa com perfeição ao cavalo designado para cumprir qualquer tipo de missão de GLO. Porém, se tratando de situações onde possivelmente a vida do subordinado pode ser colocada em risco, este jargão se reveste de uma importância muito maior. Conhecer a origem e o porquê da missão, selecionar e treinar os cavalos com objetivos definidos, aproveitando do homem e do animal suas mais nobres qualidades são alguns dos pontos que nos trarão o êxito em nossas missões. Outro fator que fará com que nossas missões ocorram com sucesso é o pleno conhecimento das possibilidades e deficiências da tropa montada, por quem emite a ordem e quem executa. A simples leitura deste trabalho, em hipótese alguma, torna um militar inexperiente na área eqüestre, apto a adotar os procedimentos aqui descritos. É de suma importância que quem quer que execute o trabalho aqui sugerido, deva ser bem orientado e supervisionado por um profissional com experiência em equitação. Para nós, cavalarianos, deveria ser inadmissível ver nossa cultura hipo ser atropelada pelo tempo e não evoluir junto com as necessidades operacionais de nossa tropa. A formulação de um trabalho como este, está longe de esgotar o assunto e tem a única e exclusiva pretensão de servir como um referencial para aqueles que necessitem. Diversos foram os trabalhos consultados, assim como companheiros das polícias militares e de nossa força com grandes e pequenas experiências. No entanto transcreveu-se apenas aquilo que sintetizava o objetivo deste trabalho. Face do curto espaço de tempo disponível e dispensado para a execução deste trabalho e levando em conta a importância e abrangência do assunto em questão, julgo oportuna a colaboração de todos aqueles que se interessem pelo assunto e utilizem este trabalho, no sentido de aperfeiçoar, corrigir, inserir e revisar periodicamente os procedimentos aqui sugeridos, face a inexorável evolução de todos os meios que o envolvem. Por fim, qualquer que seja o destino que o futuro reserve a cavalaria hipo, fica aqui um trabalho que por trás de toda sua importância real, pode servir como reforço para justificar e firmar a existência de nosso nobre amigo em nossa força. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS POLICASTRO, ALBERTO NUBIE, Manual de tropa montada, 1ª Edição, 1995. Vídeo enviado pela PMSC Costa, Luiz Antonio Pereira da, Manual de hipologia, 1ª Edição, Rio de Janeiro, RJ, Biblioteca do Exército, 1997. Nota de aula de Pólo da EsEqEx Nota de aula de Iniciação da EsEqEx
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